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Os tipos de dominação segundo

Max Weber
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
MARYA EDWARDA SOUZA LAPENDA
MESTRANDA NO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO
A dominação se funda em diversos motivos de
submissão. Pode depender de diversos interesses, de
considerações utilitárias de vantagens e inconvenientes
por parte de quem obedece. Pode depender também
de mero costume, do hábito cego. Ou pode fundar-se
no puro afeto, numa inclinação pessoal do súdito. No
entanto, nas relações entre dominantes e dominados, a
dominação costuma apoiar-se numa base jurídica, nas
quais se funda sua legitimidade.
DOMINAÇÃO LEGAL
• A dominação é em virtude de um estatuto: regulamento,
normas, leis. Seu tipo mais puro é a dominação burocrática.
Possui um caráter impessoal. Qualquer direito pode ser
criado e modificado mediante um estatuto sancionado
corretamente quanto à forma. A associação dominante é
eleita ou nomeada. O quadro administrativo consiste de
funcionários nomeados pelo senhor e os subordinados são
membros da associação.
• Obedece-se, portanto, não à pessoa por um direito próprio,
mas a uma regra estabelecida. E essa regra determina a
quem e em que medida se deve obedecer. O direito de
mando do senhor está legitimado por uma regra, no âmbito
de uma competência, cuja delimitação e especialização se
baseiam na utilidade objetiva e nas exigências profissionais
estipuladas para a atividade do funcionário.
• O tipo de funcionário é aquele de formação profissional,
cujas condições de serviço se baseiam num contrato, com
pagamento fixo, graduado segundo a hierarquia do cargo e
não segundo o volume de trabalho, e direito de ascensão
conforme regras fixas.
• Correspondem naturalmente ao tipo de dominação "legal" não apenas
a estrutura moderna do Estado, mas também a relação de domínio
numa empresa capitalista privada, numa associação com fins utilitários
ou numa união de qualquer outra natureza que disponha de um quadro
administrativo numeroso e hierarquicamente articulado.
• As associações políticas modernas são os representantes do tipo de
dominação legal. A dominação na empresa capitalista moderna é em
parte heterônoma: sua ordenação acha-se parcialmente prescrita pelo
Estado.
• E, em relação ao quadro coercitivo, é heterocéfala: são os quadros
judicial e policial estatais que executam essas funções. Mas é
autocéfala em relação à organização administrativa da empresa, cada
vez mais burocrática.
• O fato de o ingresso na associação dominante ter-se dado de
modo formalmente voluntário nada muda no caráter do
domínio, posto que a exoneração e a renúncia são igualmente
"livres", o que normalmente submete os dominados às
normas da empresa, devido às condições do mercado de
trabalho.
• Nenhuma dominação é exclusivamente burocrática. Os cargos
mais altos das associações políticas ou são "monarcas"
(soberanos carismáticos hereditários) ou "presidentes" eleitos
pelo povo (ou seja, senhores carismático-plebiscitários) ou são
eleitos por um colegiado parlamentar cujos senhores não são
propriamente os seus membros, mas os chefes, seja
carismáticos, seja de caráter dignitário.
DOMINAÇÃO TRADICIONAL
• A dominação tradicional acontece em virtude da crença na santidade
das ordenações e dos poderes senhoriais de há muito existentes. Seu
tipo mais puro é o da dominação patriarcal. Quem ordena é o senhor e
quem obedecem são os súditos, enquanto o quadro administrativo é
formado por "servidores". Obedece-se à pessoa em virtude de sua
dignidade própria, santificada pela tradição, por fidelidade. O conteúdo
das ordens também está fixado pela tradição, que não pode ser violada
pelo senhor, já que poria risco a sua legitimidade.
• Existe um reconhecimento de um estatuto como 'válido desde sempre'
(por sabedoria). Fora das normas tradicionais, o senhor pode agir
conforme seu prazer, sua simpatia ou sua antipatia, de acordo com
pontos de vista puramente pessoais.
• No quadro administrativo, existem os dependentes pessoais do
senhor (familiares ou funcionários domésticos) ou de parentes, ou
de amigos pessoais, ou de pessoas que lhe estejam ligadas por um
vínculo de fidelidade. As relações são de fidelidade pessoal do
servidor em relação ao senhor e não relações de dever ou disciplina
relacionadas ao cargo.
• É possível observar duas formas distintas de estrutura
administrativa: a estrutura puramente patriarcal de administração,
em que os servidores são recrutados em dependência pessoal do
senhor, seja sob a forma patrimonial (escravos, servos) ou
extrapatrimonial (plebeus). O quadro administrativo depende
inteiramente do senhor e não existe nenhuma garantia contra o seu
arbítrio.
• Na estrutura estamental, os servidores estão investidos em
seus cargos, de modo efetivo, por privilégio ou concessão do
senhor, ou possuem um direito próprio do cargo (em virtude
de compra ou arrendamento), do qual não pode despojá-los
sem mais.
• A dominação patriarcal (do pai de família, do chefe da
parentela ou do “soberano”) não é senão o tipo mais puro de
dominação tradicional. Toda sorte “chefe” que assume a
autoridade legitima com um êxito que deriva simplesmente
do hábito. A fidelidade inculcada pela educação e pelo hábito
nas relações de criança com o chefe de família constitui o
contraste mais típico com a posição do trabalhador ligado por
contato a um empresa, de um lado, e com a relação religiosa
emocional do membro de uma comunidade com relação a
um profeta, por outro.
DOMINAÇÃO CARISMÁTICA
• O terceiro tipo de dominação nomeada por Weber é aquela fundada
nos atributos pessoais, ou na crença em tais atributos por parte dos
que se submetem ao poder do líder. Notamos que se na primeira
forma de dominação havia um único modelo se aplica a muitos casos
(empresas privadas, serviços públicos, Estado, municípios e outras
formas de associação) e no tipo de dominação tradicional há duas
formas básicas (patriarcal e estamental). No modelo de dominação
carismático haverá um complexidade bem maior, embora de fácil
compreensão, pois deriva de um atributo essencial: a crença dos
subordinados nos dons e capacidades extraordinárias, ou até mesmo
sobrenaturais, por parte daquele que exerce o poder
• É preciso destacar que a dominação carismática é nas palavras de
Weber uma relação social puramente pessoal. Na sua definição se
destaca o capricho com o qual o líder escolhe seus subordinados,
além do caráter irracional desta manifestação de poder. Este é um
elemento chave que perpassa todo o pensamento sociológico
weberiano. Uma das teses centrais defendidas pelo autor é
justamente a da tendência de racionalização da vida e da
organização da sociedade no Ocidente. Para ele a sociedade
ocidental, teria na racionalização da vida, presente tanto na
organização política como ainda nas instituições em geral, um traço
característico. Muito embora não seja uma singularidade histórica
das sociedades ocidentais, pois o autor identifica a estrutura
burocrática presente em muitas outras culturas, desde a China até
o antigo Império Egípcio é justamente no ocidente que ela aparece
em seu grau mais acurado
A RACIONALIZAÇÃO EM WEBER
• Max Weber demonstrou como o progresso da civilização no Ocidente
foi regido por uma redução à lógica da vida social. Explicou que a
modernidade não só deriva da diferenciação da economia capitalista
e do Estado, mas também de uma reordenação racional da cultura e
da sociedade.
• Segundo Max Weber a característica fundamental da modernidade
ocidental é a racionalização. Mas o que realmente seria a
“racionalização”, e mais ainda o “processo de racionalização”?
• Compreender a racionalização é também compreender o mundo
moderno, segundo Weber, pois, para ele, existe uma relação entre
ambos os aspectos, uma vez que os frutos da modernidade como o
capitalismo, o estado, são racionalizados.
• Assim, ela pode ser entendida como uma ação sistemática e
metódica como é a ação do protestante no seu trabalho, quer
dizer, tem-se um objetivo a alcançar e se age metodicamente
para chegar a ele. Mas, no mundo estritamente racionalizado, é
com o ser humano capitalista e o político que há a demonstração
de como se dá esse processo na modernidade, sem que se
recorra a qualquer base religiosa para suas ações, ou seja, há
uma “... ausência de toda metafísica religiosa e de quase todos
os resíduos de ligação religiosa...” (WEBER, 1982, p. 337). E
assim, a realidade moderna cada vez mais se racionaliza.
• Max Weber não entendia o conceito de racionalização como um
movimento pertencente a um progresso universal, como se a
razão proporcionasse uma verdadeira justiça, verdadeira
virtude.
• A racionalização pode ser entendida como a ação do ser
humano que se torna racionalizada, uma vez que este pode
fazer uso dos meios técnicos da ciência para realizar suas
ações, e sua ação se torna efetiva, uma vez que ele racionaliza
seus próprios passos, usando dos meios técnicos que tem a
disposição, como a estatística, a probabilidade, etc. O ser
humano ocidental pode decidir sobre os meios mais
adequados para calcular os efeitos colaterais, bem como as
repercussões de sua ação, tudo racionalmente. Assim, a vida se
torna racionalizada, e da mesma forma as dimensões da vida,
o que singulariza a civilização ocidental.
• Quando Weber fala sobre o Estado, ele dá mais uma demonstração da
singularização ocidental, pois, o estado racional surge somente no ocidente.
A racionalidade instaurada no mundo moderno no âmbito do estado, tem
como elemento fundamental a sua organização num sistema tributário
centralizado, no monopólio da legislação e da violência, e, acima de tudo,
numa administração burocrática racional.
• A burocracia está para se referir a maneira de como se organiza, por exemplo,
o estado. A burocracia racional implica na existência de serviços definidos,
que são determinados por leis, e tais serviços são divididos de forma nítida,
assim como são os poderes de decisão que servem para a execução das
tarefas pertencentes à exigência do estado. Para a realização de tais funções
há uma hierarquia, uma estruturação em serviços de instância superior e
inferior. Todavia, nenhum daqueles que seja um funcionário, tem a
possibilidade de ser dono de seu cargo. E cada qual é remunerado através de
um salário fixo. Mais uma vez se pode fazer menção da imagem da máquina,
uma vez que a burocracia racional busca possuir efetividade nas
organizações, bem como velocidade, clareza, precisão
• Outra consequência desse processo de racionalização no
estado é a despersonalização, pois o homem político, assim
como o capitalista, age de maneira objetiva, sem que haja
uma preocupação subjetiva. A aplicação de uma lei, por
exemplo, dar-se-ia sem estar carregada de sentimentos como
ódio ou amor, pois, o que importa é que se sigam as regras
racionais do estado, como, por exemplo, regras de uma
burocracia racional. A despersonalização ocorre também por
causa da especialização burocrática, pois ela exige que cada
funcionário cumpra uma função especializada, tendo um
ofício que o separa da vida familiar ou seja, da sua
personalidade. Assim, cada indivíduo, portando conhecimento
da lei e das suas atribuições, deveria seguir uma
regulamentação que é estrita e impessoal.
• Weber descreve o estado racional com mais ênfase quando fala do
monopólio da violência. Para ele, “O estado é uma associação que
pretende o monopólio do uso legítimo da violência, e não pode
ser definido de outra forma.” (WEBER, 1982, p. 383). Seria válido
para o estado, fazer uso da violência se por ventura enfrentasse
inimigos externos ou internos, uma vez que a violência física para
Weber é o meio específico do estado moderno. Para o pensador
alemão, a violência física foi um meio normal do poder, presente
em todas as épocas. Contudo, no estado moderno há a
reivindicação, por parte do estado, do monopólio da violência de
forma legítima. Para Weber, isso caracteriza o estado moderno de
forma singular. Não se concede a todos o direito de recorrer à
violência, pois, ela é monopólio do estado, a não ser que o estado
permita.
• Os conceitos de racionalidade e de racionalização possibilitaram a
Weber demonstrar a importância das ideias na determinação das ações
humanas e como o processo evolutivo do Ocidente alterou não só a
organização do trabalho, mas, também, o significado do trabalho para a
personalidade humana. A racionalização da vida social levou ao
desencantamento do mundo, à instrumentalização das ações, à
existência sem propósito. A economia deixou de ser ascética, a religião
deixou de orientar a vida e o trabalho deixou de ter sentido: tornou-se
algo naturalizado, que os indivíduos e a sociedade sequer tentam
justificar. A racionalização, que havia derrotado a religião, derrota agora,
no capitalismo moderno, a razão, a “herdeira sorridente do iluminismo”.
O produtivismo capitalista, nascido de um ascetismo religioso, se
perpetuou em virtude de uma lógica materialista. Sem dúvida o
capitalismo produziu a abundância, mas o fez à custa do trabalho
mortificante, porque, para serem utilizados e consumidos, os produtos
do trabalho têm que ser comprados.

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