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Samilo Takara
Teresa Kazuko Teruya 129
n. 14 | 2016 | p. 125-145
movimento de construção da realidade ou do que denominamos de realidade
(DELEUZE, 2005).
Ao entendermos essa possibilidade de construção de formas de dizer e
de ver, as compreensões da arqueologia e da genealogia discutidas por Foucault
tornam-se explícitas. Nas palavras de Deleuze (2005, p. 60): “[...] o que define é,
acima de tudo, a voz, mas também os olhos. Os olhos, a voz. Foucault nunca
deixou de ser um vidente, ao mesmo tempo que marcava a filosofia com um novo
estilo de enunciado, as duas coisas num passo diferente, num ritmo duplo”. A
constituição de práticas discursivas e não discursivas dá-se no enunciável e no
visível, para a leitura foucaultiana. Desse modo, saímos de uma compreensão da
ciência, dos fatos como regimes únicos de compreensão da realidade e da
verdade, porque buscamos ferir uma crença na ciência como forma absoluta de
explicação do mundo, porque se “[...] houve um tempo em que se obedecia aos
que falavam em nome de Deus e transmitiam suas ordens, é necessário que se
obedeça aos que falam em nome dos Fatos e transmitem seus imperativos. E é
essa fé que hoje parece estar em crise” (LARROSA, 2010, p. 158).
É nessa direção que a visibilidade e suas práticas de constituição de
formas e de sentidos exigem de nós uma perspectiva analítica. Ao
caminharmos por meio das explicitações e anotações de Larrosa (2010, p.
158), que denota a realidade como uma criação europeia de ciência, a
indagação desse autor nos auxilia a pensar nos regimes de verdade que são
constituídos no hoje: fica a necessidade de questionar: “de onde vem e a que
vem a realidade”? Essa questão nos abre precedente para dialogar acerca dos
sentidos estabelecidos pela ciência e, desse modo, reconhecer os limites da
prática científica.
Dessa maneira, neste texto não entendemos visibilidade como uma
prática de visualidade, mas de sentir, de relacionar-se com o mundo. Por esse
viés, é “[...] preciso extrair das palavras e da língua os enunciados
correspondentes a cada estrato e a seus limiares, mas também extrair das coisas
e da vista as possibilidades, as 'evidências' próprias a cada estrato” (DELEUZE,
2005, p. 62). Assim, o visível não é caracterizado apenas pela prática de
visualização, mas também pelos rastros, que nos indicam caminhos,
interpretações, sensações e perspectivas. A prática de visibilidade, ou mesmo de
publicização, é discutida por Thompson (2011, p. 165) como “[...] realizada
para que qualquer um possa ver” e oposta ao privado como “[...] invisível,
realizada secretamente atrás de portas fechadas”, oferecendo outras dimensões.
Ao tratar do segredo, do que é realizado escondido, Deleuze (2005, p.
64) explica que esse ato existe “[...] para ser traído, trair-se a si mesmo”. Essa
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traição é possível porque em cada momento histórico a função de dizer e de
visualizar realiza-se nas condições de seus enunciados. Conforme as
interpretações de Larrosa (2010) acerca da constituição dos sentidos, a
realidade torna-se passível de experimentação.
Aquilo que nós chamamos de “realidade”, essa espécie de
totalidade genérica que inclui o conjunto das “coisas”, foi
primeiramente concebido como o terreno do dizer e do agir,
como o problema de nossas palavras e de nossas ações,
como aquilo que nos concerne e que está no nosso meio, no
meio de nossos dizeres e de nossos fazeres, como “a
questão”. Nesse sentido, é como se disséssemos “a
realidade? Eis aí o assunto, eis aí o problema, eis aí a
questão” (LARROSA, 2010, p. 159).
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cultura é constituidora e constituída nas relações de força entre visibilidade e
dizibilidade e nos sugere posicionamentos, identificações e instabilidades que
são tensionadas também na publicização de uma imagem de si, nos discursos
que interpelam a constituição dos sujeitos e que nos endereçam formas de ser e
estar na cultura. Desse modo, o termo cultura não é estável, mas está no
processo de ações e condutas que indicam possibilidades de “incitar, induzir,
desviar, tornar fácil ou difícil, ampliar ou limitar, tornar mais ou menos
provável... Essas são as categorias do poder” (DELEUZE, 2005, p. 78).
Esse poder, então, realiza-se nas práticas culturais, vislumbrando-se e
discursando-se nas formas de ser e agir que nos são permitidas na
contemporaneidade. Conforme Sibilia (2006) relata sobre o corpo como
espaço de disputa entre os discursos e as visibilidades científicas, tecnológicas,
políticas e culturais, Deleuze (2005, p. 64) explica que o termo sujeito “é um
lugar ou uma posição” e está alinhavado a inúmeros processos e posições que
se variam de um mesmo enunciado.
A cultura, para Hall (1997, p. 18), também está em disputa porque é
“modelada, controlada e regulada”, ao mesmo tempo que “'regula' nossas
condutas, ações sociais e práticas e, assim, a maneira como agimos no âmbito
das instituições e na sociedade mais ampla”. Nesse movimento conflituoso, as
práticas discursivas e de visibilidade nos oferecem contornos das condutas
culturais e, desse modo, as culturas nos sugerem cartografias, registros, rastros
do que indicam as chamadas identidades culturais: uma possibilidade não de
definição, mas de compreensão das relações de poder que configuram
determinados pontos, práticas e gestos que são significados na cultura.
As mídias comunicacionais não se restringem aos aparatos
técnicos usados para transmitir informações de um
indivíduo a outro enquanto a relação entre eles permanece
i n a l t e r a d a ; a o c o n t r á r i o, u s a n d o a s m í d i a s
comunicacionais “novas” formas de agir e interagir são
criadas considerando-se suas propriedades distintivas
específicas (THOMPSON, 2008, p. 17, grifos nossos).
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se expressões que perpassam diferentes âmbitos, são impregnadas em
diferentes suportes e podem, por meio da prática de interpretação cultural e das
análises entre relações de poder, fornecer-nos elementos para problematizar as
condições de pensar as estratégias que são possíveis para pensar a cultura que
permeia, perpassa e produz a cultura e a visibilidade. Nessa perspectiva,
[...] ao relatar questões relacionadas ao governo da cultura e
ao governo através da cultura – aproveitando a
oportunidade para rever algumas das dimensões-chave do
funcionamento da cultura e sua centralidade no mundo
moderno. Sem apresentarmos um resumo detalhado,
esperamos que este sumário tenha sido útil para identificar
e esclarecer alguns dos temas-chave que fazem parte do
projeto Cultura, Mídia e Identidades e esclareça qual a
natureza da cultura – tanto o que ela é quanto o que ela faz
(HALL, 1997, p. 22, grifos do autor).
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