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Afinal, pensar o jornalismo, atualmente, dentro dos limites aos quais sempre esteve
reservado torna-se insuficiente. A produção jornalística contemporânea enfrenta o
desafio de sustentar seu protagonismo como detentora da informação diante do
crescimento da internet. A era da pós-verdade e o seu principal produto – as fake news
- afetam diretamente as bases da comunicação. Junto a isso, o advento das redes
sociais promove uma mudança cultural complexa, em que o jornalismo perde o
monopólio da novidade, da produção e disseminação da informação. Desse modo,
surgem novos personagens para disputar o cenário da informação, no qual cada
cidadão se torna produtor de conteúdo.
Nesse cenário, não faltam exemplos de casos que ganharam notoriedade, tendo a
eleição de Donald Trump como protagonista. O próprio presidente norte-americano foi
responsável por alimentar o mercado de notícias falsas e disseminá-las no seu perfil do
Twitter. Além disso, o republicano travou uma guerra contra a grande imprensa nunca
vista antes, quando chamou de fake news veículos reconhecidos por sua credibilidade,
como a emissora de televisão CNN.
De acordo com matéria publicada pelo The Guardian (2017), durante uma coletiva
de imprensa, Trump recusou-se a responder uma pergunta feita por um repórter da
CNN e o desmoralizou devido a uma reportagem produzida pelo canal, que denunciara
supostas conexões entre o magnata e a Rússia. Este tipo de posicionamento, vindo de
uma figura pública, contribui ainda mais para manchar a imagem da imprensa perante
a sociedade.
Segundo uma análise publicada pelo Buzzfeed (2016), durante os três últimos
meses de campanha, histórias falsas de sites e blogs relacionados às eleições geraram
8 milhões de compartilhamentos, reações e comentários no Facebook. Na medida que
a eleição se aproximava, o engajamento por conteúdo falso na rede social disparou e
ultrapassou as informações das principais agências de notícias.
Dentre eles, as notícias falsas que mais repercutiram foram: “Wikileaks confirma
que Clinton vendeu armas para o Estado Islâmico” e “Papa Francisco choca o mundo e
apoia Donald Trump”. Outro caso de destaque aconteceu na Carolina do Norte, onde
um homem, motivado por uma teoria da conspiração que viralizou nas redes, entrou
atirando em uma pizzaria. De acordo com o boato, o restaurante mantinha um cativeiro
de tráfico sexual de crianças financiado pelo partido democrata. Felizmente, ninguém
se feriu e o ocorrido não teve graves consequências, mas este é um exemplo dos
riscos reais que as notícias falsas representam para a sociedade.
No Brasil, a história se repete, como por exemplo, um boato envolvendo a ex-
primeira dama Marisa Letícia, morta em 2017, que, segundo as fake news, estaria viva
e escondida na Itália. O site UOL (2017) desmentiu outro boato que afirmava que seu
viúvo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), teria solicitado pensão no valor de
R$ 68 mil, referente ao salário da esposa como servidora do Congresso Nacional.
Boa parte dos sites de notícias falsas que surgiram durante as eleições norte-
americanas foram criados na pequena cidade de Veles, na Macedônia, onde
adolescentes publicam histórias sensacionalistas para ganhar dinheiro com
publicidade. A GloboNews (2017) entrevistou um deles, identificado como Christian, de
19 anos, que é apenas um entre centenas de jovens que trabalham com a produção de
fake news e que espalham na rede diversas notícias favoráveis a Donald Trump. "Os
americanos amaram nossas histórias e queremos tirar dinheiro disso. Quem se importa
se são verdadeiras ou falsas?", afirmou o jovem.
Cada geração cria seu próprio jornalismo, mas o objetivo é sempre o mesmo:
contar a verdade de forma que as pessoas disponham de informação para sua própria
independência. Tendo a notícia como seu principal produto, a produção jornalística se
sustenta por uma necessidade do ser humano: o instinto de percepção. Os indivíduos
precisam saber o que acontece na cidade, no país e no mundo, o conhecimento
proporciona segurança, planejamento e administração das próprias vidas. Além disso,
o compromisso do jornalismo com a verdade é apurar bem os fatos, buscar a exatidão
e a equidade.
Para desempenhar esse papel com maestria, ele está munido da checagem de
dados. Diante da disseminação de notícias falsas e o comportamento do público em
relação ao que se produz, a tendência é de que os grandes veículos de comunicação,
diante de suas redações cada vez mais enxutas, tenham que usar cada vez mais a
mão de-obra de agências de checagem para auxiliar nesse processo.