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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO


FACULDADE DE LETRAS
REDAÇÃO

KARLA CAMYLLE MENDES CARVALHO

BELÉM – PARÁ
2023
No século XX, a filosofia passa a visualizar a linguagem como elemento crucial para
compreender a realidade. Isso decorre do fato de que os intelectuais desse período, imersos em
procurar compreender como é possível a ocorrência do conhecimento, com atenção para a ques-
tão sujeito-objeto, percebe a dualidade entre pensamento e linguagem, uma vez que a linguagem
é meio para para exprimir, conceituar e significar os objetos da realidade a partir das preposi-
ções. Um dos precursores mais importantes desse movimento na filosofia é o autor Ludwig
Wittgenstein, e seu pensamento acerca da linguagem é dividida em duas fases: O primeiro
Wittgenstein com a obra ‘’Tractatus Logico Philosophicus’’ e o segundo Wittgenstein com a
obra ‘’Investigações filosóficas’’, e entre essas duas fases ocorre um rompimento de percepções
sobre o significado da linguagem para ele.

Para o primeiro Wittgenstein, em sua obra ‘’Tractatus Logico Philophicus’’, a lingua-


gem deve figurar os fatos do mundo. Caso isso não ocorra, há uma carência de sentido na for-
mulação de proposições ou frases que não estabeleçam uma ordem correspondencial entre elas
e a realidade. Uma vez que, nessa sua fase, a linguagem corresponde ao mundo porque ambos
partilham da mesma forma lógica em suas estruturas, e essa permite a figuração do segundo
elemento. Assim sendo, só é possível pensar e expressar fatos logicamente possíveis. Tal visão
acerca da linguagem é influenciada pela filosofia tradicional, em que para a maioria dos filóso-
fos - adeptos ainda ao pensamento de Platão de que deva existir uma exatidão na linguagem -
as palavras só possuem significados se corresponderem a um objeto. Nesse contexto, para ex-
plicar como é possível a linguagem figurar a realidade, o filósofo desenvolve a teoria referencial
que consistem em considerar que, segundo ele, as palavras da linguagem denominam objetos –
frases são ligações de tais denominações.” (WITTGENSTEIN 1999, p. 27). Nesse viés, tal te-
oria explica que o sentido de uma frase está em ela expressar um fato possível, e sua verdade
está em ela expressar um fato que realmente ocorre. Nota-se, então, que nessa fase, os signifi-
cados das palavras possuem um limite fixo, pois, necessitam ser objetivas e, sempre, exprimi-
rem os fatos existentes no mundo. Nesse viés, é notório que o primeiro Wittgenstein carece de
enxergar a linguagem como manifestação homogênea, que irá variar conforme as vivências e
identidade do seu falante, nessa sua fase, a linguagem apenas é vista como uma mera fórmula
matemática que não é capaz de sofrer alterações, o intelectual torna a linguagem mais como
propriedade da lógica científica do que uma característica inerente do ser para que seja possível
expor a si e interagir com o outro em sociedade. Portanto, observa-se que a linguagem em
‘’Tractatus Logico Philosophicus’’, é homogênea e ostensiva, tendo que sempre estar entrela-
çada na função de ser capaz de figurar de forma adequada a realidade.

No entanto, na obra ‘’Investigações filosóficas’’, Wittgenstein rompe a relação com a


sua primeira concepção sobre a linguagem a partir da teoria dos ‘’Jogos de linguagem’’, essa é
contrária à teoria do modelo referencial, pois, nela, o intelectual considera que o significado das
palavras estava mais relacionado ao seu uso, e ao contexto em que os falantes estavam inseridos,
do que em uma relação lógica entre linguagem e mundo. Como forma de confirmar essa sua
observação tem-se como exemplo o fenômeno dos ‘’apelidos’’, quando uma pessoa nomeia o
seu gato de ‘’empada’’, o significado dessa palavra não está relacionado ao objeto em que ela
se refere, pois, a palavra ‘’empada’’ está, normalmente, relacionada a nomear uma comida,
mas, nessa situação, a palavra significa um animal, ou seja, o significado da palavra irá variar
conforme o contexto e as regras dele em que foi submetida. É devido a isso que para o segundo
Wittgenstein, a teoria é insuficiente para explicar a totalidade dos fenômenos linguísticos exer-
cidos pelos falantes de uma determinada língua, pois, agora se observa que nem todas as pala-
vras utilizadas podem ser reduzidas aos nomes, porque caso ocorresse dessa maneira as palavras
perderiam seus significados assim que tais objetos desaparecessem.

Conclui-se, assim que, o filósofo passa a visualizar a linguagem em uma ótica pragmá-
tica a partir da obra ‘’Investigações Filosóficas’’, pois, ele abandona a sua percepção de que a
linguagem está entrelaçada a lógica e a passa a considerar de que, na verdade, ela está mais
relacionada ao cotidiano, as pessoas que a utilizam e ao contexto em que estão no momento da
fala. Isso é consoante ao pensamento de Jacob May, visto que para ele a pragmática é interes-
sada pelo modo como as pessoas se comunicam em sociedade e pelo modo como elas ao faze-
rem isso, de fato constroem a sociedade.

REFERÊNCIAS
CAVASSENE, Ricardo, A crítica de Wittgenstein ao seu "Tractatus" nas "Investigações
Filosóficas". RIC-FFC, 2010. Disponível em: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/ric/ar-
ticle/view/337

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