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“Assim, não é sua generalidade que pode servir para caracterizar os fenômenos
sociológicos. Um pensamento que se encontra em todas as consciências particulares, um
movimento que todos os indivíduos repetem nem por isso são fatos sociais. Se se
contentaram com esse caráter para defini-los, é que os confundiram, erradamente, com o
que se poderia chamar de suas encarnações individuais. O que os constitui são as
crenças, as tendências e as práticas do grupo tomado coletivamente; quanto às formas
que assumem os estados coletivos ao se refratarem nos indivíduos, são coisas de outra
espécie. O que demonstra categoricamente essa dualidade de natureza é que essa duas
ordens de fatos apresentam-se geralmente dissociadas. Com efeito, algumas dessas
maneiras de agir ou de pensar adquirem, por causa da repetição, uma espécie de
consistência que as precipita, por assim dizer, e as isola dos acontecimentos particulares
que as refletem. Elas assumem assim um corpo, uma forma sensível que lhes é própria,
e constituem uma realidade sui generis, muito distinta dos fatos individuais que a
manifestam. O hábito coletivo não existe apenas em estado de imanência nos atos
sucessivos que ele determina, mas se exprime de uma vez por todas, por um privilégio
cujo exemplo não encontramos no reino biológico, numa fórmula que se repete de boca
em boca, que se transmite pela educação, que se fixa através da escrita. Tais são a
origem e a natureza das regras jurídicas, morais, dos aforismos e dos ditos populares,
dos artigos de fé em que as seitas religiosas ou políticas condensam suas crenças, dos
códigos de gosto que as escolas literárias estabelecem, etc. Nenhuma dessas maneiras de
agir ou de pensar se acha por inteiro nas aplicações que os particulares fazem delas, já
que elas podem inclusive existir sem serem atualmente aplicadas.” (p. 6-8)
portanto, a que nos proibíssemos todo uso desses conceitos, enquanto eles não
estivessem cientificamente constituídos. Entretanto, as palavras que os exprimem
retornam a todo momento nas discussões dos sociólogos. Elas são empregadas
correntemente e com segurança como se correspondessem a coisas bem conhecidas e
definidas, quando apenas despertam em nós noções confusas, misturas indistintas de
impressões vagas, de preconceitos e de paixões.” (p. 23)
“No entanto, os fenômenos sociais são coisas e devem ser tratados como
coisas. Para demonstrar essa proposição, não é necessário filosofar sobre sua natureza,
discutir as analogias que apresentam com os fenômenos dos reinados inferiores. Basta
constatar que eles são o único datum oferecido ao sociólogo. É coisa, com efeito, tudo o
que é dado, tudo o que se oferece ou, melhor, se impõe à observação. Tratar fenômenos
como coisas é trata-los na qualidade de data que constituem o ponto de partida da
ciência. (...) É possível que a vida social não seja senão o desenvolvimento de certas
noções; mas, supondo que seja assim, essas noções não são dadas imediatamente. Não
se pode portanto atingi-las diretamente, mas apenas através da realidade fenomênica que
as exprime. Não sabemos a priori que ideias estão na origem das diversas correntes
entre as quais se divide a vida social, nem se existe alguma; é somente depois de tê-las
remontado até suas origens que saberemos de onde elas provêm.
É preciso portanto considerar os fenômenos sociais em si mesmos, separados
dos sujeitos conscientes que os concebem; é preciso estuda-los de fora, como coisas
exteriores, pois é nessa qualidade que eles se apresentam a nós.” (p. 28)
“Ao proceder dessa maneira, o sociólogo, desde seu primeiro passo, toma
imediatamente contato com a realidade. Com efeito, o modo como os fatos são assim
classificados não depende dele, da propensão particular de seu espírito, mas da natureza
das coisas. O sinal que possibilita serem colocados nesta ou naquela categoria pode ser
mostrado a todo o mundo, reconhecido por todo o mundo, e as afirmações de um
observador podem ser controladas pelos outros.” (p. 37)
“Visto ser pela sensação que o exterior das coisas nos é dado, pode-se portanto
dizer, em resumo: a ciência, para ser objetiva, deve partir, não de conceitos que se
formaram sem ela, mas da sensação. É dos dados sensíveis que ela deve tomar
diretamente emprestados os elementos de suas definições iniciais. E, de fato, basta
pensar em que consiste a obra da ciência para compreender que ela não pode proceder
de outro modo. Ela tem necessidade de conceitos que exprimam adequadamente as
coisas tais como elas são, não tais como é útil à prática concebê-las. Ora, aqueles
conceitos que se constituíram fora de sua ação não preenchem essa condição. É preciso,
pois, que ela crie novos e que, para tanto, afastando as noções comuns e as palavras que
as exprimem, volte à sensação, matéria-prima necessária de todos os conceitos. É da
sensação que emanam todas as ideias gerais, verdadeiras ou falsas, científicas ou não.
Portanto, o ponto de partida da ciência ou conhecimento especulativo não poderia ser
outro que o do conhecimento vulgar ou prático. É somente além dele, na maneira pela
qual essa matéria comum é elaborada, que as divergências começam.” (p. 44)
“[3)] Pode-se estabelecer como princípio que os fatos sociais são tanto mais
suscetíveis de ser objetivamente representados quanto mais completamente separados
dos fatos individuais que o manifestam.
De fato, uma sensação é tanto mais objetiva quanto maior a fixidez do objeto
ao qual ela se relaciona; pois a condição de toda objetividade é a existência de um ponto
“A ciência, diz um escritor já citado, pode muito bem iluminar o mundo, mas
ela deixa a noite nos corações; compete ao coração mesmo fazer sua própria luz. A
ciência se vê assim destituída, ou quase, de toda eficácia prática, não tendo portanto
grande razão de ser; pois, de que serve trabalhar para conhecer o real, se o
conhecimento que dele adquirimos não nos pode servir na vida?” (p. 50)
termos diferentes. Chamaremos normais os fatos que apresentam as formas mais gerais
e daremos aos outros o nome de mórbidos ou patológicos.” (p. 57-58)
outro lado, as espécies diferem entre si. Continua sendo verdade que as instituições
morais, jurídicas, econômicas, etc. são infinitamente variáveis, mas essas variações não
são de natureza a não permitir nenhuma apreensão pelo pensamento científico.” (p. 78)
número daquelas pelas quais passaram os povos desaparecidos também chegaram até
nós.” (p. 137)
CONCLUSÃO
RELER NA VÉSPERA