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Língua e linguagem
A linguagem é como uma pele: com ela eu entro em contato com os outros.
(Roland Barthes)
Esta frase do linguista Roland Barthes inicia a nossa aula, pois trataremos,
fundamentalmente, da comunicação. Como estamos nos comunicando com os outros?
Língua e linguagem
Denomina-se língua o sistema linguístico utilizado por determinada comunidade de
falantes que reconhece os mesmos elementos e as mesmas regras. Assim, língua é um
instrumento de comunicação. A língua pode “escrita” ou “falada” e pode variar de acordo
com as condições sociais, culturais, regionais e históricas em que é utilizada.
Selecionamos alguns exemplos de variação linguística.
Fonte: www.estudopratico.com.br
Fonte: alessandraferreiramoraes.blogspot.com.br
Nesta representação, ambos os falantes se expressam da mesma maneira, o que caracteriza uma
variação linguística geográfica (ou regional).
Fonte: fronteiraslinguisticas.blogspot.com.br
Na tirinha, podemos notar uma mudança na forma de falar relacionada ao tempo histórico.
Não podemos considerar que essas variações linguísticas sejam incorretas. São apenas
modos diferentes de se utilizar a língua.
É preciso registrar que a língua é dinâmica, ou seja, ela se modifica com o tempo.
A língua não nos permite apenas expressar pensamentos, emoções e sentimentos. Ela nos
permite ampliar nossos conhecimentos e dar conta da realidade que nos cerca.
O estudo da língua também compreende duas modalidades: a norma culta e a norma
coloquial.
Define-se como “linguagem” a capacidade específica que o ser humano tem de se
comunicar, o que pode ser feito utilizando-se a língua ou por meio de expressões corporais
e faciais, sinais, símbolos, imagens, manifestações artísticas etc. Portanto, a linguagem
pode ser verbal (falada ou escrita) e não verbal.
Com vimos, a linguagem pode ser “verbal” ou “não verbal”. O importante é que, ao
estabelecermos comunicação com alguém, utilizemos as formas mais adequadas para
expressar a mensagem que pretendemos transmitir. Embora a língua seja a principal forma
de linguagem, ela pode ser complementada ou mesmo substituída para que a mensagem
seja enviada de forma mais eficaz.
Ao longo da história, o ser humano utilizou diversas linguagens para se comunicar. Na Pré-
história, o homem primitivo comunicava-se com seu grupo por meio de desenhos feitos nas
paredes naturais das grutas e montanhas, o que hoje se classifica como “arte rupestre”.
Cavalo – 15000 – 10000 a.C. Pintura em caverna Lascaux, França.
Fonte: Arte em Toda a Parte
No continente africano, as longas distâncias entre povos aliados eram vencidas com
mensagens enviadas por meio de instrumentos musicais, especialmente o tambor. Essa é
uma forma de comunicação ainda utilizada por diversas tribos africanas e ameríndias, além
de povos asiáticos.
Podemos utilizar expressões corporais como a mímica e a dança para enviar uma
mensagem, ou utilizar gestos convencionados que são compreendidos pelos falantes de
uma mesma comunidade.
Quando nos comunicamos com alguém, estamos representando quem somos. Que imagem
queremos consolidar diante do outro? Certamente, a linguagem que utilizamos revela
muito sobre nós mesmos: ideias, convicções, preferências etc.
Quando estamos em um ambiente formal e utilizamos a norma culta da língua, certamente
nossos gestos serão mais contidos. Já em um ambiente descontraído, além da norma
coloquial da língua, talvez utilizemos gestos mais largos para nos expressar.
E quando emitimos uma opinião sobre determinado assunto? Seria possível que essa
opinião fosse totalmente original? Certamente não, pois, diariamente, recebemos diversas
informações, ouvimos propostas, observamos tendências, e tudo isso, de alguma forma,
nos constitui como sujeito. Assim, compreendemos que a linguagem forma o sujeito, tanto
pelas mensagens recebidas como pelas mensagens emitidas.
Fonte: arteemanhasdalingua.blogspot.com.br
Aula 2
Linguagem e sociedade
Na aula 1, refletimos sobre a formação do sujeito por meio da linguagem. Nesta aula,
aprofundaremos o tema para compreender a relação entre a linguagem e a sociedade.
Voltemos à pergunta que apresentamos no início da aula: O que você vai ser quando
crescer? Não ser “alguém”, ou seja, uma pessoa produtiva, significa estar à margem da
sociedade.
E se a resposta a essa pergunta fosse “Vou ser filósofo.”? Talvez isso causasse certo
espanto em quem perguntou, pois escolher ser filósofo não nos parece tão comum. No
entanto, os filósofos eram figuras de grande prestígio em determinadas épocas das
sociedades ocidentais.
O que mudou? Mudou a sociedade ou mudaram as pessoas?
Ouça a música Quando você crescer, de Raul Seixas, a qual representa um contradiscurso
social.
Linguagem e ideologia
Os trabalhadores das fábricas promoveram greves para lutar por seus direitos; as
reivindicações pelos direitos das mulheres formaram o feminismo; os movimentos contra a
segregação racial exigiram políticas públicas que garantissem a liberdade para além da
abolição da escravatura; as vozes da periferia falaram mais alto em suas manifestações
culturais; a diversidade de gêneros passou a ser tema constante dos debates acadêmicos.
O grafite social é uma forma de linguagem que expressa ideologias, como o protesto contra
o capitalismo.
Linguagem e cultura
O anúncio acima, veiculado no Brasil nos anos 1960, reforça não apenas uma relação entre
a mulher e o trabalho doméstico, mas, também, a manutenção dessa prática cultural, ao
representar uma menina reproduzindo o comportamento da mãe.
Fonte: pro
pagandatranscendental.blogspot.com.br
Fonte: revistapegn.globo.com
Instalação do artista plástico norte-americano Jacob Hashimoto, intitulada The Other Sun (O
Outro Sol) e composta por centenas de pipas coloridas e brancas feitas de bambu e papel.
Isso é arte?!
Quem já não ouviu esse questionamento antes? Afinal, o que é arte?
Historiadores afirmam que não há uma resposta única para essa pergunta e que arte é tudo aquilo
que consideramos belo. Portanto, não nos preocuparemos com uma definição de arte, mas sim com
as diversas linguagens utilizadas para manifestar a arte e como esta representa a sociedade.
ARTE RUPESTRE
Feita em pedra, pode parecer um conjunto de desenhos infantis se não soubermos que, na
Pré-História, os homens primitivos desenhavam o seu cotidiano (caças, lutas etc.) para se
comunicar com seu grupo social e por acreditar que a imagem representada possuía o
poder mágico de fazer a realidade acontecer.
ANTIGUIDADE CLÁSSICA
Discóbulo
Com o domínio de técnicas de manuseio de materiais diversos, novas linguagens da arte
são desenvolvidas. Na Antiguidade Clássica (século VIII a.C. – século V d.C.), período em
que gregos e romanos dominaram o fazer artístico, a arquitetura e a escultura ganharam
destaque como linguagens da arte.
O Discóbulo (lançador de discos), escultura de Míron, representa a perfeição do corpo
humano. O original, que teria sido feito em 455 a.C., não foi encontrado. Por isso,
conhecemos apenas as cópias feitas em mármore pelos romanos.
ANTIGO EGITO
CRISTIANISMO
Figura 1 - Fachada neogótica da catedral de Barcelona
Fonte da imagem: catedraismedievais.blogspot.com.br
Figura 2 - Catedral Neogótica de Barcelona, construída entre os séculos XIII e XV.
Fonte da imagem: www.snpcultura.org
Na Idade Média (séculos V – XV d.C.), as linguagens da arte no Ocidente serviram, quase
todas, ao propósito de “divulgar o cristianismo”. Na arquitetura das catedrais e igrejas,
altas torres em forma de ogiva (foguete) apontam para o céu, indicando que o homem deve
alcançar a salvação por meio da fé. No interior das catedrais, belos vitrais, com muitos tons
de azul e dourado, dão a impressão aos fiéis de que estão envolvidos por uma luz divina
que leva ao afastamento do mundo material.
RENASCIMENTO
Homem Vitruviano
Fonte da imagem: www.newsrondonia.com.br
Entre fins do século XIV e fins do século XVII, a Igreja Cristã ainda exercia forte
influência no mundo ocidental, especialmente nas artes. Todavia, essa época também é
marcada pelo avanço científico, pelo humanismo e pela compreensão do mundo por meio
da Razão.
Artistas como Leonardo Da Vinci e Michelangelo representaram figuras e cenas bíblicas,
mas também desenvolveram uma linguagem artística fundamentada no pensamento
racional, utilizando cálculos e medidas de proporção em suas obras. O “Homem
Vitruviano” (imagem ao lado) foi elaborado com complexos cálculos matemáticos.
BARROCO
ARCADISMO
Com a Revolução Francesa (1789), que derrubou os monarcas e colocou no centro do
poder a burguesia, há um afastamento dos ideais barrocos. Surge, então, no século XVIII, o
movimento chamado Arcadismo ou Neoclassicismo, cuja linguagem mais destacada é a
literatura. Os poemas árcades pregam as propostas filosóficas da Antiguidade Clássica,
como já havia ocorrido durante o Renascimento. A vida bucólica no campo, o equilíbrio da
natureza e a valorização do amor tranquilo aparecem nos textos poéticos juntamente com
deuses e deusas gregos e romanos. Os versos do poeta português Manuel Maria de Bocage
expressam muito bem essas propostas.
O conceito de Belo em arte define-se pela estética e não pelo tema. Por exemplo,
um quadro pode representar um tema sombrio e trágico, mas a estética utilizada
pelo artista para compor a imagem torna seu trabalho Belo. Entende-se, ainda,
que o Belo é um conceito alcançado pelo espectador da obra de arte quando ele
se encanta pelo trabalho que contempla. Assim, um objeto artístico considerado
Belo por uma pessoa pode não agradar a outros.
(GOMBRICH, E.H. A história da arte. 16. ed. Rio de Janeiro, 2012.)
Quando observamos um quadro ou uma escultura, quando lemos um poema ou, ainda,
ainda, quando ouvimos uma música, não devemos apenas tentar compreender a mensagem
transmitida, mas como ela é transmitida. Isso é possível observando-se o estilo e a estética
da obra.
Observe e compare os quadros de Tarsila do Amaral, uma famosa artista plástica
modernista brasileira.
O Abaporu
É assim que podemos analisar obras representadas com outras linguagens da arte.
As composições de Renato Russo, líder do grupo Legião Urbana, possuem duas
características muito evidentes: a primeira é a construção de uma narrativa, pois o
compositor conta uma história em músicas como “Faroeste Caboclo”; a segunda é a
fragmentação, já que algumas de suas composições não são lineares, ou seja, a todo
instante há uma mudança no foco temático e até na melodia, do que são exemplos as
músicas “Vento no Litoral” e “Pais e Filhos”.
No cinema, percebemos claramente a diferença de estilos entre o diretor espanhol Pedro
Almodóvar, com sua estética colorida e exagerada (“Mulheres à beira de um ataque de
nervos” e “Tudo sobre minha mãe”) e o diretor norte-americano Quentin Tarantino, com
sua proposta de um cinema de ação, com cenas violentas (“Pulp Fiction: tempos de
violência” e “Django Livre”).
Assim, observar as formas e as cores, os movimentos e os diálogos das obras de arte, que
definem o estilo e a estética de um artista, nos ajuda a compreender melhor a linguagem
utilizada na produção do objeto artístico.
Cartazes de filmes de Pedro Almodóvar
Fonte da imagem: revistamarieclaire.globo.com
Resumo da Unidade
Como o acesso a esse tipo de cultura fica restrito a um grupo pequeno, ela fica
ligada ao poder econômico e é considerada superior. Essa consideração pode
acabar tornando-se preconceituosa e desmerecendo as outras formas de cultura.
O erudito é tudo aquilo que demanda estudo muito estudo, mas não se deve
pensar que uma expressão cultural popular como o hip-hop, por exemplo, é pior
que uma música clássica.
O que é a Cultura Popular?
A cultura popular é qualquer estilo musical e de dança, crença, literatura,
costumes, artesanatos e outras formas de expressão que é transmitida por um
povo, por gerações e geralmente de forma oral. Como por exemplo a literatura de
cordel dos nordestinos, ou a culinária do povo baiano, são algumas das formas de
cultura popular que resiste ao tempo.
Essa cultura não é produzida após muitos estudos, mas é aprendida de forma
simples, em casa, com a convivência da pessoa nesse meio. Ela está ligada à
tradição e não é ensinada nas escolas. A cultura popular é muito contemporânea,
pois ela resiste ao tempo e raramente se modifica.
Essa cultura vem do povo, não é imposta por uma indústria cultural ou por uma
elite. Por exemplo, o carnaval é uma festa da cultura popular brasileira, o frevo é
uma cultura brasileira, mas é muito mais expressiva no norte do país. Ela
representa a diferença de cada povo, desde o micro até o macro.
https://blog.portaleducacao.com.br/cultura-de-massa-cultura-popular-e-cultura-
erudita-diferenca-entre-elas/
Aula 1
O texto e o leitor
Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que
Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem
lucra com esse trabalho.
Paulo Freire
A citação destacada, do educador Paulo Freire, responde nossa pergunta inicial. O texto
não deve ser apenas lido. Quando lemos, devemos compreender todos os elementos que o
formam.
Quando lemos o aviso “Perigo! Cerca elétrica”, certamente compreendemos que não
devemos tocar na cerca, pois poderemos levar um choque elétrico. Para compreender essa
mensagem, precisamos utilizar, apenas, o nosso “conhecimento linguístico”.
Quando somos alfabetizados, capacitamo-nos para ler mensagens escritas. O mundo se
desvenda aos nossos olhos, pois os textos começam a fazer sentido, deixando de ser apenas
um conjunto de formas e cores.
Ler, no entanto, é um processo mais amplo e complexo. Não basta conhecer o código
linguístico para que a leitura seja feita corretamente. A compreensão do texto lido exige
que utilizemos diversos outros recursos, como o sentido da visão, a capacidade de
representação da realidade e o conhecimento de mundo que adquirimos com as nossas
vivências.
Na charge ao lado, percebemos que as personagens não conseguiram identificar o texto
“código de barras” e a sua função. Faltou, neste caso, o “conhecimento de mundo” para
que a leitura se realizasse adequadamente.
Devemos considerar que o texto é precedido de um “autor”, ou seja, o texto não existe sem
que um autor o tenha produzido. É ele quem decide “o que” vai escrever e “como” vai
escrever. A mesma mensagem pode ser transmitida em forma de notícia de jornal, de
poema, de charge etc. O leitor precisa identificar as “pistas” deixadas no texto pelo autor e,
assim, a leitura também depende de um conhecimento interacional.
Fonte da imagem
O texto e o contexto
Mais do que apenas compreender um texto, o conceito de leitura implica atribuir
significados ao texto ouvido ou lido. Assim, o leitor é muito importante no processo de
leitura, pois atua sobre o texto com os seus conhecimentos, estabelecendo relações que não
se encontram expressas graficamente. Essas relações estabelecidas pelo leitor representam
o “contexto”. Todo texto precisa de um contexto.
Fonte da imagem
Na tirinha apresentada, vemos que a personagem Mafalda não conseguiu atribuir um
significado correto à expressão “indicador de desemprego”, pois conhece a palavra
“indicador” apenas como denominação de um dos dedos da mão, aquele que aponta para as
coisas. Ela desconhece que a palavra “indicador” também significa, no campo semântico
(campo de significados) da economia, “indicar algo”. Portanto, Mafalda não compreendeu
o contexto da palavra.
Observe que, na tirinha selecionada, o leitor aciona o seu “conhecimento de mundo” para
compreender a intenção do autor em criar um texto de humor. Cabe ao leitor, portanto,
“contextualizar” a palavra “indicador”.
Há uma infinidade de contextos que podem ser aplicados ao texto. É preciso que o leitor
identifique, no texto lido ou ouvido, os elementos linguísticos e os elementos
extralinguísticos que compõem o contexto.
Elementos linguísticos
São os elementos que constituem um texto: palavras, sinais de pontuação, espaços, cores, formas e
outras representações gráficas (texto escrito); ou palavras, pausas e entonações (texto falado).
Elementos extralinguísticos
São os elementos que não fazem parte do texto, mas que são fundamentais para a sua compreensão,
pois formam o contexto: intenção da comunicação, pessoas envolvidas na situação de
comunicação, local de onde a mensagem é transmitida, expressões faciais e corporais etc.
Nesta charge, o elemento linguístico “rede social” foi descontextualizado pelos elementos
extralinguísticos (imagem), garantindo o humor do texto.
A incompletude do texto
A leitura de um texto não se limita a ler o que está escrito. Mesmo que um texto nos pareça
completo, ao ler, antecipamos conclusões, estabelecemos comparações com outros textos
lidos ou situações vividas e acrescentamos informações às imagens descritas.
Portanto, o leitor não é um sujeito passivo, que recebe as informações sem fazer
questionamentos ou construir relações de significados não apresentados no texto. Ao
contrário, ao ler, ele aciona os seus conhecimentos e cria novas propostas para o texto. Por
isso, podemos afirmar que nenhum texto é completo.
Muitas vezes, faz parte da proposta autoral que o texto seja incompleto. O autor permite
que o leitor complete seu texto a partir de elementos extralinguísticos.
Observe a tirinha abaixo.
Fonte da imagem
A pergunta feita por Hagar à filha, no último quadro, deixa claro para o leitor sua intenção.
O humor do texto ocorre quando o leitor é capaz de completar o diálogo (Hagar insinua
que a sua esposa é a “discursante” do casamento, pois fala muito).
A “incompletude do texto” é uma característica da boa produção
textual.
O autor não deve elaborar um texto que exija do leitor conhecimentos prévios específicos
sobre o tema, os quais não sejam esclarecidos no próprio texto, a não ser que seu público-
alvo seja, também, específico.
Um leitor não deve propagar um texto que foi retirado de seu contexto, pois outros leitores
podem não conseguir interpretá-lo ou fazer uma interpretação equivocada.
Em redes sociais, é comum que sejam feitas postagens de textos filosóficos com a
intenção de transmitir uma mensagem positiva ao leitor. No entanto, extrair a
mensagem de seu contexto pode torná-la incompreensível ou exigir do leitor um
esforço de interpretação que nem sempre trará uma resposta satisfatória.
Aula 2
O texto falado e o texto escrito
Fonte da imagem
A tirinha faz uma crítica ao excessivo uso da gíria “tipo”. No entanto, muitas pessoas
falam assim.
Na tirinha acima, a personagem precisou reorganizar sua fala para que esta se tornasse
adequada ao receptor da mensagem.
A escrita, ao contrário, é planejada. Quando escrevemos um texto, temos a oportunidade de
aperfeiçoá-lo para que a mensagem seja bem compreendida, tendo em vista que, em
mensagens escritas, o emissor não está presente para interagir com o receptor.
Fonte da imagem
Pelo contexto, compreendemos que o estabelecimento não atende clientes que não estejam
vestindo camisa. No entanto, da forma como a mensagem foi elaborada, pode haver uma
interpretação de que os funcionários do estabelecimento não trabalham sem camisa.
O texto escrito deve obedecer às normas gramaticais e apresentar:
Coesão textual
Utilização de mecanismos linguísticos (sinas de pontuação, conectivos, concordâncias nominal e
verbal etc.) que unem as palavras e as frases de um texto de maneira harmoniosa, facilitando a
compreensão do leitor.
Coerência textual
Organização do texto, a fim de que as ideias sejam apresentadas de forma lógica, sem contradições.
Observe as placas e veja o que acontece quando um texto não obedece a essas normas
gramaticais.
Um texto falado pode ser apresentado na forma escrita, desde que a intenção do autor seja
reproduzir a fala. Assim, apesar de escrito, o texto representa a oralidade.
Fonte da imagem
Na mensagem ao lado, a expressão “bom pra burro” pode significar “bom demais”. No
entanto, ela se torna inadequada por estar associada ao dicionário, criando uma ambiguidade
que induz o leitor a compreender que o livro deve ser utilizado por pessoas com pouca
inteligência.
Aula 3
Textos informativos e textos literários
O texto informativo
Está claro que o texto informativo tem como principal função informar sobre um
acontecimento ou uma circunstância. Entretanto, também faz parte da função utilitária do
texto informativo esclarecer, orientar, propor, convencer.
A principal característica do texto informativo é a “linguagem objetiva”, ou seja, a
linguagem que apresenta ao leitor algo que se observa de forma clara e direta. São
exemplos de textos informativos os textos jornalísticos, científicos, técnicos, acadêmicos
etc.
Em jornais, quando o texto apresenta uma opinião sobre um tema, ele é diagramado em
seções à parte, como os editoriais.
Fonte da imagem
Classifica-se um texto informativo pela linguagem utilizada e por sua função, e não pelo tema.
No jornal ao lado, a notícia é sobre as cartas deixadas pelo escritor Carlos Drummond de
Andrade, mas o foco é informativo.
O texto literário
Os textos literários são os que se destinam à arte, como romances, crônicas, contos e
poemas. A principal característica do texto literário é a “linguagem subjetiva”, pois
representa um sentimento, uma emoção ou um pensamento do sujeito.
A linguagem subjetiva exige mais recursos expressivos (tema estudado na aula 2 desta
unidade) do que a linguagem objetiva, pois a função primeira do texto literário é
emocionar o leitor.
Fonte da imagem
Mário Quintana (1906–1994) foi poeta, tradutor e jornalista. Por sua preferência por temas
comuns, é conhecido como “o poeta das coisas simples”.
Vários cronistas e poetas famosos se inspiraram em notícias de jornal para compor um poema.
É o caso de Manuel Bandeira, que compôs o seguinte texto poético.
Para melhor compreensão dos conceitos, propomos que você observe a imagem a seguir.
Em relação ao “nível temático”, o quadro de Gustav Klint apresenta um beijo dado por um
homem em sua amada.
Em relação ao “nível figurativo”, o quadro de Gustav Klint representa o beijo com os
seguintes elementos concretos: a mulher é envolvida pelo homem, que segura o rosto
feminino como se o protegesse; o homem beija o rosto da mulher; a mulher está de olhos
fechados; ambos estão ajoelhados sobre flores e pérolas; tons de amarelo predominam no
quadro, tanto nas roupas usadas quanto nas flores e pérolas sobre as quais estão os
personagens.
A partir desse exemplo, podemos analisar os textos literários abaixo apresentados.
Foram selecionados trechos do capítulo I da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, de
Machado de Assis. Clique aqui e observe os elementos de cada fragmento.
Encerramento
Por que saber ler não é suficiente para que os diversos textos produzidos na
sociedade sejam compreendidos?
Saber ler é necessário para que se apreenda o que está escrito. No entanto, a
leitura dos diversos textos produzidos na sociedade exige do leitor que ele
participe do texto como um coautor, produzindo significados que nem sempre
estão explícitos na superfície do texto.
Resumo da Unidade
A leitura de um texto não deve ser feita por um leitor passivo. O texto é um lugar
onde escritor e leitor se entendem. O escritor tem em mente algo a dizer, mas espera
que o leitor o entenda; para isso, este tem que ter certos conhecimentos, sem os
quais não conseguirá captar as informações que os enunciados transmitem. Então,
podemos dizer que o leitor tem que ser um sujeito crítico: precisa antecipar fatos -
se possível, a partir do título, posicionar-se diante dos argumentos,reconhecer as
informações explícitas ou não, perceber e entender metáforas, notar expressões que
têm referências fora do texto, etc. A linguista Kock estabelece três grandes sistemas
de conhecimentos necessários para o processo de leitura.
Conhecimento linguístico
Conhecimento de mundo
Conhecimento interacional
nota:
(fonte: Koch.I.V.Elias.V.M. Ler e Compreender os sentidos do texto. Editora
Contexto.SP.2008.cap. 2.)
https://www.lpeu.com.br/q/4su27
Aula 1
O signo: palavras e imagens
O processo de comunicação pode se tornar mais eficaz se a escolha do signo verbal ou não
verbal atender à proposta da mensagem e ao contexto em que ela é transmitida. No entanto,
para que os signos possam ser compreendidos, o leitor precisa saber o que eles representam
no contexto da mensagem.
Signos verbais (ou signos linguísticos) são os que utilizam palavras, escritas ou faladas, em
sua composição. Nesse caso, utilizamos uma linguagem verbal.
Exemplos: “xícara” é um signo verbal composto de uma palavra; "asa de xícara” é um
signo verbal composto de três palavras.
Atenção: “asa de xícara” é um signo verbal porque representa um só elemento, ou seja, a
palavra asa compõe uma parte do utensílio xícara. No entanto, “asa de anjo” e “asa de
passarinho” são expressões que não representam apenas um elemento, pois a palavra “asa”
mantém a sua unidade, tendo sido complementada por “de anjo” e “de passarinho”.
Quando escrevemos ou pronunciamos o signo “asas”, logo nos vem à mente a imagem das
asas de um pássaro, de um avião ou mesmo de um anjo. Nesse caso, o signo verbal
corresponde à realidade. Assim, temos uma linguagem denotativa.
Quando lemos ou ouvimos a expressão “asas da imaginação”, associamos um signo verbal
(“asas”) a uma realidade à qual ele não corresponde diretamente, o que se constitui como
uma linguagem conotativa.
O signo não verbal: imagens, índices, ícones e símbolos
Muitas vezes, um texto prescinde de palavras, ou seja, um texto é elaborado e pode ser
compreendido sem que o autor utilize signos verbais. Quando isso ocorre, temos um texto
constituído por signos não verbais.
Os signos não verbais são representações (visuais ou sonoras) de uma realidade. São
exemplos de signos não verbais: dança, mímica, expressões faciais, gestos, desenhos,
fotografias etc.
Um texto elaborado em linguagem não verbal pode utilizar apenas uma imagem.
A imagem ao lado pode ser compreendida pelo signo verbal “sorriso” ou pela combinação
de signos “sorriso de mulher”.
Entretanto, há signos não verbais que, pela repetição de seu uso ou pela reincidência de
fenômenos, são associados a um determinado objeto, realidade ou ideia. Esses signos não
verbais transformam-se em índices, ícones ou símbolos.
Denominam-se índices os signos não verbais que funcionam indicando outra coisa, que
poderá vir na sequência, e que são compreendidos segundo a experiência do interpretador
(aquele que interpreta o signo).
Os emojis (ideogramas de origem japonesa) são ícones que transmitem a ideia de uma
palavra ou de uma frase completa.
Denominam-se símbolos os signos não verbais que são associados a ideias abstratas, tendo
ou não relação direta entre o signo e o conceito. Os símbolos existem por convenção
social, ou seja, uma determinada comunidade compreende e aceita uma associação entre
um signo não verbal e o que ele deverá representar.
Como vimos na Unidade 2 (Aula 2), precisamos adequar nossa linguagem à situação
comunicativa.
Quando elaboramos um texto, seja oral, seja escrito, a escolha dos signos, verbais ou não
verbais, deve estar de acordo com a situação comunicativa, a fim de que a mensagem seja
compreendida pelo receptor.
Para isso, é necessário que saibamos:
Como leitores, preocupamo-nos mais com o conteúdo da mensagem do que com a forma
como ela é transmitida. No entanto, se os signos utilizados não forem selecionados
adequadamente, haverá ruídos na mensagem, e ela talvez não cumpra seu objetivo.
O outdoor acima apresenta um texto elaborado com signos verbais que estão de acordo
com a proposta. No entanto, a escolha dos signos não verbais, que representam
personagens de histórias infantis não parece adequada. Afinal, as crianças não têm muitos
motivos para simpatizar com a figura da bruxa posicionada no centro da imagem. A
escolha inadequada do signo não verbal causa um “ruído na comunicação”.
O signo “muda” provocou uma ambiguidade, embora o leitor entenda a mensagem pelo
contexto estabelecido pela expressão “vende tudo”.
Com esses exemplos, constatamos que a escolha dos signos é fundamental para que a
mensagem elaborada seja bem compreendida.
Aula 2
Tipologia textual
Narração
O texto narrativo destina-se a contar uma história, real ou fictícia. Apresenta os
seguintes elementos: fatos (em sequência cronológica ou não), narrador,
personagens, tempo e espaço. Normalmente, os verbos são utilizados no tempo
passado. É o tipo textual próprio dos romances, contos e crônicas e de quaisquer
textos que contem uma história.
A composição musical Faroeste Caboclo, de Renato Russo, é um exemplo de
narração. Na letra, identificamos o narrador (quem conta a história), os fatos, os
personagens e referências ao tempo e ao espaço.
Dissertação
O texto dissertativo é, também, dissertativo-argumentativo e se caracteriza por
desenvolver estratégias argumentativas (teses, opiniões) sobre um tema. É o tipo
textual utilizado em trabalhos acadêmicos e resenhas.
Toda dissertação apresenta uma opinião, mas essa opinião deve ser bem
fundamentada para convencer o leitor ou, pelo menos, levá-lo à reflexão sobre a
ideia proposta.
Exposição
O texto expositivo tem como propósito apresentar informações sobre um fato ou
um objeto específico, indicando as suas principais características. São exemplos
de textos expositivos: relatórios, seminários e palestras.
Descrição
O texto descritivo tem a função de descrever, de forma objetiva ou subjetiva,
coisas, pessoas ou acontecimentos. Todo texto que apresenta características de
uma pessoa, coisa ou circunstância é descritivo, como relatórios médicos,
cardápios, currículos, anúncios de classificados e rótulos de produtos
industrializados.
Fonte: Blog Propagandas de Gibi
A descrição do chocolate Chokito tornou-se famosa e, apesar de não estar mais
sendo veiculada há uma década, ficou na memória dos receptores da mensagem.
Injunção
O texto injuntivo (ou instrucional) tem como finalidade instruir, orientar o
receptor da mensagem. Os verbos são apresentados no modo imperativo. Bulas
de remédios, receitas culinárias, propagandas e regulamentos são textos
injuntivos.
Gêneros textuais
Os gêneros textuais são inumeráveis, pois novos formatos de textos são criados para
atender a novos contextos, especialmente com o avanço da tecnologia. Cada gênero textual
possui sua característica, de acordo com o emissor, o receptor, a finalidade e o suporte
(veículo) utilizado para transmitir a mensagem.
Você encaminharia um requerimento a sua mãe solicitando que ela prepare o seu prato
preferido para o jantar? Deixaria na mesa de seu chefe um bilhete com um pedido de
aumento salarial? Certamente, esses gêneros textuais não são adequados às mensagens
propostas.
O produtor de um texto deve escolher o gênero textual que melhor atenda ao propósito da
situação comunicativa, pois o leitor, por experiência, associa o conteúdo da mensagem ao
gênero utilizado.
Um produto ou serviço deve ser oferecido no gênero textual propaganda; uma notícia se
lê em um texto jornalístico; os ingredientes de um bolo podem ser encontrados no gênero
textual receita; as indicações de um remédio para determinado tratamento estão
disponíveis no gênero textual bula; uma história ficcional pode ser lida nos
gêneros: romance, conto, crônica, fábula, história em quadrinhos etc.
Certos suportes são apropriados a determinados gêneros, e, consequentemente, o leitor
antecipa o conteúdo da mensagem que será lida.
Há dois tipos de suportes: os convencionais, que se destinam a portarem ou fixarem textos,
e os incidentais, que não têm a finalidade específica de apresentar o texto, o que ocorre
ocasionalmente por motivos práticos ou por escolha do produtor.
Destacamos, ainda, a ocorrência de gêneros híbridos, que é quando uma mensagem
apresenta mais de um gênero textual.
Hipertextualidade
Quando um texto associa à língua outras formas de linguagem, ele passa a ser
denominado hipertexto. Originalmente, define-se hipertexto como uma forma de escrita e
leitura não linear, com blocos de informações e de imagens que se integram ao texto
principal. Dessa forma, o hipertexto permite a construção coletiva de um texto (autor,
ilustrador, diagramador etc.) e a reorganização da leitura, tendo em vista que o leitor
determina a ordem em que os elementos textuais serão lidos.
Fonte: Blog Consumo e Propaganda
O que esses dois gêneros textuais têm a ver com a cultura? E como
podemos relacioná-los no contexto cultural?
Você já estudou, na Aula 2 desta unidade, que os gêneros textuais são criados de acordo
com as especificidades da comunicação. Cada gênero textual possui, pelo menos, uma
função específica: bulas de remédio orientam sobre o medicamento que será utilizado;
editais de concurso convocam candidatos e apresentam regras para as inscrições; jornais
informam os leitores sobre fatos relevantes; outdoors anunciam produtos ou convocam o
leitor para aderir a determinadas campanhas.
Os gêneros textuais deixam de existir apenas se não atenderem mais à proposta da
comunicação ou se o suporte utilizado não estiver mais disponível. Assim, mesmo que um
gênero textual não seja mais utilizado com frequência na situação comunicativa, ele poderá
ser utilizado. Nada impede, por exemplo, que você queira escrever uma carta em vez de
enviar uma mensagem eletrônica.
O que vamos destacar, agora, é como os gêneros textuais se relacionam com a ideologia.
O contexto cultural e ideológico, normalmente definido por épocas históricas (tema
estudado na Aula 3 da Unidade 1), pode determinar o uso de alguns gêneros textuais. No
período Barroco, a necessidade de converter ao cristianismo os habitantes do Brasil
Colônia conferiu importância ao gênero textual sermão. O padre português António Vieira
(1608-1697) foi enviado às terras brasileiras para evangelizar indígenas, africanos
escravizados e colonizadores que aqui viviam.
Uma das formas mais antigas de propagação de uma ideologia é o livro, um suporte
de gêneros textuais literários, como romance, conto, crônica e poesia, e de gêneros
textuais não literários, como teses, ensaios científicos, artigos científicos etc. Por ser um
instrumento normalmente utilizado por pensadores e intelectuais, o livro sempre foi alvo
dos censores.
Voltemos às perguntas que iniciaram esta aula:
Você já se emocionou com uma fotonovela? Você já viu um “certificado
de liberação” da Censura Federal antes da exibição de um programa
de televisão?
Afinal, qual a relação entre esses dois gêneros textuais?
Os “certificados de liberação” da Censura Federal determinavam o que o poderia ser
exibido na televisão, lido nos livros e nos jornais ou ouvido nas rádios durante o regime
militar (1968 a 1985). Havia, portanto, o exercício de um poder instituído sobre o
pensamento ideológico de uma nação.
Assim, muitas editoras, por motivos econômicos, lançaram a fotonovela, gênero textual
que fazia sucesso entre o público feminino e sobre o qual não havia tanta censura.
Os “festivais de canção” representavam um importante veículo de disseminação de ideias,
pois eram assistidos por um público composto especialmente por jovens estudantes.
Cantores e compositores se apresentavam, muitos dos quais expressavam seus ideais de
liberdade por meio das músicas. Por esse motivo, as músicas são um gênero textual que
também sofreu com a censura, total ou parcialmente. De Chico Buarque de Holanda e
Caetano Veloso ao grupo Kid Abelha, passando por Adoniran Barbosa, diversos
compositores e cantores foram censurados.
Na África de colonização portuguesa (Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e
São Tomé e Príncipe), muitos estudantes e intelectuais foram presos por liderar
movimentos pela libertação de seus países, conscientizando outros jovens de sua condição
de escravos por meio de manifestos políticos, gênero textual de teor ideológico. Atrás das
grades, alguns deles, como o moçambicano José Craveirinha e o angolano António Jacinto,
encontraram no gênero textual poesia uma forma de continuar a sua luta. Esses líderes
revolucionários escreviam poemas e os enviavam pelos padres que eram autorizados a
visitá-los na prisão e que, secretamente, ajudavam a causa dos africanos.
O gênero poesia passa a se comunicar com o leitor de forma mais rápida e interativa. No
texto ao lado, do poeta, compositor e cantor Arnaldo Antunes, destacam-se as cores e a
oposição entre as palavras “vejo” x “miro” e “beijo” x” tiro”.
A música (texto da composição), compreendida como gênero textual, é uma importante
manifestação cultural. Rock, samba, rap, funk, axé music etc. são estilos que determinam
os temas, os quais, por sua vez, manifestam culturas de grupos sociais específicos.
Entendemos, assim, que a escolha do gênero textual não serve apenas à função do processo
comunicativo. Quando estudamos os gêneros textuais, identificamos neles um importante
instrumento de propagação de ideias e de expressão cultural.
Encerramento
Como deve ser feita a leitura de um texto que associa signos verbais e não
verbais?
Embora o conteúdo da mensagem transmitido pelos signos verbais seja o mais
evidenciado na leitura, o leitor não pode deixar de analisar os signos não
verbais, pois eles não são apenas ilustrativos. Muitas vezes, os signos não verbais
complementam o texto verbal, confirmando ou contradizendo o que está escrito.
Resumo da Unidade
Nesta unidade, você identificou os conceitos de signo verbal e signo não verbal, tipologia
textual e gêneros textuais. Um texto não se compõe apenas de palavras (signos verbais).
Imagens (signos não verbais) são utilizadas pelo produtor do texto para que sua mensagem
seja mais eficaz e alcance os objetivos propostos. Além disso, os textos, orais ou escritos,
podem ser classificados quanto à tipologia textual, de acordo com a sua função e com o
conteúdo apresentado, o que facilita a compreensão do leitor. Os textos produzidos se
organizam de acordo com o gênero textual em que são expressos e são criados conforme a
necessidade da comunicação, tendo evoluído para o que se designa gêneros virtuais. Os
gêneros textuais indicam não apenas a função do texto, mas a intenção do seu produtor de
acordo com a ideologia e a cultura que ele deseja expressar, especialmente porque, na
sociedade contemporânea, as manifestações culturais representam a diversidade e o
multiculturalismo.
O multiculturalismo pode ser visto como um sintoma de transformações sociais básicas, ocorridas
na segunda metade do século XX, no mundo todo pós-segunda guerra mundial. Pode ser visto
também como uma ideologia, a do politicamente correto, ou como aspiração, desejo coletivo de
uma sociedade mais justa e igualitária no respeito às diferenças. Conseqüência de múltiplas
misturas raciais e culturais provocadas pelo incremento das migrações em escala planetária, pelo
desenvolvimento dos estudos antropológicos, do próprio direito e da lingüística, além das outras
ciências sociais e humanas, o multiculturalismo é, antes de mais nada, um questionamento de
fronteiras de todo o tipo, principalmente da monoculturalidade e, com esta, de um conceito de
nação nela baseado. Visto como militância, o multiculturalismo implica em reivindicações e
conquistas por parte das chamadas minorias. Reivindicações e conquistas muito concretas: legais,
políticas, sociais e econômicas.
Para a maior parte dos governos, grupos ou indivíduos que não conseguem administrar a
diferença e aceitá-la como constitutiva da nacionalidade, ela tem de estar contida no espaço
privado, em guetos, com maior ou menor repressão, porque é considerada um risco à identidade
e à unidade nacionais. Mas não há como negar que, cada vez mais, as identidades são plurais e
as nações sempre se compuseram na diferença, mais ou menos escamoteada por uma
homogeneização forçada, em grande parte artificial.
O multiculturalismo é hoje um fenômeno mundial (estima-se que apenas 10 a 15% das nações no
mundo sejam etnicamente homogêneas). Costuma, porém, ser considerado um fenômeno
inicialmente típico dos Estados Unidos, porque este país tem especificidades que são favoráveis à
sua eclosão. Essa especificidade é "histórica, demográfica e institucional". Mas, outros países que
não necessariamente têm as mesmas condições - as quais, segundo Andrea Semprini, em
Multiculturalismo (EDUSC, com tradução de Laureano Pelegrin), são: a existência de instituições
democráticas, de uma economia pós-industrial em via de globalização e de uma população
heterogênea - também apresentam esse fenômeno. Entre esses, Canadá, Austrália, México e
Brasil, especialmente devido à presença de "minorias nacionais autóctones" por longo tempo
discriminadas. Canadá e Austrália têm sido apontados como exemplares, devido a algumas
conquistas fundamentais e relativamente recentes. Mesmo na Europa, nos lembra Semprini, há
minorias que hoje reivindicam seu reconhecimento e, às vezes, como no caso dos Bascos na
Espanha, de forma violenta. Conflitos e contradições também se encontram na França e na
Alemanha. De acordo com Semprini, na França, o caso do véu islâmico fala por si só e, na
Alemanha, a discussão interminável sobre a integração dos turcos e o direito à dupla
nacionalidade volta sempre, mesmo que, hoje, disfarçada no que o partido democrata cristão vem
chamando de Leitkultur - definido por uns como cultura de referência alemã, à qual os imigrantes
deveriam se adaptar (como defendeu, levantando polêmica, Friedrich Merz, presidente do CDU-
CSU, em outubro de 2000), e por outros, mais radicalmente, como cultura dominante.
Os estudos sobre a situação nos Estados Unidos mostram um descompasso entre os discursos e
as práticas, o risco de se utilizarem as bandeiras multiculturalistas como forma de segregação em
guetos dos incômodos diferentes e reivindicantes. O multiculturalismo, assim, vira paliativo. Isso é
compreensível sobretudo no quadro histórico em que se deu, desde o século passado, o
tratamento da imigração nesse país, através do chamado melting pot de alguns e do
desmantelamento das identidades de outros, considerados inassimiláveis. Essa situação se arrasta
até o presente, ainda que camuflada (Maria Helena, eu substitui disfarçada por camuflada, porque
a nota introduzida acima traz uma construção muito parecida com esta).
Deve-se reconhecer, porém, que a chamada Ação Afirmativa, defendida por uns e atacada por
outros, parece ter conseguido, apesar de todos os seus limites, algumas conquistas que, hoje,
ameaçam se perder, conforme nos explica Angela Gillian, em "Um ataque contra a ação afirmativa
nos Estados Unidos - Um ensaio para o Brasil", que integra o volume Multiculturalismo e racismo:
Uma comparação Brasil-Estados Unidos (editora Paralelo 15, organização de Jessé Souza).
No caso dos índios que resistiram ao grande massacre, a defesa dos princípios e ações
multiculturais tem levado a uma retomada da visibilidade da herança indígena, provocando uma
revisão crítica do passado, tentativas de reparação e, da parte de muitos cidadãos, a busca e
reconhecimento de suas origens direta ou indiretamente ligadas a essa herança étnica e cultural.
Mas o sonho americano da democracia, com igualdade de oportunidades e de direitos, desmentia-
se e volta e meia torna a desmentir-se no apartheid dos negros e dos latinoamericanos. Um caso
recente - noticiado pelo Jornal da Tarde, em 16/11/00 ("Herbert viveu o 'sonho americano'.
Agora, vai para albergue no Brás"), e pela Folha de S.Paulo, no dia 20 do mesmo mês ("Brasileiro
deportado recebe duas propostas de trabalho em SP") - mostrou como é difícil a um jovem
brasileiro integrar-se na sociedade norte-americana, mesmo que para lá tenha sido levado bebê,
por pais adotivos que eram cidadãos do país. O jovem João Herbert, hoje com 22 anos, foi
deportado por ter-se envolvido com drogas, como ocorre com muitos jovens em todo o mundo
nessa idade. De volta ao Brasil, sem saber português e sem conhecer ninguém aqui, Herbert
passa a identificar-se como brasileiro, já que, excluído do paraíso que para ele se tranformou
subitamente em inferno, adota o critério: "a gente é o que nasce". Cuidadoso na crítica ao
sistema norte-americano, não deixa de acusar: "Eles tratam os latino-americanos de forma
diferente".
Aliás, sobre a diáspora brasileira e as deportações, uma matéria publicada na revista Época, em
13/11/00, intitulada "Sagas inglórias", evidencia quão fechadas para as pessoas são as fronteiras
abertas para as mercadorias, contradição para a qual um crítico agudo como Chomsky não cessa
de apontar (A minoria próspera e a multidão inquieta, editora da UNB). Segundo a reportagem da
revista Época, o número de brasileiros deportados no ano 2.000 foi de 1.359 pessoas contra 177
no ano de 1999. Todos sentindo-se roubados de sua identidade, como seres de um lugar onde é
cada vez mais difícil ser.
Andrea Semprini nos explica que "se as causas das controvérsias multiculturais vão longe na
história dos Estados Unidos, somente nos últimos dez ou quinze anos esta problemática tem-se
tornado objeto de vivo debate social e político." E ele coloca a questão que se põe para todos
nós: "Por que agora? Por que o multiculturalismo, de repente, tornou-se assunto da moda e
objeto de polêmicas tão violentas?" (Multiculturalismo)
Sua resposta passa por uma análise das transformações por que passou e passa a sociedade
norte-americana, sobretudo a partir dos anos 60, quando se processa o movimento pelos direitos
civis, contra a segregação racial. Como em muitos outros lugares do mundo, são dos anos 60 que
sopram os ventos da abertura multicultural, do reconhecimento dos direitos das chamadas
minorias e da luta pelos seus direitos.
Mas entre a integração formal dos negros, latino-americanos e índios (mas também mulheres,
homossexuais e outros grupos sistematicamente discriminados) na sociedade do bem-estar e da
democracia e a integração real, muitos senões atrapalharam e continuam atrapalhando, pois a
população branca, em grande parte conservadora de uma cultura de longa data racista e
segregacionista, não aceita isso com tanta facilidade. Por outro lado, o alargamento da base
social com a assimilação, mesmo que mais teórica do que prática, mas facultada legalmente, dos
antes inassimiláveis, provoca uma reconfiguração do quadro econômico e social do país. Parte da
classe média cai do paraíso e parte menor reforça sua posição nele pela concentração da renda.
Aumentam os níveis de pobreza e se repete um outro tipo de apartheid: pelo menos 20% da
população fica à margem do sonho americano, inacessível para eles.
Em conseqüência, os conflitos das minorias não se dão apenas com a maioria, mas entre elas
próprias, transformadas umas para as outras em bode expiatório de sua exclusão social. Esse é
apenas um dos desafios que o mundo global e multicultural enfrenta hoje com melhores ou piores
condições de manter a paz entre os diferentes que tentam conviver num mesmo território.
Os teóricos do Multiculturalismo costumam opô-lo à Modernidade, a cujo discurso
homogeneizador se contrapõem o pluralismo, o hibridismo, a interculturalidade e os discursos e
valores de fronteira. Faz parte dessa crítica à Modernidade, a crítica à noção homogeneizadora de
nação e de identidade nacional. Em troca, fala-se da nação como um constructo, como uma
invenção com base em mitos, cuja narrativa silencia fraturas e contradições.
Mas há quem considere que, na América Latina, nem as nações são homogêneas nem a
modernidade é linear, mas palco de múltiplas temporalidades que nunca foi possível disfarçar de
todo. E as reflexões menos simplificadoras sustentam que a identidade, uma vez inventada e
incutida por gerações e gerações, tem uma positividade para o bem e para o mal, servindo tanto
para justificar a violência contra outras nações como para defender as mais fracas - econômica,
política e militarmente - contra as mais poderosas. Ou seja, essas reflexões, com as quais me
identifico, reconhecem que as identidades são históricas e relacionais, mas ainda identidades. Elas
também reconsideram como fator enriquecedor o múltiplo e cada vez mais múltiplo
pertencimento dos indivíduos, suas ambivalências, as identidades ambíguas que se combinam:
continental, nacional, regional, local, de idade, de gênero, étnica, profissional e de classe. A
diversidade cultural e étnica é vista como desafio para a identidade da nação, mas também como
fator de enriquecimento e abertura de novas e múltiplas possibilidades.
Um pensamento dicotômico, muito presente em nossos dias e contraditório a toda a vontade de
liberdade e relativismo, opõe sistematicamente a classe social à etnia e à cultura, mas há também
quem volte a considerá-la com o devido peso. Refiro-me àqueles estudiosos que não querem
esquecer o grande apartheid do globo que nesta América do Sul se faz triste realidade quotidiana:
entre quem tem para viver e até para esbanjar e quem mal tem para sobreviver. Quem não
esquece o papel da classe, tampouco esquece que a queda do muro de Berlim não significou a
queda de todas as barreiras que permitisse aos cidadãos do mundo ir e vir livremente e que as
alianças econômicas dos grandes têm como contraponto, paralelamente, as barreiras à imigração.
A globalização resolveu e resolve sempre quem interessa importar e quem é preciso deportar.
Para uma estudiosa de literatura como eu, interessa pensar um pouco mais o problema do
multiculturalismo na educação e nos estudos da linguagem (caberia aqui mencionar o esforço do
politicamente correto de "purificação da língua" que, muitas vezes, reforça a tendência de os
indivíduos se contentarem apenas com a reformulação do discurso em lugar da realidade), da
crítica e da produção de manuais escolares, com atenção ao modo como são aí representadas as
chamadas minorias (negros, índios, mulheres, homossexuais, entre outras) e às novas disciplinas
e/ou áreas de pesquisa introduzidas nos cursos de humanidades nas universidades do mundo
inteiro: sobre literatura e cultura negra, sobre mitos e narrativas indígenas, sobre mulheres ou,
mais recentemente, sobre gêneros, entre outros.
Um aspecto que me parece importantíssimo é o da patrulhagem ideológica na língua, na
literatura, no cinema e em outras manifestações culturais que, em nome de uma ética igualitária
de respeito ao outro e à sua auto-estima, na verdade o encaram de modo condescendente,
infantilizando-o, inibindo sua capacidade de luta e defesa pelo que realmente interessa. Nesse
mundo da ética do politicamente correto, faz-se silêncio sobre certos valores básicos para a
convivência plena do indivíduo consigo mesmo e com os outros, com a natureza e com a
sociedade, entre esses o direito à e o gosto pela beleza das coisas bonitas que se fazem sem
pressa, devagar, como querem os índios de Darcy Ribeiro.
A busca de normas e códigos perfeitos, da linguagem ao comportamento, sufoca toda
espontaneidade, das relações amorosas à arte. O recurso aos tribunais é usado para tudo.
Banalizam-se as relações humanas; banaliza-se a Justiça. Casos como o ocorrido em 2000, de um
menino suíço acusado de abuso sexual nos Estados Unidos, entre outros tantos, mostram a
"penetração do discurso jurídico na esfera privada", que concorre para o duplo distanciamento do
indivíduo, em relação a si mesmo e em relação aos outros. Essa sociedade, ao mesmo tempo
puritana e hipócrita, ameaça tornar cada homem e cada mulher em um monstruoso "super-ego".
Como estudiosa da literatura e apreciadora das artes, confesso que me preocupo, porque sem
"ego" e sem "id" não há arte, nem literatura.
Não é ocasional o fato de o debate multicultural nos Estados Unidos ter lugar nos departamentos
de literatura e estudos étnicos e não nos de sociologia ou filosofia, porque a literatura sempre
deixou dialogar a contradição e tematizou os estereótipos. Mas se a policiarmos, engessaremos o
que ela tem de criativo e que possibilitou isso. Fala-se de uma crise da modernidade, presa de
suas próprias promessas, que não consegue cumprir quando mais gente quer entrar no paraíso.
Fala-se em mudança do paradigma político para o ético, em revigoramento de outros - do
econômico, cultural, étnico, nacionalista, religioso -, mas não se fala no paradigma estético. Por
que razão o paradigma estético não é mais tema das Humanidades? Porque os ricos têm
vergonha do belo? Porque os pobres o acham supérfluo? Porque ele tende a banalizar-se no utile
e porque é este que vende? Mas isso nada tem de novo.
O ato de ler
Ler é mais do que decifrar o código linguístico; ler é questionar, é querer saber além.
Quando lemos, dialogamos com os outros por meio de autores e personagens, mas
também dialogamos com nossas próprias ideias e convicções.
A leitura funcional
Apesar de as linguagens visuais serem tão presentes em nosso cotidiano, o texto escrito
tem enorme importância na cena urbana atual. O mundo tem pressa, e, assim, passamos a
nos comunicar mais frequentemente utilizando mensagens escritas, enviadas e recebidas
pelo computador ou pelo celular. As mensagens trocadas por esses veículos de
comunicação devem ser breves e objetivas e, de preferência, transformadas em
abreviaturas e emojis.
Essa é uma preocupação de pais e professores. Percebe-se, de um modo geral, uma
dificuldade de concentração na leitura de textos extensos. Por esse motivo, foi
desenvolvido o conceito de leitura funcional.
A leitura funcional permite a elaboração de fichamentos, resumos, sínteses e resenhas.
É importante destacar que a leitura funcional serve à apreensão dos principais dados de um
texto, mas ela deve ser utilizada como um recurso utilizado pelo leitor para aquisição de
conhecimentos.
Clique aqui e veja um exemplo de leitura funcional.
A leitura reflexiva
O prazer de ler
Se você fizer uma pesquisa na internet sobre o prazer de ler, certamente encontrará artigos
que apresentam a literatura como diversão, entretenimento e, também, conhecimento. Se
fizer uma busca em algum banco de imagens, surgirão pessoas sorrindo com um livro nas
mãos.
Em ambos os casos, você pode encontrar o prazer de ler. Isso porque o ato de leitura
corresponde ao desejo do leitor, ao que o impulsiona a ler. Encontra-se o prazer em ler
tanto um manual técnico, porque o leitor desvenda os segredos da montagem de um
equipamento, quanto a obra-prima da literatura Os Lusíadas, de Luís de Camões, porque
reúne fatos históricos com profundas reflexões sobre a condição humana. Seja qual for o
texto, ele proporcionará prazer apenas se o leitor se sentir motivado à leitura e interagir
com a mensagem escrita.
Para encontrar o prazer de ler, o leitor deve analisar a estrutura do texto e se apropriar dos
signos linguísticos, encontrando o significado proposto e, ainda, atribuindo novos
significados aos signos expressos na mensagem. Só assim o texto lido se expande e releva
saberes até então desconhecidos pelo leitor e emoções não experimentadas em sua própria
vida.
Aula 2
Estratégias de leitura
O ato de ler não é passivo. Todo leitor participa da construção do texto ao
aplicar estratégias de leitura que permitam uma interpretação adequada do texto lido. O
leitor competente questiona e verifica as lacunas deixadas pelo autor; seleciona dados
relevantes e os compara com elementos de outros textos; cria hipóteses e antecipa
resultados.
Lembrando que:
O conhecimento de mundo (ou conhecimento enciclopédico) pode ser adquirido de forma
empírica (experiências, vivências, observação) ou pela prática da leitura.
Fatores de textualidade
Um texto não é uma sequência de palavras ou frases sem que haja relação entre elas. O que
chamamos de texto é um conjunto de signos verbais e/ou não verbais que formam uma
unidade significativa denominada textualidade.
Uma das estratégias de leitura utilizadas pelo leitor para que haja uma interpretação
adequada do texto lido é identificar os fatores de textualidade, que podem ser linguísticos
ou extralinguísticos.
Os fatores de textualidade linguísticos são a coesão e a coerência, que garantem a
harmonia do texto. Os conceitos “elementos linguísticos”, “elementos extralinguísticos”,
“coesão” e “coerência” já foram estudados na Unidade 2. Vamos relembrar:
F
onte: Blog do Jeff Rossi
Na tirinha acima, houve falta de coesão textual devido à colocação incorreta do pronome
“eles” na frase.
Informatividade
Refere-se à quantidade de informações necessárias à compreensão do leitor
presentes no texto.
Aceitabilidade
É a aceitação do texto por parte de quem o lê. Depende do conhecimento de
mundo do leitor, do contexto da mensagem e da proposta do autor.
Fonte: Tir
as Armandinho
O diálogo apresentado na tirinha é verossímil, pois se contextualiza com uma
situação que tem correspondência na realidade. Assim, a aceitabilidade do texto
foi garantida pelo autor.
Situacionalidade
Refere-se à adequação do texto à situação comunicativa (contexto em que o
texto é apresentado).
Intertextualidade
A relação entre dois ou mais textos é denominada intertextualidade. Isso ocorre quando
um falante ou um escritor faz referência a outro texto, em citação direta ou indireta.
A intertextualidade pode ocorrer em textos verbais, textos não verbais e textos híbridos
(verbais e não verbais). O conhecimento de mundo do leitor é fundamental para que a
intertextualidade seja identificada.
Os meios de comunicação, especialmente após o avanço tecnológico, possibilitaram a
todos o acesso a uma enorme quantidade de informações. Assim, relações
intertextuais estão presentes em diversas mensagens, sendo utilizadas para atender a
objetivos variados, como a venda de produtos, o humor, o protesto etc.
A charge de Maurício de Souza faz uma relação intertextual com a capa do disco Abbey
Road, dos Beatles.
As artes valem-se, constantemente, da intertextualidade para confirmar uma ideia ou
contradizê-la. A música Bom Conselho, de Chico Buarque de Holanda, contradiz diversos
provérbios populares.
Aula 3
Interpretação de textos
A realidade se faz representar em textos orais ou escritos. Falamos, ouvimos e lemos. No
entanto, muitas vezes temos dificuldades em compreender uma mensagem emitida, pois
precisamos interpretar adequadamente os textos elaborados. É preciso, então, recorrer a
diversos mecanismos de leitura para que o texto alcance o seu objetivo, que pode ser
informar, convencer, encantar etc.
Podemos contar com nosso conhecimento de mundo sobre o tema para compreender a
mensagem, porém é fundamental que os elementos que compõem o texto sejam analisados
e contextualizados, a fim de que a nossa interpretação não promova desvios na mensagem.
O leitor deve analisar todos os dados contidos, a fim de que os resultados apresentados
sejam interpretados adequadamente e utilizados em sua vida prática.
Tabelas e gráficos apresentam signos verbais e não verbais que se complementam. A
interpretação adequada deve associar os signos conforme o indicado pelos elementos
visuais: linhas, cores, faixas etc.
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010, Indicadores sociais municipais
Atenção! É fundamental que todos os elementos apresentados nas tabelas e gráficos sejam
analisados para que haja uma interpretação correta. Se o gráfico apresentar indicação de
porcentagem, não podemos interpretar os dados em números absolutos. O fato de a região
Nordeste possuir maior densidade demográfica não justifica a maior porcentagem de sua
taxa de analfabetismo.
Fonte: educacao.globo.com
Fonte: construcaocivil.info
O poema concreto ao lado é um caligrama composto por Fábio Sexugi. Nele, são utilizados
signos verbais que fazem referência ao prazer de se beber café em uma tarde fria. Os
signos verbais são dispostos na forma de uma xícara e da fumaça que sai da bebida quente.
O último verso é uma interrogação, cujo sinal gráfico forma a asa da xícara.
Em nossas aulas, analisamos letras de música por sua linguagem literária, tendo em vista
que a nossa proposta é a de formação do leitor. Embora alguns críticos neguem à letra de
uma composição musical a classificação de gênero literário, discute-se a compreensão de
que a música é uma ferramenta de divulgação do texto poético. Alheios a essa polêmica,
muitos compositores têm se utilizado das mídias digitais para divulgar seus trabalhos.
Chama a atenção, também, o fato de que poetas e compositores colocam-se na contramão
de uma tendência de valorização da autoimagem e optam por se manterem no anonimato,
evidenciando, apenas, o seu fazer poético.
Cabe a nós, leitores, aderirmos a esse movimento de revalorização do texto literário.
Assista ao filme Palavra (En)cantada, da diretora Helena Solberg, o qual apresenta um
debate sobre esse tema.
Encerramento
Resumo da Unidade
Nesta unidade, você conheceu alguns recursos de interpretação textual e compreendeu que
o leitor não é um sujeito passivo, pois participa da construção do texto ao analisá-lo e
interpretá-lo. O ato de ler exige que o leitor possua alguns conhecimentos prévios para
desenvolver estratégias de leitura que permitam a interpretação correta da mensagem
recebida. Tais conhecimentos são adquiridos por meio de suas experiências (conhecimento
de mundo) e de seu domínio da língua portuguesa (conhecimento linguístico). Dessa
forma, o leitor passa a utilizar outras estratégias de leitura para proceder à análise dos
elementos linguísticos e extralinguísticos presentes no texto, seja ele funcional ou
reflexivo, mas sem abdicar do prazer que a leitura proporciona. Por fim, você compreendeu
que a interpretação de textos diversos, sejam eles gráficos e tabelas, textos publicitários ou
textos literários, depende da aplicação das estratégias de leitura adequadas ao texto.
1. Enredo
No texto narrativo, o enredo ou trama é responsável por sustentar a história. É
quem irá desenvolver ou construir o conteúdo por meio da conexão de fatos que
fundamentem a ação narrativa. Por meio dele, é possível encontrar o conflito ou
tensão no texto que motiva as personagens a se movimentarem. Onde está a
força principal de todos os acontecimentos? Quem segura o enredo? Lembre-se
que enredo e personagem dependem um do outro.
Como visto, todo enredo está presente na estrutura do conflito. Desse modo,
para analisar a obra, é necessário encontrar três pontos principais: o início,
desenvolvimento e clímax.
O início expõe o conflito do romance, da situação que culminará em todo o
desenrolar da trama;
O desenvolvimento são todas as consequências que o conflito trará, ou
seja, os níveis (baixo e alto) de tensão apresentados para serem
resolvidos;
O clímax são os acontecimentos finais da problemática; é onde ocorre o
desfecho.
Obs.: É permitido iniciar uma obra pelo desfecho e, depois, serem apresentados
o início e o desenvolvimento do conflito. Isso pode ocorrer em obras que
utilizam flashbacks para narrarem os acontecimentos. Apesar da alteração da
ordem cronológica, esses três pontos (início, meio e fim) estarão presentes em
todos os textos narrativos.
Resumidamente, o enredo é o esqueleto de uma obra literária.
2. Tempo e espaço
O tempo e o espaço se referem ao contexto histórico e ao local onde
a narrativa se desenrola. No decorrer do texto, podemos encontrar os
acontecimentos históricos, presentes no romance, e determinar em que época a
história se passa. Também é possível identificar o local por meio dos ambientes e
lugares citados.
O tempo e o espaço podem estar presentes numa obra de forma clara, ou seja,
diretamente mencionada pelo narrador ou personagem. Ou de forma
mascarada, quando apenas as descobrimos ao ligarmos alguns fatores ao texto,
como, por exemplo:
1. Se a narrativa nos apresenta a época da ditadura, pressupomos que a
história acontece em meados de 1964 e 1985;
2. Se a narrativa cita a Rua do Ouvidor, concluímos que o enrendo ocorre no
Rio de Janeiro, porque essa Rua é famosa naquela cidade. Além disso,
podemos identificar o espaço por meio da descrição do ambiente e da
análise do aspecto social de um determinado lugar.
Obs.: Caso o tempo e o espaço não possam ser definidos, descreva-os como
não-identificados ou não-definidos. Há outro modo para tratar locais inexistentes,
como cidade/estado/país, é chamá-los de fictícios.
3. Narrador
O narrador é a entidade que conta a história, podendo se apresentar das
seguintes formas:
Heterodiegético: narrador que não é personagem da história, esse é o
mais adotado pelos escritores;
Homodiegético: narrador que faz parte da história, mas não é
o personagem principal;
Autodiegético: narrador que é o personagem principal da narrativa,
protagonista.
Obs.: Dentro desses narradores, podemos encontrar a narrativa em 1ª e 3ª
pessoa. Contudo, em relação à 3ª pessoa, há ainda o narrador omnisciente
(aquele que sabe de todos os acontecimentos e as personagens), o qual pode se
apresentar em duas versões: intruso (quem se intromete na história) e observador
(quem apenas narra os fatos sem interferir). E em relação à 1ª pessoa, existe
o narrador seletivo (quem narra os fatos da forma que quer, podendo mascarar
alguns aspectos ou acontecimentos à sua maneira).
4. Linguagem
Por meio da linguagem é possível analisar a forma como a obra é escrita e até
mesmo narrada. Por exemplo, ao pegarmos um livro antigo, observamos que o
vocabulário é diferente do atual.
Assim, o primeiro passo para estudar uma narrativa de linguagem é verificá-la
como simples ou rebuscada, formal ou informal, culta ou marginalizada, etc.
Outro aspecto a ser adotado é levantar os estilos de linguagem. Esse tipo de
estudo é complicado porque exige um pouco mais de conhecimento sobre o
assunto. Porém, em alguns casos são fáceis de serem identificados e sempre
acrescentam pontos para uma análise literária.
No livro O Cortiço, por exemplo, há alguns exemplos de figuras de
linguagens. O autor Aluísio de Azevedo utiliza o ‘animalismo’ ou ‘zoomorfismo’
para caracterizar seus personagens com características animais.
No total, existem cerca de 21 figuras de linguagens – ter conhecimento básico
sobre cada uma delas é essencial para uma boa análise.
Logo prepararemos um texto sobre as figuras de linguagens para explicá-las
detalhadamente.
5. Personagens
As personagens devem ser analisadas tanto no aspecto físico como no aspecto
psicológico. Contudo, é necessário respeitar a ordem de importância
das personagens da seguinte forma:
Personagens principais (protagonista(s) e antagonista(s));
Personagens secundárias.
Obs.: A análise das personagens principais deve ser feita de forma mais
completa. Além das descrições físicas e psicológicas, podemos analisar alguns
aspectos sociais e históricos, se houverem, como também traçar um perfil mais
aprofundado sobre suas motivações, desejos e anseios.
6. Sinopse
Agora que você conhece todas as características da análise narrativa, escreva
uma breve sinopse sobre ela!
Você sabia que a sinopse ajuda a absorver melhor o conteúdo analisado?
Se você conseguir resumir um material sem dificuldades, estará preparado(a)
para a última e mais importante parte da análise literária.
7. A importância da obra
Depois de todo esse processo de análise dos elementos que compõem
uma narrativa literária, você conseguirá discorrer sobre o livro como um todo.
Basta seguir a sua própria opinião, baseada nas estruturas textuais analisadas
acima e, a partir disso, determinar a importância de cada obra para a literatura.
Esperamos tê-los ajudado, até a próxima!
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