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Martin Heidegger

Vida e Bibliografia

Martin Heidegger nasceu em 1889 na cidade católica Messkirch, na Alemanha. Criado no


contexto de uma família religiosa, Heidegger iniciou o curso de Teologia na Universidade de
Freiburg, onde realizou as primeiras leituras a respeito de Edmund Husserl, filósofo alemão e
fundador da Fenomenologia. Posteriormente, Martin abandonou os estudos teológicos para
cursar e se tornar doutor em Filosofia. Na sua tese de doutorado, Heidegger publicou um texto
chamado “A doutrina do juízo no Psicologismo — contribuição crítico-positiva à lógica” que
recebeu clara influência das investigações lógicas de Husserl.

No ano de 1915, Heidegger se torna assistente de Husserl, recém chegado a Freiburg. Desde
então, os dois trabalharam e desenvolveram aspectos da Fenomenologia. Em seguida,
Heidegger se torna apto para o magistério na Universidade de Freiburg e exerce docência na
Universidade de Marburg por 5 anos, onde publicou sua obra mais conhecida: Ser e Tempo
(1927). Quando retorna novamente para Freiburg e sucede a Husserl.

Em 1933, quando Hitler ascende ao poder, Heidegger se torna reitor da Universidade de


Freiburg e usa de sua posição para auto-afirmar a Revolução Nacional Socialista. Com a
consequente derrota do Nazismo em 45, Martin foi afastado da Universidade por 6 anos,
período em que publicou a maioria de suas obras, como Hölderlin e a Essência da Poesia
(1936), Sobre a Essência da Verdade (1943), A Doutrina de Platão sobre a verdade (1947) e
Sobre o Humanismo (1949) . No ano de 1957, tornou a lecionar como professor emérito até o
dia de sua morte em 1976.

O ser humano é um ente ontologicamente privilegiado porque em seu existir está em jogo o
seu próprio ser. (Martin Heidegger em Ser e Tempo, 1927)

Fenomenologia: comparação entre Heidegger e Husserl

É inegável a importância que a Fenomenologia de Husserl teve para a construção dos


pensamentos Heideggerianos, entretanto, esse fato não impede que hajam divergências entre
os dois filósofos.

A fenomenologia é o modo-de-acesso ao que deve se tornar tema da ontologia por


determinação demonstrativa. A ontologia só é possível como fenomenologia. (Heidegger,
2012b, pp. 123)

Fenomenologia: isso designa uma ciência, uma conexão de disciplinas científicas; mas a
fenomenologia designa, igualmente e acima de tudo, um método e uma atitude do pensar: a
atitude do pensar especificamente filosófica, o método especificamente filosófico. (Husserl,
2020, p 75)

Para Husserl, o princípio de todos os princípios é que toda intuição originariamente doadora é
uma fonte legítima de conhecimento. Sendo assim, através das ações da consciência,
descobre-se a real intenção da consciência. Em outras palavras, quando conclui-se o ato de
pensar, já se está unido ao pensamento. Enquanto isso, Heidegger vai a contraposto afirmando
que é necessário permitir que os fenômenos se relevem propriamente, sendo a descrição da
ação o único modo de acesso ao Fenômeno.
Além da intuição doadora, os pensadores entram em mais um desacordo na reflexão
fenomenológica. Em Ser e Tempo, Heidegger afirma que para compreender o ser é necessário
também compreender a tradição, a história, o tempo que formou o Ser. Dessa forma, para
Martin, a hermenêutica se faz essencial para a Fenomenologia. O que vai de desencontro a
Husserl, que a defende como ciência das coisas que se dão a ver, não levando em conta a
historicidade mas apenas a reflexão da consciência.

Hermenêutica e Existencialismo

A questão do ser só receberá uma concretização verdadeira quando se fizer a destruição da


tradição como lógica. É nela que a questão do Ser haverá de provar cabalmente que a questão
sobre o sentido de ser é incontornável, demonstrando, assim, o sentido em se falar de uma
“repetição” dessa questão. (Heidegger em Ser e Tempo, 1927)

Martin Heidegger entendia que não apenas Husserl, mas todos os outros pensadores que
vieram antes dele, haviam negligenciado a investigação a respeito do ser da intencionalidade e
do ser em geral. Sendo assim, aos poucos, ele caminhou para o solo das raízes da existência
humana e seu comportamento, buscando entender a vida a partir dela mesma. Para o
existencialista, embora o sentido do ser seja uma questão ontológica, ela precisa surgir da
investigação de um ente. Dessa forma, a hermenêutica do ser-humano retrata o ser individual,
enquanto o Dasein busca o ser-aí, o ser-no-mundo. O propósito da investigação de Heidegger é
retornar para a questão originária dos homens e das coisas, permitindo superar a barreira
superficial das substâncias e do sujeito e, através disso, compreendermo-nos como já nos
compreendemos.

Por isso, para Heidegger, a questão do Ser passa pela interpretação do ente. Ressaltando
novamente, então, a importância do ser levar a si mesmo em consideração, desconstituindo-se
da compreensão monótona do cotidiano.

O Tempo e a Angústia

Cotidianamente, aponta-se que o fenômeno do tempo é essencial para o entendimento do


ser-aí, visto que este é caracterizado como um ser presente no mundo, por meio do agora, da
simultaneidade. Heidegger, entretanto, critica a essa compreensão do tempo a partir do agora,
entendendo que é preciso reduzir a imposição da cotidianidade.

Dessa maneira, a Angústia surge como a condição que leva o homem de volta para seu estado
original, o tirando de sua posição óbvia e o conduzindo para uma apropriação do seu ser.

O por quê a angústia se angustia não é um modo determinado de ser e uma possibilidade do


ser-aí. A ameaça é ela mesma indeterminada, não chegando, portanto, a penetrar como
ameaça neste ou naquele poder-ser concreto e de fato. A angústia se angustia pelo próprio
ser-no-mundo (...). o mundo não é mais capaz de oferecer alguma coisa nem sequer a co-
presença dos outros. A angústia retira, pois, do ser-aí a possibilidade de, na decadência,
compreender a si mesmo a partir do mundo e na interpretação pública (1986, §40, p.187)

Ideais de Heidegger aplicados na prática de Enfermagem

Porque, em sua essência, o ser-no-mundo é cura, pode-se compreender, nas análises


precedentes, o ser junto ao manual como ocupação e o ser como co-presença dos outros nos
encontros dentro do mundo como preocupação. O ser-junto a é ocupação porque, enquanto
modo de ser-em, determina-se por sua estrutura fundamental que é a cura. A cura caracteriza
não somente a existencialidade, separada da factidade e de-cadência, como também abrange
a unidade dessas determinações ontológicas. (Heidegger em Ser e Tempo, 1927)

Para Heidegger, o ser-no-mundo é cura, ocupação e preocupação. Ao observar a prática da


Enfermagem, enxerga-se muitos dos conceitos de Martin aplicados à prática, visto que no
processo de cura se faz presente a angústia e a preocupação. Olhando o tratamento pela ótica
de Heidegger, percebe-se um cuidado que é movido pela preocupação existente no ser-no-
mundo. Esses ideais podem colaborar na prática cotidiana dos profissionais da Enfermagem ao
se fazer uma reflexão a respeito do porquê cuidamos, e dessa maneira, despertarmos para um
cuidado cada vez menos monótono e cada vez mais humanizado, com propósito e sentido de
ser Enfermeiro e se fazer presente como profissional da saúde.

Além disso, Heidegger diz que o fim do ser-no-mundo é a morte. Dessa forma, uma reflexão
saudável a cerca desse processo de angústia pode auxiliar na compreensão do fim da vida
humana por parte dos Enfermeiros, despertando a atenção para a realização de cuidados
paliativos de qualidade e uma despedida digna como direito do paciente.

Referências

Martin Heidegger- Vida e Obras (Núcleo de Estudo e Pesquisa em Filosofia e Educação -


Universidade Federal de Goiás)

Nascimento de Martin Heidegger (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas –


Universidade de São Paulo, 2022)

O Conceito de Fenomenologia de Martin Heidegger em Ser e Tempo (Revista Primordium,


volume 3 número 6, 2018)

Encontros e Desencontros entre o Pensamento de Husserl e Heidegger: Fenomenologia em


Movimento (Revista Estudos e Pesquisas em Psicologia da Universidade Estadual do Rio de
Janeiro, 2020)

Cuidado em Heideger: uma possibilidade ontológica para a enfermagem (Revista Brasileira de


Enfermagem, 2011)

Heidegger: Em busca de sentido para a existência humana (Revista da Abordagem Gestáltica,


volume 23 número 1, 2017)

A angústia, o nada e a morte em Heidegger (Departamento de Filosofia da Universidade de São


Paulo, 2003)

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