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LEGISLAÇÃO

APLICADA À
COMUNICAÇÃO
SOCIAL - ÊNFASE
EM JORNALISMO

Luiza Carolina dos Santos


Código de ética
dos jornalistas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar a conduta profissional dos jornalistas.


 Analisar as atividades jornalísticas e a responsabilidade profissional.
 Questionar o papel de um código de ética na contemporaneidade.

Introdução
No âmbito social, possuímos acordos e normas que nos indicam quais
são as formas adequadas de ação em determinadas situações. No exer-
cício de uma profissão, acordos e normas também são necessários para
estabelecer uma conduta, que inclui a maneira que o profissional exerce
sua profissão cotidianamente e os princípios envolvidos nesse fazer.
Jornalistas são constantemente apresentados a desafios e precisam
definir formas de agir. Os desafios surgem na apuração, na produção e
na veiculação de notícias. Passam pela relacionamento com as fontes de
informação, instituições, atores sociais e políticos, colegas de trabalho e
com a própria estrutura do veículo de comunicação no qual trabalham.
Neste capítulo, você vai estudar como deve ser um comportamento
pautado pela ética na rotina jornalística. Também vai conhecer a res-
ponsabilidade social do profissional em suas atividades. Por fim, vai ler
sobre a importância do código de ética dos jornalistas e os desafios das
práticas em mídias digitais.

1 Conduta ética dos jornalistas


O código de ética de uma profissão rege as atitudes dos profissionais de cada
área tanto no exercício de suas atividades cotidianas quanto no enfrentamento
2 Código de ética dos jornalistas

de eventuais situações complexas. É um conjunto de regras que correspondem


aos valores morais de um grupo de profissionais.
Como nas outras áreas, no jornalismo, essas regras orientam sobre aquilo
que é aceitável e não aceitável. Possuem, portanto, um caráter disciplinar e
prescritivo sobre o comportamento dos jornalistas. Esses profissionais devem
considerar seu código de ética como um manual e analisar criticamente suas
premissas.
No Brasil, existem diversos códigos de ética voltados para jornalistas: eles
podem ser feitos por empresas de comunicação, como um regimento interno
para seus funcionários ou por associações de profissionais de classe. Por
exemplo, existem hoje códigos de ética brasileiros elaborados pela Associação
Nacional de Jornais (ANJ), pela Associação Nacional de Editores de Revistas
(ANER), pela Associação Brasileira de Emissora de Rádio e Televisão (Abert)
e pela Federação Nacional de Jornalistas (FENAJ). Esses códigos possuem
abrangência nacional e correspondem a associações específicas que realizaram
discussões com suas respectivas comunidades sobre os pontos presentes nesses
documentos. Ainda que esses códigos sejam diferentes entre si, eles apresen-
tam diversos pontos em comum, como os valores de liberdade de imprensa,
democracia e sigilo de fontes (CHRISTOFOLETTI, 2011).
Quem determina o que é ou não ético na profissão jornalista? Os códigos
de ética são documentos escritos que sistematizam e resumem as discussões
que profissionais, empresas e organizações realizam em torno do assunto.
São os atores sociais envolvidos no fazer daquela profissão que definem os
papéis, as prioridades e os limites de atuação dos profissionais, chegando a
um entendimento do que seria o agir ético naquele contexto. Um código de
ética é “[…] uma construção simbólica coletiva e depende da assunção dos
valores pela comunidade e da sua adesão a um contrato coletivo de conduta”
(CHRISTOFOLETTI, 2011, p. 3).
Ao longo deste capítulo, nos deteremos especificamente nos pontos propos-
tos pelo código de ética da FENAJ (2007), já que esse é o código nacional que
se volta diretamente aos jornalistas e não às emissoras ou aos grupos de mídia.
Primeiro, analisaremos quais são os elementos da profissão de um jornalista
que geram a necessidade de criar um acordo sobre os procedimentos éticos,
ou seja, quais são as circunstâncias que demandam cuidado.
Dois dos primeiros fatores que são importantes na conduta do jornalista
derivam de direitos previstos na Constituição Federal de 1988. O primeiro é o
direito à liberdade de expressão de todos os cidadãos, prevista no art. 5º, inciso
IV (BRASIL, 1988). Uma vez que todo cidadão tem direito de expressar de
forma livre sua opinião, sem receber sanções ou ser privado dessa liberdade,
Código de ética dos jornalistas 3

é dever do jornalista prezar por esse direito. Isso acontece porque o papel do
jornalismo como agente comunicador é dar voz aos diversos atores sociais.
Por isso, no seu cotidiano, o jornalista deve estar atento e assegurar que a
liberdade de expressão está sendo mantida tanto em seu local de trabalho
quanto em setores da sociedade.
O segundo fator de conduta ética que deriva da Constituição Federal de
1988 é o direito à informação de interesse público, prevista pelo art. 5º, inciso
XXXIII. O que o inciso prevê é que os atores sociais têm direito a informa-
ções públicas relevantes pessoalmente ou coletivamente (BRASIL, 1988).
Nesse sentido, é papel do jornalista buscar informações que são de interesse
da população em geral, sejam de órgãos públicos, sejam de órgãos privados.
Compreender o que é ou não uma informação de interesse público é uma das
tarefas essenciais para um jornalista, que precisa poder delimitar quando uma
matéria deve ou não ser publicada.
Interesse público é diferente de interesse do público. O interesse público
é um dos princípios norteadores da ação do jornalista (CHRISTOFOLETTI;
TRICHES, 2014). É dever do jornalista buscar e conceder à população infor-
mações que dizem respeito ao bem comum, ao bem-estar social, às condições
de vida, entre outros. Um exemplo de interesse público é uma notícia sobre
desvio de dinheiro público que era destinado à saúde em um local específico
ou informações de campanhas contra doenças persistentes, como a dengue.
Os jornalistas são também atores sociais que participam na criação do que é
interesse público, quando selecionam, conjuntamente com veículos de comu-
nicação, aquilo que vira ou não notícia (SARTOR, 2016).
Outro exemplo de interessante público é a cobertura jornalística de guerra.
Essa prática implica inevitavelmente perigo para os jornalistas que atuam nesse
contexto, mas as zonas de guerra são de pouco acesso à população. Portanto,
o papel do jornalista é reportar o que de fato está acontecendo nessas regiões,
constituindo-se como um mecanismo importante de manutenção dos valores da
democracia. O jornalista funciona como um mecanismo de responsabilidade
dos governantes em relação a sua população: eles precisam prestar contas
daquilo que está sendo feito.
4 Código de ética dos jornalistas

Figura 1. Jornalista realizando cobertura em zona de guerra.


Fonte: PRESSLAB/Shutterstock.com.

Já o interesse do público diz respeito aos conteúdos que geram índices


de adesão elevados, mas não necessariamente se relacionam a conteúdos de
cidadania. Como exemplo de interesse público podemos citar as informações
sobre a vida privada de celebridades ou entretenimento, como comentário
esportivo ou de novelas. Esses conteúdos não deixam de fazer parte, muitas
vezes, da produção do jornalista, mas não estão tão fortemente atrelados aos
valores expressos pela profissão.
Portanto, é papel do jornalista buscar, investigar, solicitar e veicular no-
tícias de interesse público, que compõem o direto à informação. Além disso,
é extremamente importante que os jornalistas não omitam informações de
interesse público que cheguem ao seu conhecimento, assim como não devem
permitir que terceiros se omitam.
Outras duas práticas jornalísticas estão relacionadas com questões emi-
nentemente éticas. Uma delas é o apreço pela objetividade e pela narrativa
verdadeira dos fatos dos quais é testemunha. Como narrador de notícias
e histórias, o jornalista deve sempre buscar um equilíbrio na forma como
expressa as versões dos fatos, dando lugar para diferentes atores expressarem
seus pontos de vista, sempre que pertinente. O apreço pela verdade é, portanto,
um elemento ético da profissão e está presente no código de ética. Para obter
versões verdadeiras de fatos que representam o interesse público, o jornalista
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deve sempre preservar a integridade das pessoas físicas que lhe concedem
informações, principalmente quando a natureza dessas informações pode
representar um risco para as suas fontes. Fonte é como os jornalistas chamam
as pessoas e instituições que concedem informações sobre determinados
assuntos. A relação entre o jornalista e sua fonte também será um dos grandes
fatores de preocupação ética para a profissão.

A ética é um ramo da filosofia compreendido como a ciência da conduta. Os estudos


se definem em dois ramos principais: aquela que procura dirigir o ser humano para
uma forma de conduta ideal, que se relaciona com a essência humana; e uma segunda
que compreende a ética como um elemento variável e que se propõem a disciplinar
a forma de agir do homem (ABBAGNANO, 1998).
No caso das profissões, interessa-nos especificamente a ética deontológica, que
se baseia na ideia de uma forma correta de ação em determinada situação. Portanto,
o código de ética dos jornalistas apresenta uma deontologia das práticas jornalísticas,
ou seja, aponta quais são as concessões em torno das formas corretas de praticar a
profissão. Como uma deontologia, esse código não tem a força de uma legislação. Ele
rege a forma de conduta dos jornalistas, mas não tem o poder de aplicar penalidades
legislativas. A manutenção dessas condutas depende da vontade dos jornalistas de
manter uma conduta ética, uma conduta que busque sempre o bem de todos os
envolvidos (ABBAGNANO, 1998).

2 Responsabilidades profissionais dos


jornalistas
A primeira versão do código de ética dos jornalistas brasileiros, veiculado pela
FENAJ, data de 1949. Desde então, ele foi atualizado quatro vezes, buscando
se adequar às demandas que as mudanças tecnológicas e a complexificação da
profissão demandavam. Em 2004, foram iniciadas discussões que propunham
a última atualização desse código, publicada, por fim, em 2007. O código foi
discutido entre profissionais atuantes da área em um congresso, além de passar
por consulta pública aberta durante três meses. Esse é o código de ética dos
jornalistas vigente atualmente.
O novo código teve um total de 290 modificações, sugeridas pela consulta
pública, e 12 propostas de profissionais e pesquisadores da área do jornalismo.
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Essas modificações foram votadas até que chegamos ao resultado atual. O


texto completo do código de ética dos jornalistas brasileiros pode ser encon-
trado na íntegra no site da FENAJ e deve ser lido e dominado por todos os
profissionais da área.
O código divide-se em cinco capítulos, que abordam os seguintes temas:
I – Do direito à informação; II – Da conduta profissional do jornalista; III – Da
responsabilidade profissional do jornalista; IV – Das relações profissionais;
V – Da aplicação do código de Ética e disposições finais (FENAJ, 2007).
O código da FENAJ é o único que se dirige aos jornalistas e não aos
veículos, sendo considerado “[…] abrangente, detalhado e redigido sob o
formato de um código disciplinar” (CHRISTOFOLETTI, 2011, p. 8). A ideia
é apreender quais são as diretrizes de ações e condutas que a comunidade
jornalística acordou, mesmo que elas não sejam consenso entre profissionais
e no meio acadêmico.
Os códigos de ética pressupõem, como mencionamos, valores da comuni-
dade jornalística. No código da FENAJ, os valores apresentados e mapeados
por Christofoletti (2011, p. 8) são os seguintes:

[…] direito do cidadão à informação; interesse público; precisão das infor-


mações; preservação das fontes; correção das informações; veracidade dos
fatos; liberdade de imprensa; responsabilidade social do jornalista; diversidade
de opinião; diferenciação do material jornalístico do publicitário; respeito à
intimidade; à privacidade, à honra e à imagem do cidadão; fidelidade à infor-
mação no relato; respeito ao direito autoral e intelectual do jornalista; direito
ao contraditório e direito de resposta; evitar conflitos de interesse; oposição à
morbidez e ao sensacionalismo; presunção de inocência; oposição ao arbítrio,
ao autoritarismo, à opressão e à corrupção; direito humanos; democracia.

O código de ética dos jornalistas brasileiros inicia com o capítulo “Do


direito à informação” (FENAJ, 2007). Esse capítulo trata do direito funda-
mental dos cidadãos à informação, que mencionamos na sessão anterior. Esse
direito também é a principal base do código de ética em si. É, portanto, um
direito central para os jornalistas, que deve ser prezado e respeitado como
um dos princípios da profissão. De acordo com o capítulo I, os jornalistas, no
exercício da profissão, “[…] não podem admitir que ele [o direito de acesso à
informação de interesse público] seja impedido por nenhum tipo de interesse”
(FENAJ, 2007, documento on-line).
O jornalista e os meios de comunicação devem divulgar informações que
prezam pela verdade dos fatos e pelo interesse da população. Além disso, o
jornalista tem uma responsabilidade social que deve ser sempre cumprida:
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de garantir informações acuradas, claras, verdadeiras e relevantes para os


cidadãos, sejam elas informações governamentais ou não.
Em resumo, o que o primeiro capítulo pontua é que os jornalistas têm a sua
profissão pautada pelo interesse público, pelo direito de acesso à informação
e pela liberdade de expressão. Por isso, devem sempre produzir material de
comunicação que esteja de acordo com os interesses da sociedade, não permitir
que informações importantes sejam ocultadas nem as ocultar, independente
dos interesses que estejam em jogo. O que é ressaltado, nesse capítulo, é o
papel social da profissão do jornalista, que possui um compromisso com a
sociedade, pautado pela veracidade e pelo não ocultamento das informações
relevantes para a população.
O segundo capítulo aborda as regras de conduta adequadas aos jornalistas,
como devem agir no exercício de sua profissão cotidianamente. Nos art. 3º, 4º
e 5º, entende-se que o jornalista deve sempre apurar corretamente os fatos que
irá divulgar e que possui o direito de resguardar a sua fonte de informação.
Isso quer dizer que não precisa divulgar o nome de quem lhe concedeu uma
informação a ser divulgada, principalmente quando a informação pode colocar
em risco o informante. Entende-se essa ação como sigilo da fonte.
O sigilo de fonte é especialmente importante para a manutenção da relação
entre jornalistas e fontes. O motivo para isso é que, como agentes sociais, as
informações que os jornalistas obtêm, muitas vezes privilegiadas (que irão
constituir o chamado “furo”, quando um jornalista veicula uma notícia que
apenas ele possui), dependem da manutenção de uma relação de proteção de
suas fontes. Às vezes, caso a fonte seja revelada, pode ter sua vida em risco.
Por exemplo, no exercício da sua profissão, um jornalista pode obter infor-
mações de um traficante de drogas. A obtenção dessa informação depende da
relação de confiança entre o jornalista e o traficante, em que este último sabe
que não corre o risco de ser exposto. Sabendo que está protegido, o traficante
pode conceder informações de interesse público, sem correr o risco de ter sua
identidade exposta ou mesmo de sofrer penalidades legais ou morais. Assim,
o sigilo de fonte é um importante mecanismo não apenas do jornalismo, mas
também da democracia, que garante que informações importantes possam
chegar à população.
O art. 6º trata dos 14 deveres do jornalista (FENAJ, 2007). Ressaltamos,
como os mais importantes deles os seguintes: respeitar a intimidade, a priva-
cidade e a honra dos cidadãos e combater qualquer forma de perseguição ou
discriminação social, religiosa, política, racial, sexual ou de gênero. O respeito
à privacidade das pessoas públicas e privadas, por vezes, pode ir de encontro
a informações de interesse público. Entretanto, um jornalista deve sempre
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pesar o nível de exposição e de prejuízo que uma notícia trará a um agente


social em relação a sua importância para a população. Sempre que possível,
a privacidade, como um direito, deve ser poupada.
No art. 7º, encontramos ações que um jornalista não deve tomar, das quais
destacamos: não expor indevidamente pessoas em situação de risco ou ameaça,
não incitar crimes e violência e não obter vantagens pessoais na atuação da
profissão (FENAJ, 2007).
No capítulo III, temos as normas de responsabilidade profissional do
jornalista (FENAJ, 2007). Ele é responsável pelas informações que divulga
e, portanto, tem o dever de divulgá-las adequadamente — sempre que não o
fizer ele pode ser responsabilizado por isso. Quando o jornalista emite uma
opinião em um meio de comunicação, precisa estar ciente de que essa opinião
envolve uma responsabilidade social. As informações divulgadas não podem
corresponder a interesses pessoais, ser de caráter sensacionalista quando da
cobertura de acidentes e crimes ou serem obtidas de forma ilegais e inade-
quadas. Câmeras escondidas, gravação de áudio oculta ou indenidade falsa
só podem ser utilizadas quando outras formas não forem possíveis e quando
a informação for de evidente interesse público. Esses são recursos de última
instância: os possíveis danos devem ser ponderados e discutido com colegas
de profissão.
No art. 12, há informações sobre a parcialidade e a publicidade no jorna-
lismo (FENAJ, 2007). O código de ética indica que o jornalista deve veicular as
múltiplas versões dos fatos, principalmente dos atores diretamente implicados
no ocorrido. Os casos que fogem a essa regra são o exercício do papel do
assessor de imprensa, que pode, desde que sem prejuízo da verdade, veicular
apenas uma posição sobre os fatos. Além disso, todo material publicitário
deve ser claramente apresentado como tal. Qualquer tipo de adulteração de
evidência em notícias jornalísticas é erro ético grave, incluindo imagens e
gravações. Também é dever do jornalista fornecer direito de resposta, sempre
que um sujeito sentir que a verdade foi equivocamente representada e/ou que
foi pessoalmente lesado pela veiculação de uma notícia e deseje fornecer suas
versões dos fatos.
Por fim, o último capítulo discorre sobre as relações profissionais e suas
decorrências éticas (FENAJ, 2007). Trata do direito dos jornalistas de se
recusarem a realizar qualquer atividade que esteja contra os princípios do seu
código de ética. Além disso, dispõe que o jornalista não pode utilizar recursos
como ameaça, intimidação ou assédio, seja ele moral ou sexual, contra outros
profissionais.
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Possíveis infrações ao código de ética são investigadas e julgadas por


comissões de ética dos sindicatos regionais de jornalistas, assim como por
uma segunda instância nacional. O art. 17 prevê que:

Os jornalistas que descumprirem o presente Código de Ética estão sujeitos


às penalidades de observação, advertência, suspensão e exclusão do quadro
social do sindicato e à publicação da decisão da comissão de ética em veículo
de ampla circulação (FENAJ, 2007, documento on-line).

No caso dos não associados, ficam impedidos de ingresso no quadro social


do sindicato. Para Christofoletti (2011, p. 7), entretanto, mesmo o estabeleci-
mento de códigos acordados pela maioria não consegue garantir “[…] que seus
membros tenham melhores atitudes”, uma vez que, “[…] diferente das leis que
têm regime compulsório, os códigos são instrumentos de aconselhamento e de
orientação”. Acabam, portanto, por depender dos atores humanos inseridos na
profissão e confrontados com os dilemas. Ainda que prevejam penalidades,
a punição se restringe, em geral, ao âmbito moral e à reprovação social ou de
sua classe. Mesmo assim, os valores que guiam o código de ética têm um papel
importante no auxílio de “[…] tomada de decisões práticas, cotidianas, que
envolvem escolher entre alguns caminhos de ação, que gerarão consequências,
danosas ou não para terceiros” (CHRISTOFOLETTI, 2011, p. 7).

Diversos filmes trabalham com temas relacionados à prática jornalística. As dicas


a seguir incluem três filmes que discutem, com base em histórias reais, dilemas e
questões éticas no exercício dessa profissão.
1. O quarto poder (1997): filme de Costa-Gravas, que se foca na forma como o perso-
nagem principal, um jornalista, utiliza o acesso à cobertura de um crime local como
forma de obter fama. Traz boas reflexões sobre a relação do fazer e da influência
jornalística nos rumos de um acontecimento.
2. O abutre (2014): dirigido por Dan Gilroy, é um drama policial que apresenta a história
de Louis Bloom Lima, que filma imagens violentas de crime e acidentes em Los
Angeles, para depois vender a emissoras voltadas ao jornalismo criminal.
3. The post (2017): o drama histórico de Steven Spilberg conta a história dos dilemas
dos editores do jornal americano Washington Post na publicação de documentos
secretos sobre os Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã.
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3 Papel do código de ética na


contemporaneidade
As mudanças nas formas de comunicação que as tecnologias digitais trouxeram,
especialmente com o advento da internet, modificaram o fazer jornalístico.
Novas práticas jornalísticas trazem consigo novas implicações e dilemas
éticos, que não são abordados pelo código atual. O espaço do digital também
precisa de regras específicas de conduta, mas não existe ainda um conjunto
de regras comuns aos jornalistas nesse sentido, apenas iniciativas individuais
de veículos de comunicação nacionais e internacionais.
Atualmente, veículos de comunicação (como jornais impressos ou rádios,
por exemplo) e jornalistas possuem perfis em plataformas e redes sociais
digitais, como YouTube, Twitter, Facebook, Instagram e Medium, entre outras.
Esses perfis são utilizados tanto para manter uma comunicação mais próxima
com o público quanto para divulgar material de forma mais rápida. Isso traz,
pelo menos, três novos desafios: 1. mistura do profissional com o pessoal; 2.
direito autoral e as formas de remuneração pela produção de conteúdo on-line;
3. rapidez dos processos de produção de notícias.
Quando um jornalista possui um perfil no Facebook, por exemplo, sua figura
pública se mistura com a sua figura privada. Isso quer dizer que, quando um
jornalista publica em uma rede social, ele fala também como pessoa pública,
já que seus seguidores não são apenas amigos e familiares, mas também outras
pessoas que conhecem seu trabalho como jornalista. Assim, ele acaba por
representar também nesses espaços a empresa jornalística na qual ele atua.
Por esse motivo, empresas de mídias tradicionais, como O Globo e Folha
de S. Paulo, também criam normas de conduta para seus comunicadores.
Quando atuando em mídias e redes sociais, os jornalistas desses veículos
devem agir como pessoas públicas, que têm o potencial para atuar como um
fator de amplificação de um determinado discurso, mantendo a mesma diretriz
editorial que a empresa que representam. O valor que está em jogo no digital é
a manutenção da neutralidade do jornalista, que não deve expressar posições
claras, principalmente em assuntos políticos: o papel do jornalista de investigar
e de descrever todos os lados de uma situação (CHRISTOFOLETTI, 2011).
Outra preocupação comum que emerge entre as diretrizes para conteúdo
on-line da Folha de S. Paulo e de O Globo é a preservação do direito autoral
do material produzido. Ambos pregam que os jornalistas devem ser cuidadosos
na divulgação de material proprietário on-line, de forma a não ferir ou burlar
os mecanismos que envolvem o pagamento pelo conteúdo produzido por cada
um deles (CHRISTOFOLETTI, 2011).
Código de ética dos jornalistas 11

O terceiro desafio imposto pela comunicação on-line é a aceleração dos


processos de produção das notícias. A internet possibilita produzir e veicular
informações de forma mais rápida, tanto pelo acesso facilitado a fontes de
informação e meios para apuração simplificada de notícias quanto pela rapidez
com que o material pode ser publicado, chegando ao público. Entre veículos de
comunicação tradicionais, como jornais diários, programas de televisão e rádio,
sempre houve uma corrida pela notícia: quem consegue dar uma informação
de forma mais completa e mais rápida. Entretanto, os tempos de veiculação
era relativamente fixos: por exemplo, um jornal diário saía sempre em uma
mesma hora do dia ou um programa de televisão possuía horário fixo para
entrar no ar. Já no digital, uma notícia pode ser divulgada a qualquer momento,
seja nos portais de notícias, seja nas plataformas e redes on-line dos veículos.
Essa possibilidade faz com a corrida por produção e veiculação de notícias
seja ainda mais acirrada: todos os veículos querem ser os primeiros a divulgar
algo. Decorre desta corrida a preocupação de empresas internacionais, como
a BBC e a Reuters, com questões como o cuidado da apuração, para que
não sejam veiculadas informações equivocadas na pressa de ser o primeiro.
Somam-se a isso a proliferação de boatos em perfis de jornalistas de empresas,
a atribuição de fontes de conteúdo no contexto on-line e a definição de quais
materiais digitais, como enciclopédias, são considerados adequados como fonte
de informação e referência. Além disso, a BBC e a Reuters, por exemplo, se
preocupam com a forma como se utilizam links de sites de outros veículos de
comunicação em suas redes e com a reutilização de fotos e vídeos originadas
de redes sociais.

ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.


BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF,
1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
htm. Acesso em: 17 abr. 2020.
CHRISTOFOLETTI, R. Valores, ordenamentos de conduta e subsistência do jornalismo.
In: ENCONTRO DA COMPÓS, 20., 2011, Porto Alegre. Anais [...]. Porto Alegre: Compós,
2011. Disponível em: http://www.compos.org.br/data/biblioteca_1680.pdf. Acesso
em: 6 maio 2020.
12 Código de ética dos jornalistas

CHRISTOFOLETTI, R.; TRICHES, G. L. Interesse público no jornalismo: uma justificativa


moral codificada. Rev Famecos, v. 21, n. 2, p. 484-503, 2014. Disponível em: http://
revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/17588/11798.
Acesso em: 6 maio 2020.
FENAJ. Código de ética dos jornalistas brasileiros. Vitória, 2007. Disponível em: https://fenaj.
org.br/wp-content/uploads/2014/06/04-codigo_de_etica_dos_jornalistas_brasileiros.
pdf. Acesso em: 4 abr. 2020.
SARTOR, B. A. A noção de interesse público no jornalismo. 2016. Tese (Doutorado em
Comunicação e Informação) – Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação, Uni-
versidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016.

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