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Universidade Federal de São Carlos- UFSCar

Alunos: José Luís de Miranda dos Santos – 770956


Maria Isabel Danciguer Rodrigues – 771411
Raquel Gomes Valadares – 772237
Disciplina Introdução à Sociologia Prof.ª Dr.ª Jacqueline Sinhoretto

Estudo dirigido

1- Comentem as diferentes visões sobre objetividade do conhecimento em


Comte, Durkeim e Weber.

Ao comparar as visões de Comte, Durkeim e Weber, a respeito da objetividade do


conhecimento, verifica-se que cada autor abordou aspectos que foram justificados
através das pesquisas desenvolvidas. Comte (1978) compreende a razão como direção
absoluta da organização da sociedade. Em seus postulados, afirma que seria
necessário a aplicação dos métodos científicos nos estudos dos fenômenos sociais,
pois existem leis naturais observáveis, que por indução, são deduzidas e racionalizadas.
Assim como em outras ciências haveria a exatidão, ou a resposta absoluta, nos estudos
dos fenômenos sociais haveria uma única verdade. A ciência é a única explicação
legítima para a realidade; as ciências da natureza possuem o mesmo método de estudo
das ciências sociais. Constata-se tal assertiva no seguinte trecho:
Considerando sempre os fatos sociais, não como objetos de
admiração ou de crítica, mas como objetos de observação,
ocupa-se ela unicamente em estabelecer suas relações mútuas
e apreender a influência que cada um exerce sobre o conjunto
do desenvolvimento humano. [...] Reduzem-se, pois, suas
pesquisas de aplicação a colocar em evidência, segundo as leis
naturais da civilização com a observação imediata, as diversas
tendências próprias de cada época. (COMTE, 1978, p.53)

No entanto, na concepção de Durkeim (1987) os fenômenos sociais necessitam de um


método definido e adaptado para a sua compreensão. Haveria um método científico
apropriado, analisando com imparcialidade e objetividade os objetos de estudo. O objeto
de estudo é denominado fato social, que é tratado como coisa e não como opinião; e
para entender tal objeto busca-se compreender a função que esse fato cumpre em
sociedade. A análise durkeimiana compara a sociedade com um corpo vivo e cada parte
exerce uma função, por isso seu método de análise também é denominado
funcionalista. É perceptível compreender esse aspecto em seus estudos:

Só explica comparando. Uma investigação científica, portanto,


só poderá chegar a seu fim se se referir a fatos comparáveis, e
terá tanto maior possibilidade de êxito quanto maior for a certeza
de que reuniu todos os que pudessem ser eficazmente
comparados. [...] Nossa primeira tarefa deve ser, então,
determinar a ordem dos fatos que nos propomos estudar sob o
nome de suicídios. (DURKEIM, 1987, p. 10).

No entender de Weber (1999), os fenômenos sociais podem ser explicados pelo seu
curso e seus efeitos. A análise é submetida ao método individualista, a particularidade
do objeto, identificando características que o torne único. Não sendo possível
compreender os fenômenos sociais da forma com que são desenvolvidos os estudos
sobre os fenômenos da natureza:

Não existe absolutamente análise científica ‘objetiva’ da vida


cultural ou – para empregar uma expressão cujo sentido é mais
limitado, embora não signifique nada de essencialmente diferente
quanto ao nosso objetivo - , das ‘manifestações sociais’, que seria
independente de pontos de vista especiais e unilaterais, graças
aos quais essas manifestações se deixam explícita ou
implicitamente, consciente ou inconscientemente selecionar para
se tornarem o objeto da pesquisa ou analisar e organizar em vista
da exposição. [...] procuramos tomar consciência da maneira
como a vida se apresenta imediatamente a nós, verificamos que
ela se manifesta "em" nós e "fora" de nós, através de uma
diversidade absolutamente infinita de coexistências e sucessões
de acontecimentos que aparecem e desaparecem (WEBER,
1999, p.180).

2- Comentem as visões dos autores sobre a existência do conflito.

A instabilidade dos pilares sociais desencadeando os conflitos também é interpretada


adversamente pelos autores tratados nesse estudo dirigido. Conforme Comte (1978), o
pleno desenvolvimento e equilíbrio do mundo decorre da ordem social, entretanto,
incorrendo em desordem é necessário que ela seja imediatamente reestabelecida. A
desorganização é seguida da reorganização social, com o fim de obter o progresso.

De conformidade com este estado de coisas, dois movimentos


de natureza agitam hoje a sociedade: um de desorganização,
outro de reorganização. Pelo primeiro, é ela impelida para uma
profunda anarquia moral e política, que parece ameaça-la de
próxima e inevitável dissolução. Pelo segundo, é ela conduzida
para o estado social definitivo da espécie humana, o mais
conveniente à sua natureza, no qual todos os meios de
prosperidade devem receber seu mais completo
desenvolvimento e sua aplicação mais direta (COMTE,1978, p.
64).

Durkeim (1987) compreende que a sociedade detém o poder imperativo e coercitivo


sobre o indivíduo. Há uma consciência coletiva que define um conjunto de crenças e
regras; incorrendo conflitos no âmbito social, prevalece a repressão, com a punição e o
restabelecimento da ordem.
Não há dúvida de que esta coerção não se faz sentir, ou é muito
pouco sentida quando com ela me conformo de bom grado, pois
então torna-se inútil. [...] Se experimento violar as leis do direito,
estas reagem contra mim de maneira a impedir meu ato se ainda
é tempo; com o fim de anula-Io e restabelece-Io em sua forma
normal se já se realizou e é reparável; ou então para que eu o
expie se não há outra possibilidade de reparação. Mas, e em se
tratando de máximas puramente morais? Nesse caso, a
consciência pública, pela vigilância que exerce sobre a conduta
dos cidadãos e pelas penas especiais que têm a seu dispor,
reprime todo ato que a ofende. Noutros casos, a coerção é
menos violenta; mas não deixa de existir. (DURKEIM, 1987, p.3)

Para Weber (1982), tudo o que existe na sociedade é fruto da vontade e das atividades
dos homens; a confluência de elementos, pela primeira e única vez produzirá um
ambiente propício ao desenvolvimento social. O conflito existe quando as esferas
autônomas que dão sentido às ações individuais entram em tensão; quando os valores
do indivíduo colidem nas diferentes esferas, modificando irremediavelmente.

[...] pois a racionalização e sublimação consciente das relações


do homem com as várias esferas de valores, exteriores e
interiores, bem como religiosas e seculares, pressionaram no
sentido de tornar consciente a autonomia interior e lícita das
esferas individuais, permitindo, com isso, que elas se inclinem
para as tensões que permanecem ocultas na relação,
originalmente ingênua, com o mundo exterior. Isso resulta, de
modo geral, da evolução dos valores do mundo interior e do
mundo exterior no sentido do esforço consciente, e da
sublimação pelo conhecimento (WEBER, 1982, p. 377)

3- Comparem o peso atribuído por cada autor à estrutura social e a ação e criação
dos indivíduos.

Comte, Durkeim e Weber são importantes para a compreensão da sociologia ainda que
cada um deles tenha interpretação distinta da estrutura social e da ação dos indivíduos.
O fundamento do pensamento comtiano está na evolução da estrutura social; no
entender de Comte (1978) as sociedades evoluem progressivamente sob três estágios:
teológico, metafisico e positivo ou cientifico. Tais estágios independe da ação humana,
pois seria seu curso natural:

Em outros termos, o espírito humano, por sua natureza,


emprega sucessivamente em cada uma de suas pesquisas três
métodos de filosofar, cujo caráter é essencialmente diferente e
mesmo radicalmente oposto: a princípio, o método teológico; em
seguida o método metafísico; enfim, o método positivo.
(COMTE,1978, p. 64).
Para Durkeim (1987) a sociedade é superior ao indivíduo e sobrepõe suas vontades e
intenções. Deste modo, ele se atém aos estudos da ação da sociedade para
compreender o indivíduo. Ao definir o fato social, torna-se elucidativo seu entendimento
sobre o papel da sociedade sobre o indivíduo:

Nossa definição compreenderá, pois, todo o definido, se


dissermos: É fato social toda maneira de agir, fixa ou não,
suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior;
ou, ainda, que é geral ao conjunto de uma sociedade dada e, ao
mesmo tempo, possui existência própria, independente das
manifestações individuais que possa ter. (DURKEIM, 1987,
p.11).

Weber (1999) contrapõe a compreensão durkeimiana; segundo ele, a estrutura social é


fundamentada no indivíduo. A existência da sociedade somente se realiza pela ação e
interação recíproca entre os indivíduos. Para Weber, a análise sociológica não pode ser
definida como a sociedade; o ponto de partida da análise só pode ser dado pela ação
dos indivíduos. Portanto, a ação e criação dos indivíduos é essencial para que deles
decorram a possibilidade de entender a sociedade.

A ínfima parte da realidade singular que é examinada, de cada


vez, se deixa colorir por nosso interesse determinado por essas
ideias de valor; somente essa parte adquire uma significação
para nós e tem uma significação porque revela relações que são
importantes [wichtig] em consequência de sua ligação com
ideias de valor. É, portanto, porque e enquanto isso é assim que
vale a pena conhecê-la em sua singularidade [individuelle
Eigenart]. Nunca seria possível deduzir de um estudo sem
pressuposições [voraussetzungslos] do dado empírico o que
assume para nós uma significação. Pelo contrário, a
constatação dessa significação é a pressuposição que faz com
que alguma coisa se torne objeto da investigação (WEBER,
1999, p.183).

Referências
COMTE, A. Auguste Comte: Sociologia. São Paulo: Ática, 1978.

DURKEIM, E. O que é um fato social? In: As regras do método sociológico. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1987.

____________. Introdução. O Suicídio. Estudo de Sociologia. São Paulo: Martins


Fontes, 2004.

WEBER, M. Rejeições religiosas do mundo e suas direções. In: GERTH, H. H.; WRIGHT
MILLS, C. (Orgs.). Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan S/A,
1982.

________. A ilusão positivista de uma ciência sem pressupostos. In: BOURDIEU, P.;
CHAMBOREDON, J.C.; PASSERON, J.C.; A profissão de sociólogo. Preliminares
epistemológicas. Petrópolis: Vozes, 1999.

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