LINGUAGEM A linguagem verbal: um sistema simbólico
• A linguagem humana se baseia em palavras (a princípio,
palavras orais – sons articulados; depois, também palavras escritas – representações gráficas desses sons ou ideias), que são organizadas em frases e em conjuntos de frases. Simplificadamente, podemos dizer que a linguagem verbal é um sistema simbólico. Por meio desse sistema, nos comunicamos, expressando nossos sentimentos, nossas impressões do mundo, pedimos ajuda, damos ordens. A linguagem verbal é também matéria-prima para várias formas de expressão artística. Platão • Em sua crítica aos sofistas, Platão afirmava que a palavra é um pharmakon (‘fármaco’, ‘medicamento’, em grego), que pode agir como um remédio ou como um veneno, dependendo da forma como é usada. A palavra, portanto, não seria boa em si mesma, não teria um valor definitivamente positivo. O bom uso da linguagem • O bom uso da palavra, para Platão, ocorre quando ela faz com que o pensamento se exercite em direção ao conhecimento verdadeiro. Em Platão, o processo pelo qual a alma aproxima-se cada vez mais das ideias, da verdade, é o diálogo entre as pessoas, o que deu origem à dialética. O mau uso da palavra • Para Platão, os sofistas não se preocupavam em buscar a verdade; e o conhecimento da linguagem era, muitas vezes, uma ferramenta para persuadir, manipular e enganar, já que nas assembleias a discussão pública era vencida por quem conseguisse envolver aqueles que ignoravam os assuntos tratados. Aristóteles • Aristóteles afirmou que a palavra é pharmakon (nos dois sentidos, como em Platão), mas é também organon, isto é, instrumento do pensamento. Ao procurar estabelecer as regras do discurso correto, Aristóteles definiu as regras do pensamento correto, criando o campo que depois seria conhecido como lógica. Wittgenstein: linguagem e mundo • Em sua primeira obra, Wittgenstein está preocupado com a essência da linguagem, com seu mecanismo de significação das coisas e do mundo. A linguagem é tratada como um sistema de representação e, portanto, algo diferente do mundo, pois aquilo que representa precisa ser diferente daquilo que é representado. Ao mesmo tempo que é diferente, o representante (a palavra) deve ter semelhanças com o representado (a coisa), ou não pode haver representação. Wittgenstein: linguagem e mundo • No pensamento de Wittgenstein, linguagem e mundo estão, portanto, intrinsecamente ligados. É por isso que ele chega a uma interessante afirmação: quanto mais ampla minha linguagem (minhas possibilidades de representação), mais amplo é meu mundo; quanto mais restrita minha linguagem, mais restrito é meu mundo. De modo que, quanto mais amplos meu mundo e minha linguagem, mais possibilidades de pensamento tenho. “Jogos de linguagem” • O filósofo faz uma analogia com os jogos: não existe um único jogo, mas diversos jogos. Eles têm semelhanças entre si (por exemplo, todo e qualquer jogo tem regras), mas são definidos por suas diferenças (ainda que todo jogo tenha regras, regras diferentes significam jogos diferentes). Os jogos também têm componentes e conteúdos distintos, bem como modos de funcionamento diferenciados; por exemplo, futebol e pôquer, xadrez e peteca. Mesmo completamente diferentes entre si, todos são jogos. “Jogos de linguagem” • Para Wittgenstein, as linguagens são múltiplas porque múltiplos são os jogos de linguagem. Esses jogos são os variados usos da linguagem: usamos a linguagem para expressar nossos sentimentos, mas também para dar ordens; usamos a linguagem para pedir desculpas, mas também para fantasiar. Cada um desses usos é um jogo, com regras próprias, elementos próprios, formas de funcionamento próprias. “Jogos de linguagem” • O significado de uma palavra, portanto, não é universal e imutável: depende do jogo no qual ela é usada. Tudo consiste, então, em saber usar as palavras de acordo com o jogo de linguagem em questão. Questões • Explique a relação entre símbolo e linguagem. • Apresente as principais características dos jogos de linguagem em Wittgenstein. • O que devemos compreender quando Wittgenstein afirma que: “Os limites de minha linguagem significam os limites de meu mundo”? • O que significa dizer que a linguagem não possui significado por si mesma e qual a relação dessa afirmação com os jogos de linguagem em Wittgenstein? • Qual a relação podemos estabelecer entre o pharmakon em Platão, os sofistas e a retórica?