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ANDERSON C. TRIACCA
CAXIAS DO SUL
2017
ANDERSON C. TRIACCA
CAXIAS DO SUL
2017
RESUMO
RESUMO............................................................................................................ 3
ABSTRACT ........................................................................................................ 4
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 5
1 - CAMINHOS DA PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA .......................................... 8
1.1 - A DEPENDÊNCIA DA TÉCNICA ............................................................... 8
1.2 - A PSICOLOGIA E A CIÊNCIA DO SÉC. XVIII ......................................... 10
1.3 - OS VETOS KANTIANOS ......................................................................... 13
1.4 - RESPOSTA AOS VETOS E EMANCIPAÇÃO DA PSICOLOGIA ............ 15
2 - HEIDEGGER E A CIENTIFICIDADE DA PSICOLOGIA.............................. 18
2.1 - O DASEIN E A REPRESENTAÇÃO ........................................................ 18
2.2 - O CONCEITO FENOMENOLÓGICO DE FENÔMENO ........................... 19
2.3 – AS CRÍTICAS DOS SEMINÁRIOS DE ZOLLIKON ................................. 21
3 - O MODELO DA PSICOLOGIA ANALÍTICA ................................................ 26
3.1 - A PSICOLOGIA DAS GEISTWISSENSCHAFTEN .................................. 26
3.2 - O CONCEITO DE ARQUÉTIPO............................................................... 28
3.3 - OS MOLDES DO MUNDO ....................................................................... 30
3.4 - UMA PSICOLOGIA HEIDEGGERIANA? ................................................. 31
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 36
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 38
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INTRODUÇÃO
1
Pulsão é sempre uma tentativa de explicação. Entretanto, não se trata de uma
tentativa de explicação, mas é preciso observar, em primeiro lugar, o que é mesmo o
fenômeno que se quer explicar e como ele é. Tenta-se sempre explicar por pulsões algo
que, para começar, nem se viu. As tentativas de explicação de fenômenos humanos a
partir de pulsões têm o caráter metódico de uma ciência, cuja matéria não é o homem, mas
sim a mecânica. Por isso, é fundamentalmente discutível se um método tão determinado
por uma objetividade não-humana pode mesmo ser apropriado para afirmar o que
quer que seja sobre o homem enquanto homem. (HEIDEGGER, 2013, p.211).
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Isto é, a coisa foi objetificada pela representação e pela indústria e comércio. Tudo é
descartável e provisório, tudo pode ser mensurado em termos de utilidade ou monetariamente.
A coisa já não mais se manifesta como coisa em sua coisidade, em sua originalidade. Por isto,
não mais reúne, não mais indica, em sua originalidade, o simples. (HEIDEGGER, 2002, p.143).
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A psicologia, desde o seu nascimento oficial como ciência independente, vive, ao lado de
outras ciências humanas, umas crise permanente. Esta crise se caracteriza pela extraordinária
diversidade de posturas metodológicas e teóricas em persistente e irredutível oposição.
(FIGUEIREDO, 2008, p. 11).
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A Segunda Revolução Industrial possui várias características que a diferenciam da
Primeira. Uma delas foi o papel assumido pela ciência e pelos laboratórios de pesquisa,
com desenvolvimentos aplicados à indústria elétrica e química, por exemplo. Surgiu
também uma produção em massa de bens padronizados e a organização ou administração
científica do trabalho, além de processos automatizados e a correia transportadora.
Concomitantemente, criou-se um mercado de massas, principalmente e em primeiro lugar
nos EUA, com ganhos de produtividade sendo repassados aos salários. Por fim, houve
um grande aumento de escala das empresas, via processos de concentração e
centralização de capital, gerando uma economia amplamente oligopolizada.
(HOBSBAWM, 1983, p. 160-5).
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O rápido avanço técnico fez com que tal visão de ciência fosse
confrontada em busca do estabelecimento da Psicologia como ciência
independente da Filosofia, e no intervalo de um século os três vetos já haviam
sido superados e a Psicologia se estabeleceria como ciência independente.
E por fim o terceiro veto é resolvido por Gustav Fechner, que postula em
seu elementos de psicofísica de 1860 a primeira lei matemática da Psicologia:
a lei das diferenças apenas percebidas (Lei Weber-Fechner), que estabeleceu
uma fórmula matemática que relacionava os fenômenos físicos aos psíquicos e
viabilizava o uso de cálculo na análise das sensações medindo as respostas
causadas por seus estímulos.
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Cabe ressaltar que nem todos os teóricos da psicologia se renderam ao paradigma
mecanicista, cabendo apontar ao menos Wundt (o fundador da psicologia científica) como um
exemplo de psicologia que levou em conta tanto o modelo das naturwissenschaften (em sua
psicologia experimental) quanto o das geisteswissenschaften (em sua psicologia social), dentro
outros tais como William James. Porém nenhum deles foi capaz de dar conta de todos os
modos de ser do Dasein, indo de encontro ao pensamento que posiciona a Psicologia como
uma ciência em constante construção.
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“(...) paradigmas são as realizações cientificas universalmente reconhecidas que, durante
algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes
de uma ciência.” (Kuhn, 1991, p.13).
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Assim sendo, o ser não pode ser delimitado, mas precisa ser desvelado,
e isso acaba por implodir as bases de todas tentativas de uma psicologia
científica baseadas unicamente nos fenômenos vulgares observáveis, que tem
por base uma representação delimitada espacial e temporalmente. Neste caso
a crítica não se direciona apenas a uma corrente psicológica específica (apesar
de em alguns momentos fazer menção direta a conceitos de Freud, tais como
trieb), mas sim a metapsicologia que está subjacente às visões de mundo e de
ser humano que são o ponto de partida das psicologias científicas domintantes
da época:
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“Quando [...] uma anomalia parece ser algo mais do que um novo quebra-cabeça da ciência
normal, é sinal de que se iniciou a transição da crise para a ciência extraordinária. A própria
anomalia passa a ser mais comumente reconhecida como tal pelos cientistas. Um número
cada vez maior de cientistas do setor passa a dedicar-lhe uma atenção sempre maior. Se a
anomalia continua resistindo à análise (o que geralmente não acontece), muitos cientistas
passam a considerar sua resolução como o objeto de estudo específico de sua
disciplina. [...] Nenhuma dessas articulações será igual; cada uma delas será bem sucedida,
mas nenhuma tão bem sucedida para que possa ser aceita como paradigma pelo grupo.
Através dessa proliferação de articulações divergentes (que serão cada vez mais
frequentemente descritas como adaptações ad hoc), as regras da ciência normal tornam-se
sempre mais indistintas. A esta altura, embora ainda exista um paradigma, constata-se que
poucos cientistas estarão de acordo sobre qual seja ele. Mesmo soluções-padrão de
problemas que anteriormente eram aceitas passam a ser questionadas”. (KUHN, 1991, p. 113 -
114).
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Temos algumas poucas exceções que devem ser mencionadas, tais como
William James,Wilhelm Wundt e Carl Jung, que influenciados pelo romantismo
alemão e pelos trabalhos de Dilthey, buscaram caminhos de aplicação dos
modelos interpretativos das ciências humanas (geisteswissenschaften) junto
com o uso dos já conhecidos modelos experimentais que eram usados em
laboratórios e consultórios.
Tratarei da obra de Jung unicamente por julgar que a mesma, além de
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Para Kant espaço e tempo são as formas através das quais a coisa em
si se molda à experiência consciente, sendo seguro afirmar que ele considera a
coisa em si quantitativamente superior à mera representação de nosso
conhecimento, tal qual Jung e Platão. Porém, como vimos anteriormente, Kant
considera impossível a existência de uma ciência da alma que fosse capaz de
estudar o horizonte de toda experiência possível, reduzindo a visão de homem
para algo cientificamente mensurável. Jung vai além e reinventa o modelo de
ciência para que o mesmo dê conta do homem dentro de todas as dimensões
em que nós o conhecemos, resultando numa visão muito mais completa e útil
para as ciências e para a Filosofia, e não refém do paradigma representacional.
homem proveniente dos estudos de Heidegger, pois ambos buscam fugir das
limitações que a tradição metafísica legou em formato de leis científicas que
nunca deram conta da totalidade do homem. As visões de Heidegger sobre a
técnica como grande culpada das patologias objetivas do séc. XX convergem
com as ideias de Jung de que a modernização da civilização afastou o homem
de suas vontades naturais e por causa disso é culpada de suas patologias
subjetivas.
Aquilo que chamamos de consciência civilizada não
tem cessado de afastar-se dos nossos instintos
básicos. Mas nem por isso os instintos
desapareceram: apenas perderam contato com a
consciência, sendo obrigados a afirmar-se de maneira
indireta. Podem fazê-lo através de sintomas físicos,
como no caso de uma neurose, ou por meio de
incidentes de vários tipos, como humores
inexplicáveis, esquecimentos inesperados e lapsos de
palavra. (JUNG, 2008, p. 104).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
prática terapêutica. Em outra carta vai mais longe ao afirmar que as ideias dele
são incompreensíveis e que a filosofia do séc. XX “merece algo melhor que
Heidegger como seu último representante”.
Não encontrei referências mais tardias a obra de Heidegger nos materiais
a que tive acesso de Jung, e levando em conta as mudanças pelas quais
passou seu pensamento após o período das cartas (1906 a 1945), acredito que
o mesmo mereceria uma revisita a partir das ópticas desenvolvidas pelas fases
mais maduras de sua filosofia, e alguns dos argumentos são as bases
fundamentais que formaram este trabalho, mostrando que mesmo verbalmente
se colocando contra as ideias iniciais de Heidegger (talvez influenciado pelas
errôneas posturas políticas na época dos comentários da cartas), do ponto de
vista epistemológico o pensamento maduro de Jung converge para uma visão
de homem ampla e que critica as mesmas matrizes científicas da metafísica
que o filósofo da floresta negra tomou como missão de vida destruir.
O desenvolvimento da técnica desconectou o homem de seus
arquétipos fundamentais, porém o inconsciente ainda necessita dessa conexão
para seu pleno desenvolvimento, fazendo com que tal perda acarrete em
neuroses coletivas culturais, baseadas em mitos artificiais criados pela
sociedade de consumo para manipular as massas em nome de seus
interesses, gerando assim uma sociedade superficial e dominada pelas coisas
produto que se tornam cada vez hegemônicas e distantes das coisas mesmas.
A obra de ambos abre amplos e novos caminhos para o desenvolvimento
do conhecimento, representando nova visão de ser humano e resultando em
uma necessidade de atualização das ciências que se encontram ainda
baseadas nos antigos paradigmas mecanicistas, que limitam a observação de
homem à algo que ele não é, cabendo a Heidegger a abertura de uma nova
compreensão antropológico-filosófica de homem e a Jung a comprovação
empírica de que tal visão não se encontra nada distante da nossa realidade
factual.
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REFERÊNCIAS