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Universidade Federal de São Carlos- UFSCar

Alunos: Gustavo Surita – 77


José Luís de Miranda dos Santos – 770956
Raquel Gomes Valadares – 772237
Disciplina Introdução à Sociologia Prof.ª Dr.ª Jacqueline Sinhoretto

Estudo dirigido

1 – Considerando que até mesmo a força de trabalho é organizada sob a forma


mercado, discuta as relações entre mercado e liberdade para Karl Marx.

Segundo Marx (2007), a sociedade estaria dividida em duas classes: aqueles


que possuem a propriedade privada e os trabalhadores sem propriedades. O controle
dos meios de produção não seria uma mera apropriação física, mas uma relação social
baseada na expropriação do trabalhador. Essa divisão reverberaria em todas as
relações sociais; os efeitos desta relação seriam a segregação social e, por conseguinte,
a luta de classes.
A propriedade privada não seria explicada pela Economia Política, apenas
admitida por ela, e suas forças propulsoras seriam a avareza, a guerra entre os
gananciosos e a competição (MARX, 2007). Por isso, Marx (2007) busca relacionar
questões ignoradas pela Economia Política, demonstrando as demais relações desse
sistema de alienação.
O trabalho, como produto da força humana, transformar-se-ia em mercadoria,
ser estranho ao trabalhador, resultando na objetificação do trabalho. Isto porque, a
competição e a guerra entre os gananciosos para o controle do mercado de produção,
faz com que, cada vez mais, sejam produzidos bens, desvalorizando o trabalho humano.

O trabalhador torna-se uma mercadoria ainda mais barata à medida


que cria mais bens. A desvalorização do mundo humano aumenta na
razão direta do aumento de valor do mundo dos objetos. O trabalho
não cria apenas objetos; ele também se produz a si mesmo e ao
trabalhador como uma mercadoria, e, deveras, na mesma proporção
em que produz bens. (MARX, 2007, s/p)

O trabalho, como fator humanizador dos seres, transparece a capacidade


inventiva, a livre expressão e a subjetividade do indivíduo. No entanto, com a
apropriação da força de trabalho pelo detentor da propriedade privada, o trabalho passa
a ser um operador sociológico entre o ego e o alien. A alienação da força de trabalho
limita o trabalhador da liberdade criativa e inventiva; o resultado do trabalho, o produto,
torna-se alheio ao trabalhador.
O produto não é mais uma mesa, uma casa, um fio ou qualquer outra
coisa útil. Todas as suas qualidades sensíveis foram apagadas. E
também já não é mais o produto do carpinteiro, do pedreiro, do
fiandeiro ou de qualquer outro trabalho produtivo determinado. Com o
caráter útil dos produtos do trabalho desaparece o caráter útil dos
trabalhos neles representados [...] (MARX, 2013, p. 160)

Com a divisão social, expropriação da força de trabalho, a liberdade de criação


e a autonomia das decisões não seriam possíveis. Não poderá ser um ato livre perante
o mundo, pois ele está inserido num sistema de materialidade, alienado de si mesmo.
Neste sentido:
A alienação do trabalhador em seu produto não significa apenas que o
trabalho dele se converte em objeto, assumindo uma existência
externa, mas ainda que existe independentemente, fora dele mesmo,
e a ele estranho, e que com ele se defronta como uma força autônoma.
A vida que ele deu ao objeto volta-se contra ele como uma força
estranha e hostil. (MARX, 2007, s/p)

A liberdade, no mercado, estaria subordinada a competição e a concorrência da


produção; deste modo, se a liberdade está subordinada, não há liberdade. Segundo a
análise de Marx (2007) o modelo econômico adotado sobrepõe as diretrizes de mercado
ao princípio da liberdade. A liberdade do indivíduo seria expropriada dele, pois, a
capacidade inventiva, o tempo desprendido e o resultado final da produção seriam
controlados por quem detém os meios de produção (propriedade privada). O problema
não é a divisão do trabalho em si, bem como, a propriedade não se constitui um
problema ou entrave no desenvolvimento socioeconômico, estes têm um caráter
positivo; mas a propriedade privada, que impulsionados pela competição, provocaria a
produção excessiva, e portanto, um entrave na relação harmônica e igualitária da
sociedade.

2 – Segundo Peter Berger, o desempenho dos papéis sociais abre espaço para
ação individual, ao mesmo tempo em que os papéis são uma decorrência das
instituições. Discutam o tema da mudança e da conservação social, à luz deste
quadro teórico

De acordo com Berger (2001), cada indivíduo está inserido em uma identidade
social; tais identidades são formadas por instituições que, por meio dos costumes,
hábitos e convenções, moldam suas ações e decisões. Para o autor, as instituições, que
são um complexo específico de ações sociais, possuem o princípio da inércia quanto às
mudanças, e as regras precisam ser rigidamente obedecidas. As decisões e vontades
já estariam previamente traçadas por outros.
A conservação social dessas regras, segundo Berger (2001), é possível com a
aplicação do controle social; este não se restringe às sanções penais, restritivas de
direitos ou econômicas, mas o amoldamento da conduta individual com a aplicação da
censura social. A difamação, a persuasão, o ridículo, o opróbrio e o ostracismo
sistemático são mecanismos desta censura e, consequentemente, são controles
sociais.
O controle pode ser sistematizado do seguinte modo: o sistema político-legal; o
sistema ocupacional, vez que, o emprego decide a maior parte da vida dos indivíduos;
e o sistema familiar. Cada um desses sistemas influencia o comportamento do indivíduo
e “situar-se na sociedade significa situar-se em relação a muitas forças repressoras e
coercitivas” (BERGER, 2001, p. 91). Em cada grupo, ou em cada sistema citado,
existem dinâmicas internas que constrangem os seus membros a agirem de acordo com
o preestabelecido.
Berger (2001) apresenta ainda a teoria da estratificação social, que também é
um sistema de influência, sob o tripé poder, prestígio e privilégio. O sistema de classes
é “o tipo de estratificação mais importante na sociedade ocidental contemporânea”
(BERGER, 2001, p. 92). A posição de classe que o indivíduo possui determinará certas
oportunidades e decisões perante a sociedade, em diversos níveis. Segundo Berger
(2001) a estratificação seria um controle social externo que regularia a vida individual;
nesse controle, a ocorrência de desvios de comportamento predefinidos seria mínima.
Na estratificação social, as diferenças de classes:

poderiam ser modificados por certas espécies de engenharia social,


como a discriminação de classe na educação e as desigualdades de
classe na assistência médica. Entretanto, nenhum volume de
engenharia social modificará o fato básico de que os diferentes
ambientes sociais exercem diferentes pressões sobre seus membros,
ou que algumas dessas pressões contribuem mais do que outras para
o sucesso, segundo a maneira como o sucesso for definido numa dada
sociedade (BERGER, 2001, p. 95).

Quando há instituições totais é difícil haver mudança nos papeis sociais. As


decisões e vontades dos indivíduos são impostas e as ideias terão uma localização
social. Como em uma encenação teatral, todos os indivíduos obedecem papeis
previamente determinados, no teatro, que é a sociedade, cumprindo fielmente o roteiro
estabelecido; cada sistema de controle implicará no desenvolvimento da identidade.
Mesmo que a escolha de um papel seja, em parte, individual, a criação e a validação
deste desempenho são atribuídas pela sociedade, com a conservação social pela
coerção dos papeis, pois, a sociedade precedeu o indivíduo e sobreviverá a ele. As
posições, o desempenho e as atividades estão cristalizados em sociedade; e até mesmo
situações que aparentam permitir escolhas, estão definidas desde o passado.
Referências:
BERGER, P. Perspectivas sociológicas: uma visão humanística. 23ª edição. Petrópolis:
Vozes, 2001.

MARX, K. O trabalho alienado. In: Manuscritos econômico-filosóficos. Disponível em:


https://www.marxists.org/portugues/marx/1844/manuscritos/index.htm Acesso em: maio
de 2019.

________. A mercadoria. In: O Capital: crítica da Economia Política. Livro 1. São Paulo:
Boitempo, 2013.

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