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resposta: a melhor forma, mais correta está no uso apropriado da expressão linguística

para cada situação, ou seja, o uso eficiente da língua a comunicação, o que se pretende
com o uso adequada da língua, senão que emitir um pensamento, e o receptor entender
a mensagem. Isto é comunicação, é a função da língua. As varianças, dialetos, formas
pronunciais são apenas detalhes deste maravilhoso meio comunicador.

A relação entre língua, cultura e


sociedade (parte 3)
Publicado em 31/03/2017 às 00:00
Prezados leitores, na coluna desta semana vamos seguir tratando da relação
entre língua, cultura e sociedade. Vamos tratar especificamente de algumas
reflexões sobre as definições conceituais de língua, para entendermos melhor a
sua interpretação.

Nestes contextos, quero, desde já, destacar a definição sugerida pelos


Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p. 19), em que se salienta que o
domínio da linguagem, como atividade discursiva e cognitiva, e o domínio da
língua, como sistema simbólico utilizado por uma comunidade linguística, são
condições de possibilidade de plena participação social. Pela linguagem, os
homens e as mulheres se comunicam, têm acesso à informação, expressam e
defendem pontos de vista, partilham ou constroem visões de mundo, produzem
cultura.

Também em Brandão (2002), encontramos uma perspectiva semelhante, pois, de


acordo com a autora, a linguagem é considerada um “elemento de mediação
necessária entre o homem e sua realidade e como forma de engajá-lo na própria
realidade” (p.12). Segundo a pesquisadora, a linguagem - identificada como lugar
de conflito e de confronto ideológico - não deve ser estudada fora do ambiente
social, haja vista que sua constituição se dá através de processos histórico-
sociais.

Em outro documento apresentado pelo Ministério da Educação, a linguagem é


vista como a capacidade humana de articular significados coletivos e
compartilhá-los, em sistemas arbitrários de representação, que variam de acordo
com as necessidades e experiências da vida em sociedade. Dessa forma,
podemos atribuir à língua a responsabilidade de construção e “desconstrução”
dos significados sociais, o que nos leva a situá-la no emaranhado das relações
humanas.

Na atualidade, vivenciamos um cenário protagonizado pelas transformações


econômicas e culturais, o dinamismo do mercado de trabalho e a revolução
causada pelo desenvolvimento tecnológico, principalmente nos últimos vinte
anos, que causaram inúmeras e profundas mudanças na sociedade brasileira e
mundial, trazendo consigo novas demandas que conferem, por exemplo, a
leitura e a escrita importância nunca antes alcançada. No entanto, em mundo no
qual a aquisição de informação torna-se um diferencial significativo, não basta
mais somente aprender a ler e a escrever, é preciso ir além, fazer uso da língua
como prática social, um “instrumento” que nos permite interagir e nos situar em
nossa vida cotidiana.

Enfim, se o desenvolvimento depende diretamente da língua, será que


chegaríamos ao nível de desenvolvimento onde nos encontramos: a ciência cada
vez evoluindo mais, a sociedade entendendo suas necessidades e procurando
saná-las, tudo isso seria possível sem a existência da língua? Não. Pois há um
fator que forma a sociedade: o homem. E há um elo entre o homem e seu
habitat, algo que liga os homens: a língua.

uando se investiga como o senso comum pensa a relação entre


pensamento e linguagem, a primeira resposta é que a linguagem
reproduz o pensamento, as emoções, as sensações humanas. E
essa relação efetivamente existe: é através da linguagem, que se
veiculam, ao outro e a si mesmo, emoções, sensações, objetivos,
metas, enfim, reflexões acerca da realidade, tanto externa quanto
interna.
E por falar em reflexões, é importante ressaltar que esse termo tem
um acréscimo de sentido em relação a seu sinônimo pensamentos.
As reflexões ocorrem num caminho de mão dupla: o sujeito percebe
o reflexo, em seu psiquismo, dos fatos da realidade e, a partir desse
reflexo, engendra uma ação sobre a realidade, ou seja, reflete o
reflexo.
Nesse contexto, se é verdade que a linguagem funciona como
instrumento de registro do mundo interior do ser humano e de sua
percepção do mundo externo, também é verdadeiro que a linguagem
estrutura o pensamento. Pousemos sobre essa dinâmica.
A linguagem é um sistema de signos (significante + significado) que
representam simbolicamente cada ser ou fato da realidade.
Representar significa tornar presente de novo (re-presentar) algum
aspecto da realidade, já registrado, por meio do símbolo, na
consciência do sujeito. Assim, essas representações permitem que
carreguemos conosco tudo que já
Relação entre língua e cultura
Atualmente há um consenso entre antropólogos e linguistas, em maior ou menor
medida, de que língua e cultura são conceitos imbricados, pois entende-se que a) a
língua é um fato cultural: é formada a partir de convenções, surgidas de contextos
históricos, políticos, econômicos, geográficos etc. (CHAUÍ, 2000), e b) a língua é, ao
mesmo tempo, suporte para uma cultura, pois é “um instrumento decisivo para a
assimilação e difusão de uma cultura, afinal, as experiências sociais só são
transmitidas por meio da língua” (COELHO; MESQUITA, 2013, p.31).
No entanto, a importância conferida a essa relação entre língua e cultura nos estudos
antropológicos, na linguística e sobretudo no ensino de línguas, costuma variar.
Um dos primeiros pensadores a colocar a questão da relação entre língua e cultura foi
o alemão Wilhelm von Humboldt, no século XIX. Para o filósofo (apud MATEUS, 2001),
a linguagem humana é universal, porém, sua essência encontra-se nas línguas
particulares. As formas gramaticais de uma língua contribuem para o
desenvolvimento do pensamento e do espírito, influenciando também o
desenvolvimento da humanidade de uma forma geral. Assim, não existe pensamento
sem que haja língua e é ela quem condiciona a experiência do mundo dos falantes
por meio da organização do léxico e das categoriais gramaticais. Segundo Robl (1975,
p.6),
Para Humboldt, "embora as línguas tenham propriedades universais, atribuíveis à
mentalidade humana como tal, cada língua oferece um "mundo de pensamento" e
um ponto de vista de tipo único". Portanto, qualquer língua deve ser olhada como um
todo orgânico, diferente dos demais. É a expressão da individualidade do povo que a
fala. A característica da psique de uma nação. De certa forma — afirma ele — "a
língua é a manifestação exterior do espírito dos povos; seu espírito é sua língua e sua
língua é seu espírito". Em resumo, a língua não designa uma "realidade" pré-existente.
Ela organiza, para os falantes, o mundo circunstante.
Podemos melhor compreender essa preocupação de Humboldt para com as línguas
particulares e sua relação com a cultura, se enquadrarmos o seu discurso no da
intelligentsia alemã, que no final do século XVIII e no início do século XIX, estava
preocupada em buscar autonomia intelectual e cultural, como forma de se
desvincular da cultura e língua francesa, adotadas pela corte e pela nobreza17 . Era
necessário,

naquele momento, caracterizar as nações pela sua cultura e pela sua língua, assim, o
filósofo defendia que o espírito de uma nação está contido na língua que fala
(MATEUS, 2001)
Foi no entanto no século XX que antropólogos e linguistas estabeleceram de maneira
mais explícita a relação entre linguagem e cultura. Destacaremos nesta sessão, a partir
de Santos (2004) dois antropólogos que se dedicaram a essas questões e que
também já revisitamos ao falarmos sobre cultura no capítulo anterior: Franz Boas e
Edward Sapir.
Franz Boas, já citado quando discutimos a importância das suas pesquisas de campo
para a introdução de relativismo cultural nos estudos antropológicos (ver capítulo 3),
foi um dos primeiros estudiosos que contribuíram para a chamada antropologia
linguística, defendendo que não era possível compreender uma cultura se
desconsiderássemos a sua língua, já que é ela quem nos permite o acesso a todos os
outros aspectos da cultura de um povo (DOURADO; POSHAR, 2007). Dessarte, Franz
Boas, estudou as línguas indígenas americanas e constatou que “diferentes línguas se
utilizam de diferentes modos de classificação do mundo e da experiência humana e
esse
17 Uma das formas de conseguir essa diferenciação foi, como vimos, em relação ao próprio termo cultura:
kultur passou a ser usado na Alemanha como sinônimo de intelectualidade, filosofia e
artes enquanto que
a palavra francesa civilization, correspondia a  futilidades, do ponto de vista da
intelligentsia (ver capítulo  3).
modo de classificação é sempre arbitrário” (SANTOS, 2004, p. 59), constatação que
tornava a linguagem condição necessária para a compreensão do pensamento
humano.
O antropólogo retoma as ideias de Humboldt de que “pessoas diferentes falam de
uma maneira diferente, porque pensam diferente, e elas pensam de maneira diferente
porque sua língua lhes oferece diferentes maneiras de expressar o mundo à sua
volta18”
(KRAMSCH, 1998, p. 11). Traduzindo e transcrevendo os dados coletados de
entrevistas com nativos de diferentes línguas, Boas percebeu que as maneiras que a
línguas têm de classificar o mundo são arbitrárias (DURANTI, 2007). Um dos exemplos
usados pelo antropólogo para constatar essa hipótese se deu a partir da observação
de que os esquimós tinham vários termos diferentes para expressar o significado de
“neve”,
Eles se referiam-se a aput (neve no chão), qana (neve que cai),
piqsirpiq (neve suspensa no chão pela ação do vento) porque sua
experiência permitia que eles vissem e vivenciassem a neve de uma maneira ímpar.
Boas lançou, assim, as bases para o Determinismo Linguístico, perspectiva mais tarde
desenvolvida por Sapir e Whorf, segundo a qual, a língua determina o pensamento ou
seja, “só podermos pensar em categorias que a nossa língua permite pensar’.
(DORADO; POSHAR, 2007, p. 38)
O pensamento de Boas acerca da consideração de que poderia haver uma motivação
cultural para o desenvolvimento de distinções lexicais entre as línguas e de que uma
importante forma de acesso à cultura de uma comunidade seria o estudo da língua,
influenciou vários estudiosos e dentre eles, um dos principais representantes da
vertente situada entre a antropologia e a linguística: Edward Sapir.
O linguista e antropólogo levou mais adiante o pensamento de Boas, seu orientador,
afirmando que se a linguagem codifica uma experiência de mundo, ela também pode
predispor a maneira como os falantes veem o mundo, ou seja, ela é a responsável
pelo modo como nós pensamos e organizamos o mundo à nossa volta (DURANTI,
1997). Essa maneira de enxergar a linguagem, desenvolvida pela corrente
estruturalista americana, através de Boas e Sapir, baseados nos estudos de Johann
Herder e Humboldt, é conhecida como princípio da relatividade linguística.
18 Tradução nossa do original: [...] different people speak differently because they think differently, and  they think differently
because their language offers them different ways of expressing the world around
them.
A tese da relatividade linguística ou relativismo nega a existência de propriedades
universais nas línguas humanas. Para os relativistas, cada língua é única e tem que ser
descrita como tal. O relativismo tem sido associado ao estruturalismo, principalmente
ao bloomfieldiano, e ao funcionalismo. Pode ser encarado como uma reação
metodológica à tendência de descrever as línguas nativas das Américas com base nas
gramáticas tradicionais ocidentais. O relativismo filosófico e linguístico foi rejeitado
por Chomsky e seus seguidores ao formular as bases do gerativismo. (RODRÍGUEZ,
2014).
Assim como Boas, Sapir via a língua como um pré-requisito para o desenvolvimento
da cultura e criticava a ideia de que existissem línguas e culturas em estados mais
primitivos e limitados que outras. Essa ideia era inovadora se considerarmos o
período em que havia nas ciências sociais um “evolucionismo ingênuo importado da
Biologia darwiniana” que apostava na superioridade das raças, partindo da visão
eurocêntrica de que as sociedades indígenas eram mais atrasadas em relação às
ocidentais. Da mesma maneira, havia nos estudos das línguas um “universalismo
racionalista” na gramática que insistia em taxar de nobre os vernáculos europeus.
(CUNHA, 2011, p.09).
Sapir usa o termo relativismo linguístico para discorrer sobre a igualdade dos
sistemas linguísticos em relação à sua “plenitude formal”, ideia de que qualquer
conteúdo pode ser expresso em qualquer sistema linguístico existente, mesmo que
para isso tenha que sofrer algumas modificações, como a invenção de algum termo
lexical. Para ele, ainda que essas modificações tomem a forma da língua de um modo
diferente, elas são igualitariamente importantes (CUNHA, 2011).
Outro importante defensor do princípio da relatividade linguística foi Benjamin Lee
Whorf, quem mais se dedicou a essas ideias, levando ao extremo o princípio da
interdependência entre linguagem e pensamento, “formulando o conjunto de
princípios que ficou conhecido como a hipótese Sapir-Whorf19 , segundo a qual a estrutura da
linguagem e o uso que os falantes fazem dela influencia o modo como eles pensam e
agem” (SANTOS, 2004, p.61). Severo (2004, p. 129), assim sintetizou as ideias dessa
hipótese:
19 Cunha é enfático ao afirmar que esse termo - hipótese de Sapir-Whorf - não foi rotulado por nenhum  dos autores envolvidos.
Esse termo, provavelmente, surgiu em 1954, “por Harry Hoijer (1904-1976), ao
apresentar o trabalho intitulado ‘Sapir-Whorf hypothesis’, na Conferência sobre as
relações entre a linguagem e outros aspectos da cultura (Conference on the
interrelations of language and other aspects of culture), realizada em Chicago (Cunha
2010; Koerner 1999). Entretanto, John B. Carroll (1916-2003) parece ter sido seu maior
difusor, uma vez que vários textos (Sampsom 1965; Joseph 1996; dentre outros) o
apontam como o criador do rótulo. Carroll, a propósito, foi o editor da coletânea
póstuma de textos de Whorf, publicada pela primeira vez em 1956, pela MIT Press”
(CUNHA, 2011, p.08).
(i) a linguagem determina a forma de ver o mundo, e conseqüentemente, de se
relacionar com esse mundo (hipótese do determinismo lingüístico); isso significa que
(ii) para diferentes línguas há diferentes perspectivas e diferentes comportamentos
(hipótese do relativismo lingüístico).
Como notamos por essa afirmação, a hipótese de Sapir-Whorf combina determinismo
e relativismo linguístico: a língua determina o pensamento e não há limites para a
diversidade estrutural das línguas.
Segundo Gonçalves (2008, p.3),
O que se costuma chamar de relativismo linguístico é, antes de mais nada, um
conjunto de teses diversas que afirmam uma crença mais ou menos definida de que a
língua que falamos influencia na maneira como enxergamos a realidade. Um modo
extremo desta tese, o chamado determinismo lingüístico, propõe que somos
totalmente determinados pela língua que falamos, e não conseguimos conceber
conceitos que não estejam presentes em nossa língua. As conseqüências de graus
mais avançados do relativismo e do determinismo lingüístico são a
incomensurabilidade entre sistemas lingüísticos diferentes e até a impossibilidade da
tradução entre as línguas.
A versão determinista do relativismo linguístico postula que os conceitos que não são
decodificáveis em um sistema linguístico, são inacessíveis para os falantes daquela
língua, ou seja, não é possível sequer pensar em conceitos que não sejam nomeados
em língua materna. Szczesniak (2005, p. 63-64) nos traz um exemplo bastante
ilustrativo dessa afirmação, acompanhado de uma crítica:
Existe um exemplo ideal para entender como, de acordo com Sapir e Whorf, a
linguagem gera o pensamento. Portugueses e brasileiros orgulham-se do fato de sua
língua conter uma palavra especial que define a alma lusa: ‘saudade’. Argumentam
que essa palavra não existe em qualquer língua, o que deve significar que só os
lusófonos são capazes de sentir, no fundo do coração, essa melancolia angustiante. O
argumento é errado, por duas razões. Primeiro, outras línguas também têm um
substantivo que corresponde a ‘saudade’ (em polonês, por exemplo, a palavra
tesknota também – posso garantir – exprime estados da mais sincera tristeza causada
por uma ausência). Segundo, mesmo que ‘saudade’ de fato só existisse em português,
custaria acreditar que só 0,03% da população mundial fosse capaz de sentir a falta de
alguém ou de uma terra, e que o resto do mundo fosse tão desumanamente incapaz
desse sentimento. Ao contrário, uma das hipóteses mais básicas da psicologia
moderna diz que as emoções
existem independentemente das palavras e que as palavras não passam de meros
rótulos aplicados a emoções e conceitos.
As ideias de Whorf sofreram muitas críticas, principalmente na época, em que
predominava o clima positivista que rejeitava “qualquer imposição de que a
linguagem determina o pensamento, em detrimento de qualquer aspecto” (SANTOS,
2004, p. 61). Os críticos ao determinismo, como por exemplo Eric H. Lennermberg
(1921-1975) e Roger W. Brown (1925 – 1997), apresentaram alguns estudos que
comprovavam que a língua não exerce influência determinante no pensamento e na
maneira de enxergarmos o mundo. Vejamos alguns argumentos usados pelos críticos
(apud SZCZESNIAK, 2005):
Observando os nomes para as cores nas mais diversas culturas e línguas, percebemos
que nem sempre os vocábulos se correspondem entre as línguas. Isso não quer dizer
que os falantes de tais línguas sejam incapazes de reconhecer a diferença entre elas.
Outro exemplo a seguir, dado por Steven Pinker (apud SZCZESNIAK, 2005), nos
aproxima do exemplo transcrito por Szczesniak para a palavra ‘saudade’. Existe em
alemão a palavra Schadenfreude, que designa um sentimento relacionado à  satisfação
de ver alguém abominável, cair em desgraça. O fato de só os alemães terem uma
palavra para externalizar verbalmente essa emoção, não impede que algum falante de
outra língua não consiga senti-la.
Embora a teoria de Sapir-Whorf sofra inúmeras críticas e reformulações, os linguistas
afirmam que essa teoria foi importante para voltar a atenção dos estudos linguísticos
para a relação entre língua, cultura e sociedade (DOURADO; POSHAR, 2007),
principalmente em sua versão mais fraca que diz que a língua não determina, mas
influencia o modo como pensamos a realidade. O fato é que as observações sobre o
relativismo linguístico continuam a gerar curiosidade e discussões entre os linguistas.
Voltemos por exemplo às ideias de Humboldt. Para o filósofo – que como já citamos,
combinava em suas teorias, universalismo e relativismo linguístico –, o determinismo
já era visto como um perigo porque se assim fosse, seríamos aprisionados pela nossa
língua. No entanto, apesar de a nossa língua influenciar nosso pensamento, podemos
lançar mão de nossa criatividade na própria língua e/ou enriquecê-la em nossas
interações pragmáticas com falantes de outras línguas e até mesmo através do
aprendizado de outro idioma (KRAMSCH, 1998). “As línguas diferentes são, portanto,
maneiras coexistentes e complementares de ver o mundo, que, somadas,
correspondem ao total das representações possíveis do mundo objetivo”
(GONÇALVES, 2008, p.66).
Outro antropólogo de formação, mas que trouxe grandes contribuições para os
estudos da comunicação e para a linguística, foi Dell Hymes (apud SEVERO, 2004),
que está interessado na utilização da forma linguística em relação ao seu uso social. O
autor compreende a linguagem por uma perspectiva comunicativa – noção que
acarretará o conceito de competência comunicativa no ensino de línguas estrangeiras
como veremos na sessão seguinte – e leva em consideração aspectos da língua que
envolvem não só a forma, como também o histórico-social, o cultural e as
particularidades individuais do aprendiz. Segundo Severo (2004, p. 130), para Hymes
as diferentes línguas refletem diferentes mundos e isso implica um certo relativismo
lingüístico, que, em seu grau máximo, nos remete à hipótese de Sapir-Whorf [...].
Como características desse relativismo, destacam-se: que ele se baseia em um
princípio de diversidade e heterogeneidade ao invés de homogeneidade ou
invariância; que os aspectos a priori e universais da língua não são suficientes e que
não há igualdade lingüística entre os falantes (devido, por exemplo, à natureza
política da interação) [...]. Novamente aqui percebemos em evidência o caráter
heterogêneo da língua permeando a relação linguagem e sociedade. Em síntese: ao
atribuir relevância ao contexto social/cultural como constitutivo da realidade
lingüística, Hymes não deixa de operar com um certo determinismo. Só que,
diferentemente de Sapir e Whorf o autor não prevê que a linguagem cria o contexto,
mas que diferentes contextos motivam diferentes linguagens. Seria um tipo de
determinismo social.
Hymes será um nome decisivo para a mudança de paradigma no que se refere às
abordagens e métodos de ensino e aprendizagem de línguas, assim, dedicaremos a
próxima sessão, a comentar essa revolução propiciada pela ideia de competência
comunicativa e seus desdobramentos para então discutirmos o conceito de
interculturalidade.

Steven Pinker em seu livro chamado "O Instinto da Linguagem: como a mente cria a
linguagem", explica tudo sobre a linguagem como funciona como as crianças
aprendem como ela muda como o cérebro a computa, como ela evoluiu. Com o uso
de exemplos cotidianos, Pinker diz que: "linguagem é um instinto humano instalado
em nosso cérebro, ou seja, "existe um dispositivo que é ativado na mente quando a
criança alcança certa idade, por isso lembramos apenas de certo momento de nossa
infância".

O autor defende o desenvolvimento da língua como adaptação evolutiva, existindo


um vinculo profundo entre aquilo que chamamos de "mente" e o cérebro. Para ele a
linguagem é algo complexo e especializado, que desenvolve-se em nós quando
crianças sem que percebamos, sem que seja preciso instruí-la formalmente, afinal
ninguém vai para a escola apreender a falar. Existe uma lógica subjacente que é a
mesma em todo o individuo. Também destaca que:

O pensamento não é a mesma coisa da linguagem, pois a experiência de enunciar


ou escrever uma frase, parar e perceber que não era aquilo que queríamos dizer.
Nem sempre é fácil encontrar as palavras que expressam adequadamente um
pensamento.

A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

A linguagem é considerada a primeira forma de socialização da criança e, na maioria


das vezes, é efetuada explicitamente pelos pais através de instruções verbais
durante atividades diárias, assim como através de histórias que expressam valores
culturais. A socialização através da linguagem pode ocorrer também de forma
implícita, por meio de participação em interações verbais. Desta forma, através da
linguagem a criança tem acesso, antes mesmo de aprender a falar, a valores,
crenças e regras adquirindo os conhecimentos de sua cultura. A medida que a
criança se desenvolve, seu sistema sensorial, incluindo a visão e audição, se torna
mais refinado e ela alcança um nível lingüístico e cognitivo mais elevado, enquanto
seu campo de socialização se estende, principalmente quando ela entra para escola
e tem maior oportunidade de interagir com outras crianças.
Quanto mais cedo à criança se envolve nas relações sociais, mais benefícios obterá
a curto ou longo prazo, tendo em vista as experiências e aprendizagens que resultam
de tais interações.

Na aquisição da linguagem, o método como se desenvolve a língua, como se adquire


as primeiras palavras, a fala, enfim, é tudo um processo, embora natural, é longo e
difícil. O começo dessa aquisição seria o primeiro choro da criança ao nascer.

No desenvolvimento da linguagem, duas fases distintas podem ser reconhecidas: a


pré- lingüística, em que são vocalizados apenas fonemas (sem palavras) e que
persiste até aos 11 e 12 meses, e, logo. A seguir, a fase lingüística, quando a criança
começa a falar palavras isoladas com compreensão.

Este processo é contínuo e ocorre de forma ordenada e seqüencial com


sobreposição considerável entre as diferentes etapas deste desenvolvimento.

O processo de aquisição da linguagem envolve o desenvolvimento de quatro


sistemas interdependentes: o pragmático, que se refere ao uso comunicativo da
linguagem num contexto social, o fonológico envolvendo a percepção e a produção
de sons para formar palavras, o semântico, respeitando as palavras e seu significado
e o gramatical, compreendendo as regras sintáticas e morfológicas para combinar
palavras em frases compreensíveis. Os sistemas fonológico e gramatical conferem à
linguagem a sua forma. O sistema pragmático descreve o modo como a linguagem
deve ser adaptada a situações sociais específicas, transmitindo emoções e
enfatizando significados.

As crianças em processo de aprendizagem de uma língua materna, utilizam-se de


vários métodos para se expressarem, como através de uma linguagem não-verbal,
com expressão facial, sinais, e também quando a criança começa a responder,
questionar e argumentar.

Essa competência comunicativa reflete a noção de que o conhecimento da


linguagem a determinada situação e a aprendizagem das regras sociais de
comunicação é tão importante quanto o conhecimento semântico e gramatical. As
dificuldades de aprendizagem, podem ocorrer quando existem, retardo mental,
distúrbio emocional, problemas sensoriais, ou motores, ou, ainda ser acentuadas por
influências externas, como, por exemplo, diferenças culturais, instrução insuficiente
ou inapropriada.

O processo de aquisição da linguagem é bastante complexo e envolve uma rede de


neurônios distribuída entre diferentes regiões cerebrais.
O cérebro é um órgão dinâmico que se adapta constantemente as novas
informações. Como resultado, as áreas envolvidas na linguagem de um adulto
podem não ser as mesmas envolvidas na criança, é possível que algumas zonas do
cérebro sejam usadas apenas durante o período de desenvolvimento da linguagem.

Em pesquisas observou-se que as dificuldades de aquisição da linguagem existem


devido a interferência de alguns distúrbios como a dislexia; um atraso congênito de
desenvolvimento ou diminuição na capacidade de traduzir sons e símbolos gráficos e
compreender o material escrito.

Vários são os fatores que descrevem as causas da dislexia entre eles, déficits
cognitivos, fatores neurológicos, prematuridade, influências genéticas e ambientais.
As dislexias podem ser divididas em dois tipos: central e periférica. Na central ocorre
o comportamento do processo lingüísticos dos estímulos, alterações no processo de
conversão da ortografia para fonologia.

DESENVOLVIMENTO DA CAPACIDADE DE APRENDER

É preciso que a escola ensine aos educandos como se dão as coisas relativas ao
conhecimento da linguagem, como se processa a informação lingüística. E isso serve
não só para o ensino da língua materna como também para as demais disciplinas
escolares.

Um cálculo como 34 x 76 tem muito a ensinar além do resultado. Há o processo (as


etapas de uma operação matemática) que deve ser visto como algo mais significativo
no ensino e, por que não dizer, mais significativo, também, no momento da avaliação
formativa.
As crianças precisam aprender e apreender essas informações da linguagem, da
leitura, da escrita e do cálculo,  com clareza e de forma prazerosa, lúdica. Quem
sabe, ensina.

Quem ensina, deve saber os conteúdos a serem repassados para o aluno. A escola
precisa levar as crianças ao reino da contemplação do conhecimento. Vale o inverso:
a escola deve levar o reino do saber às crianças.

Nas ruas, as crianças não aprenderão informações lingüísticas. Farão hipóteses,


extraídas, quase sempre da fala espontânea. É nas  escolas, com bons professores,
que aprenderão que  essas informações lhes darão habilidade para a leitura e para a
vida fora da escola
PINKER, Steven. O instinto da linguagem: como a mente cria a linguagem. 1ª:
Edição: Ed. Martins Fontes, 1954.

DEL RÉ, Alessandra. Aquisição da linguagem: uma abordagem psicolingüística. 1ª


Edição: Ed. Contexto, 2006.

SCIAR-CABRAL Leonor. Introdução a psicolingüística.ED. ATICA, 1991.

PINKER, Steven. O instinto da linguagem: como a mente cria a linguagem. 1ª:


Edição: Ed. Martins Fontes, 1954.

DEL RÉ, Alessandra. Aquisição da linguagem: uma abordagem psicolingüística. 1ª


Edição: Ed. Contexto, 2006.

SCIAR-CABRAL Leonor. Introdução a psicolingüística. ED. ATICA, 1991.


Exercícios de liguisticas descritivas
O que são variedades sociais (diastráticas)?
Muitas das modificações oficializadas pelo novo acordo ortográfico originam-se
das variedades sociais. Elas representam
diferenças fonológicas e morfossintáticas. São modificações na pronúncia, na escrita,
e na estrutura das frases.
Veja nos exemplos a seguir, eles poderão ser muito úteis na hora de responder os
exercícios sobre variações linguísticas:
Fonológicos 
 “prantar” no lugar de “plantar”; 
 “estrupo” no lugar de “estupro”; “
 “pobrema” no lugar de “problema”; 
 “beneficiente” no lugar de “beneficente”; 
 “ triologia” no lugar de “trilogia”.

Morfossintáticos 
 “vinte real” no lugar de “vinte reais”; 
 “eu vi ele” no lugar de de “eu o vi”; 
 “nós vai” no lugar de “ nós vamos”;
  “a gente fumo” no lugar de “nós fomos”.

 O que são variedades estilísticas


(diafásicas)?
 As variedades estilísticas estão diretamente ligadas aos níveis formal e
informal da língua. São padrões que se moldam de acordo com o grau de
intimidade das pessoas que estão conversando.
 Essa parte será a mais fácil de você entender, pois a vivenciamos todos os
dias

 uestão 1- (Enem 2013)


 Até quando?
 Não adianta olhar pro céu
 Com muita fé e pouca luta
 Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer
 E muita greve, você pode, você deve, pode crer
 Não adianta olhar pro chão
 Virar a cara pra não ver
 Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus
 Sofreu não quer dizer que você tenha que sofrer!
 GABRIEL, O PENSADOR. Seja você mesmo (mas não seja sempre o
mesmo).
 Rio de Janeiro: Sony Music, 2001 (fragmento).
 As escolhas linguísticas feitas pelo autor conferem ao texto:
 a) caráter atual, pelo uso de linguagem própria da internet.
 b) cunho apelativo, pela predominância de imagens metafóricas.
 c) tom de diálogo, pela recorrência de gírias.
 d) espontaneidade, pelo uso da linguagem coloquial.
 e) originalidade, pela concisão da linguagem.
 Questão 2 – (Enem 2012)
 Quando a Vó me recebeu nas férias, ela me apresentou aos amigos: Este é
meu neto. Ele foi estudar no Rio e voltou de ateu. Ela disse que eu voltei de
ateu. Aquela preposição deslocada me fantasiava de ateu. Como quem
dissesse no Carnaval: aquele menino está fantasiado de palhaço. Minha
avó entendia de regências verbais. Ela falava de sério. Mas todo-mundo
riu. Porque aquela preposição deslocada podia fazer de uma informação
um chiste. E fez. E mais: eu acho que buscar a beleza nas palavras é uma
solenidade de amor. E pode ser instrumento de rir. De outra feita, no meio
da pelada um menino gritou: Disilimina esse, Cabeludinho. Eu não
disiliminei ninguém. Mas aquele verbo novo trouxe um perfume de poesia
à nossa quadra. Aprendi nessas férias a brincar de palavras mais do que
trabalhar com elas. Comecei a não gostar de palavra engavetada. Aquela
que não pode mudar de lugar. Aprendi a gostar mais das palavras pelo
que elas entoam do que pelo que elas informam. Por depois ouvi um
vaqueiro a cantar com saudade: Ai morena, não me escreve / que eu não
sei a ler. Aquele a preposto ao verbo ler, ao meu ouvir, ampliava a solidão
do vaqueiro.
 BARROS, M. Memórias inventadas: a infância. São Paulo: Planeta, 2003.
 No texto, o autor desenvolve uma reflexão sobre diferentes possibilidades
de uso da língua e sobre os sentidos que esses usos podem produzir, a
exemplo das expressões “voltou de ateu”, “disilimina esse” e “eu não sei a
ler”. Com essa reflexão, o autor destaca
 a) os desvios linguísticos cometidos pelos personagens do texto.
 b) a importância de certos fenômenos gramaticais para o conhecimento da
língua portuguesa.
 c) a distinção clara entre a norma culta e as outras variedades linguísticas.
 d) o relato fiel de episódios vividos por Cabeludinho durante as suas férias.
 e) a valorização da dimensão lúdica e poética presente nos usos coloquiais
da linguagem.
 Questão 3 – (Enem)
 De domingo
 — Outrossim?
 — O quê?
 — O que o quê?
 — O que você disse.
 — Outrossim?
 — É.
 — O que que tem?
 — Nada. Só achei engraçado.
 — Não vejo a graça.
 Nossa tradição escolar sempre desprezou a língua viva, falada no dia a dia,
como se fosse toda errada, uma forma corrompida de falar “a língua de
Camões”. Havia (e há) a crença forte de que é missão da escola “consertar”
a língua dos alunos, principalmente dos que frequentam a escola pública.
Com isso, abriu-se um abismo profundo entre a língua (e a cultura) própria
dos alunos e a língua (e a cultura) própria da escola, uma instituição
comprometida com os valores e as ideologias dominantes. Felizmente, nos
últimos 20 e poucos anos, essa postura sofreu muitas críticas e cada vez
mais se aceita que é preciso levar em conta o saber prévio dos estudantes,
sua língua familiar e sua cultura característica, para, a partir daí, ampliar
seu repertório linguístico e cultural.
 BAGNO, Marcos. A língua sem erros. Disponível em:
http://marcosbagno.files.wordpress.com. Acesso em: 5 nov. 2014.
 De acordo com a leitura do texto, a língua ensinada na escola

a) ajuda a diminuir o abismo existente entre a cultura das classes consideradas


hegemônicas e das populares.
b) deve ser banida do ensino contemporâneo, que procura basear-se na cultura e
nas experiências de vida do aluno.
c) precisa enriquecer o repertório do aluno, valorizando o seu conhecimento
prévio e respeitando a sua cultura de origem.
d) tem como principal finalidade cercear as variações linguísticas que
comprometem o bom uso da língua portuguesa.
e) torna-se, na contemporaneidade, o grande referencial de aprendizagem do
aluno, que deve valorizá-la em detrimento de sua variação linguística de origem.
 Nossa! Você já fez metade das questões sobre variações linguísticas. Vamos lá!
 Quando vou a São Paulo, ando na rua ou vou ao mercado, apuro o ouvido;
não espero só o sotaque geral dos nordestinos, onipresentes, mas para
conferir a pronúncia de cada um; os paulistas pensam que todo
nordestino fala igual; contudo as variações são mais numerosas que as
notas de uma escala musical. Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte,
Ceará, Piauí têm no falar de seus nativos muito mais variantes do que se
imagina. E a gente se goza uns dos outros, imita o vizinho, e todo mundo
ri, porque parece impossível que um praiano de beira-mar não chegue
sequer perto de um sertanejo de Quixeramobim. O pessoal do Cariri,
então, até se orgulha do falar deles. Têm uns tês doces, quase um the; já
nós, ásperos sertanejos, fazemos um duro au ou eu de todos os terminais
em al ou el – carnavau, Raqueu… Já os paraibanos trocam o l pelo r. José
Américo só me chamava, afetuosamente, de Raquer.
 Queiroz, R. O Estado de São Paulo. 09 maio 1998 (fragmento adaptado).
 Raquel de Queiroz comenta, em seu texto, um tipo de variação linguística
que se percebe no falar de pessoas de diferentes regiões. As
características regionais exploradas no texto manifestam-se
 a)  na organização sintática.
 b)  no uso do léxico.
 c) na estruturação morfológica.
 d) na fonologia.
 e) no grau de formalidade.
 Questão 8 – (UPE/2008)
 xercício resolvido da questão 1 –
 Alternativa correta: d) espontaneidade, pelo uso da linguagem coloquial.
 Exercício resolvido da questão 2 –
 Alternativa correta:e) a valorização da dimensão lúdica e poética presente
nos usos coloquiais da linguagem.
 Exercício resolvido da questão 3 –
 Alternativa correta: b) tom humorístico, ocasionado pela ocorrência de
palavras empregadas em contextos formais.
 Exercício resolvido da questão 4 –
 Alternativa correta: a) contexto sócio-histórico.
 Exercício resolvido da questão 5 –
 Alternativa correta: c) precisa enriquecer o repertório do aluno,
valorizando o seu conhecimento prévio e respeitando a sua cultura de
origem.
 Exercício resolvido da questão 6 –
 Alternativa correta: c) Não existe nenhuma justificativa ética, política,
pedagógica ou científica para continuar condenando como erros os usos
linguísticos que estão firmados no português brasileiro. (Bagno, 2007, p.
161.)
 Exercício resolvido da questão 7 –
 Alternativa correta: d) na fonologia.
  Exercício resolvido da questão 8 – 
 Alternativa correta:c)  I, III e IV.
 Faça um comentário acerca do conceito
de “linguística” apresentado no início
do texto: “disciplina que estuda
cientificamente a linguagem”.


 A linguística tem como objeto de estudo a linguagem humana
através da observação de sua manifestação oral ou escrita
(ou gestual, no caso da língua dos sinais). Seu objetivo
final é depreender os princípios fundamentais que regem
essa capacidade exclusivamente humana de expressão por
meio das línguas. Para atingir esse objetivo, os
linguistas analisam como as línguas naturais se estruturam
e funcionam. A investigação de diferentes aspectos das
diversas línguas do mundo é o procedimento seguido para
detectar as características da faculdade da linguagem: o
que há de universal e inato, o que há de cultural e
adquirido, entre outras coisas.
Pode-se, portanto, dizer que a linguística executa duas
tarefas principais: o estudo das línguas particulares como
um fim em si mesmo, com o propósito de produzir descrições
adequadas de cada uma delas, e o estudo das línguas como
um meio para obter informações sobre a natureza da
linguagem de um modo geral.


 2. Que argumento(s) poderia(m) ser
usados para privilegiar a análise da
língua falada?


 A língua falada, excluída durante muito tempo como objeto
de pesquisa, tem características próprias que a distinguem
da escrita e constitui foco de interesse de investigação.
Ou seja, a linguística, apesar de se interessar também
pela escrita, apresenta interesse especial pela fala, uma
vez que é nesse meio que a linguagem se manifesta de modo
mais natural, diferente da escrita, que é mais planejada.
Isso faz da fala um material mais interessante para que se
possa compreender o funcionamento da linguagem humana.


 3. Aponte um aspecto que caracterize a
relação entre linguagem e nossa
estrutura neurobiológica e comente sua
escolha.


 A partir de estudos no século XIX, de cientistas como Paul
Broca e Karl Wernick, ficou estabelecido que lesões ou
traumatismos em determinadas áreas do cérebro provocam
problemas de linguagem: as afasias.
 Lesões que ocorrem na parte frontal do hemisfério esquerdo
do cérebro, causam nas pessoas afetadas, uma articulação
deficiente e uma séria dificuldade de formar frases sem
que, no entanto, sua compreensão daquilo que as outras
pessoas falam seja comprometida. Diz-se que os pacientes
que apresentam esse problema sofrem de afasia de Broca.
Já lesões na parte posterior do lóbulo temporal esquerdo
geram problemas de linguagem diferentes, causando a perda
da capacidade de produzir enunciados com significado,
assim como a capacidade de compreender a fala de outras
pessoas. Costuma-se caracterizar essa deficiência como
afasia de Wernicke. A partir de então vêm sendo
desenvolvidos estudos acerca da interface entre
cérebro/mente/linguagem, caracterizando uma área de
pesquisa normalmente chamada neurolinguística ou
afasiologia. Com isso, podemos demonstrar as relações
entre linguagem e estrutura neurobiológica e que o
funcionamento da linguagem, tal como ocorre, está
relacionado a uma estrutura biológica que o veicula.


 4.Que aspectos caracterizam a
linguística como o estudo científico
da linguagem?


 Em primeiro lugar, a linguística tem um objeto de estudo
próprio: a capacidade da linguagem, que é observada a
partir dos enunciados falados e escritos. Esses enunciados
são investigados e descritos à luz de princípios teóricos
e de acordo com uma terminologia específica e apropriada.
A universalidade desses princípios teóricos é testada
através da análise de enunciados em várias línguas. Em
segundo lugar, a linguística tende a ser empírica, e não
especulativa ou intuitiva, ou seja, tende a basear suas
descobertas em métodos rígidos de observação.
 Estreitamente relacionada ao caráter empírico da
linguística está a atitude não preconceituosa em relação
aos diferentes usos da língua. Essa atitude torna a
linguística, primordialmente, uma ciência descritiva,
analítica e, sobretudo, não prescritiva.


 5. Estabeleça uma distinção entre
linguística, filologia e semiologia.


 A semiologia não se interesse apenas pela linguagem humana
de natureza verbal, mas por qualquer sistema de signos
naturais (a fumaça é um sinal de fogo, nuvens negras são
sinal de chuva, etc) ou culturais (sinais de trânsito,
gestos, formas de dança, etc.).
Para Saussure, a linguística seria um ramo da semiologia,
apresentando um caráter mais específico em função de seu
particular interesse pela linguagem verbal.
Independentemente da dificuldade de delimitar o campo
dessas duas disciplinas, podemos apontar, como fator de
diferenciação, um aspecto que parece estar presente na
maioria dos manuais da disciplina: a linguística estuda a
linguagem verbal, enquanto a semiologia, com seu caráter
mais geral, interessa-se por todas as formas de linguagem.

 Quanto à diferença entre linguística e filologia, podemos
dizer que a última é uma ciência eminentemente histórica,
que por tradição se ocupa do estudo de civilizações
passadas através da observação dos textos escritos que
elas nos deixaram. Esse estudo engloba a exploração
exaustiva dos mais variados aspectos do texto:
linguístico, crítico-textual, sócio-histórico, entre
outros.
 De maneira geral, a filologia se interessa pelo estudo do
texto escrito, enquanto a linguística, embora não despreze
a escrita, se volta para a linguagem oral.


 6.Cite algumas áreas em que os
resultados da pesquisa linguística
podem ser aplicados.


 A linguística tem sido aplicada em maior ou menor grau, em
contextos de aprendizagem de língua. Os estudiosos da
língua têm usado informações linguísticas em tarefas
educacionais. As aplicações da linguística não se
restringem, porém, ao domínio do ensino de línguas ou ao
campo de atuação da disciplina denominada linguística
aplicada; outras áreas utilizam, produtivamente, as
descobertas teóricas da pesquisa linguística para fins
práticos, como a afasiologia, a inteligência artificial, a
tradução automática e o desenvolvimento de softwares
capazes de traduzir a fala humana em escrita e vice-versa.
Em resumo, há vários domínios em que a linguística pode
ser aplicada. Dependendo do propósito da aplicação, as
disciplinas relevantes esses propósitos vão variar.


Defina o que é comunidade lingüística.

2)      Explique o que se entende por variedade lingüística.

3)      Diga o que se entende por variação diatópica, diafásica e diastrática.

4)      Estabeleça as principais diferenças entre a sociolinguística e a lingüística inaugurada por


Saussure.

5)      Teça comentários a respeito da norma culta, incluindo a explicação do conceito e como
se dá sua formação em uma sociedade.

6)      Explique a correlação entre variação e mudança lingüística.


7)      O que se entende por variação estilística?

8)      Conceitue “uso categórico” e “variável linguística”.

9)      Explique o que é “hipercorreção”.

10)   (Questão retirada de estudo dirigido realizado pela Prof.ª Dr.ª Lucia Teixeira) Utilizando
como exemplo as variantes “presença do –r final” / “ausência do –r final” para as formas de
infinitivo dos verbos, explique um caso de variável morfológica.

11)   (Questão retirada de prova aplicada pela Prof.ª Dr.ª Lucia Teixeira) No trecho da canção
de Adoniran Barbosa, percebe-se uma das características de todas as línguas: possuir
variantes. Defina “variação linguística” e aponte os tipos de variações que podem ser
observadas nas línguas. Retire exemplos do texto para embasar sua resposta.

“De tanto levá


frechada do teu olhá
Meu peito inté
Parece sabe o quê?
Tauba de tiro ao álvaro
Num tem mais onde furá”.

Fonte://letras.terra.com.br/elis-regina/101410/          Acessado em: 27/06/2011.

12)   (Questão retirada de prova aplicada pela Prof.ª Dr.ª Lucia Teixeira) O julgamento de que
há variações lingüísticas “corretas” e “incorretas”, “melhores” e “piores” constitui um
preconceito lingüístico. Desenvolva essa afirmação, apresentando argumentos convincentes.
DEIX E UM CO MENTÁRIO
por  JO SÉ ROCHA   em  NOVEMBRO 26, 2011     •    LINK P ERMA NENTE
Post ado em  BA NCO D E EXERCÍCIO S

Exercícios de Fixação de
Psicolinguística Experimental
(Os exercícios a seguir foram retirados do capítulo “Psicolingüística experimental: focalizando
o processamento da linguagem” de autoria de Márcio Martins Leitão, presente no livro
“Manual de linguística” organizado por Mário Eduardo Martelotta.)

1) Com base na metodologia utilizada na psicolingüística experimental, responda:

a) O que caracteriza as técnicas experimentais on-line e as técnicas off-line? Exemplifique.


b) Por que as técnicas on-line são mais interessantes do que as off-line no que se refere aos
estudos na área de processamento lingüístico?
2) Observe a estrutura sintática da frase ambígua abaixo e responda às perguntas:

Encontrei o amigo do porteiro que cantava no coral da escola.

a) Quais as duas interpretações possíveis?


b) Por que esse tipo de estrutura é relevante para os estudos de processamento sentencial?
DEIX E UM CO MENTÁRIO
por  JO SÉ ROCHA   em  NOVEMBRO 26, 2011     •    LINK P ERMA NENTE
Post ado em  BA NCO D E EXERCÍCIO S

Exercícios de Revisão  01
1. A linguística inatista passou por dois momentos no que tange o entendimento sobre a
gramática universal. Explique-os.
2. Exponha as principais diferenças entre o Cognitivismo Construtivista e o Interacionismo
Social.
3. “Alguns linguistas dividem as fases de aquisição da língua em pré-linguísticas e
linguísticas.” (V. Fromkin e R. Rodman, 1993). Em relação à fase do balbucio, apresente
os dois pontos de vista que explicam porque ela é considerada ou não uma fase pré-
linguística.
4. Suponha que um linguista interessado em estudar o processo de aquisição da linguagem
tenha um laboratório e deseja fazer uma pesquisa com um grande número de sujeitos,
isolando os fatores e variáveis intervenientes em sua análise. Diga qual metodologia de
pesquisa ele utilizou, pondo-a em contraponto com a outra.
5. Exponha a principal diferença entre o ponto de vista culturalista e o nativista no que se
refere à aquisição da linguagem.
6. A literatura é uma componente central da identidade cultural de todos os estados-
nação, apesar de evidentemente ser muito mais do que isso. Nessa perspectiva, a
moderna literatura é melhor entendida historicamente como uma das mais importantes
formas de produção cultural, através das quais um estado-nação pode ser identificado.
(1994, p.15)
7. Como é usual em culturas no início da sua trajectória histórica, a poesia é o
género literário mais representativo e de maior riqueza expressional na literatura
cabo verdiana dos últimos cinquenta anos. A novelística, o ensaísmo literário, a
crítica, O teatro, o estudo etnográfico, embora tes- temunhados em criações
valiosas e em per- sonalidades nitidamente afirmadas mas muito mais enraizados
no velho tronco linguístico e contextual português afiguram-se-me, como leitor
atento de longos anos, géneros em germinação augu- ralmente acelerada para
um rosto futuro de Cabo Verde como pátria cultural autónoma, numa nação
nova de pleno direito.
8. As literaturas de Moçambique, Angola, Guiné Bissau, Cabo-Verde e São Tomé e
Príncipe se deparam constantemente com a questão da legitimidade. O problema se
torna mais contundente quando se questiona o fato dessas literaturas serem escritas na
língua do colonizador, essa “colagem”, faz com que a produção literária africana seja
encarada como uma espécie de produto neocolonial
9.
10. As literaturas africanas desempenharam um papel muito importante na luta pela
independência e na projeção de uma nação. Foram protagonistas de uma guerra que foi
também ideológica. Hoje, a luta é para se libertar da perifericidade e dos status de
subliteratura a que foram reduzidas dentro de um espaço intelectual que toma a
literatura ocidental como referência. Essas narrativas, muitas vezes, foram julgadas
inferiores devido à simplicidade de sua escrita (principalmente a poesia de combate) e
à relação direta dessa escrita com a política vigente.
11.
12. O processo literario em Africa tem, e mais uma vez queremos relembrar, as suas
peculiaridades. Dizer que a(s) literatura(s) africana(s) nao pode(m) confundir-se com
literatura negra e uma verdade que releva da Historia dos paises africanos; por6m, e"
preciso nao esquecer que o sistema colonial, sendo tambem a imposigao de uma
determinada civilizagao, estrangeira, o primeiro elemento de confrontagao a considerar
€, no caso africano e como todos sabemos, Etnico e racial. E se, de facto, nao e preciso
que o branco se pinte de preto para que a sua obra possa fazer parte de determinado
conjunto cultural africano, como ironicamente aconselha Jorge de Sena a Rui Knopfli
(28), necessario 6, porem, que se tenha a consciencia de que o sistema cultural que
comegou a ser abalado desde o longinquo see. XV era negro-africano, nalguns casos
com ilhas islamizadas, como o Imperio S6undjata (Man- dinga). E dessa mesma
realidade estavam conscientes os orga-
13.
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