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A ONTOLOGIA FUNDAMENTAL: A ANALITICA EXISTENCIAL, O DASEIN.

UM PROJETO EM SER E TEMPO – HEIDEGGER

Marcelo A. Silva
Orientador: Prof. Dr. Éder Soares Santos

RESUMO

Desde sua primeira publicação em 1927, Ser e Tempo conquistou de imediato a


atenção do mundo filosófico pelo seu caráter surpreendente, isso porque pela
primeira vez uma linguagem nova fala do ser. Lembrando as palavras de Heidegger
no início de 1970, no começo do processo de estruturação de suas obras completas,
insistindo mais uma vez na metáfora de que não haviam obras (Werke) mas
caminhos (Wege), Ser e Tempo é o marco mais notável destas sendas que
indiscutivelmente marcaram a filosofia contemporânea. Que sua importância seja
ímpar já o sabemos, mas devemos nos perguntar: o que caracteriza esta obra
central do pensamento heideggeriano? O que pretende Heidegger propriamente com
esta obra? Movendo-se decisivamente em seu projeto estruturador mais
fundamental que é a ontologia fundamental, esta comunicação pretende pôr em
evidência, em sua vinculação mais determinante, os conceitos de Dasein e Analítica
Existencial a fim de que o entendimento inicial destes momentos do pensar
heideggeriano em Ser e Tempo sejam condição de possibilidade para um mover-se
naquela que é a questão fundamental do filósofo: o sentido do ser.

Palavras chave: Heidegger, Analítica, Dasein

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Martin Heidegger é o filósofo de Ser e Tempo. É comum que nos
círculos acadêmicos, nas mesas de discussões em geral tanto de especialistas,
quanto de estudantes e pesquisadores em filosofia, quando se referem ao filósofo da
Floresta Negra, o façam nestes termos. Isso aponta para um aspecto interessante,
qual seja: autor e obra como que se revelam, se apresentam e se caracterizam
mutuamente. Segundo Dubois (2000) toda grande obra se difere e distingue por
aquilo que contém um porvir inaudito e deste modo é capaz de ensinar o que é o
nosso tempo, sobretudo naquilo que poderíamos ter a força de lhe objetar. Dito isso,
fica claro num certo sentido que para obter uma compreensão de Heidegger,
bastaria apenas lê-lo em Ser e Tempo.

É certo que Heidegger não figura como um filósofo entre outros no


interior da filosofia contemporânea. Isso se deve muito ao fato de ter despertado
reações diversas entre seus opositores e ao mesmo tempo se tornar por conta da
radicalidade de seu pensamento, referência capaz de influenciar uma gama de
outros pensadores que delinearam os contornos do pensamento ocidental no que se
refere a padrões atuais de reflexão como aponta Casanova (2009).

O que se coloca em jogo, é empreender um esforço que apresente,


mesmo em linhas gerais, a possibilidade de compreensão do pensamento
heideggeriano expresso em Ser e Tempo. O que significa aqui compreender? É
necessário o estabelecimento de algum procedimento metodológico que tenha como
finalidade permitir a apreensão do pensamento heideggeriano nos seus momentos
constitutivos sem caiamos em embaraços e descaminhos e tudo nos pareça
desarticulado e sem sentido? Sendo Heidegger o filósofo de Ser e Tempo, qual a
singularidade expressa em seu caminho filosófico?

Todo processo que tenha por finalidade a compreensão de um


filósofo, requer que de antemão se tenha em vista o caminho a percorrer que o
conduza para tal. Normalmente, têm-se os filósofos como aqueles que se ocupam
com determinados problemas ou questões e que em geral tentam no mais das vezes
responder a estes problemas das mais criativas formas. Este situação nos conduz

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inevitavelmente a certas opiniões filosóficas. Segundo Casanova1, se a filosofia for
encarada apenas como este conjunto de opiniões, seria muito difícil pensar em uma
obra filosófica justamente porque mesmo que estas opiniões fossem articuladas
entre si, jamais poderiam construir uma unidade que o percurso de um pensamento
requer. Diante disso, quando nos colocamos diante de Ser e Tempo, é necessário
percebermos o modo como o filósofo vai mantendo a unidade de seu pensamento
ainda que esta unidade em certos momentos sofra modificações em momentos
diversos. Neste sentido, todo empenho deve se concentrar em determinar uma
espécie de via de saída, daquilo que chamamos conjunto de opiniões para um
“horizonte de compreensão”2 em que o pensamento do filósofo se move para aí
estabelecermos um caminho de compreensão; isso significa dizer que devemos ter
claro, em se tratando do pensamento heideggeriano, a partir de qual ponto,
Heidegger dialoga com a tradição filosófica ocidental e que seu pensamento sofre
estas modificações.

No que diz respeito à determinação de tal horizonte, vale a pena


recordar aqui as palavras do próprio Heidegger num relato retrospectivo, que se
encontra no escrito Meu caminho para a fenomenologia do ano de 1963 onde nos
diz:

Soube por diversas indicações presentes em


revistas filosóficas que a maneira de pensar de
Husserl tinha sido determinada por Franz Brentano.
A dissertação de Brentano Sobre o múltiplo
significado do ente segundo Aristóteles (1862)
constitui desde 1907 o principal auxílio nas minhas
desajeitadas tentativas de penetrar na filosofia.
Bastante indeterminada movia-se a seguinte idéia:
se o ente é expresso em múltiplos significados, qual
será, então, o significado fundamental
determinante? O que quer dizer ser?

O contato de Heidegger, por intermédio do arcebispo de Freiburg


Conrad Gröber, com o livro de Franz Brentano Sobre a múltipla significação do ente
segundo Aristóteles, não se tratou apenas de um contato de valor biográfico, mas
despertou o jovem Heidegger para um problema fundamental contido no título que o

1
CASANOVA, Marco Antônio – Compreender Heidegger – Ed. Vozes, 2009, p.11.
2
CASANOVA, Marco Antônio – Compreender Heidegger – Ed. Vozes, 2009, p.12

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acompanhou no despontar do seu caminho, a saber: os entes se dizem de muitas
maneiras, possuem diversas significações, mas o ser se mantém uno e
independente desta pluralidade de diversidade. Eis configurado o fio condutor
sempre contínuo do pensamento heideggeriano.

É num contexto de crise da razão ocidental que Ser e Tempo


aparece publicado pela primeira vez na primavera de 1927 no Jahrbuch für
Philosophie und phänomenologische Forschung (Anais de filosofia e de investigação
fenomenológica), volume III editado sob a direção de Edmund Husserl e conquista
de imediato a atenção do mundo filosófico pelo seu caráter surpreendente, isso
porque, pela primeira vez uma linguagem nova empreendia falar do ser. Ser e
Tempo dificilmente poderia passar despercebido. Embora a obra tivesse causado
uma grande repercussão, sua compreensão, no entanto, não a acompanhou. Isso se
deve ao fato de que Ser e Tempo abria novas perspectivas e voltava a pôr muitas
coisas em questão. Fato é que muitos dos seus intérpretes arrastados pela
descrição da existência humana feita por Heidegger: a angústia, a morte, a
decadência, retiveram apenas este caráter existencial da sua filosofia e não
vislumbraram o metafísico que se interrogava sobre o sentido do ser.

Embora seja possível perceber que em Ser e Tempo se faça uma


antropologia fundamental, no entanto, Heidegger teve o cuidado de afastar qualquer
problemática antropológica, seu esforço consistiu basicamente em distanciar-se
desta para virar-se decididamente para a questão do ser. Deste modo, fica evidente
que seu tratado apenas investiga o comportamento existencial do ser-aí3 para
interrogar melhor sobre sua dimensão existencial, isto é, sobre o ser deste ente que
se interroga. O questionamento de Heidegger vai do ser-aí ao ser e do ser ao tempo.
Esta era a intenção programática do filósofo para que seu tratado fosse lido.

Voltar-se, dirigir-se para o ser e não para o ente é fundamentalmente


o desígnio de Ser e Tempo, e que, este fato tenha passado despercebido aos olhos
de muitos dos seus contemporâneos não nos causa estranhamento uma vez que
devemos ter em mente que o pensamento moderno gira, desde Descartes, em torno

3
A compreensão heideggeriana para o termo ser-aí, será posteriormente trabalhada dentro do contexto da Analítica Existencial em Ser e
Tempo. Por ora segue apenas a introdução deste termo como via de compreensão para a ambientação do Tratado.

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da subjetividade, isso significa: o problema do ser não se põe para ele. Ser e Tempo
“concentrou um conjunto de questões, como anteriormente apontado, um método,
um estilo de argumentação, um modo de resolver problemas, uma crítica a estilos de
4
filosofar concorrenciais” Sobre o método fenomenológico devedor a seu mestre E.
Husserl,5 acompanhará a ideia husseliana de que é preciso ir à própria coisa. Esta
não é a consciência intencional ou o ego transcendental mas sim, o ser. Portanto, a
fenomenologia eleva-se ao status de uma ontologia. Terá a missão de “mostrar” o
verdadeiro sentido do ser em geral a partir de uma analítica do ente.

Esta tarefa do método fenomenológico assumido por Heidegger de, a


partir do pressuposto husseliano de ir à própria coisa, assumindo a investigação da
verdade do ser através da analítica do ente, acena para outro anúncio trazido pelo
filósofo que é justamente o da diferença ontológica6 que anuncia a diferença entre o
ser e o ente. Este tema encontra-se claramente em Ser e Tempo ainda que não
intervenha no primeiro plano.

O “filósofo de Freiburg ao tratar da diferença ontológica, num certo


sentido denuncia o esquecimento do ser como um “erro fundamental e uma
fatalidade”7que pesa necessariamente sobre a ontologia desde sempre. Com efeito,
o ser acaba sendo concebido como o que há de mais geral, o ente. Daí a razão do
ser confundir-se com o ente. Disto decorre a urgência em superar a metafísica
concebida como ciência do ente, para então se chegar ao verdadeiro conhecimento
do ser.

Heidegger distingue perfeitamente o ser do ente, mas ao que deixa


notar, nunca o concebe independentemente do ente. É neste sentido que toda
primeira seção de Ser e Tempo é dedicada: à análise do ser e do ente denominado
ser-aí. Na segunda seção, a interrogação voltar-se-á sobre o sentido, a verdade,
sobre o que é este ser do ser-aí e encontrará na Temporalidade a resposta,

4
STEIN, Ernildo – Seis estudos sobre Ser e Tempo – pág10 Ed. Vozes 2005 – 3ª ed.
5
É a Edmund Husserl que Heidegger dedica Ser e Tempo.
6
A diferença ontológica será tratada por Heidegger já nos parágrafos iniciais do tratado, como a razão do esquecimento do ser legado pela
tradição filosófica ocidental o ao desviar-se da questão com a qual Platão, Aristóteles e outros ocuparam-se inicialmente ( pensamento pelo
ser ) e que posteriormente passou para uma investigação do ente. Ao ocupar-se com o ente, a questão do sentido do ser caiu em
esquecimento.
7
PASQUA, Hervé – Introdução à leitura do Ser e Tempo de Martin Heidegger – pág. 9 – Inst. Piaget – Coleção Pensamento e Filosofia
1993 – Trad. Joana Chaves.

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concebida como exteriorização pura. Esta é, portanto, a via que o conduzirá a
procurar a fonte do ser num para além do ser.

Ser e Tempo abre com uma citação do Sofista de Platão “pois é


evidente que há muito sabeis o que propriamente quereis designar quando
empregais a expressão “ente”. Outrora, também nós julgávamos saber, agora,
porém caímos em aporia.” Esta “aporia”, aponta Heidegger é ainda a nossa,
portanto, justifica-se a necessidade de colocar novamente a questão do sentido do
ser. O filósofo então se ocupa em tematizar o primeiro capítulo da introdução de Ser
e Tempo em expor a necessidade, a estrutura e a primazia desta difícil questão.

A Introdução de Ser e Tempo trata da Questão do Sentido do ser,


constituída por duas partes: 1) A primeira do parágrafo 1 ao 4 ocupa-se com a
questão enquanto tal, e 2) a segunda do parágrafo 5 ao 8 explica o método utilizado
na elaboração da questão. A sistematização da Introdução muito nos auxiliará na
convergência dos conceitos propostos no início do artigo.

Heidegger inicia o primeiro parágrafo com a seguinte frase: “Embora


nosso tempo se arrogue o progresso de afirmar novamente a “metafísica”, a questão
aqui evocada caiu no esquecimento” 8 O que justifica tal afirmação? Como se explica
este esquecimento? As razões para tal, Heidegger as enumera, são como outros
tantos preconceitos que declaram ser supérflua a questão pelo sentido do ser. O
primeiro preconceito analisado pelo filósofo consiste em sustentar que o ser, sendo o
conceito mais universal, torna-se, portanto, claro: sua universalidade dispensaria
qualquer explicação. O segundo preconceito, consequente do primeiro: o caráter de
universalidade do ser torna-o indefinível e finalmente o terceiro preconceito apontado
por Heidegger a ultrapassar, consiste em afirmar que sendo o ser evidente,
indefinível é inútil interrogar sobre ele.

Esta passagem pelos preconceitos que de algum modo mergulharam


o problema do ser no esquecimento confirma a necessidade de levantar o problema
de novo iniciando “do zero”. Este movimento de Heidegger já no início do Tratado

8
HEIDEGGER, Martin – Ser e Tempo – Ed. Vozes 3ºed. Pág 37

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nos inclina a intuir que o filósofo inicia uma verdadeira “limpeza” de caminho
preparatória para a introdução da Analítica Existencial.

O passo seguinte consiste em verificar como Heidegger estabelece a


questão uma vez que as razões para que ela seja novamente formulada como
questão fundamental foi amplamente justificada pela abordagem dos “preconceitos”.

Segundo Hervé Pasqua9 Heidegger se coloca diante de um paradoxo


que já estava presente na filosofia de Platão formulada no diálogo Menon: como
procurar o que não conhecemos? Teríamos de já o ter conhecido, e a condição que
permite ao filósofo resolvê-lo é a distinção em entre ser e ente. Esta distinção
segundo ele o permitiria fazer ontologia e não história. Com efeito, é preciso que se
evite explicar o ente recorrendo a outro ente como se o ser tivesse o caráter de um
ente. Cabe portando ao ente, responder pelo seu ser.

Cabe aqui uma questão: O que é o ente? De modo bastante sumário,


podemos entender o ente como uma multiplicidade de coisas e de modos: aquilo de
que falamos, aquilo em que pensamos, aquilo com respeito ao qual nos
comportamos, o que nós próprios somos e o modo como somos. Existem entes aí.
Ser é a partir do que o ente é como tal. O ser é ao menos o ser do ente. Ora,
portanto, interrogar sobre o que significa ser seria interrogar o ente quanto ao seu
ser. A compreensão deste encadeamento conceitual faz convergir a uma outra
questão: Qual ente deve se perguntar pelo seu ser uma vez que dissemos que ente
compreende uma multiplicidade de coisas?

Sobre isso escreve Heidegger ao final do parágrafo 2, justificando


que se a questão do sentido do ser deva ser colocada explicitamente e desdobrada
em toda sua transparência, a sua elaboração exige, necessariamente a explicitação
da maneira em que se pode visualizar, apreender e compreender conceitualmente o
sentido a partir da escolha correta de um ente exemplar. Assumindo que nós temos
a capacidade de questionar e por isso visualizar, compreender, escolher, elas se
constituem em partes fundamentais de todo por assim dizer, questionar. Assim,
elaborar a questão sobre o sentido do ser significa tornar claro um ente que
9
PASQUA, Herve – Introdução ao Ser e Tempo de Martin Heidegger - Inst. Piaget - pág 17

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questiona o seu ser porque já se move numa compreensão prévia de ser...
Heidegger introduz o termo ser-aí em Ser e Tempo: “Designamos com o termo
Dasein este ente que cada um de nós mesmos sempre somos e que, entre outras
coisas, possui em seu ser, a possibilidade de questionar.” 10

O que é o ser-aí ou, antes, quem é o ser-aí? Soaria como algo


precipitado colocar à margem de Ser e Tempo esta questão na medida em que, todo
projeto desta obra é a resposta para esta questão. O ser-aí surge como o
respondedor necessário da questão do ser, é o ser-aí e não outra coisa, embora ele
permita reduzir todas as definições tradicionais de homem.

Como compreender o ser-aí? Qual o modo de ser específico do ser-


aí? A existência. A palavra existência aqui não se refere à realidade, mas, antes a
um modo especifico de ser do ser-aí. Só o ser-aí existe por que somente ele se
move numa pré-compreensão de ser e é capaz de perguntar pelo seu ser.

Ser nesta capacidade de existir significa permanecer engajado numa


possibilidade, ou seja, ser-aí não é realidade e sim possibilidade, um ente
relacionante. É o ser-aí que estabelece as relações no mundo e, portanto não tem
uma relação cognoscitiva com ele.

Investigar as estruturas que tornam possível a priori a existência


concreta é precisamente investigar a existencialidade da existência, fazer ontologia
deste ente, o ser-aí, que se distingue por uma relação com o ser, é portanto realizar
uma analítica existencial.

Para se chegar a uma ontologia fundamental que se baseie no


sentido do ser em geral, é necessário passar previamente por uma analítica
existencial do ser-aí. Esta assume um caráter preparatório. Constituirá a primeira
parte de Ser e Tempo e seu objetivo é simplesmente fornecer uma compreensão do
que constitui o ser do ser-aí. A questão não é saber o que significa ser desta ou
daquela forma, mas: o que significa ser para o ser-aí.

10
HEIDEGGER, Martin – Ser e Tempo - Ed. Vozes 3º ed. Pág. 42-43

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A segunda parte da Introdução (parágrafos 5 a 8) pretende dar conta
de encaminhar a resposta da seguinte questão: Como a analítica do ser-aí pode
revelar o sentido do ser? Este é o tema do parágrafo 5 e a questão se mostra tanto
mais difícil quanto o ser do ser-aí parece escapar-lhe. O ente como qual o ser-aí se
relaciona essencialmente é o mundo. É justamente o ser-aí que fundamenta o
mundo em Ser e Tempo porque estabelece relações com o mundo. O ser-aí
conforme foi dito antes, só é capaz de fundamentar o mundo porque estabelece
relações no mundo.

Se o ser-aí se relaciona com o mundo como lugar onde ele se mostra


em si e a partir de si mesmo, trata-se de por descoberto as estruturas essenciais que
são determinações do modo do seu ser. Se é no mundo que o ser-aí se mostra, é na
sua cotidianidade que se deve elaborar a Analítica Existencial.

É a analítica existencial que prepara a ontologia fundamental. A


ontologia fundamental se constitui como a ontologia de um ente determinado: o ser-
aí e ela se dá (es gibt) na medida em que as estruturas existenciais deste ente são
evidenciadas pela cotidianidade, ou seja, através da analítica existencial. O
horizonte existencial que Heidegger aponta como des-velador desta existencialidade
é o tempo. Somente no horizonte do tempo e da temporalidade que é possível a
determinação do ser do ser-aí.

Nas palavras de Heidegger ao final do §7 após realizar a exposição


do método fenomenológico que diz: “Quanto à inadequação e “falta de beleza” do
estilo de análises que se seguirão, deve-se observar o seguinte: uma coisa é fazer
um relatório narrativo sobre os entes, outra coisa é apreender o ente em seu ser”11
imbuídas de um caráter expresso de advertência é possível não somente concluir as
considerações que até aqui foram empreendidas em fazer emergir ainda que
sumariamente as linhas norteadoras de Ser e Tempo para sua compreensão, mas
ao mesmo tempo esclarecer o caráter fundamental do seu pensar: apreender o ente
em seu ser.

11
HEIDEGGER, Martin – Ser e Tempo. Tradução de Márcia Sá Cavalcanti – Petrópolis: Vozes 2008 – pág.79

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HEIDEGGER, M. Sein und Zeit. Tübingen: M. Niemeyer, 2006

_____. Ser e Tempo. Tradução de Márcia Sá Cavalcanti – Petrópolis: Vozes, 2008

CASANOVA, Marco Antônio – Compreender Heidegger – Vozes,2009

PASQUA, Hervé, Introdução à leitura de Ser e Tempo de Martin Heidegger. Instituto


Piaget, 1993 – Lisboa – Tradução de João Paz.

STEIN, Ernildo. Seis estudos sobre Ser e Tempo: Vozes, 2005 – 3ª ed.

___ O método na filosofia: um estudo do modelo heideggeriano

DUBOIS, Christian, HEIDEGGER:Introdução a uma leitura – J.Z.E. Tradução de


Bernardo Barros Coelho de Oliveira – 2005

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