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ECONOMIA E SOCIEDADE (Vol.

1) - FICHAMENTO

É Fundamental para a leitura magnum opus weberiana estabelecermos paradigmas que


conflitam as idiossincrasias do senso comum. À exemplo do suposto conflito entre Marx e
Weber - no sentido ideológico. Foram produzidas narrativas, sobretudo pelo impulso do
sociólogo Talcott Parsons, em que Weber seria oposição a sociologia marxiana, ou pior,
Weber seria um sujeito de cunho liberal; no prefácio à obra Economia e Sociedade essa
narrativa cai por terra. No entanto, para Weber, o socialismo teria como fim último os mesmos
paradoxos do capitalismo: a perda da autonomia do indivíduo moderno, que seria confinado à
mesma jaula de aço imanente do capitalismo. O verdadeiro conflito entre os dois autores se
pautava no método. Marx acreditava que a posição dos indivíduos na sociedade era ditada
pelas relações de produção; Weber, por sua vez, acreditava que essa posição era determinada
pelos tipos e relações de mercado. E mais, ao contrário de Karl Marx, Weber anuía de que não
se pode estabelecer leis gerais para o desenvolvimento histórico das sociedades1. Ademais,
Weber não descarta que o conflito induz transformação, mais ainda, o conflito pode ter
diversas causas possíveis, portanto, não deveria focalizar apenas na luta entre classes.
Ponto fulcral que nos serve de fio condutor para todo e qualquer texto de Max Weber:
fenomenologia. Em contraponto com os intelectuais estruturalistas (objetivistas,
funcionalistas, materialistas) que supunham que as práticas sociais são determinadas por
estruturas predispostas a atuarem sobre eles e, portanto, conduzir suas relações, Weber aponta,
em certa medida, o contrário; a experiência do indivíduo é que edifica tais estruturas.
Exemplo disto é a oposição de Weber (ainda em conflito com o método marxiano) ao conceito
ideologia, Weber descredenciou a tese de que as ideias dominantes de uma sociedade são
determinadas pelas relações dominantes, na Ética Protestante isso se apresenta de modo
inverso: as ideias religiosas do protestantismo, em ascensão, tinham sido cruciais para o
desenvolvimento das relações capitalistas2. Voltando ao que foi dito anteriormente, Weber
priorizava a fenomenologia: a compreensão individual perante as estruturas e suas práticas.

Para Marx, a história das sociedades é a história da Luta de Classes. Sob ótica do materialismo
histórico-dialético, os confins dessas lutas seriam produto do acirramento, ou melhor, do
desenvolvimento das forças produtivas e das relações sociais de produção, originando, assim, novas
sociedades com relações divergentes das sociedades anteriores. E esse ciclo, por algum motivo, se
daria por encerrado quando a classe operária - unívoca ao capitalismo - “ganhasse” a próxima luta.
2
Capitalismo, nesse sentido, é denominado de Capitalismo Racional.
Fundamental para toda sociologia, cabe então, estabelecermos, ou melhor, sistematizar
o pensamento weberiano e os segmentos que fazem parte da totalidade de sua obra Economia
e Sociedade. Inicialmente, por uma cronologia qualitativa, isto é, do mais simples ao mais
avançado, organizando-se dos conceitos mais rudimentares às estruturas mais complexas da
obra.

1. Fundamentos metodológicos

Sumamente, esses conceitos são fundamentais para toda obra weberiana, sentido e
ação social, fazem parte da edificação metodológica de Max Weber. Por Ação entende-se o
comportamento humano, em termos gerais, interno ou externo, sempre em que os agentes lhe
associam um sentido subjetivo (Fechar uma porta pelo trinco é uma ação, pois, há um sentido
que é concebido pelos agentes: usar o trinco para fechá-lo.). Mas devemos considerar Ação
Social quando o sentido intentado pelos agentes tem como orientação o comportamento de
outros, e por ele se orienta (fecho a porta em determinado horário da noite, pois, os “agentes”
sempre discutem que pode ser perigoso deixá-la aberta. Neste caso, fecho a porta por
segurança, me orientado pelo sentido referenciado no comportamento de terceiros). No
entanto, há limites no que tange Ação e Ação Social que merecem atenção para não confluir
ou contradizer uma interpretação. Os limites entre uma ação significativa e um modo de
conduta simplesmente reativo, não ligado a um sentido subjetivamente intentado, são de todos
fluidos (WEBER, 2022, p.37), isto é, nem toda Ação se encontra fundamentada num sentido
propriamente intentado (ver Ação tradicional), mesmo que compreensível.

2. O que é Ação Social

De acordo com Weber (2022, p. 54): A ação social (inclusive a omissão ou tolerância
dela) pode orientar-se para o passado, o presente ou o futuro esperado dos outros. Isto é, o
agir - leia-se ação - é fundamentado para a “reação” alheia, tomemos cuidado, no entanto, ao
definir reação (ver em Ibid, p. 41), mas de modo geral, a Ação Social tem como princípio o
retorno do outro. Por exemplo, nós aceitamos o dinheiro numa relação de troca, porque
sabemos, ou temos como intuição, que o dinheiro poderá ser aceito por outra pessoa numa
relação de troca futura. Não é, no entanto, todo o contato entre homens uma ação social
propriamente dita: um choque entre dois ciclistas não é uma ação social, é acaso; tentar
esquivar-se para evitar a dor ou equivalências é ação social - pois o sentido subjetivo desta
ação à maneira efetiva seria não provocar um acidente, ou danos materiais, físicos e
econômicos entre eu e o outro.
Weber adverte sobre a inteligibilidade de uma Ação Social não poder ser verificada, na
totalidade, como algo que é idêntico, por exemplo: se muitos a fazem, são por razões
subjetivas congruentes. Deste modo, para não cairmos em contradições, elucidamos que “A
ação social não é idêntica a) nem a uma ação homogênea de muitos, b) nem à ação
influenciada pelo comportamento de outros'' (WEBER, 2022. p 55). Seguimos ainda com os
exemplos postos por Weber para as duas situações, a) e b), respectivamente:

a) Quando na rua, no início de uma chuvada, uma quantidade de homens abre ao mesmo
tempo o guarda-chuva, a ação (normalmente) não está orientada pela ação dos outros,
mas sim a de todos homogeneamente pela necessidade de proteção contra a chuva.
(WEBER, 2022, p. 55)
b) [...] Massas dispersas podem também condicionar o comportamento dos indivíduos
mediante uma conduta que atua simultânea ou sucessivamente sobre os indivíduos
(por exemplo, por meio da imprensa) e enquanto tal é percebida como de muitos.
Determinadas formas de reação são possibilitadas, outras dificultadas pelo simples
fato de que o indivíduo se sente como parte uma "massa". (WEBER, 2022b, p. 55)

Quanto ao segundo ponto, cabe destacar que em situações de massa, a simples reação
(euforia, raiva, tristeza) pela determinação do “sentir-se” parte de uma massa sem que haja
relação de sentido, isto é, agir em prol da reação, não é ação social. Outro ponto central no
que tange os meandros da Ação Social, a imitação, ou melhor, a simples e vulgar imitação,
não se considera ação social; esse princípio pode dificultar distinguir o que é ou não ação
social (ver em “Fundamentos metodológicos”: Compreensão). O fato de nos orientarmos pelo
comportamento que nos parece adequado por meio da observação não se dá como ação social
(adentrar em um shopping e imitar o modo pelos quais a classe se comporta pelo fato de me
parecer adequado não é ação; ao contrário, caso me comporte de modo mimico pela classe do
shopping tendo como sentido a minha integridade, pelo motivo de não querer ser reprimido, é
um ação social).
2.1 Tipos de Ação Social

Ação Social não é de um todo homogêneo, Weber definirá os quatros tipos de ação
social que estão a disposição de nossa inteligibilidade.

a) Ação Racional de Fins: motivada por expectativas (à exemplo do dinheiro) do


comportamento de objetos do mundo e dos homens, podendo essas expectativas se
enquadrarem como meios, condições para fins próprios racionalmente intentado como
resultado.
b) Ação Racional de Valores: essa ação é determinada pela crença consciente valor
ético - religiosa ou equivalente - específico de uma conduta, neste caso, independe do
resultado.
c) Ação Afetiva: ação determinada pelo consciente emocional, pelos afetos e estados de
sentimentos
d) Ação Tradicional: determinada pelo hábito, edificado em relações, adquire forma
vital, ou seja, assume o posto de “natural” e incontornável para o agente.

De modo epigramático, assim está estabelecido os quatros tipos de ação social para
Max Weber, conquanto, há certos fragmentos no que tange a definição, ou melhor, a
compreensão de determinadas ações, principalmente quando falamos de Ação Tradicional ou
Ação Afetiva. Desse modo, cabe mencionarmos algumas precauções metodológicas em
acordo com a integridade weberiana acerca dos conceitos elencados respectivamente, aduzir
suas rupturas será de grande importância para compreender as estruturas complexas da obra.
1. O comportamento estritamente tradicional, assim diz Weber, vai de conflito muitas
vezes com que se é concebido como sentido, tampouco se orienta por ele. Em suma, esse
comportamento pode ser muitas vezes uma reação a estímulos habituais concebidos como
parte natural da vida quotidiana. Embora se encontre em situações que possam ultrapassar o
tipo de Ação Tradicional, grosso modo, a maioria desse agir em reação ao habitual cotidiano
se deflagra porque se mantém consciente em diferentes graus e sentidos, podendo, deste
modo, transitar entre Ação Racional de Valores e Ação Tradicional.
2. O comportamento puramente afetivo se encontra na mesma aporia do
comportamento estrito tradicional, embora orientado pelo afeto, muitas vezes este é orientado,
ou melhor, induzido, apenas como uma reação a um estímulo fora do cotidiano, é uma
sublimação quando esta ação é orientada por uma descarga consciente do estado sentimental;
na maioria dos casos, parte para o caminho de uma racionalização axiológica ou para ação
teleológica, ou ambas. É ação efetiva quando satisfaz a necessidade atual de vingança, gozo,
beatitude, etc. É ação axiológica quando o agir, sem medir consequências, atua no serviço de
sua convicção sobre o que dever, a dignidade, a moral, ou a importância de uma causa lhe
parecem ordenar, ou seja: ação axiológica é sempre no sentido uma ação segundo
mandamentos ou exigências que o agente julga a si como dirigidas.
3. Para o agir racional, Weber baseia-se no protestante ascético como tipo ideal de
ação racional, tomamos nota disso quando o define nas seguintes palavras:

Age racionalmente com vista a fins quem orienta a sua ação por uma meta, meios e
consequências laterais e pondera racionalmente, para tal, os meios com os fins, os fins
com as consequências secundárias, como, finalmente, também os diferentes fins
possíveis entre si: em todo o caso, pois, quem não atua nem afetivamente (e,
sobretudo, de modo não emotivo), nem tradicionalmente. (WEBER, 2022, p. 58)

Desse modo, o paradigma centralizado em fins e consequências pode orientar-se de modo


racional e axiológico (ver § anterior), sendo assim, uma ação racional teleológica pelos os
seus meios. A orientação racional-axiológica da ração pode divergir da ação
teológico-racional. Cabe mensurarmos que a ação racional-axiológica, resumidamente, se
trata de agir sobre escopo determinados racionalmente (sic) para a efetivação da axiologia
(valores, etc.), elevando a axiologia a categoria máxima, ou seja, fim último que sobrepõe o
racional escopo que serve apenas de auxílio; a ação racional-axiológica, por fim, será
irracional. A ação racional-teleológica (ver p.58) é um caso limite construtivo.

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