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SML

304) Métodos e técnicas «de pesquisa em comunicação

KRIPPENDORFE Klaus. Metodologia de análisis de contenido. Barcelona: Paidós, 1990.

LIMA, Venício À. de. Mídia: teoria e política. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo,
2001.

LOZANO, José Carlos. Hacia la reconsideración del análisis de contenido enla investigacion
de los mensajes comunicacionales. In: RUIZ, Enrique Sanchez; BARBA, Cecilia Cervantes
(Org.). Investigar la comunicación: propuestas iberoamericanas. Guadalajara: Universidad
de Guadalajara/Alaic, 1994. p. 135-157. Análise do discurso
MARQUES DE MELO, José. Estudos de jornalismo comparado. São Paulo: Pioneira, 1972. Eduardo Manhães
MEDITSCH, Eduardo. Ciespal trouxe progresso... e o problema insolúvel do comunicólogo.
In: MARQUES DE MELO, José; GOBBI, Maria Cristina (Org.). Gênese do pensamento
comunicacional latinoamericano: o protagonismo das instituições pioneiras Ciespal, Icinform,
Ininco. Anais da Escola Latino-americana de Comunicação, 3. São Bernardo do Campo,
Universidade Metodista de São Paulo, Cáredra Unesco de Comunicação para o Desenvolvi-
mento Regional, 1999.

MORIN, Violette. Aplicação de um método de análise da imprensa. São Paulo: ECA/USP 1970.
(Mimeo.) 1 Discurso = linguagem em curso

PENN, Gemma. Análise semiótica de imagens paradas. In: BAUER, Martin W.; GASKELL,
George (Org.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. Petrópolis: Vozes, 2002. p. 319- Discurso significa “em curso”, em movimento. Assim, a discursividade Hu
342. plica a compreensão de que a mensagem é construída no interior de uma con
versa é é a concretização de um ato. A linguagem é um instrumento de comuni
ROHMANN, Chris. O livro das idéias: pensadores, teorias e conceitos que formam nossa cação que está sempre em atividade, seja nas relações cotidianas, coloquiais, seja
visão de mundo. Rio de Janeiro: Campus, 2000. nas interações institucionais, formais.
A noção de discurso é uma consegiência da premissa hermenêutica de que
a interpretação do sentido deve levar em conta que à significação é construida
no interior da fala de um determinado sujeito; quando um emissor tenta mos
trar o mundo para um interlocutor, numa determinada situação, a partir de seu
ponto de vista, movido por uma intenção.
Discurso, enfim, é a apropriação da linguagem (código, formal, abstrato é
impessoal) por um emissor, o que confere a este um papel ativo, que O constittl
em sujeito da ação social. Aquele que:
* classifica, ordena e organiza, enfim, significa o mundo mostrado;

* persuade, convence o locutor da pertinência de seu modo de classificar,


ordenar e organizar o mundo mostrado; e
* constrói uma voz, um modo de falar, um entendimento do mundo.
A noção de discurso é marcada, entretanto, por um paradoxo herdado cha
hermenêutica. Pois, se o único modo de os homens construírem € expressarem

sua existência, seu entendimento do mundo, da natureza, da história e da soci


dade é apropriando-se da linguagem para expressarem seus discursos, os ho
mens são também prisioneiros da linguagem. Ou seja, para se expremmron
in fermel Cevaahodo oo pesquisa em comunicação
Análise do discurso 307

bigodes a utiliza e respeitar as regras e os mecanismos linguísticos e a se Portanto, a análise de discurso inglesa, como dissemos, é a identificação
pebaetomatoni cui codigos e falas já instituídas. São sujeitos assujeitados.
da pessoa que conduz a narrativa dos acontecimentos ou que constrói pro-
posições para os interlocutores, mediante a compreensão das regras e dos
mecanismos lingiísticos que utiliza para alcançar seus objetivos.
1 A análise de discurso As regras e mecanismos que o emissor necessita dominar para expressar
sua voz e construir seu discurso podem ser classificadas em três instâncias: a
Voliimada análise de discurso francesa caracteriza-se pela ênfase no conversacional, a indexical e a acional.
peujoitamento do emissor, que se expressaria mediante a incorporação de dis-
boo sociais já instituídos: O religioso, o científico, o filosófico, o mitológico, o
poetico
otro jornalístico, o publicitário, o corporativo etc. 4 A conversação
Veliimada análise de discurso inglesa caracteriza-se pela ênfase no pa-
polativo do sujeito, daquele que utiliza pragmaticamente as palavras para fa-
A instância conversacional determina que a mensagem seja inteligível pe-
picas, cimbora cla não descarte o fato de o sujeito estar obrigado a obedecer los interlocutores, pelo emissor e também pelo receptor, para que haja informa-
dlmporativos lingiiísticos, O que implica um relativo assujeitamento. Entretan- ção ou persuasão.
to e sujeito e movido por uma razão que visa a fins específicos em situações
peethicas, datadas e determinadas. Para a consecução desses fins, apropria-se - Por isso, embora o discurso indique a presença de um sujeito que fala, de
pedtentemento da linguagem, de suas regras e procedimentos, e emite atos uma subjetividade, a significação construída deve ser intersubjetiva, deve fazer
OR sentido na situação e no contexto social, por isso obedece a regras e procedi-
mentos linguísticos e toma como referência proposições e significados que fa-
Gemma cmalisar significa dividir, a análise de discurso é, na verdade, a zem sentido para a consciência coletiva, os implícitos e os pressupostos.
construção do texto em discursos, ou seja, em vozes. À técnica consiste em
desinontar para perceber como foi montado.
lo», 111 análise de discurso francesa, resulta na identificação dos discur- 4.1 Os pressupostos
Wi tistitiidos — como o da publicidade ou o da medicina -, que foram incor- Os pressupostos são relações de sentido consagradas por determinados gru-
pocos pelo sujeito. E, na análise de discurso inglesa, resulta na identificação pos sociais que se incorporam em sua linguagem e se tornam elementos
Be pesso que conduz a narrativa dos acontecimentos e das proposições constitutivos da significação. Eles estão presentes nas falas do grupo, seja como
que
fomato pura os interlocutores: pedidos ou ordens, por exemplo. parte do conteúdo semântico, seja como premissa ou condição necessária
para seu emprego. As gírias e os neologismos costumam ser bons exemplos de
pressupostos.
1 A analise de discurso inglesa Vejamos a conversa entre dois surfistas, ao se encontrarem na praia.
- Beleza? ...
Hque cliumamos de análise de discurso inglesa é um campo dos estudos de
— Irado.
onto tdo aque confere primazia ao domínio da pragmática (daquilo que se
dbjetiva aloançar na vida cotidiana quando se conversa com alguém) sobre a Inicialmente, está pressuposto que a memória coletiva do grupo significa a
Pati Ca sintaxe, expressão interrogativa “Beleza?...” como cumprimento e a palavra “irado” como
Hhietimo pragmática está historicamente relacionado às condições de fabri- a qualificação positiva de um objeto, de uma situação ou de um estado de espírito.
DM in quitação de objetos ou assuntos com o intuito de obter uma determi-
Hada tetiibuição, Assim, é a eficácia na obtenção da finalidade que constitui a 4.2 Os implícitos
içdo praginática, o que implica, em comunicação, a subordinação da semântica e
HM abntaMo gos efeitos do sentido: à interação, à ação, à persuasão e ao convenci- Os implícitos são processos interlocutivos, instrumentos que viabi-
teia lizam a interação, consagrados por determinados grupos sociais que se in-

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BIA Alim] toseno es do peesquisa em comunicação
Análise do discurso 307
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belgas a utilizar e respeitar as regras e os mecanismos linguísticos e a se Portanto, a análise de discurso inglesa, como dissemos, é a identificação
pebictomanona com codigos e falas já instituídas. São sujeitos assujeitados. da pessoa que conduz a narrativa dos acontecimentos ou que constrói pro-
posições para os interlocutores, mediante a compreensão das regras e dos
mecanismos lingiiísticos que utiliza para alcançar seus objetivos.
Yamnálisoe de discurso As regras e mecanismos que o emissor necessita dominar para expressar
sua voz e construir seu discurso podem ser classificadas em três instâncias: a
Voliimada análise de discurso francesa caracteriza-se pela ênfase no conversacional, a indexical e a acional.
pejoltamento do emissor, que se expressaria mediante a incorporação de dis-
Hpsos socio já instituídos: o religioso, o científico, o filosófico, o mitológico, o
poetico, Oto jornalístico, o publicitário, o corporativo etc. 4 A conversação
Voliintada análise de discurso inglesa caracteriza-se pela ênfase no pa-
pelitivo do sujeito, daquele que utiliza pragmaticamente as palavras para fa-
A instância conversacional determina que a mensagem seja inteligível pe-
Pi obuis, cimbora ela não descarte o fato de o sujeito estar obrigado a obedecer
los interlocutores, pelo emissor e também pelo receptor, para que haja informa-
pmpenativos lingitísticos, o que implica um relativo assujeitamento. Entretan- ção ou persuasão.
to trsujetto é movido por uma razão que visa a fins específicos em situações
protlicas, datadas e determinadas. Para a consecução desses fins, apropria-se Por isso, embora o discurso indique a presença de um sujeito que fala, de
cobetentemento da linguagem, de suas regras e procedimentos, e emite atos uma subjetividade, a significação construída deve ser intersubjetiva, deve fazer
do tala sentido na situação e no contexto social, por isso obedece a regras e procedi-
mentos lingúísticos e toma como referência proposições e significados que fa-
Cienno analisar significa dividir, a análise de discurso é, na verdade,
a zem sentido para a consciência coletiva, os implícitos e os pressupostos.
lesconmsttução do texto em discursos, ou seja, em vozes. A técnica consiste em
testontar pura perceber como foi montado.
tono, ta análise de discurso francesa, resulta na identificação dos discur- 4.1 Os pressupostos
va pá institundos — como o da publicidade ou o da medicina —, que foram incor- Os pressupostos são relações de sentido consagradas por determinados gru-
potados pelo sujeito. E, na análise de discurso inglesa, resulta na identificação pos sociais que se incorporam em sua linguagem e se tornam elementos
bi pesso aque conduz a narrativa dos acontecimentos e das proposições que constitutivos da significação. Eles estão presentes nas falas do grupo, seja como
ftmula pari os interlocutores: pedidos ou ordens, por exemplo. parte do conteúdo semântico, seja como premissa ou condição necessária
para seu emprego. As gírias e os neologismos costumam ser bons exemplos de
pressupostos.
1 A analise de discurso inglesa Vejamos a conversa entre dois surfistas, ao se encontrarem na praia.
- Beleza? ...
Oque clutinamos de análise de discurso inglesa é um campo dos estudos de
- Irado.
utio ação que confere primazia ao domínio da pragmática (daquilo que se
bjettoa aloançar na vida cotidiana quando se conversa com alguém) sobre a Inicialmente, está pressuposto q que a memória coletiva do 8grupo significa a
Eitedtildon e a sintaxe, expressão interrogativa “Beleza?...” como cumprimento c a palavra “irado” como
a qualificação positiva de um objeto, de uma situação ou de um estado de espírito.
Ehtunimo pragmática está historicamente relacionado às condições de fabri-
em dim quinação de objetos ou assuntos com o intuito de obter uma determi-
Hunta toteibinção, Assim, é a eficácia na obtenção da finalidade que constitui a 4.2 Os implícitos
lodo pragiática, O que implica, em comunicação, a subordinação da semântica e
da abuse aos eleitos do sentido: à interação, à ação, à persuasão e ao convenci- Os implícitos são processos interlocutivos, instrumentos que viabi-
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teto lizam a interação, consagrados por determinados grupos sociais que se in-
'08 Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação
Análise do diseuiso HO '
corporam em sua linguagem e se tornam elementos constitutivos da signifi-
é
5.1 Indicadores de pessoa
cação em determinadas situações sem que sejam explicitamente colocados. '
Eles fazem parte do cenário conversacional composto pelo grupo para O pronome pessoal “eu” indica a pessoa que se apropriou da linguagem é
uma determinada situação. Sua presença pode ser percebida implicitamen- para construir um discurso, assumindo a posição de locutor. Ele se coloca na
te em alguns gestos, silêncios, reticências ou ênfases, por exemplo. posição de dono da voz que conta as ocorrências e mostra o mundo para um 6
Ou na
troca de perguntas e respostas supostamente sem sentido, se interpretadas determinado interlocutor, para o “tu”, aquele a quem a mensagem está sendo '
literalmente. As gírias e os neologismos costumam ser bons exemplos de explicitamente dirigida.

implícitos. “Eu” e “tu” são funções ou posições decorrentes do ato de apropriação da
Retomemos a conversa entre dois surfistas, ao se encontrarem na praia. linguagem. O “eu” não é necessariamente nem o indivíduo físico, biológico, 0 ç
— Beleza? ... autor do texto, nem o sujeito do ponto de vista gramatical. E a pessoa que 6
assume a posição de sujeito do discurso no texto. ç
— Irado.
Analisemos a letra de “A Subida do Morro”, de Moreira da Silva e Ribeiro
A situação do encontro “na praia” é determinante. Por isso, quando o pri- Cunha.
6
meiro surfista usa a expressão “Beleza”, em que se pressupõe perguntar como
“Na subida do morro, me contaram que você bateu na minha nega.
ç
vai a pessoa e qual seu estado de espírito, o segundo surfista responde dizendo
que o mar está “irado”. É o contexto que nos permite perceber que a resposta Isto não é direito,
'
remete a qualificação para o mar e não para a pessoa. bater numa mulher que não é sua... ç
A importância das circunstâncias para a interpretação dos sentidos nos re- deixou a nega quase crua, no meio da rua. '
mete para a segunda instância da análise de discursos, a indexical. 6
A nega quase que virou presunto, eu não gostei daquele assunto,
Hoje, venho resolvido, vou lhe mandar para a cidade de pé junto... '
5 As marcas do discurso: os indicadores
vou lhe tornar em um defunto.” ç
A estrofe reproduz a fala de um personagem, “o eu”, que diz para o outro, "
“o tu”, que o contaram que este bateu em sua nega. Ele é o dono da voz, o
A crença positivista numa percepção neutra e objetiva do real fez com que
locutor. Aquele que se apropriou da linguagem e ocupou a posição de sujeito no
6
os estudos de comunicação e também o senso comum privilegiassem a relação
do signo ou dos enunciados com o mundo representado. discurso. '
Essa crença reduzia a linguagem à função de designar objetos e situações Entretanto, do ponto de vista gramatical, o sujeito da primeira frase, qui 6
está na terceira pessoa do plural, é um “eles”, oculto, e não o pronome “ct
existentes no mundo material, que deveria passar pelo crivo dos critérios de '
verificação de verdade. Assim como o dono da fala é o personagem locutor e não os autores da letra
Aliás, o pronome “eu” somente aparece também como sujeito do ponto de
'
Entretanto, a presença de um sujeito que se apropria da linguagem para
mostrar o mundo a partir de seu ponto de vista e em situações específicas vista gramatical no sétimo verso: “eu não gostei daquele assunto”. À passagem '
demonstra que sujeitos sociais diferentes designam os objetos de modos distin- da terceira pessoa do plural para a primeira do singular não implica mudança do '
locutor, do “eu” e tampouco do “tu”, do interlocutor, do ponto de vista do dis
tos. E que, muitas vezes, um mesmo sujeito social o faz de modo diverso, tendo
curso. 6
em vista a situação em que se encontra.
A pessoa que diz que o contaram que o interlocutor bateu em sua nega (1! '
A instância indexical determina que para designar o mundo o sujeito deixa
marcas. Ou seja, ao se apropriar da linguagem e construir um discurso, o sujei-
frase), que não acha direito alguém bater na mulher que não é sua (2º frase) é '
que assegura que vai mandar o interlocutor para a cidade de pé junto (3º frase),
to deixa pegadas que nos permitem identificar sua presença e o modo como
é a mesma. É essa pessoa que se apropria da linguagem para mostrar, explicar,
'
foi construindo o enunciado: os indicadores de pessoa, de lugar e de tempo,
Ota voz ativa e passiva, por exemplo. ordenar e persuadir que o mundo é da seguinte forma: toma-se satisfação diante '
da grave ofensa que é alguém bater na mulher que não é sua 6
'
RE ! | tecno posdo presas em comunicação Análise do discurso 311

propondo pool “ele” é indicativo da utilização pelo “eu” da voz de O tempo passado é aquele em que contaram que seu interlocutor bateu
Eeeedido pesmoas para construir a sua locução (aquilo que diz). Ou seja, o “ele” em sua nega.
perca ques do ponto de vista gramatical, chamamos de discurso indireto — b) No meio da letra:
poudeco doc utors como uso de aspas ou de travessão, recorta e reproduz a fala
le tonidtoi fuma
O tempo presente é o da descrição da tomada de satisfação.
“Aí, meti-lhe o aço, hum! Quando ele ia caindo disse: Morenguera, você me
Bless mentais letra, adiante, quando o locutor está descrevendo a tomada de
feriu. Eu então disse-lhe: É claro, você me desrespeitou, mexeu com a minha
ittotação, bi une “ole”. Diz a letra:
nega. Você sabe que em casa de vagabundo malandro não pede emprego. Como
Motmetta mato lá na duana, na peixeira, é porque eu sou de Pernambuco, é que você vem com xavecada? Está armado? Eu quero é ver gordura que a
budo poquena, porém decente. Peguei o Vargolino pelo abdome, desci pelo banha está cara... Aí, meti a mão lá na duana, na peixeira, é porque eu sou de
tocudeno, vestenda biliar e fiz-lhe uma tubagem. Ele caiu, bum, todo ensangiien- Pernambuco, cidade pequena, porém decente. Peguei o Vargolino pelo abdome,
ÃMoãÃÕÃÕÃÕÇÇÃãÃÃM

pato Doe senhoras. como sempre nervosas: - Meu Deus, esse homem morre, desci pelo duodeno, vesícula biliar e fiz-lhe uma tubagem. Ele caiu, bum, todo
toco! Coltado, olha aí, está se esvaindo em sangue.” ensangiientado. E as senhoras... como sempre nervosas: - Meu Deus, esse ho-
venho são o “ele”. À voz de terceiras pessoas utilizadas pelo “eu” para mem morre, moço! Coitado, olha aí, está se esvaindo em sangue. Ora, minha
atente vororeinilhança, sensação e elogiiência ao discurso. senhora, dê-lhe óleo canforado, penicilina, estreptomicina crebiosa, engrazida e
até vacina Salk.”

, lidicadores de tempo e de espaço O tempo passado é o da tomada de satisfação, que culmina com o assassi-
NET

nato do interlocutor.
Babe os inelicadores de tempo e espaço não têm necessariamente apenas o
eetido quamatical dos advérbios. As noções discursivas de tempo podem não
5.2.2 Quanto ao Espaço
EEE

pega ordem cronológica com a qual organizamos a sucessão de nossos


re olpunioamos nossas tarefas habituais. Passado, presente e futuro também Embora somente o que acontecera antes da tomada de satisfação tenha uma
do
tmiçoes dis mesivas, definidas pelo momento indicado pelo locutor como sen- indicação explícita de lugar, há um pressuposto, avalizado pelo título da letra, de
lo cane st COMO as noções discursivas de lugar são indicadas pelo locutor que “A Subida do Morro” é o “aqui” de todos os atos de fala.
no Cut Tanto o “aqui” como o “agora” podem ser referências imaginadas.
A implicitação de que “a subida do morro” é o “aqui” dos três momentos —
fofoca, tomada de satisfação e descrição do acontecimento — leva o leitor a pres-
e

Pd Quito do tempo supor que “a subida do morro” não é um “acidente geográfico”. É o espaço
A

público de interação, é o lugar onde tudo acontece, onde as informações são


Eocmmpliticando ainda com a letra de “A Subida do Morro”, nota-se que:
repassadas e as reputações são construídas e destruídas.
=

O Ma primeira estrofe:
Ou seja, se contaram é porque sabem, se contaram na subida do morro é
=

Ei tempo presente é o da tomada de satisfação. “Agora” é o momento em porque todo mundo sabe. Daí a necessidade e a urgência da tomada de satisfa-
a

ape doctor dis para o interlocutor que vai mandá-lo para a “cidade de pés ção e do resgate da honra imediatos e públicos. E, por fim, de que também
jttit ponei contaram que este batera em sua “nega”. seja contado com requintes de crueldade e em detalhes, na subida do morro, que
a

Baal do morro, me contaram que você bateu na minha nega. houve a forra.
a

feto ido daliicito,


A desconstrução do texto mediante a identificação de indicadores nos leva a
bater io imilher que não é sua... compreender que o sujeito se apropria da linguagem não apenas para comuni-
debaci a epa quase crua, no meio da rua. car, mas para construir ações. Ou melhor, que as regras « os procedimentos que
o sujeito utiliza para expressar sua voz e construir seu discurso materializam
À mepo aqunso que virou presunto, eu não gostei daquele assunto. Hoje, ve-
intenções e visam a efeitos sociais que extrapolam o universo estrito da lingua-
Wh peselvido, von lhe mandar para a cidade de pé junto... vou lhe tornar em um
gem. Isso nos leva à terceira instância: a acional.
Meliidi
E
312 Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação Análise
do discente 4

6 Aação Atos Ilocutórios

Ato ilocutório é o domínio do ato de fala articulado à situação social, qm


A instância acional define que toda comunicação é uma ação simbólica e contexto.
social, concomitantemente. Ao falar, emissores e receptores realizam atos de
fala, que dão corpo a uma locução, à articulação de fonemas e à construção de Embora identifiquemos, a princípio, os atos locutórios em função de ua
frases, e também à representação de papéis sociais. Ou seja, o sujeito apropria-se estruturas lógicas, formais, abstratas, eles acontecem em situações sociais |
da linguagem para ordenar, explicar ou pedir e, ao fazê-lo, mostra o mundo a partir cenários de comunicação concretos. Emergem sempre no interior de discui

e...
de seu ponto de vista para interlocutores em conversas que acontecem em deter- sos e de narrativas datadas, emitidas por um determinado sujeito, que vivencha
minadas situações, que, por sua vez, possuem indicações de tempo e espaço. uma situação específica. Consegientemente, ao expressar o ato locutório, à
enunciador agrega à estrutura lógica expressões que dão a dimensão de temp
A desconstrução leva-nos, assim, a identificar a pessoa que ocupa a posição
ou-de espaço, ênfase, emoção e pessoalidade à interlocução, como aclvii blus
de sujeito da ação. Quem fala? Que posição ocupa diante do interlocutor?
pronomes, vocativos. Esses elementos transcendem a articulação da locução
Pragmaticamente, o que objetiva? Está pedindo ou está ordenando? O que ele
são ilocutórios. Enfim, no mundo empírico, o ato de fala é também um nu
está fazendo com as palavras?
ilocutório:
Vejamos:
* ordens;
* pedidos;
Atos de Fala
e etc.
Para expressar sua voz, O sujeito interage com o locutor por meio de propo-
sições lingiiísticas e sociais, de frases com as quais realiza suas intenções
Atos Perlocutórios
imediatas. ;
* ordens; Ato perlocutório é o domínio do ato de fala articulado à performance, ou suja
* pedidos; a atuação ou representação de um papel social.
* etc... Se os atos locutórios acontecem sempre em situações sociais concrets dd
Mas, como já sabemos, essas proposições associam o domínio lingúístico a interação do locutor/receptor é uma ação simbólica e social, a emissão de uma
uma outra dimensão, social e política.
proposição lingiiística tem o sentido semântico interfaciado por intenções polft
cas, ideológicas, religiosas e pessoais. Porque se comunica, o sujeito
concomitantemente, realiza uma performance, representa papéis sociais, renliza
Atos Locutórios atos perlocutórios.
Essas frases, a princípio, são apenas estruturas lógicas universais. São pro- Vamos analisar a primeira estrofe da letra de “Conversa de Botequim”, di
posições que obedecem a regras lógicas que permitem a conversação por faze- Noel Rosa:
rem sentido em qualquer situação. São os atos locutórios, aquilo que viabiliza às
“Seu garçom, faça o favor
pessoas articularem locuções. Estruturas lógicas em curso, no interior de ações,
constituindo intenções: de me trazer depressa uma boa média
* afirmativas; que não seja requentada,

* interrogativas; um pão bem quente


* exclamativas; com manteiga à beça, um guardanapo,
* etc. um copo d'água bem gelada.
Mas as estruturas lógicas aparecem sempre no interior de ações, consti- Feche a porta da direita com muito cuidado,


tuindo intenções. Em curso. Isso nos leva ao passo seguinte. que eu não estou disposto a ficar exposto do sol,"
BLA Mrinil t vo elo puemegualsa ema ccamunicação
Análise do discurso 375

pdeteo copiadas o ato de fala de um freguês com um garçom. O evocativo guês habitual, do botequim, que apela para suas afinidades interpessoais e, sem |
HE nrço phicta que o ato se dá no bolo de uma conversação, mas, a dinheiro, mas com fineza, “dá um jeitinho” de conseguir o que precisa € aparen-
potmetpio do ponto de vista locutório, trata-se de uma afirmativa: “façao favor tar nobreza.
be mo teor depressa uma boa média que não seja requentada...”
Pdimenmão ilocutória? Afinal, que posição ocupa o sujeito diante do
entenhos tono uma ordem, na qual a expressão “faça o favor” é um eufemismo e 7. Principais contribuições
ve tende dor de distância, de solenidade? Ou é um pedido, no qual o vocativo é
vem doendo de intimidade? Como se vê, é a interpretação dos ilocutórios que
No que se refere à dimensão pragmática da comunicação, os principais au-
definia à posição do sujeito diante do interlocutor e a natureza do ato. O
tores são o pai da semiótica Carl Sanders Peirce, o interacionista simbólico George
focus cama frepuos habitual, íntimo e gozador, ou um chato? A sucessão de
Mead e o linguista Charles Morris.
fetiçoes detalhadas é uma troça ou uma exacerbação, um autoritarismo?
Quanto à análise de discurso inglesa a contribuição clássica é de John Austin,
valesconstrução permitiu a localização dos elementos ilocutórios e a per-
em seu How to do things with words. Devem ser destacados ainda os trabalhos de
pote que interpretá-los é decisivo para a compreensão da ação social e sim-
John Searle, Oswald Ducrot, Emile Benvenist e Norman Fairclough.
Banho di cris
Para iniciantes, recomenda-se a leitura de As dimensões da pragmática na co-
Mu, para isso, É imprescindível relacioná-los com o domínio perlocutório
municação, de Adriano Duarte Rodrigues (1995), que tomamos como fonte pri-
feto fala Quais Os papéis e que relações sociais foram retratadas pelo letrista?
í vilegiada para a elaboração deste capítulo.
titulo cdi música e o fato de ser um samba já contextualizam a situação. E
sima “conversa de botequim” e não um ato formal de prestação de serviço. Veja-
Hit tl ciltito estrofe:
Referências bibliográficas |
“Vá dizer ao charuteiro que me empreste umas AUSTIN, John. How to do things with words. Oxford: Clarendon Press, 1962.
revistas, RODRIGUES, Adriano Duarte. As dimensões da pragmática na comunicação. Rio de Janeiro:
mn isqueiro e um cinzeiro. Diadorim, 1995.
telefone ao menos uma vez, para 34-4333
v ordene ao seu Osório
que me mande um guarda-chuva
aqui pro nosso escritório.
Seu garçom, me empresta algum dinheiro,
que eu deixei o meu com o bicheiro.
Vá dizer ao seu gerente .
que pendure esta despesa no cabide ali em frente.”
A expressão “aqui pro nosso escritório” é um indicador de lugar conotativo.
demite nos mostrar onde o ato de fala acontece, aponta para a intimidade do
repuds como “botequim”. Ao final, o dinheiro emprestado e a determinação
pe pendure esta despesa no cabide ali em frente” nos permite interpretar os
Hentitórios da primeira estrofe e compreender que aquele ato de fala era um
podidoe não vma ordem.
A Intes protação dos ilocutórios é orientada pela compreensão de que o sujei-
fede ato de fala apropriou-se da linguagem para representar o malandro, fre-

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