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DISCURSO
Laís Virgína Alves Medeiros
Introdução aos estudos
teóricos da Análise do
Discurso: origem e noções
preliminares. A constituição
da Análise do Discurso
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Contextualizar histórica e teoricamente a Análise do Discurso.
Diferenciar a Análise do Discurso das disciplinas vizinhas.
Reconhecer algumas noções características da Análise do Dis-
curso.
Introdução
Você já deve ter percebido que cada subárea da Linguística recorta
e estuda a língua levando diferentes aspectos em consideração – a
diferença entre consoantes surdas e sonoras ou a mudança de pon-
tuação causada pela inversão sintática, por exemplo. A subárea que
você vai conhecer agora, denominada Análise do Discurso, apre-
senta um modo de investigação que leva em consideração aspectos
como a Ideologia e as relações sociais, atravessando a língua e cons-
truindo sentidos diferentes. Neste texto, você vai descobrir como essa
área foi estabelecida como disciplina autônoma, além de conhecer
algumas de suas noções iniciais.
Origem e função
Para entender e situar temporalmente o estabelecimento da Análise do Dis-
curso, você precisa antes compreender o contexto em que os estudos linguís-
ticos se encontravam na época.
O teórico responsável por estabelecer a linguística como ciência autô-
noma, Ferdinand de Saussure, instaurou a dicotomia língua/fala. Para ele, o
único modo de estudar a língua seria deixando de lado os fatores externos,
focando no seu funcionamento como sistema (SAUSSURE, 2012).
Posteriormente, Émile Benveniste propôs que a linguagem é constitutiva
da natureza do ser humano, que, por sua vez, a atualiza através da enun-
ciação. Benveniste usa o exemplo dos pronomes pessoais para afirmar que
toda língua carrega marcas de subjetividade, de modo que o falante, deixado
de lado pela teoria saussuriana, estaria mesmo assim já impresso no sistema
da língua através dessas marcas (BENVENISTE, 2005).
Os estudos baseados em Saussure e Benveniste, portanto, não tinham o
texto como centro de suas investigações. Foram estudos posteriores, abrigados
O Estruturalismo, como o nome sugere, é uma corrente teórica que procura explicar os
fenômenos em busca de suas estruturas, de suas leis internas. No terreno da Linguística, po-
demos destacar o nome de Jakobson como grande expoente dessa teoria (SOUZA, 2005).
Foi a partir de Jakobson que a comunicação pôde ser instaurada como objeto de estudo
científico, o que justifica sua citada relação com os estudos discursivos (ORLANDI, 2009). É
preciso ressaltar, no entanto, que os estudos discursivos utilizam algumas das concepções
estruturalistas a fim de criticá-las e propor diferentes elementos para estudar a linguagem.
Noções preliminares
Agora que você já conheceu o contexto de estabelecimento da Análise do Dis-
curso, vai conhecer, de modo introdutório, algumas noções básicas da teoria.
A principal diferença epistemológica da Análise do Discurso dentro dos
estudos linguísticos diz respeito às questões que não foram consideradas fun-
damentais pelas correntes precedentes – como a Linguística Textual e a Enun-
ciação, por exemplo (INDURSKY, 1998). Entre elas, você pode destacar as
noções de sujeito e de discurso e a importância dos elementos sócio-históricos
na constituição do sentido.
Você vai começar este estudo pelo sujeito, que nessa teoria assume um
papel bem diferente do que em outras vertentes dos estudos linguísticos. O
sujeito na Análise do Discurso não é apenas o sujeito da enunciação, como
para Benveniste, nem o falante individual, como para Saussure.
Você não deve confundir a noção de sujeito da Análise do Discurso em suas diferentes
concepções com o sujeito enquanto conceito da análise sintática. Embora o termo seja
o mesmo, não é do sujeito gramatical que estamos falando. Assim, a análise de um
enunciado pela perspectiva da Análise do Discurso não se assemelha à análise sintá-
tica – embora possa se valer dela como instrumento, mas nunca como objetivo final.
FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. Tradução de Luiz Felipe Baeta Neves. 4. ed. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 1995.
SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. 28. ed. São Paulo: Cultrix, 2012.
SOUZA, S. A. F. de. O movimento dos sentidos sobre línguas estrangeiras no Brasil: dis-
curso, história e educação. Campinas: [s.e.], 2005. (Tese de doutorado.)
Leitura recomendada
INDURSKY, F. Os estudos da linguagem e suas diferentes concepções de língua. In: HEN-
RIQUES, C. C.; SIMÕES, D. (Orgs.). Língua portuguesa: reflexões sobre descrição, pesquisa
e ensino. Rio de Janeiro: Europa, 2005.