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Textos de Gabi Langton:

Resposta de Gabi ao aúdio de Enzo Mendes:

Enzo – “Quem individua a vontade são as formas a priori da razão, o


princípio de razão de devir é que individua a vontade”

Gabi – “Errado. A quadrupla raiz do princípio da razão suficiente (do ser,


do devir, do conhecer e do agir) é distinta para Schopenhauer de vários
modos. Se ele é aplicado às formas PURAS do espaço e do tempo, temos o
princípio da razão suficiente do ser, se ele é aplicado aos objetos sensíveis
que estão de acordo com as formas puras da intuição que são o espaço e o
tempo, temos o princípio da razão suficiente do devir (o devir é governado
pela lei a priori da causalidade, Schopenhauer reduz todas as categorias
kantianas do entendimento a de causalidade), quando aplicamos o
princípio da razão suficiente aos conceitos, temos o princípio da razão
suficiente do conhecer e quando aplicamos à vontade, temos o princípio
da razão suficiente do agir.”

“Mas onde foi que eu falei que a Vontade (em si mesma) é


individualizada? Ela segue e permanece não-plural. No entanto, na
representação que temos das coisas, a própria Vontade é individualizada
no espaço e tempo. Você acha que é outra coisa que é individualizada? Os
próprios objetos? Seria uma posição incoerente. A Vontade, em si mesma
não-plural e não-individual, é individualizada pelo princípio de
individuação que é o espaço e tempo.”

“Não podemos falar que a Vontade é 'universal' também porque ela


antecede tanto a universalização quanto a particularização. As ideias são
graus adequados de objetivação da vontade e elas lidam apenas com
coisas como forças da natureza e espécies naturais, mas não com
qualquer coisa, por isso podem ser objeto da contemplação estética. No
entanto, sobre a questão da VONTADE ser, na representação fenomênica,
algo que ''não é individualizado'': essa é uma visão incoerente. A vontade,
em si mesma, não é individualizada, mas os fenômenos SÃO a própria
vontade enquanto individualizada para NÓS enquanto o mundo é visto
como representação. Senão sequer faria sentido a ética schopenhaueriana
onde todos nós somos idênticos no final das contas por sermos todos, na
verdade, a manifestação fenomênica individuada espaço-temporalmente
da Vontade.”
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Eu concordo que, do ponto de vista da filosofia do Nietzsche,
Schopenhauer era sim um niilista porque ele negava a vida (ele tem certas
influências budistas e orientalistas). O Schopenhauer acreditava que a
coisa em si era a Vontade cega que se individuava nas representações
humanas espaço-temporalmente e seria a força vital que movia as coisas
para o desejo de coisas materiais corruptíveis e passageiras. Para ele, a
única solução seria a contemplação da arte (a via da contemplação do que
ele chamava de Ideia - onde o desejo cessava) ou a ascese (a negação do
desejo completa). Ele não conseguiu viver a própria filosofia... mas ele
mesmo dizia que não era ruim que um filósofo não vivesse do modo como
ele prescrevia que se vivesse.

Agora, podemos também atacar Schopenhauer, de um ponto de vista


nietzscheano, dizendo que o que ele considera como coisa-em-si (a
própria Vontade) é uma versão do Hinterwelt tão criticada pelo Nietzsche.

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Schopenhauer faz críticas a Kant que o tornam tão kantiano quanto um


Fichte ou Schelling ou Fries da vida. Ele reduz as 12 categorias kantianas
apenas a uma (a causalidade). Ele também admite uma intuição
intelectual (que Kant rejeita veementemente, mas que vai ser defendida
por Fichte e outros pós-kantianos), ele também critica a ética
deontológica de Kant e coloca uma ética da 'simpatia' pelo sofrimento
(grosso modo) no seu lugar, etc.

[21:18, 07/04/2022] Gabriela Schulz: Não concordo. Depende do ponto de


vista. Não vejo como seja um complemento porque Schopenhauer foge do
programa crítico estabelecido por Kant tanto na CRP quanto no que foi
publicado na sua Opus Postumum e nas reflexionen. Nenhum dos
idealistas pós-kantianos seguiu esse programa crítico, mas decidiram
firmar seus próprios ''sistemas de idealismo'' próprios. Quem tenta
primeiro resgatar o programa crítico do Kant como ele propôs
originalmente são os neokantianos de Marburgo, Baden, etc. de
diferentes maneiras. Mas ainda assim, eles possuem uma concepção
muito epistemologizante ou axiológica de Kant. Na década de 50/60/70
até agora, temos vários comentadores de Kant tentando recuperar o
projeto crítico original dele...como o Eric Watkins, a Beatricue
Longuenesse, o Robert Hanna, o Wayne Waxman, Otfried Hoffe, Henry
Allison, Thomas Land, Dennis Schulting, Arthur Melnick, Stephen
Palmquist, etc.

[21:19, 07/04/2022] Gabriela Schulz: Tem também autores como o John


McDowell, James Conant e John Haugeland que oferecem uma alternativa
à interpretação da dedução transcendental das categorias de Kant que
está mais próxima do hegelianismo de certo modo.

Eu - “A ética da simpatia, como ela funcionaria?”

“No caso, a ética da simpatia ou compaixão (mitleid) é uma ética baseada


no que o Schopenhauer chamava de um fenômeno primordial
(urphanomenon) que não tem explicação psicológica. Ela consiste em você
entender que as outras pessoas sofrem do mesmo modo que você sofre
por conta da Vontade e ele tenta fundamentar isso nas virtudes da justiça
e da filantropia (todos nós sofremos formalmente igualmente as mazelas
causadas pelos desejos, mesmo que materialmente nossos sofrimentos
sejam desiguais). Ele fala bastante disso no seu ensaio sobre a base da
moral.”

“Tem mais a ver com a metafísica dele da vontade. Como todos nós, no
final das contas, somos realmente apenas individuações da Vontade. Para
Schopenhauer, de certo modo concordando com os vedas e o budismo, a
individualidade é ilusória. Ele é completamente anti-egoísta e anti-
individualista.”

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“Recomendo o livro dele que é ''Immanuel Kant'' mesmo. Se você ler em


inglês, recomendo mais ainda o ''kant's transcendental idealism: an
interpretation and defense'' do Henry Allison.”

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Eu estou longe de ser feminista. Apesar de ter estudado as principais


teóricas do feminismo e do ginocriticismo. Passando por Wollstonecraft,
De Beauvoir, Irigaray, Cisoux, Butler, Senhabib, Mary Daly, bell hooks,
Andrea Dworkin etc etc.

Eu gosto de estudar bem um sistema de pensamento ou um autor antes


de criticar. Eu não criticaria, por ex., o Clarence Finlayson porque nunca li
as obras dele.. k

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Você é tomista transcendental?

De forma alguma. Mas conheço os tomistas transcendentais como


Maréchal, Rahner, Coreth, Muck, etc. Eu tenho duras críticas a eles. Eles
não levaram o programa crítico kantiano muito firmemente - na verdade,
o Rahner é mais heideggeriano do que kantiano. O Maréchal tem coisas
interessantes quando fala do intelecto agente e da produção da espécie
inteligível expressa. Mas ainda assim peca muito... Conheço bem as obras.
Li o Geist in Welt do Rahner, dentre outros escritos, e também li todos os
cahiers do Maréchal. Mas não... eu estou mais na linha do tomismo
ontofenomenológico do Millán-Puelles, do tomismo caetanista e joanino
clássico e o tomismo semiótico que segue a esteira do que foi produzido
pelo Doutor Profundo (João de St. Tomás).

O que lhe impede (De certo modo) de seguir uma linha Transcendentalista
do tomismo?

[21:56, 07/04/2022] Gabriela Schulz: Porque ''tomismo transcendental''


refere-se a uma vertente com uma orientação específica dentro do
tomismo que é contrária a muito do que eu defendo. Todos os tomistas
transcendentais são críticos do tomismo caetanista, da primazia da
analogia de proporcionalidade própria para a metafísica, de algum modo
esquecem o ato de ser intensivo, também possuem uma ideia equivocada
sobre uma suposta pré-apreensão do esse em toda experiência humana,
etc.
[21:56, 07/04/2022] Gabriela Schulz: Além de defenderem algumas coisas
absurdas.

Gabi: “Eu acho que está faltando conhecimento básico de sexologia e da


flexibilidade da orientação sexual, principalmente no período crítico da
adolescência e também em condições circunstanciais (prostituição,
cadeia, exército, internatos, etc.) - já existem muitos estudos que
demonstram que atos homoeróticos não constituem, per se, a orientação
sexual de uma pessoa porque existem experimentações que ocorrem em
um certo período da formação da ''identidade sexual'' que não ocorrem
de novo, onde há perda de interesse etc. Aliás, como a sexologia e a
etologia sexual em geral tendem a corroborar: a orientação sexual é mais
flexível do que se pensa, mesmo que não seja arbitrária.”

https://go.gale.com/ps/i.do?id=GALE
%7CA442535971&sid=googleScholar&v=2.1&it=r&linkaccess=abs&issn=14143283&p
=IFME&sw=w&userGroupName=anon%7E696ce5a0

https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/147470491301100202

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4835230/

https://www.advocate.com/health/love-and-sex/2014/02/11/exploring-
umbrella-bisexuality-and-fluidity

https://www.dailydot.com/unclick/mostly-straight-men-sexual-fluidity/

https://link.springer.com/chapter/10.1007/978-3-030-36222-5_7

https://web.archive.org/web/20120518153549/http://
www.psych.utah.edu/people/files/diamond54a1.pdf

https://www.hup.harvard.edu/catalog.php?
isbn=9780674032262&content=reviews

https://publications.aap.org/pediatrics/article-abstract/
113/6/1827/64422/Sexual-Orientation-and-Adolescents?
redirectedFrom=fulltext

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3215279/

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/15803251/
By Jhony: “Fluidez sexual não significa fazer ato sem ter atração

Por isso o nome é fluidez, ou seja, sua sexualidade é fluida”


Gabi: “Esse é o ponto. Se a orientação sexual é fluida, uma pessoa pode
fazer experimentação sem ser alguém homossexual. Isso é comum como
mostraram os estudos de Kinsey. Também recomendo ler as obras de
inspiração foucaltiana sobre a história da sexualidade e a própria
constituição histórica da categoria de ''homossexual''. São bem
esclarecedoras em alguns pontos. Também recomendo procurar saber
mais sobre interacionismo simbólico na sociologia sexual.

Mandei todos os artigos científicos que desmantelam a ideia de que um


único ato homoerótico faz com que uma pessoa seja ''homossexual''. É
como se um homossexual, numa festa bêbado, que beijou uma garota e
se sentiu atraído momentaneamente por ela, virasse ''heterossexual'' e
permanecesse. Todos sabemos que existem disposições sexuais ESTÁVEIS
e disposições sexuais momentâneas baseadas em EXCITAÇÕES
anatomofisiológicas INVOLUNTÁRIAS devido à estimulação de zonas
erógenas, independentemente do gênero da pessoa que a faz.”

Também recomendo procurar um pouco sobre ''comportamento sexual


SITUACIONAL''.

Jhony em áudio: “(...) A bebida apenas despertou o sentimento


heterossexual no indivíduo...”

Gabi: Sim. Mas o ponto é que a pessoa não ''virou'' homossexual ou


heterossexual por conta daquele ato. Não é que a pessoa tenha um desejo
latente pelo gênero oposto, pode ser apenas que a pessoa era a única
disponível naquela situação para a descarga de libido (exemplos de
internatos, prisão, exército, escolas unissex, etc.) - além disso, a sexologia
demonstra que muitos casos são bem particulares e existem fatores
multivariáveis nisso tudo. Por ex., existe o caso de pessoas que realmente
são BISSEXUAIS (não HOMOssexuais) e em que o desejo só aflora em
determinadas circunstâncias. Existem outros casos de MERA
experimentação e curiosidade, que acontece com a maioria das pessoas
na adolescência em condições propícias. Muitos não AGEM porque não há
oportunidade (apesar de haver a cogitação). Você está trabalhando com
categorias muito rígidas e ignorando toda a complexidade da sexualidade
humana. Não é assim 8 ou 80. Mesmo para o caso de experimentações
homoeróticas, questões culturais, situacionais, alterações neuroquímicas,
etc. podem influir nisso.

Mandar alguns artigos sobre a distinção entre atração e sentimento ou


afecção.

https://www.healthguidance.org/entry/15428/1/affection-vs-
attraction.html

https://www.healthline.com/health/healthy-sex/lust-vs-love-signs#1

https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2020.575427/full

https://people.unil.ch/anikdebrot/files/2017/09/PSPB684124.pdf

Vários erros na sua fala. Foucault está fazendo uma análise genealógica.
Não existe ''deve''. Qualquer um que estudou o mínimo de Foucault
saberia que sua fala é extremamente problemática. E mesmo que
Foucault, por algum absurdo, colocasse alguma proposição normativa
(como acusou o Habermas sem compreende-lo bem), ela jamais seria a de
reduzir a sexualidade (que nem é o tema, já que o ato sexual é distinto da
sexualidade que o constitui, já que está ligado à subjetivação e à
constituição da identidade pelo dispositif de poder em vigor num
determinado a priori histórico) ao desfrutamento de prazer...
Que preposição normativa eu disse que tem de Focault? Isso não tem o
mínimo cabimento, pois o mesmo defendia a não normatização, a não
sistematização, ele não afirma uma norma, ele afirma uma "verdade" com
uma relação mínima de poder, pois o poder não poder ser extinto, mas
pode ser minimizado. Você não tem ponto nenhum ao dizer que estou
falando uma uma norma, pois para ter-se uma norma, seria necessária
uma relação de poder enorme, o que Focault não defende, ele defende a
mínima relação de poder e o mínimo fascismo interior que habita dentro
de nós em todas as instâncias quando desejamos a superioridade de um
poder a outro. Dizer que propus uma norma não tem o mínimo sentido,
pode dizer que propus a anti-norma o anti-Édipo. O verdadeiro desfruto
com uma relação de poder mínima, assim conservando o que o ser
humano deveria buscar (isso longe de ser normativo por excelência, como
vc disse): o autoconhecimento verdadeiro de si, o desenvolvimento
racional da consciência através da experiência real e assim obtendo sua
"verdade" interna. O ser, nada mais busca do que um autoconhecimento
de si através da história, portando propor uma norma absoluta que
interfira por exemplo na sexualidade, seria privar a consciência da
experiência e portanto, uma privação da busca do homem por sua
verdade.
Primeiro, preposição é um termo gramatical invariável que conecta dois
elementos de uma frase. Segundo, é óbvio que não tem ''cabimento'' e é
por isso que eu estava contestando a sua leitura de colocar um ''deve'' no
que Foucault afirma. Você sabe do giro que ele deu de uma análise do
poder para uma análise da ética (da substância ética, do modo de
elaboração ética, do modo de subjetivação e do telos do sujeito ético) - e,
no uso dos prazeres, ele desconecta as duas coisas porque ele deixa claro
que o prazer é só um dos aspectos do modo de subjetivação. O resto do
que você falou nada tem a ver com o que eu perguntei. Você está só
esperneando dizendo que não fez uma PROPOSIÇÃO (não PREposição)
normativa, enquanto claramente fez. Existem muitas coisas erradas no
que você disse (sobre a questão da minimização do poder, já que Foucault
não era um pensador prescritivo, o poder não pode ser minimizado, mas
certos dispositivos podem ser reorientados ou mesmo completamente
obliterados se mudarmos a formação discursiva que sustenta os
mecanismos de saber-poder que constituem a identidade dos sujeitos na
episteme atual), mas atenha-se apenas às perguntas que fiz.
D: “Não sei se vc sabe, mas a verdade só existe quando quando tem uma
consciência para percebe-la, sem a consciência, tudo seria "nada", pois
não existiria o ser para perceber, portanto, o que existe é uma verdade
para si. "As tragédias verdadeiras no mundo não são conflitos entre certo
e errado; são conflitos entre dois direitos." A verdade é um movimento e
consciência tem a experiência das partes da verdade através da história,
desenvolvendo-se da ingenuidade à busca do saber. Você afirmar uma
verdade da forma como está, é uma grosseria. Em uma verdade existem
lados e a verdade é benefício, portanto, existem lados beneficiados e por
isso o o movimento é o que impera. Se existisse UMA verdade, não
existiram conflitos. Obrigado por só me atacar (praticamente me
chamando de burro)”

Gabi :“A verdade é a adequação do intelecto possível à coisa inteligida. No


caso, só existe verdade no juízo, como bem atesta Aristóteles e toda
tradição tomista. Sobre a sua leitura equivocada da verdade no sentido
extra-moral (parafraseando Nietzsche): a verdade é um conjunto
constante de metáforas, metonímias, antropomorfismos, ou melhor, um
conjunto de relações humanas que se tornaram enfáticas de modo
retórico e poético, transpostas e embelezadas e que, após um longo
processo de uso, se mostram para certas pessoas como absolutamente
consolidas... são apenas ilusões que esquecemos que são ilusões, figuras
de linguagem que perderam a força devido à falta de conexão com o
sensível... essa é a verdade no sentido extra-moral. Agora, existe a
verdade como afirmação da vontade de potência (em contraposição à
vontade de verdade extra-moral). Dessa, nem Nietzsche escapa (que foi o
último metafísico, segundo Heidegger).”

D: “E no que isso refuta meu ponto? Eu não afirmei a existência de uma


verdade, eu disse que ela é um movimento não algo estático e como disse:
se uma verdade realmente existisse, não existiram conflitos, pois os
conflitos são choques de idéias, choque de inúmeras verdades, portanto,
existem verdades e não verdade, pois como vc mesmo fez uma citação do
Heidegger ( e o Heidegger não foge da metafísica, tanto que ele é um
fenenonelógico e faz um ontologia do ser, faz um estudo do por que do
ser e do nada e oq realmente faz algo ser oq é, mas faz isso usando uma
metafísica imanente, assim como Nietzsche)”

Gabi: “Corrigindo: Heidegger faz uma destruição da metafísica e substitui


a ideia ontoteológica da metafísica por uma ontologia fenomenológica
que é uma analítica do da-sein (o nada propiciado pela 'angústia' é
condição possibilitante da metafísica, nesse sentido). Mas o Heidegger
depois do 'kehre' não faz uma metafísica imanente..”

D: “ : Eu já disse: não tem como explicar o ser e o nada sem a metafísica.


Heidegger não destruiu a metafísica, ele a reconstruiu
[17:07, 16/04/2022] +55 48 8818-7198: É uma metafísica imanente
reconstruída”

Gabi: “Heidegger diz claramente que seu projeto é de destruição da


metafísica. Onde ele diz que reconstruiu?”

D: “Cara, não tem como não dizer q oq ele faz não é uma metafísica
reconstruída. Ele lida com o ser e o nada, isso é uma metafísica
reconstruída”

Gabi: “Não. Você está preso ao que Heidegger chamaria de uma


concepção ontoteológica da filosofia. Lidar com o Ser e o Nada é lidar com
ontologia... Da qual Heidegger divorcia da metafísica.”

D: “Tá bom, se vc quer fugir ao conceito e aceitar oq não é. Ele reconstruiu


a metafísica em novas bases, ele não negou a metafísica”
Gabi: “É que ele não deve ter lido Heidegger completamente ou leu bem
superficialmente. Depois de 1936, o Heidegger rompe com qualquer
tentativa de reabilitar a metafísica (antes disso, ele deixa como uma
questão em aberto). Ele tem um texto chamado ''a superação da
metafísica'' onde ele fala que a metafísica só lida com a 'physis' dos entes
e esquece do primado da questão sobre o Ser do da-sein.”

Gabi: “A pessoa não decide se acredita que Foucault está certo ou se


segue a dialética pseudo-hegeliana. Se eu te perguntasse sobre a
consciência infeliz, você diria que está nesse estágio? Ou já pulou para a
eticidade? '-'”

D: “Eu sei que sou marxista (o marxismo é de forma resumida, a


intelectualidade a favor da classe trabalhadora) e isso é oq realmente
importa. Como disse Camus (não que isso tenha a ver com o marxismo,
mas eu acho q ilustra e o Camus não disse exatamente nessas palavras): se
o universo tem 3 dimensões, se o espírito tem 9 ou 11 categorias, nada
disso verdadeiramente importa. Galileu que defendia um verdade
científico abdicou dela em prol de sua vida. Só existe uma questão
filosófica realmente válida: responder se a vida vale ou não ser vivida.”

Gabi: “Olha a salada que você faz. Agora está citando meu outro neném, o
Albert Camus, no mito do sisifo. Se você é marxista, sabe que a maioria
encararia a indagação absurdista como sendo fruto de uma epistemologia
Pequeno-burguesa”

D: “Uma indagação absurdista é fruto do absurdo que nasce na relação do


homem com o universo.”

“Não sei se vc sabe, mas o Camus era comunista e antes de ter desavenças
com Sartre, os dois eram grandes amigos e tbm ambos militantes
comunistas”
Gabi: “Nenhum dos dois era um marxista ortodoxo. Camus teve
desavença com Sartre pelo apoio à união soviética. Mas Camus nunca se
importou com a teoria crítica marxista em geral.”

D: “O Sartre era Marxista, tanto q ele foi pra Cuba após a revolução
cubana, tem até uma foto dele com o Che Guevara e um texto dele o
elogiando. O Camus tbm era, só não apoiava o regime de Stalin, coisa que
muitas Marxistas não apoiam”

Gabi: “O Sartre era um marxista não ortodoxo. Ele tenta conciliar o


existencialismo dele com o materialismo dialético na crítica da razão
dialética. Mas estava me referindo ao Camus. ”

“De qualquer modo, a síntese do Sartre não foi bem aceita e foi sujeita à
várias críticas por conta de seu humanismo. ”

“[17:22, 16/04/2022] Gabriela Schulz: O próprio Sartre tentou isso na


crítica da razão dialética.
[17:22, 16/04/2022] Gabriela Schulz: Estou falando que não é marxismo
ortodoxo.”

“Mas, de qualquer modo, o Camus não subscreve à síntese que o Marx


faz.”

D: “E a q síntese vc se refere?”

Gabi: “Não estou falando de sínteses que EU prefiro. Falei que é


contraditório se declarar marxista e concordar com o meu querido Camus
que a pergunta fundamental da filosofia é acerca do suicídio ou não.”
D: “Não acho contraditório e já disse o pq, não são coisas contrária”

17:38, 16/04/2022] Gabriela Schulz: “É contraditório porque a pergunta


fundamental para um marxista não pode ser essa.

D: “Para um Marxista não existe uma pergunta fundamental em si(e eu


citei o Camus como um exemplo, e a pergunta dele é algo importante,
pois é algo diretamente humano), como o próprio Marx disse: "os
filósofos até agora provaram-se ao interpretar do mundo e não agiram."
Tem uma entrevista que o próprio Heidegger crítica está frase de Marx,
mas ele criticou de forma errada. Marx não disse que as idéias não tem
importância, Marx disse que oq realmente muda o mundo são os atos.”

Gabi: Sim. Esse é meu ponto, não existe UMA pergunta fundamental para
o marxismo, mas várias. Camus reduz tudo a uma única. E isso é
incompatível com o marxismo. Não disse jamais que Camus como um todo
seja incompatível ou não possa ser relido por um marxista de outra
maneira. Minha questão toda é com você aceitando junto do Camus que
aquela é a pergunta fundamental.

D: “Eu citei como sentido de ser algo humano e por isso não fugia do
Marxismo e mesmo o Camus, creio que nem ele achava aquilo, pois para
ele isso era uma pergunta interior e mesmo que não tenha sentido, o
homem deve criar seu próprio sentido, tornando-se assim, o homem
absurdo que tem consciência de sua absurdidade”

Gabriela Schulz: De qualquer modo, Camus era um absurdista e se


distanciou do que é chamado popularmente de ''existencialismo''
Gabriela Schulz: Existem muitas diferenças entre Camus e Sartre.
D: “Mas meio q é uma vertente do existencialismo, mas ele mesmo
negava ser um existencialista”

Gabi: “Sim. Mas enfim, essas questões são paralelas e não muito
importantes. Quero saber se você aceita ou não a correlação entre
noemata e atos noéticos e como você concilia isso com o materialismo. ”

Queria que respondesse se você aceita que a consciência se esgota na


própria intencionalidade e se aceita também que existem conteúdos
noemáticos que são correlatos de atos noéticos.

Gabriela Schulz: Enfim, você não leu Heidegger em alemão e, suponho,


não leu Sartre em francês (nem sei como você traduziria ereignis!, mas
deixa isso pra lá kk)..
[17:39, 16/04/2022] Gabriela Schulz: Eu quero saber se você aceita a
correlação entre noesis e noema?
[17:40, 16/04/2022] Gabriela Schulz: E aceita também a ideia de uma
intuição categorial, além da ideia de que a consciência se esgota na
própria intencionalidade (o que é muito idealista para um marxista kk)”

“Gabriela Schulz: Meu ponto é apenas que você falar que é marxista e
concordar com o Camus que a pergunta fundamental da filosofia é aquela
é completamente contraditório
[17:23, 16/04/2022] Gabriela Schulz: Entendeu? ”

D: “Eu concordo no sentido de ser importante, pq ela é algo direto do


humano, que tem a ver diretamente com os sentimentos humanos, isso
não contradiz o marxismo, pois o marxismo é tão humano quanto: o
Marxismo pretende acabar com exploração do homem pelo homem”
Gabi: Essa é uma análise superficial. Estou falando especificamente da
ideia de que a pergunta FUNDAMENTAL da filosofia é sobre o suicídio.
Nenhum marxista concordaria com isso.

Camus não subscreve à síntese que o Marx faz.

D: “Não sei se vc sabe, mas o existencialismo não é oposto ao Marxismo,


não tem pq os por com necessários de conciliação”

Gabi: “É sim. Se a consciência é um nada de ser num constante


transcender-se para fora de si em direção (intencionalidade) ao em-si,
então a própria categoria do homem enquanto ser social que se perfaz no
trabalho como veículo da história é desfeita já que a análise holista do
homem é reduzida ao humanismo existencialista do qual tanto Heidegger
quanto os pós-estruturalistas e marxistas ortodoxos se distanciam.”

D: “A base da filosofia de Sartre é que a existência precede a essência e o


Marxismo tbm diz isso, para o Marxismo não existe uma essência pré-
existência, mas sim uma "essência" adquirida após a existência. Isso não
contradiz nada. Para Marx a história era feita através do trabalho, isso ele
deve ter pego do hegel que diz que o motor da história é a realização da
consciência em busca do saber absoluto, o espírito absoluto. Eu realmente
não entendei seu ponto”

Gabi: “A existência precede a essência apenas para o homem já que a


consciência dele é um nada de ser (e é o que traz o nada para o mundo, na
vdd). O marxista não pode concordar com isso porque a perspectiva
fenomenológica da qual Sartre parte é incompatível com o materialismo
marxista. Se não existem conteúdos noemáticos (ou você aceita que
existem conteúdos noemáticos e atos noéticos e que há uma correlação
entre ambos?), então não pode haver fenomenologia.”

D: “Eu já disse que não é e há disse o pq. Elas não são antagônicas, tanto
para Sartre e para Marx não n se tem uma essência Humana, mas ela é
adquirida”

[17:46, 16/04/2022] Gabriela Schulz: Disse que não o quê?


[17:46, 16/04/2022] Gabriela Schulz: Você não aceita as noemata e os atos
noéticos?

D: “Oq é o noesis e o noema?”

Gabi: “Noesis é o ato noético pelo qual o noema, conteúdo inteligível, é


dado à consciência junto do seu objeto (daí tem as distinções do núcleo
noemático, a questão das adumbrações e afins).”

Gabi: “Queria que respondesse se você aceita que a consciência se esgota


na própria intencionalidade e se aceita também que existem conteúdos
noemáticos que são correlatos de atos noéticos.”

D: “Isso é meio q um dualismo sujeito-objeto? Numeno e fenômeno?”

Gabi: “Não. O.o Isso são conceitos básicos da fenomenologia que nem são
traduzidos no português. Falamos de atos noéticos e conteúdo noemático
fazendo a redução fenomenológica para abstrairmos da atitude natural...”
D: “É ou não é? Vc está se referindo ao dualismo kantiano que diz que não
experiênciamos a realidade pura, pois existe o numeno que é
incognoscível?”

[18:04, 16/04/2022] Gabriela Schulz: Não estou falando de dualismo


nenhum kantiano (até porque Kant não concebe a distinção entre numeno
e fenomeno de modo dualístico, a distinção é entre a coisa enquanto
apreendida de acordo com as duas formas puras da sensibilidade e as
doze formas puras do entendimento e a coisa enquanto abstraída dessas
condições puramente humanas de apreensão). Eu estou falando de
FENOMENOLOGIA.

[18:04, 16/04/2022] Gabriela Schulz: Nada tem a ver com essa distinção.

[18:04, 16/04/2022] Gabriela Schulz: Porque Husserl não a aceita

[18:04, 16/04/2022] Gabriela Schulz: Nem Heidegger, nem Sartre.

[18:04, 16/04/2022] Gabriela Schulz: -.-

[18:05, 16/04/2022] Gabriela Schulz: São conceitos básicos usados por


SARTRE e outros fenomenólogos.

[18:05, 16/04/2022] Gabriela Schulz: É uma das primeiras coisas às quais


nós nos atentamos na análise descritivo-fenomenológica.
[18:06, 16/04/2022] Gabriela Schulz: Enfim, você não conhece noesis e
noema na fenomenologia. Obviamente, não leu Sartre.

D: “Claro que ele as concebe em um dualismo, senão ele seria um


monista, Hegel é monista, não kant. Para kant existe uma coisa em si que
não pode ser compreendido em sua totalidade e existem os fenômenos
que são experienciados através dos sentidos. Para kant tem um dualismo
sujeito-objeto, uma divisão entre objeto e o ser conhecedor do objeto,
uma, por isso que seu idealismo é chamado de transcendental, pois
transcende o fenômeno, ao contrário de hegel, para Hegel tudo
simplesmente é e nada foge ao racional: tudo que é real é racional e tudo
que é racional é real” (resposta a mensagem de [18:04, 16/04/2022])

Gabi: “Você está completamente errado. Não palpita sobre Kant, plmdds.
Ele chama o idealismo dele de transcendental porque o que é 'ideal' são
as formas puras da nossa cognição e elas são transcendentais porque são
IMANENTES e não TRANSCENDENTES (elas são o que tornam possível a
própria experiência das coisas). Kant é um autor que, dentro do campo da
estética transcendental e da analítica dos conceitos e dos princípios, além
da dialética transcendental, se coloca estritamente como um defensor de
uma metafísica imanente - como diz a Longuenesse). Você não leu Kant.”

D: “O ideal é o numeno, não o fenômeno, o fenômeno é produto do


numeno, portanto, não é ideal. O numeno transcende a experiência, por
isso é transcendental. Através dos sentidos só temos acesso às sombras, a
coisa em si é incognoscível e por transcendente, segundo Kant”

Gabriela Schulz: Erradíssimo. Para Kant, o ideal (no sentido dele) é o que é
condição necessária para a possibilidade da cognição (o que é
transcendental). O que é incognoscível não é ideal (ou formal) porque não
está condicionado pelas formas puras da sensibilidade e do entendimento.
A coisa-em-si não pode ser cognizada (não há ERKENTNISS), mas pode ser
pensada (DENKEN) e a ela corresponde o objeto transcendental X e isso
garante a objetividade da cognição já que esse objeto é correlato da
apercepção sintética transcendental.
Gabriela Schulz: Não palpita.
Gabi: “Você ao menos, então, sabe como resolver a questão que ele se
coloca sobre a consciência não-tética da alienação do trabalho como
distinta de uma consciência não-posicional que não é necessária para a
emancipação e aquisição da consciência de classe?”

D: “A consciência de classe é saber seu papel na história, não ter


consciência de que é explorado, pois vc pode ter consciência de que é
explorado e nem por isso terá consciência de seu papel na história. A
alienação de trabalho surge em resposta a venda de sua força de trabalho,
o homem que vende sua força de trabalho é um homem alienado, pois ele
produz, ele produz a mercadoria e não se enxerga nela, para ele a
mercadoria é alheia a ele e não diz nada para ele, mas não. Quanto mais o
homem tira de si e coloca na mercadoria, mais alienado ele fica, pois
exterioriza-se a si em algo alheio a ele e não se enxerga no outro, que na
vdd não é outro, nada mais é do que sua exteriorização em forma de
mercadoria. O homem que tem consciência de seu papel na história, é um
homem com consciência de classe. O homem não alienado é aquele
homem que sabe que está exteriorizando a si na mercadoria e se
reconhece nela”

Gabi: “Você conseguiu não responder em nada a minha pergunta. Não


perguntei isso. Perguntei se a consciência da alienação anterior à sua
tematização é não-tética ou se é não-posicional... o que é?”

André: Você acredita em verdade absoluta?

Gabi: O termo ''verdade'' é polissêmico. Eu sou uma pluralista alética (já


que defendo a analogia do ser, logo, como o ser e a verdade se
convertem, há uma analogia da verdade - logo, o termo 'verdadeiro' não
possui sentido unívoco). Se 'absoluto' é tomado como completamente
incondicionado, não há verdade absoluta diretamente acessível ao ente
humano enquanto finito. Só pode haver uma única verdade absoluta que
é idêntica ao próprio ser absoluto (Deus). Mas toda verdade
humanamente alcançável é relativa aos esquemas conceituais nos quais e
pelos quais o homem alcança discursivamente proposições verdadeiras
sobre as coisas - podemos falar de verdades que são independentes
onticamente do homem para o seu 'dar-se' e verdades que dependem
estritamente do homem para isso (como é o caso de verdades
relacionadas às intuições puramente temporais do sentido interno). No
caso, toda verdade humana é sempre relativa, ou melhor, relacional... o
próprio conceito de verdade neoplatônico/aristotélico-tomista como
sintetizado pelos escolásticos é relacional (a adequação é uma relação)

Gabi: “Em Kant, o ''mundo numênico'' é alcançável pela razão pura prática
por meio do que ele chama de hipotipose simbólica (uma espécie de
analogia que alcança a cognição não-especulativa do numeno positivo -
Deus, imortalidade da alma e liberdade etc.) - essa hipotipose é simbólica
pq o conceito fornecido por ela só é alcançado pela razão e nunca é
adequado a uma intuição sensível (por isso é apenas analógica), tem a
hipotipose esquemática que é feita no esquematismo transcendental
onde a intuição do tempo e do espaço é dada a priori aos conceitos puros
do entendimento.”

Gabi: “Todas as cinco vias usam o que Kant chamaria de hipotipose


simbólica porque pressupõem a analogia. Kant negaria qualquer
argumento que apelasse para fatores espaço-temporais. Felizmente, as
vias de S. Tomás prescindem desse tipo de causalidade horizontal e tem a
ver com a causalidade vertical (de séries de causas essencialmente
ordenadas). Em Kant, seria o equivalanete numêncio da unidade síntetica
da apercepção transcendental

hipotipose simbólica é analogia e pode ser quantitativa ou quantitativa e


se for aplicada ao ser, vira analogia entis, algo que Kant nao fez
Osmar: “Você é tomista?”

Gabi: “[18:42, 16/04/2022] Gabriela Schulz: Sim. Predominantemente...


principalmente o tomismo ontofenomenológico que faz uma síntese do
tomismo caetanista-joanino com a fenomenologia husserliana e algumas
coisas de Heidegger. Também pego muita coisa de Santa Teresa da Crurz
(Edith Stein) que foi uma gigante da fenomenologia e da síntese do
tomismo com a fenomenologia. Além de algo do tomismo essencial do
Cornelio Fabro que dialogou bastante com Hegel, Heidegger, Kant, etc.
[18:43, 16/04/2022] Gabriela Schulz: Mas eu gosto bastante do tomismo
barroco.”

[18:43, 16/04/2022] Gabriela Schulz: O Zumel, o Banez, o Francisco de


Araújo, Javelli, João de St. Tomás, etc.
[18:43, 16/04/2022] Gabriela Schulz: Diego Mas

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