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FICHAMENTOS
● A maioria dos efeitos das notícias é indireta. Os meios de comunicação são uma
ferramenta para que haja mudança, mas esta só ocorre quando as notícias causam
impacto nas pessoas. É o público, portanto, o principal responsável pela mudança, e
quem decide se está apto a receber aquele conteúdo noticioso
● Duas teorias propõem explicar o fenômeno do impacto na recepção: a teoria
hipodérmica e a dos efeitos limitados. Para Gans, esta última explica melhor os
efeitos da mídia no público. A primeira acredita nos efeitos ilimitados da mídia sobre
o público, enquanto que a segunda considera o contexto da recepção. Sendo assim,
neste caso, a mídia só teria poder de reforçar, fortalecer e legitimar preconceitos e
ideias dos consumidores.
● Gans elenca vários efeitos da mídia sobre o público: Efeito de continuidade social (a
mídia dá uma noção de que a vida e a ordem social se mantém dia após dia, através
das narrativas noticiosas, ela permite que o governo consiga alcançar a população
com seu trabalho, sem as notícias, o público não consegue cobrar, fiscalizar e
acompanhar o trabalho governamental; o processo eleitoral seria prejudicado,
ninguém saberia quem está concorrendo e não haveria debate em torno das
campanhas; as pessoas acompanham o mundo externo através das notícias, causando
o Efeito Informativo; Legitimação e Efeitos de Controle (a mídia legitima as fontes e
instituições que veiculam nas notícias; ajuda a legitimar aquilo que as pessoas
percebem no dia a dia - aumento da inflação, por exemplo, legitimam o hiper
patriotismo - como no caso do 11 de setembro; exercem também controle, ao
legitimar determinados posicionamentos e rebaixar posicionamentos minoritários)
● Mas, segundo Gans, é o público quem controla a mídia, através da sua própria pressão
moral sobre o noticiário. Isso pode ser dito também em relação aos padrões de
comportamento e opinião que são reforçados pela mídia para garantir audiência
● Ele dá o exemplo do 11 de setembro, em que o público influenciou a mídia a enaltecer
o patriotismo e a guerra ao terrorismo e rechaçou jornalistas que tentaram explicar
racionalmente o ódio dos terroristas pela américa
● Outro efeito é na opinião das pessoas, mas Gans acredita na predisposição do público
para receber tais opiniões e em outros fatores influenciam. Para Gans, no entanto, os
jornalistas geralmente são convencionais nas suas opiniões e agradam à maioria do
público.
● Esse último efeito funciona da mesma forma que o Efeito sobre a forma de agir
● Outro efeito é o Efeito mensageiro, que é a capacidade da mídia veicular notícias que
impactam o governo de forma indireta, por exemplo, veicular notícias de inflação ou
de crises do governo
● Efeito de Cão de Guarda: é a capacidade moralizante da mídia, que divulga eventos e
situações que fogem da legalidade e da moralidade. A forma mais prevalente do
jornalismo vigilante é a busca por vilões que representam o rompimento com a
moralidade, legalidade e deficiência institucional.
Capítulo 5: A notícia: o que pode ser feito
● A matéria do Estado de S. Paulo traz uma manchete que indica que a SABESP,
empresa fornecedora de água no estado, mentiu sobre o racionamento, trazendo falas
de vários entrevistados que reclamam da falta de água, da falta de organização em
relação ao rodízio e da dificuldade de estoque para os dias em que não recebem o
fornecimento. Ao reconstituir a notícia, a pesquisadora ouviu uma entrevistada que
diz que sua fala foi totalmente alterada e de que não havia necessidade da publicação
da notícia; o assessor do órgão também foi entrevistado e disse que havia água nos
locais indicados pelo jornal, já que a distribuição não é feita por bairros, mas por
setores, e de que o órgão não pôde esclarecer o assunto à reportagem. O assessor
reclama também que a imprensa não fala de causas, mas somente de consequências,
sem discutir políticas públicas e questões geográficas que ajudariam a entender o
problema maior.
● Um detalhe do estudo é bastante relevante: o diretor de redação, Augusto Nunes,
morava em Perdizes, numa das zonas que seria afetada com a falta de água naquele
dia pelo rodízio, dia em que a repórter foi escalada para fazer a matéria. A hipótese
seria de que a reportagem teria sido feita a partir da fúria de Augusto Nunes. Ou seja,
sua experiência pessoal influenciou a escolha de uma pauta, que, após se materializar
em notícia, foi totalmente sensacionalizada. Moacyr de Castro, então chefe de
reportagem, confirma que a ideia da matéria era “pegar a SABESP na mentira” e
utilizar falas de moradores para indicar que o rodízio não estava sendo respeitado e
não merecia confiança. A repórter teria que ir atrás de moradores dos bairros que não
estavam na lista de corte e encontrar os que estavam desabastecidos.
● O editor Eduardo Martins admite que influencia na matéria e que é o papel do próprio
editor. Em editorial, ele reforça a opinião do jornal sobre o racionamento de água de
que a SABESP está iludindo a população e não avisando antecipadamente sobre as
mudanças nos rodízios. Ele admite também que o órgão manda releases mas que não
são obrigados a publicar e sugere, inclusive, uma compra de espaço no jornal.
● A repórter admite que a matéria foi um pedido de Augusto após o mesmo ter um
problema na casa dele e ligar para a redação solicitando a notícia. Ela diz que
encontrou alguns moradores desabastecidos, mas não todos (o que reforça o que o
órgão fala sobre o racionamento ser por setor e não bairro). O não cumprimento do
rodízio não estava no lead, mas o editor fez a alteração. Ela finaliza argumentando
que tem que fazer, a contragosto, a reportagem porque é uma profissional substituível
(reforçando as pressões organizacionais e a falta de autonomia de profissionais que
estão na parte mais baixo da hierarquia)