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TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo: porque as notícias são como são.

Florianópolis:
Insular, 2005.

As teorias construcionistas

Tal teoria considera que as notícias são construções, tal como as estórias, em que elaboram
todo um percurso de desenvolvimento de uma narrativa. Elas surgem principalmente
radicalizando contrariamente a teoria de notícias como espelho.

Assim, não é de estranhar que o paradigma das notícias como construção não só considere o
conceito de distorção como inadequado e pouco frutífero, como sobretudo discorde
radicalmente da perspectiva das teorias que defendem que as atitudes políticas dos jornalistas
são um fator determinante no processo de produção das notícias. P. 169

ETNOMETODOLOGIA NO JORNALISMO

Segundo Schelesinger, a abordagem etnometodológica, ao contrário de outras abordagens


que focam o produto jornalístico, permite uma observação teoricamente mais informada
sobre as ideologias e as práticas profissionais dos produtores das notícias, porque pode tornar
possível a observação de momentos de crise. P. 172

Com os estudos etnográficos, a contribuição é tripla: p. 172

 Em primeiro lugar, devido à abordagem etnometodológica, o estudo de jornalismo


permitiu ver a importância da dimensão trans-organizacional no processo de produção
das notícias, ou seja, todo o networking informal entre os jornalistas e a conexão
cultural que provém de ser membro de uma comunidade profissional.
 Em segundo lugar, permitiu reconhecer que as rotinas constituem um elemento crucial
nos processos de produção das notícias. A importância das rotinas e das práticas na
produção jornalística é um elemento chave do novo paradigma construtivista que
emerge nos anos 70.
 Em terceiro lugar, serve como corretivo às teorias instrumentalistas que surgem com
uma nova força das décadas dos anos 70 e 80 e que contribuíram de forma
significativa para a crescente onda de crítica dos media e do jornalismo que continua
hoje de vento em popa.

A partir dos anos 60 e 70, as teorias estruturalista e interacionista emergem do paradigma das
notícias como construção social.

Para ambas as teorias, as notícias são o resultado de processos complexos de interação social
entre agentes sociais: os jornalistas e as fontes de informação; os jornalistas e a sociedade; os
membros da comunidade profissional, dentro e fora da sua organização. Ambas as teorias são
micro-sociológicas e macro-sociológicas. P. 173

Vão de encontro a abordagem etnometodológica

Ambas as teorias sublinham a importância da cultura jornalística, nomeadamente a estrutura


dos volares-notícia dos jornalistas, a ideologia dos membros da comunidade, e as rotinas e
procedimentos que os profissionais utilizam para levar a cabo o seu trabalho. Assim, ambas
rejeitam categoricamente uma visão instrumentalista das notícias, classificada como teoria
conspiratória (Hall et. al. 1978) porque reconhecem que os membros da comunidade
jornalística exercem um grau de autonomia. Assim, ambas contestam a visão de que os
jornalistas são observadores passivos e defendem a posição de que, ao contrário, são de fato
participantes ativos na construção da realidade. P. 173-174

Há de ressaltar que, embora as notícias sejam frutos desse mar de interação social, a escolha
narrativa não é totalmente livre.

Como escreve Robert Karl Manoff (1986), a escolha da narrativa feita pelo jornalista não é
interiramente livre. Essa escolha é orientada pela aparência que a “realidade” assume para o
jornalista, pelas convenções que moldam a sua percepção e fornecem o repertório formal para
a apresentação dos acontecimentos, pelas instituições e rotinas. P. 174

A teoria estruturalista

Tal teoria é uma das quais sublinha o papel dos media na reprodução da “ideologia
dominante”, advindo de uma herança marxista. Segundo ela, embora se reconheça uma certa
autonomia de um controle econômico pelos jornalistas, elas têm se transformado num
aparelho ideológico de Estado.

Aqui, as notícias são um produto social de vários fatores:

 A organização burocrática dos media. P. 175


 A estrutura dos valores-notícia e a ideologia profissional dos jornalistas. P. 175
 O próprio momento de “construção” da notícia que envolve um processo de
“identificação e contextualização” em que “mapas” culturais do mundo social são
utilizados na organização. P. 176

No que diz respeito a capitalização das ideologias dominantes pelos media, temos que as
pressões sobre o tempo de entrega de uma matéria e as exigências por imparcialidade se
combinam para produzir um grande acesso de informações por aqueles que detêm posições
institucionalizadas privilegiadas. Assim, querendo buscar essas informações, os media
reproduzem as opiniões desses poderosos por meio de seus “porta-vozes”, ou “definidores
primários”.

Na verdade, segundo Hall et. al., os media não são frequentemente os primary definers de
acontecimentos noticiosos mas a sua relação estrutural com o poder tem o efeito de os fazer
representar um papel crucial mas secundário, ao reproduzir as definições daqueles que têm
acesso privilegiado, como que de direito, aos media como “fontes acreditadas”. P. 179

Embora esse processo não seja totalmente fechado, porque (1) os medias são
institucionalmente distintos de outras agências; (2) seus motivos e suas lógicas possam entrar
em conflito com os definidores primários; (3) instituições que compõe a estrutura do poder
podem entrar em disputas; a teoria ainda explica a reprodução da ideologia dominante.

Mas estes fatores, que qualificam como ‘reservas’, são minimizados e não põem em causa o
ponto-chave desta teoria: a reprodução da ‘ideologia dominante’ por parte dos media. P. 179

CRÍTICA SOBRE A TEORIA


Na teoria estruturalista [...] a relação entre os chamados “definidores primários” e os
profissionais do campo jornalístico é encarada como uma relação unidirecional: os chamados
“definidores primários” comandam a ação. Neste ponto-chave, a teoria estruturalista é
criticada por um determinismo excessivo. Não há forma de conceber um espaço de manobra
por parte dos jornalistas [...]. Segundo a teoria estruturalista, nunca há um processo de
negociação antes da definição principal. P. 180

A teoria interacionista

A teoria interacionista entende que as empresas do campo jornalístico são pressionadas por
uma tirania da “hora do fechamento”, em que devem ter selecionado os eventos o suficiente
até um determinado deadline. Com isso, elas elaboram estratégias para fazer face a esse
desafio:

1) os acontecimentos (a matéria-prima preponderante do trabalho jornalístico) podem surgir


em qualquer parte; 2) os acontecimentos podem surgir a qualquer momento; 3) face à
imprevisibilidade, as empresas jornalísticas precisam impor ordem no espaço e no tempo. P.
181

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