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Acontecimento

discursivo
Um gesto de leitura
Sobre o acontecimento
discursivo...

 Procuramos desenvolver, aqui, um gesto de


leitura sobre aquilo que Pêcheux denominou
acontecimento discursivo, para, a partir daí,
pensar sobre o direito sistêmico.
 O tema em AD suscita inúmeras interrogações: o acontecimento discursivo deve ser
considerado a partir da perspectiva de um acontecimento histórico? Qual o papel da
memória na rede de filiações discursivas? Qual a relação entre estrutura e
acontecimento?
 Partindo de Pêcheux e revisitando outros tantos analistas de discurso que se
propuseram a pensar sobre acontecimentos, propomos considerar a relação
indissociável entre estrutura e acontecimento. Nossa reflexão, contudo, fica sujeita a
réplicas.
Pêcheux

 On a gagné! É por meio da análise e descrição desse enunciado,


num gesto de interpretação, que Pêcheux ([1983b] 2006)
desenvolve o conceito de acontecimento discursivo.
 Sintetizando, nas palavras de Pêcheux ([1983b] 2006), o
acontecimento situa-se no ponto de encontro entre uma
atualidade e uma memória.
Orlandi

 Orlandi (2017a, p. 57) considera o documentário um


acontecimento discursivo, na medida em que se
manifesta no ponto de encontro entre uma atualidade e
uma memória.
Rassi Do acontecimento histórico ao acontecimento discursivo: uma análise da
“Marcha das Vadias”.

 Para Rassi (2012), então, o acontecimento discursivo pode ser


entendido como uma correlação entre o fato e a maneira como
este foi percebido e circulou no meio social, mantendo-se na
memória coletiva.
 O acontecimento discursivo decorre, assim, da atualização de
um enunciado, o qual estabelece relações com formações
discursivas preexistentes, apontando para novos gestos de
leitura.
Indursky

 Por acontecimento discursivo entende-se a ruptura com uma FD


historicamente instituída e o reordenamento dos sentidos para a constituição
de uma nova FD. “Os novos sentidos que resultam desta deriva determinam
o surgimento de um novo domínio de saber, organizados por uma nova
forma-sujeito. Trata-se do surgimento de um novo sujeito histórico.”
(Indursky, 2008, n.p).
 Já o acontecimento enunciativo é da ordem da contraidentificação, em que
não há ruptura com a FD à qual o sujeito se identifica, mas se estabelece uma
tensão com a posição-sujeito dominante daquela FD.
Furlaneto

 Furlanetto (2015) propõe considerar as noções de


microacontecimentos e macroacontecimentos como polos de
uma série em gradação nuançada. Para ela, trata-se mais de
uma questão de grau, de possibilidades de circulação em espaços
heterogêneos cujo cruzamento é capaz de produzir outros
trajetos, conjugando o estabilizado e o instável.
Logo...

 Em Pêcheux ([1983b] 2006), não está presumido que o acontecimento


discursivo é fato raro ou que deva proceder, necessariamente, de um
acontecimento histórico. Por isso, filiamo-nos à noção de que todo discurso é
constituído por estrutura e acontecimento. Há acontecimento em toda
prática discursiva, já que: (01) todo dizer se dá no ponto de encontro entre
uma memória e uma atualidade; e (2) todo dizer carrega a possibilidade de
tornar-se outro; a possibilidade de rasgar as filiações de sentido da memória.

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