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RESUMO: O presente artigo tem como objetivo contextualizar os pressupostos teóricos utilizados por
Martin Heidegger sobre os conceitos de vida autêntica e vida inautêntica. Para a compreensão, inicial
que for, premente se faz trazer ao texto alguns conceitos principais que norteiam a obra de
Heidegger, bem como fazer uma breve incursão biográfica a seu respeito. A partir disso, destaca-se a
importância de outro filósofo com o qual Heidegger dialoga – o dinamarquês Sören Kierkegaard. Este
será usado como interlocutor de Heidegger. Conceitos que foram desenvolvidos nas obras de
Heidegger, como a angústia, é trabalhado a partir de Kierkegaard. O conceito de angústia é o pano
de fundo para a construção de uma vida autêntica. Mas o que significa vida autêntica em oposição a
vida inautêntica na ótica de Martin Heidegger? Essa é a questão primordial que será percorrida neste
trabalho.
ABSTRACT: This article aims to contextualize the theoretical assumptions used by Martin Heidegger
on the concepts of authentic and inauthentic life. For the understanding, initial as it may be, there is an
urgent need to bring to the text some main concepts that guide Heidegger's work, as well as a brief
biographical incursion about it. From this, the importance of another philosopher with whom Heidegger
dialogues - the Danish Sören Kierkegaard. This will be used as Heidegger's interlocutor. Concepts
that were developed in Heidegger's works, such as anguish, are worked on from Kierkegaard. The
concept of anguish is the backdrop for building an authentic life. But what does authentic life mean as
opposed to inauthentic life in Martin Heidegger's view? This is the main question that will be covered
in this work. The method used to develop the work is the deductive.
1. INTRODUÇÃO
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Movimento filosófico elaborado por Edmund Husserl, nascido em 1859. Esse movimento
pertenceu a uma corrente conhecida como filosofia da consciência ou filosofia da subjetividade,
sendo que sua preocupação não era fundamentar o conhecimento científico, mas sim, pensar a
consciência reflexiva do ser humano sobre o mundo.
para Heidegger é o horizonte de vivência de todo ser humano e, por consequência
de sua finitude.
Para esclarecer as condições que tornam possível uma compreensão do
ser, Heidegger inicia uma analítica do Dasein3 – palavra alemã que designa
existência ou ser-aí, usada por ele para se referir às estruturas dos seres humanos
para uma compreensão do próprio ser. Nesse sentido, a afirmação de Heidegger é
que “é que a compreensão pré-teórica ou pré-ontológica que o Dasein tem do ser
incorporada nas suas práticas cotidianas, abre uma clareira em que os entes podem
manifestar-se” (CAMBRIDGE, 2011, p. 453).
Em busca, então de uma resposta sobre o que é o ser humano, e qual
seu sentido, Heidegger afirmou que o ser humano é um Dasein, e ao fazer uso
desse termo, o filósofo quer dizer que o ser humano é um ser que está no mundo e
em relação íntima com ele, entrelaçado, interligado, usando uma expressão atual –
conectado. O ser humano assim, embora não tenha escolhido estar no mundo, pois
para Heidegger, o ser é lançado, jogado no mundo, sem que tenha a possibilidade
de opção em relação ao espaço e tempo em que está, encontra-se sempre em
determinada situação dentro desse mundo, tendo sido lançado nele em um projeto
existencial, no qual não pediu para estar. Esse projeto refere-se à tentativa humana
de encontrar, indo além da busca pelo sentido do ser, o sentido de sua própria
existência, que, para Heidegger, não estava previamente determinada
(HEIDEGGER, 2018).
Em sua obra principal intitulada Ser e Tempo, Heidegger preocupou-se
com a busca do sentido do ser, desenvolveu assim, como já referido uma teoria
analítica existencial quando se propôs a pensar no indivíduo que busca investigar o
sentido do ser, tendo como referente a linguagem. Para o autor, antes de buscar
compreender o sentido do mundo e das coisas, o indivíduo deve se preocupar em
conhecer o sentido dele mesmo, do ser humano que busca o conhecimento. Em Ser
e Tempo, menciona que elaborar a questão do ser significa, portanto, tornar
transparente um ente – o que questiona em seu ser. Em face disso, a proposição do
sentido do ser volta-se para o indivíduo, uma vez que é ele quem procura tal sentido
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Dasein – a palavra segue em alemão ante a dificuldade de tradução, alguns autores a traduzem como
presença. A tradutora da obra Ser e Tempo Maria Sá Cavalcante Schuback, refere na introdução da obra que sua
tradução se tornaria infiel à característica mais própria da linguagem de Heidegger que não é tanto a introdução
de palavras inusitadas, mas o uso inusitado e extraordinário de palavras usuais e cotidianas da língua alemã.
e deve antes de mais nada, refletir sobre si mesmo, conduta que lhe é própria e que
o diferencia dos outros.
Para estabelecer uma diferença entre o ser humano e os demais entes,
Heidegger usa na obra duas terminologias, diferenciando o ser dos entes. Para o
filósofo, o ser humano (ser) é o único que se coloca a pergunta sobre o sentido do
ser. Colocar-se a perguntar sobre esse sentido é um modo de ser do ser humano,
uma conduta que o diferencia dos demais entes. Heidegger afirma “o perguntar
mesmo tem, como conduta de um ente, daquele que pergunta, um peculiar caráter
de ser” (HEIDEGGER, 1971, p. 15).
Na concepção de Heidegger, o ser humano não é uma simples presença
no mundo, um simples objeto, como são os seres inanimados, mas ele é, mais do
que ser, o ente para o qual as coisas são presentes, uma vez que, por não
possuírem consciência, essas coisas não podem ser presentes em si mesmas, mas
podem ser para o ser humano, que é o único capaz de refletir e vivenciar a
existência delas. Desta maneira, afirma-se que a essência humana consiste em sua
existência. A essência da existência, por sua vez, é a possiblidade do indivíduo de
definir-se, de construir-se, de fazer da maneira que lhe aprouver, dependendo de si
mesmo para fazer de sua existência o que achar melhor, podendo perder-se ou
conquistar-se, ter uma vida autêntica ou inautêntica.
Os existencialistas, tanto Heidegger quanto Jean-Paul Sartre, consideram
o ser humano como um ser livre para fazer de si o que quiser, pois, ao contrário de
outros seres ele é capaz de refletir sobre sua existência, e tal consciência converte-
se em total liberdade. Mesmo tendo nascido sem um sentido predefinido, sendo um
ser-aí colocado no mundo em determinada situação com um tempo, local, família e
convivência escolhidos por ele, o ser humano é um ser de possibilidades, podendo
se definir de acordo com as suas escolhas.
Segundo Heidegger, o ser humano, como ser-aí, estando no mundo, não
é um mero objeto e sim, possibilidades, encontrando-se, dessa forma, diante da
necessidade de alcançar o que o filósofo chama de transcendência existencial, não
bastando para tanto existir, é necessário também transcender a existência,
ultrapassá-la, projetando-se e indo além do que está posto para se construir como
ser.
Nesse sentido, a existência é poder-ser, é possibilidade de ser, de se
expandir, de não mitigar a própria existência, não minimizar, mas sim maximizar
todas as possibilidades que o ser possui enquanto ser vivente. O ser humano possui
a necessidade de projetar e nesse aspecto, o mundo apresenta-se como uma
ferramenta para que ele alcance seu objetivo, projetando e construindo seu próprio
mundo. Por essa razão, Heidegger afirma que o ser humano é um ser-no-mundo,
pois é diante do mundo e por meio dele que o homem precisa se construir. O mundo
é assim, uma construção humana: construindo-o e modificando-o, a pessoa constrói
e modifica a si mesma, e consequentemente seu em torno de vivência
(HEIDEGGER, 2018).
O termo estar-no-mundo, muito utilizado por Heidegger, significa que o
indivíduo deve ser transcendência, deve elevar-se utilizando esse mundo como
ferramenta para as suas ações e comportamentos dentro das circunstâncias de vida
criadas por ele próprio. Essa transcendência, é em si, liberdade, uma vez que a
pessoa de posse das múltiplas ferramentas ofertadas pelo mundo, pode se construir
da maneira que quiser, no entanto, ao mesmo tempo que se apresenta como
ferramenta para a construção do indivíduo, o mundo é limitado, já que possui certas
restrições e necessidades que ultrapassam a vontade humana (HEIDEGGER,
2018).
Segundo Heidegger, a pessoa se constrói e se define na liberdade,
utilizando o mundo como ferramenta. Mas porém, nesse mundo existem outras
pessoas que se encontram na mesma situação de plena e total liberdade e que
assim não podem ser desprezadas ou desconsideradas. Não há, assim, um sujeito
sem mundo e tampouco um eu isolado no mundo. O mundo, é assim, um conjunto
de “eus” que se relaciona de alguma forma, pois todos participam do mesmo mundo.
Por esse motivo, assim, é impossível viver nele sem existir o cuidado entre os seres
humanos, o que Heidegger chamava de cuidar dos outros, sendo está a base da
vida em sociedade.
Para Heidegger, o ser-aí possui duas condições: ele é e ele tem de ser.
Isso significa que, ao mesmo tempo que está inserido no mundo, o indivíduo precisa
transcender, devendo sair da condição de objeto e encontrar um sentido para a sua
existência, projetando-se ao futuro com fins a um objetivo (HEIDEGGER, 2018).
Heidegger considera o homem como um “ser-no-mundo”, que se
caracteriza mais propriamente como um “ser-para-a-morte”, face a temporalidade e
dentro de um horizonte de finitude. Para fugir de si e de sua própria morte o homem
decai no mundo, se atira, salta, se joga, em um mundo se sentimentos, de paixões
que se interligam entre as noções de angústia, liberdade, autenticidade e
inautenticidade, sendo mais comumente a inautenticidade.
Não precisamos ir mais longe para entender que, nos traços preliminares
da filosofia de Heidegger, assim como naquela que já havia sido perfilada por
Kierkegaard, existência e ipseidade não são sinônimos ou termos que poderiam ser
substituídos um pelo outro. Na existência, a ipseidade não é evidente. Ipseidade
está sempre além da existência. O ente denominado Dasein está aí, exposto na ex-
sistência, antes que tenha mesmo problematizado a sua ipseidade. A possibilidade
da ipseidade aparecerá para o Dasein como algo a ser procurado, algo a ser
alcançado.
A maior realização de Heidegger, é a elaboração completa da finitude
como constituinte positivo do ser humano. A partir dessa ótica, ele completou a
revolução filosófica Kantiana, deixando claro que a finitude é a chave da dimensão
transcendental. O ser humano está sempre a caminho de si mesmo, de vir a ser,
mesmo frustrado, lançado e uma situação em que é um ser passivo, receptivo,
afinado, exposto a algo esmagador que é a finitude, mas longe disso limitá-lo, essa
exposição é o próprio fundamento do surgimento do universo do sentido da
mundanidade do homem. Para Heidegger, é somente dentro dessa finitude que os
entes nos parecem inteligíveis no sentido de partícipes do mundo, incluído sem um
horizonte de sentido.
A vida autêntica repousa nesse fato. No buscar, no procurar por algo que
construa o ser humano diferentemente dos outros demais seres, com suas
características e circunstâncias próprias. Desvela o ser, retira a mesmice, torna o ser
um representante único e condutor de sua própria vida.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS