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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

HISTÓRIA ANTIGA

GUARULHOS – SP
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4

2 A HISTÓRIA E SUAS DIVISÕES ............................................................................ 5

2.1 Pré-História ....................................................................................................... 5

2.2 A Periodização da Pré-História ......................................................................... 6

2.3 O Domínio do Fogo .......................................................................................... 8

2.4 A sedentarizarão e a agricultura ....................................................................... 8

2.5 A sedentarizarão e a pecuária .......................................................................... 9

2.6 A Arte Pré-Histórica ........................................................................................ 10

2.7 Primeiras formas de comunicação .................................................................. 12

2.8 O surgimento da escrita .................................................................................. 13

3 HISTÓRIA ANTIGA ............................................................................................... 14

3.1 Fontes ............................................................................................................. 15

3.2 Arqueologia..................................................................................................... 15

3.3 Paleografia...................................................................................................... 16

3.4 Filosofia, literatura, teatro e religião ................................................................ 16

3.5 Grandes sociedades ....................................................................................... 17

4 História Medieval................................................................................................... 20

4.1 Idade Média ou Idade das Trevas: as perspectivas historiográficas sobre a


ascensão do cristianismo .......................................................................................... 21

4.2 A visão do mundo medieval ............................................................................ 22

4.3 A transição do politeísmo para o monoteísmo na Idade Antiga ...................... 23

4.4 As bases de identificação do sagrado e do profano ....................................... 23

4.5 A Igreja e o Sagrado ....................................................................................... 24

4.6 O sacramento cristão e a visão medieval ....................................................... 24

4.7 A ascensão do cristianismo na Idade Média ................................................... 25

4.8 A organização hierárquica eclesiástica na Idade Média ................................. 26


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4.9 A Inquisição .................................................................................................... 27

4.10 A arte e o sagrado no mundo medieval .......................................................... 27

4.11 A literatura medieval ....................................................................................... 33

4.12 Entre a fé e a razão: a filosofia medieval ........................................................ 36

5 Idade Moderna ...................................................................................................... 37

5.1 A transição da Idade Média para a Idade Moderna ........................................ 37

5.2 Os burgos e a modernidade ........................................................................... 38

5.3 Do teocentrismo ao antropocentrismo ............................................................ 39

5.4 A Revolução Francesa.................................................................................... 40

5.5 A Monarquia Constitucional ............................................................................ 45

5.6 O Fim da Monarquia ....................................................................................... 45

6 Idade Contemporânea .......................................................................................... 46

6.1 A Nova Ordem Mundial e a cultura na era da globalização ............................ 49

6.2 A Guerra Fria .................................................................................................. 49

6.3 O fim da Guerra Fria .......................................... Erro! Indicador não definido.

6.4 Neoliberalismo ................................................................................................ 50

6.5 A queda do Muro de Berlim e a reunificação da Alemanha ............................ 51

6.6 A Nova Ordem Mundial e os desafios do século XXI ..................................... 52

6.7 Os ataques terroristas de 2001: mudança global ........................................... 54

6.8 Mudanças Climáticas ...................................................................................... 57

6.9 Novas Tecnologias na Sociedade .................................................................. 59

6.10 A Inteligência Artificial ..................................................................................... 61

6.11 Aplicação da Inteligência Artificial ................................................................... 61

6.12 A Nova Era das Viagens Espaciais ................................................................ 62

6.13 Tempos Líquidos ............................................................................................ 63

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 65

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1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da
semana e a hora que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 A HISTÓRIA E SUAS DIVISÕES

A função da história é selecionar, analisar e preservar memórias, mas o


processo de restauração envolve subjetividade. Além disso, as histórias buscam
utilizar a memória como fonte de pesquisa, a partir da aplicação de procedimentos e
métodos. Dessa forma, a memória é confrontada e comparada com outras fontes
investigativas. A ideia é resguardar a memória que conta a história e protegê-la do
esquecimento e do silêncio ou qualquer outro fator que possa apagá-los ou danificá-
los.
A história antiga cobre o vasto período da história humana que começa com
o aparecimento da escrita cuneiforme e continua até que os bárbaros tomem o Império
Romano. A historiografia tradicional geralmente divide o estudo da história em
períodos. Esses períodos são baseados em grandes mudanças no estilo de vida,
relacionamentos e visões de mundo de uma pessoa. Desse ponto de vista, a história
humana seria dividida nas seguintes etapas: pré-história, história antiga, história
medieval, idade moderna e idade contemporânea que veremos no decorrer desta
aula.
O atentado terrorista ocorrido em 11 de setembro de 2001, por exemplo, foi
reconhecido como um acontecimento que quebrou a estabilidade do mundo, por isso
há rumores entre historiadores e cientistas sociais de que a data abriu uma nova etapa
na história da humanidade, originalmente chamada de história pós-moderna.

2.1 Pré-História

Tradicionalmente, as origens da humanidade foram colocadas pelos


historiadores no que é conhecido como "pré-história". Mas hoje essa expressão não
é mais aceita por todos os historiadores. A pré-história foi definida como o período
entre o aparecimento dos primeiros humanos e a invenção da escrita, que ocorreu por
volta do 4º milênio a.C. na Mesopotâmia (atual Oriente Médio) e no Egito. Esta
periodização tem sido usada na Europa desde o século XIX. Na época, os estudiosos
acreditavam que o passado de uma sociedade só poderia ser salvo se deixasse um
registro escrito.

5
Hoje, essa visão é reservada. Outras fontes de informação como imagens,
mercadorias e descrições orais passaram a assumir a mesma importância que a
escrita no processo de conhecimento histórico, reflexo da chamada seita Anares,
fundada por iniciativa de Faivre. Além disso, os recentes avanços científicos e
tecnológicos são combinados com a tarefa de estudar o passado. É o caso da análise
de DNA, programas de computador que reconstroem rostos humanos a partir de
crânios e métodos científicos para datar fósseis e sítios arqueológicos.

2.2 A periodização da Pré-História

Existem diferentes periodizações para a Pré-História. Segundo Funari e Noelli


(2002), a partir de 1816, Christian J. Thomsen, o primeiro conservador do Museu
Nacional Dinamarquês, deu ordem às sempre crescentes coleções de antiguidades.
Ele classificou-as em três idades: da pedra, do bronze e do ferro. A ideia era,
realmente, muito simples: antes de o homem aprender a usar metais, vivera numa
idade da pedra e, após ter aprendido, utilizou, de início, apenas o cobre e o bronze,
só mais tarde passando ao ferro. Apenas com a teoria do evolucionismo haveria, no
entanto, uma verdadeira revolução no entendimento da questão das origens do
homem.
E como fazem os cientistas para estabelecer as datações dos fósseis e da
cultura material dessas sociedades? Existem diferentes métodos de datação absoluta,
que combinam a expertise de diferentes áreas da ciência, conhecimentos biológicos,
humanos e técnicos. Como exemplos de datação absoluta, considere a
dendrocronologia, a termoluminescência, as séries de Urano, os teores químicos, os
ultrassons dos ossos, etc. Já como datação relativa, ou seja, aproximada, há a
tipologia, a estratigrafia e a comparação cronológica. A seguir, você vai conhecer a
datação das três idades, as suas subdivisões e as suas principais características.
• Paleolítico: esse período também é conhecido como Idade da Pedra Lascada
ou Idade da Pedra Antiga. Ele corresponde ao intervalo entre a primeira
utilização de utensílios de pedra pelo homem (cerca de 2 milhões de anos
atrás) e o início do Neolítico (aproximadamente 10.000 a.C.). Nesse intervalo
de tempo, houve um aprimoramento dos instrumentos de caça, com a utilização
de madeira, osso e sílex, para além das lascas de pedra usadas como

6
instrumentos cortantes. Os homens que viveram nesse período utilizavam
machados de pedra para cortar e esmagar alimentos, além de utilizá-los para
se defenderem. Os seres humanos organizavam-se de forma comunal, com
certa hierarquia e em agrupamentos familiares. Eram nômades, descobriram e
dominaram o fogo, possuíam uma linguagem rudimentar e praticavam rituais e
ritos funerários.
• Paleolítico Inferior: é o momento em que surge o Homo sapiens.
• Paleolítico Médio: compreende um espaço temporal, cultural e
geográfico mais restrito do que os períodos do Paleolítico que o antecedem e
precedem. O homem de Neandertal, a sua distribuição geográfica (Europa), as
técnicas de talhe (indústrias mustierenses) e a sua cronologia (200 a 30 mil
anos a.C.) são características que definem esse período da Pré-História antiga.
• Paleolítico Superior: abrange o fim do Paleolítico Médio e o início do
Mesolítico. Nele, eram produzidos anzóis primitivos, agulhas de ossos, entre
outros instrumentos. Esse período também é caracterizado pela prática da
magia simpática. O homem do Paleolítico Superior já é obrigado a morar
efetivamente nas cavernas (devido ao resfriamento intenso do Planeta e ao fato
de o norte da Europa ter ficado coberto de gelo como consequência da 4ª
glaciação). O homem desse período é o de Cro-Magnon, que já é o homem
propriamente dito. Ele caçava animais de grande porte (mamute, renas)
utilizando armadilhas montadas no chão.
• Mesolítico: também chamado de Idade da Pedra Intermediária, é um
período da Pré-História situado entre o Paleolítico e o Neolítico. Ele ocorreu
(pelo menos com duração razoável) apenas em algumas regiões do mundo
onde não houve transição direta entre os dois períodos citados. As regiões que
sofreram maiores efeitos das glaciações tiveram Mesolíticos mais evidentes. O
Mesolítico iniciou-se com o fim do Pleistoceno, cerca de 10 mil anos atrás, e se
encerrou com a introdução da agricultura, em épocas que variam de acordo
com a região.
• Neolítico: também chamado de Idade da Pedra Polida, é o período da
Pré-História compreendido aproximadamente entre 12.000 a.C. e 4.000 a.C.
Durante esse período, desenvolveram-se práticas agrícolas, a Pré-História e a
Revolução Neolítica 5 o que permitiu às populações mudanças de

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comportamentos e hábitos devido à disponibilidade de alimento. A necessidade
de armazenar os alimentos e as sementes para cultivo levou à criação de peças
de cerâmica, que foram gradualmente ganhando fins decorativos. Por outro
lado, a fixação inerente à agricultura provocou o desenvolvimento da vida em
grupos e modificações culturais. Também foi nesse período que se iniciou a
domesticação de animais, levando a uma incipiente divisão do trabalho.

2.3 O Domínio do Fogo

No período paleolítico, o fogo foi a primeira ocorrência da natureza em que o


homem pôde ter contato com a reação química. Nesse período, que chegou até 10
mil a.C, os homens utilizavam madeira, marfim, pedra, ossos e provavelmente pedras
de carvão que afloravam do solo. O fogo foi um dos principais avanços da
humanidade.
Acredita-se que antes do descobrimento da produção do fogo, os seres
humanos tinham que esperar até que um raio caísse em uma árvore, ou então,
esperar um incêndio na floresta. Por isso o homem acabava ficando totalmente
dependente do acaso para adquirir esse precioso bem.
Com o descobrimento do fogo o homem pré-histórico garantiu um enorme
avanço, agora ele podia cozinhar seu alimento, se proteger de animais perigosos, e
se aquecer nos invernos rigorosos. O homem primitivo tinha agora mais mobilidade.
Pequenos grupos de homens que, antes do fogo, necessitavam andar em grandes
bandos, agora podiam vagar por lugares mais afastados em busca de comida ou
abrigo.

2.4 A sedentarizarão e a agricultura

A história documentada é apenas a ponta de um iceberg que remonta ao


aparecimento da espécie humana na Terra. Antropólogos, historiadores da Pré- -
História e arqueólogos ampliaram a visão do passado em centenas de milhares de

8
anos. Seria impossível compreender a história do homem sem levar em conta as
descobertas desses pesquisadores.
A transformação dos seres humanos (ou, mais precisamente, de certos
grupos de seres humanos em algumas áreas) de caçadores e pescadores em
agricultores, de vida migratória para sedentária, constitui uma revolução. As
transformações climáticas e ecológicas permitiram essa mudança, deixando marcas
indeléveis até os dias de hoje. Uma série de revoluções e transformações modificaram
o modo de vida do homem, mas não há uma datação absoluta.
O homem, no estágio Paleolítico, em que havia sociedades de caçadores e
coletores, aprendeu a controlar o fogo, o que possibilitou aquecimento, iluminação à
noite, melhor defesa e cozimento de alimentos. Nesse estágio, os seres humanos
eram caracterizados pelo nomadismo.
As primeiras atividades econômicas eram a caça e a coleta de grãos,
caracterizando uma economia coletora de subsistência. Em geral, admite-se que as
primeiras semeaduras aconteceram de forma acidental, próximas às moradias, em
lugares de debulha e de preparo culinário dos cereais nativos. As primeiras plantações
teriam se desenvolvido nesses mesmos terrenos, já desmatados, enriquecidos de
dejetos domésticos, e sobre terrenos regularmente inundados pelas cheias dos rios,
que não exigiam nem desmatamento nem preparo do solo (MAZOYER, 2010).
À medida que algumas comunidades humanas passaram a praticar a
agricultura e a domesticação de animais (Revolução Agropastorial, característica do
estágio Neolítico, em que havia agricultores e criadores), evidentemente os homens
passaram a ter mais controle sobre as fontes de abastecimento para a sua
alimentação.

2.5 A sedentarizarão e a pecuária

Como você viu, o termo “Revolução Neolítica”, cunhado pelo arqueólogo Childe
(1999), faz referência às mudanças culturais, materiais e sociais experimentadas pelo
homem ao longo de um grande período de tempo. A Revolução Neolítica traz

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mudanças que resultaram na sedentarização, ou seja, em uma nova forma de controle
sobre a natureza e em uma nova forma de viver. A domesticação de animais e a
pecuária também foram extremamente importantes para a organização dos grupos
que viveram nesse período, como verá no próximo parágrafo.
De acordo com Childe (1999), em algumas regiões do Planeta, uma quantidade
de animais, devido a razões climáticas, se aproximou das incipientes comunidades de
agricultores. Em vez de matá-los e comê-los, o homem passou a alimentá-los e a
domesticá-los, criando rebanhos.
A domesticação dos animais e o desenvolvimento das atividades pecuárias
representaram uma transformação significativa na vida social, havendo um
incremento populacional. Em relação à pecuária propriamente dita, ainda que não
exista uma data precisa da domesticação dos bovinos, há diversos registros de bois
e vacas na arte rupestre, em cavernas, em diferentes lugares da Europa. As
representações zoomórficas retratam a aproximação dos homens com os animais.

2.6 A arte Pré-Histórica

A arte expressa a emoção através da forma e explora a realidade através dela


e inspiram uma verdadeira re-imaginação do mundo. A origem da arte está em tempos
pré-históricos, no Paleolítico Superior.
A história revela que nossos ancestrais começaram a caminhar sobre dois pés
na Terra há cerca de 2 milhões de anos. No entanto, encontramos indícios de
utensílios fabricados pelo homem somente por volta de 600 mil anos mais tarde. É
provável que o homem tenha utilizado utensílios desde a sua origem.
Ao fabricar seus instrumentos — necessários para garantir sua sobrevivência
—, o homem descobriu que algumas pedras, por exemplo, possuíam uma forma mais
conveniente do que outras e as classificou como utensílios, guardando-as para usar
posteriormente. Nesse momento, começou a associar a forma à função. A partir de
então, ele começou a manipular esses utensílios com fins específicos, desbastando-
os, a fim de aperfeiçoar a sua forma. A essa fase da evolução humana, denominamos
período Paleolítico: quando se revela a mais antiga habilidade do ser humano.

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Figura 1 - Pedra sulcada, modificada há mais de 250 mil anos, encontrada em
Israel.

Fonte: Bell (2008, p. 10).

O fenômeno ilustrado pela Figura 1 não havia sido observado no


comportamento de nenhum animal anteriormente, portanto, um produto como este
tem uma conotação de “invisível”, localizado dentro da mente do seu autor, que tornou
seu pensamento “visível”. Muito mais tarde, no século V a.C., o filósofo grego
Aristóteles afirma: “O objetivo da arte não é representar a aparência externa das
coisas, mas seu significado interior [...]” (HODGE, 2018, p. 6).
A manifestação expressiva apresentada pela Figura 1 é tão precoce quanto
fantástica, pois o homo sapiens floresceu na África por volta de 130.000 a.C., e, por
volta de 30.000 a.C., havia se espalhado por toda a Europa e a Ásia, fazendo crescer,
então, uma tradição de arte rupestre figurativa.

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2.7 Primeiras formas de comunicação

A respeito do início da comunicação humana, ainda há muitas dúvidas e um


território fértil para investigações. Não se sabe, de fato, se na Pré-história os seres
humanos se comunicavam por gritos e grunhidos, assim como os animais, ou por
gestos, ou ainda por uma mistura de tudo isso (DÍAZ BORDENAVE, 1982).
Acredita-se que a linguagem humana tenha se originado da imitação, por
exemplo: sons da natureza, como cachoeiras, rios e animais. Outra hipótese poderia
ser que os sons humanos se originaram de exclamações espontâneas, como “ai”, para
representar a dor, ou “ah”, como forma de admirar algo.
O fato é que o ser humano passou a considerar alguns elementos como
representantes dos significados de outros, e assim surgiram os signos. Ou seja, as
pessoas da Pré-história associaram sons e gestos a objetos ou ações. Os sons e
gestos, nesse contexto, seriam então os signos, compartilhados socialmente, e o
repertório dos signos, bem como as regras de combinações entre eles, necessárias
para haver o entendimento do grupo social, deram origem à linguagem. Graças a
essas regras de combinações, que você conhece como gramática, as intenções dos
interlocutores ficam mais claras (DÍAZ BORDENAVE, 1982).
Mais tarde, para manifestar as mais diferentes intenções dos interlocutores,
os seres humanos passaram a usar a linguagem de diversos modos: indicativo,
interrogativo, imperativo ou declarativo. Também se percebeu que na linguagem,
algumas palavras manifestavam uma ação ou o nome de algo etc., mas claro que
ainda não havia as designações “verbo” ou “substantivo” (DÍAZ BORDENAVE, 1982)

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Figura 2 - Réplica exposta no Museu Nacional de Altamira de uma pintura rupestre
pré-histórica da caverna de Altamira, na Espanha.

Fonte https://shutr.bz/3AvnLHN.

2.8 O surgimento da escrita

Homens e mulheres sentiram a necessidade, durante milhares de anos, de


registrar visualmente informações. Assim, a escrita foi desenvolvida originalmente
para guardar os registros de contas e trocas comerciais. A escrita se trata do uso de
sinais para exprimir as ideias humanas.
Desse modo, a invenção da escrita está ligada ao modo de viver que fixou o
homem em determinados territórios há mais ou menos 6,5 mil anos: a agricultura e a
domesticação de animais. Com o tempo, houve a necessidade de registrar mais
cuidadosamente informações referentes à delimitação de espaços e ao direito de
propriedade, bem como à produção e à circulação de bens. Sobre isso, Lévy (1993,
p. 87) afirma que o nascimento da escrita se relaciona aos “[...] primeiros estados
burocráticos de uma hierarquia piramidal e as primeiras formas de administração
econômica centralizada em impostos e gestão de grandes domínios [...]”
Assim, a fixação de homens e mulheres em territórios determinados, que foi
o começo do processo de urbanização da vida, tem a ver com a escrita. Além disso,
as formas de inscrição gráfica se originaram da necessidade dos homens de se
comunicar e registrar suas impressões sobre as suas vidas, culturas, acontecimentos,
histórias. Para escrever, homens e mulheres usaram inicialmente pedra, osso, marfim

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e madeira. Depois, o barro, o papiro, o pergaminho, até chegarem ao papel como
suporte dos signos. A escrita pode ser considerada uma maneira nova de desenhar.
A escrita que mais se usa atualmente é a alfabética. Ela foi inventada pelos
gregos antigos por volta de 800 anos a.C. Homens e mulheres levaram de 3 a 5 mil
anos para chegar à forma atual da linguagem escrita. Mais tarde, já com a escrita
impressa, ocorreu um aumento na produção de documentos escritos como livros e
periódicos. Também houve a criação e a ampliação de bibliotecas, assim como a
invenção de outros meios de comunicação, como os cartazes, anúncios oficiais e
panfletos. Surgiu ainda a alfabetização e o acesso a informações e entretenimento
literário, como a publicação de romances nos jornais.

3 HISTÓRIA ANTIGA

Antes de verificar o que é a História Antiga ou Antiguidade (também chamada


de Antiguidade Clássica e Oriental — as denominações são muitas), você deve refletir
sobre a periodização na história. Os períodos históricos são determinados, cujo
recorte pode ser estabelecido por fatos culturais, econômicos, ideológicos, nacionais,
políticos, religiosos e sociais, estabelecendo rupturas em relação a uma época
anterior.
Essas divisões são artificiais, e o seu emprego pode ocultar a pluralidade de
concepções de história e de tempo, como ocorre com a divisão quadripartite da
história em antiga, medieval, moderna e contemporânea. A Revolução Francesa
(1789), nessa proposição, é considerada o marco para o início da História
Contemporânea. Os historiadores atribuem o surgimento da ideia de uma história
antiga ao Renascimento, período em que se recuperam algumas concepções do
“mundo clássico” greco-romano.
Posteriormente, a nomenclatura “História Antiga” vai se afirmando como um
“período histórico”, na medida em que a história adquire contornos de cientificidade.
Ao longo do século XIX, torna-se hegemônica junto às ideias de civilização, nação e
progresso para compreender a história universal em uma lógica linear, em que cada
etapa deve “[...] supostamente desenvolver forças que estariam contidas, em
gestação, nas etapas anteriores. Assim é que o Renascimento sucede à Idade Média
e inaugura os Tempos Modernos” (GRUZINSKI, 2001, p. 58). Você deve notar ainda

14
que: “a ideia de um tempo linear acompanha-se em geral da convicção de que existiria
uma ordem das coisas”.

3.1 Fontes

Uma fonte histórica é determinada por documentos (escrito, material, oral,


visual) que possibilita ao historiador elaborar suas narrativas históricas, fornecendo
evidências, indícios e rastros sobre determinado passado. Algumas sociedades
deixaram inúmeros materiais que podem ser convertidos em fontes históricas. Em
outras, esses registros podem ter sido destruídos com a passagem do tempo ou
deliberadamente, pela ação do homem. Há ainda aquelas em que, culturalmente, as
transmissões geracionais são feitas de forma oral, e muitas informações acabam se
perdendo.
Enfim, são múltiplas as razões pelas quais atualmente existe mais ou menos
acesso às culturas escrita, material, oral e visual de uma sociedade. Além disso, cada
uma dessas fontes pressupõe conceitos, metodologias e teorias específicas, como a
arqueologia, a etnografia, a paleografia, etc. Considerando as sociedades egípcia,
grega, mesopotâmica e romana, que fontes podem ser utilizadas para a escrita da
história? A seguir, você vai ver alguns exemplos.

3.2 Arqueologia

A arqueologia é considerada uma ciência que trata particularmente da cultura


material das sociedades, de tudo o que se refere à vida humana, no passado e no
presente. Existem muitas subáreas, resultantes da especialização em alguns
períodos, em alguns métodos ou até mesmo em locais a serem pesquisados.
Ao estudar esses artefatos, o arqueólogo ou o historiador extrapola a questão
utilitária do objeto e pensa nas relações de sua produção, seu comércio e sua
circulação, bem como nos significados que as sociedades lhe atribuem. Desse modo,
é possível estudar formas de convivência, de comércio, de relações sociais; tudo isso
a partir de um único objeto.

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3.3 Paleografia

A paleografia é uma prática para o estudo da escrita antiga e a transcrição de


sua caligrafia ou de seus símbolos. Essa técnica está presente desde os primeiros
“tradutores” dos hieróglifos e da escrita cuneiforme e foi se especializando ao longo
do tempo. Você já ouviu falar sobre a Pedra de Roseta? Ela é um documento histórico
muito importante para o estudo da sociedade egípcia, pois, além de permitir a
decifração dos hieróglifos, ofereceu aos historiadores vestígios sobre o funcionamento
dos sistemas cultural, econômico e político do Egito na época ptolomaica (III a II a.C.).
Esse bloco de granito (Figura 3) foi encontrado em 1799, durante as
escavações de uma comitiva francesa na cidade de Roseta, e uma primeira tradução
foi feita por Champollion, que utilizou algumas práticas já empregadas para tentar
interpretar os antigos hieróglifos (SALES, 2007).

Figura 3 – Pedra de Roseta

Fonte: pixabay.com.

3.4 Filosofia, literatura, teatro e religião

Os escritos filosóficos, literários e teatrais, bem como as práticas religiosas,


são fontes inestimáveis para o estudo das sociedades antigas. Para os gregos, por
exemplo, o teatro era uma forma muito importante de relação social. São diversas as

16
formas de os homens se relacionarem com a natureza e entre si mesmos, o que gerou
diferentes mitos e cosmogonias. Além disso, o pensamento filosófico deixou um
legado para a humanidade. Considere dois exemplos que são obras de referência
para o estudo da história grega: a Ilíada e a Odisseia. Ambos os textos são poemas
épicos cuja autoria é atribuída a Homero e que permitem conhecer alguns costumes
e algumas tradições da Grécia antiga. A Ilíada narra alguns episódios entre o 9º e o
10º ano da Guerra de Troia. Já a Odisseia narra o retorno de Ulisses após a Guerra
de Troia para a sua cidade natal, Ítaca.

3.5 Grandes sociedades

Os povos mesopotâmicos

Antes de olhar para as principais características ambientais e geográficas


onde os mesopotâmios surgiram, você deve se lembrar de espaço físico e cultura,
economia, aspectos sociais e políticos da sociedade.
A palavra "Mesopotâmia" significa "entre rios". Então, como você pode ver, a
Mesopotâmia incluía planícies e um vale irrigado pelos rios Tigre e Eufrates. Pode ser
dividido em regiões devido às diferenças de clima, em duas para ser mais exato: No
Norte, Alta Mesopotâmia, o terreno é relativamente alto e a irrigação é difícil, mas há
ricos recursos florestais; ao sul, Baixa Mesopotâmia, há pouca pluviosidade, mas o
clima é agradável, implementando a irrigação. Para elucidar o que foi dito, observe o
mapa abaixo:

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Figura 4 - Mapa da região da Mesopotâmia.

Fonte: https://shutr.bz/3LvEzVE.

Essas condições geográficas levaram essas civilizações a desenvolver diques


e sistemas de irrigação. Ao mesmo tempo, organizaram a agricultura e as práticas
agrícolas.

Egito

O Egito Antigo foi a sociedade que se desenvolveu às margens do rio Nilo, na


África, durante a Antiguidade. A organização cultural, econômica e política desse povo
dependia do rio, que possibilitava o desenvolvimento da agricultura. Mas, antes de
conhecer as características dessa sociedade, você deve compreender como se deu o
processo de ocupação territorial até a unificação em torno do poder dos faraós.
Acredita-se que as primeiras tribos a ocuparem o vale do rio Nilo tenham se
estabelecido na região no período inicial do Neolítico. Elas praticavam a agricultura e
a pecuária de forma rudimentar e se organizavam em comunidades sustentadas por
laços de parentesco. Foi somente no período pré-dinástico e no início do processo de
unificação, em função de adversidades climáticas (diminuição das chuvas e
desertificação do norte da África), que se desenvolveram os primeiros sistemas de
irrigação, que possibilitaram a complexificação das relações sociais.

A cultura do Egito Antigo, pelo que se sabe, era patrimônio de uma reduzida
elite de letrados: cortesãos, sacerdotes, funcionários e escribas. A religião penetrava
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intimamente todos os aspectos da vida pública e privada. Cerimônias eram realizadas
pelos sacerdotes a cada ano para garantir a chegada da inundação, e o rei agradecia
a colheita solenemente às divindades adequadas. Os oráculos dos deuses — em
especial os de Amon no Reino Novo e em épocas posteriores — desempenhavam um
papel importante na solução de problemas políticos e burocráticos e eram também
consultados pelos homens do povo antes de tomarem decisões de algum peso
(CARDOSO, 1982).

Grécia

As condições geográficas do território da Hélade, somadas às experiências


culturais, econômicas e políticas das diferentes organizações sociais existentes na
região, deram origem ao conceito de “pólis”. Esse termo costuma ser traduzido como
“cidade”, mas possui um significado mais amplo: “vida e governo da comunidade”.
Os filósofos gregos refletiram muito sobre a política, e muitos valores que os
antigos acreditavam ser importantes para um bom governo continuam sendo
valorizados hoje em dia, como a ética, a responsabilidade pelo bem comum e o
princípio da isonomia perante a lei.
A política e as suas instituições eram tão importantes que fizeram com que
Aristóteles afirmasse que “o homem é um animal político”. Além disso, a sociedade
praticamente se dividia entre os que possuíam o direito de participar da política e os
que não o possuíam, ou seja, entre os cidadãos e os não cidadãos. Porém, a Grécia
Antiga nunca foi um estado unificado, com governo único. Ela era um conjunto de
cidades-estado independentes entre si, com características próprias, ou seja, cada
uma possuía organização e instituições políticas diferentes, com mais ou menos
semelhanças entre si.
Para compreender o sistema político-democrático ateniense e as suas
instituições políticas, você deve lembrar-se de que a sociedade ateniense estava
dividida entre cidadãos e não cidadãos. Pertenciam ao primeiro grupo apenas homens
livres que fossem filhos de pai e mãe atenienses. O segundo grupo era composto
pelas mulheres, pelos metecos (estrangeiros) e pelos escravizados. Somente os
cidadãos tinham direitos políticos, podendo votar e ser votados, ou seja, administrar e
dirigir a pólis de forma direta, por meio da assembleia. Essa é uma das principais

19
diferenças entre a democracia ateniense e a democracia contemporânea, que é
majoritariamente representativa, enquanto no período clássico ela era direta.

Roma

Quando se fala em cotidiano, fala-se sobre o quê? Existem diferentes formas


de compreender o que seria o cotidiano: uma dimensão, um local ou uma
temporalidade. Pode-se também pensar no cotidiano como a vida de todo dia
(PETERSEN, 1996), mas será que todas as pessoas possuem o mesmo cotidiano?
Não seria necessário realizar recortes de classe, de etnia ou raça e de gênero? Aqui,
compreende-se o cotidiano como uma dimensão em que as relações de poder
(dominação e resistência) evidenciam as suas tensões por meio de atividades e
atitudes, hábitos e rotinas. Obviamente, essa definição provisória não resolve os
problemas colocados pela multiplicidade de experiências no cotidiano, por isso o ideal
é evitar generalizações.
Existem algumas evidências de como os romanos se comportavam no seu
cotidiano. De acordo com Funari (2002, documento on-line), os romanos costumavam
acordar ao raiar do dia. O comércio funcionava desde cedo e a partir das 8h da manhã
abriam-se as repartições públicas, localizadas na praça central ou fórum. Trabalhava-
se até o meio-dia, quando tudo fechava para o almoço, que era uma refeição leve:
“[...] pão, azeitonas, queijo, nozes, figos secos e algo para beber. Havia quem levasse
uma marmita e comesse seu almoço na rua, ou assistindo a uma luta de gladiadores
no anfiteatro” (FUNARI, 2002, documento on-line).
Os romanos dividiam o dia em 12 horas diurnas e 12 noturnas, que
começavam com o raiar do sol e que variavam do verão para o inverno. No verão, o
dia começava às 4h30 e terminava às 19h30; no inverno, ia das 7h30 às 16h30
(FUNARI, 2002).

4 HISTÓRIA MEDIEVAL

Uma característica marcante da sociedade medieval era a relação entre o


sagrado e o profano. A religiosidade e o misticismo dominavam o imaginário da
população da época, sendo a Igreja a instituição com total comando da sociedade,
pois não havia estados organizados, nem estrutura burocrática. Somente membros do
20
corpo eclesiástico dominavam a leitura e a escrita. Com isso, o registro de batizados,
casamentos, julgamentos e mortes passavam pela Igreja, ou seja, o corpo eclesiástico
controlava e organizava a vida em sociedade na Idade Média. Portanto, o pensamento
medieval, no Ocidente, estava alicerçado nos dogmas cristãos, atuando a Igreja como
a bússola moral, ética e religiosa.

4.1 Idade Média ou Idade das Trevas: as perspectivas historiográficas sobre


a ascensão do cristianismo

Segundo Almeida (2010), durante muito tempo existiu, em certa medida, um


desprezo pela Idade Média, mas tal sentimento sempre foi passível de mudanças e
ressignificações. A alcunha “Idade das Trevas” foi consolidada a partir de uma
autêntica proposição que buscou simplificar mil anos de conhecimento histórico
ocidental. Isso contribuiu para que a vulgarização do conhecimento da Idade Média
fosse tão pouco contestada. Há uma síntese sobre o período que é comumente
propagada: a Idade Média foi um período histórico do Ocidente marcado por uma
sociedade estamental, com amplo domínio da nobreza (por meio da força das armas)
e controle da Igreja. Esta, na figura do clero, realizava o controle dogmático da fé
religiosa, submetendo a sociedade da época a um intenso controle ideológico.
Toda época histórica merece um processo de reescrita, e a Idade Média talvez
seja o período histórico com maior necessidade de esforços de “ressignificação” para
um melhor entendimento sobre as suas nuances. A limitação sobre o contexto social
do Medievo em fontes é uma realidade. A construção de conhecimento histórico sobre
o cotidiano, a vida religiosa e até mesmo a sexualidade da sociedade da época dão
indícios sobre as sistematizações ou fórmulas criadas para a contextualização dos mil
anos de história do período. A dualidade de eventos considerados ora como pagãos,
ora como cristãos também é legatária de uma história construída a partir de quem
controlava o período, ou seja, a Igreja.
Uma proposta bastante relevante para a releitura sobre a Idade Média é
mencionada por Barros (2010). Para ele, o papado e o império foram os responsáveis
por projetos universalistas cujo entendimento é imprescindível para a análise das
especificidades do período medieval. Fugindo das generalizações sobre o tema, a
aliança do mundo da fé com os diversos reinos formados durante o Medievo traz à

21
tona uma série de problematizações que podem dar um novo rumo aos debates
historiográficos sobre o período.
Dessa forma, é evidente que a interpretação sobre a influência do cristianismo
no processo de desenvolvimento das estruturas social, política e cultural da Idade
Média exige novas perspectivas de análise. Levar em conta a ideia de projetos de
universalização, tanto por parte da Igreja como por parte dos novos reinos, e
considerar as estratégias de construção do imaginário social dos dois projetos são
perspectivas que podem redesenhar as conjecturas do período. Assim, abre-se uma
miríade de possibilidades para a compreensão da cristandade e do poder.

4.2 A visão do mundo medieval

Muitas tradições culturais deram origem à mentalidade medieval, pois, no


processo de sua constituição, existem elementos greco-romanos, germânicos e
judaico-cristãos (FRANCO JR., 2001).
Nesse sentido, o segmento historiográfico conhecido como história das
mentalidades, composto por renomados historiadores, como Aries, Mandrou, Duby,
Le Goff, entre outros, nos dão subsídios para buscar compreender os fenômenos
relacionados ao imaginário ou, mais especificamente, às visões de mundo.
Entretanto, no que diz respeito à Idade Média, escassa de registros escritos,
principalmente pela quantidade de indivíduos que não sabiam ler nem escrever,
compreender a mentalidade da época se torna um pouco mais complexo. É preciso
investigar, nesse caso, a instituição detentora de conhecimento na época, bem como
estabelecer parâmetros de comparação entre as ações da instituição e a produção
historiográfica desde então.
Segundo Le Goff (2007), no caso da sociedade medieval, a referência lógica
normativa estava calcada no sagrado, ou seja, em Deus. Tal fenômeno é considerado
no arcabouço teórico-metodológico da sociologia e da história das mentalidades como
psicossocial, independentemente do período social.

22
4.3 A transição do politeísmo para o monoteísmo na Idade Antiga

A história da religião acompanha a história da humanidade, de modo que


podemos dizer que não é possível dissociar uma da outra. Contudo, apesar das
mudanças contextuais e temporais, podemos afirmar que os rituais, as práticas
religiosas e as condutas auxiliam psicologicamente a humanidade a lidar com as
questões existenciais mais agudas. Dessa forma, momentos felizes são simbolizados
e criados em torno das crenças, assim como rituais de passagem tristes, tais como a
morte (DURKHEIM, 1996).
Portanto, independentemente da cosmovisão, as instituições religiosas
operam sobre a noção de sagrado, trazem um sentido simbólico sobre a realidade,
postulam um projeto de humano, criam comunidade e estabelecem uma conduta
baseada em normas. Esse conjunto de práticas, de símbolos e de corpos religiosos
expressa a busca transcendental estabelecida pela necessidade religiosa. É desse
modo, também, que podemos pensar a passagem do politeísmo ao monoteísmo na
Idade Antiga.

4.4 As bases de identificação do sagrado e do profano

A discussão, a associação e a dissociação entre o sagrado e o profano se


intensificam, principalmente com a ascensão do cristianismo como religião oficial após
o período helenístico. Para tanto, tal distinção se tornou necessária para separar fiéis
de pagãos. Posteriormente, com a fixação e a hegemonia cristã, o conceito de
“blasfêmia” se torna recorrente para designar aqueles que atentam, de qualquer
forma, mesmo sem saber, contra a religião. Nesse sentido, acentuam-se também as
relações políticas, culturais e econômicas. Na Idade Média, a instituição católica era
detentora de um grande poder conjuntamente, e correlativamente, à Coroa. Desse
modo, a imposição acerca do que é sagrado se institucionalizou e se tornou um modo
de concentração de poder e controle sobre os sujeitos (DURKHEIM, 1996).

23
4.5 A Igreja e o Sagrado

A morte estava presente desde a infância no mundo medieval — as


expectativas de vida eram bem pessimistas, uma vez que não havia recursos
humanos capacitados para a manutenção da saúde, bem como para o planejamento
familiar da época. A porta-voz da esperança naturalmente se tornou a fé em Cristo, a
fé no sagrado e, principalmente, a pós vida no paraíso cristão, tão difundido pela Igreja
Católica.
O sagrado, para o mundo medieval, era revelado pela Igreja Católica por meio
da palavra e de sua aplicabilidade. O imaginário social da época se encarregava de
construir as conexões com a realidade, pois, como lembra Le Goff (2018), a fusão de
culturas que deram origem à sociedade medieval construiu pontes entre o sagrado e
o profano, juntamente com o maravilhoso, o misterioso e o mágico.
O sobrenatural se manifestava para além dos dogmas cristãos, pois estavam
enraizadas lendas de seres, como dragões, bruxas, unicórnios, fadas, faunos, entre
outras entidades oriundas da diversidade cultural, que compunham o tecido social do
medievo. É preciso considerar que a transição do mundo politeísta para o mundo
monoteísta se deu por meio de um sincretismo construído pela Igreja Católica.

4.6 O sacramento cristão e a visão medieval

Parafraseando a pergunta original de Eliade (1992) — “como uma sociedade


se esforça para se manter ao máximo do tempo possível num universo sagrado? ” —
na obra O Sagrado e Profano, o autor problematiza, do ponto de vista fenomenológico,
a questão relacionada ao sagrado e às suas dimensões. Até o momento,
compreendemos que a mentalidade medieval foi forjada pelos dogmas do
Cristianismo, e, a partir disso, a instituição consolidou formas de controle social e
espiritual. Contudo, a partir das reflexões de Eliade (1992), pode-se considerar que
uma das estratégias da Igreja Católica para manter a sociedade medieval
constantemente em um universo sagrado foi o estabelecimento dos sacramentos.
Os sacramentos da Igreja Católica foram baseados na interpretação das
escrituras sagradas. Segundo as fontes oficiais do Vaticano, os sacramentos
concebidos pela Igreja Católica são elos entre os cristãos com o sagrado, ou seja, por

24
meio deles, na perspectiva teológica cristã, o indivíduo que professa a fé em Jesus
Cristo se renova e se fortalece. Segundo Franco Jr. (2001), os sacramentos foram
parte importante da estratégia da Igreja Católica para manifestar o sagrado
efetivamente na vida secular da população medieval.
O autor ressalta que o cotidiano medieval foi gradativamente sendo atingido
pelos sacramentos cristãos. Por outro lado, Eliade (1992) propõe que a representação
do sagrado possui expressão simbólica através de uma malha de significados.
Segundo o autor, num primeiro momento, esse conjunto de significados não é
compreendido como parte de um todo.
Entretanto, quando analisamos os sacramentos como apoios hierofânicos e
complementares ao imaginário dos cristãos, percebemos o quanto a Igreja criou meios
para a expansão da percepção dos fenômenos considerados sagrados,
disseminando, assim, uma sensação de pertencimento mais sólida ao Cristianismo e,
consequentemente, estabelecendo seus alicerces na sociedade medieval.

4.7 A ascensão do cristianismo na Idade Média

Um processo de descentralização política marcou a Idade Média. Com a


ausência de um poder político que unificasse o continente europeu, bem como os
inúmeros povos que nele viviam, o cristianismo, sob a égide da Igreja Católica,
consolidou uma série de estratégias para propagar e difundir a sua doutrina. Os
dogmas criados se baseavam na crença em Cristo. Logo, a instituição constituiu uma
espécie de regramento social, um modelo de conduta que condicionou os indivíduos
a determinados comportamentos para que pudessem chegar ao paraíso celeste. Os
cristãos eram instruídos a não pecarem, seguindo de maneira fiel mandamentos
divinos e com foco no próximo, por meio da caridade.
Segundo Perry (1985), o enaltecimento do modo de vida a partir do sacrifício,
com base na promessa das inúmeras recompensas post-mortem, foi uma das
estratégias mais bem elaboradas e bem-sucedidas do cristianismo no processo de
conversão desses povos. O objetivo criado para o cristão estava na vida pós-morte,
especificamente no paraíso, ignorando o processo natural das coisas, desistindo do
individualismo e dos objetivos da vida secular e investindo na esperança da existência
eterna no céu.

25
A Igreja Católica, com o intuito de combater a filosofia greco-romana, buscou
na própria filosofia antiga o antídoto para reforçar e fundamentar a conexão entre a fé
e a razão. Um dos filósofos escolhidos foi Platão, juntamente ao neoplatonismo.
Portanto, a patrística surgiu da necessidade de diálogo entre o cristão e os não
crentes, do aprimoramento e do desenvolvimento da teologia, com foco em sua
preservação. Assim, foi promovido um processo conciliatório, uma ponte entre a
teologia cristã e os seus dogmas e o pensamento greco-romano, naturalizando-o e
ampliando as estratégias de conversão dos pagãos.
A patrística acaba se tornando, durante a Alta Idade Média, uma prática
educacional, pois os padres da Igreja também agiam como educadores, reforçando e
consolidando as verdades teológicas da doutrina cristã. O desenvolvimento das
estruturas sociais, políticas e culturais da Idade Média esteve diretamente ligado ao
foco da Igreja no ensino dogmático de sua doutrina. Em tal ensino, se propôs a
apropriação e a difusão do conhecimento, bem como a manutenção das leis de
convívio social por meio da força, estabelecendo-se os conceitos de ética e moral.
O cristianismo transformou efetivamente as relações sociais, as maneiras de
cultuar e o imaginário social. Além disso, promoveu a transformação de um mundo
politeísta num mundo monoteísta. Para muitos historiadores do Medievo, o
cristianismo somente prevaleceu no mundo ocidental porque soube dar espaço e
esperança, de certa forma, para grupos desacreditados, sem chance de ascensão
social, motivando-os a crer em outra vida, na entrega, no sacrifício. Dessa maneira,
todo o sofrimento no mundo secular seria apenas uma transição para o paraíso.

4.8 A organização hierárquica eclesiástica na Idade Média

Com o objetivo de consolidar a influência conquistada no século IV, a Igreja,


por meio dos bispos, principais representantes da instituição, estabeleceu um modelo
hierárquico e uma sistematização semelhantes aos do Império Romano. A instituição,
com as suas estratégias, promoveu um processo de conciliação entre a Igreja e o
cristianismo, por que não dizer, união no mundo medieval descentralizado e
enfraquecido pela queda do Império Romano. Com a missão de propagar a doutrina
dos apóstolos, a Igreja, por meio do cristianismo, manteve-se cada vez mais distante

26
do mundo secular, focada em seus dogmas, difundindo suas normativas e ganhando
prestígio e respeito por parte da sociedade medieval.
Há diversas problematizações historiográficas referentes às práticas da Igreja
no passado e no presente. Além disso, existem distintas generalizações no imaginário
social e ocorre a reprodução de algumas incoerências. Por isso, refletir acerca do
papel dessa instituição religiosa e da sua organização no transcorrer da Idade Média
é um trabalho minucioso, mas também uma fonte de conhecimento sobre o mundo
medieval e as suas implicações na atualidade.

4.9 A Inquisição

Durante a Baixa e a Idade Moderna, a Igreja Católica estabeleceu a Inquisição,


um tribunal que originalmente foi criado para julgar aqueles que eram considerados
hereges, ou seja, que não seguiam a religião cristã. No entanto, com o tempo, esses
julgamentos se tornaram uma ferramenta política e econômica importante para a
época.
A investigação foi inicialmente focada na Alemanha, França e Itália. Em
seguida, chegou à Espanha e Portugal e aos países americanos colonizados. Já em
declínio nos tempos modernos, o movimento atingiu um novo auge durante a Reforma
Protestante (1517) e também foi revivido durante a formação do Estado-nação (século
XVIII). Existem poucas pesquisas sobre isso, mas houve uma Inquisição no Brasil e
foram realizados mais de 1000 julgamentos. Não se sabe quantas pessoas morreram
na Inquisição em todo o mundo, mas o número varia de 100.000 a milhões. O Tribunal
da Inquisição foi abolido em 1891.

4.10 A arte e o sagrado no mundo medieval

A manifestação do sagrado esteve presente como expressão da arte,


sobretudo na arquitetura medieval, uma vez que a Igreja entendia que, em um mundo
sem referências físicas de centralização de poder, como, por exemplo, prédios
públicos, era preciso consolidar espaços de vivência da fé pautados pelas escrituras
sagradas. A partir disso, a arquitetura medieval teve destaque na construção de
castelos, catedrais, igrejas e monastérios. Como vimos até aqui, a Igreja recorria às

27
sagradas escrituras para justificar suas demandas estratégicas. Sendo assim, como
porta voz de Deus, estabelece a simbologia dos templos como a materialização da
doutrina cristã.
A Igreja recorreu à arte como forma de educar a população iletrada, por meio
de pinturas e vitrais, com a representação de passagens bíblicas que expressavam
os dogmas cristãos. Segundo Strickland e Boswell (2014), a arte religiosa teve
objetivos didáticos construídos em parceria com o corpo eclesiástico, não havendo,
em muitos casos, obras assinadas, pois tudo pertencia ao sagrado, logo, não haveria
necessidade de interferência do mundo secular. Nesse contexto, durante os primeiros
séculos da Idade Média, os artistas não tiveram o devido destaque pela grandiosidade
de suas obras, pois eram parte integrante do imaginário social “[...] fé sem obras é
morta [...]” (BÍBLIA, Tiago 2:26).
Como a meta cristã era a salvação e o paraíso, ou seja, a vida eterna, aos
poucos, o realismo das representações de mundo desapareceu. Comuns na
Antiguidade Clássica, período que antecedeu a Idade Média, a representação do
corpo nu não era mais recomendada, passando a ser condenada. As novas
composições de corpos femininos tinham um novo olhar em termos de anatomia,
fugindo, e muito, das representações greco-romanas. Observe, na Figura 5, uma
pintura da Virgem Maria.

Figura 5 - Pintura medieval da Virgem Maria.

Fonte: https://bit.ly/3otRJcz.

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No contexto artístico medieval, o corpo foi substituído pelo espírito, pois o corpo
do mundo greco-romano era considerado profano, e o espírito, a partir dos dogmas
católicos, seria a conexão com o sagrado. Esse ensinamento foi incentivado pelos
teólogos da época com o intuito de que os cristãos vislumbrassem a beleza por meio
do divino representado nas esculturas, pinturas e vitrais das Igrejas, catedrais e
monastérios.
Segundo Soares (2017), a arquitetura medieval teve como foco projetos com
estruturas mais leves, suaves e arejadas. O padrão cristão de edificação tinha um
exterior simples, a massa e o volume da arquitetura romana cederam lugar para
edificações que refletiam o ideal cristão: discretos no exterior, mas resplandecentes,
com uma simbologia representada pelo uso de afrescos, mosaicos e vitrais. Com isso,
a autora evidencia três estilos de arte medieval distintos: bizantino, romano e gótico.
A arte bizantina geograficamente se manifesta no Mediterrâneo Oriental a partir de
330 d.C., momento marcado pela transferência do trono do Império Romano, por
Constantino, para Bizâncio, que teve seu nome posteriormente alterado para
Constantinopla.
O estilo bizantino mesclou elementos da arte cristã, combinados com uma
variedade de cores e um estilo decorativo único, com influências da cultura grega
oriental. Conforme Soares (2017), a Igreja de Santa Sofia é a representação da
arquitetura da época, tendo sido construída por aproximadamente 10 mil homens por
quase 6 anos (Figura 6).

Figura 6 - Igreja de Santa Sofia, na Turquia.

Fonte: https://bit.ly/3otRJcz.

29
A arte românica se apropria de elementos da cultura romana e foi
desenvolvida entre os séculos V e IX, período historiograficamente chamado de Alta
Idade Média. Fazem parte do estilo uma arquitetura focada em castelos, catedrais,
igrejas e monastérios, com características específicas: poucas entradas de luz, sem
muitas janelas, robustas, com edificações horizontais, mais grossas, com abóbadas e
arcos, como fortalezas seguras e prontas para defesa.
Entre os séculos X e XV, a arte gótica ganha força no mundo medieval e
apresenta características distintas de sua antecessora, a arte românica, por possuir
mais aberturas, leveza, paredes mais finas. Há consenso entre os historiadores da
arte de que as catedrais góticas reúnem elementos únicos de beleza e esplendor do
mundo greco-romano combinados com o sagrado cristão.
Alguns autores, como Strickland e Boswell (2014), chamam as catedrais
góticas de “bíblias de pedra”, pois avançam para além dos elementos da cultura
clássica, com uma arquitetura mais ousada e com novos elementos de engenharia
para a época: a utilização da abóbada entre traves, sendo sustentada por estruturas
externas, chamadas de arcobotantes (Figura 7). Segundo Soares (2017), essa nova
engenharia possibilitou que as construções góticas tivessem paredes estreitas, com
janelas maiores, cobertas por vitrais, aumentando, assim, a luminosidade no interior
da edificação.

Figura 7 - Catedral de Colônia, na Alemanha.

Fonte: https://bit.ly/3omRmjU.

30
Arte Românica

O estilo artístico vigente entre o século XI e o início do século XIII na Europa


foi denominado “Arte Românica”, correspondendo ao período caracterizado pela
decadência do sistema feudal. Observa-se, na literatura de história da arte, porém,
que a Igreja conservava poder e influência, determinando a produção cultural e
artística do momento, cuja maior representação foram as basílicas. Pode-se constatar,
então, que a produção artística — seja a pintura ou a escultura — é indissociável da
arquitetura (GOMBRICH, 1999; JANSON; JANSON, 2009).
O elemento religioso conseguiu manter uma unidade de toda a produção
artística na Europa, cuja coesão foi reforçada pela Arte Românica. O termo “românico”
refere-se às influências da cultura do Império Romano, dominante por muitos séculos
em todo o continente europeu. Os mosteiros se fortaleceram paralelamente ao
desenvolvimento comercial e ao surgimento de peregrinações religiosas, contribuindo
para difundir os novos modelos artísticos.

Arte gótica

O termo gótico foi cunhado para a arquitetura, pois é nesta que se reconhece
mais facilmente as características do estilo. Não é possível definir o estilo gótico
enquadrando-o apenas no recorte temporal, conforme observam Janson e Janson
(2009, p. 131):

[...] precisamos levar em consideração a inconstância da área de superfície


do estrato, assim como sua profundidade. No início, por volta de 1150, essa
área era realmente pequena. Compreendia apenas a província conhecida
como lIe-de-France (ou seja, Paris e arredores), o domínio real dos
soberanos franceses. Cem anos mais tarde, a maior parte da Europa, da
Sicília à Islândia, tomara-se gótica, com apenas alguns bolsões românicos
aqui e ali; através dos Cruzados, o novo estilo fora introduzido até mesmo no
Oriente Próximo.

A partir de 1450, inicia-se o período de declínio do estilo gótico, que, em 1550,


desapareceu quase que por completo. O ingresso do estilo gótico no continente
europeu também ocorreu de forma complexa — diferentemente do estilo românico,
pois abrangeu quase 400 anos em alguns lugares e 150 anos em outros locais
(JANSON; JANSON, 2009).

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As obras góticas apresentam figuras em proporções normais, movimento
natural e beleza. Elas representam claramente o declínio do equilíbrio estático da arte
e da cultura românicas. Se o período românico pode ser categorizado com a época
das basílicas, o período gótico representa a época das grandes catedrais.
Em relação às artes visuais, somente nos últimos cem anos nos habituamos
a ler sobre a pintura e a escultura góticas, permanecendo ainda algumas incertezas
acerca dos limites exatos do estilo gótico nesses campos. A história da arte trata o
conceito de arte gótica da forma que o estilo se desenvolveu: iniciou-se na arquitetura
e, por aproximadamente um século (de 1150–1250, período equivalente à Época das
Grandes Catedrais), manteve nessa categoria seu papel dominante.

Arquitetura medieval: relações com a arte e o cristianismo

O colapso sofrido pelas cidades após as invasões bárbaras estagnou seu


crescimento, bem como o nível de vida sofreu significável retrocesso. Somente o
poder da Igreja não foi restringido; ao contrário, em toda a Europa, a Igreja consolidou-
se como depositária da cultura de todos os povos. A arquitetura medieval estabelece
conexão direta com a religiosidade, que foi a impulsionadora e financiadora de todas
as importantes atividades construtivas e criações artísticas da Idade Média.
Na visão dos arquitetos góticos, suas igrejas deveriam ser a contrapartida
terrena do Reino dos Céus. A Catedral de Notre-Dame incorpora esse pensamento,
refletindo, em seu interior e suas fachadas, todos os princípios da arquitetura gótica
(Figura 8). Na fachada principal, os pormenores foram integrados em um todo
harmonioso, que se estende às esculturas. Já não se trata de uma proliferação
exagerada, mas de uma composição preciosista com arcadas rendilhadas e imensos
portais e janelas que diluem a continuidade das superfícies das paredes. Janson e
Janson (2009) destacam um importante elemento arquitetônico gótico: as rosáceas:

Na fachada, a rosácea (como são chamadas as janelas circulares das igrejas


góticas) fica em um vão bastante recuado, e os ornamentos de pedra que dão
forma ao desenho destacam-se nitidamente da alvenaria em que estão
engastados; no transepto, pelo contrário, não é mais possível separar os
ornamentos da janela de sua moldura: um entrelaçamento contínuo cobre
toda a superfície. (JANSON; JANSON, 2009, p. 135).

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As catedrais góticas podem ser compreendidas como imensos livros escritos
em pedra, cuja leitura eleva o espírito dos fiéis. Elas são claras e exuberantes, a fim
de representar a verticalização da fé e convidar as pessoas a uma união com o divino.
Na Itália, o estilo gótico assumiu características próprias e pavimentou o
caminho para uma arquitetura mais humanística, pouco adotando dos modelos
franceses e alemães. A burguesia italiana tinha ascendido ao poder mais rapidamente
do que os outros países, desenvolvendo uma religiosidade particular, que resultou na
transformação de sua arquitetura. Logo, a história da arte se depara com o
Renascimento, surgido da interpretação do gótico italiano e, em particular, da noção
de sagrado, que já não se opunha ao secular.

Figura 8 - Fachada principal da Catedral de Notre-Dame, em Paris.

Fonte: https://shutr.bz/3LvEzVE.

4.11 A literatura medieval

Ao contrário de nossa realidade, no mundo medieval, a literatura também


esteve a serviço da Igreja Católica como ferramenta pedagógica para o reforço do
Cristianismo. Os autores da época eram membros do corpo eclesiástico: Bispos,
padres e até mesmo papas se aventuravam nas práticas literárias. Contudo, os
consumidores da literatura da época eram os próprios membros do clero e alguns da
33
nobreza. Além das inspirações religiosas que faziam parte da substância essencial
das obras, as influências da filosofia também se faziam presentes, com reflexões de
Aristóteles e Platão, mas pouca interação na Alta Idade Média.
O corpo eclesiástico, apreciadores do conhecimento das muitas dimensões da
arte dos greco-romanos, foram os guardiões e responsáveis pela conservação de
inúmeras bibliotecas e verdadeiras preciosidades artísticas do mundo clássico. Nesse
período, a Igreja, por intermédio do sagrado, explícito na doutrina cristã, estimulou que
os literatos medievais escrevessem sobre o imaginário cultural, social e sagrado do
complexo tecido medieval. Os autores escolheram relatar em suas obras passagens
bíblicas, produzindo verdadeiras obras de arte. As mentalidades medievais
romanceadas sobre a jornada dos santos católicos sempre reforçaram o sagrado por
intermédio da existência de Deus e da vida eterna.
Há um consenso entre os historiadores Le Goff (2018) e Gombrich (1999)
sobre dois aspectos importantes relacionados a Idade Média: primeiro, a falácia do
termo renascentista “idade das trevas”, uma vez que, em quase mil anos de medievo,
houve muitos “renascimentos”; segundo, para os autores, as camadas sociais que
viveram entre os séculos V e X não compreendiam e tampouco identificavam-se com
estilos artísticos, seja nas artes ou na literatura, pois haviam muitas influências
artístico-culturais. Somente a partir do século XI, com um processo civilizatório mais
consolidado, os estilos artísticos seriam mais bem compreendidos e apreciados.
A partir do século XII, conforme o consenso de alguns autores do medievo, o
trovadorismo provocou algumas mudanças na literatura. O amor, a aventura, contos
épicos e sátiras começaram a ter mais espaço, mas sempre sob os auspícios da Igreja
e muitos considerados profanos.

Principais escritores

• Dante Alighieri

Foi um grande poeta italiano, nascido em Florença em 1265, autor de uma


das obras mais importantes do cânone literário ocidental: A Divina Comédia, iniciada
por volta de 1307 e só finalizada nos últimos anos de sua vida, antes de morrer em
1321, em Ravena, vítima possivelmente de malária contraída em uma viagem a
Veneza. O poeta e filósofo era muito influente na política florentina, e por sua afiliação
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partidária foi exilado de sua cidade em 1302, sem permissão para retornar pelo resto
de sua vida. Produziu diversas obras antes de sua obra-prima, como poemas líricos,
tratados sobre assuntos variados, textos em que mesclava prosa e poesia, cartas,
éclogas, etc. Inovou tanto nas formas poéticas que usava quanto na escrita, pois, além
do latim, escrevia e defendia o uso da língua vernácula, o seu dialeto florentino.
Formas poéticas descritas na Obra de Dante: Entre as formas poéticas
adotadas por Dante estão as baladas e sonetos, que são misturados com prosa em
grande parte de sua obra. A forma como o poema é estruturado é baseada no Sweet
New Style, um movimento literário italiano dos séculos XIII e XIV a que Dante se
referiu no Canto XXIV do Purgatório em A Divina Comédia. O estilo é sobre amor e
ternura e foi inspirado nos temas, formas e convenções dos bardos provençais. É
introspectivo e cheio de simbolismo, metáfora e alegoria. Admire a beleza de uma
mulher e compare-a com a mulher que você deseja a um anjo. O amor tem uma
qualidade divina, não uma qualidade material.

• Santo Agostinho

Agostinho de Hipona (354 d.C.– 430 d.C.), mais conhecido pela alcunha de
Santo Agostinho, nascido em Tagate, uma província romana na África, é considerado
o filósofo mais relevante da patrística. O valor das suas ideias é inestimável não
apenas para a teologia cristã, como também para a filosofia ocidental como um todo.
As suas obras mais importantes são Confissões e Cidade de Deus, cujas ideias
seguem sendo estudadas até hoje.

• São Tomás de Aquino

Tomás de Aquino (1225-1274) foi um frade católico da Ordem dos


Pregadores, cujas obras tiveram grande influência na teologia e na filosofia,
principalmente sobre uma tradição chamada de escolástica (método de pensamento
crítico dominante no ensino nas universidades medievais europeias entre os séculos
IX e XVI). Mais um método de aprendizagem do que uma teologia, a escolástica
nasceu nas escolas monásticas cristãs, de modo a conciliar a fé cristã com um sistema
de pensamento racional, especialmente o da filosofia grega. Embora tenha tido uma

35
produção que influenciou diversos pensadores, Aquino jamais se considerou filósofo,
e criticava-os por acreditar que eram pagãos que estavam sempre “aquém da
verdadeira e correta sabedoria encontrada na revelação cristã” (HIRSCHBERGER,
1966).

4.12 Entre a fé e a razão: a filosofia medieval

A igreja Católica, para além de tudo o que já foi dito neste capítulo, teve a
incumbência de agir como uma entidade supranacional, dialogando e costurando
alianças com as camadas dominantes, estabelecendo seu papel no campo cultural,
social e político. Com isso, expandiu sua estrutura física, agregando riqueza material
e, por conseguinte, tornando-se a proprietária de quase um terço das terras férteis do
continente europeu, em um período em que o latifúndio significava glória, poder e
riqueza.
Seu plano universalista abarcou diferentes territórios, mediando muitas
celeumas entre a fé e a razão. A partir disso, a Igreja estabeleceu, do ponto de vista
da cultura, uma estratégia intelectual, na qual a fé cristã seria a base primordial de
todo o conhecimento humano. Portanto, a fé fundamentava-se em um processo de
doutrinação contínua e plena às revelações feitas por Deus aos homens, registradas
na Bíblia, com os devidos esclarecimentos feitos pela autoridade da Igreja Católica.
Num primeiro momento, é preciso ter em mente que a questão central do debate para
a constituição da filosofia na Idade Média gira em torno do conflito entre fé e razão.
Trata-se de um período profundamente teocêntrico, em que os filósofos também eram
religiosos, com uma forte bagagem teológica, e a grande preocupação desses
homens era equilibrar a fé e a razão.
Agostinho de Hipona, posteriormente, Santo Agostinho, como ficou
conhecido, foi o primeiro filósofo e teólogo responsável pela aproximação entre a fé e
a razão. Em sua obra, Cidade de Deus, produzida em 426 d.C., o pensador cristão
refutou as heresias da época, tais como o Maniqueísmo, (bem e mal do dualismo, de
origem persa), o Donatismo (corrente contrária aos eclesiásticos com atribuições no
Estado), o Arianismo (compreensão de Jesus humano, não divino) e o Pelagianismo
(compreensão do homem como responsável por sua salvação).

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Agostinho foi o principal expoente da Patrística, corrente filosófica que buscou
compreender a relação entre o corpo e a alma, entre a fé e a razão. O diferencial de
Agostinho foi o resgate do mundo dos sentidos da Antiguidade Clássica, concebido
pela filosofia de Platão. A partir desse mundo dos sentidos, Agostinho propôs uma
reflexão que equilibrava o conhecimento, a razão, o pensamento e os sentidos
humanos dentro do debate teológico da doutrina cristã.

5 IDADE MODERNA

A era moderna foi uma época marcada por transições, rupturas e continuidade em
relação a sociedade medieval. Foi uma série de mudanças nas esferas culturais,
econômicas, políticas e sociais, a coexistência do “novo” e do “velho” que criou as
sociedades. A Europa Ocidental desenvolveu a autoconsciência para viver na “nova
era”. Essas mudanças ocorreram nos séculos XV e XVIII elas contribuíram para a
nova visão entre o mundo europeu e o dito “moderno”.

5.1 A transição da Idade Média para a Idade Moderna

Na divisão quadripartite da história, convencionou-se chamar Idade Moderna,


Modernidade ou, ainda, Tempos Modernos o período que corresponde à formação do
Estado Nacional, juntamente a uma série de transformações culturais, econômicas e
sociais (absolutismo, grandes navegações, mercantilismo, renascimento, reforma
religiosa), encerrando-se com a Revolução Francesa, em 1789. Contudo, os
historiadores estão cientes das dificuldades de circunscrição de movimentos como
esses em periodizações em função das continuidades e permanências para além das
rupturas mais facilmente identificáveis.
Um dos marcos cronológicos normalmente escolhidos para assinalar o fim da
Idade Média é a tomada de Constantinopla pelos turcos, em 1453, principalmente pela
pretendida relação com outro acontecimento “fundador” da época moderna, a
chegada de Cristóvão Colombo à América, em 12 de outubro de 1492, mas a
“modernidade” é dificilmente delimitada por acontecimentos ou datas específicas.
“Não existe um ponto que possamos dizer que tenha marcado a transformação do
mundo medieval no mundo moderno” (RUNCIMAN, 2002, p. 11).

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Além disso, é importante lembrar que as transformações que se iniciaram na
sociedade europeia a partir dos séculos XV e XVI já estavam delineadas no período
precedente.
Simultaneamente, as profundas mudanças referidas não significaram a
eliminação instantânea e completa da sociedade feudal em seus aspectos culturais,
econômicos, políticos, religiosos e sociais, de modo que muitas características
medievais coexistiram com as modernas. Podemos afirmar que entre os séculos XV
e XVIII ocorreram transformações significativas na sociedade europeia e suficientes
para que homens e mulheres percebessem que estavam vivendo em uma “nova
época”: as grandes navegações e as conquistas territoriais, o advento de uma nova
mentalidade burguesa e racionalista, a constituição dos estados nacionais com a
imposição de um novo poder político, centrado no rei soberano e absoluto, a ruptura
com a unidade da Igreja Católica e a expansão do capitalismo.

5.2 Os burgos e a modernidade

Uma série de mudanças ocorridas durante os séculos XIV e XV enfraqueceu


o sistema feudal com influências culturais, econômicas, políticas e sociais
compreendidas.
Economicamente, técnicas de plantio aprimoradas e outros fatores
aumentaram a produtividade agrícola, levando ao crescimento populacional na
Europa. No entanto, as estruturas feudais (alimentos, espaço, governo, lei) não
conseguiam acompanhar o crescimento populacional, levando à piora das condições
de vida, taxas de mortalidade e preços gerais mais altos. Em meio a esse processo
volátil, a cidade recuperou poder econômico e político. Mas você sabe como as
cidades, especialmente o "renascimento" comercial e urbano, ajudaram a moldar a
sociedade moderna? Novas rotas comerciais surgiram no final da Idade Média como
resultado das Cruzadas, e a retomada do comércio marítimo através do Mediterrâneo
ancorou as feiras realizadas regularmente que levavam a Burgos (a cidade).
As feiras eram locais onde se vendiam produtos regionais e outros produtos
do Oriente, como especiarias, perfumes, tecidos e porcelanas, objetos de luxo e
cobiça da aristocracia feudal, atraindo muita gente por ser um ponto de encontro de
distribuição. As cidades foram essenciais para o desenvolvimento do comércio, mas

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o comércio também foi essencial para o surgimento de novas cidades e o
desenvolvimento de outras.
Os mercados urbanos permitiram o desenvolvimento de emprego remunerado
e progresso social em uma sociedade fortemente estratificada. Como resultado, atraiu
cada vez mais artesãos, fazendeiros livres, comerciantes itinerantes e servos
fugitivos. Os residentes de Burgos que estavam em mansões eram obrigados a pagar
certas taxas aos seus senhores feudais. E quem era a burguesia?
A burguesia era uma classe de cidadãos da cidade, homens livres (no sentido
de ser imune às relações de poder entre senhores feudais, vassalos e servos) que
negociavam livremente como artesãos e comerciantes. Esta elite era a principal
responsável pelo desenvolvimento das cidades. Essa estruturação foi facilitada pelo
movimento das cruzadas com a abertura de rotas comerciais ligando o Ocidente ao
Oriente e a retomada do comércio marítimo através do Mediterrâneo.

5.3 Do teocentrismo ao antropocentrismo

Antes de nos dedicarmos ao estudo das novas formas de pensamento surgidas


na modernidade e seu reflexo nas práticas e nos valores da sociedade moderna, é
necessário lembrar quais eram as bases da sociedade medieval no que diz respeito à
sua visão de mundo.
Durante a Idade Média, a religião era estruturante dos âmbitos cultural,
econômico, político e social das sociedades da Europa Ocidental, e não havia uma
nítida distinção entre essas esferas e a religiosa, que permeava todo o social. Em
outras palavras, pode-se afirmar que a visão de mundo dos europeus durante a Idade
Média é religiosa, mesmo que houvesse diferenças entre algumas concepções e
práticas, de acordo com o local ou o tempo, o que também faria com que a Igreja
Católica se esforçasse para a normatização e unificação de cultos, dogmas, práticas
e rituais.
A marcação do tempo do calendário e do relógio vincula-se a essa visão de
mundo religiosa, ou seja, a organização da vida cotidiana se faz a partir da relação do
homem com o sagrado, assim como as explicações para os fenômenos naturais e
sociais eram encontradas nos dogmas religiosos. Nessa sociedade, em que todo o
conhecimento se dava a partir da fé, refletir sobre o mundo a partir de outros

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parâmetros, como outras crenças ou por meio da natureza, era considerado heresia.
Entretanto, essa situação começa a se modificar a partir do século XI, quando se inicia
uma aproximação das formas de se conhecer o mundo a partir da lógica, do estudo
de observação e da investigação.
A Igreja Católica era a instituição mais importante da Idade Média, regulando
todas as esferas da vida em sociedade, funcionando como um agente unificador e
forjando ou mediando a relação dos homens e das mulheres com o mundo. Como
afirma Bedin (2012, p. 25), “[...] a Igreja passou a exercer uma dupla função: a de
instituição oficial do mundo medieval e a de instituição guardiã e intérprete autorizada
do conhecimento”. Assim, uma das marcas da “modernidade” no que diz respeito à
autocompreensão de homens e mulheres e sua compreensão em relação ao mundo
será um rompimento com essa visão unívoca e a existência de outras formas de se
compreender e compreender o mundo. Isso, no entanto, não significa um movimento
de rompimento com a percepção religiosa do ser humano e da sociedade.
É importante destacar a continuidade dos valores e visões de mundo religiosos
paralelamente a mudanças e rupturas. Não podemos, dessa forma, dizer que houve
um processo de laicização, e, sim, uma progressiva separação entre os componentes
religiosos e seculares das sociedades.
Há, sem dúvida, uma diminuição do poder da Igreja Católica frente à
emergência de outros saberes, principalmente os científicos, mas esses não implicam
um total rompimento com certas interpretações religiosas. Da mesma forma, o
movimento ao qual se vincula a ascensão do antropocentrismo, o Renascimento, não
pode ser visto apenas como um movimento de elites letradas, mas como um
fenômeno que abrange os diferentes estratos da sociedade, com características
específicas.

5.4 A Revolução Francesa

A constituição de uma monarquia parlamentar, em substituição do modelo vigente


pautado nos preceitos absolutistas, marcou politicamente a transformação da
estrutura política da França e serviu como norte para os episódios da Revolução
Francesa. Porém, o seu significado simbólico e marco fundante ganhou força com a
Tomada da Bastilha, episódio ocorrido em uma terça-feira, 14 de julho de 1789, que

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contou com a participação das duas principais forças que levaram a cabo o processo
revolucionário: os sans-cullotes e as camadas populares de Paris.
Uma das primeiras medidas adotadas pelo povo francês após a Assembleia
Constituinte foi a adoção da Guarda Nacional (La Garde Nationale, criada a partir do
Comitê de Vigilância. Ela visava cumprir a função dupla de impedir a reação por parte
das antigas elites, representadas pelo rei, nobreza e clero, e garantir a manutenção
dos direitos adquiridos naquele momento. Para tanto, foi necessário um chamado
geral à nação para que todos os cidadãos capazes pegassem em armas para
defender os interesses do povo francês. Para garantir o exercício da defesa, ficou
decidido que cada distrito se responsabilizaria pelo envio de 200 cidadãos para pegar
em armas e lutar.
No dia 13 de julho, a Assembleia se reuniu e enviou uma delegação ao rei para
que ele retirasse suas tropas. Ao mesmo tempo, corria um rumor de que o rei estava
organizando um ataque em sete locais na noite do dia 14 para o dia 15 de julho. Esse
rumor tinha fundamento, afinal de contas, o rei não ficou passivo frente às mudanças
orquestradas pelo povo que clamava por mudança. O evento ocasionou a dissolução
da Assembleia Nacional. O resultado foi uma marcha da população em direção à
prefeitura (Hôtel de Ville exigindo as armas que garantiriam a defesa do regime recém-
implementado.
Em seguida, a população se direcionou ao Palácio dos Inválidos (Hôtel des
Invalides um local criado pelo rei para abrigar soldados inválidos, feridos em batalha,
e que também funcionava como depósito de armas. Nesse local, foram obtidos entre
28 e 32 mil fuzis, que foram utilizados para enfrentar as tropas realistas que tinham
como objetivo a restauração da monarquia absolutista.
Desse ponto, o grupo decidiu marchar em direção à Bastilha, uma fortaleza que
funcionava como prisão política e simbolizava o domínio do modelo absolutista nas
ruas de Paris. Quando a multidão chegou na entrada da Faubourg Saint-Antoine, uma
fortaleza de pedra surgia no horizonte como um colosso indestrutível. Essa era a
Bastilha; sua estrutura possuía muralhas de 30 metros de altura, rodeada por oito
torres, e seus fossos atingiam 25 metros de largura e eram repletos de água.
No seu interior estava uma guarnição de defesa, ocupada por 80 inválidos,
protegidos por 30 sentinelas, todos liderados pelo governador de Launay. O primeiro
contato feito entre eles ocorreu por parte do parlamentar Thuriot, que ordenou a

41
rendição dos aquartelados na Bastilha, ordem que foi prontamente ignorada. Em
seguida, uma segunda comissão foi enviada, liderada por dois deputados,
responsáveis por tentar negociar a rendição das tropas leais ao rei. O governador De
Launay convidou os dois deputados para entrar e, supostamente, almoçar com ele.
Não se sabe se o governador simplesmente agiu covardemente ou se pensou
ter caído em uma armadilha — o que se sabe é que, ao se deparar com a multidão
que estava à frente da Bastilha, De Launay ordenou a suspensão da ponte levadiça e
mandou as tropas atirarem na multidão que estava na frente da fortaleza. Diversas
pessoas foram atingidas, e várias morreram com tiros à queima roupa.
Após esse episódio, entendido pela população como traição, a situação se
intensificou, e a população passou a pressionar os muros e insistiu em invadir a
fortaleza. Enquanto o ataque acontecia, os guardas disparavam sem parar. No fim do
dia, o total de mortos do lado de fora somava 83 pessoas, além de 88 que ficaram
feridas. As tropas do governador De Launay, sob a proteção física e simbólica da
Bastilha, sofreram apenas uma baixa.
Em dado momento, um carroceiro tomou a frente do ataque, de machado na
mão, subiu por uma guarita e, a golpes incessantes e sob forte rajada de balas,
conseguiu destruir as correntes — com todo o simbolismo presente na mensagem.
Dessa forma, derrubou a primeira ponte levadiça e abriu o caminho para a multidão,
que ocupou o pátio da fortaleza de pedras. Os atacantes eram compostos por dois
destacamentos das guardas francesas, uma multidão e alguns burgueses da milícia,
que se somaram à força de ataque ao levar cinco canhões, retirados dos inválidos.
Três deles foram posicionados em frente às portas da fortaleza.
Percebendo o aumento do poder bélico dos atacantes e observando que estava
cercado, De Launay ameaçou utilizar outra estratégia. Dentro da Bastilha estavam 20
mil quilos de pólvora, o que levou o governador a cogitar a possibilidade de explodir a
fortaleza, juntamente com seu destacamento e o bairro. Quem conseguiu dissuadir o
governador dessa atitude foi Béquart, um dos 80 inválidos que estavam protegidos
dentro da Bastilha.
Após mais de cinco horas de combate, os invasores conseguiram ocupar o pátio
da Bastilha e renderam o governador. As chaves da prisão, símbolo da opressão real
francesa, estavam agora na ponta de uma lança, assim como o regulamento do

42
prédio. O governador De Launay foi capturado pela população e, como represália por
ordenar o disparo inicial contra a população, foi vítima desta.
Um dos principais algozes do governador De Launay foi um cozinheiro chamado
Desnot. Em um momento anterior à Revolução, ele foi alvo da violência arbitrária do
governador e recebeu um pontapé na barriga. Em um momento de inversão de papéis,
foi Desnot quem cometeu a violência. Utilizando-se da sua habilidade com armas
brancas, iniciou a decapitação do antigo governador (Figura 9) e desfilou pelas ruas
da cidade com sua cabeça.

Figura 9 - Pintura que referencia o episódio da Tomada da Bastilha, de Charles Paul


Landon.

Fonte: Landon (1794, documento on-line).

Após a conquista da Bastilha, a população tomou as chaves das prisões e


libertou os sete prisioneiros que se encontravam lá dentro, em um sinal de libertação
dos inimigos do rei, simbolizando o fim da opressão representada pelo antigo regime.
A violência presente no episódio da conquista da Bastilha marcou o ápice de uma luta
colossal entre dois lados que se enfrentavam em território francês e que culminou no
primeiro confronto direto entre um grupo heterogêneo, o povo francês, contra os
representantes de uma antiga ordem. Apesar de todo o esforço, esses lados já
demonstravam que não possuíam mais forças para conviver naquele mundo, que
dava os primeiros sinais de modificação.
Após a vitória contra a Bastilha na capital parisiense, um sentimento
antinobreza se espalhou pelo interior da França, conhecido como o Grande Medo

43
(Grande Peur. Figura – 10). Entre os dias 20 de julho e 6 de agosto de 1789, as demais
províncias do território francês foram tomadas por uma espécie de revolta popular, em
que os camponeses invadiram as propriedades dos nobres. Aproveitando o clima de
transformação que pairava no ar, os camponeses realizaram uma espécie de justiça
social, invadindo, saqueando e, em muitos casos, massacrando representantes da
nobreza e do clero que outrora foram responsáveis por ocasionar sofrimentos e medo
nos grupos mais vulneráveis daquela sociedade (LEFEBVE, 2020).

Figura 10 - Pintura de Jean Hans retratando o Grande Medo. É possível visualizar a


dimensão dos envolvidos no sentimento antinobiliárquico e a reação frente às
violências sofridas historicamente.

Fonte: Hans (1789, documento on-line).

Menos de um mês após o 14 de julho, “[...] a estrutura social do feudalismo


rural francês e a máquina estatal da França Real ruíram em pedaços” (HOBSBAWM,
1996, p. 25). Com o desenrolar dos eventos e a violência eminente no processo
revolucionário, parte da nobreza francesa, incluindo membros do alto clero, decidiu
emigrar para fugir da reação do povo. Os destinos principais foram a Áustria e a
Prússia, nações vizinhas e com um governo absolutista.
A burguesia moderada, principal articuladora do processo revolucionário,
juntamente com a fúria arrebatadora das massas, saiu vitoriosa do processo e herdou
um modelo de governança que estava em transformação. Cabia à burguesia finalizar
o processo revolucionário e efetivar as mudanças que tanto almejavam. Iniciou-se
uma nova etapa na Revolução (GALLO, 2012).

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5.5 A Monarquia Constitucional

Para sustentar a nova etapa que o governo revolucionário inaugurou, fez-se


necessária a criação de um documento que materializasse o pensamento liberal
burguês: a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, ratificada em 26 de
agosto de 1789 (HUNT, 2007).
A Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão (1789) estabeleceu os
princípios defendidos pela sociedade francesa, tendo à frente os interesses liberais
da burguesia. Os princípios de liberdade, propriedade, segurança e resistência à
opressão expuseram uma nova ordem que nascia junto com o processo
revolucionário. Você pode acessar esse documento rapidamente através da internet.
Luís XVI decidiu se mudar, deixando o Palácio de Versalhes e migrando para
o Palácio das Tulherias. Essa medida foi fruto da reação popular que, dentre outras
condições, condenava os gastos exorbitantes e o luxo que o antigo palácio
representava na memória social francesa (GALLO, 2012).
Outra medida adotada pela burguesia foi materializada na Constituição Civil
do Clero, em 1790. Essa medida visou a submeter a autoridade clerical à nação
francesa, culminando na nacionalização do clero daquele país. A medida gerou
controvérsias e acabou dividindo os religiosos do país em dois grupos, clero
constitucional e clero refratário. O primeiro corresponde ao grupo que se submeteu à
vontade do povo, tornando-se funcionários públicos, e o segundo foi contra a medida,
somando forças no processo contrarrevolucionário que continuava a operar em sigilo,
visando a ocupar novamente o lugar de poder.

5.6 O Fim da Monarquia

Conforme menciona Hobsbawm (2019), seria uma grande inocência imaginar


que Luís XVI aceitaria a derrota de bom grado e as mudanças que foram geradas
desde a convocação dos Estados Gerais, e mais ainda supor que ele não estava
orquestrando uma reação. As elites que fugiram para o exterior, sobretudo nas nações
vizinhas Prússia e Áustria, essa última com vínculos fortalecidos com a monarquia
francesa após o casamento de Luís XVI com Maria Antonieta, iniciaram uma operação

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de contrarrevolução. Elas conseguiram convencer os monarcas dessas nações a
enviar tropas para invadir a França e acabar de vez com o mau exemplo que aquela
nação estava lançando para os demais Estados nacionais.
As divergências se ampliaram após essa questão. Os jacobinos, liderados por
Robespierre, se posicionaram contra a guerra, visando a resolver problemas internos.
Por sua vez, a extrema direita e a esquerda moderada enxergavam de forma positiva
o conflito, cada um com um objetivo específico. Era por meio da guerra, e da ameaça
estrangeira que ela ocasionava, que se poderia criar uma justificativa para a demora
em solucionar problemas levantados pela população. Outra parcela enxergava no
exemplo francês uma espécie de movimento que levaria à libertação das nações
contra a tirania do absolutismo (HOBSBAWM, 2019).
Uma declaração formal de guerra ocorreu em abril de 1792. Dois meses
depois, em junho, Luís XVI, juntamente com sua esposa Maria Antonieta e membros
da sua família, orquestraram um plano de fuga quase suicida. O plano foi incentivado
por oficiais estrangeiros, sobretudo representantes da Áustria e da Prússia. Para
Ozouf (2009), os planos de fuga foi um fracasso por diversos fatores: a demora no
processo, as constantes pausas, a ausência de troca de informações entre os
envolvidos, entre outros. De qualquer forma, o rei, que viajava disfarçado, foi
reconhecido e capturado em Varenes, próximo da fronteira com a Áustria.
A partir daí, iniciou-se o processo irreversível do declínio da monarquia. O rei
foi preso e se tornou o responsável pela situação na qual a França se encontrava:
cercada de inimigos por todos os lados, com seu território profanado e a nação
ameaçada por potências estrangeiras. Luís, agora considerado traidor, deixava de ser
rei e se transformava em prisioneiro. Preso, julgado e condenado pela mais alta traição
contra o povo, foi condenado à guilhotina. Abriam-se as portas para um novo governo
na França, orquestrado pelo povo. Quase instantaneamente, ao cair a coroa francesa,
juntamente com a cabeça do rei, surgia um novo governo: a república.

6 IDADE CONTEMPORÂNEA

A contemporaneidade pode ser compreendida como uma conformação social que


emerge a partir de meados do século XX, quando ocorrem transformações das
condições sociais, culturais, econômicas e tecnológicas. Para compreender essas

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transformações, que levaram à emergência de um novo tempo, é preciso focalizar na
descrição do projeto da modernidade e sua ruptura a partir das mudanças ocorridas
na contemporaneidade, o que levou a críticas a esse projeto e formou uma nova
condição societal.
Com a modernidade, o ser humano, enquanto sujeito, passou a existir. Trata-se
de uma invenção do período que abrange os séculos XVIII e XIX, como parte de um
projeto que possibilitou a emergência das ciências humanas. Portanto, a partir de
determinadas condições históricas, culturais e epistemológicas, surge um projeto de
conhecimento positivo do homem, que se torna sujeito e objeto.
Mudanças socioculturais contribuíram para a generalização da ideia de homem, e
o surgimento da ideia de indivíduo foi importante para as condições de possibilidade
do surgimento da ciência moderna e para o avanço do capitalismo. O humanismo, ao
colocar o ser humano como centro do universo, destitui a cosmologia cristã sobre o
acesso ao conhecimento. Junto às transformações das revoluções científicas com
Copérnico, Galileu e Newton, colocam-se novas formas de investigação e de entender
a natureza, agora a serviço do ser humano. A modernidade, assim, seria uma ruptura
com as condições históricas anteriores e se caracteriza por esse constante processo
de fragmentar e romper instituições, sensibilidades, modos de vida, etc. (SANTOS,
2006).
Nessa esteira, a Revolução Francesa e a Revolução Industrial foram eventos
que representaram uma nova consciência para o homem moderno: a ideia de
liberdade, o surgimento das máquinas, de novas formas de produção e o advento da
razão suplantando a fé para o conhecimento. A noção de progresso constituiu o
advento da modernidade ao saudar a descoberta científica e da razão, caracterizando-
se, então, por visão positivista, racionalismo e pela crença no progresso linear da
humanidade que perpassa as ideias de desenvolvimento humano e da história
mundial em um modelo evolutivo (HENNIGEN, 2007).
A invenção da escrita como ponto de partida para a história também pode ser
contestada pelo fato de não ter ocorrido em vários lugares do mesmo jeito. Ainda
hoje, os povos indígenas do Brasil e os grupos aborígenes australianos não utilizam
signos gráficos para representar palavras. Essa experimentação ultrapassa uma
lógica da produção em massa para a variação de estilos, da diversidade e da
diferença. Por isso, a abordagem dada pelo autor indica que essas mudanças

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impulsionam a cultura de massa por meio do consumo porque tudo poderia ser
passível de tornar-se mercadoria, como identidades, ideias, bens e serviços, entre
outros. É com as mídias que esse processo se torna possível, na medida em que se
constitui uma sociedade de imagens.
Em um contexto de acumulação flexível, os valores também são efêmeros,
possibilitando as modificações do gosto e da opinião construídos a partir da profusão
de signos e imagens a partir das mídias. Para Bauman (2001), esse tempo é entendido
como líquido, formado por relações instáveis e efêmeras, quando se passa a
privilegiar a liberdade individual, o prazer para a autocriação. Nesse contexto de
múltiplas possibilidades que se abrem, “[...] cabe ao indivíduo descobrir o que é capaz
de fazer, esticar essa capacidade ao máximo e escolher os fins a que essa capacidade
poderia melhor servir — isto é, com a máxima satisfação concebível” (BAUMAN, 2001,
p. 74).
São apreciadas novas experiências, identificando-se enquanto consumidores
que buscam sensações e experimentações diferentes. Essa seria uma sociedade das
relações líquidas, marcada pela condição da liberdade. Todos seriam confrontados
com a lógica do consumo, embora nem todos possam ser consumidores, conforme as
posições e realidades sociais em que se encontram os sujeitos. Por isso, aquele que
não consumir será entendido como fora da ordem, dado que a liberdade passa a ser
exercida a partir da prática de consumo de serviços e produtos que indicam o “livre-
arbítrio”. Com efeito, também produz uma série de mal-estares, como
relacionamentos mais frágeis, aprofundamento das desigualdades sociais e grande
concentração de renda, novos e eficientes mecanismos de exclusão que se dão a
partir do mercado.
A sociabilidade da atualidade, observa Bauman (2001), seria marcada pela
insegurança, com o enfraquecimento de referências dos laços duradouros da vida
privada. Contudo, esse último aspecto vem sendo objeto de reflexão de diversos
teóricos e movimentos sociais, como feministas, minorias sexuais e de gênero,
movimento antipsiquiátrico, de pessoas com deficiência e dos que lutam por direitos
das crianças e dos adolescentes, por apontarem relações de poder no interior da
família e nas relações privadas.
Essas críticas possibilitaram novos arranjos sociais e modificações importantes
na contemporaneidade para a renegociação das relações e novas condições de

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possibilidade de existência em um mundo em constante transformação. A
contemporaneidade é, portanto, efeito das transformações do capitalismo e seus
ciclos de crises, que produzem reestruturações não apenas nos modos de produção.

6.1 A Nova Ordem Mundial e a cultura na era da globalização

O início da década de 1990 é mais do que o início da última década do século


XX em conflito. Foi nessa época que se estabeleceu a Nova Fraternidade Mundial,
que engloba características políticas, econômicas, religiosos, sociais e culturais,
abrindo caminho para a evolução tecnológica que assolou o século XXI e alterou toda
a estrutura social e o comportamento da população do mundo.

6.2 A Guerra Fria

A corrida espacial foi fruto da Guerra Fria, nome que foi dado ao conflito político-
ideológico que marcou o mundo após a Segunda Guerra Mundial. A disputa foi
instigada pelos Estados Unidos e pela União Soviética, que, como vencedores da
Segunda Guerra Mundial, buscavam garantir sua supremacia no mundo após o
conflito.
A ascensão da União Soviética na guerra perturbou os Estados Unidos, que,
temerosos de perder influência na Europa Ocidental, começaram a encorajar uma
retórica polarizadora contra a União Soviética. Mesmo na década de 1940, o governo
dos Estados Unidos tomou medidas para garantir sua influência.
Manter a influência dos EUA na Europa Ocidental foi importante para manter
sua economia próspera após o fim da guerra. Um discurso de Harry Truman em 1947
foi considerado o início da Guerra Fria, e logo a retórica polarizadora foi incorporada
pela União Soviética, e os dois países começaram a se organizar para garantir
interesses dentro de suas respectivas esferas de influência.
A Guerra Fria durou de 1947 a 1991, período durante o qual surgiram disputas
entre os dois países em vários níveis. Diplomaticamente, cada nação atua
internacionalmente para garantir seus interesses; economicamente, busca a
hegemonia sobre a outra; militarmente, busca o domínio por meio do maior
armamento possível.

49
Também em tecnologia, a briga ocorre porque cada país quer mostrar mais
inovações relacionadas ao outro. Isso tem levado os dois países a investirem em
educação e fortemente em pesquisa científica. Nesse momento, o progresso científico
abriu uma nova fronteira: o espaço.
Sem precedentes, a exploração espacial começou durante a corrida espacial,
com os americanos e os soviéticos discutindo sobre quem faria a maior descoberta.
Assim, satélites foram lançados, sondas espaciais enviadas expedições espaciais
tripuladas foram lançadas e, finalmente, uma viagem tripulada à lua tornou-se
possível.
O "domínio" do espaço foi uma disputa fundamental no debate entre as duas
nações, pois demonstra o papel do poder e da conquista que essa nova fronteira foi
para a humanidade.
O fim da Guerra Fria esteve associado a muitos eventos que enfraqueceram a
União Soviética. A década de 1970 ganhou peso adicional à medida que cresciam as
demandas por independência na Europa Oriental e os movimentos de libertação
europeus. À medida que a Ásia e a África se consolidam, as questões de identidade
se intensificam ao centralizar o poder, eles são santificados. Nesse momento, surge
uma nova política econômica que recicla a teoria liberal do século XVIII e persiste até
o início do século XX: o neoliberalismo.

6.3 Neoliberalismo

Logo após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e a União Soviética


estabeleceram medidas para reerguer suas economias: o Plano Marshall (1947) e o
Conselho de Assistência Econômica Mútua - Comecon (1949). O investimento de
capital foi fundamental para a recuperação dos países mais afetados pela guerra. A
vantagem dos Estados Unidos foi ter escapado dos bombardeios e destruições, o que
permitiu um grande desenvolvimento da indústria, tanto de armas quanto de alimentos
e bens duráveis. Durante os anos 50 e 60, houve uma disseminação do "American
way of life" devido ao crescimento da classe média e do poder de consumo.
O objetivo principal da Europa era investir em políticas sociais, enquanto que
na Europa Oriental, o capital deveria ser utilizado para reconstruir infraestruturas
básicas, o que prejudicou a Previdência Social. É importante lembrar que medidas de

50
segurança social como o seguro-desemprego já eram utilizadas no Ocidente desde a
década de 1910 e, a partir dos anos 50, foi necessário intervir de forma mais ativa,
com cada país organizando suas próprias provisões de acordo com sua maneira.

6.4 A queda do Muro de Berlim e a reunificação da Alemanha

A Alemanha foi dividida no final da Segunda Guerra Mundial e sua capital


oriental, Berlim, recebeu um muro dividindo-a entre dois governos, sistemas e
ideologias opostos. Enquanto a União Soviética pudesse manter sua rede de
segurança, a república se desenvolveria. A Alemanha Oriental ou República
Democrática Alemã (RDA), governada por Erich Honecker (1912–1994) liderou uma
aliança com a Romênia, a Tchecoslováquia e outros estados soviéticos para fortalecer
e perpetuar o comunismo. Mas as reformas introduzidas por Gorbachev na Rússia
minaram essa tentativa em todas as frentes. Segundo Moniz Bandeira (2009),
Honecker sofreu interferência direta do Kremlin por simpatizar com os conservadores
do Partido Comunista Soviético.
Após o estabelecimento da Glasnot e da Perestroika, a guerra civil da
Alemanha Oriental se intensificou, levando o Führer a censurar seus oponentes e
gradualmente cortar os laços com a União Soviética. Antes de se tornar líder do
partido, Gorbachev defendeu reformas políticas e econômicas à frente dos países
comunistas, incluindo o estado alemão. Ele acreditava que sem mudanças o sistema
pereceria e que a verdadeira vitória exigiria o apoio de todo o bloco.
Em 1989, a situação em toda a URSS se deteriorou. Além disso, o chanceler
alemão estava doente e contribuiu para a democratização. O processo foi iniciado
pelas próprias pessoas que fugiram pela Hungria e buscaram asilo na Alemanha
Ocidental. O Oriente foi incapaz de organizar e manter a soberania. Naquele
momento, a história da reunificação, ou reunificação, reapareceu, porque a Alemanha
não se tornou o país como o conhecemos até 1871.
Os Estados Unidos explicaram a importância da existência de uma única
Alemanha, uma república federal. A União Soviética carecia de poder político e
econômico para impedir a dissolução da Alemanha Oriental e pouco fez para evitar a
situação. A partir desse momento, quando as guerras étnicas e religiosas assolaram

51
o Leste Europeu, transformando-se em guerras civis na década de 1990, os países
soviéticos buscaram a sobrevivência e a paz interna (GILBERT, 2016).
Honecker foi demitido em 1989 porque não tinha aliados no Congresso ou no
público em geral. A Comissão Econômica e a Comissão de Propaganda também
foram dissolvidas e uma nova era começou para a Alemanha Oriental. As ruas exigiam
a unificação e os protestos chegaram a 200.000 pessoas nas principais cidades, como
Leipzig (MONIZ BANDEIRA, 2009).
No entanto, o governo foi assumido por Egon Krenz (1937), o último chefe de
estado da Alemanha Oriental. Tendo feito uma aliança com Moscou, ele não deu
nenhum passo em direção à paz, pelo contrário. Isso deixou o público, que esperava
por uma eleição, desconfortável. Em 6 de novembro de 1989, cerca de 750.000
alemães se manifestaram para pressionar os comitês do Partido Comunista e
promover a unificação (GILBERT, 2016).
E no dia 10 de novembro foi anunciada a queda do Muro de Berlim, um dos
principais símbolos da Guerra Fria. Nesse dia, a população ultrapassou barreiras,
escalou estruturas e começou a derrubá-las, marcando o fim da divisão ideológica do
país. No mês seguinte, um governo militar formado por membros da Igreja, da
oposição e do Partido Comunista se reuniu em Berlim Oriental para aprovar eleições
livres e diretas. Soma-se a isso a liberalização das viagens entre as duas Alemanhas,
criando diferenças econômicas, principalmente em Berlim.
O êxodo da cidade se intensificou e os habitantes pediram o marco D como
agradecimento. O chanceler da República Federal da Alemanha era Helmut Kohl
(1930–2017), que já estava na liderança soviética antes da queda do muro,
começando a esclarecer a unificação. No dia 1º de julho de 1990, o Partido Soviético
foi dissolvido e o partido de Kohl venceu as eleições gerais. Depois disso, em 3 de
outubro de 1990, foi oficialmente decidido que ele seria readmitido.

6.5 A Nova Ordem Mundial e os desafios do século XXI

A Europa Oriental não é o único país afetado pela crise econômica. Após a
Segunda Guerra Mundial, os países ocidentais também tiveram que trabalhar juntos
para reconstruir. Além da polarização, devemos lembrar que havia uma divisão
ideológica entre os Estados Unidos e a União Soviética. Por exemplo, a Grã-Bretanha

52
e a Alemanha mais uma vez se enfrentaram em uma batalha sangrenta na qual não
houve vitória britânica, apesar da vitória dos aliados. A ilha foi devastada, grandes
cidades foram bombardeadas e destruídas e o governo foi forçado a fazer uma
enxurrada de empréstimos para construir novas infraestruturas e alimentar seus
habitantes.
A França, por outro lado, foi invadida e governada pelos nazistas até 1944. O
evento não apenas criou problemas políticos, mas também expôs o atraso tecnológico
e militar do país e expôs a França à desgraça internacional. O advento da NATO em
1949 e da CEE em 1957 foi uma forma de responder às necessidades de segurança
patrimonial, política e econômica que eram e continuam a ser importantes (LOWE,
2011).
Na década de 1990, a União Europeia fortaleceu os vínculos entre interesses
econômicos e políticos e serviu de modelo de organização do continente para o
enfrentamento de crises e problemas sociais. A criação da lei de Consolidação Étnica
tornou mais fácil a procura de emprego e facilitou o intercâmbio cultural. Além disso,
os princípios abrangidos por essa lei estabeleciam o governo por meio de tratados,
mas eram baseados na democracia representativa. Assim, quando os ex-países
socialistas foram 'ocidentalizados', eles buscaram unir o grupo e ganharam apoio
durante este período de transição (COSTA, 2017).
Apesar de seu sucesso, a possibilidade de a União Europeia ingressar em um
sistema de moeda única foi debatida por mais de 30 anos antes de ser adotada. A
cúpula da CEE naquela época, liderada pela França e Alemanha, discutia a introdução
de uma moeda única desde 1974, em um cenário em que o marco alemão e o franco
francês se destacariam em relação às outras moedas europeias. O Reino Unido não
queria abolir a libra, mas a partir de 2003 o continente concordou em usar o euro
(COSTA, 2017).
Enquanto isso, os Estados Unidos experimentaram um crescimento
exponencial na década de 1990 e seu maior adversário político desapareceu. Apesar
do desenvolvimento econômico e industrial da Ásia, especialmente do Tigre Asiático,
os especialistas chamam esse período, pelo menos em teoria, de "consolidação do
modelo capitalista americano". O poder de compra da classe média estava se
recuperando e Bill Clinton (1946) era considerado um reformador político por ser
jovem e democrata. Suas campanhas propunham políticas sociais como a Seguridade

53
Social e o Sistema Universal de Saúde, questões importantes para a sociedade
americana. Após o mandato de George Bush (1989-1993) considerado devastador e
vivendo a primeira crise do sistema neoliberal no final dos anos 1980, ele assumiu o
desemprego e lançou uma série de protestos sociais em todo o país.
Purdy (2010) destaca que, a década de 1990 foi de crescimento econômico,
mas os danos da última década ainda são sentidos: fechamento de fábricas,
sindicatos enfraquecidos e desregulamentação das leis trabalhistas. Um exemplo é a
fuga de multinacionais para países asiáticos para cortar custos e aumentar a
lucratividade. Regiões como o Centro-Oeste, que compreende Wisconsin, Michigan,
Minnesota, Ohio e Indiana, foram duramente atingidas com a migração das empresas
de bens de consumo duráveis com a chegada das importações. Soma-se a isso a
queda do poder de compra que afetou a crise econômica de 2008, pois a população
não conseguiu pagar suas hipotecas e empréstimos.
George Bush esteve envolvido na Guerra do Golfo (1990-1991) no final de seu
mandato e completou sua intervenção na Guerra Irã-Iraque liderada por Reagan. Essa
política expansionista indireta dos Estados Unidos em relação ao Oriente Médio foi
discutida com mais intensidade no governo do filho de Bush nos anos 2000. A
aprovação de seu projeto de lei em um parlamento dominante se mostrou impossível
(JUDT, 2011).
Na política externa, Bill Clinton coordenou o acordo de paz na Faixa de Gaza
entre a Palestina e Israel em 1993 e intermediou a pacificação da Bósnia em 1995.
Mas escândalos políticos e pessoais ofuscaram o fim de seu governo, e a chegada de
George W. Bush em 2001 levou a uma das eleições mais polêmicas de nosso tempo.

6.6 Os ataques terroristas de 2001: mudança global

As consequências dos ataques de 11 de setembro de 2001 foram sentidas em


todo o mundo como uma das maiores demonstrações do poder da globalização nas
redes de comunicação. A Guerra do Golfo de 1990 já foi televisionada, assim como
parte da Guerra do Vietnã (1955-1975). Mas o colapso do World Trade Center (WTC)
em Nova York foi filmado não apenas por câmeras de TV profissionais, mas também
por moradores locais. Essas torres eram as mais altas do mundo na época e
simbolizavam a expansão e o crescimento do capitalismo americano após a vitória na

54
Guerra Fria. Assim como o ataque ao Pentágono, a destruição do WTC não significou
o fim do sistema, mas o início de um novo tipo de controle de segurança nacional: o
controle da rede de dados.
A natureza do incidente é injusta, mas é compreensível a partir de uma análise
da política de intervenção dos EUA após a Segunda Guerra Mundial e sua resposta
no Oriente Médio. Desde a fundação de Israel, as relações entre ocidentais e árabes
tornaram-se cada vez mais distantes, não só pelo Estado judeu, mas sobretudo pelas
esferas de influência estabelecidas na região. Embora comunista, o Oriente Médio era
de interesse econômico para muitos países, especialmente as superpotências.
O governo pró soviético desmoronou internamente à medida que os
americanos armavam e treinavam facções opostas para evitar o confronto direto,
como a Coreia do Sul e o Vietnã, a forma como ajudou Saddam Hussein (1937-2006)
e a forma como Bush interveio na Guerra do Golfo contra próprio Saddam (LOWE,
2011). Essa instabilidade política destruiu as instituições sociais, forçou a migração
em larga escala de refugiados para outros países e lançou as bases para o surgimento
de grupos paramilitares como o Talibã nas décadas de 1980 e 1990 e o Daesh em
1999.
Assim, em 2001, o presidente George W. Bush nomeou a Al-Qaeda como
perpetradora dos ataques e quase imediatamente procurou caçar o líder do grupo, o
saudita Osama Bin Laden (1957-2011), mobilizando todas as agências de inteligência
dos EUA. Então, em 8 de outubro, os americanos invadiram o Afeganistão, controlado
pelo grupo ultraconservador Taliban, onde se escondia a cúpula da Al-Qaeda. O
Talibã foi derrubado em menos de dois anos e a organização terrorista desmantelada,
mas seu líder só foi descoberto em 2011, durante o governo de Barack Obama
(LOWE, 2011).
Naquele momento, a guerra contra o terror começou. Trata-se de um
movimento criado pelos americanos para impedir novos ataques terroristas com uso
de armas e espionagem, agora via internet. Segundo documentos publicados pelo
ciberativista Edward Snowden, países como Irã, China e Coreia do Norte são alvo
novamente, assim como os países latino-americanos sob vigilância da National
Security Agency (NSA), mas com novos contornos.
O jornalista Glenn Greenwald (2014) mostra como as revelações de Snowden
revelam não apenas o rumo da política externa dos Estados Unidos para investir em

55
inteligência artificial e vigilância sobre agressões diretas, mas também como
interagimos com a Internet. Foi desenvolvida a ideia de que a privacidade não é tão
importante e perdê-la seria um pequeno prejuízo em comparação com o bônus de ter
um dispositivo poderoso o suficiente para nos conectar com o mundo inteiro.
As pessoas sentem mais fortemente a perda de privacidade no contexto das
redes sociais. A utilização de nossos dados pelas maiores empresas mundiais está
diretamente relacionada à publicidade e ao consumo, e neste momento o mundo
começa a vivenciar uma nova fase do capitalismo liberal.
Hoje, há uma grande concentração de monopólios de renda e tecnologia que
dominam o dia a dia das pessoas que usam smartphones e acessam redes sociais
constantemente, e você pode descobrir analisando o ranking das 10 marcas mais
valiosas do mundo.
As quatro primeiras posições do ranking são ocupadas por marcas de
tecnologia. Em primeiro lugar estão Amazon (US$ 415,9 bilhões), Apple (US$ 352,2
bilhões), Microsoft (US$ 326,5 bilhões) e Google (US$ 323,6 bilhões). Facebook
ocupa o oitavo lugar com valor de mercado de US$ 147,1 bilhões (PEZZOTI, 2020).
Por outro lado, desde 2010, as redes sociais tiveram um papel central como
meio de mobilização e organização de movimentos de massa, como a Primavera
Árabe, que teve início na Tunísia e no Egito em 2011 e ganhou força no Facebook e
no Twitter. Nesse episódio, o povo se organizou contra um governo autoritário por
conta da grave crise econômica que atravessava. Os altos custos do petróleo levaram
a novas crises de abastecimento, elevando os preços dos alimentos, principalmente
dos grãos. Lembre-se, em 2008, o mundo viveu uma crise econômica tão severa
quanto o colapso do sistema financeiro em 1929, obrigando os países a resgatar seus
bancos e empresas financeiras (JOFFE, 2011).
A narrativa ocidental nega qualquer sistema político que não seja a democracia
liberal. A natureza autoritária dos sistemas políticos do norte da África, incluindo
Marrocos e Argélia, é inegável, mas também deve ser levado em conta que o Ocidente
desenvolveu uma imagem xenófoba dos africanos e do Oriente. Posição incompetente
e retrógrada.
A propósito, a xenofobia não apenas persistiu, mas aumentou com o início da
guerra contra o terrorismo. O discurso de “nós versus eles” é a base de um sistema

56
político liberal que estabeleceu dois valores absolutos e exclusivos: a violência e não-
violência.

6.7 Mudanças Climáticas

Desde que a vida surgiu, há mais de 3,5 bilhões de anos, os seres vivos vêm
se diversificando e se adaptando às mudanças ocorridas em nosso planeta. Essas
mudanças sempre foram lentas e graduais, dando tempo para que os seres vivos se
ajustassem a elas. A Revolução Industrial, o crescimento urbano desordenado e o
apelo do consumo, tiveram vários impactos ambientais, principalmente relacionados
à poluição do ar, das águas e dos solos. Durante séculos, o homem vem retirando do
meio ambiente matérias-primas para seu sustento e devolvendo poluição e
contaminação.
Os efeitos negativos do homem sobre o meio ambiente começaram
principalmente após a Revolução Industrial, quando houve um crescimento inédito na
civilização humana e em suas cidades. A partir daí, foram surgindo os grandes centros
urbanos. Muitos dos problemas contemporâneos se originaram desse crescimento
desordenado e do desenvolvimento de veículos feitos para servir ao estilo de vida
desses locais, do trem a vapor ao automóvel, conforme Wall e Waterman (2012).
A falta de planejamento adequado, aliada a uma má administração dos
centros urbanos, gerou um grande problema socioambiental: cidades precárias e
insalubres. Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (2012) apontam que o padrão de vida da
população dita privilegiada (que possui boas condições financeiras) incentiva o
consumismo e a demanda por alimentos provenientes de cadeias cada vez mais
complexas e artificiais, o que gera excesso de poluentes atmosféricos. Dentre as
consequências ambientais desse crescimento desordenado, pode-se citar o constante
aumento da lista de animais e plantas ameaçadas de extinção.
O crescimento populacional impulsiona o consumo de recursos naturais, uma
vez que, quanto maior o número de habitantes no mundo, maior a demanda por
materiais para a produção industrial, energética e de alimentos. A consequência do
desenvolvimento industrial e do consumo de recursos sem priorizar os cuidados com
o meio ambiente é a poluição. De acordo com Sánchez (2008), poluição é a

57
introdução, no meio ambiente, de qualquer forma de matéria ou energia que possa
afetar negativamente o homem ou outros organismos.

Aquecimento Global

O aquecimento global deverá mudar as características climáticas de diversas


regiões do planeta nos próximos anos. Os cientistas preveem um aumento da
temperatura média nos próximos 50 anos, entre 4º e 5ºC, o que vai resultar em
diversos impactos ambientais. Em território nacional, nas últimas décadas, as ações
predatórias do latifúndio, as toneladas de resíduos lançadas por ano na atmosfera e
o acúmulo de partículas de fuligem no ar oriundos de queimadas vêm comprometendo
o ecossistema, conforme aponta Ayoade (2007).
Mas, quais serão as reais consequências do aquecimento global? Na
verdade, essa é uma pergunta que a humanidade ainda busca responder. Nos últimos
100 anos, a temperatura global aumentou em média 1,5ºC, o que é muito significativo
para as caracterizações climáticas locais, de acordo com Mendonça e Danni-Oliveira
(2007).

Figura 11 - O aquecimento global provoca o derretimento de geleiras na Terra.

Fonte: https://shutr.bz/3Hjv4pT.

Para diminuir os efeitos do aquecimento global, a humanidade precisa


urgentemente tomar certas medidas, como diminuir o desmatamento e,
principalmente, a emissão de gases gerados pela queima de combustíveis fósseis,

58
como os derivados de petróleo (gasolina e diesel) e o carvão mineral. Isso implica em
mudar o modo de vida e o sistema de consumo, o que afetaria todo o sistema de
produção em que estamos inseridos. Os índices de emissões de gases dependem da
natureza do combustível. Conforme Brito (2005), os gases mais conhecidos
originados pela queima desses combustíveis e com os limites definidos pela legislação
são o monóxido de carbono (CO), os hidrocarbonetos (HC), os óxidos de nitrogênio
(NOx) e os óxidos de enxofre (SOx).
Derivados de petróleo, como gasolina e óleo diesel, continuam sendo os
combustíveis predominantes utilizados nos meios de transportes. No caso do Brasil,
além do diesel e da gasolina, temos o etanol, utilizado tanto como combustível
exclusivo quanto misturado a derivados de petróleo. Há uma expansão no uso do gás
natural veicular, principalmente em veículos leves de uso intensivo (táxis e frotas
cativas) em grandes centros urbanos. No caso do Brasil, apesar do tímido uso de
energia mais renovável, nossa matriz de transportes continua sendo rodoviária, mais
poluente e mais cara, sem incentivos aos modais ferroviário e hidroviário.

6.8 Novas Tecnologias na Sociedade

O desenvolvimento tecnológico permeia a história da humanidade e está


relacionado principalmente ao desenvolvimento de atividades sociais, políticas e
econômicas. Por exemplo, no século XIX, a segunda revolução industrial alimentou o
crescimento das cidades e o capitalismo moldou a sociedade que se seguiu. Durante
a Guerra Fria, quando a tecnologia avançou o suficiente para preocupar os líderes
mundiais, ocorreu a chamada “corrida armamentista”, enfrentando a possibilidade de
aniquilação total se todo o arsenal fosse implantado.
Segundo Munhoz (2020), a tecnologia bélica avançou desde o Projeto
Manhattan, liderado por cientistas alemães presos pelos americanos, e se solidificou
com o lançamento de bombas atômicas no Japão em 1945. A fabricação de bens de
consumo era comum e os suprimentos de guerra aumentaram muito.
Dessa forma, a tecnologia atingiu novos patamares e impactou a organização
do trabalho. Klaus Schwab (2016) argumenta que essa mudança terá impacto direto
no século XXI e pode ser chamada de Quarta Revolução Industrial. A primeira é até
que ponto esse processo está ocorrendo no nexo entre negócios e sociedade. Apesar

59
da desigualdade, o sistema está se tornando cada vez mais cooperativo. A relação
cliente-produto está se tornando parte fundamental da saúde econômica de qualquer
empresa. No entanto, os autores apontam que o impacto desse novo momento tem
sido analisado de diferentes maneiras pelos economistas. A substituição da mão de
obra por máquinas, principalmente softwares de inteligência artificial, causará sérios
problemas sociais, e milhões de pessoas poderão perder sua renda nas próximas
décadas.
Brinjolfsson e McAfee (2015) apontam que a própria definição de computador
mudou drasticamente nos últimos 100 anos. No início do século 20, o termo foi usado
para descrever pessoas que contam ou tabulam processos matemáticos. À medida
que as máquinas se tornavam mais complexas e processavam os símbolos da
linguagem comum, a divisão do trabalho ganhava novos contornos. E esse grande
impacto se deve à disseminação da Internet. Por exemplo, os computadores foram
usados para mapear números de correntistas e perfis para bancos, mas os algoritmos
de hoje são usados para mapear nossos dados pessoais, desde o consumo básico
até os tipos de pesquisa em mecanismos de busca, determinando suas propriedades
características. Toda a organização do dia a dia é feita com aplicativos de celular, e
os smartphones se tornaram um item indispensável.
Um exemplo que o autor deu para ilustrar a mudança moderna são os carros
autônomos. Até os anos 2000, havia pouca crença na possibilidade de substituir o
motorista por um humano, mas há argumentos convincentes para apoiá-la. As
surpresas que ocorrem ao dirigir um carro foram lidas como algo que não pode ser
padronizado e pode ser copiado por máquina.
No entanto, Brynjolfsson e McAfee (2015) demonstram o escopo e a velocidade
da pesquisa tecnológica categórica ao relatar a experiência de carros autônomos.
Além disso, a inteligência artificial já faz parte do cotidiano, podendo ser encontrada
em assistentes pessoais inteligentes como a Siri da Apple e a Alexa da Amazon.
Assim, vemos que a automação industrial não é apenas uma grande invenção, mas
também um problema real, porque reduz a carga de trabalho e, portanto, significa mais
exploração de trabalhadores não qualificados.

60
6.9 A Inteligência Artificial

A inteligência artificial está cada vez mais presente no dia a dia, mas essa
tecnologia é mais antiga do que você pensa e começou a ser desenvolvida ainda na
década de 1950, com o Dartmouth Summer Research Project on Artificial Intelligence
(Projeto de Pesquisas de Verão em Inteligência Artificial de Dartmouth) no Dartmouth
College, em Hanover, New Hampshire, Estados Unidos.
Contudo, seu objeto de estudo continua não sendo muito claro, no sentido em
que o ser humano ainda não possui uma definição suficientemente satisfatória de
inteligência e, para compreender seus processos e a representação do conhecimento,
deve dominar os conceitos de inteligência humana e conhecimento.
Com o decorrer do tempo, surgiram várias linhas de estudo da inteligência
artificial, como a biológica, que estudava o desenvolvimento de conceitos que
pretendiam imitar as redes neurais humanas. Já durante os anos de 1960, essa
ciência recebeu o nome de inteligência artificial, e seus pesquisadores pensavam ser
possível que máquinas realizassem tarefas humanas complexas, como raciocinar.
Depois de um período, na década de 1980, esse estudo sobre redes neurais volta e,
nos anos 90, ele tem um grande impulso, consolidando-o verdadeiramente como a
base das análises de inteligência artificial.

6.10 Aplicação da Inteligência Artificial

O setor de atendimento ao consumidor é um dos mais beneficiados pela


inteligência artificial, porque a eficiência do chatbot (robô atendente) assegura que
todo usuário seja devidamente atendido, solucionando sua dúvida de maneira
imediata ou redirecionando-o à área competente. Porém, como o chat funciona na
prática? Quando o cliente acessa ao site da empresa e deseja tirar dúvidas ou falar
com o representante, há um robô de prontidão para respondê-lo por meio do chat,
assim, ao mesmo tempo em que isso agiliza o processo, por ocorrer imediatamente,
ainda valoriza o tempo dos empregados que prestam o atendimento inicial, permitindo
que eles se dediquem a outros processos internos.

61
6.11 A nova era das viagens espaciais

Um novo capítulo na história das viagens espaciais está sendo escrito, pois
diferente do que aconteceu no passado, hoje os programas aeroespaciais não são
monopolizados pelos países. O setor privado, em tese, está apostando no comércio
interestelar para os próximos anos, visto que empreendedores como Jeff Bezos e Elon
Musk deixam evidenciado seu interesse pela exploração espacial. Em 2022, Bezos e
Musk lançaram foguetes e sondas fora da órbita do planeta, abrindo assim o caminho
para uma nova geração de exploradores, não dependentes exclusivamente de
recursos estatais, como ocorria no passado nos programas espaciais estadunidenses
e soviéticos. Há uma previsão de que nos próximos 50 (cinquenta) anos a humanidade
terá retornado a Lua e tido sucesso em seus projetos de um ser humano pousar em
Marte.

A viagem a lua e suas missões passadas

Após a histórica missão Apollo 11, outras seis expedições seguiram, com
planos para mais três. Infelizmente, os cortes orçamentários da NASA levaram ao
cancelamento das missões Apollo 18 a 20, apesar do sucesso das anteriores, com
exceção da Apolo 13, que enfrentou momentos de grande perigo após uma explosão
no Módulo de Serviço. A experiência da tripulação desta missão foi retratada no
famoso filme Apolo 13. A partir da Apollo 15, um veículo motorizado foi utilizado para
explorar a superfície lunar.
Essas missões coletaram cerca de 380kg de amostras da Lua, que foram
analisadas e revelaram informações valiosas. Descobriu-se que as pedras eram
significativamente mais antigas do que as encontradas na Terra, datando entre 3,2 e
4,6 bilhões de anos. A Apollo 15 também descobriu a Pedra Gênese, que acredita-se
ter sido formada durante a criação da Lua.
Os experimentos realizados na Lua permitiram aos cientistas tirar várias
conclusões. A Lua é composta de material rochoso originário de erupções vulcânicas
e de impactos de meteoritos, possuindo uma crosta espessa, uma litosfera uniforme,
uma astenosfera parcialmente líquida e um pequeno núcleo de ferro. Ela é tão antiga

62
quanto a Terra e ambas são formadas a partir de diferentes proporções de um
reservatório comum de materiais. Não há vida na Lua, pois ela não contém
organismos, fósseis ou materiais orgânicos.
Recentemente, a NASA anunciou planos de retornar à Lua e estabelecer uma
base lunar em um de seus polos, após mais de três décadas desde a última visita
humana. Bilionários como Elon Musk e Jeff Bezo também compartilham objetivos
semelhantes para a exploração da Lua.

6.12 Tempos líquidos

O termo "modernidade líquida" foi cunhado pelo sociólogo polonês Zygmunt


Bauman e, neste artigo, utilizamos várias de suas obras para explorar os principais
aspectos da sociedade contemporânea que o levaram a desenvolver essa definição
para o mundo em que vivemos.
De acordo com as obras de Zygmunt Bauman (2001), a sociedade
contemporânea está passando por transformações em várias esferas, como a vida
pública, vida privada e relacionamentos humanos. Essas mudanças têm
consequências negativas para o tecido social, uma vez que as instituições sociais
perdem sua solidez e se tornam amorfas e líquidas. Bauman define a modernidade
líquida como uma época caracterizada pela provisoriedade, desapego e
individualização, onde a liberdade é acompanhada de insegurança. Como resultado,
muitos indivíduos se sentem impotentes em meio às metrópoles anônimas, assumindo
responsabilidades individuais e buscando soluções biográficas para as contradições
sistêmicas. Infelizmente, essa mentalidade consome o tempo das pessoas, tornando
difícil para elas oferecerem apoio mútuo em uma sociedade onde o próximo é um
desconhecido.
Neste contexto, o relacionamento eu-outro é mercantilizado e frágeis laços de
afeto têm a possibilidade de serem desfeitos frente a qualquer desagrado das partes.
E, deste modo, “O interesse público é reduzido à curiosidade sobre as vidas privadas
de figuras públicas e a arte da vida pública é reduzida à exposição pública das
questões privadas e a confissões de sentimentos privados” (BAUMAN, 2001, p. 46).
Segundo Bauman, a "modernidade líquida" é caracterizada pela intensificação
da violência, terrorismo e individualismo, que se manifestam em espaços não

63
definidos, ou seja, em "lugares-nenhum". Nesse contexto, as cidades do século XXI
são consideradas, pelo sociólogo, cidades da modernidade líquida, uma vez que
fazem parte desta época histórica em que vivemos.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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