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GRUSIN, Richard. Radical Mediation.

On mediation

Grusin começa falando que a mediação opera não apenas na comunicação, na representação
ou nas artes, mas é um processo fundamental da existência humana e não humana.

Embora a mídia opere epistemologicamente como modos de produção de conhecimento, elas


também funcionam técnica, corporal e materialmente para gerar humores afetivos ou
estruturas de sentimento na existência humana e não humana.

Mediation operates physically and materially as an object, event, or process in the world,
impacting humans and nonhumans alike. P. 126

Grusin diz que, diante disso, desenvolve o conceito de “mediação radical” para apresentar
argumentos sobre o caráter dualista da mediação no pensamento ocidental (ser entendida
como uma mediação humana e não humana).

Indeed, as I suggest in the essay’s final sections, radical mediation might in some sense be
understood as nonhuman mediation. P. 126

A mediação radical surge do conceito de empirismo radical, de William James.

Empirismo radical: as relações que conectam as experiências devem ser elas mesmas relações
experimentadas. A ideia insiste na afetividade das relações e na realidade dos afetos.

Ele descarta o empirismo tradicional, que fala de objetos ou do real em si, no sentido do
racionalismo ou idealismo, para insistir na afetividade das relações, e na realidade dos afetos.

Como alternativa ao debate empirista x racionalista, objetos x relações, ontologia (Graham


Harman) x política (marxistas), James propõe uma mediação do meio, ao começar com
relações experimentadas.

James descreve essas relações como experiências de conexão. Grusin vê as mediações como
geradoras, conectando, remodelando e transformando experiências.

I substitute mediation for James’s relation to emphasize that while radical empiricism insists
on the reality of experienced relations, radical mediation also insists upon an immediacy that
transforms, modulates, or disrupts experienced relations. P. 128

Grusin coloca que a mediação radical desafia relatos representacionalistas tradicionais, que
colocam a mediação como algo que simplesmente conecta, e que por isso, distorce visões
reais do mundo.

Assim ele defende que a mediação radical é um processo, ação ou evento que (partindo do
meio – da mediação) gera ou fornece as condições para a emergência de sujeitos e objetos,
para a individuação de entidades dentro do mundo.

Mediation should be understood not as standing between preformed subjects, objects,


actants, or entities but as the process, action, or event that generates or provides the
conditions for the emergence of subjects and objects, for the individuation of entities within
the world. Mediation is not opposed to immediacy but rather is itself immediate. P. 129

Remediation

Com base em Latour, Grusin considera que a mediação opera não de forma neutra, mas pela
transformação ativa de humanos e não humanos, bem como seus estados conceituais e
afetivos.

Assim, o conceito de mediação radical ajuda a entender como, no século XXI, a mídia e a
mediação operam no mundo como objetos ou eventos não diferentes de qualquer outro e
como sua operação contemporânea nos permite ver algumas coisas sobre a mediação que
muitas vezes obscurecido.

Grusin diz que o conceito de mediação radical se afasta do que foi usado a mediação no
pensamento ocidental (Kant; Hegel; Aristóteles). Por isso, ele vai questionar a maneira como a
mediação foi convencionalmente definida.

Sobre remediação, Grusin diz que embora nem sempre tenha sido reconhecida como tal,
desde muito cedo entendeu que ela está defendendo o imediatismo experiencial da
mediação (ou seja, o imediatismo das reformulações dos novos médias).

Ele diz que essa característica da remediação não ficou muito clara porque ela divide o
imediatismo da hipermediação, num sentido estético visual da tela, composição e design.

 Imediatismo transparente: o contato do sujeito com o real depende do apagamento


do meio, que relaciona e obscurece a relação entre sujeito/mundo. (a tela ou a
imagem plana é concebida como uma janela através da qual pode se ver um mundo
não mediado)
o também é definido de uma forma que se move em direção à mediação
radical: para se referir à experiência afetiva corporificada que advém tanto
do encontro direto com o real proporcionado pelo mediação transparente
e do encontro imediato com a mediação proporcionado pelos modos
hipermediados de mediação.
 Hipermediação: refere-se à proliferação de formas e práticas midiáticas. (a tela ou a
imagem plana chama atenção para sua própria mediação, quase sempre pela
fragmentação de si mesma num navegador web, num computador ou numa tela de TV
a cabo como a CNN.)
o Ponto de vista correlacionaista da mídia: A hipermediação bloqueia ou
impede o apagamento do meio que define o imediatismo transparente;
o Ponto de vista da mediação radical: Constitui o imediatismo transparente.

By using remediation I emphasize the point that both logics are at play in mediation, that the
double logic of remediation entails both the transparency of media correlationism and the
obscurity of radical mediation, and that these two different concepts of mediation are just as
contradictory as immediacy and hypermediacy are. P. 131

PREMEDIAÇÃO
Diferente da remediação, que busca uma espécie de imediatismo perceptivo ou afetivo, a
premediação trabalha para produzir uma afetividade da antecipação remediando eventos
futuros ou ocorrências que podem ou não acontecer. O regime midiático da premediação não
evidencia o desejo dos anos 1990 de uma realidade virtual, mas sim um engajamento com a
realidade do virtual, ou aquilo que Delleuze entende como potencialidade. Premediação
descreve o temporal e a formação afetiva atual da sociedade conectada.

A proliferação de redes sociais premediadas de pessoas e coisas é uma força poderosa na vida
cotidiana dos usuários das mídias digitais do século XXI. As redes de mídias sociais existem
quase que exclusivamente para o propósito de premediação da conectividade, promovendo
uma antecipação que a conexão poderia fazer – que alguém poderia comentar em seu
Facebook o status ou uma foto que você compartilhou; que o seu tweet poderia ser favoritado
ou retuitado; que você poderia escutar um ringtone diferenciado, ou que seu computador,
tablet ou celular iria alertá-lo sobre uma nova mensagem.

Essa antecipação temporal e afetiva produz um presente que é sempre dividido, seja orientado
para o momento imediato e também para o futuro próximo, seja nem para o presente em si e
nem para aquilo que ainda não passou. Essa temporalidade antecipatória cria, algumas vezes,
um elevado senso de alerta, enquanto que em outras (talvez em muitas) gera um sentimento
mudo e tímido de espera ou de passagem do tempo.

REMEDIAÇÃO x PREMEDIAÇÃO

Se a remediação fala para um modelo de conexão mais individualizado de imediatismo e


hipermediação que prevaleceu na cibercultura dos anos 1980 e 1990, a premediação fala para
a temporalidade antecipatória do século XXI, aquela em que estamos sempre prontos para nos
movimentarmos pelas redes sociais que estão premediadas no futuro, ou como usamos nossas
redes para mobilizarmos a nós e aos outros (amigos ou redes) e nos sentirmos juntos e
participarmos em eventos de mídia temporal e especialmente heterogêneos – seja online via
Facebook ou Twitter, ou no espaço geográfico por meio de conexões móveis com GPS ou
outras tecnologias espaciais.

Grusin diz que entender a mediação radical como afetiva e experencial (ao invés de visual) é
pensar sobre nossa experiência afetiva de mediação como algo que sentimos, que
experimentamos. Ex.: a mídia digital funcionou para aproximar dispositivos de mídia do nosso
meio corporal.

For radical mediation, all bodies (whether human or nonhuman) are fundamentally media and
life itself is a form of mediation. P. 132

O cerne da mediação radical é sua experiência afetiva imediata, o imediatismo em si. Ex.: nas
interações com dispositivos de mídia não há distâncias ou perspectivas onde possamos ver o
imediatismo.

Em nossas interações afetivas e corporais com dispositivos de mídia, na verdade com o mundo
de humanos e não humanos, não há distância ou perspectiva a partir da qual possamos ver o
imediatismo, a partir do qual o imediatismo possa ser transformado em algo que se possa
pintar, desenhar ou reapresentar. , ou algo que precisava de mediação.

“Bodies,” writes Barad apropos the invertebrate brittlestar, “are not situated in the world; they
are part of the world” (MU, p. 376). P. 132
Marxian Mediation

Nesta seção, Grusin toma as discussões de Guillory sobre como a mídia e a mediação foram
entendidas na tradição marxista como um caminho para a teorização da mediação.

A proliferação da remediação no final do século XIX exigia nada menos que uma nova
estrutura filosófica para entender a mídia como tal

 Guillory: o processo de remediação exigiu uma nova estrutura filosófica para distinguir
mídia de obras de arte
 Guillory diz que Hegel concebia a mediação e a mídia de forma intimamente
conectadas
 Guillory coloca que uma razão pela qual Hegel é incapaz de pensar mídia e mediação
juntos é que o conceito de mídia (como pensado no séx XX) desafia a concepção
hegeliana de mediação ao chamar a atenção para a materialidade técnica.
 Guillory segue Williams ao afirmar que Hegel concebia a mediação em termos da
“totalidade das coisas” (a mediação pertence a uma dialética de relações, pela qual
conceitos como sujeito e objeto, ou mente e mundo, são atribuídos papéis em um
sistema)
 O modelo básico da superestrutura, sugere Guillory, perpetua, como teoria da
mediação.
 Williams lê Hegel através de Adorno, a quem ele vê como uma figura crucial para
escapar de entendimentos dualistas de mediação.
 Williams vê a dialética negativa de Adorno como oferecendo a revisão mais radical dos
conceitos marxistas hegelianos de mediação.
 Adorno lê a metafísica de Hegel como uma crítica do imediatismo (na ideia de negar
que há algo que não seja mediado, e de que não existe imediatismo)
 Adorno contrasta sua leitura de Hegel com aqueles filósofos da experiência, para
quem o imediatismo, não a mediação, é o critério da experiência

Grusin, ao contrário da leitura de Adorno sobre Hegel, propõe que tudo é mediação, e que a
mediação é imediata.

Em Hegel, o imediatismo é mediado por algum elemento não imediato (como o


conhecimento);

Na mediação radical: “‘imediatismo em si’” é mediação ou, em sua forma mais ativa,
mediador.

Perhaps counterintuitively, then, radical mediation is not mediated but immediate. P. 135

Com isso, Grusin quer dizer que o idealismo de Hegel defende algo como o espírito que pode
transcender a mediação através da operação da dialética, enquanto os filósofos experienciais
defendem a realidade da experiência imediata que de alguma forma fundamenta ou
fundamenta a mediação.

PROBLEMA DE AMBOS: tanto o realismo quanto o idealismo concordam em aceitar o


dualismo como o ponto de partida, como um problema que precisa ser superado ou resolvido,
e não como o resultado de um processo de mediação que começa no meio.
Williams delineia três sentidos conflitantes de mediação:

(1) o sentido político da ação intermediária destinada a trazer reconciliação ou acordo;


(2) o sentido dualista, de uma atividade que expressa, de forma indireta ou tortuosa e
enganosa (e, portanto, muitas vezes de maneira falsamente reconciliadora), uma
relação entre fatos, ações e experiências separados;
(3) o sentido formalista, de uma atividade que expressa diretamente relações de outra
forma não expressas.

Apesar das repetidas invocações da afirmação de Adorno de que “a mediação está no objeto”,
Williams (como Adorno) ainda mantém um dualismo entre mediação e objeto, em vez de,
como alguém como Peirce poderia sustentar ao falar sobre mediação e semiose como
processos naturais , entendendo a mediação não simplesmente como no objeto, mas como o
próprio objeto.

Radical Mediation

Diferente das perspectivas de Hegel, a mediação radical não toma a mediação como algo
entre sujeitos, objetos, etc (ou mesmo dentro de objetos), mas sim trata a mediação como o
processo, ação ou evento que gera ou fornece as condições para a emergência de sujeitos e
objetos.

Nesse sentido, a mediação radical tem afinidades com os conceitos de transindividuação,


transdução e ontogênese de Simondon.

Na mediação radical, todas as conexões envolvem modulação, tradução ou transformação. Um


processo integrante, mas não redutível a experiência.

I insist upon this distinction because connection could be taken to imply experiences (or
experienced relations) that preexist their mediation, whereas I understand mediation as funda
mentally what Simondon calls “transductive” or “ontogenetic,” part and parcel of, yet not
reducible to, experience. P. 138

A mediação gera experiências e relações imediatas

Without mediation nothing happens. Creation, I would restate, is all about mediation. […]
creation always finds itself in the middle, amidst mediations and remediations of people and
things, humans and nonhumans. P. 139

Ao vincular a mediação radical à categoria de terceiridade de Peirce, Grusin enfatiza a noção


de que toda atividade é mediação, e que para a mediação radical não há descontinuidade
entre agência humana e não humana, ou semiose.

COMPREENSÃO DE PEIRCE DA MEDIAÇÃO COMO TERCERIDADE

A compreensão de Peirce da mediação como terceiridade opera em certo sentido como o


próprio ontogenético, como aquilo que funciona através de entidades humanas e não
humanas, através do pensamento e da matéria e da sociedade, através de sujeitos e objetos,
por meio exatamente dos mesmos processos de evolução, ou o tendência a adotar hábitos,
como o de uma planta, uma abelha, um cristal ou um poeta. Em certo sentido, então, a
mediação radical é também uma forma de terceiridade. P. 141
MEDIAÇÃO COMO REMEDIAÇÃO

Ao afirmar que toda mediação é remediação, pretendo enfatizar que toda mediação envolve
uma apropriação de atos, processos ou experiências anteriores de mediação e que a mediação
não pode ser entendida em um sentido fixo, sem vida, estático, mas só pode ser entendida
dinamicamente ou relacionalmente à medida que se apropria de formações e eventos
midiáticos anteriores. P. 142

A mediação radical não só começa no meio, mas já está sempre mediando.

What’s So Radical About Mediation?

Apesar da mediação depender de dicotomias estáveis (sujeito/objeto, humano/não humano),


elas são resultados da mediação, não a fonte. Por isso, Grusin sustenta a ideia de começar pelo
meio, pela mediação radical.

Quando ele fala de mediação, não está se referendo somente a estrutura cotidiana da mídia
(TV, plataformas, etc), mas considera as múltiplas materialidades dos meios de comunicação,
sua dependência de industrias extrativas destrutivas e outros materiais que os dispositivos são
construídos.

Rather I am referring as well to the ubiquitous nature of mediation itself—flowers, trees,


rivers, lakes, and deserts; microbes, insects, fish, mammals, and birds; digestion, respira tion,
sensation, reproduction, circulation, and cognition; planes, trains, and automobiles; factories,
schools, and malls; nation-states, NGOs, in digenous communities, or religious organizations;
rising sea levels, in creased atmospheric concentrations of CO2 , melting icecaps, intensified
droughts, violent storms. P. 145

A mediação radical toma tudo como mediação: ela é transformadora, move sua capacidade de
mudar drasticamente de escala.

Mesmo os componentes menores ou mais básicos são mediações, que ao aumentar podem
ser remediadas em entidades maiores, assim como ao reduzir, entidades e eventos maiores ou
mais complexos podem ser remediados em menores ou menos complexos.

A questão é que na ideia de mediação radical, as novas formações de mídia técnica (tudo que
está na esteira da Rev. Digital, capitalismo da informação) produzem as mediações através das
quais tais oposições são geradas em ciclos de retroalimentação contínuos, mas de modo algum
contínuos.

o radical disso é considerar que a mediação no século XXI não pode mais ser confinada à
comunicação e formas relacionadas de mídia, mas precisa ser estendida a todas as atividades
humanas e não humanas.

Ainda mais num contexto de internet das coisas, onde tudo está em rede, essa ligação
mediação/comunicação precisa ser desfeita.

Em uma era antropocênica de mudança climática e extinção em massa, a mediação radical


estende a mediação à ciência e ao mundo físico, e insiste que a tecnociência, como literatura,
cultura, artes ou humanidades, seja levada a sério como uma forma de mediação.
Isso é importante porque as ciências naturais e físicas respondem por muito mais objetos e
processos que tradicionalmente caem sob a alçada das ciências humanas ou sociais.

O humano nunca pode ser separado do não-humano.

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