Você está na página 1de 13

Acácio Maximiliano Nhampossa

Dionísio Vasco Chongo


Flora Sérgio Macuácua
Gérson Manuel Quissico
José Daniel Palé

3º Ano

Tema: Análise existencial da linguagem em Martin Heidegger

Licenciatura em Ensino de Filosofia

UP
Maputo, 2021
Acácio Maximiliano Nhampossa
Dionísio Vasco Chongo
Flora Sérgio Macuácua
Gérson Manuel Quissico
José Daniel Palé

3º Ano

Tema: Análise existencial da linguagem em Martin Heidegger

Licenciatura em Ensino de Filosofia

Trabalho em grupo a ser apresentado na


disciplina de Filosofia da Linguagem para
efeitos de avaliação.

Doc. Mestre Clério da Cruz

UP
Maputo, 2021
Índice

I. Introdução...............................................................................................................................

II. Análise existencial da linguagem...........................................................................................

i. Vida e obra de Martin Heidegger..................................................................................5


ii. Concepção da linguagem em Martin Heidegger..........................................................5
iii. O Ser em Martin Heidegger.......................................................................................7
iv. A linguagem como casa do ser Martin Heidegger....................................................9
v. Linguagem e comunicação...........................................................................................10
III. Conclusão..............................................................................................................................

IV. Bibliografia............................................................................................................................
I. Introdução

O presente trabalho tem como tema “análise existencial da linguagem em


Martin Heidegger”, filósofo alemão e um dos grandes expoentes do existencialismo do
século XX. Heidegger toma a linguagem como o meio fundamental e razão da
existência de tudo. Temos como objectivo geral apresentar ideias que justificam o
carácter existencial da linguagem em Heidegger.

Para alcançar o objetivo acima proposto procuramos apresentar a vida e obra de


Heidegger, definição do que é linguagem, a relação do ser e Linguagem, a linguagem
como a casa do ser e por fim a ideia de comunicação e linguagem. Heidegger define a
linguagem como essência, ele busca recuperar ou resgatar o seu sentido originário, que
só pode ser encontrado nos pré-metafísicos que dedicaram-se na busca da essência das
coisas, do princípio primordial.

Para a realização do trabalho recorremos ao método de pesquisa e revisão


bibliográfica que consistiu na leitura e análise de artigos e documentos que tratam do
pensamento do filósofo Heidegger.
II. Análise existencial da linguagem

i. Vida e obra de Martin Heidegger


Martin Heidegger (1889-1976) foi um filósofo alemão da corrente
existencialista, um dos maiores filósofos do século XX. Foi ainda professor e escritor,
exercendo grande influência em intelectuais como Jean-Paul Sartre.

Martin Heidegger nasceu em Messkirch, uma pequena cidade católica do Estado


de Baden, na Alemanha, no dia 26 de Setembro de 1889. Com o objectivo de ser padre
cursou Teologia na Universidade de Friburgo, onde foi aluno de Edmund Husserl,
teórico e filósofo criador da fenomenologia.

Em 1913, doutorou-se em Filosofia. Ao estudar os clássicos protestantes de


Martinho Lutero, João Calvino, entre outros, enfrentou uma crise espiritual e rompeu
com o catolicismo. Em 1917 se casa com a Lutera Elfrid Petri.

Martin Heidegger é autor de variadas obras, nomeadamente:

 Ser e Tempo (1927);


 A essência da verdade (1943);
 Carta sobre o Humanismo (1947);
 A Questão da Técnica (1949);
 Introdução à Metafísica (1953);
 Ensaios e Conferências (1954);
 O Princípio do Fundamento (1957);
 A Caminho da linguagem (1959) e muito mais.

ii. Concepção da linguagem em Martin Heidegger


Heidegger traz uma concepção da linguagem criticando as ideias filosóficas da
linguagem dos filósofos clássicos como Platão e Aristóteles, isso porque segundo ele, os
dois filósofos é que lançaram as bases da transformação daquilo que é a linguagem, ou
seja, linguagem como essência para linguagem como informacional. Diz que para dar
concepção do que é linguagem de verdade, devemos voltar a ver os pré-socráticos, que
se dedicavam com a busca da essência de tudo o quanto existe. Heidegger acusa os
clássicos de terem transformado a linguagem do seu sentido originário para se
configurar como representação da realidade, designação e discurso.
Tentando buscar o que terá causado a transformação da linguagem do seu
sentido originário para o actual, que é informacional, entendemos que foi devido ao
esquecimento do Ser pela metafísica clássica, que ao invés de dar continuidade com a
busca da essência iniciada pelos pré-clássicos, se dedicou na busca daquilo que
representa a realidade.

Em Heidegger a linguagem entende-se como reveladora do ser e qualquer coisa


que não seja isso não constitui a linguagem. Por isso faz muita crítica aos clássicos
porque para Platão, por exemplo, “a linguagem figura-se como um sistema, uma
organização, uma estrutura com a qual podemos formar inúmeras frases e, sendo
assim, essas frases associam-se a uma gramática, o que, na critica heideggeriana, é
apontada como uma visão da linguagem enquanto cálculo e não enquanto reveladora
do ser” (50; capitulo 4).

E para Aristóteles, diferentemente do Platão, a linguagem não representa a


realidade, mas a significa. Para este filósofo “há uma considerável distância entre
palavra e ser, uma vez que os nomes não são coisas, mas apenas os seus símbolos
(significados)” e olhando essa consideração, a linguagem em Aristóteles é “algo
secundário em relação ao conhecimento do real, o que também se encontra na
perspectiva Platônica” (52).

Tal como já havíamos referenciados, Heidegger acusa os filósofos clássicos


como os que lançaram bases para o desenvolvimento daquilo que compreendemos como
linguagem hoje, distancia-se deles e faz a reformulação da concepção do que é
linguagem iniciada pelos pré-metafísicos. A concepção heideggeriana da linguagem é
uma reformulação da concepção dos pré-socráticos ou pré-metafísicos, porque ele
acredita que estes se depararam com a essência da linguagem “em seu sentido
originário, como logos, re-união do ser”. E diz que devido há várias interpretações do
que é logos hoje, encontramo-nos distante de compreender a essência da linguagem,
mas aponta que o diálogo com os primeiros gregos pode ser o caminho que pode nos
permitir ter uma compreensão clara da linguagem como logos.

O grande debate levantado por Heidegger sobre a linguagem tem por objectivo
final demonstrar o sentido do ser na linguagem e ele distancia-se de todas as teorias que
tem se ocupado pela concepção da linguagem, pelo facto de que as mesmas concentram
a sua atenção ao reflectir sobre a linguagem apenas nos actos de expressão, e nunca
sobre a sua essência.

A filosofia da linguagem faz parte das teorias por Heidegger abandonadas. Não
só critica as teorias da linguagem, mas também critica as concepções que tornam a
linguagem semelhante a língua, ele diz que em nenhum momento devemos identificar a
linguagem com a língua porque isso encobre-lhe a essência.

iii. O Ser em Martin Heidegger


Conhecido como autor de Ser e Tempo, o primeiro aspecto que podemos
destacar de Heidegger é: ele compreende a interpretação no plano ontológico, isto é, ela
(a interpretação) diz respeito ao mundo em que compreendemos o próprio homem no
mundo o Ser aí ou (Dasein), o seu próprio ser.

Heidegger defende a ideia de que o objecto da filosofia é a questão ocultada ou


esquecida do sentido do ser. Melhor dizendo, este autor defende que era objecto da
Filosofia se ocupar em responder porquê o ser é o ser e para quê o ser existe, pois é aqui
onde reside o sentido do ser, mas a partir dos clássicos o sentido desse mesmo Ser foi
sendo esquecido e é exactamente isso que o preocupa. Razão pela qual ele opta por
definir o sentido como sendo o “articulável na compreensão desvelante”. E o ser, o que
é? Na verdade, o questionamento do ser começa com a entidade Dasein (existência),
cujo ser consiste em pôr tal questão, ou seja, “o ente cuja peculiaridade ontológica
consiste em pôr a questão do ser” (D’AGOSTINI, 2003:407).

Outro aspecto que merece destaque é o círculo hermenêutico. Aqui, Heidegger


vai defender a ideia de que na verdade, o que desenvolve a compreensão é a
interpretação, ou seja, quanto mais interpretamos o ser, mais o compreendemos, por isso
que diz: “quando queremos compreender uma coisa, interpretá-la, já orientamos
nossas expectativas, pretensões e esperanças sobre a coisa”. Conclui-se desta forma
que, a interpretação é circular, pois “trata-se sempre de retornar ao pré-compreendido
para articulá-lo como compreendido” (D’AGOSTINI, 2003:408). Não menos
importante, vale dizer que o processo de compreensão parte justamente de um sujeito
que possui uma pré-compreensão.

O que torna o seu pensamento numa hermenêutica ou teoria da interpretação,


mais propriamente uma hermenêutica ontológica é o facto de analisar o Dasein na
prática para através dele explicitar as pré-suposições de qualquer entendimento factual
(seja ela de dimensão prática ou científica) e para dar mais credibilidade ao processo
hermenêutico, é preciso analisar o que é compreender em cada caso, circunstância ou
em cada época histórica (isso se deve ao facto de considerar que o ser é acontecimento).

Heidegger acredita que o Ser Aí (Dasein), o homem concreto, não dispõe da pré-
compreensão que ele mesmo tem das coisas, melhor dizendo, nós não conseguimos e
não temos a capacidade de controlar as antecipações de sentido sobre algo. A pergunta
é: sendo o homem detentor da razão, como não consegue controlar as antecipações
apriori ao sentido sobre algo? Ele sustenta dizendo que: “elas simplesmente aparecem
no nosso próprio ser”, por isso, na carta sobre o Humanismo, de 1947, Heidegger
(Apud D'AGOSTINI, 2003:409) diz: “o essencial não é o homem, mas o ser”.

É possível através dessa citação perceber que para Heidegger, o que mais
importa é o ser e não o homem, isto porque o homem está contido no próprio ser e é na
relação de pertença do homem ao ser onde reside o núcleo central da compreensão
interpretativa. Mas acima de tudo, este ser se faz ouvir pela linguagem, por isso,
Heidegger defende que “a linguagem é a morada do ser. Na moradia dada pela
linguagem habita o homem”.

Heidegger sustenta a sua tese afirmando que a linguagem é o modo como o ser
se manifesta, e por isso, a Filosofia é um desvelar do ser, mas que não consegue
desvelá-lo completamente.

O autor supracitado fundamenta a ideia de que o ser não pode estar preso em
amarras conceituais; mesmo que o ser só venha a se manifestar na linguagem, não será a
linguagem da lógica que conseguirá apreender o ser. E a questão que surge é: visto que
o ser se faz ouvir pela linguagem, qual é o papel da linguagem no ser? A resposta para
essa questão é nada mais e nada menos que: a linguagem é ela importante pelo facto de
ser a morada do ser. No entanto, o ser não pode ser apreendido pela “clareza dos
conceitos lógicos”, porque é impulso, um impulso originário da vida.

Deste modo, o propósito por detrás da filosofia de Heidegger quando põe em


relevo o “deixar aparecer” (Erscheinenlassen) que é a linguagem é o de mostrar os laços
internos entre metafísica, subjectivismo e técnica que são característicos de uma
determinada época do pensamento, a qual deveria dar lugar a uma outra forma de pensar
(deixar ser) o ser.
iv. A linguagem como casa do ser Martin Heidegger
Heidegger diz que a questão do ser sempre foi estudada durante a história mas
nunca encontrou uma resolução e ele aponta como causa de ainda não se ter resolvido a
questão o facto de que os filósofos que antes dele trataram da mesma problemática,
buscaram compreender o ser em partes e não como um todo, ou seja, para Heidegger a
história da metafísica é toda uma história do esquecimento do ser, porque, o ser na
metafísica foi sempre tratado como um ente ou como seu semelhante. Para ele o ser é
indefinível, determina por si o seu sentido, “o ser nunca se manifesta directamente, mas
sim como ser de um ente…a compreensão do ser está sempre incluída em tudo que se
apropria do ente; porém, o ser não é um ente”.

Se então o ser não é um ente, o que é ente? Entende-se que para este filósofo o
ente é um modo de ser, em tudo aquilo de que nos referimos, é o que somos. Existe
vários entes, mas apenas no homem enquanto ente é que pode-se encontrar o ser, seu
sentido e por fim o significado da existência. Para ele encontramos no homem o sentido
do ser porque este é o único ente que existe, enquanto os outros apenas são e não
existem. O homem existe por ser o único que aceita o dom da existência, que tem
consciência da sua existência e por isso se assemelha um pouco com o ser.

Olhando a questão existencial, para Heidegger o homem representa o ser-no-


mundo isto é, um ser intersubjectivo que só se realiza na sua relação com alguém;
representa numa segunda fase o ser transcendente, porque sempre busca projetar-se para
além daquilo que ele é; Representa também o ser temporal, que passa com o decurso do
tempo; e por fim o ser para a morte. O homem é um ente que está no mundo para a
morte, mas antes dela o homem vivência a sua experiência indiretamente, através da
morte dos outros homens. Heidegger chama a morte de “principio de individualização,
uma vez que a morte é a única possibilidade que determina a totalidade do ser, que o
limita, e que lhe permite ser completo” (PARDAL, disponível em:
https://www.google.com/amp/s/m.meuartigo.brasilescola.uol.com.br/amp/filosofia/
conceitos-existencialismo-vistos-martin-heidegger.htm).

Influenciado pela sua definição essencial da linguagem, Heidegger identifica a


linguagem como a casa do ser. Diz que a linguagem é casa do ser porque é por meio
dela que o ser ganha sentido, é o lugar onde o ser acontece. A linguagem como casa do
ser desvela aquilo que encontra-se oculto, deixando-o na luz, dá revelação dos entes aos
homens e “é o lugar onde se desdobra o ser do homem, é a habitação da sua essência”.
Portanto, no campo da teoria da linguagem, Heidegger ficou conhecido ao
afirmar que a linguagem é a casa do ser, por isso, deve ser compreendida neste sentido:
há um sentido em que a linguagem mostra, desvela, que é irredutível a uma concepção
representativa, referencial de linguagem.

Mas Heidegger sustenta que na actualidade, o homem enquanto ente esta fora da
sua casa, da sua morada, e este começou a se distanciar da sua casa a partir do momento
em que a linguagem foi perdendo o seu sentido originário ou a sua concepção como
essência, para se configurar como informacional.

v. Linguagem e comunicação
A teoria da linguagem de Heidegger consiste numa desconstrução da ideia de
sujeito, e portanto de subjectividade, por meio da denúncia, de que a trajectória do
pensamento ocidental, com um ápice, que se situa na modernidade cartesiana e que se
reproduz incessantemente até nossos tempos esqueceu tanto a questão sobre a
linguagem como simplesmente, a própria linguagem.

De salientar que um paradoxo perceptível quando lembramos que as teorias da


linguagem constituem, ao se reproduzirem como um jogo de relações entre significados
e significações, um produto fundamental do pensamento moderno, porém esse paradoxo
só tem sentido quando colocamos o problema da linguagem de maneira ôntica, como se
a linguagem fosse externa ao sujeito, é como se houvesse sujeito da linguagem ou
mesmo sujeito quando colocamos a questão ontologicamente, ou seja, em sua dimensão
reflexiva.

Como propõe Heidegger, vemos que é o ser que está na linguagem que habita
um mundo já ocupado pela linguagem. E isso se dá porque esse ser reflexivo que somos
é, na verdade não um indivíduo, não um “Eu” não um “Ego” mas um inter-sujeito, um
ser- aí, um ser no mundo, um ser com os outros, um ser intersubjectivo.

Heidegger diferencia a comunicação enquanto fenómeno ôntico da comunicação


enquanto fenómeno ontológico, oticamente, comunicação é, simplesmente “Mitteillung”
que significa falar com o outro.

Ontologicamente comunicação equivale ao sentido percebido com a experiência


de se compreender alguma coisa, de tal maneira, e assim, portanto a intersubjectividade,
dessa compreensão ontológica da comunicação, é importante esclarecer que Heidegger
não emprega o termo intersubjectividade em “Ser e Tempo” e que quando mencionamos
uma “noção” heideggeriana de intersubjectividade, estamos nos referindo à
problemática de ser com os outros, com base nessa compreensão podemos colocar que o
tema da intersubjectividade constitui uma preocupação maior de Heidegger à medida
que conforma o contexto no qual, ao mesmo tempo, se processa sua crítica da
subjectivismo e da identidade e sua compreensão do carácter participativo.
III. Conclusão

Heidegger foi um filósofo que mais tratou sobre a linguagem e é na sua


definição do que é linguagem que encontramos os primeiros traços de seu carácter
existencial, uma vez que ele define a linguagem como reveladora do ser e também na
sua crítica aos clássicos segundo a qual toda a metafísica clássica foi na verdade o
momento de esquecimento do ser encontra-se traços que demonstram a sua posição da
linha como a que determina a existência.

Sem a linguagem não é possível conceber a existência, e linguagem é existencial


por ser ela que dá sentido ao ser, por ser casa do ser e porque faz derivar todos os entes
existentes. O ser é apresentado como indefinido, mas graças a linguagem ganha a sua
existência e o homem é o único ente que podemos encontrar o ser, o seu sentido e a sua
existência.
IV. Bibliografia

LOPES, Rener Olegário, Linguagem, casa do ser. Disponível em:

PARDAL, Poliana P. M., Conceitos do existencialismo vistos sob a ótica de Martin


Heidegger. Brasil escola. Disponível em:
https://www.google.com/amp/s/m.meuartigo.brasilescola.uol.com.br/amp/filosofia/
conceitos-existencialismo-vistos-martin-heidegger.htm .

Heidgger, Martin ( 1972). Die Sprache, Tubingen, Max Niemeyer Verlage.1976, 1927"
Sen Und, Zeit. In: Gesamtausgabe. Frankfurt, Vittorio Klostermann, Ii vol.

D’AGOSTINI, Franca. Analíticos e continentais. Tradução de Benno Dischinger. São


Leopoldo: Editora da Unisinos, 2003.

Você também pode gostar