Disciplina Introdução à Ciência Política Prof. Dr. Gabriel Casalecchi
Fichamento FUKS, Mario et al. Qualificando a adesão à democracia: quão democráticos são os democratas brasileiros? Rev. Bras. Ciênc. Polít., Brasília, n. 19, p. 199-219, Apr. 2016.
O texto analisa a preferência dos eleitores ao modelo democrático e o perfil do
democrata brasileiro. A partir de pesquisas realizadas nas últimas três décadas, buscou-se averiguar se os resultados disponibilizados na literatura se repetiam entre os eleitores brasileiros e demais latino-americanos. Tendo em vista a transição dos modelos de governança vivenciada na América Latina, verificou-se que a consolidação da democracia possui nuanças contraditórias e problemáticas, resultando na fragilidade do modelo. Constituiu-se como objetivo sistematizar os aspectos de adesão à democracia e sua mensuração, utilizando-se de um conjunto amplo de perguntas. Isso porque, as escolhas e atitudes revelam as tendências muito mais do que a simples manifestação de preferência pelo modelo democrático, possibilitando, assim, traçar o perfil do democrata brasileiro. O texto está organizado em seções de análise e discussão dos resultados.
A pesquisa está ancorada em referências internacionais, incluindo autores
latino-americanos. Pesquisadores como: Almond, 1989; Barry 1970; Booth e Seligson, 2009; Carlin e Singer, 2011; Carrión, 2008; Colen, 2010; Dalton, 1999 e 2004; Diamond, 1994; Klingemann e Fuchs, 1996; Klingemann, 1999; Menenguello, 2006; Moisés, 2008; Norris, 2011. Entretanto, é notável que ainda existe uma escassez de estudos sobre a consistência da adesão à democracia na América Latina.
O método de análise utilizado é o comparativo, vez que, a análise está
concentrada no perfil do eleitor brasileiro comparando-o com outros países da América Latina. Os testes foram realizados como os eleitores em distintos períodos, com o contexto político semelhante. As informações para esta análise foram obtidas dos bancos de dados do Barômetro das Américas de 2006, 2008, 2010 e 2012, organizados pelo Latin American Public Opinion Project (LAPOP). Os cidadãos, em maioria, demonstram a preferência pela democracia; adesão que vem se consolidando, mesmo com o enfrentamento da tarefa de reconstrução do Estado, em meio as crises, em múltiplos aspectos. Ademais, há a crescente expectativa popular, em que os problemas dos modelos de governo antigo sejam superados pelo modelo democrático. Convém destacar, que essa adesão, em boa parte é instrumental e não intrínseca, ou seja, não há uma construção de valores democráticos, há uma conjuntura propícia para a preferência. Em pesquisa sobre a América Latina foi constatado que: 30% dos cidadãos preferem a democracia, mas são favoráveis a intervenção militar. Em outra análise verificou-se que 32% dos latino-americanos tem fraca adesão à democracia; 26% são indiferentes e 40% apoiam a democracia. Considerando o percentual de democratas (que aderem à democracia) frente aos ambivalentes (inconsistência na escolha do modelo democrático), identificou-se que boa parte dos latino-americanos se situam como ambivalentes; posicionamento que os cidadãos brasileiros também se inserem. Foi considerado ainda, questões que tangenciam as perspectivas políticas, o que permite a melhor definição do perfil do democrata e a relação de preferência do cidadão. Posto isto, a análise também é norteada por requisitos subjetivos, tais como, pelo apoio a liberdade de organização e expressão, contestação pública e participação inclusiva. Somando-se ainda, à análise de algumas características do modelo democrático: eleições livres e competitivas; participação eleitoral; participação política não-eleitoral; e a observação dos canais de representação do processo democrático. Estabelecidos os critérios de dimensão de adesão à democracia e o perfil dos democratas verificou-se que ao longo dos anos houve uma variação ascendente na preferência pelos modelos democráticos na América Latina; em contrapartida, houve uma variação descendente no Brasil. Considerando o perfil do democrata brasileiro, identificou-se que houve um crescimento na rejeição de golpe militar por desemprego, criminalidade e corrupção, tendência em toda a América Latina. Quanto a participação eleitoral por meio do voto para a manutenção da democracia, há uma estabilidade na preferência, mantendo-se elevada no Brasil e na América Latina. No aspecto da participação política em manifestações, protestos e associações e organizações da sociedade civil, há similaridade na opinião de brasileiros e latino-americanos, com percentual elevado, compreendendo ser necessário para o modelo democrático. Sobre os partidos políticos, estes são considerados, por um número significativo, desnecessário para a democracia. Diante disto, é possível inferir que o perfil do democrata brasileiro é complexo, expondo uma desconfiança nas instituições Os autores sugerem a continuidade das pesquisas propondo também uma comparação como governos democráticos mais antigos e estáveis, tais como os Estados Unidos. A proposta não era analisar meramente se o eleitorado brasileiro apoiava ou não a democracia, mas compreender os aspectos subjetivos à preferência ao modelo democrático. Mesmo assim, o democrata brasileiro é mais democrático do que em outras democracias latino-americanas. Os autores ainda sugerem o aprofundamento da análise considerando outros modelos de democracia e a compreensão da ambivalência, como característica compartilhada por amplos segmentos da população.
É provável que outros estudos se ancorem nesta análise, afim de discorrer
questões apresentadas no próprio texto, que ainda não foram respondidas. As mudanças socioeconômicas, as alianças políticas e, ainda, a conjuntura internacional, provocam mudanças no perfil do eleitorado, o que complexifica compreender de imediato o perfil do democrata brasileiro e latino-americano.