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Fichamento - Wittgenstein e a Comunicação - Rui Sampaio da Silva

Marya Edwarda Souza Lapenda

Wittgenstein concebe a filosofia como uma atividade destinada ao diagnóstico de confusões e


mal entendidos teóricos. Portanto, seu principal objetivo é mostrar à mosca a saída da garrafa,
nas suas próprias palavras.

A saída que Wittgenstein dá à questão da linguagem é a de que ela só pode ser compreendida
à luz das práticas quotidianas. Sua concepção pragmática e social da linguagem a relaciona
às interações sociais vividas no dia-a-dia.

Essa prática envolve os jogos de linguagem, que são os usos da língua na prática, regidos por
convenções, por normas. Só por meio do entendimento dessas regras conseguimos jogar o
jogo da linguagem. E o que se diz está estreitamente ligado ao que se faz.

A aprendizagem de um jogo de linguagem consiste num adestramento. Somos induzidos a


reagir a uma determinada forma através de exemplos e exercícios.

“A compreensão das elocuções e expressões linguísticas remete não só ao todo da linguagem,


mas também para a rede de práticas”, portanto, é na prática que se aprende a linguagem e
nela se adquire significado

A compreensão da linguagem passa, portanto, pelo conhecimento dos costumes sociais e


das instituições sociais.

“A expressão jogos de linguagem foi cunhada essencialmente com o objetivo de chamar a


atenção para o fato de a linguagem e as atividades não linguísticas serem dimensões
inseparáveis que se condicionam mutuamente” página 129 de Rui Sampaio.

“Todo signo isolado parece morto. O que é que lhe dá vida? Só o uso lhe dá vida” Frase de
‘Investigações Filosóficas’ de Wittgenstein.

Portanto, é o uso que explica os significados e não o contrário. Não existem significados
prévios como objetos do mundo exterior.

“O significado da palavra é aquilo que a explicação do significado explica” - Ou seja, a


explicação é sempre uma referência ao contexto, à aplicação.

Essas explicações têm caráter normativo - São regras para o uso das expressões (em
determinados contextos práticos).

COMUNICAÇÃO
A comunicação, a partir dessa lógica, não é a simples transmissão de conteúdos mentais, mas
a construção de significados. Ela envolve o domínio das práticas sociais e define o
significado da linguagem.

Ela, portanto, estabelece os significados. Porque a prática a que se refere Wittgenstein é uma
prática comunicativa: nela, as palavras ganham vida e sentido.

PENSAMENTO

Wittgenstein é contra a ideia de que o pensamento pode fluir sem a linguagem. A experiência
do pensar é a experiência do falar. Com isso, ele faz uma crítica à concepção mentalista da
comunicação, segundo a qual é possível pôr em parênteses a linguagem para aceder a um
pensamento puro. A ideia de que a comunicação permite “captar um sentido espiritual” é
rejeitada.

REGRAS

Os jogos de linguagem funcionam - existe entendimento - porque existem regras. Os


significados são sempre normativos (mas não imutáveis). Normativos porque estabelecem
padrões de comunicação linguística que permite dizer o que é aceitável ou inaceitável. O
significado não está na mente, mas está nas regras. As regras são como instituições sociais.
Por isso, para nos comunicarmos sempre recorremos às instituições. A comunicação é um
acordo infinito.

FORMAS DE VIDA

Entender a linguagem é, também, entender as diversas formas de vida existentes. Esse


conceito está relacionado ao que Wittgenstein chama de “imagem de mundo”, que remete ao
horizonte de crenças, conceitos, práticas e interesses que tornam possível a nossa
compreensão e nossos juízos. As imagens de mundo constituem um ponto assente, são o
horizonte no interior do qual toda dúvida, investigação, justificação e verificação de hipóteses
têm lugar.

As imagens de mundo nunca podem ser totalmente desestabilizadas, não podem ser
totalmente desconstruídas. Apesar disso, algumas crenças podem ser desestabilizadas.
Podemos lembrar, nesse ponto, do conceito de preconceitos em Gadamer, que são
indispensáveis, ao mesmo tempo que podem ser desestabilizados em determinados
aspectos no processo hermenêutico.

As formas de vida não são imutáveis. Elas mudam no decorrer do tempo. Principalmente em
contato com outras formas de vida. Apesar dos limites da comunicação, nela não existem
limites intransponíveis. Sempre é possível a compreensão, assimilação de uma forma de vida
em outra.
CONTEXTUALISMO

No último tópico, Rui Sampaio defende que Wittgenstein, ao contrário do que possa parecer,
não é um relativista, mas um contextualista. O relativismo pressupõe a tese de que os
representantes de uma determinada perspectiva sobre um assunto não estão em condições de
julgar ou avaliar perspectivas rivais que se encontram enraizadas em outros contextos. Não
admite, portanto, uma racionalidade comum. Já no contextualismo, existe um reconhecimento
de que possuímos crenças básicas, injustificadas, que herdamos do nosso contexto, das
formas de vida da nossa comunidade, mas essas não são fixas, podem ser abaladas.
Admite-se, portanto, a existência de uma possibilidade de racionalidade comum. Até
porque o próprio Wittgenstein se colocava como uma pessoa que analisava diversas culturas,
mesmo sendo um sujeito que também possui raízes sociais e culturais específicas.

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