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MARYA EDWARDA SOUZA LAPENDA

Fichamento do texto: O jornalista e o profissionalismo, de John Soloski

● O ensaio de Soloski mostra como o profissionalismo jornalístico afeta a busca por


notícias; o ensaio também sustenta ainda que o profissionalismo é um método
eficiente e econômico através do qual as empresas controlam o comportamento dos
repórteres e editores.
● A fim de limitar ainda mais esse comportamento, as empresas desenvolvem políticas
editoriais.
● O departamento de informação enquanto subsistema de uma empresa tem que lidar
com um ambiente super imprevisível - as notícias.
● Os repórteres e editores devem ter autonomia na seleção e processamento da notícia
● O controle desse processamento é difícil para a direção da empresa, já que os
jornalistas passam a maior parte do tempo fora da redação
● Um método de controle seria o de estabelecer regras e regulamentos, mas não seria
muito eficiente, pois existe a imprevisibilidade das situações com as quais os
jornalistas se deparam. Portanto, um método mais eficiente é o profissionalismo.
● Para muitos estudiosos do profissionalismo, a ideologia do capitalismo e a ideologia
do profissionalismo não são compatíveis, sendo que esta tem fortes componentes anti
lucro e antimercado, manifestos na ideia do serviço para a sociedade.
● Mas, na verdade, essa natureza altruísta e anti lucro do profissionalismo tende a
ofuscar a estreita relação entre profissionalismo e capitalismo.
● A história do profissionalismo está marcada por guerras entre ocupações concorrentes
pelo monopólio do mercado profissional.
● Para uma profissão existir, tem que haver um controle sobre a base cognitiva da
profissão
● Uma profissão exige 1) conhecimentos estáveis à tarefa profissional; 2) que o público
aceite aquele profissional como o único capaz de fornecer aqueles serviços
profissionais
● Com a base cognitiva, não existe concorrência entre profissões pelo direito de
fornecer os mesmos serviços profissionais.
● Para facilitar esse controle, as profissões controlam o processo de educação, através
de institutos superiores de ensino e universidades
● O controle sobre a educação profissional e a monopolização do mercado profissional
só existem devido à relação com a ideologia capitalista
● Dentro das organizações, o problema de controle foi resolvido com a ascenção do
manager, diretor.

O profissionalismo jornalístico
● No jornalismo, é através da educação profissional formal, do estágio profissional em
exercício, ou da combinação dos dois, que os jornalistas partilham a base cognitiva.
● Porém, as normas compartilhadas não eliminam o problema do controle
organizacional, porque 1) o profissional fornece aos jornalistas uma base de poder
independente que pode ser utilizada para frustrar a interferência da direção; 2) o
profissionalismo dá liberdade aos jornalistas, e assim são necessárias as políticas
editoriais que exercem maior controle.

Normas profissionais

● Para os jornalistas norte-americanos, a objetividade é a norma profissional mais


importante. Ela reside no comportamento dos jornalistas.
● A objetividade significa que os jornalistas procuram e relatam os fatos de modo mais
imparcial e equilibrado possível
● Seria simplista dizer que a escolha das notícias tem motivações políticas; é verdade
que a notícia legitima e defende o status quo, mas isso é feito de forma inconsciente,
“naturalmente”.
● A objetividade é um modo prático e bem-sucedido de lidar com as complexas
necessidades dos jornalistas, organizações e dos públicos.
● Os acontecimentos são apresentados sem qualquer explicação do seu significado
político
● A fonte, e não os jornalistas, são responsáveis pela exatidão dos fatos (isso blinda os
jornalistas de críticas de parcialidade e imprecisão)
● Os jornalistas não são ideológicos porque não partilham de uma perspectiva
ideológica conscientemente partilhada entre os membros da profissão
● As notícias defendem o status quo porque eles possuem um lugar natural para
encontrar fontes com valor noticioso, que é a estrutura de poder
● Sendo assim, a seleção das notícias e das fontes corre naturalmente do
profissionalismo.

Escada profissional

● O profissionalismo estabelece um sistema de recompensa para os jornalistas, dividido


em duas escadas: a da direção e a profissional.
● Na escada da direção, os profissionais entram na hierarquia da direção e equipe
executiva
● Na escada profissional, os trabalhadores têm os salários aumentados, os benefícios
aumentados, mas as responsabilidades não
● A escada profissional permite à empresa apaziguar seus profissionais dedicados
● Para conseguir ascender profissionalmente, os jornalistas têm que absorver as normas
do profissionalismo

Controles interorganizacionais
● O profissionalismo estabelece as linhas mestras do comportamento dos jornalistas, dá
mais liberdade na seleção, relato e apresentação das “estórias” aos profissionais.
● As empresas estabelecem as políticas editoriais a fim de limitar essa liberdade
● Conforme Breed aponta, a política editorial varia de empresa para empresa,
funcionando como um controle intra organizacional; diferente do profissionalismo
que é um controle transorganizacional
● Tanto um como outro são utilizados para minimizar o conflito dentro da organização
jornalística.
● Raramente se levantam objeções às regras
● Por outro lado, o profissionalismo minimiza a intervenção da direção por conta dos
próprios princípios do profissionalismo que criam um tabu ético
● Um publisher que intervenha continuamente na cobertura pode colocar a reputação do
jornal em risco
● Isso pode ser uma vantagem para a própria direção, que utiliza isso como argumento
para os publicitários, políticos e outros que queiram intervir na cobertura

Conclusão

● O profissionalismo jornalístico é um meio eficaz para controlar o comportamento


profissional dos jornalistas.
● As normas profissionais produzem histórias que reproduzem a ordem vigente. A
legitimação ocorre porque a ordem vigente é revestida como algo natural
● O profissionalismo produz histórias que aumentam o público da organização e
mantém um controle sobre o mercado
● O profissionalismo fornece aos jornalistas uma base de poder para ser utilizada contra
a direção
● A direção estabelece políticas editoriais que limitam o comportamento profissional
dos seus jornalistas
● As políticas diminuem o conflito entre os jornalistas e a direção.

Fichamento do texto: Declínio de um paradigma? A parcialidade e a objetividade nos


estudos dos media noticiosos, de Robert Hackett.

● A maioria das definições consideram a parcialidade como a intrusão da opinião do


repórter ou da empresa no relato factual. Mas duas coisas não são consistentes nesse
conceito: a falta de equilíbrio entre pontos de vista concorrentes e a distorção
tendenciosa e partidária da realidade.
● Hackett diz que na prática os objetivos de equilíbrio e exatidão (não distorção) podem
nem sempre ser compatíveis.
● Existe uma tensão entre relatar de forma imparcial verdades que podem ser
contraditórias e determinar com independência a validade dessas supostas verdades
● Portanto, o conceito de objetividade tem sido usado para incluir reportagens de caráter
analítico, interpretativo.
● A distorção ocorre quando não há disputa de pontos de vista de legitimidade
semelhante
● O desequilíbrio ocorre quando não há uma apresentação justa de pontos de vista
● “Uma epistemologia relativista sublinha a noção de que a parcialidade é evitada
através do equilíbrio entre visões do mundo incompatíveis”
● “Por outro lado, o objetivo de evitar distorção pressupõe uma afirmação positivista da
veracidade dos fatos inalterados, que são eles obscurecidos pelo jornal tendencioso”
● Ambas as visões sofrem críticas.
● Skirrow (1979) fala que a defesa do equilíbrio reforça a ideia de que a pluralidade de
pontos de vista nos aproxima mais da verdade
● Tuchman fala que a apresentação de diversos pontos de vista é um ritual estratégico
da objetividade que blinda os jornalistas de crítica
● “Todavia, embora os jornalistas relatem com frequência declarações antagônicas de
fontes sem verificar a validade, há, pelo menos, uma pretensão de verdade implícita
na justaposição”.
● Vários autores criticam a visão de que a objetividade resulta numa visão imparcial dos
fatos. Eles recebem a mesma crítica que tem recebido a visão positivista
● Segundo os críticos, os media estruturam inevitavelmente sua representação dos
acontecimentos.
● Outros críticos, como Hall et al. dizem que a linguagem neutra, isenta de juízos, é
impossível.
● Para Hackett, não podemos nos limitar a pressupor a possibilidade de uma
comunicação imparcial, de notícias objetivas e independentes (como pressupõe a
crítica da parcialidade)
● Aceitar esses conceitos seria se colocar a favor do Estado e dos partidos políticos
dominantes.
● Para Hackett, nao devemos rejeitar o conceito, mas partir para outra linha de
investigação.
● Como Bruck (1981), devemos investigar a política da retórica da parcialidade: quem
está levantando esse problema, quando e porquê, qual o impacto na produção
jornalística.
● Devemos examinar as consequências práticas e sociais da objetividade
● Hackett sugere a substituição do conceito de parcialidade pelo de orientação
estruturada. Abandonamos, assim, a noção de comunicação imparcial, mas não nos
afastamos dos propósitos de busca por padrões de equilíbrio.
● Com isso, ele propõe analisarmos os tipos de orientações e relações que estruturam as
notícias: além de favoritismos políticos e preconceitos, condições de produção,
logística da produção, inibições legais, disponibilidade das fontes, etc.
● Ele sugere, portanto, trabalharmos com concepções de ideologia, relacionadas aos
enquadramentos, ou pressuposições sociais na notícia, naturalização das relações
sociais e interpelação do público.

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