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07/06/2021

Sete noções em Análise do Discurso 1. Ideologia (ORLANDI, E. Princípios e procedimentos. 2001)


Sandro Braga e Tiago Pereira
Carla Mello, Fernanda Miara, Tiago Breunig • Um dos pontos fortes da AD é re-significar a noção de ideologia a partir da
EaD UFSC consideração da linguagem.

• O fato de que não há sentido sem interpretação atesta a presença da


ideologia.

• Este é o trabalho da ideologia: produzir evidências, colocando o homem na


relação imaginária com suas condições de existência.

• A ideologia é a condição de existência para a constituição do sujeito e dos


sentidos.

• O individuo é interpelado em sujeito pela ideologia para que produza o


dizer.

• Partindo da afirmação de que a ideologia e o inconsciente são estruturas-


funcionamentos, sua característica é dissimular sua existência no interior
de seu próprio funcionamento, produzindo evidências subjetivas
(Pêcheux).

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• Assim considerada, a ideologia não é ocultação


Dois esquecimentos (PÊCHEUX, M. Semântica mas função da relação necessária entre
e Discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. 1969.)
linguagem e mundo. Linguagem e mundo se
refletem no sentido e no mundo.
• Esquecimento n. 1 (ideológico): o sujeito enuncia
sob a ilusão de que é dono de seu discurso, criador
absoluto dele; apaga tudo que remete ao exterior • Por esse modo de conceber a ideologia, a AD não
de sua formação discursiva. a vê como conjunto de representação, como visão
de mundo ou como ocultação da realidade. Não
• Esquecimento n. 2 (enunciativo): o sujeito enuncia há aliás realidade sem ideologia.
sob a ilusão de que a formulação de seu dizer tem
apenas um sentido (de que só pode ser dito com • O efeito ideológico elementar é a constituição do
aquelas palavras e daquela forma) e que tudo que sujeito. Pela interpretação ideológica do indivíduo
for dito será “captado” pelo interlocutor.
em sujeito inaugura-se a discursividade.

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• O sujeito em AD demanda de uma operação em


• 2. Sujeito e sua forma história (Orlandi, determinar qual a relação entre o enunciado e aquele
2001) que o produz.

• A forma-sujeito histórica que corresponde à sociedade atual • Assim, o sujeito do enunciado não passa de uma
representa bem a contradição: é um sujeito ao mesmo tempo relação específica que define o sujeito como posição,
livre e submisso. Pode tudo dizer, contanto que se submeta à lugar ou função no exterior do enunciado.
língua (base do assujeitamento).
• O sujeito do enunciado é o lugar que ocupa o indivíduo
Ex. (Souza, 2011): ao enunciar.

• 1) Idade Média até o Renascimento: religião = indivíduos # Voltamos à ideologia:


sujeitos (forma do sujeito religioso)
• Não há discurso sem sujeito. E não há sujeito sem
• 2) Do Renascimento para a Modernidade: criação dos ideologia. Ideologia e inconsciente estão materialmente
Estados/Leis (forma sujeito de direito). Contradição: submisso ligados.
e autônomo. Responde pelos seus atos desde que
autorizado.

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3. Formação Discursiva (FD) (Orlandi, 2001) • A FD (embora polêmica) é básica na AD, pois permite
compreender o processo de produção de sentidos, a sua
relação com a ideologia e as regularidades no
• Para AD o sentido não existe em si, mas é funcionamento do discurso.
determinado pelas posições ideológicas
postas em jogo no processo sócio-histórico • A FD se define como aquilo que numa FI dada, ou seja, a
em que as palavras são produzidas. partir de uma posição em uma conjuntura sócio-histórica,
determina o que pode e deve ser dito.

• As palavras mudam de sentido segundo as • Assim, para a AD, as palavras não têm sentido nelas
posições daqueles que as empregam. mesmas, os sentidos derivam das FDs em que as palavras
se inscrevem.

• O sentido emana das posições dos sujeitos • As FDs, por sua vez, representam no discurso as FIs.
em relação às formações ideológicas (FI)
nas quais essas posições se inscrevem.

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4. Interpretação (Orlandi, 2001) • O analista constrói a partir do dispositivo teórico um


dispositivo de análise = dispositivo de interpretação.
• Para que a língua faça sentido, é preciso que a história
intervenha, pelo equívoco, pela opacidade, pela espessura
material do significante. • Assim, a AD não procura o sentido “verdadeiro”, mas
o real do sentido em sua materialidade.
• Daí resulta que a interpretação é necessariamente regulada
em suas possibilidades, em suas condições. • Todo enunciado é linguisticamente descritível como
uma série de pontos de deriva possível oferecendo
• Ela não é mero gesto de decodificação, de apreensão do lugar a interpretação. Ele é sempre suscetível de
sentido. ser/tornar-se outro (PÊCHEUX).
• A interpretação não é livre de determinações.
• Para isso, descrição e interpretação se relacionam.
• Ela é “garantida” pela memória, sob dois aspecto: a memória
institucionalizada (arquivo) e a memória constitutiva • A questão não é o que o texto quer dizer, mas como
(interdiscurso) o texto significa.

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5. Discurso
• Esquema de comunicação (Roman Jakobson)
Análise de
TEXTO Discurso

Produção
de Produção de
sentidos de Interpretação
sentidos um texto • As relações de linguagem são relações de sujeitos e de
sentidos e seus efeitos são múltiplos e variados.

• O discurso é efeito se sentido entre locutores.

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6. Interdiscurso (memória discursiva) 7. Paráfrase e polissemia (Orlandi, 2001)


(está na base das condições de produção do discurso)
• Nos processos parafrásticos, em todo dizer há
• As condições de produção compreendem os sempre algo que se mantém = o dizível; a memória.
sujeitos e a situação.
• CP = sentido estrito: contexto imediato • A paráfrase representa o retorno aos mesmos
• CP = sentido amplo: contexto sócio-histórico, espaços do dizer. (≠ formulações do mesmo dizer
ideológico. sedimentado).

• Interdiscurso é o que fala antes, em outro lugar, • A paráfrase está do lado da estabilização, ao passo
independentemente. O saber discursivo que torna que, na polissemia, o que temos é deslocamento,
possível todo dizer: o já dito que está na base do ruptura de processos de significação.
dizível, sustentando cada tomada da palavra.
• Essa duas forças trabalham continuamente o dizer, de
• Ele disponibiliza dizeres que afetam o modo como o tal modo que todo discurso se faz na tensão: entre o
sujeito significa em uma situação discursiva dada. mesmo e o diferente.

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