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aes DURKHEIM LICOES DE SOCIOLOGIA Uh A] CO xetl trar, a mesmo titulo que a sociedad, no si a de expli- verdade que em face do individuo ha odireito de dizer que do indi- ‘vidual também pode haverciéncia Cigneia compreensiva porque explicativae ndo com- preensiva por falha da explicatva. A compreensio, com assim apresentado se feito, s6 poderia ser vitoriosamente oposta it explicagio se est se confundisse pura e simplesmente com a obser- ‘vagdo. Ora, a explicagio, a0 contrrio, difere da observa- ‘0 pela ipétese que ela Ihe propde e pela significagao ‘que, compreensiva por sua vez, ela Ihe impde. E se, a0 fi- nal da redugdo inteligivel, a causalidade idida- mente & identidade, e se um residuo, diverso irredutivel ‘ou devenir irroversvel, se depreender, quem pensara que dante desse eventual residuo uma compreensdo, mesmo sistr de que “lucid pitica” que se pretendesse substitu i expli ‘ago, tenha de fato mais a dizer do que a propria expli- nha o diteito ‘ago, ou, em todo caso, seja a nica que de falar? Ao contrrio, é a explicacio que, porte levado ‘andlise quase a seus limites, podera validamente falar familias diferentes. Mais geraimente, quando uma socie dade ¢ formas por uma fewnio Je grupos Eula) de natures diferentes, sm qu ea por ua vez um gr po secundirio com relagio a uma sciedade mas ampla tla constitu uma sntidade social despise isin: Sociedade polities que definiemos: uma sociedade fo tnada pela reunio de um mimero mais ou menos cons deravel de prupossoiatssecundiios,submtidos a uma = mesma autoridade, que por sua vez ndo depende de ne- ‘nhuma autoridade superior regularmente constituida Assim, ofato merece ser notado, 35 sociedades po- iticas se caracterizam em part pela existéncia de grupos. Eo que ja sentia Montesquieu, quando dizia que a forma social que Ihe parecia a mais altamente orga- nizada, ou sea, a monarguia,implicava: “Poder inter didios, subordinados e dependentes” II, p. 4). Vé-se toda ‘a importincia desses grupos secundarios de que falamos até agora, Esses grupos nfo Slo apenas necessérins i ad- ministragdo dos-interesses particulates, domésticos, pro- fissionais, que cles envolvem + que sio sua razdo de sr do também a condigio fundamental de toda organiza ‘mais elevada, Longe de estarem em oposigio ao grupo s0- “ Licoes pe soctovocn cial encaregado da autoridade soberana e que chamamos mais especialmente de Estado, & este que supde sua exist téncia; ele 36 existe onde eles existe, Nao a grupos se. cundirio, nfo h auoridade polities, pelo mien, N@O.bd autoridade que poss, sem impropriedade, sr chamada por esse nome, De onde vem essa solidariedade que une esses dois tips de grupamentos, 0 que veremos mais ta de. Por enquanto, basta consata E verdade que essa definigo contaria uma teoia, clissica durante muito tempo; &aquola aque os st mer Maine e Fustl de Coulangssvincularam seus nomes Segundo esses estudiosos, a sociedad elementar de que teriam sido as sociedads mais composts seria um grupo familar extenso, formado por tos os indviduos unidos por lags de sangue ou por lagos de adogio, e colocado sob 2 diregdo do mais velho dos ascendentes masculinos, 0 pavarea. E[aeoria-pararcal) Se cla fosse verdadeira encootrariames no prnepio uma atordade constiuida, em todos os pontos aniloga que encontraos nos Est dos mais complexos, a qual seria por conseguinte verda- E 0 que deve levar a rejetar essa suposigd0 como sendo totalmente improvavel & que, quanto mais 0s cls de uma tribo sio independentes uns dos outros, mais cada um doles tende & autonomia e mais, também, est au sente tudo que se parega com uma auforidade, com um poder governamental qualquer. Sio massas quase total- ‘mente amorfas, cujos membros esto todos num mesmo plano.‘ organizago dos grupos pareais, clas, familias, cete.,nlo precedeu, portanto, a organizagao do agregado to- tal que resultou de sua reuniig Dai tampouco se deve con- cluir que, inversamente, a primeira tenha nascido da se- ‘gunda, A verdade & que elas so solidérias, como dizia- ‘mos hi pouco, e se condicionam mutuamente. As partes rio se organizaram primeiro para formar um todo que em seguida se organizou a sua imagem, mas 0 todo as par- tes organizaram-se ao mesmo tempo. Outra conseqién- i do que precede & que, como as Sociedades poiticas implicam axisténcia de uma autoridadé e como essa au toridade aparece apenas onde as sociedades contém uma ~pluratidade de sociedades elementare’, as sociedades po- lticas so necessariamente olielulares e polissegmen tares: Nao quer dizer que nunca tenba havido sociedades feitas de apenas um e nico segmento, mas elas const tem uma outa espécie, io so politicas Resia dizer, por outro lado, qu uma mesma soceda 4e pode ser politica quant a certosaspectose constitu apenas um grupo secundirio e parcial quanta a outros. E 6 que acontace em todos oS Estados federaives, Cada‘Es- tado particular & aut6nomo em eortamedid mais rstita do que se nfo houvesse confederagio regularmente orga nizada, mas que, por ser menor, nem por isso nula. Na medida em que cada membro s6 depende desi mesmo, em que no depende do poder central da confederaso, ele constitu’ uma sociedade politica, un Estado propriamen te dio: Ao contro, na medida em que ¢subordinado aa sum drgo que Ihe & superior, cle ¢ urn simples grupos cundiio, parcial, anilogo a um dist, a uma provincia, alum ll oa uma easta.Deixa de ser um todo para apare cer apenas como uma parts. Nossa definiglo, poranto,nio estabelece entre as sociedades politica e as outras uma linha de demareagdoabsoluta; mas é porque tal ina no ‘existe, endo podera existir!Ao conto, a série das co ores so for ‘mada pela agregagio lenta das sociedades politica infe- riores; hi entio momentos de transiglo em que estas, em ‘bora conservando algo de sua natureza original, comegam = ase tomar outa coisa contra caraeteriticas nova, due por conseguine, sta condigdo € ambigua40 esens tio € marear uma solugto de continuidade onde ela no existe, e sim presher as caractristicasespeifcas que de- finem as sociedades politics e que, conforme seam mais presentes ou menos, fazem com que estas ims mere- fam mais francamente ou menos essa qualifcagio, Agora que sabemos po que sta ereconhece uma sociedade poliea, vejamos em que consiste% moral que Ihe correspond8 a propria defnigdo precedente, resula que as fegras essenciais dessa moral siio as que determi-” ‘nam as relagdes dos indviduos com afuiordade sobers- ‘nba cua ado esto submetdos. Como € neessiriohaver ta palavea para designar o Grupo especial de funcioné- Fos encarregados de representa essa autora, convire ‘mos em reservar para esse uso a palavra Estado. Sem di ‘ida € muito feqiente chamarse de Estado nko o gio {overnamental, mas Sociedade poltica em seu conju fevo fiova gvernadoe seu governo junto, efds mesmos mpregaaos a palavra ness sentido: Assim, fal-se em Estados europeus,dz-se que a Franga é um Estado. Po- rm, como € bom que haj trmosespeciis par reali des to diferentes quanto a sociedade eum de seus Gros, chamaremos mais especiaimente de Estado 6 agentes da autoridade soberani, e de Sociedade politica o grupo com- plexo de que o Estado 6 o go eminent Dito isto, 0s ‘rincipas deveres da mora ive sip, evdentemente os ‘ve ocidadio tem para com o Estado e, reciprocamente, ‘0s que o Estado tem para com 08 individuos. Para com= preenderquas so estes deveres, é importante nto, a tes de tudo, determinar a ntureza ea Fungo do Estado 6 00s be socroLoct4 Pode parece, na verdade, qu ji tenhamos respondi- 440d primeira dessas quests, e que a natureza do Estado {tena sido definida 20 mesmo tempo que a sociedade po Mitica, Nao & 0 Estado autoridade superior & qual esti submetida toda a sociedade politica em seu conjunto? "Mas na realidad a palavraautoridade é muito vaga epre~ cisa ser definidasOnde comega ¢ onde acaba o grupo de funcionérios investidos dessa autoidade e que constitu Estado propriamente dito? A questo & tanto mais neces: séria quanto a Hingua corrente comete muitas confusées esse respeito, Dz-se datiamente que os servigos pabli- 0s slo servigos do Estado; ustiga,exército, Iereja onde ha uma Ipreja nacional, slo vistos como fazendo part do Estado. Porém no se deve confundir com o préprio Esta do 0X ngs secundéio’ que recebem mais imediatamen te sua ago e que sio, com relacio a ee, apenas rps de execugaé: Pelo menos dev “erupos especiait— pois o Estado & complexo ~a0s guais ‘sto subordinados os Grupos secundirio que chamamos ‘mais especialmente de"administragde3: O que os primei- tos tm de caters gue x ces tém uaa para Pensar e agit no lugar da sociedade. As ZepresentageS 5 Fesolugdes-laboradas nesse meio espe- cial, So naturalentee neces etvas. Sem di vida, hi feprescutagies deci 23 alem das que se formam assim, Em toda sociedade, Hd ou houve mits, dogmas, se a sociedade politica ¢ a0 mesmo tempo uma lgre se distinguir © grupo ou 0s J ou tradigdes histérias, morais, que eonstituem repre sentagdes comuns a todos 0s seus ‘obra especial de nenhum rao determinads: Igualment, nbrose que no sto hi em cada momento corrents sociais que arastam a co letvdade nam termina seo equ no emanam do Extad, Com muta fee, 0 Estado soe sua pes da psiquica difiusa na sociedadé>Mas ha uma outra que tem como fede especial o gio governamental ls gue cla se elaboa, ee depois la reson no resto da secede apenas secundariamente e como repercussio. Quando 0 Parlament® voia uma le, quando’ governs toma uma de- cisfo dentro dos limites de sua competéncia, um ou outro Procedimento depende, sem divida, do estado geral, da so ciedade; o Parlamenta eo governo esilo em contato com as massas da nacio, ¢ as diversas impresses que rest tam para eles deste contato contribuem para determiné-los num sentido ou no outro. Mas, se hé assim un fator de sa determinagdo que esta situado fora dees, nfo € menos ver dade que essa determinago slo eles que tomam, que ela exprime antes de tudo o meio particular em que ela nas oe. Assim, sci acontece que haja até uma dis cordincia entre esse meio ¢ 0 conjunto da nagio e que as vernamentais, os votos parlamentare®embo- ra valham para a comunidade, nfo correspondam ao esta- do desta tiltima.FResse i vida coletiva, ‘em va localizada num Srzio determinado. E essa loealizagio ndo provém de uma sim ples concentragio num ponto determinado de uma vida {que tem origem fora desse ponto. E em parte nesse pri- prio ponto que ela nasce. Quando o Estado pensae decide, nio se deve dizer que & soeiedade que pensa e decide por ele, mas que ele pensa e decide pela sociedad. Ele ‘no € um simples instrumento de eanalizagdes e concen:

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