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Aula 1

Língua e linguagem

Roland Barthes (1915–1980): escritor, sociólogo, crítico literário, semiólogo e filósofo


francês.

A linguagem é como uma pele: com ela eu entro em contato com os outros.
(Roland Barthes)
Esta frase do linguista Roland Barthes inicia a nossa aula, pois trataremos,
fundamentalmente, da comunicação. Como estamos nos comunicando com os outros?

Língua e linguagem
Denomina-se língua o sistema linguístico utilizado por determinada comunidade de
falantes que reconhece os mesmos elementos e as mesmas regras. Assim, língua é um
instrumento de comunicação. A língua pode “escrita” ou “falada” e pode variar de acordo
com as condições sociais, culturais, regionais e históricas em que é utilizada.
Selecionamos alguns exemplos de variação linguística.

Fonte: www.estudopratico.com.br

Pelo diálogo, percebemos uma variação linguística decorrente da condição sociocultural. Os


dois falantes se expressam de maneiras diferentes.

Fonte: alessandraferreiramoraes.blogspot.com.br

Nesta representação, ambos os falantes se expressam da mesma maneira, o que caracteriza uma
variação linguística geográfica (ou regional).
Fonte: fronteiraslinguisticas.blogspot.com.br

Na tirinha, podemos notar uma mudança na forma de falar relacionada ao tempo histórico.
Não podemos considerar que essas variações linguísticas sejam incorretas. São apenas
modos diferentes de se utilizar a língua.
É preciso registrar que a língua é dinâmica, ou seja, ela se modifica com o tempo.
A língua não nos permite apenas expressar pensamentos, emoções e sentimentos. Ela nos
permite ampliar nossos conhecimentos e dar conta da realidade que nos cerca.
O estudo da língua também compreende duas modalidades: a norma culta e a norma
coloquial.
Define-se como “linguagem” a capacidade específica que o ser humano tem de se
comunicar, o que pode ser feito utilizando-se a língua ou por meio de expressões corporais
e faciais, sinais, símbolos, imagens, manifestações artísticas etc. Portanto, a linguagem
pode ser verbal (falada ou escrita) e não verbal.

Diferentes tipos de linguagem

Com vimos, a linguagem pode ser “verbal” ou “não verbal”. O importante é que, ao
estabelecermos comunicação com alguém, utilizemos as formas mais adequadas para
expressar a mensagem que pretendemos transmitir. Embora a língua seja a principal forma
de linguagem, ela pode ser complementada ou mesmo substituída para que a mensagem
seja enviada de forma mais eficaz.
Ao longo da história, o ser humano utilizou diversas linguagens para se comunicar. Na Pré-
história, o homem primitivo comunicava-se com seu grupo por meio de desenhos feitos nas
paredes naturais das grutas e montanhas, o que hoje se classifica como “arte rupestre”.
Cavalo – 15000 – 10000 a.C. Pintura em caverna Lascaux, França.
Fonte: Arte em Toda a Parte

No continente africano, as longas distâncias entre povos aliados eram vencidas com
mensagens enviadas por meio de instrumentos musicais, especialmente o tambor. Essa é
uma forma de comunicação ainda utilizada por diversas tribos africanas e ameríndias, além
de povos asiáticos.

Fonte: O Canto dos Tambores

Podemos utilizar expressões corporais como a mímica e a dança para enviar uma
mensagem, ou utilizar gestos convencionados que são compreendidos pelos falantes de
uma mesma comunidade.

A formação do sujeito por meio da linguagem

Quando nos comunicamos com alguém, estamos representando quem somos. Que imagem
queremos consolidar diante do outro? Certamente, a linguagem que utilizamos revela
muito sobre nós mesmos: ideias, convicções, preferências etc.
Quando estamos em um ambiente formal e utilizamos a norma culta da língua, certamente
nossos gestos serão mais contidos. Já em um ambiente descontraído, além da norma
coloquial da língua, talvez utilizemos gestos mais largos para nos expressar.
E quando emitimos uma opinião sobre determinado assunto? Seria possível que essa
opinião fosse totalmente original? Certamente não, pois, diariamente, recebemos diversas
informações, ouvimos propostas, observamos tendências, e tudo isso, de alguma forma,
nos constitui como sujeito. Assim, compreendemos que a linguagem forma o sujeito, tanto
pelas mensagens recebidas como pelas mensagens emitidas.

Fonte: arteemanhasdalingua.blogspot.com.br
Aula 2

Linguagem e sociedade
Na aula 1, refletimos sobre a formação do sujeito por meio da linguagem. Nesta aula,
aprofundaremos o tema para compreender a relação entre a linguagem e a sociedade.

Quem não ouviu ou não fez essa pergunta?


Por mais comum que pareça, esse questionamento feito às crianças faz parte de um
discurso social consolidado segundo o qual todos devem escolher uma profissão.

Formação dos discursos sociais

Antes de debatermos a formação dos discursos sociais, é importante que compreendamos o


conceito de “discurso”.
Normalmente, associamos o termo “discurso” ao ato de discursar, de discorrer longamente
sobre determinado assunto. Para os estudos da linguagem, discurso é um conjunto de
pensamentos e visões de mundo que se constituem em uma sociedade e que, em
contrapartida, sustentam essa sociedade como uma unidade.

Voltemos à pergunta que apresentamos no início da aula: O que você vai ser quando
crescer? Não ser “alguém”, ou seja, uma pessoa produtiva, significa estar à margem da
sociedade.
E se a resposta a essa pergunta fosse “Vou ser filósofo.”? Talvez isso causasse certo
espanto em quem perguntou, pois escolher ser filósofo não nos parece tão comum. No
entanto, os filósofos eram figuras de grande prestígio em determinadas épocas das
sociedades ocidentais.
O que mudou? Mudou a sociedade ou mudaram as pessoas?

Ouça a música Quando você crescer, de Raul Seixas, a qual representa um contradiscurso
social.
Linguagem e ideologia

A sociedade é dinâmica e, com a velocidade das informações, a todo instante, percebemos


que novos discursos sociais substituem discursos mais antigos. Antes, apenas os
intelectuais e os artistas eram os porta-vozes de novas ideologias e, por meio deles,
formavam-se novos discursos. Porém, ainda que eles sejam fundamentais à construção dos
saberes, desde o final do século XIX, representantes de diversas categorias se uniram para
combater discursos que desfavoreciam ou marginalizavam alguns setores da sociedade.

Os trabalhadores das fábricas promoveram greves para lutar por seus direitos; as
reivindicações pelos direitos das mulheres formaram o feminismo; os movimentos contra a
segregação racial exigiram políticas públicas que garantissem a liberdade para além da
abolição da escravatura; as vozes da periferia falaram mais alto em suas manifestações
culturais; a diversidade de gêneros passou a ser tema constante dos debates acadêmicos.

Fonte: Marcha Mundial das Mulheres

Assista a um trecho do filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin.


Diversas linguagens expressam antigas e novas ideologias: livros, jornais e revistas; textos
literários e composições musicais; propagandas publicitárias; caricaturas, charges e
tirinhas; filmes, fotografias, desenhos e grafites. Todas essas linguagens são veículos de
ideologias com as quais concordaremos ou das quais discordaremos utilizando, também,
diversas linguagens para formar novas ideologias.
Ouça a música Ideologia, de Cazuza e Frejat.
Fonte: industriacriativa.espm.br

O grafite social é uma forma de linguagem que expressa ideologias, como o protesto contra
o capitalismo.

Linguagem e cultura

Os conceitos “ideologia” e “cultura”, muitas vezes, se confundem. No entanto, devemos


compreender que ideologia é um conjunto de ideias, crenças e doutrinas que organizam
uma sociedade, enquanto cultura é um conjunto de práticas e comportamentos sociais que
atendem a determinadas ideologias.
É comum se pensar que cultura é um conjunto de manifestações artísticas e culturais. No
entanto, deve-se entender que cultura é o conjunto de representações de uma sociedade, as
quais abrangem, também, as expressões orais, a vestimenta, a culinária, as crenças, as leis
etc. Assim, não é correto dizer que uma pessoa ou um povo não tem cultura.
A cultura de uma sociedade é formada e mantida pela linguagem. Quando repetimos falas,
gestos e atitudes, estamos garantindo a permanência da cultura. E isso é fundamental para
que grupos sociais tenham uma identidade e se fortaleçam na sociedade da qual participam.
Da mesma forma, é por meio da linguagem que a cultura se modifica, renovando a
sociedade.
Fonte: propagandatranscendental.blogspot.com.br

O anúncio acima, veiculado no Brasil nos anos 1960, reforça não apenas uma relação entre
a mulher e o trabalho doméstico, mas, também, a manutenção dessa prática cultural, ao
representar uma menina reproduzindo o comportamento da mãe.

Fonte: pro
pagandatranscendental.blogspot.com.br

As transformações na sociedade promovidas pelo avanço da tecnologia resultam em novos


comportamentos culturais.
Aula 3
Os recursos expressivos das linguagens das artes

Fonte: revistapegn.globo.com

Instalação do artista plástico norte-americano Jacob Hashimoto, intitulada The Other Sun (O
Outro Sol) e composta por centenas de pipas coloridas e brancas feitas de bambu e papel.

Isso é arte?!
Quem já não ouviu esse questionamento antes? Afinal, o que é arte?

Historiadores afirmam que não há uma resposta única para essa pergunta e que arte é tudo aquilo
que consideramos belo. Portanto, não nos preocuparemos com uma definição de arte, mas sim com
as diversas linguagens utilizadas para manifestar a arte e como esta representa a sociedade.

A arte e seus contextos histórico e social


Como vimos nas aulas anteriores, a linguagem se manifesta de diversas maneiras. Uma
das formas mais antigas de comunicação entre os homens é a utilização de linguagens
artísticas, como pintura, escultura, desenho, música etc. Com o domínio de novas técnicas,
os artistas desenvolvem essas linguagens ou criam novas, ampliando sua comunicação com
a sociedade na qual está inserido.
Observe a reprodução do quadro Guernica (1937), de Pablo Picasso.
(Fonte da imagem: http://4.bp.blogspot.com/-tG_oET91AuU/TchDSh7fzmI/AAAAAAAAAEM/
wHCjuvhqvm8/s1600/guernica.jpg)
Ao olharmos para esse mural, talvez não possamos afirmar que ele é belo e que nos encanta.
No entanto, se soubermos que o artista representou o ataque à pequena aldeia de Guernica, em
26 de abril de 1937, durante a Guerra Civil Espanhola, compreenderemos melhor as formas e a
escolha dos tons acinzentados que compõem o mural. Certamente, seremos tomados por uma
nova emoção.
Podemos fazer uma viagem pela história da humanidade por meio das produções artísticas.
Para isso, basta que observemos como os artistas representam o seu tempo histórico, que
imagens e temas selecionam e de que modo representam o que veem.
Veja na linha do tempo algumas manifestações artísticas de comunicação.

ARTE RUPESTRE

Feita em pedra, pode parecer um conjunto de desenhos infantis se não soubermos que, na
Pré-História, os homens primitivos desenhavam o seu cotidiano (caças, lutas etc.) para se
comunicar com seu grupo social e por acreditar que a imagem representada possuía o
poder mágico de fazer a realidade acontecer.

ANTIGUIDADE CLÁSSICA

Discóbulo
Com o domínio de técnicas de manuseio de materiais diversos, novas linguagens da arte
são desenvolvidas. Na Antiguidade Clássica (século VIII a.C. – século V d.C.), período em
que gregos e romanos dominaram o fazer artístico, a arquitetura e a escultura ganharam
destaque como linguagens da arte.
O Discóbulo (lançador de discos), escultura de Míron, representa a perfeição do corpo
humano. O original, que teria sido feito em 455 a.C., não foi encontrado. Por isso,
conhecemos apenas as cópias feitas em mármore pelos romanos.

ANTIGO EGITO

Tutankhamon e sua esposa (1330 a.C.).


Fonte da imagem: www.sohistoria.com.br

No Antigo Egito, outras linguagens eram desenvolvidas. As pirâmides do Egito, famoso


conjunto arquitetônico, são túmulos onde eram sepultados faraós e outras figuras da
nobreza.
Dentro das pirâmides, há trabalhos artísticos em diversas linguagens que representam a
imagem e a vida dos faraós, nobres e oficiais do exército, a fim de que eles não se
esquecessem de sua vida após a morte. Isso porque os egípcios antigos acreditavam que o
espírito permaneceria vivo se a sua memória da vida terrena não fosse apagada.

CRISTIANISMO
Figura 1 - Fachada neogótica da catedral de Barcelona
Fonte da imagem: catedraismedievais.blogspot.com.br
Figura 2 - Catedral Neogótica de Barcelona, construída entre os séculos XIII e XV.
Fonte da imagem: www.snpcultura.org
Na Idade Média (séculos V – XV d.C.), as linguagens da arte no Ocidente serviram, quase
todas, ao propósito de “divulgar o cristianismo”. Na arquitetura das catedrais e igrejas,
altas torres em forma de ogiva (foguete) apontam para o céu, indicando que o homem deve
alcançar a salvação por meio da fé. No interior das catedrais, belos vitrais, com muitos tons
de azul e dourado, dão a impressão aos fiéis de que estão envolvidos por uma luz divina
que leva ao afastamento do mundo material.

RENASCIMENTO

Homem Vitruviano
Fonte da imagem: www.newsrondonia.com.br

Entre fins do século XIV e fins do século XVII, a Igreja Cristã ainda exercia forte
influência no mundo ocidental, especialmente nas artes. Todavia, essa época também é
marcada pelo avanço científico, pelo humanismo e pela compreensão do mundo por meio
da Razão.
Artistas como Leonardo Da Vinci e Michelangelo representaram figuras e cenas bíblicas,
mas também desenvolveram uma linguagem artística fundamentada no pensamento
racional, utilizando cálculos e medidas de proporção em suas obras. O “Homem
Vitruviano” (imagem ao lado) foi elaborado com complexos cálculos matemáticos.
BARROCO

Basílica de Nossa Senhora do Carmo em Recife (PE)

Em oposição ao movimento renascentista, entre os séculos XVI a XVII, o período


conhecido como Barroco (pérola imperfeita, utilizada como analogia à imperfeição
humana) propõe um retorno aos ideais cristãos. Assim, as artes apresentam uma linguagem
em que se manifesta a inferioridade humana diante do poder de Deus.
A arquitetura e a escultura tornam-se linguagens revestidas pela suntuosidade do ouro,
como se vê na Basílica de Nossa Senhora do Carmo em Recife (PE), construída no século
XVII.

ARCADISMO
Com a Revolução Francesa (1789), que derrubou os monarcas e colocou no centro do
poder a burguesia, há um afastamento dos ideais barrocos. Surge, então, no século XVIII, o
movimento chamado Arcadismo ou Neoclassicismo, cuja linguagem mais destacada é a
literatura. Os poemas árcades pregam as propostas filosóficas da Antiguidade Clássica,
como já havia ocorrido durante o Renascimento. A vida bucólica no campo, o equilíbrio da
natureza e a valorização do amor tranquilo aparecem nos textos poéticos juntamente com
deuses e deusas gregos e romanos. Os versos do poeta português Manuel Maria de Bocage
expressam muito bem essas propostas.

Versos de Manuel Maria e Bocage.


Leia o poema na íntegra e a análise dos versos em: solpoesiaeprosa.blogspot.com.br

Análise e interpretação das linguagens artísticas

Como compreender uma obra de arte?


Evidentemente, não há uma fórmula pronta que possa ser utilizada pelo espectador. No
entanto, além de contextualizar a obra de arte em seu tempo histórico e na sociedade em
que ela foi produzida, como vimos anteriormente, há outros dois elementos fundamentais
para analisarmos as linguagens artísticas:
 Estilo
É o conjunto de recursos utilizados pelo artista para se expressar. Quando ele mantém a
preferência por algum estilo, podemos identificá-lo facilmente como o autor de uma obra
de arte.
 Estética
É a harmonia de formas e cores, o que torna uma obra de arte bela.

O conceito de Belo em arte define-se pela estética e não pelo tema. Por exemplo,
um quadro pode representar um tema sombrio e trágico, mas a estética utilizada
pelo artista para compor a imagem torna seu trabalho Belo. Entende-se, ainda,
que o Belo é um conceito alcançado pelo espectador da obra de arte quando ele
se encanta pelo trabalho que contempla. Assim, um objeto artístico considerado
Belo por uma pessoa pode não agradar a outros.
(GOMBRICH, E.H. A história da arte. 16. ed. Rio de Janeiro, 2012.)

Quando observamos um quadro ou uma escultura, quando lemos um poema ou, ainda,
ainda, quando ouvimos uma música, não devemos apenas tentar compreender a mensagem
transmitida, mas como ela é transmitida. Isso é possível observando-se o estilo e a estética
da obra.
Observe e compare os quadros de Tarsila do Amaral, uma famosa artista plástica
modernista brasileira.
O Abaporu

Paisagem com Touro

É assim que podemos analisar obras representadas com outras linguagens da arte.
As composições de Renato Russo, líder do grupo Legião Urbana, possuem duas
características muito evidentes: a primeira é a construção de uma narrativa, pois o
compositor conta uma história em músicas como “Faroeste Caboclo”; a segunda é a
fragmentação, já que algumas de suas composições não são lineares, ou seja, a todo
instante há uma mudança no foco temático e até na melodia, do que são exemplos as
músicas “Vento no Litoral” e “Pais e Filhos”.
No cinema, percebemos claramente a diferença de estilos entre o diretor espanhol Pedro
Almodóvar, com sua estética colorida e exagerada (“Mulheres à beira de um ataque de
nervos” e “Tudo sobre minha mãe”) e o diretor norte-americano Quentin Tarantino, com
sua proposta de um cinema de ação, com cenas violentas (“Pulp Fiction: tempos de
violência” e “Django Livre”).
Assim, observar as formas e as cores, os movimentos e os diálogos das obras de arte, que
definem o estilo e a estética de um artista, nos ajuda a compreender melhor a linguagem
utilizada na produção do objeto artístico.
Cartazes de filmes de Pedro Almodóvar
Fonte da imagem: revistamarieclaire.globo.com

Cena do filme “Django Livre”


Fonte da imagem: https://estilocountry.files.wordpress.com/2014/06/django-livre.jpg

As linguagens da arte contemporânea

A partir do século XIX, o mundo se modernizou, especialmente a partir da Revolução


Industrial, quando as máquinas foram inseridas em nosso cotidiano. A velocidade dos
transportes e das informações modificam os hábitos dos seres humanos e,
consequentemente, as artes.
A partir da segunda metade do século XX, surge a arte contemporânea, traduzindo a vida
moderna e urbana em uma linguagem dinâmica. Não se defende mais a ideia de que haja
uma arte canônica, que sirva de modelo a outras expressões artísticas, e a noção de arte se
expande.
A arte contemporânea apresenta uma mistura de linguagens que contesta a tradição
artística e pretende representar uma cultura de massa. A arte ganha os espaços públicos e
denomina-se street art (arte de rua). Novos ritmos representam as muitas realidades
vividas no mundo urbano, dos grandes centros às periferias; a poesia se torna digital;
desenhos e pinturas convergem para o grafite; e breves performances nas ruas, em horários
comerciais, levam a linguagem do teatro e da dança ao público.
Encerramento
De que forma a linguagem que utilizamos em nosso dia-a-dia nos constitui
como sujeitos?
O que dizemos, escrevemos e representamos expressa nossos pensamentos,
emoções e sentimentos. Assim, nos constituímos como sujeitos diante de nós
mesmos e diante dos outros. É por meio da linguagem que nos relacionamos com
o mundo. Ao dialogarmos com alguém, fazemos escolhas vocabulares e
organizamos nossa fala de acordo com o contexto da comunicação. Algumas falas
são convencionadas pela sociedade; outras, no entanto, são espontâneas e
revelam nossa formação cultural e intelectual, nossos valores e nossos gostos
individuais.

Os discursos sociais são constituídos a partir das realidades que vivenciamos?


O acesso a veículos de comunicação de massa como a televisão e redes sociais
permite que muitas pessoas emitam opiniões sobre diversos assuntos. Muitas
vezes, a velocidade das informações impede que haja uma reflexão aprofundada
sobre o tema debatido. Em contrapartida, um número expressivo de pessoas
emite opiniões que são recebidas por outro grande número de pessoas,
intensificando a interação entre todos e propagando mais rapidamente os
discursos sociais.

Conhecer as linguagens de arte possibilita atribuir novos significados ao


mundo?
O conhecimento das linguagens da arte proporciona ao receptor uma nova
compreensão do mundo, seja pelos aspectos históricos e ideológicos que elas
representam, seja pela atribuição de sentido às vivências cotidianas que são
representadas esteticamente.

Resumo da Unidade

Nesta unidade, você estudou os conceitos de língua e linguagem e compreendeu que,


embora esses termos sejam usados, muitas vezes, sem distinção, eles não são iguais.
Língua é uma forma de linguagem, entre as muitas outras que foram apresentadas nas
aulas. Há diversas formas de linguagem que devem estar adequadas a cada situação
comunicativa e à mensagem transmitida, e todas essas linguagens estão moldadas pelos
discursos sociais que são produzidos em nossa sociedade e que representam opiniões,
conceitos e ideologias. O mesmo ocorre com as linguagens das artes. As manifestações
artísticas estão inseridas em contextos históricos que esclarecem as razões pelas quais um
artista escolheu representar uma imagem ou uma ideia abstrata com determinadas formas e
cores, ou seja, um estilo e uma estética. Assim, uma obra de arte adquire novos
significados quando sabemos em que contexto histórico e cultural ela está inserida. Isso
nos permite conhecer melhor as linguagens utilizadas pelos artistas de todos os tempos e
nos faz compreender melhor o mundo contemporâneo.
ARTIGO:
Cultura de massa, cultura popular e cultura erudita:
diferença entre elas

A cultura, pela definição clássica de Edward B. Tylor, que é considerado o pai do


conceito moderno de cultura, diz que a cultura é “aquele todo complexo que inclui
o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros
hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.

O que é Cultura de massa?


A cultura de massa é aquela considerada, por uma maioria, sem valor cultural
real. Ela é veiculada nos meios de comunicação de massa e é apreciada por ela.
É preciso entender que massa não é uma definição de classe social, e sim uma
forma de se referir a maioria da população. Essa cultura é produto da indústria
cultural.

A indústria cultural produz conteúdo para ser consumido, não se prende a


técnicas. É produto do capitalismo e feita para ser comercializada. Theodoro W.
Adorno, filósofo alemão da Escola de Frankfurt, é defensor da ideia de que a
cultura de massa é imposta pelos meios de comunicação de massa à população,
que apenas absorve aquilo.

O que é a Cultura Erudita?


Já a cultura erudita é aquela considerada superior, normalmente apreciada por
um público com maior acúmulo de capital e seu acesso é restrito a quem possui o
necessário para usufruir dela. A cultura erudita está muitas vezes ligada a museus
e obras de arte, óperas e espetáculos de teatro com preços elevados. Existem
projetos que levam esse tipo de cultura até as massas, colocando a preços
baixos, ou de forma gratuita, concertos de música clássica e projetos culturais.

Como o acesso a esse tipo de cultura fica restrito a um grupo pequeno, ela fica
ligada ao poder econômico e é considerada superior. Essa consideração pode
acabar tornando-se preconceituosa e desmerecendo as outras formas de cultura.
O erudito é tudo aquilo que demanda estudo muito estudo, mas não se deve
pensar que uma expressão cultural popular como o hip-hop, por exemplo, é pior
que uma música clássica.
O que é a Cultura Popular?
A cultura popular é qualquer estilo musical e de dança, crença, literatura,
costumes, artesanatos e outras formas de expressão que é transmitida por um
povo, por gerações e geralmente de forma oral. Como por exemplo a literatura de
cordel dos nordestinos, ou a culinária do povo baiano, são algumas das formas de
cultura popular que resiste ao tempo.

Essa cultura não é produzida após muitos estudos, mas é aprendida de forma
simples, em casa, com a convivência da pessoa nesse meio. Ela está ligada à
tradição e não é ensinada nas escolas. A cultura popular é muito contemporânea,
pois ela resiste ao tempo e raramente se modifica.

Essa cultura vem do povo, não é imposta por uma indústria cultural ou por uma
elite. Por exemplo, o carnaval é uma festa da cultura popular brasileira, o frevo é
uma cultura brasileira, mas é muito mais expressiva no norte do país. Ela
representa a diferença de cada povo, desde o micro até o macro.

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erudita-diferenca-entre-elas/
Aula 1

O texto e o leitor
Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que
Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem
lucra com esse trabalho.
Paulo Freire

A citação destacada, do educador Paulo Freire, responde nossa pergunta inicial. O texto
não deve ser apenas lido. Quando lemos, devemos compreender todos os elementos que o
formam.

A relação entre o texto e o leitor


De um modo geral, define-se leitura como um processo pelo qual um leitor apreende o
código linguístico que, no nosso caso, é a língua portuguesa. Assim, é necessário, apenas,
que o leitor possua “conhecimento linguístico”.

Quando lemos o aviso “Perigo! Cerca elétrica”, certamente compreendemos que não
devemos tocar na cerca, pois poderemos levar um choque elétrico. Para compreender essa
mensagem, precisamos utilizar, apenas, o nosso “conhecimento linguístico”.
Quando somos alfabetizados, capacitamo-nos para ler mensagens escritas. O mundo se
desvenda aos nossos olhos, pois os textos começam a fazer sentido, deixando de ser apenas
um conjunto de formas e cores.
Ler, no entanto, é um processo mais amplo e complexo. Não basta conhecer o código
linguístico para que a leitura seja feita corretamente. A compreensão do texto lido exige
que utilizemos diversos outros recursos, como o sentido da visão, a capacidade de
representação da realidade e o conhecimento de mundo que adquirimos com as nossas
vivências.
Na charge ao lado, percebemos que as personagens não conseguiram identificar o texto
“código de barras” e a sua função. Faltou, neste caso, o “conhecimento de mundo” para
que a leitura se realizasse adequadamente.
Devemos considerar que o texto é precedido de um “autor”, ou seja, o texto não existe sem
que um autor o tenha produzido. É ele quem decide “o que” vai escrever e “como” vai
escrever. A mesma mensagem pode ser transmitida em forma de notícia de jornal, de
poema, de charge etc. O leitor precisa identificar as “pistas” deixadas no texto pelo autor e,
assim, a leitura também depende de um conhecimento interacional.
Fonte da imagem

O texto e o contexto
Mais do que apenas compreender um texto, o conceito de leitura implica atribuir
significados ao texto ouvido ou lido. Assim, o leitor é muito importante no processo de
leitura, pois atua sobre o texto com os seus conhecimentos, estabelecendo relações que não
se encontram expressas graficamente. Essas relações estabelecidas pelo leitor representam
o “contexto”. Todo texto precisa de um contexto.

Fonte da imagem
Na tirinha apresentada, vemos que a personagem Mafalda não conseguiu atribuir um
significado correto à expressão “indicador de desemprego”, pois conhece a palavra
“indicador” apenas como denominação de um dos dedos da mão, aquele que aponta para as
coisas. Ela desconhece que a palavra “indicador” também significa, no campo semântico
(campo de significados) da economia, “indicar algo”. Portanto, Mafalda não compreendeu
o contexto da palavra.
Observe que, na tirinha selecionada, o leitor aciona o seu “conhecimento de mundo” para
compreender a intenção do autor em criar um texto de humor. Cabe ao leitor, portanto,
“contextualizar” a palavra “indicador”.
Há uma infinidade de contextos que podem ser aplicados ao texto. É preciso que o leitor
identifique, no texto lido ou ouvido, os elementos linguísticos e os elementos
extralinguísticos que compõem o contexto.
Elementos linguísticos
São os elementos que constituem um texto: palavras, sinais de pontuação, espaços, cores, formas e
outras representações gráficas (texto escrito); ou palavras, pausas e entonações (texto falado).

Elementos extralinguísticos
São os elementos que não fazem parte do texto, mas que são fundamentais para a sua compreensão,
pois formam o contexto: intenção da comunicação, pessoas envolvidas na situação de
comunicação, local de onde a mensagem é transmitida, expressões faciais e corporais etc.

Nesta charge, o elemento linguístico “rede social” foi descontextualizado pelos elementos
extralinguísticos (imagem), garantindo o humor do texto.

A incompletude do texto
A leitura de um texto não se limita a ler o que está escrito. Mesmo que um texto nos pareça
completo, ao ler, antecipamos conclusões, estabelecemos comparações com outros textos
lidos ou situações vividas e acrescentamos informações às imagens descritas.
Portanto, o leitor não é um sujeito passivo, que recebe as informações sem fazer
questionamentos ou construir relações de significados não apresentados no texto. Ao
contrário, ao ler, ele aciona os seus conhecimentos e cria novas propostas para o texto. Por
isso, podemos afirmar que nenhum texto é completo.
Muitas vezes, faz parte da proposta autoral que o texto seja incompleto. O autor permite
que o leitor complete seu texto a partir de elementos extralinguísticos.
Observe a tirinha abaixo.

Fonte da imagem
A pergunta feita por Hagar à filha, no último quadro, deixa claro para o leitor sua intenção.
O humor do texto ocorre quando o leitor é capaz de completar o diálogo (Hagar insinua
que a sua esposa é a “discursante” do casamento, pois fala muito).
A “incompletude do texto” é uma característica da boa produção
textual.
O autor não deve elaborar um texto que exija do leitor conhecimentos prévios específicos
sobre o tema, os quais não sejam esclarecidos no próprio texto, a não ser que seu público-
alvo seja, também, específico.

Um leitor não deve propagar um texto que foi retirado de seu contexto, pois outros leitores
podem não conseguir interpretá-lo ou fazer uma interpretação equivocada.

Em redes sociais, é comum que sejam feitas postagens de textos filosóficos com a
intenção de transmitir uma mensagem positiva ao leitor. No entanto, extrair a
mensagem de seu contexto pode torná-la incompreensível ou exigir do leitor um
esforço de interpretação que nem sempre trará uma resposta satisfatória.

Aula 2
O texto falado e o texto escrito
Fonte da imagem
A tirinha faz uma crítica ao excessivo uso da gíria “tipo”. No entanto, muitas pessoas
falam assim.

E se esse mesmo texto, em vez de falado, fosse escrito? Você


estranharia?

A comunicação através da fala e da escrita


Quando conversamos com alguém, vamos construindo o texto que emitimos no momento
da situação comunicativa. É possível, por exemplo, dizer novamente algo que não foi bem
compreendido por nosso interlocutor. Assim, o texto falado é espontâneo, não planejado. O
texto escrito, ao contrário, deve ser organizado e claro, pois, normalmente, não estamos na
presença do nosso interlocutor para esclarecer suas dúvidas. Além disso, é necessário que
observemos a adequação da linguagem. Afinal, estranharíamos se um falante se
expressasse de maneira formal em um ambiente marcado pela descontração.

Na tirinha acima, a personagem precisou reorganizar sua fala para que esta se tornasse
adequada ao receptor da mensagem.
A escrita, ao contrário, é planejada. Quando escrevemos um texto, temos a oportunidade de
aperfeiçoá-lo para que a mensagem seja bem compreendida, tendo em vista que, em
mensagens escritas, o emissor não está presente para interagir com o receptor.
Fonte da imagem
Pelo contexto, compreendemos que o estabelecimento não atende clientes que não estejam
vestindo camisa. No entanto, da forma como a mensagem foi elaborada, pode haver uma
interpretação de que os funcionários do estabelecimento não trabalham sem camisa.
O texto escrito deve obedecer às normas gramaticais e apresentar:
Coesão textual
Utilização de mecanismos linguísticos (sinas de pontuação, conectivos, concordâncias nominal e
verbal etc.) que unem as palavras e as frases de um texto de maneira harmoniosa, facilitando a
compreensão do leitor.
Coerência textual
Organização do texto, a fim de que as ideias sejam apresentadas de forma lógica, sem contradições.

Observe as placas e veja o que acontece quando um texto não obedece a essas normas
gramaticais.

Um texto falado pode ser apresentado na forma escrita, desde que a intenção do autor seja
reproduzir a fala. Assim, apesar de escrito, o texto representa a oralidade.

Recursos expressivos da fala e da escrita


Como vimos anteriormente, a fala é espontânea e sofre a influência de fatores externos
(extralinguísticos). Todavia, a fala pode ser enriquecida com recursos expressivos que
facilitem a comunicação e possibilitem ao emissor alcançar seus objetivos.
Alguns recursos expressivos da fala são a entonação, as pausas e as expressões faciais.
Quanto aos elementos linguísticos, a fala pode ser enriquecida com gírias, repetições,
deslocamentos de vocábulos na frase, comparações, uso de adjetivos, diminutivos etc. O
importante é que o falante compreenda quais recursos expressivos são mais adequados à
situação comunicativa.
Fonte da imagem
O personagem Calvin estimula a curiosidade de Haroldo com a utilização do adjetivo
“bizarra”. Em seguida, utiliza o verbo “olha” como recurso para manter a atenção de seu
interlocutor. A utilização da expressão “uau”, que indica surpresa e espanto, faz com que o
leitor compreenda que Calvin foi bem-sucedido ao utilizar recursos expressivos adequados
à finalidade da mensagem.
Os recursos expressivos da escrita fazem parte do estudo da Estilística, que investiga a
língua em sua função expressiva. Os recursos expressivos mais utilizados na escrita são as
figuras de linguagem, como metáfora, metonímia, hipérbole, ironia, antítese etc.

IRACEMA - A lenda do Ceará


"Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e
mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu
hálito perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde
campeava sua guerreira tribo da grande nação tabajara, o pé grácil e nu, mal roçando
alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas."
José de Alencar

José de Alencar (1829–1877), escritor brasileiro, autor da obra-prima Iracema, escrita em


1865. O texto, do movimento Romantismo, é marcado pelo uso de comparações e
metáforas.

Adequação e inadequação na produção de textos


Você já compreendeu a importância da adequação vocabular na situação comunicativa, a
fim de que nossa mensagem seja transmitida corretamente.
Vamos, agora, aprofundar o tema, discutindo a adequação e a inadequação na produção de
textos.
O texto bem escrito deve ser claro, conciso e obedecer às normas gramaticais. No entanto,
isso não é suficiente para que a mensagem seja adequada. Também é necessário que haja
adequação da linguagem na produção dos textos em relação ao contexto da mensagem.
Muitas vezes, o texto elaborado não atinge seu objetivo. Isso ocorre porque ele não está
adequado à situação comunicativa.
1 – Quem é o nosso destinatário?
Enviar uma mensagem com excessos de elogios a alguém que poderia nos favorecer de
alguma maneira não é adequado, pois o receptor pode desconfiar da intenção do
emissor.

2 – Qual a finalidade da mensagem?


Se o conteúdo da mensagem é um pedido de emprego, não se pode usar como
justificativas questões de ordem pessoal, como dificuldades financeiras.

3 – Que veículo será utilizado para emitir a mensagem?


Um dos meios mais utilizados para enviar mensagens é o celular. No entanto, esse
veículo exige que os textos sejam concisos e claros.

4 – Em que ambiente a mensagem é transmitida?


No local de trabalho, não é adequado marcar o churrasco de fim de semana com seus
colegas.

As mensagens publicitárias têm como finalidade convencer o consumidor a adquirir um


produto ou serviço. Se o texto for mal elaborado, o leitor atento perceberá a inadequação
da mensagem.

Fonte da imagem
Na mensagem ao lado, a expressão “bom pra burro” pode significar “bom demais”. No
entanto, ela se torna inadequada por estar associada ao dicionário, criando uma ambiguidade
que induz o leitor a compreender que o livro deve ser utilizado por pessoas com pouca
inteligência.
Aula 3
Textos informativos e textos literários

Para que servem os textos? Informar, conscientizar ou emocionar?

O texto informativo
Está claro que o texto informativo tem como principal função informar sobre um
acontecimento ou uma circunstância. Entretanto, também faz parte da função utilitária do
texto informativo esclarecer, orientar, propor, convencer.
A principal característica do texto informativo é a “linguagem objetiva”, ou seja, a
linguagem que apresenta ao leitor algo que se observa de forma clara e direta. São
exemplos de textos informativos os textos jornalísticos, científicos, técnicos, acadêmicos
etc.
Em jornais, quando o texto apresenta uma opinião sobre um tema, ele é diagramado em
seções à parte, como os editoriais.

Fonte da imagem
Classifica-se um texto informativo pela linguagem utilizada e por sua função, e não pelo tema.
No jornal ao lado, a notícia é sobre as cartas deixadas pelo escritor Carlos Drummond de
Andrade, mas o foco é informativo.
O texto literário
Os textos literários são os que se destinam à arte, como romances, crônicas, contos e
poemas. A principal característica do texto literário é a “linguagem subjetiva”, pois
representa um sentimento, uma emoção ou um pensamento do sujeito.

Embora se defina o texto literário como “não utilitário”, várias


correntes dos estudos sobre a linguagem se mostram contrárias a essa
classificação. Isso por não se poder afirmar que um romance, um conto,
uma crônica ou um poema não possui uma função utilitária na
sociedade, tendo em vista que podem despertar a consciência social do
leitor e ofertar conhecimentos úteis para sua vida prática.

A linguagem subjetiva exige mais recursos expressivos (tema estudado na aula 2 desta
unidade) do que a linguagem objetiva, pois a função primeira do texto literário é
emocionar o leitor.

Fonte da imagem
Mário Quintana (1906–1994) foi poeta, tradutor e jornalista. Por sua preferência por temas
comuns, é conhecido como “o poeta das coisas simples”.
Vários cronistas e poetas famosos se inspiraram em notícias de jornal para compor um poema.
É o caso de Manuel Bandeira, que compôs o seguinte texto poético.

Poema tirado de uma notícia de jornal


João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão
sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
(BANDEIRA, Manuel. Libertinagem. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966).
A publicação em um jornal não é suficiente para classificar um texto como informativo. Da
mesma forma, o fato de um texto ser apresentado em um romance não garante que ele seja
literário.
Então, o que distingue um texto informativo de um texto literário?
Resposta: a linguagem utilizada pelo autor do texto.
O texto poético de Manuel Bandeira poderia ser transformado no seguinte texto
jornalístico:
“O carregador de feira livre conhecido como João Gostoso, morador do morro da
Babilônia, morreu afogado na Lagoa Rodrigo de Freitas, na cidade do Rio de Janeiro.
Testemunhas contaram que, após divertir-se no bar Vinte de Novembro e ter consumido
uma quantidade considerável de bebida alcoólica, João Gostoso teria se jogado nas águas
da lagoa, de onde foi retirado sem vida.”
Observe que, no texto literário, o autor destaca a alegria do personagem (“bebeu”, “cantou”
e “dançou”), contrastando-a com o seu suicídio. Assim, o leitor se envolve com a situação,
intensificando não o fato em si (o suicídio), mas a figura humana que vivencia o fato.

O texto temático e o texto figurativo


A leitura de um texto exige que estejamos atentos a dois elementos principais: o tema
(conteúdo) e a forma como o tema é apresentado.
O tema está no “nível abstrato” do texto. Pode-se discutir o amor, o ódio, as leis, as
virtudes, a política etc. somente com ideias abstratas.
A forma como o tema é discutido está no “nível concreto” do texto. Para discutir o amor, o
autor pode optar por comparações, descrever ações, construir imagens etc.
 Texto Temático
Predomínio do “nível abstrato do texto”. Nesse caso, o leitor capta as ideias apresentadas
por meio, apenas, da reflexão sobre o tema.
 Texto Figurativo
Predomínio do “nível concreto do texto”. O leitor compreende as ideias propostas a partir
de elementos representativos do tema.

Para melhor compreensão dos conceitos, propomos que você observe a imagem a seguir.

O Beijo (1907–1908), de Gustav Klint.


Fonte da imagem
1 – Que tema você proporia para esta imagem?
2 – Que figuras representam a imagem?

Em relação ao “nível temático”, o quadro de Gustav Klint apresenta um beijo dado por um
homem em sua amada.
Em relação ao “nível figurativo”, o quadro de Gustav Klint representa o beijo com os
seguintes elementos concretos: a mulher é envolvida pelo homem, que segura o rosto
feminino como se o protegesse; o homem beija o rosto da mulher; a mulher está de olhos
fechados; ambos estão ajoelhados sobre flores e pérolas; tons de amarelo predominam no
quadro, tanto nas roupas usadas quanto nas flores e pérolas sobre as quais estão os
personagens.
A partir desse exemplo, podemos analisar os textos literários abaixo apresentados.
Foram selecionados trechos do capítulo I da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, de
Machado de Assis. Clique aqui e observe os elementos de cada fragmento.

Encerramento
Por que saber ler não é suficiente para que os diversos textos produzidos na
sociedade sejam compreendidos?
Saber ler é necessário para que se apreenda o que está escrito. No entanto, a
leitura dos diversos textos produzidos na sociedade exige do leitor que ele
participe do texto como um coautor, produzindo significados que nem sempre
estão explícitos na superfície do texto.

Que aspectos do texto falado e do texto escrito devem ser observados na


situação comunicativa?
A língua portuguesa, que é o nosso idioma oficial, serve tanto à fala quanto à
escrita. Todavia, é preciso que compreendamos os aspectos da língua falada e os
aspectos da língua escrita que devem ser aplicados corretamente na situação
comunicativa, a fim de que a nossa mensagem seja apreendida corretamente
pelo receptor.

O texto informativo e o texto literário podem ser identificados pela


linguagem utilizada? Por quê?
O texto informativo apresenta uma linguagem clara e objetiva, embora as
marcas da subjetividade do autor estejam presentes. O texto literário possui
uma linguagem em que predomina a subjetividade, ou seja, as impressões
pessoais do autor e, nesse caso, recursos linguísticos como as figuras de
linguagem são utilizados para que o leitor possa apreender as propostas autorais.
Assim, no texto literário, a linguagem não é marcada pela objetividade.

Resumo da Unidade

Nesta unidade, você compreendeu a importância do papel do leitor no processo de leitura,


porque ler não é apenas acionar seu conhecimento linguístico, mas, também, seu
conhecimento de mundo. O leitor participa da construção do texto, pois atribui novos
sentidos às mensagens, estabelecendo outras relações e outras representações possíveis
dentro do mesmo contexto proposto pelo autor. Dessa forma, ler não é apenas decodificar o
código linguístico, mas apreender todas as características de um texto, seja ele falado ou
escrito, informativo ou literário, temático ou figurativo. Entende-se, portanto, que ler
transcende a folha de papel, pois o leitor deve identificar a adequação da linguagem e os
recursos expressivos utilizados pelo produtor do texto.

LPeU > artigo > Interpretação de


textos e sistemas de conhecimentos

A leitura de um texto não deve ser feita por um leitor passivo. O texto é um lugar
onde escritor e leitor se entendem. O escritor tem em mente algo a dizer, mas espera
que o leitor o entenda; para isso, este tem que ter certos conhecimentos, sem os
quais não conseguirá captar as informações que os enunciados transmitem. Então,
podemos dizer que o leitor tem que ser um sujeito crítico: precisa antecipar fatos -
se possível, a partir do título, posicionar-se diante dos argumentos,reconhecer as
informações explícitas ou não, perceber e entender metáforas, notar expressões que
têm referências fora do texto, etc. A linguista Kock estabelece três grandes sistemas
de conhecimentos necessários para o processo de leitura.

Conhecimento linguístico

Compreende-se neste campo que o leitor tenha conhecimentos gramaticais e


lexicais (palavras) suficientes para entender as frases, o encadeamento delas, o
significado dos termos, enfim, por em prática o seu conhecimento linguístico.

Conhecimento de mundo

Como conhecimento de mundo entende-se toda a experiência de vida do leitor, tudo


o que ele já viu, já leu, já ouviu, em sua vida. Muitas vezes o texto traz referências
de coisas ou fatos ocorridos há tempos, ou fatos históricos, mitos, crendices,
folclore, coisas enfim, que o escritor, na verdade, pretende dialogar com o leitor
sobre elas, ou, trazer à lembrança do leitor esses fatos.

Conhecimento interacional

Engloba-se neste tipo de conhecimento a interação entre o escritor e o leitor.


Algumas vezes, o escritor dialoga diretamente com o leitor ou no preâmbulo do
livro, ou mesmo no decorrer do texto. Outras vezes, há um trocadilho com uma
mensagem implícita esperando o riso do leitor. Da parte do escritor há de haver
também preocupação com objetividade daquilo que pretende informar, a adequação
dos elementos, coerência, etc. Palavras grifadas, entre aspas, parênteses, são
recursos gráficos que o escritor usa para chamar a atenção do leitor. Entende-se,
portanto, como conhecimento interacional, que leitor e escritor caminhem juntos.

nota:
(fonte: Koch.I.V.Elias.V.M. Ler e Compreender os sentidos do texto. Editora
Contexto.SP.2008.cap. 2.)
https://www.lpeu.com.br/q/4su27

Aula 1
O signo: palavras e imagens

O processo de comunicação pode se tornar mais eficaz se a escolha do signo verbal ou não
verbal atender à proposta da mensagem e ao contexto em que ela é transmitida. No entanto,
para que os signos possam ser compreendidos, o leitor precisa saber o que eles representam
no contexto da mensagem.

O signo verbal: denotação e conotação

Signos verbais (ou signos linguísticos) são os que utilizam palavras, escritas ou faladas, em
sua composição. Nesse caso, utilizamos uma linguagem verbal.
Exemplos: “xícara” é um signo verbal composto de uma palavra; "asa de xícara” é um
signo verbal composto de três palavras.
Atenção: “asa de xícara” é um signo verbal porque representa um só elemento, ou seja, a
palavra asa compõe uma parte do utensílio xícara. No entanto, “asa de anjo” e “asa de
passarinho” são expressões que não representam apenas um elemento, pois a palavra “asa”
mantém a sua unidade, tendo sido complementada por “de anjo” e “de passarinho”.

Quando escrevemos ou pronunciamos o signo “asas”, logo nos vem à mente a imagem das
asas de um pássaro, de um avião ou mesmo de um anjo. Nesse caso, o signo verbal
corresponde à realidade. Assim, temos uma linguagem denotativa.
Quando lemos ou ouvimos a expressão “asas da imaginação”, associamos um signo verbal
(“asas”) a uma realidade à qual ele não corresponde diretamente, o que se constitui como
uma linguagem conotativa.
O signo não verbal: imagens, índices, ícones e símbolos

Muitas vezes, um texto prescinde de palavras, ou seja, um texto é elaborado e pode ser
compreendido sem que o autor utilize signos verbais. Quando isso ocorre, temos um texto
constituído por signos não verbais.
Os signos não verbais são representações (visuais ou sonoras) de uma realidade. São
exemplos de signos não verbais: dança, mímica, expressões faciais, gestos, desenhos,
fotografias etc.

Um texto elaborado em linguagem não verbal pode utilizar apenas uma imagem.
A imagem ao lado pode ser compreendida pelo signo verbal “sorriso” ou pela combinação
de signos “sorriso de mulher”.
Entretanto, há signos não verbais que, pela repetição de seu uso ou pela reincidência de
fenômenos, são associados a um determinado objeto, realidade ou ideia. Esses signos não
verbais transformam-se em índices, ícones ou símbolos.
Denominam-se índices os signos não verbais que funcionam indicando outra coisa, que
poderá vir na sequência, e que são compreendidos segundo a experiência do interpretador
(aquele que interpreta o signo).

Um céu com muitas nuvens escuras e relâmpagos são um indício de que


poderá ocorrer uma tempestade. A reincidência desse fenômeno natural
transformou a imagem em índice.
Batidas repetidas em uma porta indicam que alguém deseja ser atendido pelo
morador da residência. Assim, o som das batidas constitui-se em um índice.

Denominam-se ícones os signos não verbais, criados artificialmente, que representam um


objeto por similaridade (semelhança), ou seja, que sejam coerentes com o objeto ou com a
realidade a ser representada.

Os ícones de masculino e feminino, proibição e reciclagem são compreendidos


universalmente.

Os emojis (ideogramas de origem japonesa) são ícones que transmitem a ideia de uma
palavra ou de uma frase completa.
Denominam-se símbolos os signos não verbais que são associados a ideias abstratas, tendo
ou não relação direta entre o signo e o conceito. Os símbolos existem por convenção
social, ou seja, uma determinada comunidade compreende e aceita uma associação entre
um signo não verbal e o que ele deverá representar.

Acima, temos os símbolos da justiça, do infinito e da paz.

A “balança” é o símbolo da justiça porque representa o equilíbrio entre a culpa e o castigo;


o “oito deitado”, originalmente, é um símbolo matemático usado desde a Antiguidade
pelos gregos e representa o que não tem fim e, no contexto místico, representa a eterna
recriação e repetição do universo; o símbolo da paz foi criado em 1958 pelo britânico
Gerald Herbert Holtom e representa a união das letras N e D, que significam
desarmamento nuclear.
O peixe é um símbolo primitivo do cristianismo. As primeiras letras das palavras “Iesous
Christos, Theou Yios Soter”, que significam “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”,
correspondem à palavra grega Ichthys (“peixe”, em português). Esse símbolo mantinha os
primeiros cristãos no anonimato, protegendo-os da perseguição dos romanos.
Antes de se tornar símbolo, um signo não verbal pode ser definido como índice ou ícone. A
repetição e aceitação do índice ou ícone pela sociedade pode atribuir ao signo o valor de
símbolo.

A escolha dos signos no processo comunicativo

Como vimos na Unidade 2 (Aula 2), precisamos adequar nossa linguagem à situação
comunicativa.
Quando elaboramos um texto, seja oral, seja escrito, a escolha dos signos, verbais ou não
verbais, deve estar de acordo com a situação comunicativa, a fim de que a mensagem seja
compreendida pelo receptor.
Para isso, é necessário que saibamos:

a. A quem se destina o texto produzido?


b. Qual a finalidade da mensagem?
c. Que veículo será utilizado para transmitir a mensagem?

Como leitores, preocupamo-nos mais com o conteúdo da mensagem do que com a forma
como ela é transmitida. No entanto, se os signos utilizados não forem selecionados
adequadamente, haverá ruídos na mensagem, e ela talvez não cumpra seu objetivo.

Fonte: Portal do Professor

O outdoor acima apresenta um texto elaborado com signos verbais que estão de acordo
com a proposta. No entanto, a escolha dos signos não verbais, que representam
personagens de histórias infantis não parece adequada. Afinal, as crianças não têm muitos
motivos para simpatizar com a figura da bruxa posicionada no centro da imagem. A
escolha inadequada do signo não verbal causa um “ruído na comunicação”.

Uma prática desenvolvida culturalmente é a “cantada”, uma tentativa de aproximação de


alguém que desperta o interesse do falante. No entanto, para que a mensagem seja bem
recebida pelo interlocutor, o falante deve ter cuidado com a escolha dos signos.

Uma “cantada” conhecida é “O cachorrinho tem telefone?”. No entanto, na charge acima, o


falante substituiu o signo “cachorrinho” por “cadelinha”, o que não foi uma boa escolha.

Vocábulos que possuem mais de um significado podem dificultar a compreensão da


mensagem, provocando ambiguidade.

Fonte: Conversa de Português

O signo “muda” provocou uma ambiguidade, embora o leitor entenda a mensagem pelo
contexto estabelecido pela expressão “vende tudo”.
Com esses exemplos, constatamos que a escolha dos signos é fundamental para que a
mensagem elaborada seja bem compreendida.
Aula 2

Tipologia e gêneros textuais


O tempo e o vento (1949-1962) é uma obra literária do escritor brasileiro Érico Veríssimo.
Essa obra-prima divide a história em três partes (O Continente, O Retrato e O
Arquipélago), distribuídas em sete volumes.
A obra foi adaptada para o cinema em 2013 pelo diretor Jayme Monjardim. O filme é
exibido em uma hora e 55 minutos.

Fonte: Site Submarino

Você prefere ler os livros que compõem a obra literária ou assistir ao


filme?
Não responda tão rápido. Conheça, antes, os conceitos tipologia textual e gêneros
textuais.

Tipologia textual

Quando elaboramos um texto, o nosso principal objetivo é a comunicação. Um texto mal


estruturado pode deixar o leitor confuso. Assim, como leitores, devemos conhecer os tipos
de texto que podem ser utilizados na comunicação.
Denomina-se tipologia textual a classificação dos textos quanto à sua função e ao
conteúdo da mensagem.
Os principais tipos textuais são:

Narração
O texto narrativo destina-se a contar uma história, real ou fictícia. Apresenta os
seguintes elementos: fatos (em sequência cronológica ou não), narrador,
personagens, tempo e espaço. Normalmente, os verbos são utilizados no tempo
passado. É o tipo textual próprio dos romances, contos e crônicas e de quaisquer
textos que contem uma história.
A composição musical Faroeste Caboclo, de Renato Russo, é um exemplo de
narração. Na letra, identificamos o narrador (quem conta a história), os fatos, os
personagens e referências ao tempo e ao espaço.

Dissertação
O texto dissertativo é, também, dissertativo-argumentativo e se caracteriza por
desenvolver estratégias argumentativas (teses, opiniões) sobre um tema. É o tipo
textual utilizado em trabalhos acadêmicos e resenhas.

Toda dissertação apresenta uma opinião, mas essa opinião deve ser bem
fundamentada para convencer o leitor ou, pelo menos, levá-lo à reflexão sobre a
ideia proposta.

Exposição
O texto expositivo tem como propósito apresentar informações sobre um fato ou
um objeto específico, indicando as suas principais características. São exemplos
de textos expositivos: relatórios, seminários e palestras.

Fonte: Blog Tecnologia e Educação


Na charge, ao responder à professora, Joãozinho faz uma exposição sobre o país,
segundo a sua própria compreensão.

Descrição
O texto descritivo tem a função de descrever, de forma objetiva ou subjetiva,
coisas, pessoas ou acontecimentos. Todo texto que apresenta características de
uma pessoa, coisa ou circunstância é descritivo, como relatórios médicos,
cardápios, currículos, anúncios de classificados e rótulos de produtos
industrializados.
Fonte: Blog Propagandas de Gibi
A descrição do chocolate Chokito tornou-se famosa e, apesar de não estar mais
sendo veiculada há uma década, ficou na memória dos receptores da mensagem.

Injunção
O texto injuntivo (ou instrucional) tem como finalidade instruir, orientar o
receptor da mensagem. Os verbos são apresentados no modo imperativo. Bulas
de remédios, receitas culinárias, propagandas e regulamentos são textos
injuntivos.

Fonte: Blog Nadia Nadalon


Textos injuntivos são adequados a campanhas diversas, como as de segurança no
trânsito.

Gêneros textuais

Os gêneros textuais são inumeráveis, pois novos formatos de textos são criados para
atender a novos contextos, especialmente com o avanço da tecnologia. Cada gênero textual
possui sua característica, de acordo com o emissor, o receptor, a finalidade e o suporte
(veículo) utilizado para transmitir a mensagem.
Você encaminharia um requerimento a sua mãe solicitando que ela prepare o seu prato
preferido para o jantar? Deixaria na mesa de seu chefe um bilhete com um pedido de
aumento salarial? Certamente, esses gêneros textuais não são adequados às mensagens
propostas.
O produtor de um texto deve escolher o gênero textual que melhor atenda ao propósito da
situação comunicativa, pois o leitor, por experiência, associa o conteúdo da mensagem ao
gênero utilizado.
Um produto ou serviço deve ser oferecido no gênero textual propaganda; uma notícia se
lê em um texto jornalístico; os ingredientes de um bolo podem ser encontrados no gênero
textual receita; as indicações de um remédio para determinado tratamento estão
disponíveis no gênero textual bula; uma história ficcional pode ser lida nos
gêneros: romance, conto, crônica, fábula, história em quadrinhos etc.
Certos suportes são apropriados a determinados gêneros, e, consequentemente, o leitor
antecipa o conteúdo da mensagem que será lida.
Há dois tipos de suportes: os convencionais, que se destinam a portarem ou fixarem textos,
e os incidentais, que não têm a finalidade específica de apresentar o texto, o que ocorre
ocasionalmente por motivos práticos ou por escolha do produtor.
Destacamos, ainda, a ocorrência de gêneros híbridos, que é quando uma mensagem
apresenta mais de um gênero textual.

Fonte: Blog E.E Dom Cabral

Na imagem acima, temos um gênero textual híbrido, composto pelo gênero


textual charge e pelo gênero textual cartaz.

Hipertextualidade

Quando um texto associa à língua outras formas de linguagem, ele passa a ser
denominado hipertexto. Originalmente, define-se hipertexto como uma forma de escrita e
leitura não linear, com blocos de informações e de imagens que se integram ao texto
principal. Dessa forma, o hipertexto permite a construção coletiva de um texto (autor,
ilustrador, diagramador etc.) e a reorganização da leitura, tendo em vista que o leitor
determina a ordem em que os elementos textuais serão lidos.
Fonte: Blog Consumo e Propaganda

A peça publicitária destacada utiliza dois gêneros textuais em sua mensagem:


a propaganda de um produto e a composição musical Garota de Ipanema, de Tom
Jobim e Vinícius de Moraes. Aos dois gêneros é associada uma fotografia que dialoga com
os textos, configurando a mensagem como hipertexto.
O termo hipertexto foi proposto por Theodore Nelson, na década de 1960, por considerar
que o cérebro humano processa informações de forma não linear, ou seja, o leitor faz
associações entre o texto que lê com outros textos, imagens, sons etc.
Além disso, o leitor pode escolher, por exemplo, a ordem em que lerá um livro de contos.
O leitor, portanto, tem participação ativa na leitura.
Textos complementados por notas de rodapé, ilustrações, fotografias, desenhos e legendas
são exemplos de hipertextos.
Um texto ilustrado, por si só, não se constitui como hipertexto. É preciso que a ilustração
dialogue com os signos verbais, complementando-os ou até contradizendo-os.
Com as novas mídias digitais, os hipertextos se tornaram um recurso fundamental à
elaboração das mensagens. Assim, os estudos da linguagem apresentaram um novo
conceito ao leitor: hipertextualidade.
Hipertextualidade é a característica principal dos textos apresentados na internet, que são
construídos de forma coletiva e que permitem ao leitor acessar outros textos, vídeos e
áudios de acordo com as suas escolhas, em tempo real. A leitura, assim, alcança outro nível
de interatividade, e o leitor se torna um coautor.
A hipertextualidade propôs uma nova classificação de gêneros textuais: os gêneros
virtuais. Como as mídias eletrônicas possibilitam a construção e reconstituição das
linguagens utilizadas, surgem gêneros como e-mails, chats, fóruns, MSN, blogs, redes
sociais etc.
Aula 3

O gênero textual como expressão da cultura


Você já se emocionou com uma fotonovela?

Você já viu um “certificado de liberação” da Censura Federal antes da exibição de um


programa de televisão?

O que esses dois gêneros textuais têm a ver com a cultura? E como
podemos relacioná-los no contexto cultural?

A diversidade dos gêneros textuais

Você já estudou, na Aula 2 desta unidade, que os gêneros textuais são criados de acordo
com as especificidades da comunicação. Cada gênero textual possui, pelo menos, uma
função específica: bulas de remédio orientam sobre o medicamento que será utilizado;
editais de concurso convocam candidatos e apresentam regras para as inscrições; jornais
informam os leitores sobre fatos relevantes; outdoors anunciam produtos ou convocam o
leitor para aderir a determinadas campanhas.
Os gêneros textuais deixam de existir apenas se não atenderem mais à proposta da
comunicação ou se o suporte utilizado não estiver mais disponível. Assim, mesmo que um
gênero textual não seja mais utilizado com frequência na situação comunicativa, ele poderá
ser utilizado. Nada impede, por exemplo, que você queira escrever uma carta em vez de
enviar uma mensagem eletrônica.

O que devemos destacar, no entanto, não é a quantidade de gêneros textuais existentes,


mas a sua diversidade, garantindo que as mensagens enviadas possam alcançar o objetivo
proposto pelo autor de forma mais eficaz.

Por que é importante estudar gêneros textuais?

O estudo de gêneros textuais compreende a valorização da forma como a mensagem é


transmitida, e não apenas o conteúdo da mensagem.
Em uma sociedade produtiva e marcada pela velocidade das informações, tornou-se
fundamental que nos comuniquemos de forma rápida e eficiente.
A diversidade de gêneros textuais reflete uma sociedade dinâmica, que se faz representar
por meio de muitas e diferentes manifestações culturais. Assim, estudar gêneros textuais
nos ajuda a compreender melhor a sociedade da qual participamos.

Gênero textual e ideologia

O que vamos destacar, agora, é como os gêneros textuais se relacionam com a ideologia.
O contexto cultural e ideológico, normalmente definido por épocas históricas (tema
estudado na Aula 3 da Unidade 1), pode determinar o uso de alguns gêneros textuais. No
período Barroco, a necessidade de converter ao cristianismo os habitantes do Brasil
Colônia conferiu importância ao gênero textual sermão. O padre português António Vieira
(1608-1697) foi enviado às terras brasileiras para evangelizar indígenas, africanos
escravizados e colonizadores que aqui viviam.

Uma das formas mais antigas de propagação de uma ideologia é o livro, um suporte
de gêneros textuais literários, como romance, conto, crônica e poesia, e de gêneros
textuais não literários, como teses, ensaios científicos, artigos científicos etc. Por ser um
instrumento normalmente utilizado por pensadores e intelectuais, o livro sempre foi alvo
dos censores.
Voltemos às perguntas que iniciaram esta aula:
Você já se emocionou com uma fotonovela? Você já viu um “certificado
de liberação” da Censura Federal antes da exibição de um programa
de televisão?
Afinal, qual a relação entre esses dois gêneros textuais?
Os “certificados de liberação” da Censura Federal determinavam o que o poderia ser
exibido na televisão, lido nos livros e nos jornais ou ouvido nas rádios durante o regime
militar (1968 a 1985). Havia, portanto, o exercício de um poder instituído sobre o
pensamento ideológico de uma nação.
Assim, muitas editoras, por motivos econômicos, lançaram a fotonovela, gênero textual
que fazia sucesso entre o público feminino e sobre o qual não havia tanta censura.
Os “festivais de canção” representavam um importante veículo de disseminação de ideias,
pois eram assistidos por um público composto especialmente por jovens estudantes.
Cantores e compositores se apresentavam, muitos dos quais expressavam seus ideais de
liberdade por meio das músicas. Por esse motivo, as músicas são um gênero textual que
também sofreu com a censura, total ou parcialmente. De Chico Buarque de Holanda e
Caetano Veloso ao grupo Kid Abelha, passando por Adoniran Barbosa, diversos
compositores e cantores foram censurados.
Na África de colonização portuguesa (Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e
São Tomé e Príncipe), muitos estudantes e intelectuais foram presos por liderar
movimentos pela libertação de seus países, conscientizando outros jovens de sua condição
de escravos por meio de manifestos políticos, gênero textual de teor ideológico. Atrás das
grades, alguns deles, como o moçambicano José Craveirinha e o angolano António Jacinto,
encontraram no gênero textual poesia uma forma de continuar a sua luta. Esses líderes
revolucionários escreviam poemas e os enviavam pelos padres que eram autorizados a
visitá-los na prisão e que, secretamente, ajudavam a causa dos africanos.

O escritor moçambicano José Craveirinha (1922-2003), poeta, jornalista e ensaísta,


escreveu poemas na prisão para continuar sua luta pela liberdade. Em sua biografia, o autor
revelou que escrevia seus textos em pedaços de papel higiênico, utilizando uma caneta
roubada de um militar durante uma sessão de interrogatório.
Clique aqui para conhecer a biografia e os poemas do autor José Craveirinha.
Vimos alguns exemplos de como gênero textual e ideologia se associam para comunicar
uma mensagem. Devemos destacar, no entanto, que as ideologias se expressam, também,
por meio de manifestações culturais, e essas manifestações selecionam ou criam gêneros
para se expressarem.

Gênero textual e multiplicidade cultural


Em todos os veículos de comunicação, as palavras “diversidade” e “multiplicidade” se
destacam. Nossa sociedade contemporânea tem discutido as diversidades humanas
(étnicas, sociais, de gênero etc.) e a multiplicidade cultural (linguagem, folclore, música,
dança etc.).
A palavra que reúne toda essa diversidade é multiculturalismo.
Grupos sociais que defendem determinados comportamentos e manifestações culturais
precisam comunicar as suas propostas a um grande público. Nesse sentido, a escolha do
gênero textual utilizado deve estar de acordo com as expressões culturais que se pretende
divulgar.
No contexto cultural contemporâneo, a poesia, gênero literário e textual de grande
prestígio até a metade do século XX, reinventa-se. Poetas pós-modernos utilizam textos
poéticos para expressar uma cultura múltipla e para levar seus leitores à reflexão sobre a
sociedade.

O gênero poesia passa a se comunicar com o leitor de forma mais rápida e interativa. No
texto ao lado, do poeta, compositor e cantor Arnaldo Antunes, destacam-se as cores e a
oposição entre as palavras “vejo” x “miro” e “beijo” x” tiro”.
A música (texto da composição), compreendida como gênero textual, é uma importante
manifestação cultural. Rock, samba, rap, funk, axé music etc. são estilos que determinam
os temas, os quais, por sua vez, manifestam culturas de grupos sociais específicos.
Entendemos, assim, que a escolha do gênero textual não serve apenas à função do processo
comunicativo. Quando estudamos os gêneros textuais, identificamos neles um importante
instrumento de propagação de ideias e de expressão cultural.

 Multiculturalismo é um conceito que compreende o estudo das múltiplas


identidades culturais como base para a formação de uma sociedade.
Surgido na segunda metade do século XX, esse conceito foi adotado em
todo o mundo a partir dos debates sobre globalização e imigração. O
multiculturalismo tem caráter ideológico e se caracteriza como um
movimento que defende a igualdade de direitos políticos e sociais,
especialmente das minorias, e a liberdade de expressão cultural. Não se
pretende igualar as culturas, mas evidenciá-las.

Encerramento
Como deve ser feita a leitura de um texto que associa signos verbais e não
verbais?
Embora o conteúdo da mensagem transmitido pelos signos verbais seja o mais
evidenciado na leitura, o leitor não pode deixar de analisar os signos não
verbais, pois eles não são apenas ilustrativos. Muitas vezes, os signos não verbais
complementam o texto verbal, confirmando ou contradizendo o que está escrito.

Por que a escolha do gênero textual é importante na elaboração de uma


mensagem?
A escolha do gênero textual é importante para que a comunicação seja bem-
sucedida. É preciso que sejam definidos qual o objetivo da mensagem e a quem
ela se destina. Os gêneros textuais, assim, podem ser utilizados de acordo com a
funcionalidade do texto e com a proposta do autor da mensagem.

É possível identificar aspectos culturais analisando-se a utilização dos gêneros


textuais na elaboração das mensagens? Por que?
Sim. Os textos produzidos que manifestam aspectos culturais adaptam-se melhor
a determinados gêneros textuais, tendo em vista a intenção do emissor, os
objetivos da mensagem e o público-alvo. Assim, seguindo critérios de produção e
aceitação, um gênero textual pode antecipar o conteúdo da mensagem e,
portanto, dos aspectos culturais nela presentes.

Resumo da Unidade

Nesta unidade, você identificou os conceitos de signo verbal e signo não verbal, tipologia
textual e gêneros textuais. Um texto não se compõe apenas de palavras (signos verbais).
Imagens (signos não verbais) são utilizadas pelo produtor do texto para que sua mensagem
seja mais eficaz e alcance os objetivos propostos. Além disso, os textos, orais ou escritos,
podem ser classificados quanto à tipologia textual, de acordo com a sua função e com o
conteúdo apresentado, o que facilita a compreensão do leitor. Os textos produzidos se
organizam de acordo com o gênero textual em que são expressos e são criados conforme a
necessidade da comunicação, tendo evoluído para o que se designa gêneros virtuais. Os
gêneros textuais indicam não apenas a função do texto, mas a intenção do seu produtor de
acordo com a ideologia e a cultura que ele deseja expressar, especialmente porque, na
sociedade contemporânea, as manifestações culturais representam a diversidade e o
multiculturalismo.

MULTICULTURALISMO E IDENTIDADE NACIONAL


Ligia Chiappini - Professora de Teoria Literária e Literatura Comparada

O multiculturalismo pode ser visto como um sintoma de transformações sociais básicas, ocorridas
na segunda metade do século XX, no mundo todo pós-segunda guerra mundial. Pode ser visto
também como uma ideologia, a do politicamente correto, ou como aspiração, desejo coletivo de
uma sociedade mais justa e igualitária no respeito às diferenças. Conseqüência de múltiplas
misturas raciais e culturais provocadas pelo incremento das migrações em escala planetária, pelo
desenvolvimento dos estudos antropológicos, do próprio direito e da lingüística, além das outras
ciências sociais e humanas, o multiculturalismo é, antes de mais nada, um questionamento de
fronteiras de todo o tipo, principalmente da monoculturalidade e, com esta, de um conceito de
nação nela baseado. Visto como militância, o multiculturalismo implica em reivindicações e
conquistas por parte das chamadas minorias. Reivindicações e conquistas muito concretas: legais,
políticas, sociais e econômicas.
Para a maior parte dos governos, grupos ou indivíduos que não conseguem administrar a
diferença e aceitá-la como constitutiva da nacionalidade, ela tem de estar contida no espaço
privado, em guetos, com maior ou menor repressão, porque é considerada um risco à identidade
e à unidade nacionais. Mas não há como negar que, cada vez mais, as identidades são plurais e
as nações sempre se compuseram na diferença, mais ou menos escamoteada por uma
homogeneização forçada, em grande parte artificial.
O multiculturalismo é hoje um fenômeno mundial (estima-se que apenas 10 a 15% das nações no
mundo sejam etnicamente homogêneas). Costuma, porém, ser considerado um fenômeno
inicialmente típico dos Estados Unidos, porque este país tem especificidades que são favoráveis à
sua eclosão. Essa especificidade é "histórica, demográfica e institucional". Mas, outros países que
não necessariamente têm as mesmas condições - as quais, segundo Andrea Semprini, em
Multiculturalismo (EDUSC, com tradução de Laureano Pelegrin), são: a existência de instituições
democráticas, de uma economia pós-industrial em via de globalização e de uma população
heterogênea - também apresentam esse fenômeno. Entre esses, Canadá, Austrália, México e
Brasil, especialmente devido à presença de "minorias nacionais autóctones" por longo tempo
discriminadas. Canadá e Austrália têm sido apontados como exemplares, devido a algumas
conquistas fundamentais e relativamente recentes. Mesmo na Europa, nos lembra Semprini, há
minorias que hoje reivindicam seu reconhecimento e, às vezes, como no caso dos Bascos na
Espanha, de forma violenta. Conflitos e contradições também se encontram na França e na
Alemanha. De acordo com Semprini, na França, o caso do véu islâmico fala por si só e, na
Alemanha, a discussão interminável sobre a integração dos turcos e o direito à dupla
nacionalidade volta sempre, mesmo que, hoje, disfarçada no que o partido democrata cristão vem
chamando de Leitkultur - definido por uns como cultura de referência alemã, à qual os imigrantes
deveriam se adaptar (como defendeu, levantando polêmica, Friedrich Merz, presidente do CDU-
CSU, em outubro de 2000), e por outros, mais radicalmente, como cultura dominante.
Os estudos sobre a situação nos Estados Unidos mostram um descompasso entre os discursos e
as práticas, o risco de se utilizarem as bandeiras multiculturalistas como forma de segregação em
guetos dos incômodos diferentes e reivindicantes. O multiculturalismo, assim, vira paliativo. Isso é
compreensível sobretudo no quadro histórico em que se deu, desde o século passado, o
tratamento da imigração nesse país, através do chamado melting pot de alguns e do
desmantelamento das identidades de outros, considerados inassimiláveis. Essa situação se arrasta
até o presente, ainda que camuflada (Maria Helena, eu substitui disfarçada por camuflada, porque
a nota introduzida acima traz uma construção muito parecida com esta).
Deve-se reconhecer, porém, que a chamada Ação Afirmativa, defendida por uns e atacada por
outros, parece ter conseguido, apesar de todos os seus limites, algumas conquistas que, hoje,
ameaçam se perder, conforme nos explica Angela Gillian, em "Um ataque contra a ação afirmativa
nos Estados Unidos - Um ensaio para o Brasil", que integra o volume Multiculturalismo e racismo:
Uma comparação Brasil-Estados Unidos (editora Paralelo 15, organização de Jessé Souza).
No caso dos índios que resistiram ao grande massacre, a defesa dos princípios e ações
multiculturais tem levado a uma retomada da visibilidade da herança indígena, provocando uma
revisão crítica do passado, tentativas de reparação e, da parte de muitos cidadãos, a busca e
reconhecimento de suas origens direta ou indiretamente ligadas a essa herança étnica e cultural.
Mas o sonho americano da democracia, com igualdade de oportunidades e de direitos, desmentia-
se e volta e meia torna a desmentir-se no apartheid dos negros e dos latinoamericanos. Um caso
recente - noticiado pelo Jornal da Tarde, em 16/11/00 ("Herbert viveu o 'sonho americano'.
Agora, vai para albergue no Brás"), e pela Folha de S.Paulo, no dia 20 do mesmo mês ("Brasileiro
deportado recebe duas propostas de trabalho em SP") - mostrou como é difícil a um jovem
brasileiro integrar-se na sociedade norte-americana, mesmo que para lá tenha sido levado bebê,
por pais adotivos que eram cidadãos do país. O jovem João Herbert, hoje com 22 anos, foi
deportado por ter-se envolvido com drogas, como ocorre com muitos jovens em todo o mundo
nessa idade. De volta ao Brasil, sem saber português e sem conhecer ninguém aqui, Herbert
passa a identificar-se como brasileiro, já que, excluído do paraíso que para ele se tranformou
subitamente em inferno, adota o critério: "a gente é o que nasce". Cuidadoso na crítica ao
sistema norte-americano, não deixa de acusar: "Eles tratam os latino-americanos de forma
diferente".
Aliás, sobre a diáspora brasileira e as deportações, uma matéria publicada na revista Época, em
13/11/00, intitulada "Sagas inglórias", evidencia quão fechadas para as pessoas são as fronteiras
abertas para as mercadorias, contradição para a qual um crítico agudo como Chomsky não cessa
de apontar (A minoria próspera e a multidão inquieta, editora da UNB). Segundo a reportagem da
revista Época, o número de brasileiros deportados no ano 2.000 foi de 1.359 pessoas contra 177
no ano de 1999. Todos sentindo-se roubados de sua identidade, como seres de um lugar onde é
cada vez mais difícil ser.
Andrea Semprini nos explica que "se as causas das controvérsias multiculturais vão longe na
história dos Estados Unidos, somente nos últimos dez ou quinze anos esta problemática tem-se
tornado objeto de vivo debate social e político." E ele coloca a questão que se põe para todos
nós: "Por que agora? Por que o multiculturalismo, de repente, tornou-se assunto da moda e
objeto de polêmicas tão violentas?" (Multiculturalismo)
Sua resposta passa por uma análise das transformações por que passou e passa a sociedade
norte-americana, sobretudo a partir dos anos 60, quando se processa o movimento pelos direitos
civis, contra a segregação racial. Como em muitos outros lugares do mundo, são dos anos 60 que
sopram os ventos da abertura multicultural, do reconhecimento dos direitos das chamadas
minorias e da luta pelos seus direitos.
Mas entre a integração formal dos negros, latino-americanos e índios (mas também mulheres,
homossexuais e outros grupos sistematicamente discriminados) na sociedade do bem-estar e da
democracia e a integração real, muitos senões atrapalharam e continuam atrapalhando, pois a
população branca, em grande parte conservadora de uma cultura de longa data racista e
segregacionista, não aceita isso com tanta facilidade. Por outro lado, o alargamento da base
social com a assimilação, mesmo que mais teórica do que prática, mas facultada legalmente, dos
antes inassimiláveis, provoca uma reconfiguração do quadro econômico e social do país. Parte da
classe média cai do paraíso e parte menor reforça sua posição nele pela concentração da renda.
Aumentam os níveis de pobreza e se repete um outro tipo de apartheid: pelo menos 20% da
população fica à margem do sonho americano, inacessível para eles.
Em conseqüência, os conflitos das minorias não se dão apenas com a maioria, mas entre elas
próprias, transformadas umas para as outras em bode expiatório de sua exclusão social. Esse é
apenas um dos desafios que o mundo global e multicultural enfrenta hoje com melhores ou piores
condições de manter a paz entre os diferentes que tentam conviver num mesmo território.
Os teóricos do Multiculturalismo costumam opô-lo à Modernidade, a cujo discurso
homogeneizador se contrapõem o pluralismo, o hibridismo, a interculturalidade e os discursos e
valores de fronteira. Faz parte dessa crítica à Modernidade, a crítica à noção homogeneizadora de
nação e de identidade nacional. Em troca, fala-se da nação como um constructo, como uma
invenção com base em mitos, cuja narrativa silencia fraturas e contradições.
Mas há quem considere que, na América Latina, nem as nações são homogêneas nem a
modernidade é linear, mas palco de múltiplas temporalidades que nunca foi possível disfarçar de
todo. E as reflexões menos simplificadoras sustentam que a identidade, uma vez inventada e
incutida por gerações e gerações, tem uma positividade para o bem e para o mal, servindo tanto
para justificar a violência contra outras nações como para defender as mais fracas - econômica,
política e militarmente - contra as mais poderosas. Ou seja, essas reflexões, com as quais me
identifico, reconhecem que as identidades são históricas e relacionais, mas ainda identidades. Elas
também reconsideram como fator enriquecedor o múltiplo e cada vez mais múltiplo
pertencimento dos indivíduos, suas ambivalências, as identidades ambíguas que se combinam:
continental, nacional, regional, local, de idade, de gênero, étnica, profissional e de classe. A
diversidade cultural e étnica é vista como desafio para a identidade da nação, mas também como
fator de enriquecimento e abertura de novas e múltiplas possibilidades.
Um pensamento dicotômico, muito presente em nossos dias e contraditório a toda a vontade de
liberdade e relativismo, opõe sistematicamente a classe social à etnia e à cultura, mas há também
quem volte a considerá-la com o devido peso. Refiro-me àqueles estudiosos que não querem
esquecer o grande apartheid do globo que nesta América do Sul se faz triste realidade quotidiana:
entre quem tem para viver e até para esbanjar e quem mal tem para sobreviver. Quem não
esquece o papel da classe, tampouco esquece que a queda do muro de Berlim não significou a
queda de todas as barreiras que permitisse aos cidadãos do mundo ir e vir livremente e que as
alianças econômicas dos grandes têm como contraponto, paralelamente, as barreiras à imigração.
A globalização resolveu e resolve sempre quem interessa importar e quem é preciso deportar.
Para uma estudiosa de literatura como eu, interessa pensar um pouco mais o problema do
multiculturalismo na educação e nos estudos da linguagem (caberia aqui mencionar o esforço do
politicamente correto de "purificação da língua" que, muitas vezes, reforça a tendência de os
indivíduos se contentarem apenas com a reformulação do discurso em lugar da realidade), da
crítica e da produção de manuais escolares, com atenção ao modo como são aí representadas as
chamadas minorias (negros, índios, mulheres, homossexuais, entre outras) e às novas disciplinas
e/ou áreas de pesquisa introduzidas nos cursos de humanidades nas universidades do mundo
inteiro: sobre literatura e cultura negra, sobre mitos e narrativas indígenas, sobre mulheres ou,
mais recentemente, sobre gêneros, entre outros.
Um aspecto que me parece importantíssimo é o da patrulhagem ideológica na língua, na
literatura, no cinema e em outras manifestações culturais que, em nome de uma ética igualitária
de respeito ao outro e à sua auto-estima, na verdade o encaram de modo condescendente,
infantilizando-o, inibindo sua capacidade de luta e defesa pelo que realmente interessa. Nesse
mundo da ética do politicamente correto, faz-se silêncio sobre certos valores básicos para a
convivência plena do indivíduo consigo mesmo e com os outros, com a natureza e com a
sociedade, entre esses o direito à e o gosto pela beleza das coisas bonitas que se fazem sem
pressa, devagar, como querem os índios de Darcy Ribeiro.
A busca de normas e códigos perfeitos, da linguagem ao comportamento, sufoca toda
espontaneidade, das relações amorosas à arte. O recurso aos tribunais é usado para tudo.
Banalizam-se as relações humanas; banaliza-se a Justiça. Casos como o ocorrido em 2000, de um
menino suíço acusado de abuso sexual nos Estados Unidos, entre outros tantos, mostram a
"penetração do discurso jurídico na esfera privada", que concorre para o duplo distanciamento do
indivíduo, em relação a si mesmo e em relação aos outros. Essa sociedade, ao mesmo tempo
puritana e hipócrita, ameaça tornar cada homem e cada mulher em um monstruoso "super-ego".
Como estudiosa da literatura e apreciadora das artes, confesso que me preocupo, porque sem
"ego" e sem "id" não há arte, nem literatura.
Não é ocasional o fato de o debate multicultural nos Estados Unidos ter lugar nos departamentos
de literatura e estudos étnicos e não nos de sociologia ou filosofia, porque a literatura sempre
deixou dialogar a contradição e tematizou os estereótipos. Mas se a policiarmos, engessaremos o
que ela tem de criativo e que possibilitou isso. Fala-se de uma crise da modernidade, presa de
suas próprias promessas, que não consegue cumprir quando mais gente quer entrar no paraíso.
Fala-se em mudança do paradigma político para o ético, em revigoramento de outros - do
econômico, cultural, étnico, nacionalista, religioso -, mas não se fala no paradigma estético. Por
que razão o paradigma estético não é mais tema das Humanidades? Porque os ricos têm
vergonha do belo? Porque os pobres o acham supérfluo? Porque ele tende a banalizar-se no utile
e porque é este que vende? Mas isso nada tem de novo.

(texto apresentado no 1º Encontro Fronteiras Culturais e transcrito na Revista de Literatura


CULT/46. São Paulo, junho de 2001)
Aula 1

O ato de ler
Ler é mais do que decifrar o código linguístico; ler é questionar, é querer saber além.
Quando lemos, dialogamos com os outros por meio de autores e personagens, mas
também dialogamos com nossas próprias ideias e convicções.

A leitura funcional

Apesar de as linguagens visuais serem tão presentes em nosso cotidiano, o texto escrito
tem enorme importância na cena urbana atual. O mundo tem pressa, e, assim, passamos a
nos comunicar mais frequentemente utilizando mensagens escritas, enviadas e recebidas
pelo computador ou pelo celular. As mensagens trocadas por esses veículos de
comunicação devem ser breves e objetivas e, de preferência, transformadas em
abreviaturas e emojis.
Essa é uma preocupação de pais e professores. Percebe-se, de um modo geral, uma
dificuldade de concentração na leitura de textos extensos. Por esse motivo, foi
desenvolvido o conceito de leitura funcional.
A leitura funcional permite a elaboração de fichamentos, resumos, sínteses e resenhas.
É importante destacar que a leitura funcional serve à apreensão dos principais dados de um
texto, mas ela deve ser utilizada como um recurso utilizado pelo leitor para aquisição de
conhecimentos.
Clique aqui e veja um exemplo de leitura funcional.

A leitura reflexiva

O que faz um leitor diante de um texto, verbal ou não verbal, que


apresenta conceitos, concepções e emoções?
Ler é como construir uma teia de relações entre o texto e outras representações, sejam elas
outros textos, vivências, conhecimentos adquiridos, imaginação etc. Em uma leitura
reflexiva e crítica, o leitor investiga o conteúdo não apenas para adquirir novos saberes,
mas também para atribuir novos sentidos aos conhecimentos já adquiridos.
Clique aqui e veja um exemplo de leitura reflexiva.
Quando vemos o texto não verbal Retrato de um país, captamos a imagem de um menino
com a cabeça baixa e a mão direita no bolso, tendo, ao fundo, a bandeira brasileira.
Quando lemos o mesmo texto, percebemos que o menino tem um ar desamparado. Sua
camisa sem cores integra a bandeira brasileira. O texto, então, adquire um novo sentido,
construído a partir da reflexão do leitor. Percebe-se que o autor elaborou uma crítica às
desigualdades sociais em nosso país.
A leitura reflexiva é um instrumento de formação do indivíduo e de
construção da cidadania.

O prazer de ler

Se você fizer uma pesquisa na internet sobre o prazer de ler, certamente encontrará artigos
que apresentam a literatura como diversão, entretenimento e, também, conhecimento. Se
fizer uma busca em algum banco de imagens, surgirão pessoas sorrindo com um livro nas
mãos.

Em ambos os casos, você pode encontrar o prazer de ler. Isso porque o ato de leitura
corresponde ao desejo do leitor, ao que o impulsiona a ler. Encontra-se o prazer em ler
tanto um manual técnico, porque o leitor desvenda os segredos da montagem de um
equipamento, quanto a obra-prima da literatura Os Lusíadas, de Luís de Camões, porque
reúne fatos históricos com profundas reflexões sobre a condição humana. Seja qual for o
texto, ele proporcionará prazer apenas se o leitor se sentir motivado à leitura e interagir
com a mensagem escrita.
Para encontrar o prazer de ler, o leitor deve analisar a estrutura do texto e se apropriar dos
signos linguísticos, encontrando o significado proposto e, ainda, atribuindo novos
significados aos signos expressos na mensagem. Só assim o texto lido se expande e releva
saberes até então desconhecidos pelo leitor e emoções não experimentadas em sua própria
vida.

“lua à vista brilhavas assim sobre auschwitz?”


(Paulo Leminski)
O texto ao lado apresenta uma estrutura de haikai (poemas com apenas três versos). Os
signos “lua” e “brilhavas”, associados a ideias positivas, confrontam-se com o signo
“auschwitz”, que é o nome de um campo de concentração nazista.

Aula 2

Estratégias de leitura
O ato de ler não é passivo. Todo leitor participa da construção do texto ao
aplicar estratégias de leitura que permitam uma interpretação adequada do texto lido. O
leitor competente questiona e verifica as lacunas deixadas pelo autor; seleciona dados
relevantes e os compara com elementos de outros textos; cria hipóteses e antecipa
resultados.

Os recursos linguísticos utilizados pelo autor de um texto também devem ser


considerados na interpretação textual.
As principais estratégias de leitura que todo leitor-modelo deve utilizar em sua interação
com o texto são: o conhecimento de mundo, o conhecimento linguístico, os fatores de
textualidade e a intertextualidade.

Conhecimento de mundo e conhecimento linguístico

Os conceitos “conhecimento de mundo” e “conhecimento linguístico” já foram


apresentados na Aula 1 da Unidade 2. Nesta aula, eles serão destacados como estratégias
de leitura.

Lembrando que:
O conhecimento de mundo (ou conhecimento enciclopédico) pode ser adquirido de forma
empírica (experiências, vivências, observação) ou pela prática da leitura.

De que forma o conhecimento de mundo pode ser utilizado como


estratégia de leitura?

Quando lemos, acionamos diversos conhecimentos adquiridos para atribuir sentido ao


texto lido.
Para compreender o texto ao lado, é necessário que o receptor da mensagem tenha
conhecimento de que o signo “dengue” representa um risco de epidemia.
O conhecimento de mundo não é o mesmo para todas as pessoas, pois vivemos
experiências diferentes. Uma criança pode ter conhecimentos de mundo que um adulto não
possui. Assim, diversos leitores atribuem sentidos diferentes à mesma mensagem, desde
que o contexto do texto seja observado. No entanto, o conhecimento de mundo deve ser
ampliado, especialmente se nos tornarmos leitores constantes e seletivos, procurando
sempre encontrar, nos livros, novos aprendizados.

O conhecimento linguístico é aquele que corresponde ao nosso conhecimento gramatical


e lexical (vocabulário).

O conhecimento linguístico evidencia que apenas o segundo tapete apresenta a forma


gramatical correta.
Na mensagem ao lado, podemos perceber que houve redundância na elaboração do texto
devido ao uso dos termos “comércio ambulante”, “camelô” e “sem autorização”.
Entretanto, o conhecimento linguístico que possuímos não deve ser utilizado, apenas, para
que desvios gramaticais sejam identificados em um texto. O mais importante é utilizá-lo
para que nos tornemos leitores capazes de elaborar interpretações coerentes com a proposta
da mensagem. A percepção crítica é resultado da análise dos signos utilizados na
mensagem.

Fatores de textualidade

Um texto não é uma sequência de palavras ou frases sem que haja relação entre elas. O que
chamamos de texto é um conjunto de signos verbais e/ou não verbais que formam uma
unidade significativa denominada textualidade.
Uma das estratégias de leitura utilizadas pelo leitor para que haja uma interpretação
adequada do texto lido é identificar os fatores de textualidade, que podem ser linguísticos
ou extralinguísticos.
Os fatores de textualidade linguísticos são a coesão e a coerência, que garantem a
harmonia do texto. Os conceitos “elementos linguísticos”, “elementos extralinguísticos”,
“coesão” e “coerência” já foram estudados na Unidade 2. Vamos relembrar:

F
onte: Blog do Jeff Rossi

Na tirinha acima, houve falta de coesão textual devido à colocação incorreta do pronome
“eles” na frase.

No aviso ao lado, não há relação entre o substantivo “trânsito” e o adjetivo “intransitável”,


o que torna o texto incoerente.
Os fatores de textualidade extralinguísticos não estão explícitos na mensagem. Por esse
motivo, devem ser identificados a partir da análise do leitor. Destacamos alguns dos
principais fatores de textualidade extralinguísticos:

Informatividade
Refere-se à quantidade de informações necessárias à compreensão do leitor
presentes no texto.

Na placa acima, há informações suficientes para o entendimento do leitor.

Aceitabilidade
É a aceitação do texto por parte de quem o lê. Depende do conhecimento de
mundo do leitor, do contexto da mensagem e da proposta do autor.

Fonte: Tir
as Armandinho
O diálogo apresentado na tirinha é verossímil, pois se contextualiza com uma
situação que tem correspondência na realidade. Assim, a aceitabilidade do texto
foi garantida pelo autor.
Situacionalidade
Refere-se à adequação do texto à situação comunicativa (contexto em que o
texto é apresentado).

A representação da situação comunicativa torna a fala do filhote de pinguim


adequada ao contexto, o que indica que o fator de
textualidade situacionalidade foi previsto pelo autor.
Intencionalidade
É o objetivo do texto, o que o autor pretende transmitir ao leitor.
A intencionalidade do texto — transmitir a ideia de que o conhecimento é mais
importante do que o dinheiro — ficou clara para o leitor, pois há uma oposição
entre os signos “bibliotecas” e “bancos”.

Intertextualidade

A relação entre dois ou mais textos é denominada intertextualidade. Isso ocorre quando
um falante ou um escritor faz referência a outro texto, em citação direta ou indireta.
A intertextualidade pode ocorrer em textos verbais, textos não verbais e textos híbridos
(verbais e não verbais). O conhecimento de mundo do leitor é fundamental para que a
intertextualidade seja identificada.
Os meios de comunicação, especialmente após o avanço tecnológico, possibilitaram a
todos o acesso a uma enorme quantidade de informações. Assim, relações
intertextuais estão presentes em diversas mensagens, sendo utilizadas para atender a
objetivos variados, como a venda de produtos, o humor, o protesto etc.

A campanha publicitária da empresa de alimentos Hortifruti é a que mais tem utilizado


relações intertextuais, como o exemplo ao lado, que apresenta intertextualidade com o
filme do cinema nacional Tropa de Elite.
Fonte: Os Neoanalistas de Logos

A charge de Maurício de Souza faz uma relação intertextual com a capa do disco Abbey
Road, dos Beatles.
As artes valem-se, constantemente, da intertextualidade para confirmar uma ideia ou
contradizê-la. A música Bom Conselho, de Chico Buarque de Holanda, contradiz diversos
provérbios populares.

Aula 3
Interpretação de textos
A realidade se faz representar em textos orais ou escritos. Falamos, ouvimos e lemos. No
entanto, muitas vezes temos dificuldades em compreender uma mensagem emitida, pois
precisamos interpretar adequadamente os textos elaborados. É preciso, então, recorrer a
diversos mecanismos de leitura para que o texto alcance o seu objetivo, que pode ser
informar, convencer, encantar etc.
Podemos contar com nosso conhecimento de mundo sobre o tema para compreender a
mensagem, porém é fundamental que os elementos que compõem o texto sejam analisados
e contextualizados, a fim de que a nossa interpretação não promova desvios na mensagem.

Interpretação de gráficos e tabelas

Os gráficos e tabelas são ferramentas inerentes à estatística. No entanto, a necessidade de


que a informação seja processada rapidamente pelo leitor faz com que essa expressão
visual seja um recurso adotado em vários contextos. Assim, o leitor precisa estar apto a
interpretar adequadamente as informações contidas em gráficos e tabelas.
As tabelas são formadas por quantas colunas forem necessárias à apresentação dos dados.
Os gráficos devem ser escolhidos de acordo com a proposta do autor.
Gráfico em linhas e gráfico de áreas
Observação e projeção de resultados ao longo de um determinado tempo.

Gráfico em colunas (vertical) e gráfico de barras (horizontal)


Comparações entre dados sob uma determinada variável (porcentagem, local,
tempo etc.).

Gráfico de setores (pizza)


Indica uma relação de proporcionalidade, em que todos os dados somados
compõem a totalidade da realidade observada.

O leitor deve analisar todos os dados contidos, a fim de que os resultados apresentados
sejam interpretados adequadamente e utilizados em sua vida prática.
Tabelas e gráficos apresentam signos verbais e não verbais que se complementam. A
interpretação adequada deve associar os signos conforme o indicado pelos elementos
visuais: linhas, cores, faixas etc.
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010, Indicadores sociais municipais

No gráfico de coluna acima, destacamos os seguintes dados para análise:


1. Entre os anos 2000 e 2010, a região Nordeste foi a que apresentou a maior taxa de analfabetismo.
2. As regiões Sudeste e Sul apresentaram, de forma equivalente, as menores taxas de analfabetismo
entre os anos 2000 e 2010.
3. Em todas as regiões, houve redução do analfabetismo.
4. Em 10 anos, o programa de erradicação do analfabetismo alcançou taxas entre aproximadamente
3% (região Sul) e 8% (região Nordeste).

Ao interpretar os dados do gráfico, compreendemos que:


1. Ainda há uma enorme desigualdade entre a região Nordeste e as demais regiões do Brasil no que
se refere à educação.
2. O Brasil ainda não possui programas eficazes de erradicação do analfabetismo.

Atenção! É fundamental que todos os elementos apresentados nas tabelas e gráficos sejam
analisados para que haja uma interpretação correta. Se o gráfico apresentar indicação de
porcentagem, não podemos interpretar os dados em números absolutos. O fato de a região
Nordeste possuir maior densidade demográfica não justifica a maior porcentagem de sua
taxa de analfabetismo.

Análise do texto publicitário

Textos publicitários — orais e escritos, verbais e não verbais — aparecem em grande


quantidade em nosso dia a dia, seja em jornais e revistas, televisão e rádio, outdoors, sites e
blogs. Como os textos publicitários têm como principal finalidade convencer o leitor a
consumir um produto ou contratar um serviço, o leitor deve interpretar a mensagem de
forma adequada, o que poderá influenciar a sua decisão sobre a aquisição de um produto.
Nesse caso, as ideologias e convicções do leitor e seus gostos pessoais podem interferir em
suas escolhas.
Fonte: Site Conceito.de

Propagandas que utilizam rimas e bordões (expressão ou frase repetida em excesso)


procuram convencer o consumidor pelo processo de memorização.

Fonte: Blog Um gole de coca-cola

Peças publicitárias que exploram a sensualidade da figura feminina ou que apresentam a


mulher em condição inferior à do homem têm gerado polêmica devido aos debates sobre
gênero. Na propaganda ao lado, verifica-se que não há uma relação direta entre o produto
anunciado e o signo não verbal representado pela imagem da mulher.

Fonte: educacao.globo.com

Há textos publicitários que exigem um esforço de interpretação do leitor, pois necessitam,


muitas vezes, de outros saberes além do conhecimento linguístico. É o caso da propaganda
ao lado, que apresenta uma citação bíblica descontextualizada pela segunda frase. O leitor
deve compreender que, no caso da propaganda, o produtor do texto refere-se ao fato de que
o carro anunciado é mais veloz do que os modelos similares concorrentes.
Mecanismos de interpretação do texto literário

O que é literatura? Para que serve a literatura?


Quem faz essas perguntas provavelmente não é um leitor de textos literários e não elege a
literatura como uma das linguagens da arte que mais lhe proporcionam prazer e reflexão.
No entanto, a literatura está em nosso dia a dia, seja em livros e em sites, seja na forma de
música, ou, ainda, em peças publicitárias.
Na Unidade 2 (Aula 3), você aprendeu a reconhecer a linguagem literária. Propomos,
agora, que você identifique mecanismos de interpretação do texto literário, a fim de que a
literatura seja percebida como um tipo de texto fundamental à formação do sujeito e da
sociedade.
Uma das características da literatura é a linguagem literária, ou seja, a combinação de
signos verbais que não possuem correspondência direta com a linguagem cotidiana.

Fonte: construcaocivil.info

Fonte: Site atlântida

As mensagens acima correspondem a “cantadas” disponíveis na internet. Se uma pessoa


quiser utilizar um desses textos para conquistar alguém, pode alcançar seu objetivo, mas
certamente a linguagem utilizada não deve ser classificada como literária.

Você é mais bonita que uma zebra


que um filhote de onça
que um Boeing 707 em pleno ar
Você é mais bonita que um jardim florido
em frente ao mar em Ipanema
Os versos ao lado são do poema Cantada, escrito pelo poeta Ferreira Gullar (1930-2016).
As comparações incomuns são característica de uma linguagem literária.

Como interpretar um texto literário?


Quando lemos um texto literário, precisamos analisar e contextualizar os elementos
linguísticos e os elementos extralinguísticos que compõem o texto para que ele seja
devidamente interpretado.

Amor é um fogo que arde sem se ver;


É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
Em seus famosos versos, Camões procura definir o amor (“amor é”) por antíteses, figura
de linguagem que apresenta elementos opostos. Dessa forma, entendemos que, para o eu
lírico, o amor é um sentimento que não se define, pois cada ideia apresentada anula a
anterior: “arde sem se ver”; “dói e não se sente” etc.

Os mesmos mecanismos de interpretação devem ser aplicados a textos narrativos, como


romances, contos e crônicas. O que difere a narrativa da poesia é que, em narrativas, há
elementos linguísticos que são fundamentais à contextualização da história narrada:
narrador, personagens, tempo e espaço.

E assim ia correndo o domingo no cortiço até às três da tarde, horas em


que chegou mestre Firmo, acompanhado pelo seu amigo Porfiro,
trazendo aquele o violão e o outro o cavaquinho.
(O Cortiço, Aluísio Azevedo).
A leitura e a interpretação do texto literário podem exigir mais dedicação do leitor, tendo
em vista que a linguagem literária não apresenta a objetividade da linguagem cotidiana. No
entanto, o exercício de interpretação possibilita que nos tornemos leitores mais capacitados
para compreender diversos tipos de textos.
Considerar que a literatura é uma linguagem da arte que não encontra correspondência nos
dias atuais é um equívoco. Os textos poéticos continuam sendo produzidos e formam um
público-leitor por iniciativa de autores que encontram nas mídias digitais uma ferramenta
adequada à divulgação de seus trabalhos. Além do texto poético tradicional, artistas
contemporâneos criaram um novo conceito: a poesia digital. Essa proposta é uma
continuidade da poesia concreta, movimento iniciado em 1955, que defende o uso de
espaços como elemento poético, a fim de criar efeitos visuais no texto.
Fonte: saladeleitura-wilqueteca.blogspot.com.br

O poema concreto ao lado é um caligrama composto por Fábio Sexugi. Nele, são utilizados
signos verbais que fazem referência ao prazer de se beber café em uma tarde fria. Os
signos verbais são dispostos na forma de uma xícara e da fumaça que sai da bebida quente.
O último verso é uma interrogação, cujo sinal gráfico forma a asa da xícara.
Em nossas aulas, analisamos letras de música por sua linguagem literária, tendo em vista
que a nossa proposta é a de formação do leitor. Embora alguns críticos neguem à letra de
uma composição musical a classificação de gênero literário, discute-se a compreensão de
que a música é uma ferramenta de divulgação do texto poético. Alheios a essa polêmica,
muitos compositores têm se utilizado das mídias digitais para divulgar seus trabalhos.
Chama a atenção, também, o fato de que poetas e compositores colocam-se na contramão
de uma tendência de valorização da autoimagem e optam por se manterem no anonimato,
evidenciando, apenas, o seu fazer poético.
Cabe a nós, leitores, aderirmos a esse movimento de revalorização do texto literário.
Assista ao filme Palavra (En)cantada, da diretora Helena Solberg, o qual apresenta um
debate sobre esse tema.

Encerramento

Na sociedade contemporânea, marcada pelos avanços tecnológicos e mensagens


com muitos apelos visuais, é possível manter o encantamento pela leitura e
renovar-se como leitor?
Sim, é possível, desde que se desenvolva a consciência de que a leitura é um
processo de construção do conhecimento e de formação do sujeito, pois nos leva
à reflexão sobre diversos temas.

Um texto pode apresentar mais de um sentido, conforme a proposta do autor e a


compreensão do leitor. Que estratégias de leitura podem ser utilizadas para que
a pluralidade de sentidos seja compreendida?
Ao analisar um texto, o leitor deve identificar os elementos linguísticos e
extralinguísticos apresentados, o gênero textual, os fatores de textualidade e se
há intertextualidade com outros textos. Para isso, é necessário que sejam
aplicados os conhecimentos linguísticos e de mundo do leitor.

Considerando-se que há textos híbridos, compostos por signos verbais e não


verbais, que relação deve ser estabelecida entre a escrita e a imagem?
Em textos híbridos, os signos verbais e não verbais associam-se para compor a
mensagem. Assim, o leitor deve observar como esses signos se complementam,
confirmando uma ideia ou contrapondo uma ideia à outra.

Resumo da Unidade

Nesta unidade, você conheceu alguns recursos de interpretação textual e compreendeu que
o leitor não é um sujeito passivo, pois participa da construção do texto ao analisá-lo e
interpretá-lo. O ato de ler exige que o leitor possua alguns conhecimentos prévios para
desenvolver estratégias de leitura que permitam a interpretação correta da mensagem
recebida. Tais conhecimentos são adquiridos por meio de suas experiências (conhecimento
de mundo) e de seu domínio da língua portuguesa (conhecimento linguístico). Dessa
forma, o leitor passa a utilizar outras estratégias de leitura para proceder à análise dos
elementos linguísticos e extralinguísticos presentes no texto, seja ele funcional ou
reflexivo, mas sem abdicar do prazer que a leitura proporciona. Por fim, você compreendeu
que a interpretação de textos diversos, sejam eles gráficos e tabelas, textos publicitários ou
textos literários, depende da aplicação das estratégias de leitura adequadas ao texto.

Como fazer uma boa análise literária

Postado por: John Lennon Em: Literatura Nacional |

Conhecer os aspectos básicos de uma narrativa é o primeiro pré-requisito


para fazer uma boa análise literária.
Olá, leitores!

A análise literária é o ato de decompor um texto no intuito de observar cada


componente que o constitui. Ou seja, de estudar os aspectos integrantes de
uma narrativa. Desse modo, você conseguirá compreender, interpretar e
assimilar os sentimentos e valores de uma obra.
Porém, para atingir esse objetivo, é necessário aplicar corretamente a análise
literária, explorando todas as características do texto.
Por exemplo, um dos erros mais comuns de quem estuda romance é de não
conhecer os principais elementos que o integra. Do mesmo modo, não pode ser
considerada análise comentários escritos sobre um material, por mais correto ou
relevante que seja. Antes de quaisquer conclusões, é importante examinar todo o
corpo narrativo.
Por isso, para ajudá-los a realizar uma boa análise literária, separamos 7 itens a
serem explorados logo após a leitura da obra. Confiram:

1. Enredo
No texto narrativo, o enredo ou trama é responsável por sustentar a história. É
quem irá desenvolver ou construir o conteúdo por meio da conexão de fatos que
fundamentem a ação narrativa. Por meio dele, é possível encontrar o conflito ou
tensão no texto que motiva as personagens a se movimentarem. Onde está a
força principal de todos os acontecimentos? Quem segura o enredo? Lembre-se
que enredo e personagem dependem um do outro.
Como visto, todo enredo está presente na estrutura do conflito. Desse modo,
para analisar a obra, é necessário encontrar três pontos principais: o início,
desenvolvimento e clímax.
 O início expõe o conflito do romance, da situação que culminará em todo o
desenrolar da trama;
 O desenvolvimento são todas as consequências que o conflito trará, ou
seja, os níveis (baixo e alto) de tensão apresentados para serem
resolvidos;
 O clímax são os acontecimentos finais da problemática; é onde ocorre o
desfecho.
Obs.: É permitido iniciar uma obra pelo desfecho e, depois, serem apresentados
o início e o desenvolvimento do conflito. Isso pode ocorrer em obras que
utilizam flashbacks para narrarem os acontecimentos. Apesar da alteração da
ordem cronológica, esses três pontos (início, meio e fim) estarão presentes em
todos os textos narrativos.
Resumidamente, o enredo é o esqueleto de uma obra literária.

2. Tempo e espaço
O tempo e o espaço se referem ao contexto histórico e ao local onde
a narrativa se desenrola. No decorrer do texto, podemos encontrar os
acontecimentos históricos, presentes no romance, e determinar em que época a
história se passa. Também é possível identificar o local por meio dos ambientes e
lugares citados.
O tempo e o espaço podem estar presentes numa obra de forma clara, ou seja,
diretamente mencionada pelo narrador ou personagem. Ou de forma
mascarada, quando apenas as descobrimos ao ligarmos alguns fatores ao texto,
como, por exemplo:
1. Se a narrativa nos apresenta a época da ditadura, pressupomos que a
história acontece em meados de 1964 e 1985;
2. Se a narrativa cita a Rua do Ouvidor, concluímos que o enrendo ocorre no
Rio de Janeiro, porque essa Rua é famosa naquela cidade. Além disso,
podemos identificar o espaço por meio da descrição do ambiente e da
análise do aspecto social de um determinado lugar.
Obs.: Caso o tempo e o espaço não possam ser definidos, descreva-os como
não-identificados ou não-definidos. Há outro modo para tratar locais inexistentes,
como cidade/estado/país, é chamá-los de fictícios.

3. Narrador
O narrador é a entidade que conta a história, podendo se apresentar das
seguintes formas:
 Heterodiegético: narrador que não é personagem da história, esse é o
mais adotado pelos escritores;
 Homodiegético: narrador que faz parte da história, mas não é
o personagem principal;
 Autodiegético: narrador que é o personagem principal da narrativa,
protagonista.
Obs.: Dentro desses narradores, podemos encontrar a narrativa em 1ª e 3ª
pessoa. Contudo, em relação à 3ª pessoa, há ainda o narrador omnisciente
(aquele que sabe de todos os acontecimentos e as personagens), o qual pode se
apresentar em duas versões: intruso (quem se intromete na história) e observador
(quem apenas narra os fatos sem interferir). E em relação à 1ª pessoa, existe
o narrador seletivo (quem narra os fatos da forma que quer, podendo mascarar
alguns aspectos ou acontecimentos à sua maneira).

4. Linguagem
Por meio da linguagem é possível analisar a forma como a obra é escrita e até
mesmo narrada. Por exemplo, ao pegarmos um livro antigo, observamos que o
vocabulário é diferente do atual.
Assim, o primeiro passo para estudar uma narrativa de linguagem é verificá-la
como simples ou rebuscada, formal ou informal, culta ou marginalizada, etc.
Outro aspecto a ser adotado é levantar os estilos de linguagem. Esse tipo de
estudo é complicado porque exige um pouco mais de conhecimento sobre o
assunto. Porém, em alguns casos são fáceis de serem identificados e sempre
acrescentam pontos para uma análise literária.
No livro O Cortiço, por exemplo, há alguns exemplos de figuras de
linguagens. O autor Aluísio de Azevedo utiliza o ‘animalismo’ ou ‘zoomorfismo’
para caracterizar seus personagens com características animais.
No total, existem cerca de 21 figuras de linguagens – ter conhecimento básico
sobre cada uma delas é essencial para uma boa análise.
Logo prepararemos um texto sobre as figuras de linguagens para explicá-las
detalhadamente.

5. Personagens
As personagens devem ser analisadas tanto no aspecto físico como no aspecto
psicológico. Contudo, é necessário respeitar a ordem de importância
das personagens da seguinte forma:
 Personagens principais (protagonista(s) e antagonista(s));
 Personagens secundárias.
Obs.: A análise das personagens principais deve ser feita de forma mais
completa. Além das descrições físicas e psicológicas, podemos analisar alguns
aspectos sociais e históricos, se houverem, como também traçar um perfil mais
aprofundado sobre suas motivações, desejos e anseios.

6. Sinopse
Agora que você conhece todas as características da análise narrativa, escreva
uma breve sinopse sobre ela!
Você sabia que a sinopse ajuda a absorver melhor o conteúdo analisado?
Se você conseguir resumir um material sem dificuldades, estará preparado(a)
para a última e mais importante parte da análise literária.

7. A importância da obra
Depois de todo esse processo de análise dos elementos que compõem
uma narrativa literária, você conseguirá discorrer sobre o livro como um todo.
Basta seguir a sua própria opinião, baseada nas estruturas textuais analisadas
acima e, a partir disso, determinar a importância de cada obra para a literatura.
Esperamos tê-los ajudado, até a próxima!

https://canaldoensino.com.br/blog/como-fazer-uma-boa-analise-literaria

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