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Comunicação e

Linguagem
" Ao contrário dos outros seres vivos que estabelecem relações transação com o meio
ambiente, respondendo mecânica e imediatamente aos estímulos que recebem, o homem
comunica, ao inventar mediações simbólicas de natureza cultural"
( A.D.R, comunicação e linguagem, p.38)
• A relação do homem com o mundo estabelece-se através de mecanismos de mediação:
O corpo e os órgãos dos sentidos como dispositivos naturais de mediação
As modalidades de mediação inventadas como dispositivos culturais de mediação
Linguagem e Mediação
Por mediação entendem-se os dispositivos simbólicos, em geral, e a listagem verbal, em
particular.
A linguagem verbal é o medium por excelência
Designa os objetos do mundo, as coisas e o estado das coisas existentes realmente, como
também pode designar-se a si própria ( função reflexiva, metalinguística )
Características da linguagem verbal ( A.D.R, Introdução à Semiótica P.9-10)
o Só a linguagem verbal pode dar conta das modalidades não linguísticas dá significação
oSó a linguagem verbal pode significar a própria linguagem, através do discurso indireto
o Só a linguagem verbal pode significar a maneira como a linguagem constrói as suas
significações
Linguagem e Mediação
Relação indissociável da linguagem à experiência
o A experiência compreende o conjunto de fenómenos vividos pelos seres humanos e o conjunto
dos saberes por eles interiorizados, ao longo do processo de socialização.
oA montante, " a linguagem já está à partida de toda a nossa atividade Semiótica, como herança
que recebemos é que preside à organização da nossa percepção do mundo e ao sentido que ele
tem para nós " ( A.D.R, Introdução à Semiótica, p.10)
oA jusante, o homem só entende as significações do mundo que o envolve na medida em que as
pode " manifestar" verbalmente ( A.D.R.. Introdução à Semiótica, p.10), ou para si mesmo,
intrapessoal, ou para os outros, interpessoal.
oÉ na e pela linguagem que a experiência se constitui e se revela o seu sentido ( linguisticidade
da experiência )
Linguagem e Mediação
A experiência é constitutiva de três nomes: o mundo natural, o mundo subjectivo e o mundo
intersubjetivo
oA experiência do mundo natural corresponde ao " conjunto dos objetos e dos fenómenos que
não dependem da nossa vontade, que apreendemos diretamente através dos nossos órgãos dos
sentidos e que, deste modo, provocam respostas do nosso organismo e nos levam a adotar
determinados comportamentos " ( A.D.R, Paradigma Comunicacional , p47)
oA experiência do mundo subjectivo compreende " o conjuntos das vivências ao longo da nossa
existência e os saberes das nossas sensações, dos nossos gostos, das maneiras como
habitualmente nos comportamos, quer para criarmos o nosso mundo e influenciarmos o seu
curso, quer na resposta aos estímulos que dele recebemos " (A.D.R, PC, p55)
Linguagem e Mediação
oA experiência do mundo intersubjetivo consiste na " competência não só para adotar
comportamentos adequados a diversas circunstâncias em que ocorrem as interações e aos
conhecimentos interiorizados das normas que as regulam, mas também para atribuir sentido
tanto aos fenómenos de interação empreendidos como aos que são observados"( A.D.R, PC,
p.49) – experiência dos outros ou da intersubjetividade.
Linguagem e Mediação
No caso da experiência intersubjetiva, consideramos a relação com:
o Os nossos predecessores, através da observação e da interpretação das obras que nos
deixaram
oOs vindouros, através da suposição do que pode acontecer a partir do que observamos nos
nossos dias

Da interação com os contemporâneos, distinguimos:


oAqueles com que temos uma experiência direta da realidade (os nossos associados)
oOs outros que não possuem a mesma experiência da realidade
LINGUAGEM E MEDIAÇÃO
oA emergência da linguagem coloca-nos perante a questão de saber como é que podemos
simbolizar, representar, tornar presentes, a nós e aos outros, o mundo, as coisas, os
acontecimentos na sua ausência
oSo posso comunicar sobre as coisas nomeado-as por palavras porque o homem é o único ser
vivo que sendo um "Ser de linguagem" tem a capacidade ou faculdade de denominar/ nomear
mediante processos de abstração
o"... Ao contrário dos outros seres vivos, que estabelecem relações de transação com o meio
ambiente, respondendo mecânica e imediatamente aos estímulos que recebem, o homem
comunica, no sentido próprio deste termo, ao inventar mediações simbólicas, de natureza
cultural" (A.D.R, comunicação e cultura, p.38)
Linguagem e Mediação
"Os signos não só representam o meio ambiente; intervém também na sua elaboração,
convertendo-o numa realidade especificamente cultual (humana), naquilo que designamos pelo
nosso mundo (Welt, em alemão ). " A.D.R Comunicação e cultura, p.38

"É por isso que aquilo que não sabemos dizer não existe realmente para nós, não integra o
nosso mundo humano" A.D.R Introdução à Semiótica p.10
" Se a linguagem e a matéria do pensamento, e também o próprio elemento da comunicação
social. (...) Por isso evitamos afirmar que a linguagem e o instrumento do pensamento (concecao
instrumentalista da linguagem). Tal concepção podia fazer crer que a linguagem exprime, como
um utensílio, qualquer coisa – uma ideia? – de exterior a si. Mas o que é esta ideia?"
" A linguagem e simultaneamente o único modo de ser do pensamento, a sua realidade e a
sua realização " KRISTEVA, História do pensamento, p.16 e 17
Crítica à concepção instrumentalista da
linguagem
" a pergunta clássica :
Qual é a função primeira da linguagem: a de produzir um pensamento ou a de comunicar?
Não tem nenhum fundamento objetivo " ( Julia KRISTEVA, p.18)
Processo de comunicação linguístico (esquema de KRISTEVA) p
Falar de si próprio = patamar interpessoal
Falar a si próprio = patamar intra-pessoal

" todo o pensamento é diálogo na sua forma" -Pierce


A linguagem como
objeto de estudo
LINGUA GEM VERBA L
A linguagem como objeto de estudo
Filogia (textos Linguística
escritos) (Língua de um ponto de
vista formal )
Linguagem
verbal Gramática
(norma) Ferdinand de
Saussure
(1857-1913)

Gramáticas
comparadas
oA língua enquanto sistema e a fala como execução do
sistema linguístico
oSincronia/ Diacronia: perspetiva de estudo da língua
Perspetiva histórica e dinâmica (Diacronia); corte no tempo,
4 Dicotomias atualidade da língua(sincronia)- valoriza
oSignificante/ Significado = signo linguístico
oRelação de signos entre si = relações sintagmáticas/
paradigmáticas
A linguagem como objeto de estudo
oSaussure --> corrente do estruturalismo que corta com o sujeito.
oA língua é observada do ponto de vista autónomo independentemente do sujeito.
oCortar com o relativo, o subjectivo.
oFoco no autónomo , na língua enquanto sistema fechada em si mesma.
oRompe com as tendências anteriores
oObjetivo: estudos universais linguísticos
Linguagem, língua e fala
Ferdinand de Saussure ( 1857- 1913)
o " Tomada no seu todo, a linguagem é multiforme e heteróclita; abrangendo vários domínios,
simultaneamente física, fisiológica e psíquica, pertence ainda ao domínio individual e ao
domínio social ; não se deixa classificar em nenhuma categoria de factos humanos porque não
sabemos como destacar a sua unidade "
oLíngua – " podemos localizá-la na porção determinada do circuito onde uma imagem auditiva (i)
se vem associar a um conceito (c)"
oÉ isolada do conjunto heterogéneo da linguagem: deste universo retém apenas um " sistema
de signos em que o essencial é só a união do sentido(sdo.) e da imagem acústica (ste.) – relação
de significação
oFala- é " sempre individual e o indivíduo é sempre senhor dela" ; é " um ato individual de
vontade e de inteligência " ; combinação do código por parte do sujeito falante e os atos de
fonação.
Lingua e discurso- Emile Benveniste
(1902- 1976)
oLingua- conjunto de signos formais, estratificada em escalões sucessivos, que formam sistemas
e estruturas
oDiscurso- designa de um modo rigoroso a manifestação da língua na comunicação viva
Implica a participação do sujeito na linguagem através da fala do indivíduo
oA noção do discurso implica a noção do sujeito (usos infinitamente variados que fazemos da
língua).
oNo discurso, a língua comum a todos torna-se o veículo de uma mensagem unica, propina da
estrutura particular de um determinado sujeito que imprime sobre a estrutura obrigatória da
língua uma marca específica, pessoal
O signo linguístico em SAUSSURE (1857-
1913)
• A ligação que o signo estabelece e entre um conceito é uma imagem acústica
•A imagem acústica não é o som em si mesmo, mas a "marca psíquica desse som, a
representação que dele nós é dada pelo testemunho dos nossos sentidos"
•O signo é uma unidade psíquica com duas faces, sendo uma o conceito e a outra a imagem
acústica

Conceito
"Pedra" "X" Significado
Imagem
/pedra/ /X/ Significante
acústica

•O signo linguístico é definido pela relação significante-significado (relação de significação )


Características do signo linguístico
•O signo é arbitrário - não há nenhuma ligação necessária, motivada entre o significante e o
significado.
•O arbitrário do signo quer dizer normativo, absoluto, válido é obrigatório para todos os sujeitos
que falam a mesma língua
•Críticas de Emile Benveniste:
•A relação entre o significante e o significado (relação de significacao) é necessária, obrigatória.
•O que é arbitrário e a relação do signo com a realidade que a nomeia (relação de representação
)
O signo em Pierce (1839-1914)
" Um signo, ou representamen, é uma coisa qualquer que está para alguém em lugar
de outra coisa qualquer sob um aspecto ou a um título qualquer. Dirige-se a alguém,
isto é, cria no espírito desta pessoa um signo equivalente ou talvez um signo mais
desenvolvido. A este signo que ele cria dou o nome de interpretante do primeiro
signo. Este signo está em lugar de qualquer coisa: do seu objeto. Está em lugar deste
objeto, não sob todos os aspetos, mas em referencia a uma espécie de ideia a que por
vezes tenho dado o nome de fundamento do representamen"
PIERCE, in A.D.R, Introdução à Semiótica, p.90
O signo em Pierce – objetos reais

REPRESE
NTAMEN

OBJETO
INTERPRE
REPRESE
TANTE
NTADO
As três categorias de signos (consoante a relação
entre representante e objeto representado)
• O ícone refere-se ao objeto por uma semelhança com ele.
•Exemplos: O desenho de uma árvore, o mapa de um território.
•O indice/Indício tem qualquer coisa de comum com o objeto, isto é , mantém com ele uma
relação de continuidade.
•Exemplos: fumo, índice de fogo; certo odor como índice de jantar.
•O símbolo refere-se ao objeto que ele designa por uma espécie de lei, de convenção.
•Exemplos: signos linguísticos; balança, símbolo da justiça; pomba branca, símbolo da paz.
Dimensões da linguagem e critérios de
validade Discursiva – A linguagem é um mapa e
não um decalque

oQualquer ato de linguagem possui um sujeito da enunciação, referente (linguístico) e a língua


oDimensão designadora ou referencial: consiste na relação da linguagem com as coisas ou o
estado de coisas exteriores – a linguagem refere-se ao que é. Relação de representação: o signo
está para pressentiriam a "coisa" ausente.
oCritério de validade: verdadeiro/ falso. Se eu atribuir uma etiqueta certa a um objeto o
enunciado é verdadeiro por exemplo "isto é uma garrafa" e pego numa garrafa então eu
reconheço o enunciado como verdadeiro.
oDimensão manifestadora ou expressiva: trata-se da ligação da linguagem ao sujeito que fala e
se exprime. Discurso: existe sempre um sujeito de enunciação (estratégias discursivas/de
comunicação).
oCritério de validade: dizer verdade/mentira sinceridade, convicção, desejo, crença...
Dimensões da linguagem e critérios de
validade Discursiva – A linguagem é um mapa e não
um decalque
oDimensão signíca ou simbólica: Estabelece a relação dos signos linguísticos com os conceitos
universais e gerais e as suas ligações sintáticas. É da ordem do sistema da língua.
oRelação de significação: significante/significado; imagem acústica/conceito: argumentação,
ficção, verosímil.
oCritério de validade: condição de possibilidade no sistema da língua. Existe ou não existe no
sistema da língua. "Condição de verdade"/ absurdo: o que não tem significação, o que não pode
ser verdadeiro nem falso.
Concepções da linguagem
oconcepção referencial: a linguagem tem sentido pelo facto de, quando falamos, designarmos o
mundo
oAs palavras são como etiquetas que colocamos nas coisas a que nos referimos. A plurivocidade
é uma deficiência das linguagens naturais (as que nascem connosco).
o concepção simbólica: sublinha a autonomia da dimensão simbólica em relação à função
referencial, por considerar que a presença do homem ao mundo não é imediata, mas mediada
pela linguagem.
A linguagem tem sentido mesmo que represente ou não alguma coisa.
Concepções da linguagem
oA plurivocidade não é um problema, mas a forma natural de a linguagem significar. As palavras
são construções mentais de natureza cultural destinadas a mediar a relação do homem ao
mundo.
oO mundo nao é um “datum” (dado) mas sim algo que é construído discursivamente,
“constructum”
oA dimensão interlocutiva - é aquela que a pragmática ds linguagem vai estudar
Nem o mundo, nem o homem, nem a linguagemsao entidades singulares e autonomas. Quando
falamos, trocamos linguagens diversas, com interlocutores diferentes acerca de uma
multiplicidade de mundos diferenciados.
A dimensao interlocutiva considera a multiplicidade de linguagens, de interlocutores e de
“mundos” - de realidades de 2a ordem.
Trata da relacso de troca de discursos entre homens situados num espaco especifico de
interlocucao -> espaco agonistico (agonia: luta, confronto), logomaquia: luta constante de
palavras
É ao estudo da dimensao interlocutiva da linguagem que a pragmatica se dedica.
As perspetivas ou divisoes da pragmatica
da linguagem
perspetiva indexical e enunciativa:​ o estudo das relacoes da linguagem com: os interlocutores,
as situacoes, os contextos da enunciacso, o mundo representado pelos signos linguisticos
Exemplo​: minuto de silencio no comboio. So quando disseram é que se tornou real
Modalidades de referência
oRelativa
oDíctico: Manifestação ou indicação
oSão unidades verbais que ancoram os enunciados à situação enunciativa como por exemplo:
'eu', 'tu', 'aqui', 'agora', 'hoje em dia ' ; são indicadores que organizam relações espaciais e
temporais à volta do sujeito da enunciação tomado como ponto de referencia.
oUm díctico é um signo vazio que só se preenche no momento em que está a ser usado.
oPossui uma referencia relativa, isto é, a identificação do referente varia de cada vez em que
alguém os enuncia.
oSempre que referir eu , tu, nos, vos, é relativo. Eles e elas é absoluto.
oA referência varia, apesar de a significação ser invariante; a referencia é relativa ao processo de
enunciação ou a algumas das suas instâncias : o locutor, o alocutário, o lugar e o momento em
que a enunciação ocorre
O Manuel é moreno : modalidade absoluta
Eu sou moreno: dístico eu logo relativo
"Eu" é a 1 pessoa do singular : metalinguística
Utilizações da linguagem – a tese da
dupla referencialidade da língua
oModalidade de ocorrência referencial: utilização transparente da linguagem: uso ( valores de
representação e valores dícticos) x --> y
oModalidade de ocorrência auto-reflexiva : utilização opaca da linguagem: menção (valores
auto-reflexivos )
Funções de representação da linguagem
oA linguagem concilia as funções de :
oRepresentar o mundo : valores referenciais/ de representação
oRepresentar-se a si própria : valores auto-reflexivos
oRepresentar o próprio processo de enunciação ou alguma das suas instâncias : valores dícticos
Relação enunciado/ enunciação
oCoexistência, no mesmo ato enunciativo, de duas instâncias de natureza diferente:
oAquilo que o enunciado afirma
oĒ a enunciação que o produz e que ele mostra
oEnunciação : acontecimento ou dispositivo que faz existir ou realiza o(s) enunciado(s)

o"Penso que amanhã vai chover" :


oA componente em que se reflete a modalidade da enunciação (MODUS)-penso que
oA componente que exprime aquilo que o enunciado diz (DICTUM) – amanhã vai chover
Relação enunciado/ enunciação
oEntre aquilo que o enunciado assenta é aquilo que a enunciação mostra existe uma relação em
abismo
oUma enunciação só pode ser propriamente referida por um outro processo de enunciação que
refira o primeiro, encaixando-o num novo processo de enunciação
o" eu disse que pensava que amanhã ia chover"
A subjetividade do discurso e a
intersubjetividade da linguagem
o o processo de referência implica as noções de discurso e de sujeitos de interlocução,
até porque a referencia de algumas unidades verbais depende das suas relações com a situação
enunciativa ou qualquer uma das suas instâncias.
oOs dícticos desempenham uma função particular, a de se referirem aos interlocutores, ao
tempo e ao lugar do processo enunciativo
o" É na e pela linguagem que o homem se constitui como sujeito; porque só a
linguagem funda realmente na sua realidade, que é a do ser, o conceito de "ego".
Benveniste citado por ADR, p.84
A subjetividade do discurso e a
intersubjetividade da linguagem
o Natureza recíproca da relação eu – tu - > o facto de o tu se assumir como eu para si próprio e
de o eu se converter num tu para o seu alocutário é o que torna possível o diálogo, ou seja, a
relação interlocutiva que confere sentido ao que os interlocutores empregam para se
constituírem como tal .
oÉ a relação que as pessoas da enunciação estabelecem entre si que define a natureza
interlocutiva do discurso.
A subjetividade do discurso e a
intersubjetividade da linguagem
o" Logo que alguém se declara locutor e assume a língua, implanta o outro em face
de si, qualquer que seja o grau de presença que atribui a este outro. Qualquer
enunciação é, explícita ou implicitamente, uma alocução, postula um alocutário"
oBenveniste citado por ADR, p.86

o" a consciência de si só é possível se se tomar conhecimento de si por contraste. Eu


só utilizo eu ao dirigir-me a alguém, que na minha alocução será um tu. É esta a
condição de diálogo que é constitutiva da pessoa, pois implica que, reciprocamente,
eu me torne tu na alocução daquele que, por sua vez, se designa por eu.
A intersubjetividade da linguagem
oAqui se situa um princípio cujas consequências se projetada em todas as direções. (...) A
polaridade das pessoas é a condição fundamental da linguagem. (...)
oA linguagem propõe, de certo modo, formas 'vazias' de que cada locutor se apropria em
situação de discurso, e que relaciona com a sua 'pessoa', definindo-se ao mesmo tempo como eu
e definindo um parceiro como tu. Assim, a instância de discurso é constitutiva de todas as
coordenadas que definem o sujeito.
oNão é a materialidade das unidades verbais mas os falantes que, ao usarem-nas com uma
determinada intencionalidade, lhes conferem ou não uma determinada função indexical,
fazendo com que elas se refiram ao mundo, isto é, com que possuam uma determinada
referencia.
A intersubjetividade da linguagem
" Na enunciação, a língua ê utilizada para a expressão de uma determinada relação ao mundo.
(...) A referencia é parte integrante da enunciação "
oBenveniste citado por ADR p.87
oO enunciado é autónomo da enunciação
A enunciação
o É um acontecimento que faz existir ou realiza um enunciado
oSendo intrínseca ao enunciado, não se confunde com ele

o Não está sujeita às condições de verdade, mas a regras de natureza causal.

oRealizada ou não / enunciação (causa) ----> enunciado (efeito) / condições de verdade


o" Eu não falo português " : se esta enunciação ocorreu então quem o disse estava a mentir
A enunciação
oRealizada ou não : quadros de sentido : contrato referencial
oDefine a aceitabilidade, a razoabilidade e a relevância dos processos de referência
oÉ um ato realizado implícitamente ou pressuposto pelos interlocutores

oQuadros de sentido : fronteiras que delimitam o espaço :


oDentro do qual determinadas realidades são razoáveis e plausíveis
oE fora do qual seriam absurdas
As modalidades da experiência
oAntiguidade e atualidade : recortes cronológicos
oTradição e Modernidade – representações do mundo que encontramos em qualquer época
histórica.

oManeiras distintas e, em grande parte, opostas e, por isso, potencialmente tensas, de


experienciar o mundo, de legitimar as ações e os discursos, de dar sentido à experiência, de
integrar os acontecimentos num todo coerente.
As modalidades tradicional e moderna
da experiência
v Experiência tradicional – fundamenta-se em saberes que são tidos como legítimos por terem
sido transmitidos e invocarem autoridades transcendentes ao mundo dos homens (Deus, a
tradição) ; e não por se fundarem em razões invocadas de maneira reflexiva

Sabedoria tradicional (experiência particular e localizada do mundo )


Experiência moderna- consiste no processo de racionalização dos mundos da experiência (
autonomização dos três mundos: natural, subjectivo e intersubjetivo) e está intimamente
associada à emergência de uma nova modalidade de saber, o saber disciplinar
vEspecialista e perito
A modalidade moderna da experiência
q O processo de secularização, a que Max Weber dá o nome de desencantamento da
experiência, caraterizando-se pelo facto de o homem descobrir que o seu destino depende
desci próprio é não de forças transcendentes.
qA modernidade, ao apelar para a razão como fundamento do agir e do falar, rompe com a
fundamentação transcendente própria da experiência tradicional

A viragem da Modernidade associada aos ideias do Iluminismo ou das Luzes

Deslocalização da experiência
CORREIA, João Carlos, Comunicação e
Cidadania, cap.IV, p.117-8

o" a partir da modernidade, em substituição de uma comunidade universal de crentes, assistiu-


se à deslocação da religião (...) da posição central que ocupava na vida das sociedades.
oA religião perdeu o seu caráter de fundamento último da validade pública da moral partilhada
por todos.
oA validade das normas tidas como universalmente vinculativas deixou de se poder explicar com
o recurso a interpretações que implicavam a intervenção de um ente divino.
CORREIA, João Carlos, Comunicação e
Cidadania, cap.IV, p.117-8

oCom o declínio da explicação transcendental- ou seja, do ponto de vista de Deus,- (...) o


problema da legitimidade acabou por se afirmar porque se desenvolveu um pluralismo de
cosmovisões que privou o poder secular ( poder laico não religioso) do fundamento religioso
que representava a Graça de Deus, obrigando o Estado e as normas que regem as vidas
individuais e das comunidades e a legitimarem-se a partir de outras fontes.
CORREIA, João Carlos, Comunicação e
Cidadania, cap.IV, p.118
oA escolha do destino de cada de cada um passa a ser sinônimo, num sentido social, da
existência de possibilidades infinitas, já que a posição social é um dado em aberto, uma vez que
deixa de depender do nascimento. O individualismo sedimenta-se na medida em que cada
homem se interessa pela forma como deixa a sua marca no Mundo.
oA modernidade, de um certo modo, é o reconhecimento de que é o homem (ela não Deus) a
medida de todas as coisas. (...)
oA subjetividade emerge como uma força poderosa capaz de desafiar os poderes estabelecidos e
os horizontes de significação tradicionais. (...) o sujeito, com a secularização das grandes
narrativas, torna-se possível construtor do seu destino no mundo"
A emergência da questão
comunicacional na modernidade
oDiferenciação moderna dos domínios da experiência

oAutonomização e institucionalização de uma diversidade de Campos sociais

oDificuldade de compatibilizar entre si exigências legítimas diferentes e, até, contraditórias


o- questão comunicacional-
A emergência da questão
comunicacional na modernidade
q" Numa sociedade moderna e complexa, os mapas de orientação são cada vez mais ambíguos,
tortuosíssimo contraditórios " J.C.C p.119
qDe indiscutível, impondo-se a todos em discussão, o sentido passa a depender da possibilidade
de invocar razões para a ação e para o discurso.
qPromove-se o questionamento de como descobrir o caminho a seguir para fundamentar os
comportamentos e os discursos e, deste modo, aceitá-los como legítimos
A.D.R,Comunicação e Cultura, p.29-30
v " Nas sociedades tradicionais, a comunicação estava regulada de antemão por quadros
relativamente estáveis, definidos dentro das fronteiras das comunidades de pertença.
vApesar da divergência das opiniões e dos conflitos, a legitimidade para dizer é para agir era
tradicionalmente regulada pelo respeito indiscutível da autoridade e da tradição .
Legitimidade assente na autoridade " daquele que fala"

Desencantamento Secularizante (racionalização da experiência moderna )

No mundo moderno, pelo contrário, a inovação é um processo acelerado e as posições


contraditórias coabitam no seio das mesmas sociedades, sem que nenhum acabe por se impor
ou substituir outras"
vLegitimidade decorre da indagação da razão humana
Teoria dos Campos Sociais
oNas sociedades tradicionais, os campos económico, religioso e político funcionam como um
único bloco, obedecendo a uma mesma legitimidade transcendente.

oDesencantamento Secularizante
oRacionalização da experiência moderna
oNa viragem da modernidade, os três Campos sociais: religioso, político e económico
autonomizam-se e proliferam, procurando cada um ocupar o lugar central deixado em aberto
pelo campo religioso.
Teoria dos Campos Sociais
oCada um destes campos ( instâncias legítimas autónomas que criam, impõem, sancionam e
restabelecem as regras do dizer e do agir próprias a cada esfera da experiência ) reivindica uma
esfera de competência e autoridade que procura legitimar posições contraditórias.
oAutonomização dos campos sociais na modernidade

oRuptura em relação à ordem totalizante do religioso

oCaracteriza-se pela fragmentação do tecido social numa multiplicidade de esferas de


legitimidade
Esferas de experiência – domínios
distintos

qOntologia : verdadeiro vs falso


qÉtica: bem/ bom vs mal/mau
qEstética: belo vs feio
Teoria dos Campos Sociais
oUm campo social constitui uma instituição social
oOs campos sociais constituem esferas de legitimidade que impõem com autoridade indiscutível
atos de linguagem, discursos e práticas conformes, dentro de um domínio específico de
competência ; impõem uma ordem axiológica própria ( conjunto de valores que se impõem a
todos com força vinculativa)
oA legitimidade é o critério fundamental de um campo social
oA especificidade de um campo social consiste na averiguação do domínio da experiência sobre
o qual é competente e sobre o qual exerce uma competência legítima publicamente
reconhecida e respeitada pelo conjunto da sociedade
oOs campos sócias asseguram a sua visibilidade pública pela imposição de uma simbólica
própria.
Teoria dos Campos Sociais

oA visibilidade do corpo social (conjunto dos detentores da legitimidade instituinte de um


determinado campo social) é tanto maior quando mais formal for a organização do respetivo
campo
Teoria dos Campos Sociais

oUm campo social desempenha dois tipos de funções dentro do seu domínio de competência :
oFunções expressivas ou discursivas ( domínio do dizer)
oFunções pragmáticas ou técnicas (domínio do fazer)
Teoria dos Campos Sociais
o Um campo social possui diversos regimes de funcionamento consoante os lugares e os
momentos ( regime lento e acelerado)
o Dos processos e das funções entre os diferentes campos sociais resultam reflexos, que
designamos por dimensões públicas que se projetam em cada um dos campos e o atravessam
oNo funcionamento estratégico dos campos sociais, podemos distinguir dois tipos de estratégias
: a cooperação e o conflito
oCom a autonomização e a constituição moderna dos campos sociais institui-se aquilo a que
damos o nome de publicidade ("publicity"), entendida como processo tornar público
oÉ este processo que está na origem da autonomização e constituição do campo dos media –
campo especializado na regulação dos valores da publicidade
Autonomização do campo dos media
relativamente aos outros Campos sociais
oO campo dos media não gere um domínio de experiência específico, mas um domínio
constituído por uma parte dos domínios da experiência que os restantes campos sociais neles
delegam

oO campo dos media possui uma legitimidade de natureza delegada ou vicária que marca a
especificidade do seu domínio próprio de competência : a mediação entre os diferentes campos
sociais, religando entre si o mundo fragmentado moderno.
Autonomização do campo dos media
relativamente aos outros Campos sociais
o O efeito mais notável que o campo dos media exerce sobre a nossa experiência do mundo é o
chamado efeito de realidade, o facto de a realidade tender para o resultado do funcionamento
dos dispositivos de mediação, autonomizando-se e sobrepondo-se à percepção espontânea dos
nossos órgãos sensoriais
o" Media" na expressão 'campo dos media' designa a instituição que é dotada de legitimidade
para superintender a gestão dos dispositivos de mediação da experiência e dos diferentes
campos sociais.
Falta uma aula
Esfera pública burguesa (séc XVIII, p.107)
o Domínio privado : sociedade civil (troca de mercadorias e do trabalho social )- espaço íntimo da
família conjugal (intelligentsia burguesa )
oEspaço público : esfera pública política – esfera pública literária (clubes, imprensa) (mercado de
bens culturas) "cidade"
oEsfera do poder público : estado (domínio da 'policia' – corte ( sociedade aristocrático-cortesã)

oA opinião publica só pode por definição existir, quando um público que faz uso da razão está
envolvido
Jürgen Habermas
A transformação estrutural da esfera
pública (1962)
oA esfera pública burguesa regula a relação entre o estado e as necessidades da sociedade civil, a
partir da autonomização de uma opinião – a opinião pública – devidamente fundamentada que
promove a força do melhor argumento

o" Pratica dialogicamente discursiva de deliberação "


oPrincípios de funcionamento pp.114 a 117
oParidade na argumentação (igualdade de estatutos dos participantes – universalidade do acesso
)
oLaicização da cultura que depois se estendeu à política ( abertura temática) – a autoridade a
priori vai cedendo lugar à discussão racional
oNão fechamento do público ( abertura da participação )
Um espaço de comunicação alargado está configurado : a comunicação agonistica, através da
qual os indivíduos fazem uso público da razão , com a publicitação das suas ideias e a defesa
argumentativa das suas posições .
Papel da comunicação 116-117
oÉ por via da comunicação que a esfera pública se afirma
oO exercício da publicidade que é feito por via comunicacional
oPratica argumentaria e a for,a como a mesma favorece o exercício da crítica
oJornalismo de opinião : função política do jornalismo –função mobilizadora ; exigência
oRedações como prolongamento do espaço público
Transformações da esfera pública jürgen
Habermas, 1962
§Degradacao do universo cultural:
§Desprivatizacao da esfera íntima a partir da hegemonia da lógica mercantilista/ lucro
§Dissolução dos centros convencionais de cultura
§O consumo coletivo substitui o consumo público: a realidade de massa. " do público que
raciocina sobre a cultura ao público que consome cultura" pág. 282
§A encenação do debate e da discussão :o papel da publicidade na transformação do público em
objeto consumidor de produtos discursivos
§Expansão do consumo/ degradação da qualidade
Transformações da esfera pública
Manifestações desta degradação ao nível da imprensa :
•Facilitação psicológica/ simplificação dos conteúdos / esvaziamento político da imprensa
•As técnicas soft de informação vs opinião e das notícias
•A imprensa, de veículo da opinião publicamente produzida nos espaços de debate e convívio,
torna-se, a pouco e pouco, produção de opinião" .
Manifestações desta degradação ao nível dos audiovisuais:
•Maiores capacidades de manipulação da realidade – inibição do exercício racional
•Enfraquecimento da capacidade de resposta ao público : a massa como antítese do público
(padrões universais do consumo)
Ambivalência do espaço público
contemporâneo

vAlargamento do público, mas inibição da sua capacidade de participação e restrição da


discussão (limitação de assuntos)
vDa opinião pública como forma de constituição da vontade coletiva à pseudo-opinião pública
enquanto construção estratégia, com mera função de justificação de interesses políticos
vA opinião pública continua a constituir o suporte principal de legitimação do poder, mas
passou de estatuto de função crítica ao estatuto de função aclamativa
Descentralização e diversificação dos mass
media na década de 80 do século passado
vOs jornais passaram a disponibilizar edições paralelas consoante as cidades
vOs aparelhos tipo walkman transformaram a seleção pessoal de música
vA radio especializou-se com estações temáticas
vOs videogravadores como alternativa à programação da tv
vOs telediscos modificaram a indústria musical
vA possibilidade de gravação de programas de televisão mudou os hábitos das audiências e
reforçou a seleção
vO facto de as pessoas terem começado a filmar os seus próprios eventos modificou o fluxo de
sentido único das imagens e reintegrou a experiência da vida no ecrã
vOs canais de televisão multiplicam-se
Descentralização e diversificação dos
mass media na década de 80 do século
passado

v Estes media descentralizados e diversificados determinam uma audiência segmentada e


diferenciada,que já não é uma audiência de massa em termos de simultaneamente e
uniformidade da mensagem recebida.
As 'novas' formas de mediação da
experiência na sociedade em rede,
Castells, 2000
o A diversificação dos media continuou, no entanto, a não transformar a lógica unidirecional da
sua mensagem, nem a permitir o feedback da audiência
oPara que a audiência se pudesse manifestar teve de esperar pela internet 1995) – a espinha
dorsal da comunicação global mediada por computadores (CMC)
oPermitiu que surgissem on-line novas formas de sociabilidade e novas formas de vida urbana
adaptadas ao novo ambiente tecnológico, nomeadamente as comunidades virtuais
oComunidades pessoais: "redes sociais de indivíduos, com laços informais e interpessoais,
variando entre meia dúzia de relações íntimas e centenas de laços frágeis ... Ambas,
comunidades de grupo e comunidades pessoais, operam online assim como offline" p.469
As 'novas' formas de mediação da
experiência na sociedade em rede,
Castells, 2000
§ O que sabemos sobre o que está a acontecer na internet?
§Tal como nas redes pessoais físicas, a maioria dos laços existentes nas comunidades virtuais são
especializados e diversificados.
§Os utilizadores juntam-se às redes ou a grupos online com base em interesses e valores
partilhados.
§A interação na internet parece ser tão especializada/funcional como aberta/solidária
§A rede é particularmente adequada ao desenvolvimento de múltiplos laços fracos que facilitam
a ligação entre indivíduos com diferentes características sociais e expandem a sociabilidade
além de fronteiras socialmente definidas de reconhecimento mútuo.
As 'novas' formas de mediação da
experiência na sociedade em rede,
Castells, 2000
As comunidades virtuais são verdadeiramente comunidades? Sim e não!
q São redes sociais interpessoais, na sua maioria baseadas em laços fracos, altamente
diversificadas e especializadas, aptas a gerar reciprocidade é apoio através das dinâmicas da
interação sustentada
qNão existem isoladas das restantes formas de sociabilidade, mas reforçam a tendência para a
'privatização da sociabilidade' (a reconstrução de redes sociais em torno do indivíduo, o
desenvolvimento de comunidades pessoais físicas e online)
qA democracia está a ser reforçada através de experiências electrónicas de participação cívica
que demonstram o potencial das redes de comunicação por computador como instrumentos
auto-organizadores e de debate público (refuncionalização do espaço público )

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