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São Paulo
2006
Sílvia Cristina Salvan Strake
São Paulo
2006
BANCA EXAMINADORA
________________________
________________________
________________________
Dedico este trabalho a minha querida filha Júlia e a minha
de estudo.
Resumo
Abstract
Capítulo 1
Uma apresentação geral sobre o contexto de discussão acerca da
História no século XIX .................................................................. p.10
Capítulo 2
As idéias fundamentais do pensamento de Heidegger em Ser e
Tempo ....................................................................................... p.28
2.1 A proposta de Ser e Tempo..................................................... p.28
2.2 Breve delineamento do método fenomenológico
hermenêutico ................................................................... p.32
2.3 A apresentação das estruturas fundamentais do Dasein............... p.34
Capítulo 3
A importância do conceito de morte para a compreensão da
totalidade do Dasein em Ser e Tempo ............................................ p.51
Capítulo 4
Considerações acerca da temporalidade em Ser e Tempo .................. p.65
4.1 Temporalidade Imprópria ....................................................... p.74
4.2 Intratemporalidade ................................................................ p.77
4.3 Temporalidade Própria ........................................................... p.81
Capítulo 5
A explicitação da historicidade como possibilidade de
compreensão do modo temporal do Dasein ..................................... p.91
5.1 A apresentação dos caminhos para compreender a história ......... p.92
5.2 A discussão dos elementos fundamentais para exposição da
historicidade do Dasein ..................................................... p.97
5.3 A elucidação da historicidade .................................................. p.105
5.4 Historicidade Imprópria do Dasein ........................................... p.109
5.5 Historicidade Própria do Dasein ............................................... p.111
1
No texto utilizo o termo história escrito em letra minúscula para designar a compreensão
ontológica de Heidegger acerca do acontecimento do Dasein. E História escrita em letra maiúscula
para designar a História como ciência, conforme discussão do Historicismo e da Escola de
Marburgo.
2
Dasein: “O termo alemão, que é originário, começa a ser usado no século XVIII. (...) Mas, no uso
filosófico contemporâneo, essa palavra ingressou com o significado atribuído pelo existencialismo,
sobretudo por Heidegger, que a usou para designar a existência própria do homem. ‘Esse ente,
que nós mesmos sempre somos e que, entre as outras possibilidades de ser, possui a de
questionar, designamos com o termo Dasein’ (Ser e Tempo, § 2)” (ABBAGNANO, 2000, p.888).
No decorrer do presente trabalho, para designar a condição de ser do homem no mundo, utilizarei
o termo Dasein com o propósito de manter a designação original de Heidegger, bem como da
ª
tradução de Ser e Tempo de Jorge Eduardo Rivera, 4 edição, 2005, usada como apoio deste
estudo. O texto em alemão, Sein und Zeit, foi utilizado como apoio para as palavras — chaves do
pensamento de Heidegger. O termo Dasein aparecerá escrito em itálico para marcar que é um
conceito elaborado por Heidegger. As citações utilizadas neste estudo são retiradas da obra Ser e
Tempo, da edição chilena acima referida, e estão no corpo do texto em português (tradução minha)
e, em nota de rodapé, o trecho correspondente em castelhano.
1
momento da discussão da história no pensamento heideggeriano
2
tema de uma perspectiva ontológica, ou seja, como acontecimento do
Dasein.
parágrafos, uma Primeira parte com duas Seções, sendo que a Primeira
4
ST: abreviação da obra de Martin Heidegger, Ser e Tempo, 1927.
3
Daseinsanalyse. Em decorrência dos estudos acerca da fenomenologia
5
Esse ensaio foi apresentado por Heidegger em Freiburg, em 27 de julho de 1915. E foi impresso
em Leipzig, em 1916.
4
essa discussão, o autor não problematiza a História como ciência,
5
A história discutida em ST não é estudo do passado, no sentido
fenômeno.
6
Os elementos fundamentais referidos no texto são as estruturas fundamentais do Dasein, ou seja,
os modos constitutivos do Dasein designados e elaborados por Heidegger como existenciais para
orientar a análise do sentido do ser presente em Ser e Tempo. Dentre os existenciais,
selecionamos os mais significativos para a discussão da historicidade: ser-com-os-outros,
espacialidade (ser em), temporalidade, disposição, compreensão, cuidado, queda e ser mortal.
6
sentido do que seja a história. Segundo Heidegger, Dasein deve ser
acontecer na existência.
7
Para propiciar essa primeira tentativa de esboçar o estudo da
problema da história.
8
sobre a noção de tempo; o Capítulo 5, que traz a explicitação das
7
As três perguntas fundamentais, segundo Porta, que precisamos fazer para compreender um
autor: o problema, a solução ou resposta, quais são seus argumentos e fundamentos (Porta, 2002,
p.39).
9
Capítulo 1
História
8
Wilhelm Dilthey, historiador e filósofo, é considerado um importante representante da escola
histórica. Sua grande preocupação era fundamentar de maneira autônoma as ciências do
espírito.(REALE, 2006, p.36).
9
Georg Simmel, em suas considerações acerca da questão da história, é compreendido como
relativista, “as categorias da pesquisa histórica são produto de homens históricos, e elas mudam
com a história” (REALE, 2006, p.42).
10
Wilhelm Windelband é considerado representante da escola de Baden com sua filosofia dos
valores: “são os valores que estão na base do conhecimento, da moralidade e da arte”. O autor
também contribuiu com a ciência historiográfica na distinção de natureza e história (REALE, 2006,
p.24).
10
considerações no texto History of the Concept of Time11 (1925), de
11
O texto History of the Concept of Time é uma tradução do texto original de Heidegger:
Prolegomena zur Geschichte des Zeitbegriffs.
12
Discurso do reitorado da Universidade de Estrasburgo, 1894.
11
Dilthey, em seu estudo, pretende mostrar a diferença entre o
13
Nesse estudo de 1875, Dilthey designa as ciências do homem, da sociedade e do estado como
ciências político-morais, pois este é um dos seus estudos preliminares sobre o homem. É em 1883
que escreve Introdução às Ciências do Espírito, no qual estabelece firmemente a diferença entre
objeto das ciências naturais e ciências do espírito. Então, a designação não é mais ciências
político-morais, para estudar o homem, mas ciências do espírito. As ciências do espírito partem
das experiências do homem, do que está presente no mundo humano.
12
Dilthey constitui um esforço em dialogar com as diferentes áreas do
históricos, não apenas para elencar e agrupar tais fatos como faziam os
historiadores da época.
14
DILTHEY, 1875, p.433.
15
DILTHEY, 1875, p.437.
13
Segundo Dilthey, o filósofo deve, ao mesmo tempo, realizar a
que pode ser entendido, por um lado, como o curso histórico (o passar
14
décadas e séculos. Então, encontrou uma unidade que chamou de
povo.
16
DILTHEY, 1875, p.438.
15
Portanto, entendia que deveria partir para algo simples, para uma
homem.
16
epistemológico, uma vez que apresentou a experiência do homem como
autores assim como por Heidegger, que faz referência a seus escritos no
homem.
17
Comentário em nota do § 74 de Ser e Tempo.
17
Portanto, a questão levantada por Heidegger, não só acerca do
18
compreendermos o que pode ser delimitado como conteúdo histórico,
conteúdos ocorridos num dado período, que podemos dizer que algo se
história, dentre elas, a guerra dos sete anos, de 1756 a 1763, que
18
Si, por ejemplo, em cualquer parte da Ásia se descubrieran los cimientos de uma ciudad
sepultada, com muchos objetos interesantes, que, no obstante, no dieran el más remoto indicio de
su edad, ni por su estilo ni por testimonios directos o indirectos, estos vestígios podrían tener em
muchos sentidos gran valor e importancia, pero no serían um documento histórico (SIMMEL, 1950,
p.193).
19
unidade que a guerra representa, mas uma descontinuidade quando
20
na determinação do tempo cronológico e no esclarecimento de como
21
torno da questão das ciências históricas e das ciências da natureza.
19
(...) venir a testimoniar que la filosofía, aun bajo su forma actual, después de haberse
desprendido de toda apetencia metafísica, se siente a la altura de aquellos grandes problemas a
los que debe el importante contenido de su historia, su valor en el campo de la literatura y el puesto
que ocupa em la enseñanza universitaria (WINDELBAND, 1949, p.312).
22
referindo-se à subordinação da ciência histórica aos fundamentos das
ciências da natureza.
tratou Dilthey.
20
Si no me equivoco al pulsar la tónica de la novísima filosofia y las repercusiones de la
epistemológica, creo que esta distinción tradicional, adherida al modo usual de pensar y de
expresarse, no puede ser considerada ya como algo tan evidente que sirva como base indiscutible
de aquella clasificación fundamental (WINDELBAND, 1949, P.315).
21
REALE, 2006, p.41.
23
o fenômeno singular, visando compreender sua especificidade e
individualidade”22.
criar um campo de investigação foi por ele reduzida e tratada como uma
problema da História.
22
vide nota 7.
24
Sobre os três autores citados, Heidegger salientou que Dilthey foi
propriamente histórico.
25
A perspectiva de Heidegger, já presente no texto de 1925,
do homem.
23
Tradução nossa: “Aqui não é uma questão de uma fenomenologia das ciências da história e da
natureza, ou mesmo de uma fenomenologia da história e da natureza como objetos dessas
ciências, mas de uma revelação fenomenológica do tipo original de ser e a constituição de ambas”.
26
radical da questão do sentido do ser. Foi na obra Ser e Tempo, então,
ser.
27
Capítulo 2
Tempo
24
“A Analítica do Dasein é, como o nome indica, uma interpretação ontológica determinada do ser-
homem como Dasein e, na verdade, a serviço da preparação da questão do ser”. (...) A Analítica
tem a tarefa de mostrar o todo de uma unidade de condições ontológicas. A Analítica como
analítica ontológica não é um decompor em elementos, mas a articulação da unidade de uma
estrutura” (HEIDEGGER, 2001, respectivamente, p 150 e 141).
25
A discussão sobre o sentido do ser, bem como a pergunta pelo ser podem ser encontradas na
Introdução de Ser e Tempo e nos Capítulos I e II, e o método de investigação no Capítulo II.
26
Neste trabalho o termo ser aparecerá grifado em itálico, pois é um conceito discutido por
Heidegger como conceito fundamental para compreender o caminho do conhecimento da tradição
28
embora o conceito de ser tenha recebido diferentes denominações no
sua própria definição, isto é, a definição de ser não partia dele mesmo.
metafísica: “ser, argumenta Heidegger, é muitas vezes considerado como a mais vaga das
abstrações, o aspecto mais geral de tudo que é” (INWOOD, 2002, p.165). Assim, ser não possui
uma definição apreensível para o autor, ser não é isto ou aquilo. Heidegger escreve: “...nos
movemos desde siempre en una comprensión del ser. Desde ella brota la pregunta explícita por el
sentido del ser y la tendencia a su concepto. No sabemos lo que significa ‘ser’. Pero ya cuando
preguntamos: ‘qué es ‘ser’?, nos movemos en una compresión del ‘es’, sin que podamos fijar
conceptualmente lo que significa el ‘es’. Ni siquiera conocemos el horizonte desde el cual
deberíamos captar y fijar ese sentido” (HEIDEGGER, 2005, p.28-29). Ou, ainda: “Ser es siempre
el ser de un ente” (HEIDEGGER, 2005, p.32).
27
El ‘ser’ es un concepto evidente por sí mismo. En todo conocimiento, en todo enunciado, en todo
comportamiento respecto de un ente, en todo comportarse respecto de sí mesmo, se hace uso del
‘ser’, y esta expresión resulta comprensible ‘sin más’(HEIDEGGER, 2005, p.27).
29
privilegiado que em sua constituição existencial tem a possibilidade de
Dasein. “A esse ente que em cada caso somos nós mesmos, e que,
sobre o sentido do ser, pois não via solução para o problema do ser na
do conceito ser a partir dele mesmo (sem uma vinculação com outros
28
A este ente que somos en cada caso nosotros mismos, y que, entre otras cosas, tiene esa
posibilidad de ser que es el preguntar, lo designamos con el término Dasein” (HEIDEGGER, 2005,
p.30).
29
“Heidegger usa Hermeneutik para significar ‘interpretação’, interpretação da ‘facticidade’, isto é,
de nosso próprio Dasein. Como também refere “Hermeneutik ist Destruktion (...) [para] interpretar
um texto recoberto por séculos de exegese distorcida” (INWOOD, 2002, p.79).
30
conceitos na tradição metafísica e da explicitação das estruturas do
30
O termo destruição é utilizado por Heidegger no § 6 em ST. A destruição constitui uma tarefa “en
busca de las experiencias originarias en las que se alcanzaron las primeras determinaciones del
ser, que serían en adelante las decisivas.” (HEIDEGGER, 2005, p.46).
31
positivas e fundar uma ciência do espírito. Com essa perspectiva Dilthey
32
fenomenologia é ontológica31. A fenomenologia heideggeriana,
mesmas”.32
constituir a investigação.
31
“Considerada en su contenido, la fenomenología es la ciencia del ser del ente – ontologia.”
(HEIDEGGER, 2005, p.60).
32
ST § 7, p.51.
33
Vide nota 6.
33
modos de ser do Dasein e o próprio método. O primeiro aspecto é que
Analítica do Dasein.
34
Ontologia Fundamental diz respeito ao método ontológico discutido por Heidegger em S.T § 7,
diferente da ontologia tradicional. (HEIDEGGER, 2005, p.50-62).
34
Examinados o contexto de discussão e o modo que Heidegger
estudo da historicidade.
35
coisas35, junto com os outros36, no mundo. Não há uma separação entre
ente ele mesmo é no ser” (KISIEL 1993, p.332). Kisiel aponta, também,
35
Dasein se encontra junto às coisas, isto é, é constituído existencialmente no modo de ser- em
[In-sein]. Ver discussão nos §12 e 13 de ST.
36
Dasein é co-existente, isto é, já se encontra existencialmente junto com os outros, é ser-com
[Mitsein] mesmo que esteja sozinho. Pois seu modo de existir é no modo da co-existência. Ver
discussão nos § 25, 26 e 27 de ST.
37
“La expresión compuesta ‘estar-en-el-mundo’ indica, en su forma misma, que con ella se mienta
un fenómeno unitário” (HEIDEGGER, 2005, p.79).
36
A designação mundo [Umwlt] como parte integrante da expressão
para algo, isto é, para uma dada serventia. A esse modo de encontro
38
Transcendência: “Heidegger retorna para o sentido original de superação (Übersteigung), sendo
concebida como um aspecto distintivo de Dasein e envolve a compreensão de ser” (INWOOD,
2002, p.190-191).
“é pelo ato de transcendência que o homem, como ente no mundo, se distingue dos outros entes
ou objetos e se reconhece como ‘ele mesmo’”( ABBAGNANO, 2003, p. 971).
39
Comentário sobre os termos Bedeutung, Bedeutsamkeit: “Heidegger deve muito a Dilthey, que
usava estas palavras tanto para o que um sinal significa ou exprime quanto para o ‘significado’ de
uma totalidade complexa como uma vida, um processo histórico” (...) “Heidegger usa
Bedeutsamkeit para indicar a rede de relações que une firmemente o mundo de Dasein”
(INWOOD, 2002, p.172).
37
[Mitdasein]; sua constituição fundamental é de ser-com-os-outros
40
Os modos de ser do Dasein impróprio e próprio são apresentados e mantidos ao longo da
explicitação das estruturas fundamentais em ST. Estes dois modos de ser do Dasein são
importantíssimos na filosofia heideggeriana, pois mostram de forma original a diferença e a tensão
na maneira de compreensão de si mesmo do Dasein, bem como sua compreensão e acesso ao
mundo. Conforme dito, o Dasein compreende a si mesmo, as coisas e o mundo por possuir uma
compreensão de ser. Heidegger nos aponta em ST que há uma estreita relação do homem com o
ser, e desta forma, podemos ter acesso ao ser através dos modos de compreensão que o Dasein
tem de si mesmo e do mundo. Estes modos de compreensão surgem no coditiano, modo mais
próximo ao Dasein, onde ele mantém um entendimento nivelador, todos são iguais, e uma
compreensão ontológica que, na Analítica, é a possibilidade do Dasein sair do discurso nivelador e
buscar o seu sentido mais próprio de existir finitamente. Heidegger salienta que devemos
considerar essa diferença no modo de ser do Dasein para, desta maneira, compreendermos
originariamente o sentido dos fenômenos presentes na existência.
38
do outro; mas pela sua própria peculiaridade e tendência ao
41
A estrutura da compreensão pressupõe: posição, visão e concepção prévia. Ver § 32 de ST.
42
Na obra de 1883 Introdução às ciências do espírito, Dilthey sustenta a diferença de objeto entre
as ciências da natureza e do espírito e discute a integração entre a experiência vivida e a
compreensão.
39
compreensão é uma noção fundamental para existência humana “já que
43
Disposição afetiva é a tradução para o termo alemão Befindlichkeit. Este termo alemão é
traduzido por disposição fundamental por alguns autores brasileiros. No cotidiano, Heidegger utiliza
o termo Stimmung para referir-se ao humor.
44
Discurso “es la articulación ‘significante’ de la comprensibilidad del estar-en-el-mundo, estar-en-
el-mundo al que le pertenece el coestar, y que siempre se mantiene en una determinada forma del
convivir ocupado”(HEIDEGGER, 2005, p. 185).
45
Acerca da estrutura da interpretação do ‘como’ hermenêutico, esta estrutura demonstra que o
Dasein é um ente que interpreta o mundo, não vê o mundo e as coisas como entes simplesmente
dados. Conforme Heidegger, “El ‘en cuanto’ originario de la interpretación circunspectivamente
comprensora será llamado ‘em cuanto’ hermenêutico-existencial, a diferencia del ‘en cuanto’
apofántico del enunciado.” (HEIDEGGER, 2005, p.181).
40
separação, como fez Dilthey46, em relação à natureza e às experiências
46
Para Dilthey as relações com a natureza deveriam ser explicadas com base na causalidade,
própria do método das ciências naturais. Enquanto as relações humanas careciam de uma outra
abordagem, visto que o homem é quem se indaga, ele pode compreender a si mesmo e as suas
relações com o mundo, assim sendo, o compreender é o instrumento que permitiu apreender a
realidade histórica. O homem é o sujeito do saber.
41
A constituição fundamental do Dasein, conforme descrito no
integrado. Isto quer dizer que o Dasein é acolhido pelo mundo numa
47
O modo de ser cotidiano do Dasein é denominado ‘ocuparse’ (em castelhano), e podemos
traduzir por ocupação. Ver ST § 12 p.83.
48
Considerações acerca do discurso impessoal - ver ST § 27.
42
responsabiliza por sua própria condição, ao contrário, encobre a
presentes.
49
Inwood explicita o sentido da queda utilizado por Heidegger: “La caída (em espanhol), ‘queda’, é
Fall. O prefixo ver - dá a verfallen e Verfall um tom de declínio e deterioração.(...) Apesar do
sentido de deterioração, Heidegger insiste que Verfallen não é um termo de desaprovação moral,
nada tendo em comum com a acepção cristã de queda da graça. (...) Heidegger dá três
explicações daquilo em que Dasein caiu e, implicitamente, de onde Dasein se afastou (ST, 175): 1.
Verfallen significa: ‘Dasein está antes de tudo e, na maioria das vezes, junto ao [bei] ‘mundo’ de
sua ocupação’ (ST, 250). 2. ‘Esta absorção em...[Aufgehen bei...] geralmente possui o caráter de
estar perdido na publicidade do impessoal’. 3. “Decair no ‘mundo’ significa ser absorvido no ser-
um-com-o-outro, à medida que isto é guiado pelo falatório, pela curiosidade e pela ambigüidade’”
(INWOOD, 2002, p.31).
50
Fürsorge é um existencial e se refere ao modo do Dasein ser-com-os-outros, é um dos membros
da tríade Sorge, Fürsorge e Besorge. Fürsorge é usado para falar da relação entre Daseins. O
cuidado com os outros acontece tanto no modo próprio quanto no modo impróprio.
43
assume o seu poder-ser, isto é, assume ser para as possibilidades
abertas na existência.
no-mundo. Isto significa que ele existe projetado para adiante de si. O
44
Um importante existencial descrito em Ser e Tempo é o da
45
apropriação de sua própria e peculiar condição vem acompanhada da
finitude, ou seja, o Dasein não pode ser pensado como uma totalidade
morte.
54
O fenômeno existencial da morte será tratado no capítulo 3.
46
Até o momento descrevemos as estruturas existenciais que
tarefa de ter que ser. Mas resta, ainda, submeter as estruturas a uma
seção de ST).
nesse movimento se dá conta de seu fim e volta para o seu ainda estar
47
aí e, desta maneira, se apropria do tempo de modo originário —
torna evidente.
55
No presente capítulo apresento a idéia central da historicidade elaborada em ST, mas a
discussão propriamente encontra-se no capítulo 5.
48
Quando compreende a impossibilidade da existência, a própria morte, o
Dasein volta-se para si, para suas possibilidades mais próprias (para o
2001, p.181).
56
As citações foram retiradas do texto “O Conceito de Tempo”, da edição de 1997, na qual o
tradutor utiliza o termo ser-aí para o termo alemão Dasein. No presente estudo, optei por utilizar o
termo original do autor — Dasein, mesmo com essa diferença na tradução mantive algumas
citações dessa obra, por achar relevante para a compreensão da discussão acerca da
Historicidade.
49
compreender a historicidade. Os elementos selecionados para a
50
Capítulo 3
historicidade do Dasein.
57
Nas Interpretações fenomenológicas sobre Aristóteles: Indicação da situação hermenêutica.
51
presentes na biologia e nas ciências médicas. Em uma outra apreciação,
morte.
52
deles. Assim sendo, o conceito de morte examinado em Ser e Tempo
pelo autor.
que a morte revela o fim, o término. O fim do tempo que temos, o fim
58
A palavra existencial é utilizada na tradução chilena de Ser e Tempo e designa as condições
ontológicas ou fundamentais do Dasein (ST, 2005).
53
um distanciamento e, de certa maneira, um alheamento dessa
incerteza da morte é tão acentuada neste dito popular que não chega a
54
nos obituários dos jornais, nas missas e rituais de sepultamento, ou
ainda assim a morte referida neste contexto é uma ocorrência pela qual
62
“... uno también se muere alguna vez, pero por el momento todavía no” (HEIDEGGER, 2005,
p.275).
63
“No experimentamos, en sentido próprio, el morir de los otros, sino que, a lo sumo, solamente
‘asistimos’ a él” (HEIDEGGER, 2005, p.260).
55
Nas situações de morte, de pesar, o Dasein se aproxima da dor do
própria morte.
64
Kisiel refere, em suas considerações sobre os escritos de Heidegger, que a noção de
encobrimento advinda da queda do Dasein no mundo na análise do fenômeno da morte, somente
aparece nos escritos de novembro de 1924. É nesse período que Heidegger enfatiza a importância
da indeterminação da morte e a absorção no mundo, que leva o Dasein ao esquecimento da
possibilidade da morte.(KISIEL, 1993, p.339).
65
“La angustia no es sólo angustia ante..., sino que, como disposición afectiva, es al mismo tiempo
angustia por. Aquello por lo que la angustia se angustia no es un determinado modo de ser nin una
posibilidad del Dasein. En efecto, la amenaza misma es indeterminada y, por consiguiente, no
puede penetrar amenazadoramente hacia este o aquel poder-ser concreto fáctico. Aquello por lo
que a angustia se angustia es el estar-en-el-mundo mismo.” (HEIDEGGER, 2005, p.209-210).
56
Portanto, não se apropria de sua condição finita o seu poder-ser mais
próprio – a morte.
peso de existir como ente que nasce e já se dirige para o fim; contudo,
66
“En la angustia ante la muerte el Dasein es llevado ante sí mismo como estando entregado a la
posibilidad insuperable” (HEIDEGGER, 2005, p.274).
67
“El cotidiano estar vuelto hacia la muerte es, en tanto que cadente, un continuo huir ante ella”
(HEIDEGGER, 2005, p.274).
57
Na impropriedade, desencontrado de si mesmo, o Dasein vive a
fim.
58
a existência desse ente é permeada de finitude. A concepção da morte
termina o ciclo da vida, mas, sim, como um modo profundo que limita a
vida.
68
Na obra Experiência vivida e poesia (1905).
69
Na obra Psychology of Worldviews (1919).
59
Dasein. O Dasein chega ao fim, possui uma duração; não tem um tempo
cotidiano, não pode ser interpretada com uma familiaridade tal que
negociar ou alterar, isto é, cada Dasein possui sua morte, não como um
fato empírico que possa ser alterado, mas como uma condição inerente
60
Segundo Heidegger, quando Dasein compreende a morte como “a
denomina adelantarse71[Vorlaufen].
nada para o Dasein realizar, mas apenas diz respeito ao modo em que
70
“la posibilidad en cuanto de la imposibilidad de la existencia en general” (HEIDEGGER, 2005,
p.281).
71
O termo adelantarse é utilizado na tradução chilena de Ser e Tempo, e antecipar, na tradução
em português. Adelantarse ou Antecipar referem-se (no alemão) ao Vorlaufen. Utilizarei, no
presente texto, adiantar-se para traduzir [Vorlaufen], que “explicita um modo de ser que se
caracteriza, essencialmente, por dirigir-se para” (HEIDEGGER, 1993, p.258).
72
“ Semejante estar vuelto hacia la posibilidad lo llamaremos adelantarse hasta la posibilidad”
(HEIDEGGER, 2005, p.281).
61
o sentimento genuíno da própria possibilidade, ou seja, sustentar a
ser-para-a-morte.
seu próprio poder ser, ou melhor, para o seu ser possível. E mesmo
73
“En efecto, la amenaza misma es indeterminada y, por consiguiente, no puede penetrar
amenazadoramente hacia este o aquel poder-ser concreto fáctico. Aquello por lo que la angustia
se angustia es el estar-en-el-mundo mismo” (HEIDEGGER, 2005, p.209-210).
62
A caracterização do adiantar-se [Vorlaufen] à morte é
próprio.
ente finito, que dispõe de um tempo no mundo junto com os outros para
63
empreender sua existência, provoca a angústia diante da
64
Capítulo 4
fundamentada no tempo.
74
A discussão acerca do tempo, no presente capítulo, baseia-se em três textos de Heidegger, que
nos permitem aproximar da noção de tempo, segundo o autor. Os textos utilizados são: O Conceito
de Tempo (1924), Ser e Tempo (1927), tradução de Rivera, e Seminários de Zollikon (1965).
Utilizamos também o texto The Genesis of Heidegger’s Being and Time (1993), de Kisiel.
O texto O Conceito de Tempo, de 1924, foi preparado para uma conferência apresentada para a
Sociedade de Teólogos de Marburgo. Nesse estudo, o autor investiga detalhadamente o modo
mais adequado de abordar e compreender o tempo. Heidegger explicita de maneira contundente,
embora preliminar, a noção de temporalidade que desenvolverá posteriormente em Ser e Tempo.
A obra Ser e Tempo nos oferece uma discussão profunda e detalhada da analítica do Dasein, bem
como da temporalidade, no intuito de explicitar a questão do ser em geral.
Os Seminários de Zollikon, um trabalho realizado de 1959 a 1970 entre Heidegger e Boss,
contavam com a participação de médicos. As discussões ocorriam a partir dos fundamentos
ontológicos heideggerianos e situavam-se em torno das seguintes questões: os fundamentos da
psiquiatria clássica e da psicanálise, bem como dos fenômenos saudáveis e patológicos do ser
humano. Na atual discussão, esse texto é esclarecedor, sobretudo, nos seminários de discussão
acerca do tempo, pois Heidegger explicita com muita clareza noções complexas acerca do tempo,
já expostas em Ser e Tempo.
O texto The Genesis of Heidegger´s Being and Time, como o próprio título sugere, problematiza a
constituição, ou melhor dizendo, a origem da discussão presente em Ser e Tempo. Kisiel, de uma
maneira cuidadosa e consistente, oferece os caminhos iniciais em que Heidegger foi
problematizando as questões sobre o sentido do ser, sobretudo na década de 20, e que em 1927
culminou com a publicação de Ser e Tempo. O texto é extenso. Portanto, utilizo a parte três “Three
Drafts of Being and Time”, que centraliza os aspectos relevantes para discutir a noção do tempo.
75
O sentido da historicidade será explicitado detalhadamente no capítulo 5. Somente para situar e
elucidar inicialmente o contexto da presente discussão: “A historicidade de Dasein depende de seu
acontecimento ou ‘historização’, o modo peculiar pelo qual ele se estende entre seu nascimento e
sua morte” (INWOOD, 2002, p.84).
65
existencial revela a remissão76 entre Dasein e tempo. A compreensão da
76
Remissão é utilizada no texto com o sentido de “ação ou efeito de remeter, de referir-se”
(FERREIRA, 1999, p. 1740).
66
preocupação comum, isto é, desvelar77 o que seja o tempo. Para o
77
Utilizo a palavra desvelar com o significado de dar a conhecer, aclarar, esclarecer. (FERREIRA,
1999, p.669).
67
medição ou mensuração do tempo, como elucida a definição de
tempo.
que pode ser obtido com base na experiência, mas o tempo é dado a
68
explicitação. Hegel elaborou a concepção de tempo como intuição do
2005, p.444)78.
do fenômeno.
78
“el paso no pensado que simplemente se presenta en la secuencia de los ahoras”
(HEIDEGGER, 2005, p.444).
69
apresenta dois tempos diferentes para reconduzir a questão; o tempo
próprio e o tempo comum a todos “The time proper to me; the time
79
Tradução livre: “O tempo próprio para mim; e o tempo comum a Todos: dois tempos diferentes”.
70
Kisiel (1993) recupera em seu texto uma nota na qual o próprio
[Ekstase]80.
para abordar tal fenômeno. E este acesso não se dará do ponto de vista
“Ekstase(n) vem do grego existanai, deslocar, desordenar (...) Heidegger reanima o sentido
80
original de ‘sair de si’: o tempo sai de si para o passado, presente e futuro” (INWOOD, 2002,
p.141).
81
Cotidianidade se refere “evidentemente, a aquel modo de existir en que el Dasein se mantiene
‘todos los dias’ (...). el término cotidianidad mienta um determinado cómo de la existencia: el que
domina al Dasein durante toda su vida” (HEIDEGGER, 2005, p.385).
71
quer explicitar, conforme as considerações de Heidegger em Ser e
Tempo.
tempo.
72
tempo elaboradas por Heidegger, para dar conta das inovações
82
A palavra êxtase utilizada por Heidegger em ST traz a idéia de movimento, do projetar-se para
fora de si, do dirigir-se para.
83
As três êxtases da temporalidade são, segundo Heidegger: Zukunft; na tradução chilena,
“porvenir” próprio. No texto utilizo a designação porvir, êxtase que designa o caráter futural do
73
Com a explicitação da temporalidade imprópria, da
Dasein. Gewesenheit; na tradução chilena, “haber-sido” próprio. No texto utilizo a designação sido
para a êxtase que revela o modo como Dasein já sempre é ‘lançado’ no mundo. Gegenwart; na
tradução chilena, “presente” próprio. No texto utilizo a designação presente para a êxtase que
mostra o modo em que o Dasein se apropria dos entes intramundanos sem distorções, sendo
aquilo que podem ser em sua manualidade.
84
“(....) usa-se a expressão ‘ocuparse de’[Besorgen] na presente investigação como um termo
ontológico para designar (....) o ser de uma determinada posibilidad de estar-en-el-mundo”
(HEIDEGGER, 2005, p.83). Para o termo ocupar-se, da tradução chilena, utilizamos os termos
“ocupar-se, envolver-se no mundo” ou “estar absorvido” como sinônimos.
74
do envolvimento no mundo, pois existir de modo impróprio é a sua
[Verfallen].
75
dispersa-se de si mesmo, da sua condição finita. Ou seja: Dasein se
morte.
85
“O ‘estado de resolução’ indica um modo de abertura do ‘Dasein’: Este eminente modo próprio
de la aperturidad, atestiguado en el Dasein mismo por su conciencia – el callado proyectarse en
disposión de angustia hacia el más propio ser-culpable - es lo que nosotros llamamos la resolución
[Entschlossenheit]. La resolución es un modo eminente de la aperturidad del Dasein”
(HEIDEGGER, 2005, p.314).
76
da dispersão, encontrando a si mesmo e, portanto, apropriando-se de
mundo.
4.2 Intratemporalidade
86
“O Dasein não é apenas temporal: enquanto Dasein de facto é também <no tempo>” (DASTUR,
1990, p.116).
77
o tempo a cada momento, no cotidiano, na relação com os outros;
pode contá-lo.
87
“Puesto que el Dasein existe esencialmente como arrojado y cadente, en su ocupación interpreta
el tiempo en la forma de um cómputo del tiempo” (HEIDEGGER, 2005, p.426).
78
lo, “Porque sempre só posso tomar algo que me é dá-vel [Geb-bar]”
88
Os caracteres do tempo são databilidade, interpretabilidade, amplitude temporal e estado
público. Ver Seminários de Zollikon (HEIDEGGER, 2001, p.74-75).
79
cotidiano como mera coisa, isto é, pode ser compreendido como uma
o outro.
contexto de significância.
80
Passaremos, em seguida, a descrever um outro aspecto do tempo que
totalidade do fenômeno.
é, o tempo de algum modo diz respeito a esse ente, por isso, pode
primordial, proposto por Heidegger, não seja nem o ‘contar com’ nem o
do tempo.
dirige para o fim. Mesmo que não lide com ela, na temporalidade da
89
O adiantar-se à morte diz respeito ao adiantar-se à possibilidade extrema realizada pelo Dasein
na apropriação de sua condição de ser-para-a-morte.
81
queda o Dasein sabe, de algum modo, de sua condição finita; porém,
existir, de não estar mais aí. Quando o Dasein é afetado pela sua
90
O termo futuro é utilizado como sinônimo de porvir no presente texto e indica a designação
elaborada por Heidegger do ‘adiantar-se’. “(...) El ‘antes’ y ‘anticiparse’ indican ese futuro que, en
definitiva hace posible que el Dasein pueda ser de tal manera que le vaya su poder-ser”
(HEIDEGGER, 2005, p.345).
82
condição. Contudo, cada Dasein deve encontrar-se com sua própria
91
“Sólo en la medida en que el Dasein está determinado por la temporeidad, hace posible para sí
mismo el modo propio del poder-estar-entero que hemos caracterizado como resolución
precursora” (HEIDEGGER, 2005, p.344).
83
antecipar-se-a-si mesmo [Sich-vorweg-sein] em um mundo, ocupando-
se das coisas em co-existência. Isto quer dizer que o Dasein, por sua
92
As aspas são acrescentadas por mim. A utilização da expressão ‘caráter liberador’ pretende
designar o modo próprio em que na resolução precursora é liberada, ou seja, é permitida ou
concedida a apropriação da totalidade do Dasein para ele mesmo.
84
compartilhadas no modo desencontrado de si, e coloca-o agindo por si
[Augenblick].
como cronologia.
85
possui a compreensão de ser. O tempo no cotidiano oferece ao Dasein
dimensões temporais (porvir, sido e presente); isto quer dizer que todas
93
“Los éxtasis no son simplemente salidas de sí mismo hacia..., sino que al éxtasis le pertenece
también un ‘hacia qué’ de la salida” (HEIDEGGER, 2005, p.380).
86
momentos estruturais se referem à unidade estrutural do cuidado94
94
“cuidado...: en alemán, Sorge... Tal como lo advierti el próprio Heidegger, el término Sorge
designa solamente una estrutura existencial y no un fenómeno existentivo como sería, por ejemplo,
el de la preocupación, de la inquietud o de la solicitud... El cuidado debe ser entendido en este
contexto en el sentido del conjunto de disposiciones que constituyen el existir humano: un cierto
mirar hacia delante, un atenerse a la situación en que ya se está, un habérselas con los entes en
medio de los cuales uno se encuentra” (HEIDEGGER, 2005, p.484).
95
O fenômeno da compreensão se torna temporal a partir do porvir; o fenômeno da disposição
afetiva se torna temporal a partir do sido; e a queda, a partir do presente, e o discurso não se torna
temporal por uma dada êxtase específica.
87
tempo, já que evidencia o ser todo do Dasein e, com isso, torna finita a
existência do Dasein.
elaborar desde o início dos anos 20, que toma forma na publicação de
como projeção.
tempo próprio; por sua vez, o tempo como sucessão de agoras diz
88
respeito à compreensão vulgar de tempo com origem na
intratemporalidade.
89
em última instância, como uma elaboração mais concreta da
96
“la interpretación de la historicidad del Dasein se revela, en última instancia, como una
elaboración más concreta de la temporeidad” (HEIDEGGER, 2005, p. 398).
90
Capítulo 5
91
pertencente à existência, que, junto com a morte, constituem a
Ser e Tempo
92
a compreensão ôntica e histórica no trabalho de Dilthey, que Heidegger
ontológico.
97
A discussão presente no § 77 de ST, segundo Kisiel, foi escrita por Heidegger em 1924, que
tentou publicá-la em 1926, “mas o co-editor Paul Kluckhohn expressou algumas reservas sobre a
publicação do artigo pela linguagem e pelo estilo ‘ponderous’”. Heidegger conseguiu publicar o
artigo no Husserl’s Jahrbuch, ou seja, a publicação conhecida de ST (KISIEL, 1993, p.322).
93
carecia de estabelecer objeto e método em contraposição às ciências
94
retornou à História da Filosofia para recuperar os aspectos originais e
histórica e a historiografia.
98
A palavra Geschichte “relaciona-se, para Heidegger, aos acontecimentos”. A palavra Geschichte
vem de geschehen - ‘acontecer’ (INWOOD, 2002, p.85).
99
A palavra Historie “vem do grego historien, ‘inquirir’” (INWOOD, 2002, p.85).
100
Inwood, 2002, p.83-84.
101
Inwood, 2002, p.83-85.
95
esse entendimento a partir da compreensão da historicidade ontológica
autor.
“Si el ser del Dasein es fundamentalmente histórico, resulta evidente que toda ciencia fáctica se
102
verá envuelta en este acontecer [histórico]. Pero el saber histórico presupone de un modo propio y
especial la historicidad del Dasein” (HEIDEGGER, 2005, p.407).
103
A tríplice dimensão do tempo é composta pelo futuro, ter sido e presente. As dimensões do
tempo referidas estão presentes na obra Ser e Tempo, de Heidegger.
104
Stein, 2002, p.45.
96
historicidade é o modo pelo qual o Dasein viabiliza sua existência no
historicidade do Dasein
97
pertinência entre tais estruturas na exposição de Heidegger, em Ser e
considerado.
98
começo da análise do Dasein, a plena visão do caráter ‘circular’
deste (HEIDEGGER, 2005, p.334)105.
105
“Los esfuerzos debieran dirigirse, más bien, a saltar de un modo originario y pleno dentro de este
‘círculo’, para asegurarse, desde el comienzo del análisis del Dasein, la plena visión del caráter
circular de éste” (HEIDEGGER, 2005, p.334).
106
“En su ser fáctico, el Dasein es siempre como y ‘lo que’ ya ha sido. Expresa o tácitamente, él es
su pasado.Y esto no sólo en el sentido de que su pasado se deslice, por así decirlo, ‘detrás’ de él y
que el Dasein posea lo pasado como una propiedad que esté todavía ahí y que de vez en cuando
vuelva a actuar sobre él” (HEIDEGGER, 2005, p.43-44).
99
estruturas, ou seja, um fenômeno que se mostra como uma espiral;
pensamento de Heidegger.
107 ª
Gadamer, em seu livro Verdade e Método (2003, 5 edição), descreve a importância do método
fenomenológico hermenêutico de Heidegger tanto para um novo caminho para a Fenomenologia
quanto para o estudo da hermenêutica. O existencial da compreensão oferece uma nova
perspectiva de entendimento para a construção do método e do objeto na Analítica do Ser em Ser
e Tempo.
108
Importante ressaltar que o termo tradição é utilizado em Ser e Tempo como “Tradition (que
vem do latim traditio) entrega, transmissão; que tende a ser obscura e está associada com
Destruktion”. A desconstrução compreende um aspecto do método hermenêutico elaborado por
Heidegger para constituir o que chamou de ontologia fenomenológica. E utiliza o termo como
“Tradere transmitir a posse, ceder, no alemão Überlieferung tende a promover possibilidades e
está associada com a reiteração. DasÜberlieferte, ‘o que nos é transmitido’, é um dos significados
de geschichtlich, ‘histórico’. Também utiliza Erbe e Erbschaft, ‘herança’” (INWOOD, 2002, p.189).
Nesse contexto, tradição significa: “Herança cultural, transmissão de crenças ou técnicas de uma
geração para outra. No domínio da filosofia, o recurso à Tradição implica o reconhecimento da
verdade da Tradição, que, desse ponto de vista, torna-se garantia de verdade e, às vezes, a única
possível” (ABBAGNANO, 2000, p.966).
100
origens dos conceitos discutidos na metafísica, quanto para a
101
O elemento da compreensão demonstra a totalidade que perfaz as
Dasein.
indissolúvel com o mundo, logo, esse ente não fala fora da história, mas
102
Dasein pertence a uma comunidade, a um povo, pois sua condição
solicitude [Fürsorge]109.
109
O modo da Fürsorge (no alemão) no castelhano solicitude significa “preocupación-por (los
demás)”, nota da tradução chilena de Ser e Tempo, 2005. Fürsorge (preocupação ou solicitude) é
descrito por Heidegger “como o modo básico de ser do Dasein como ser-um-com-o-outro”
(INWOOD, 2002, p.26).
110
“La apertura — implicada en el coestar — de la coexistência de otros, significa: en la
comprensión de ser del Dasein ya está dada, puesto que su ser es coestar, la comprensión de
otros” (HEIDEGGER, 2005, p.148).
103
O cuidado é o existencial que sustenta o Dasein como ser-no-
mundo, é o modo pelo qual ele instala sentido para habitar o mundo,
visto que sua condição de estar lançado no mundo para o seu poder-ser
111
Providenciar: prover, atender.
104
tempo é no modo da impropriedade, desencontrado de si mesmo,
originário escapa.
105
O ser do Dasein foi definido como cuidado. O cuidado se funda
na temporalidade. Por conseguinte, devemos buscar dentro do
âmbito desta um acontecer que determine a existência como
histórica. Desta maneira, a interpretação, a historicidade do
Dasein se revela, em última instância, como uma elaboração
mais concreta da temporalidade (HEIDEGGER, 2005, p.398)112.
112
“El ser del Dasein ha sido definido como cuidado. El cuidado se funda en la temporeidad. Por
consiguiente, debemos buscar dentro del ámbito de ésta un acontecer que determine a la
existencia como histórica. De esta manera, la interpretación de la historicidad del Dasein se revela,
en última instancia, como una elaboración más concreta de la temporeidad” (HEIDEGGER, 2005,
p.398).
106
fenômeno — o nascimento. A morte e o nascimento conjuntamente
na existência.
113
Nota do tradutor (referente à p.391) “(....)existe nativamente [gebürtig]...’. Como se vê,
Heidegger emplea aquí la palabra gebürtig en um sentido adverbial. Gebürtig, proveniente de
Geburt, que significa nacimiento, se traduce habitualmente por ‘natural de’ (....) Que el Dasein
exista nativamente quiere aquí que su nacimiento no es un mero hecho ‘ histórico’, es decir, algo
del pasado, sino más bien algo que afecta a su existencia en todo momento: la existência humana
es vivida siempre como uma ‘existencia nacida’, es decir, como uma existencia que tiene detrás de
ella, sosteniéndola, su próprio nacimento. No se trata de que ‘sepamos’ de esto porque otros nos
dicen que algún día nacimos, sino que experimentamos la existência como ‘nascida’ y como
‘muriente” Nota de Rivera acerca de (HEIDEGGER, 2005, p.496).
“En la unidad del estar arrojado y del estar vuelto rehuyente o precursantemente hacia la muerte,
114
107
Enquanto unidades existenciais e temporais, o nascimento e a
história.
temporalidade própria.
108
outros que acontece no mundo. O mundo e os entes presentes nesse
compreensão da historicidade.
próprio.
Envolvido com seus afazeres, com as coisas que precisa comprar, com
109
e acontecimentos que transcorrem no dia-a-dia: “O Dasein cotidiano
115
“El Dasein cotidiano está disperso en la multiplicidad de lo que ‘pasa’ diariamente”
(HEIDEGGER, 2005, p.405).
116
“ El Dasein impropiamente existente sólo contabiliza su historia a partir de lo que es objeto de
ocupación” (HEIDEGGER, 2005, p.405).
110
várias possibilidades que circulam no dia-a-dia, encobrindo sua história
impropriedade.
legado.
“La resolución, en la que el Dasein retorna a sí mismo, abre las possibilidades fácticas del existir
117
propio a partir del legado que ese existir asume en cuanto arrojado” (HEIDEGGER, 2005, p.399).
111
Ao assumir o legado de modo autêntico, na resolução precursora,
112
precisamente, o modo próprio da historicidade do Dasein
(HEIDEGGER, 2005, p.402)118.
constituir a história. Não podemos, nem para efeito didático, efetuar tal
118
“(....) al acontecer que tiene lugar en la resolución precursora, hemos definido como historicidad,
lo llamamos, más precisamente, el modo propio de la historicidad del Dasein” (HEIDEGGER, 2005,
p.402).
113
consideração, pois esta seria uma construção artificial, considerando-se
a ontologia heideggeriana.
finito que advém do futuro. Assumir sua condição de ser e estar lançado
119
Na tradução chilena de ST, para Widerholung o autor utilizou repetição; no texto utilizo o termo
reiteração como sinônimo de repetição.
114
repetida que o indivíduo faz de si mesmo e de sua tarefa” (ABBAGNANO,
115
aproprie-se de si quando se compreende a partir da projeção de
não é o que passou, o que não vigora ou o passado que faz parte da
116
futuro. “A reiteração revela ao Dasein pela primeira vez sua própria
122
“La repetición le revela al Dasein por primera vez su propia historia” (HEIDEGGER, 2005, p.402).
117
como também quebrou a primazia do passado, quando incorporou a
contato vivo com a herança deixada pela tradição, ou seja, o Dasein não
118
A explicitação da historicidade própria e imprópria revelou o modo
Dasein.
119
Considerações Finais
exposição.
aberto para o ser e, deste modo, deve guiar tal questão. A proposta de
120
um problema epistemológico ou de questões éticas. A vida [Leben] é
Ser e Tempo para elaborar a questão do ser; a outra tarefa, que ocorreu
121
compreensão da história, de epistemológica para ontológica-
hermenêutica.
própria filosofia.
122
não representa o passado acabado, mas o ‘acontecido’, isto é, algo que
123
Acerca do esquecimento do ser podemos verificar os primeiros esboços nos parágrafos iniciais
de ST.
123
histórica do ser; o acontecer histórico do Dasein não capta o tempo
Tempo.
124
Referências Bibliográficas:
125
GADAMER, H.G. Verdade e Método I. Trad. Flávio Paulo Meuer.
Petrópolis, Vozes. 2003
126
HEIDEGGER. O Conceito de Tempo. Cadernos de Tradução. São Paulo,
Departamento de Filosofia da USP. n.2, p. 7-39, 1997.
127
NELSON, E.S. Questioning Practice: Heidegger, Historicity and the
Hermeneutics of Facticity. In: Philosophy Today 44: 150-159, ed. W.
Brogan & M.Simons. 2001.
______. Heidegger & Ser e Tempo. Rio de Janeiro, Jorge Zahar. 2002.
128
STEIN. Introdução ao Pensamento de Martin Heidegger. Porto Alegre,
EDIPUCRS. 2002.
129