(p. 93- 114) Apontamentos a partir de: OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Reviravolta Lingüístico - Pragmática na filosofia contemporânea. São Paulo, Loyola, 1996, As categorias estruturais do mundo: Pretende estabelecer a fronteira entre o que pode ser racionalmente dito e o disparate. Para tal, pergunta pela estrutura do mundo e da linguagem. A linguagem figura o mundo, que é a totalidade dos fatos. Só a proposição possui sentido, pois só em conexão um nome tem denotação. O sentido da frase é o fruto da associação de seus elementos, que só possuem significação enquanto membros de uma frase. O conceito só tem significado no contexto. O mundo não é a totalidade das coisas. A realidade não é conjunto de objetos independentes. FATO: refere a sua realidade, é o subsistir dos estados de coisas. ESTADOS DE COISAS: é o conteúdo descritivo das frases. Estas são atômicas ou complexas. Nelas por meio da análise se distingue coisas ou objetos cuja característica fundamental é sua possibilidade de associação a outros estados de coisas, portanto sua forma. A forma exprime a racionalidade. Um objeto é impensável sem referência a um estado de coisas possíveis. Em cada estado de coisas os objetos aparecem configurados por um tipo de relacionamento que Wittgenstein chama estrutura e é de natureza lógica. Um estado de coisas é analisável em coisas, mas a coisa só é coisa, enquanto configurada numa associação de coisas ou objetos. Ontologicamente a associação tem o primado. Do mesmo amontoado de coisas podem ser construídos os mais diversos mundos. TEORIA DA FIGURAÇÃO DO MUNDO: Mundo e pensar correspondem por figuração. A forma da afiguração é forma lógica. Um estado de coisas possíveis possui identidade na estrutura interna. (é lógico). O que é condição da figuração de um mundo. Somente quando há também identidade da estrutura interna e externa (isomorfismo, relação de relações) um mundo pode figurar outro. A verdade é entendida como isomorfismo, identidade de estrutura interna (linguagem) e externa (fatos), havendo uma comparação entre a proposição e o real. A verdade é a identidade estrutural entre a conexão dos elementos da figuração e a conexão dos objetos num estado de coisas. Só pode ser falso um pensamento com identidade de estrutura interna e não identidade externa. Toda figuração é lógica, pensar é figurar, não pensamos nada ilógico. Quando pensamos realmente realizamos a estrutura lógica do mundo. Existem dois fatos fundamentais, o mundo e a frase. A linguagem é a totalidade das frases, que são fatos, cuja essência está em si, na sua estrutura. AS ESTRUTURAS LÓGICAS: a forma lógica e o sentido. A linguagem é a figuração do mundo, consta de frases elementares cuja conexão é o objeto da lógica. O que existe em comum é a forma lógica. A proposição não pode apresentar o que ela deve ter em comum com a realidade, para poder representá-la teria que colocar a forma lógica fora da lógica, fora do mundo. A proposição mostra a forma lógica da realidade, as sentenças devem ter como conteúdo a pressuposição da afirmação, ou seja, a forma lógica. A negação fala do mesmo em virtude da falsidade. A proposição representa subsistência e não subsistência dos estados de coisas. Têm sentido contraposto, mas corresponde a elas uma e a mesma realidade. Ter sentido significa para W. ser verdadeiro ou falso, nada corresponde ao sinal de negação. Conceitos formais, também não afiguram, mas pertencem a uma forma lógica, ou seja, às condições de possibilidade de toda afiguração. A TEORIA DAS FUNÇÕES DA VERDADE: A totalidade das frases elementares fornece a totalidade do saber sobre o mundo. Frases autênticas são ou verdadeiras ou falsas, a partir do valor de verdade das frases elementares. Com a universalidade das funções de verdade W. Pretende eliminar os processos de fé, dúvida e desejo, que não podem ser expressos em frases plenas de sentido. A linguagem é apenas descrição do mundo: verdadeiro é a expressão de um estado de coisas de fato realizado. São as circunstâncias que permitem decidir se uma proposição é verdadeira ou falsa. A proposição é, essencialmente descritiva, ela é a articulação de uma constatação. W. concebeu predicados e sentenças como relações e, portanto como fatos. Com isso a função da linguagem manifesta-se também como correspondência da estrutura categorial das expressões à estrutura categorial da realidade. Pragmática Analítica: (p. 117- 147) A segunda filosofia de Wittigenstein é uma crítica radical à tradição ocidental da linguagem. Trata-se de saber o que constitui a linguagem, enquanto linguagem, levando em consideração o problema da significação. TEORIA OBJETIVISTA DA LINGUAGEM A) Desde o Crátilo de Platão a linguagem é reduzida a sua função designativa, instrumento secundário do conhecimento. Nunca, é condição de possibilidade de conhecimento. A tradição pressupôs uma isomorfia entre realidade e linguagem, a partir da essência. A palavra designa o comum, das coisas. A diferença entre sensibilidade (aisthesis) para o entendimento ( dianóia) e a razão (nous), consiste na passagem do mutável e transitório para o permanente, a essência. Sem o conhecimento da essência não há para a tradição, conhecimento propriamente verdadeiro. A frase representa o estado de coisas por ela referido. A teoria do Tratatus significa, assim, uma reformulação da semelhança entre linguagem e mundo. A essência da linguagem depende da estrutura ontológica do real. No Tratatus o ideal de uma linguagem perfeita significa precisão no caráter designativo. B) Concepção tradicional de espírito e atos espirituais. O pensamento tradicional foi eminentemente classificatório, a essência é o lugar ocupado por algo no todo. O pensar é uma atividade espiritual, assim como o falar é uma atividade corporal. Tais atos espirituais são estritamente privados. Eles possibilitam a linguagem humana. O ter em mente tem, como função conceder sentido ao falar. Compreender é apropriar-se da essência de algo, é o evento espiritual de posse do sentido. As impressões foram consideradas como algo puramente subjetivo. O importante é que cada pessoa possua certeza absoluta de suas próprias impressões. O conhecimento e sua comunicação lingüísticas são realidades inteiramente privadas e só secundariamente comunicativas interpessoais. Isso constitui o que Apel chama de solipsismo epistemológico do pensamento ocidental. A filosofia tradicional abstrai do caráter constitutivo da sociabilidade. Possui uma concepção subjetivista da própria consciência. Pensa o homem como uma unidade que posteriormente entra em comunicação com outras unidades. W. na segunda fase ataca a concepção individualista de conhecimento e linguagem. CRÍTICA A TEORIA OBJETIVISTA DA LINGUAGEM A) Com a linguagem podemos fazer muito mais coisas do que designar o mundo. Põe em questão a pressuposição de que o conhecimento humano é algo não lingüístico. Só temos o mundo na linguagem, nunca temos o mundo em si, imediatamente, sempre por meio da linguagem. Isso significa a descoberta da transcendentalidade da linguagem humana, que é condição de possibilidade para a própria constituição do conhecimento enquanto tal. Não há consciência sem linguagem. Cai por terra a teoria objetivista, instrumentalista designativa. O que é essência? Invenção da filosofia do Ocidente. Não há essência, apenas semelhança de famílias entre conceitos. Não temos fronteiras definitivas. A significação dos conceitos universais não é unitária. Isso porém não significa que a palavra não possua sentido. Usamos as palavras de acordo com semelhanças e parentescos. Nossos conceitos são essencialmente abertos. Uma linguagem exata continua instrumento importante da ciência natural. No entanto não pode ser considerada paradigma lingüístico enquanto tal. É preciso ver nossa linguagem, para aí descobrir como é usada. A significação de uma palavra é seu uso na linguagem. B) Superação do dualismo epistemológico - antropológico. Para W. o que confere significado às palavras é o próprio uso nos diversos contextos lingüísticos e extralingüísticos, nos quais as palavras são empregadas. Assim a compreensão depende da situação histórica em que a frase é usada e não do ato intencional de querer significar. Compreender designa um saber como, se faz, um dominar uma técnica. Compreender é adestrar-se a determinada práxis, é inserir-se em determinada forma de vida. A nova imagem da linguagem Não se separa linguagem e agir humano. A linguagem é sempre uma parte um constitutivo de determinada forma de vida. É uma maneira segundo a qual os homens interagem, ela é a expressão de práxis comunicativa interpessoal. Tantas são as formas de vida existentes, tantos são os contextos praxiológicos, tantos são os modos de uso da linguagem, ou como W se expressa, tantos são os jogos de linguagem. Três são os elementos: os puramente lingüísticos, os parceiros da conversa a situação lingüística. O problema da significação leva em conta os diversos contextos de uso das palavras. Nos diferentes contextos seguem-se diferentes regras. Uma consideração lingüística que não atinge o contexto pragmático é, nesse sentido essencialmente abstrata, como no caso da teoria tradicional. A gramática profunda é o conjunto de regras que constitui determinado jogo de linguagem. É correto o uso da palavra que é aceito como tal na comunidade lingüística. É precisamente o hábito que sanciona sua significação determinada. A rejeição do essencialismo não significa ceticismo, mas abertura à uma nova perspectiva de linguagem: a consideração dos diferentes usos das palavras e a descoberta de características semelhantes e parentescos. Entre os mais diversos jogos o elemento semelhante seria o uso normativo de símbolos lingüísticos num processo de internalização de normas e papéis no processo comunicativo intersubjetivo. A linguagem é considerada no processo de interação social de acordo com os diferentes modos de sua realização. W. pensa a linguagem como fruto da liberdade criativa do homem. No jogo, o homem age de acordo com regras e normas que ele juntamente com outros indivíduos estabeleceu. Mesmo seguindo as mesmas regras, ninguém joga do mesmo modo. A linguagem é ação comunicativa entre sujeitos livres e, por isso, radicalmente diferente dos processos mecânicos naturais. Questões Explique o papel da forma lógica na teoria da figuração do mundo segundo W. Explique a teoria da função de verdade. Por que a proposição põe um campo lógico e uma linguagem? Por que a linguagem possui função secundária no processo de conhecimento para pensamento tradicional. Como W questiona o pensamento de S.Agostinho? Por que a linguagem é constitutiva do pensamento?