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P e n s a n d o a f s ic o lo g ia a p lic a d a à-JusIiça

Esther Maria de Magalhães Arantes

Talvez a crítica mais contundente dirigida à Psicologia


tenha sido a form ulada p o r G e o r g e s C a n g u i l h e m , em confe­
rência realizada no Collège Pkilosophique, em dezem bro de 1956.'
À pergunta inicial “O que é Psi- _
coloria?” segue-se “Q uem desig-
° , . ^dorrâasjdé^
n a os p sic ó lo g o sco m o ínstru-
m entos do m strum entalism o? ,
,. fttoritémporâricÒkv.S^
num a apreciação cntica tanto da fyyyamós^enc^
_________ ? _ J _ _! _i-_!-Cl _ J J _ J . J ^

Psicologia como do próprio


zer do psicólogo.
r O Este buscaria,
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i£io rflc' Janeiro:
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n u m a . eíicacia discutível, a sua i -..í'^ 1
im portância de especialista. N o entanto, e aí está o que de fato
deve nos preocupar n a argum entação de Canguilhem , esta efi­
cácia, ainda que m al fundada, não é ilusória.
Ao dizer da eficácia do psicólogo que ela é discutível, não
se q u e rd iz e r que ela é ilusória; quer-se simplesmente ob­
servar que esta eficácia está 'sem dúvida m al fundada, en­
quan to não se fizer p ro v a de que ela é devida à aplicação
de um a ciência, isto é, en q u an to o estatuto d a psicologia
n ão estiver fixado de tal m an eira que se deve considerá-la

1 U m a tradução de Qu’est-ce que la psychologie?, d e G eorges C an guilhem , foi


pu b licad a no Brasil com o título “O q u e é a psicologia?” . In Epistemologia, 2.
R io de Janeiro: T e m p o Brasileiro, n. 3 0 / 3 1 , jú l./d e z ., 1972.

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B IB U O T E C A U N IVE R SIT Á R IA j
! PROF R O G ER PATT1 j
como mais e m elhor do que um empirismo com posto, lite­
rariam ente codificado p a ra fins de ensinam ento. D e fato,
de muitos trabalhos de psicologia, se tem a im pressão de
que misturam a um a filosofia sem rigor um a ética sem exi­
gência e um a m edicina sem controle (Canguilhem , 1972:
104-105). ■

O objetivo de Canguilhem nesta conferência foi o de


criticar o program a universitário de seu colega de Ecole Normal
Supérieure, Daniel Lagache, que postulava a unificação dos dife­
rentes ramos da Psicologia, afirmando haver convergência en­
tre a Psicologia experimental, dita “naturalista” e a Psicologia
clínica, dita “hum anista” .2
A questão “Q ue é psicologia?”, pode-se'responder fazendo
aparecer a unidade de seu domínio, apesar d a m ultiplici­
dade dos projetos metodológicos. É a este tipo que perten­
ce a resposta brilhantem ente dada pelo Professor D aniel
Lagache, em 1947, a um a questão colocada, em 1936, p o r
E douard C laparède. A unidade da psicologia é aqui p ro ­
curada na sua definição possível como teoria geral da con­
duta“ síntese da psicologia experim ental, d a psicologia
clínica, da psicanálise, da psicologia social e d a etnologia.
O bservando bem, no entanto, se diz que talvez esta un id a­
de se parece mais a um pacto de coexistência pacífica con­
cluído entre profissionais do que a um a essência lógica,
obtida pela revelação d e'u m a 'constância n úm a variedade
de casos (Canguilhem, 1972: 105-106).

Continuando suas crídcas à Psicologia, C anguilhem , que


aceitara ser o relator de Historie de la folie , tese de doutorado
defendida por M ichel Foucault em 196T, não poupou Lagache,
m ostrando que a pesquisa desenvolvida por Foucault fazia des­
m oronar o grande projeto de unidade da Psicologia (Roudinesco,

2 VU nilê de la Psychologie, Aula Inaugural ministrada por D an iel L agache na


Sorbonne em 1947 e publicada pela P U F , Paris.

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1994: 15-16). Apesar das críticas de Canguilhem e de outros
àutóres, entre os quais Jacques Lacan, a proposta de Lagache
teve am pla repercussão ria França do pós-guerra.
Em dezem bro de 1980, num a conferência intitulada Le
ceroeau et la pensêe, Canguilhem voltou a criticar a. Psicologia,
desta vez por reduzir o pensam ento ao funcionam ento cere­
bral. A firm ando que a Filosofia nada tem a esperar dos servi­
ços da Psicologia, conclam ou os filósofos das novas gerações a
resistirem à “calam idade” psicológica. D iante de críticas tão
duras, Roudinesco observou que, nesta conferência, C angui­
lhem não havia se preocupado em distinguir as querelas e discor-
dâncias internas à própria Psicologia, fazendo um a crítica em
bloco a saberes m uito diferenciados (Roudinesco, 1993). Com o
o próprio Canguilhem havia dito na conferência de 1956, não
há unidade na Psicologia.3 U.
M esm o assim, e ainda se perguntando se não haveria-:
um a certa obstinação por parte de Canguilhem em dem olir os c:
alicerces nos quais se fundam entam a Psicologia, Roudinesco-^
presta um a hom enagem “a um dos m aiores filósofos do nosso
tem po”, reconhecendo a pertinência e a atualidade de suas crí­
ticas, principalm ente porque, segundo a autora, um a a lia n ç a '
vitoriosa entre o organicismo biológico e genético, a ciência da
m ente e a tecnologia estaria ganhando terreno, em tódos os
cam pos do saber.
(...) até o ponto de fazer em ergir u m a nova ilusão cientifi-
cista segundo a qual a intervenção cada vez mais ativa da
ciência no cérebro h um ano p erm itirá conduzir o hom em
à im o rta lid a d e , ou seja, à cu ra d a condição h u m a n a
(Roudinesco, 1993: 144).

N ão advindo, desta form a, a cientificidade da Psicologia


de sua m era rotulação como ciência, seja natural, social ou

3 M ais ad eq u ad o seria falar de Psicologias?


hum ana, ou ciência pura ou aplicada; nem de sua adjetivação
com o Psicologia Jurídica, Social ou Escolar; ou ainda de sua
definição com o estudo da alm a, do psiquismo, da conduta ou
d a subjetividade; sequer do uso de m edidas, restaria à Psicolo­
gia, em geral, e à Psicologia Ju ríd ica, çm _pafticular,-sèrem —
pensadas apénas com o técnicas ou ideologias?
Em prefácio ao livro de, Lei Ia M aria T. de Brito, que
versa sobre a atuação do psicólogo em V aras de Família, escre­
vera o que ainda considero central em se tratando de pensar a
Psicologia Jurídica, e que aqui relem bro em parte (Arantes,
1993).
A indagação form ulada pela autora: “V aras de família:
u m a questão p a ra psicólogos?”,, questão que deve ser entendi­
da tanto como lugar de prática, como prática a ser pensada,
ponderei que se podia responder de diversos modos: sim, se
considerarm os um m ercado de trabalho potencial ou em ex­
pansão p a ra o qual existe, inclusive, justificativa legal; não, se a
um D ireito autoritário e burguês contrapom os um a Psicologia
libertária, exterior ao próprio Direito; outra possibilidade é
considerar a Psicologia com o parte do problem a e, deste m odo,
redesenhar a questão.
N a realidade, a pergunta form ulada p o r Brito, como no
texto de Canguilhem , desdobra-se em várias outras, sendo que
um prim eiro grupo diz respeito a um a problem atização que
podem os cham ar de epistemológica: o que é a Psicologia apli­
cada à ju s d ç a ou Psicologia Jurídica, quais são os seus concei­
tos, em que se fundam enta sua pretensão de prádca científica?
E m artigo dedicado a pensar as Ciências Sociais e a Psi­
cologia Socialj T hom as H erb ert ;(1972) pondera que colocar a
um a ciência as questões “quem és tu ”?, “por que estás aqui?”
e “quais suas intenções?” pode parecer im pertinência à qual
ela tenderia a responder que “está aqui porque existe” e q uan­
to às suas intenções “ela não as tem ” mas apenas “problem as a
resolver”. N o entanto, considera im portante a distinção feita

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por Louis Althusser entre ciência desenvolvida e ciência em
constituição. N a ciência desenvolvida o objeto e o m étodo são
hom ogêneos e se engendram reciprocam ente, o que não acon­
tece com as ciências em desenvolvimento, como a Psicologia.
-Uma-coisa-é-a-tr-a-nsformaçâ© -pr-odutor-a-do-obj eto-cientifico,
outra, a reprodução m etódica deste objeto, que só pode acon­
tecer, rigorosam ente falando, se uma. transform ação produtora
deste objeto já foi realizada. Quanto, à função dos instrum en­
tos, ela não é a m esm a em cada um destes tempos da ciência.
Exem plificando esta diferença, lembra-nos H erbert a transfor­
m ação que a balança sofreu após o advento da Física moderna.
F o ra de seu papel técnico-com ercial, ela servia para inter­
rog ar toda a superfície do real empírico', pesava-se o san­
gue, a urina, a lã, o a r atmosférico etc... e os resultados
forneciam a “realização do real” sob diversas formas bio­
lógicas, m etereológicas etc...
Esta vagabundagem do instrum ento foi detida pelo m o­
m ento galileano, que lhe designou, no interior da ciência
nascente, u m a função nova, definida pela teoria científica
m esm a. ' ,
Isto nos designa o duplo desprezo que não deve ser come­
tido: declarar científico todo uso dos instrum entos, esque­
cer o papel dos instrum entos na prática científica (Herbert,
1 9 7 2 : 31).

Postas estas colocações iniciais, resta dizer que este é um


prim eiro conjunto de questões e que se apresenta como perti­
nente apenas a p artir da reivindicação de cientificidade da Psi­
cologia, e à qual C anguilhem e H erbert, nos textos acim a
m encionados, se.dedicam . N a realidade; mais do que copiar o
m odelo de cientificidade da Física, da Quím ica ou da Biologia,
espera-se que as Ciências H um anas desenvolvam algum tipo
de rigor próprio, adequado ao seu cam po de investigação.
U m segundo conjunto diz respeito a um a Arqueologia e
a um a Genealogia dos saberes sobre o homem, seguindo as
indicações de M ichel Foucault. Isto porque, mesmo do ponto

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de vista de um a certa leitura epistemológicaj no caso aqui as
de Canguilhem e T hom as H erbert, não se trata de negar à
Psicologia, Jurídica ou não, um a existência de fato c um a qual­
quer eficácia. Trata-se, então, de. saber como e porque este
cam po se constituiu, quais os seus procedim entos e de que
natureza é a sua eficácia. Não devemos nos esquecer que as
análises Genealógicas perm itiram a Foucault identificar as p rá ­
ticas jurídicas, ou judiciárias/com o das mais im portantes na
emergência das formas modernas de subjetividade, e que a partir
do século XIX, mais do que punir, buscar-se-á a reform a psi­
cológica e a correção m oral dos indivíduos (Foucault, 1979).
Este segundo conjunto de questões diz respeito, então, a tudo
aquilo que faz com que a Psicologia Jurídica exista como p rá ­
tica em um a sociedade como a nossa, independentem ente de
seu estatuto epistemológico. Corno nos ensinou R oberto M a­
chado, as análises arqueológicas e genealógicas não se norteiam
pelos mesmos princípios que a história epistemológica (M acha­
do, 1982). -
No cáso específico da atuação dos psicólogos em V aras
de Família, de acordo com a pesquisa de Brito já m encionada,
e para continuar utilizando o mesmo fio condutor, constatou-
se o predom ínio das atividades de perícia nos casos de separa­
ções litigiosas, onde havia disputa .pela .guarda dos filhos.
Sabemos que a perícia tem sido um dos procedim entos
mais utilizados na área jurídica, tendo por objetivo fornecer
subsídios p ara a tom ada de um a decisão, dentro do que impõe
a'lei. Em.algumas áreas da justiça a perícia pode ser solicitada
para averiguação de periculosidade, das condições de discerni­
mento ou sanida.de mental das partes em litígio ou em julgamento.
Em bora não possamos rigorosamente dizer de que se
trata quando nos referimos, como psicólogos, a categorias como
estas, pelo rrienos do ponto de vista de uma. ideologia jurídica,
algo da ordem do objeto está apontado. No caso de V aras de
Família, não se trata, pelo menos em princípio, de exam inar

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algum a periculosidadc, algum a ausência ou prejuízo da capa­
cidade cie discernim ento ou sanidade mental. Com o pano de
fundo temos o casal em dissolução e em disputa pela guarda
dos filhos, cada um instruído no processo por seus respectivos
advogados. Sabemos que muitas das alegações p a ra a guarda
dos filhos tem sido im putações de infidelidade, desvios de con­
duta, uso dc drogas, doenças ou mesmo a de possuir o outro
cônjuge m enor renda, trabalhar fora de casa ou não trabalhar,
ou ainda possuir m enor escolaridade.
É sobre tais alegações, motivo da disputa, que trabalha«
rá o juiz, form ulando quesitos a serem investigados pelo perito,
que de certa form a com provará ou não as alegações, form u­
lando um a verdade sobre os sujeitos.
C om o resultado da perícia um a das partes tenderá a ser
apontada como aquela que reúne as melhores condições para-^
a guarda dos filhos, já que tanto o pedido do juiz como a lógi-
ca do processo se dirige e mesmo impõe esta direção. Enganamo-
nos todos ao acreditar que a verdade vem à luz e que se faz .
justiça nesse processo. O resultado parece ser, inevitavelmente,
a fabricação dc um dos cônjuges como não-idôneo, m oralmente
condenável ou, pelo menos, tem porariam ente m enos habilitado. -
N ão se trata, evidentem ente, de lançar aqui um a dú v id a'
generalizada sobre os diversos tipos de perícia e seus usos p e la '
Justiça; tam bém não se trata de negar o sofrim ento ou levantar
suspeitas sobre a sinceridade com que os genitores form ulam
suas queixas, em bora, aqui e aü, os advogados orientem a dire­
ção e a form ulação das alegações, conhecedores que são dos
juizes e das regras, e em bora, vez ou outra, as partes estejam
igualm ente preocupadas com os filhos e o patrim ônio.
Podem os não saber como resolver problem as tão difícil
como este,4 podem os m esm o adm itir que em certos casos e em

4 “C o m o os pais se c o lo ca m frente aos filhos? e C o m o os filhos de colocam


ccrtas circunstâncias um dos progenitores encontra-se em m e­
lhores condições p a ra o exercício responsável da guarda dos
filhos, m as que não se reduza u m a questão tão delicada como
esta aos seus m eros aspectos gerenciais. Pelo m enos, não em
nom e das crianças.5 ~ : ' ~
Seria sábio, neste m om ento, dar mais ouvidos ao filósofo,
que ao adm inistrador: "O nde, querem chegar os psicólogos,
fazendo o que fazem ?” (Cangúilhem , 1972: 122).

A prática dos laudos, pareceres e relatórios técnicos

Constata-se, no exercício profissional dos psicólogos no


âm bito judiciário, a predom inância das atividades de confec­
ções cle laudos, pareceres e relatórios, no pressuposto de que
cabe à Psicologia, neste contexto, um a atividade predom inan­
tem ente avaliativa e de subsídio aos magistrados.
Este pi'essuposto, em bora defendido em textos clássicos
de Psicologia (Jacó-Vilela, 2000) e 1'egulam entado pela legisla­
ção brasileira, tem causado m al-estar entre a nova geração de
psicólogos, que preferiria ter de si um a im agem m enos com ­
prom etida com a m anutenção da ordem social vigente, consi­
d erad a injusta e excludente. Este m al-estar tem sido crescente,
possibilitado, dentre outras razões, pelo advento1de um a litera­
tu ra crítica, dem onstrando que a questão da interseção da Psi­

frente aos pais?” é a questão m ais difícil e central, segun do Pierre L egendre
(1992), q u e todos os sistem as institucionais do planeta devem resolver histó­
rica, p olítica e ju rid icam en te, pois é ai que o princípio da vida está ancora­
do. O u seja: co m o ordenar o p od er genealógico? Q u a l a relação entre o
D ireito e a vida?
5 A C o n v en çã o internacional dos D ireitos da C riança, dc 1989, dispõe sobre
o direito da criança ser ed u cad a por pai e m ãe. A este respeito ver: Brito,
1999.

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cologia com o Direito não diz respeito apenas ao bo.m ou m au
uso da técnica, à habilidade ou não do perito.
(...) deve-se reco n h ecer que o psicólogo contem porâneo é,
n a m aioria das vezes, um p rático profissional cuja “ciên-
------- ;------- eia—é-totalm ente-inspirada nas “leis” da adaptação a um
m eio sociotécnico - e não a u m m eio natural - o que con­
fere sem pre a estas operações de "m edida” um a significa­
ção de apreciação e um alcance de perícia. (Canguilhem ,
1972: 121) ■
P a ra C anguilhem , ao buscar objetividade, a Psicologia
transform ou-se em instrum entalista, esquecendo-se de se situar
em relação às circunstâncias nas quais se constituiu.
E m b o ra esta observação de Canguilhem se refira apenas
à Psicologia, ela pode ser estendida a outras áreas. Ao discor­
rer sobre a m odernidade, José Am érico Pessanha afirm a ser
um a de suas características a opção p o r um certo tipo de ra­
zão, ou conhecim ento científico, de natureza operante ou ins­
trum ental, capaz de dom inar e m odificar o meio físico. M enos
m al, talvez, se este tipo de racionalidade tivesse se lim itado
apenas a certos usos e a certos propósitos, e não tivesse a p re­
tensão de se constituir com o único m odo legítimo e verdadeiro
de leitura do m undo.
(...) q u an d o o O cidente, através de D escartes e de Bacon,
fez a escolha p o r u m a form a de cientificidade e deixou de
lado tudo que fosse dotado de algum a am bivalência, dei­
xou de lado tam bém as cham adas idéias obscuras. Com
isso tam bém deixou de lado tudo o que n a condição h u ­
m an a é ligada ao corpo, ao tem po, à história e à concretude
(Pessanha, 1993: 26). ■ ‘
N ão se tra ta de negar validade ao m odelo das Ciências
da N atureza ou à M atem ática, m as apenas de reconhecer que
as Ciências H um anas e Sociais não podem se reduzir ao dis­
curso coagente da razão abstrata, pretendendo a produção de
verdades a-históricas e universais. O fecham ento da razão a

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dem aos vários setores da vida pessoal e social, levando Gastei
a fazer à Psiquiatria pergunta similar à feita por Canguilhem à .
Psicologia: “Sem dúvida nâo é possível estabelecer limite p ara
essé progresso. M as seria o m ínim o ousar perg u n tar ‘quem te
fez re i? a quem te faz sujeito-submisso” (Gastei, 1978: 20).
Assim com o p a ra o louco ie p a ra o prisioneiro, será n e­
cessário encontrar um a nova form a de adm inistrar os conflitos
familiares e tám bém um a nova form a de assistência. No A nti­
go Regim e, em troca de seu grande poder, o chefe de família
devia zelar p a ra que nenhum de seus m em bros perturbasse a
ordem pública. Este m ecanism o de controle se tornará insufici­
ente e inadequado em função do aum ento crescente do núm e­
ro de pessoas “desgarradas” ou que “escapavam ” ao controle
das famílias com o os pobres, os vagabundos, os viciosos e a
infancia abandonada, levando os novos filantropos a um a crí­
tica feroz do arbítrio fam iliar e dos procedim entos da antiga
caridade. Estes filantropos lutavam por um a nova racionalidade
n a assistência e principalm ente p a ra que a ajuda dada à fam í­
lia favorecesse sua prom oção e não sua dependência. Neste
contexto, m ultiplicaram -se as leis sobre o abandono, maus tra ­
tos, trabalho e m ortalidade infantil, surgindo novos profissio­
nais dedicadas ao cam po social: os cham ados “técnicos” ou
“trabalhadores sociais”. A partir;de então, p a ra com preender­
m os o que Jacques D onzelot cham a de “complexo tutelar”,
torna-se necessário entender as form as de agenciam ento entre
as suas principais instâncias: o judiciário, o psiquiátrico e o
educacional (D on 2 elot, 1980).
M as todas estas práticas riao incidem, como nos ensina
M ichel Foucault, sobre u n iv ersa l como “doente m ental”, “de­
linqüente”, “carente” que lhes seriam exteriores, senão que esses
“universais” ou “essências”, são iaquilo m esm o que se produz

vida social, ao postular as degenerescências como desvios em relação ao tipo


normal da humanidade, transmitidos por hereditariedade.

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nestas práticas. Recusar estas categorias como sendo “natureza
h u m an a” significa, ao mesmo tempo, reconhecer, nas práticas
sociais concretas, a formação de um campo de experiência onde
processos de subjetivação/objetivação têm lugar. Significa tam ­
bém reconhecer o papel que trabalhadores sociais, técnicos e
peritos desem penham neste cam po de poder-saber.

Dos conflitos e do

Até aqui a discussão serviu apenas para estabelecer que


as questões de definição, de sentido e de eficácia de um a ciên­
cia não são questões menores, como tam bém não dizem res­
peito apenas à Psicologia. No entanto, mencionamos também
um certo mal-estar entre os psicólogos brasileiros, insatisfeitos
com certas dem andas e constrangimentos a que, muitas vezes,
são submetidos. Neste sentido, o campo denominado de Psico-
logia Jurídica é particularm ente tenso e contraditório.
Deveria fazer parte do ensino levar os alunos, a com preen­
derem a qualidáde do poder que a ‘especialização5 lhes
confere: encerrar no inferno da Febem um jovem , negar
um a adoção ou facilitar a guarda de crianças, afastar filhos
de pais, lançar um a criança na carreira, sem esperança,
das classes especiais, contribuir para a m orte civil da crian­
ça ou jovem contraventor (Leser de Mello, 1999: 149).

Recentem ente no Brasil, na transição da ditadura mili­


tar p a ra o regime democrático, grupos organizados da socieda­
de, descontentes com situações como as descritas acima, se
organizaram para introduzir na Constituição de 1988 disposi­
tivos que assegurassem o respeito aos direitos hum anos e de
cidadania dos grupos que tradicionalmente se encontravam sob
tutela, como as crianças e os loucos, por exemplo (Arantes e
M otta, 1990). Em que pesem modificações pontuais aqui e ali,
ou m esm o experiências mais ousadas em alguns estados ou
um modelo pretensam ente único e absoluto não traz, como
c o n seq ü ê n c ia , o e n riq u e c im e n to do p e n s a m e n to m as o
irracionalismo e a intolerância à diferença. Nas palavras dc
Pessanha (1993: 31):
Trata-se é de negar a matematização daquilo que ríao é
matematizável, de negar a desumanização daquilo que
precisa se manter humanizado, negar a extração da di­
mensão temporal daquilo que só pode ser compreendido
temporalmente. Tra.ta-se, portanto, de preservar a tempo­
ralidade do tempo, a humanidade do homem, a concretude
do concreto.
Com o se vê, não é apenas da Psicologia que se trata,
mas dc um a problem ática que envolve as cham adas Ciências
H um anas e Sociais. R obert Castcl, ao analisar a questão m o­
derna da loucura, m ostra que o sucesso da M edicina M ental
na França se deu por prover um novo tipo de gestão técnica
dos antagonismos sociais, podendo a Psiquiatria, neste sentido,
ser considerada um a C iência Política, porque respondeu a um
problem a de governo. Ao fazê-lo, no entanto, reduziu a loucu­
ra às condições de sua adm inistração.
E portanto essa constituição de um administrável (poderí­
amos dizer com mais ousadia de um ‘administrativável’)
que se trata de revelar: administrar a loucura no sentido
de reduzir ativamente toda a sua realidade às condições de
sua gestão em um quadro técnico (Castel, 1978: 19).
No Antigo Regim e, a responsabilidade pela internação
dos indivíduos considerados insanos era com partilhada pelo
poder judiciário e executivo. As portas da Revolução Francesa,
qualificado o poder real como arbitrário e abolidas as lettres
de cachet; ou ordenações do rei, como justificar o grande n ú ­
m ero de pessoas seqüestradas que, apesar de tudo, não se que­
ria libertar? E ra im portante p ara a nova ordem solucionar este
impasse, já que não se podia ignorar o ordenam ento jurídico
que disciplinava a m e d id a d e privaçãp_dc_ liberdade. -Ao-p os tu--

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larem a m inoridade do louco e A L ettue-de-Cachet “não era uma lei ou um de­
creto, mas uma ordem do rei que concernia a
o seu isolam ento corno m edida uma pessoa, individualmente, obrigaudo-a a fa­
terapêutica necessária ao con­ zer alguma coisa. Podia-se até mesmo obrigar
trole de sua pcriculosidade, os alguém a sc casar peia leltre-de-cacheí. Na maioria
das vezes, porém, cia era um instrumento de pu­
alienistas ofereceram um a jus­ nição. Podia-se exilar alguém pela lellre-de-cachet,
privá-lo de alguma função, prendê-lo etc. Ela cra
tificativa m édica à sua repres­ um dos grandes instrumentos dc poder da mo­
são. narquia absoluta” francesa (Foucault, 1979: 76).
M as não eram os loucos Por outro lado, ainda segundo Fouçault, as Uures-
de-cachet eram solicitações diversas dos próprios
os únicos que colocavam pro­ súditos: maridos ultrajados, pais de família des­
blemas de governo, após a abo­ contentes com o comportamento de um de seus
membros, seja por vadiagem, bebedeira, prosti-'
lição das lettres de cachety um a ve 2
que estas serviam tarito p a ra sancionar as condutas considera­
das imorais como as consideradas perigosas. No entanto, antes
de se colocar como fator indispensável ao funcionam ento do
aparelho judiciário e de estender-se em direção a outros gru­
pos, a M edicina necessitou primeiro legitimar-se como um poder
face à Justiça. Em relação ao prisioneiro, por exem plo, a atu­
ação m édica se dará inicialm ente visando à execução da pena,
e só mais tarde se dedicará à avaliação da responsabilidade do
criminoso (Castel, 1978: 38).
Neste m om ento posterior, ao desfazer-se a rígida sepa­
ração entre o norm al e o patológico sobre a qual repousavam
as in tern açõ es dos alienados, d esfazim ento in iciad o pelas
teorizações dè Esquirol sobre as m onom anias6 e as de M orei
sobre as degenerescências,7 as atividades de perícia se esten-

ü D e acordo com a m áxim a dos prim eiros alienistas d e que “n ão existe lou­
cura sem delírio” , surge a dificuldade de se caracterizar a alienação m ental,
para efeitos de dcsresponsabílização jurídica,, n os casos em q u e nao se o b ­
servam a presença de delírios nos indivíduos q u e com eteram crim c ou infra­
ção penal. Em contraposição às m anias, Esquirol postulou ás m on om an ias,
ou loucura sem delírio, am pliando a n oção de alien ação m ental. A m o n o ­
m ania é co m o um delírio parcial, que não subverte inteiram en te a faculda­
de da razão o.u do enten d im en to (V er G astei, 1978:_164^165).._____________ -
7 C om M orei am pliam -se as possibilidades de in terven ção da m ed icin a na

25
municípios, a promessa de um a vida m elhor p a ra todos ainda
não se concretizou. C ontinua a prática de atribuir a determ i­
nados grupos, particularm ente os jovens pobres das periferias
urbanas, características negativas como perigoso, m arginal, in­
frator, deficiente, preguiçoso, como se tais atributos constituís­
sem a sua própria natureza. A R eform a Psiquiátrica, por outro
lado, em bora avance, se vê, às voltas com a difícil questão da
inclusão social dos ex-pacientes, álém de divergências internas
ao próprio movimento.
Com o profissionais que atuam no campo social, os psi­
cólogos têm sido chamados, cada vez mais, a refletirem sobre o
papel estratégico que desem p en h am nestes processos de
objetivação/subjetivação, a próblem atizarem as dem andas que
lhes são feitas e a colocarem em análise a sua condição de
especialista.

Do tratamento que é pena


. Estudando as;internações psiquiátricas de crianças e ado­
lescentes do sexo masculino, realizadas atrayés de M andado
Judicial, no período 1994-1997 e com parando-as com os de­
mais pacientes do mesmo sexo, encam inhados por familiares
oü p élò p ró p rio serviço de saúde, Ana L. S. Bentes constatou
estarem aquelas internações em crescimento, passando de 7%
em 1994 para 33% em 1997 na unidade hospitalar na qual
trabalha, no Rio de Janeiro. U m a vez verificado que os diag­
nósticos das crianças e adolescentes internados por M andado
Judicial não correspondiam aos critérios psiquiátricos adotados
pela unidade, pergunta porque, mesmo após a vigência do
Estatuto da Criança e do Adolescente e do M ovim ento N acio­
nal da Luta Antimanicomial e da Reform a Psiquiátrica, conti­
nuam acontecendo as internações compulsórias de crianças e
adolescentes?

28
Algumas das características destas internações tem sido:
1) a com pulsoriedade;' não se podendo recusar a internação
sob pena de desacato à autoridade; 2) o predom ínio dc q u a ­
dros não psicóticos; 3) a estipulação de prazos para a internação,
a despeito do que pensa a equipe m édica que recebeu a crian­
ça ou o adolescente; 4) a caracterização do tratam ento como
pena, no caso de adolescentes em conflito com a lei; 5) as cri­
anças e adolescentes apresentando-se fortemente medicados com
psicofármacos, no ato da internação; .6) presença de escolta
durante o período da internação; 7) tem po médio- de internação
superior aos dos demais internos admitidos por outros procedi­
mentos; 8) desconhecim ento, pela equipe técnica, dos proces­
sos judiciais referentes aos adolescentes em conflito com a lei.
D adas estas especificidades, o adolescente internado por
esta via judicial tende a não ser considerado paciente “legíti­
m o” pela equipe médica, pois esta não pode opinar sobre a
indicação de internação nem sobre a alta, sentindo-se acuada
entre o Código de Ética M édica e o Penal. Estabelece-se então
um a distinção entre “nossos” adolescentes (da equipe) e adoles­
centes do “ju iz” , sendo estes considerados desobedientes, sem
limites e agressivos. Além do mais, éxiste o m edo de que as
crianças e adolescentes do “ju iz” possam trazer “riscos” p a ra
as outras. A alternativa de separar essas duas clientelas em pátios
ou alas distintas do hospital equivaleria a instituir, na prática,
um a espécie dc m anicôm io judiciário p ara crianças e adoles­
centes.
Procedendo a um detalham ento m aior da clientela, Bentes
constatou que do total de crianças e adolescentes encam inha­
dos ju d ic ia lm e n te , 60% n ã o fo ram diagnosticados com o
“psicóticos”; 42, 9% dos que receberam diagnóstico de “dis­
túrbios do com portam ento” eram adolescentes em conflito com
a lei, encam inhados p o r juizes da C om arca da Capital; e que a
m aior m édia de tem po de internação (55, 6 dias) foi em decor­
rência dc encam inham entos feitos por juizes do interior do
Estado. O utros diagnósticos neste grupo foram dependência
de drogas, epilepsia, distúrbios de emoções na infancia e ado­
lescência, transtorno da personalidade.-
D a entrevista realizada p o r Bentes com um dos juizes,
— onde-buscou-esolareeim entossobre-osencam inham entos-judi---------
ciais, destaco alguns trechos, indicativos do conflito aqui anali-
. , sado:
As M edidas Socioeducativas são impositivas não só para o
.menino com o tam bém p a ra o local cm que ele vai cum pri-
la. (...) Esta é um a questão essencial (..,) se a M edida médica
for um a P ena, que nós cham am os de M edida Socioeduca-
tiva, ela se to rn a imposiriva p a ra todo mundo: p a ra o Juiz,
p a ra a família, p a ra o M inistério Público, p ara a Defesa,
' p a ra o m édico, p a ra o próprio garoto, p ara a equipe técni­
ca do H ospital, enfim ... A gente sabe, p o r exemplo,
que p a ra tra ta r de drogas a O M S, o C onselho'(...) dizem
que tem de ter a adesão voluntária da parte, m as no caso
de adolescente em conflito, com a Lei, é um a M edida, é
contra a vontade de todo , m undo, contra esta- P o rta ria ,"
contra a C onvenção, contra a recom endação, contra a fa­
mília, co n tra o técnico. A m edida não é, vamos dizer as­
sim, um a coisa voltada p ara 'a Proteção; é um a Pena (Bentes,
1 9 9 9 : 1 2 8 -1 3 8 ).

N ão se trata aqui apenas de conflito entre Judiciário e


M edicina m as tam bém de interpretações conflitantes da p ró ­
pria legislação, um a vez que outros operadores do Direito, como
veremos mais adiante, não concordam em considerar o trata­
m ento com o pena; nem creio estariam dispostos a ignorar re­
com endações d a O M S , ou considerar que no Brasil a idade da
responsabilidade penal foi reduzida para 12 anos a partir da
vigência do Estatuto da C riança e do Adolescente, como no
exem plo abaixo. D e qualquer m odo, se estas interpretações
puderam ser apresentadas à pesquisadora é porque represen­
tam um a das correntes de pensam ento existentes no m undo
jurídico.

30
De 1990 para cá, a im putabilidade está em 12 anos. Q uando
as pessoas dizem assim: - “Eu sou a favor de reduzir (a
im putabilidade) p a ra 16 anos” - n a verdade, não estão
reduzindo e sim aum entando de. 12 para 16 (Bentes, 1999:
136-137).

Assim como encontram os interpretação de que a im pu­


tabilidade está em 12 anos, encontram os tam bém aqueles que
consideram que a “m edida socioeducativa” é apenas um eufe­
mismo p a ra “pena” e a “m edida de internação” um eufemis-'
m o p a ra “p risã o ” , sendo a diferença entre o adulto e o
adolescente apenas-o local onde cum prirá a “pena”: prisão de
“m aior” p a ra adultos e prisão de “m enor” para adolescentes.
Com o agravante que, muitas vezes, a “m edida sócio-educativa”
aplicada ao adolescente é um a “pen a” m aior do que a que
receberia se fosse adulto. Devemos nos lem brar que esta foi
um a das críticas mais contundentes feitas ao Código de M eno­
res: a de que infligia à criança e ao adolescente “carente”, pela
imposição de sua internação, em instituição total, um a “pena”
de privação de liberdade freqüentem ente m aior do que rece­
beria um adulto que cometesse um crime. C ontradição do
D ireito, portanto, e ao que parece, insiste em se perpetuar.
Acredito que alguns destes conflitos e divergências pode­
riam ser resolvidos, ou pelo menos minimizados, caso fosse dada
m aior atenção à política de atendim ento. Freqüentem ente o
executivo m unicipal e o estadual são objetos de críticas por
não assegurarem condições p ara o :cum prim ento de direitos
constitucionais básicos. M uitas vezes, feito um diagnóstico ou
detectado um problem a, não h á como dar encam inham ento
ao caso. Alguns juizes reclam am que enviam os adolescentes
p a ra a internação apenas por falta de alternativas para a exe­
cução das m edidas sócio-educativas. Esta insuficiências das
políticas tem sido um dos motivos p ara constantes desentendi­
m entos entre escolas, serviços de saúde, famílias, Conselhos
Tutelares e Justiça da Infância e Juventude. Detectado que a

31
criança encón tra-se fora da escola, por exemplo, o C T a enca­
m inha a um a das escolas da região què, muitas vezes, alega
não poder receber a criança por falta de vaga, o m esm o po­
dendo acontecer com o sistema de saúde ou com os abrigos.
Mas nem sempre os conflitos se devem à precariedade
das condições do atendim ento. A escola pode não querer m a­
tricular a criança, não p o r falta áe vaga, mas porque ela é vista
como “da ru a”, “infratora” ou :‘deficiente”, fugindo do padrão
de norm alidade desejado. Neste caso, a escola alega que não é
sua função óu que não tem os meios para lidar com aquela
criança. O u seja, não crê que o “problem a’5 da criança pode
ou deve ser enfrentado pedagogicamente, preferindo encaminhá-
la ao juiz, ao Conselho T utelar ou ao sistema de saúde, resul­
tando muitas vezes no que M aria Aparecida Affonso Moysés
cham ou de “medicalização da aprendizagem ”, ao estudar cri­
anças que só não aprendiam na escola. (Moysés, 2001)
Configura-se assim, no campo social, um a situação m ui­
tas. vezes complexa e confusa, onde pobreza, abandono e vio­
lência’ se m isturam à ausência ou precariedade dás políticas
públicas, às desconfianças, medos, omissões e acusações m útu­
as. Não é, certam ente, o m elhor dos mundos.

Da justiça que é terapêutica


Segundo estatísticas oficiais, o núm ero de atos infracionais
praticados por adolescentes.no Rio de Janeiro cresceu de 2.675
em 1991 para 6.0Ò4 em 1998. G rande parte desses adolescen­
tes foram acusados de infrações análogas aos crimes previstos
na Lei de Entorpecentes (6.368//76): de 204 infrações em 1991
. para 3.211 em 1998 (Arantes, 2000).
Os adolescentes apreendidos pela polícia e levados à
presença do Juiz da Infância e Juventude têm recebido m edi­
das judiciais, de natureza socioeducativa, consideradas severas:

32
no a n o de 1999, do total dc 11.256 adolescentes que cum pri­
ram m edidas no D epartam ento de Açõés Socioeducativas da
Secretaria de Estado e Justiça do R io de Jan eiro (DEGASE),
■40, 6% eram internações provisórias; 26, 07% m edidas de semi-
liberdade; 14, 8% internáções com sentença judicial e 9, 71%
liberdade assistida, totalizando 91, 18% dos casos —o que sig­
nifica que menos dc 10% receberam m edidas mais brandas,
tam bém previstas na Legislação e consideradas m ais adequa­
das ao adolescente, como a m edida1:de prestação dc serviço à
com unidade, por exemplo. Além do DEGASE, muitos adoles­
centes cum prem m edidas em Program as oferecidos pela pró­
pria Justiça da Infância e Juventude.
E m bora o Rio dc Jan eiro respondesse por 12, 98% do
total de adolescentes privados de liberdade cm todo o país em
3 0 /0 6 /1 9 9 7 , vindo logo abaixo de São Paulo com 44, 87%£*
respondia, no ehtanto, pelo m aior percentual de adolescentes
internados por infrações relacionadas à Lei de Entorpecentes:-
42, 07% (Volpi, 1998: 68-83). P ara termos um a idéia do que*
estes núm eros significam, o Relatório do Ju iz de M enores Saul
de G usm ão, de 1941, m ostra um crescim ento de 127 atos
infracionais em 1924 p a ra 248 em 1941 no Rio de Janeiro'/
sendo que n enhum a criança ou adolescente foi acusado dc
envolvimento com drogas. As infrações apontadas são delitos
de sangue, de furto, roubo e sexuais (Cruz Neto et al., 2001:
58).
No livro Delinqüência juvenil na Guanabara são apresentadas
estatísticas do Juizado de M e n o re s/R J do período 1960 a 1971
(Cavalieri et al., 1973). Nestes registros, verifica-se o início das
apreensões p o r drogas, em bora os núm eros sejam de m agnitu­
de múito. inferior aos atuais: 14 em 1960, do total de 666 atos
infracionais e 192 em 1971, do total de 1.253 atos infracionais.
Esclarece o Juiz de M enores Alyrio Cavallieri, em seu livro
D ireito do M enor, que estes núm eros se referem ao uso e não
à venda de drogas, pois, em suas palavras “raram ente o m enor

33
é tr a f ic a n te ” (C a v a llie ri, 1976: 137). N e ste p e río d o a té o a n o
d e 1 9 9 5 , os m a io re s p e rc e n tu a is d e a to s in fra c io n a is são re la ti­
v o s a o p a tr im ô n io : 2 .0 1 6 casos em 2 .6 2 4 n o a n o d e 1991, sen ­
d o d ro g a s a p e n a s 2 0 4 d e ste total.
_______ Esta_situação_diferenciada-para-o-Rio-de Janeiro-foi-ob—
je to de estudos e de intensos, debates realizados nas universida­
des, n a C o m issã o de D ireito s H u m a n o s da A ssem bléia
Legislativa e no Conselho Estadual de Defesa da C riança e do
A dolescente, ocasiões em que se indagavam sobre os motivos
que estariam propiciando esta situação:
M u d o u a realidade e aum entou a crim inalidade ou a m u­
d a n ç a é apenas o resultado de um a filosofia mais repressora
e policialesca? O u seria fruto de aum ento de operosidade
d a Ju stiça, do M inistério Público e da Polícia? (Relatório:
s/d ).

M uitos destes adolescentes, quando apreendidos pela


prim eira vez, dem onstram esperança de que a passagem pelo
sistema socioeducativo possa ajudá-los, constituindo-se em opor­
tunidade p a ra o reingresso n a escola e preparo p a ra o trabalho
- esperança que acaba quase sempre em frustração, tom ando-
se p o r base o percentual significativo de reincidências. M uitas
vezes sem possibilidade de voltar p ara casa ou p ara a com uni­
dade de origem , após a apreensão, evadido ou expulso da esco­
la, sem trabalho e sem perspectivas de um fúturo m elhor, este
adolescente p eram b u la peias ruas, furtando p a ra viver ou per­
m anecendo com a venda da droga, até ser novam ente apreen­
dido ou m orto em algum cgnfronto com a polícia ou grupo
rival. São estes jovens as m aiores vítimas da cham ada violência
urbana. ,
Segundo a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE/2000,
relativa aos anos de 1992 e 1999, observa-se, a partir dos anos
80, o peso crescente das causas externas sobre a estrutura da
m ortalidade p o r idade, afetando principalm ente os adolescen­
tes e jovens brasileiros do sexo masculino na faixa etária entre
15 c 19 anos. Estes índices chegam a quase 70% em muitos
dos Estados brasileiros.
• Em vários fóruns de defesa dos direitos das crianças e
dos adolescentes, onde estas questões são debatidas, pergunta-
-gp-ppln. “acerto” e pela “justiça” destas apreensões e encami-
nham entos. Questiona-se se não estaria havendo rigor excessivo
ná aplicação das m edidas socioeducativas e a própria adequa­
ção do rótulo de traficante dado a alguns destes adolescentes,
que m uitas vezes vendem pequenas quantidades de drogas
apenas p a ra sustentar seu próprio consumo ou como form a de
subsistência. Q uestiona-se tam bém a adesão do Brasil a um
política antidrogas norte-am ericana, favorável à cham ada “to­
lerância zero”, e o papel que os .psicólogos são cham ados a
exercerem nesta nova m odalidade de “pena-tratam ento”, pro­
cedim ento polêm ico denom inado Justiça T erapêutica e im por­
tado das Dmg Courts dos Estados Unidos da Amcrica.’1O próprio
Conselho Federal de Psicologia tem se m anifestado neste sen­
tido, conclam ando os psicólogos a discutirem m elhor o assun­
to, preocupados em que não exerçam atividades que contrariem
o Código de Ética dos Psicólogos.
E m artigo dedicado a p en sar a Justiça T erapêutica,
D am iana de O liveira faz im portantes considerações a respeito
do papel que o psicólogo é cham ado a desem penhar nesta m o­
dalidade de Justiça, a partir de um dos program as existentes
p a ra adolescentes no Rio de Ja n eiro (Oliveira, s/d). Com o foi
dito, a J T se baseia no m odelo norte-am ericano dos Tribunais
para D ependentes Químicos (Cortes de Drogas), e oferece ao
adolescente que for apreendido portando drogas para uso pes­
soal, depois de avaliado e considerado elegível, a opção de tra­
tam ento, ao invés de receber um a M edida Socioeducativa e /
ou M edida Protetiva prevista no Estatuto da C riança e do Ado-

B Para um a apresentação favorável à Justiça Terapêutica, ver: Fernandes, s/d .


lescentc. A inclusão neste Program a deve ser voluntária e im ­
plica, dentre outras coisas, o adolescente concordar em ser sub­
metido a testagem de urina periódicas e aleatórias, um a vez
que o Program a prega abstinência total de drogas ilícitas e de
bebidas- alcoólicas. Oliveira aponta aí um prim eiro conjunto
de dificuldades p ara o psicólogo: a de concordar com o c a r á te r
compulsório do tratam ento e com a testagem de urina, além
de que "usar ou não drogas” passa a ser o centro do acom pa­
nham ento psicológico, podendo o adolescente receber sanções
por descumprir. as regras do Program a. Este tipo de questão
leva freqüentem ente os psicólogos a terem dilemas éticos e a se
perguntarem “Q uem são os clientes da Psicologia?” e “Quais
são os limites da atuação do psicólogo?”.
Falando a futuros juizes e defensores em “A Psicanálise
c a determinação dos fatos nos processos jurídicos”, Freud aponta
um a diferença fundam ental entre' o paciente da Psicanálise e a
pessoa acusada pela Justiça: esta, no caso do com etim ento de
um delito, tem a intenção de ocultar o segredo da Justiça; já o
neurótico não conhece o segredo; que está oculto p a ra ele
mesmo. No caso do neurótico, ele ajuda a com bater a sua p ró ­
pria resistência, porque espera curar-se com o tratam ento en­
quanto que o réu não tem porque cooperar com a justiça
revelando o seu, delito; se o fizer, estará.trabalhando contra ele
mesmo. Além do mais, para os procedimentos da Justiça, basta
que os seus operadores obtenham um a convicção objetiva dos
fatos, independentem ente do que pensa o acusado; o mesmo
não se dá com o tratam ento psicanalítico, onde o paciente tam ­
bém necessita adquirir esta mesma convicção. Lem bra-os, fi­
nalmente, da existência de normas que im pedem que o réu se
submeta a intervenções psicológicas sem ter sido alertado de
que poderá denunciar-se através desta intervenção.
Além, destas, outras perguntas têm sido feitas em rela­
ção aos Programas da J T p ara adolescentes, entre as quais:
um a vez que os tratam entos médico e psicológico já são previs­

36
•V:. :vT

tos no Estatuto da C riança e do Adolescente como M edidas


Protetivas, p o r q u ê 'à existência da Justiça T erapêutica no âm ­
bito da Justiça da Infância e Juventude? No caso de um adoles­
cente que nunca praticou qualquer outro ato infradonal a não
ser o usó eventual de drogas, por quanto tem po será m antido
em tratam ento? E o critério “tolerância;zero” condição de alta
m édica ou psicológica? Neste caso, a Justiça T erap êu d ca teria
como um de seus pressupostos a “crim inalização” do atendi­
m ento m édico e psicológico? (Batista, mim eo, s/d)
D entre os pontos polêmicos de um dos Program as exis­
tentes9 destaco os artigos 6 e 7, que trazem dificuldades especí­
ficas p a ra a atuação do psicólogo, como, por exemplo, o aumento
na freqüência de sessões de tratam ento individual ou familiar c
as entrevistas compulsórias, definidas como m edidas punitivas
por ter o adolescente descum prido algum a regra do Program a.

Artigo 6o - Dos participantes do P rogram a, exige-se:


I- N ão usar ou possuir drogas ilícitas e bebidas alcoólicas e, se
for exigido pela unidade de tratam ento conveniada, não fu­
m a r tabaco nas sessões ou conforme a orientação desta uni­
dade.
II — C om parecer a todas as sessões dc tratam ento determ inadas
III - S er p o n tu a l.
I V ,- ' .N ão fazer am eaças aos participantes, à equipe do program a
ou da unidade de tratam ento, bem como não com portar-se
de m odo violento.
V - Vestir-se apropriadam ente p a ra as sessões dc tratam ento e
audiências no Juizado.
V I — C o o p erar com a. realização dos testes de drogas.

® Pela O rd em de Serviço N ° 0 2 / 0 1 , datada de 27 de ju n h o de 2 0 0 1 , foi


criado o Program a E special para U suários de D rogas (P R O U D ), no âm bito
de co m p etcn cia da 2 a VIJ, C om arca da C ap ita l/R J , de acordo com as nor­
mas gerais previstas no Provim ento N ° 2 0 /2 0 0 1 , da C orregedoria-G eral de
Justiça.

37
V II — C o o p erar p á ra a obtenção de inform ações necessárias à ava­
liação inicial e seqüencial de seu caso.
V III — O s pais ou responsáveis deverão com parecer às audiências
no Ju izad o e às sessões de tratam ento recom endadas.
IX - C om p arecer e d em onstrar desem penho satisfatório n a esco­
la, estágios profissionalizantes e laborativos. '
X - A gir de acordo com as norm as específicas da unidade de
tratam en to p a ra a qual foi feito o encam inham ento” .

A rtigo 7° — As sanções previstas para a falha injustificada no cum ­


p rim en to das norm as ;do Program a são as seguin­
tes:
I - . A dvertência verbal.
II — R etirad a de privilégios (válida p a ra os casos de algum ado­
lescente que esteja, p o r exemplo, em program a de recebi­
m ento de cesta básica, lazer, etc.)
III - A um ento n a freqüência de sessões de tratam ento individual
ou familiar.
IV — R egressão na fase de tratam ento e conseqüente m aior tem po
de p erm an ên cia no Program a.
V — : C om p arecim en to a palestras e. sessões educativas sobre uso
indevido de drogas ou outros tem as considerados úteis pela
equipe de acom panham ento.
V I — M aio r freqüência na realização de testes de drogas.
V II — In tern ação tem porária.
V III - Entrevistas com pulsórias com 'médicos, psicólogos ou inte­
grantes de grupos de auto-ajuda.
IX — Restrições às atividades de íazer,’inclusive nos finais de se­
m ana. ’
X — Prestação de serviços na com unidade ou na sua própria casa,
de acordo com o entendim ento do Juiz.
X I — Lim itação de ho rário de saída cia residência.
X II — Exclusão do P ro g ram a e re to m a d a d o processo inicial.

D iante de tais regras podemos nos perguntar o que fez o


adolescente p a ra m erecer tam anha penalidade? E esta um a
resposta adequada à experim entação do adolescente? Por que
o envolvimento com drogas está se tornando, atualm ente, o

38
responsável por grande parte do contingente dos hospitais psi­
quiátricos, manicômios judiciários, internatos^e prisões? N ao se
tra ta aqui de negar o sofrim ento de pessoas e de famílias
destruídas pela dependência quím ica -e pelo uso abusivo de
drogas. N o entanto, trata-se de perguntar, como faz Luiz Eduar­
do Soares: Por.que circunscrever o uso,de drogas ao cam po da
ilegalidade? Baseado em quais critérios certas drogas são con­
sideradas lícitas e outras ilícitas? Por que difundir a idéia de
que ingerir substâncias psicoativas significa consumí-las em
excesso? (Soares, 1993).
P erguntado se achava possível ou mesmo desejável a
existência de um a .-cultura sem limites e repressões, Foucault
respondeu que o im portante não era a existência de restrições
e sim a possibilidade oferecida, às pessoas a quem afeta, de
modificá-las (Foucault, 2000b: 26).
A juiza M aria Lúcia K aram , contrária aos procedim en­
tos da Justiça Terapêutica, advoga a s.ua inconstitucionalidade.
D ada a im portância da argum entação p ara o tem a tratado,
perm ita o leitor um a longa citação.
E m bora reconhecendo a ausência de culpabilidade e, as­
sim, a inexistência de crime nas condutas daqueles que sc
revelam inim putáveis, o ordenam ento jurídico-penal b ra ­
sileiro, paradoxalm ente, insiste em alcançá-los, ao im por,
com o conseqüência d a realização d a conduta penalm ente
ilícita, as cham adas m edidas de segurança, com base em
- u m a alegada “periculosidade” atribuída a seus inculpáveis
autores.
Aqui, indevidam ente, se ab re: o espaço para manifestação
d a aliança entre o direito penal e a psiquiatria, responsável
' ■ p o r trágicas páginas d a história do sistema penal.(...)
N a realidade, as m edidas de segurança para inimputáveis,
consistindo, com o prevêem as m encionadas regras dos ar­
tigos 96 a 99 do Código Penal e do artigo 29 da Lei 6.368/
76, n a sujeição obrigatória e p o r tem po indeterm inado a
tratam ento m édico (am bulatorial oú m ediante internação),
não passam de formas m al disfarçadas de pena, sua in­

39
compatibilidade com a Constituição Federal, por manifes­
ta vulncraçâo do princípio da culpabilidade é,. conseqüen­
tem ente, p o r m anifesta vulneração d a p ró p ria n o rm a
constitucional, que aponta a dignidade d a pessoa hum ana
como um dos fundam entos da República Federativa do
Brasil, decerto, havendo de ser afirmada.
M as, este inconstitucional tratam ento obrigatório j á vem
sendo aplicado até mesmò p ara aqueles que têm íntegra
sua capacidade psíquica, nas tentativas,' diretam ente veicu­
ladas pelos Estados U nidos da América,- de transportar,
para o Brasil, as cham adas drug court, que, aqui, se preten­
de sejam adotadas, com a tradução literal de “ tribunais de
drogas” , ou sob a denom inação de “justiça terapêutica” ,
esta últim a explicitando a retom ada daquela' nefasta alian­
ça entre o direito penal e a psiquiatria. (...)
Assim, estende-sc o tratam ento médico a imputáveis, o que
já contraria as próprias leis penais ordinárias vigentes. As­
sim, amplia-se o alcance do sistema penal, com a imposi­
ção de verdadeiras penas, negociadas ao preço d a quebra
de diversas garantias do réu, derivadas da cláusula funda­
m ental do devido processo legal, constitucionalm ente con­
sagrado. (...)
Esta im portação das drug court chega, ainda, ao âm bito dos
juizados da infancia e juventude. Ali tam bém , pretende-se
violar a liberdade individual, a intim idade e a vida privada
de adolescentes, através da imposição de um tratam ento
médico obrigatório, sem que sequer seja externado trans­
torno mental que, teoricamente, o pudesse aconselhar. (...).
(K aram , 2002: 210-224).

Não foram por outros motivos que o Grupo de T ra b a ­


lho “Justiça T erapêutica”, coordenado pelo Conselho R egio­
nal de Psicologia 03 e que contou com a participação de
representantes de diversos outros CRPs, recom endou um a dis-
• cussão nacional sobre o problem a das drogas. E m bora a ju s ti-
ça Terapêutica não aconteça em todo o país, diversos outros
. serviços, mesmo sem utilizar esta. denom inação, estão operan-

40
d o so b a m e s m a lóg ica, o q u e ju s tific a a discussão n a c io n a l,
s e g u n d o o R e la tó rio -d e s te G T .
A J T faz parte de um a política nacional de com bate às
drogas, adotada pela SENAD - Secretaria N acional Anti-
drogas, cm p arceria com a E m baixada A m ericana, país
que exporta este m odelo. A SENAD, ao mesmo tem po que
ap ó ia in iciàtivas de re d u ç ã o de danos (ao p re m ia r a
REDUC), incentiva iniciativas do .tipo d a JT (Relatório, CRP:
s/d).
O G T in d ic a u m a p o siç ã o “ c o n tr á ria ao m o d e lo d a J T e
a in s e rç ã o d o p sicó lo g o b a s e a d o n o s seg u in tes e le m e n to s in ic i­
ais” , e n tr e os q u ais: a q u e b r a d o sigilo p rofissio n al, j á q u e d ev e
o p sic ó lo g o p r o d u z ir p r o v a q u e d e p õ e c o n tra o p r ó p r io su jeito ;
q u e b r a d o s d ire ito s in d iv id u a is m ín im o s, p o sto q u e o su je ito
q u e o p ta p e la J T te m d e a b r ir m ã o d o d ire ito d è d efesa , te n d o
d e se c o n fe ssa r c u lp a d o , m e s m o q u e u s u á rio e v e n tu a l; p o r e n ­
te n d e r q u e h á u m a d ife re n ç a e n tr e u su á rio e v e n tu a l e d e p e n ­
d e n te e p o r r e a f ir m a r o c a r á t e r v o lu n tá rio d o tr a ta m e n to ,
c o n d iç ã o f u n d a m e n ta l p a r a su a eficácia; ta m b é m p o r e n te n ­
d e r, c o m o j á foi d ito , ser n e c e s s á ria u m a a m p la discu ssão so b re
a q u e s tã o d a s d ro g a s n o B rasil.
Em 2002, pelas Portarias 336 e 189 do M inistério da
Saúde, foram criados, dentro dos parâm etros da R eform a Psi­
quiátrica, os C entros de A tenção Psicossocial para atendim en­
to de crianças e adolescentes (CAPSi) e para portadores de
transtornos em decorrência do uso e dependência de substân­
cias psicoativas (CAPSad), trazendo esperança de que novas
m odalidades de assistência em saúde m ental possam ter lugar.

Criticando a prática dos psicólogos


Segundo M ichel Foucault, em Vigiar e punir, conhecem os
já todos os inconvenientes e perigos que a prisão oferece e tam -

41
bém a sua inutilidade em relação a um a suposta regeneração
dos prisioneiros, e, no entanto, as nossas sociedades não que­
rem dela a b rir m ão. Sabem os tam bém , pelo menos enquanto
a prisão não se p ro p u n h a a regenerar ou tratar, que a prisão
nào-deveria-sérnadaalém -do^que"a'sim ples'privação_d e iib e r-
dade, m as não é o que acontece. É a este excesso, ao que ex­
cede a pena, que Foucault cham ou o penitenciário. O aparelho
penitenciário, local de cum prim ento da pena, é tam bém lugar
de um a “curiosa substituição”:
(...) das m ãos da justiça ele recebe um condenado; m as
aquilo sobre que ele deve ser aplicado, não é a infração, é
claro, nem m esm o exatam ente o infrator, mas um objeto
um p o uco diferente e definido por variáveis que pelo m e­
nos no início não foram ■levadas em conta n a sentença,
pois só era m pertinentes ’p a ra um a tecnologia corretiva.
Esse outro personagem que o aparelho penitenciário colo-
« ca no lu g ar do infrator condenado, é o delinqüente.
O d elinqüente se distingue do infrator pelo fato de não ser
tanto seu ato quanto sua vida o que mais o caracteriza (...)
O castigo legal se refere a um ato; a técnica punitiva a
u m a vida (..,) Por trás do.infrator a quem o inquérito dos
fatos p ode atribuir a responsabilidade de um delito, reve­
la-se o c a rá te r delinqüente cuja lenta form ação transparece
n a investigação biográfica: A introdução do “biográfico” é
im p o rtan te n a história da penàlidade (Foucault, 1977.: 223-
224).

A p a rtir de sua atuação como psicólogo no sistema só-


cio-educativo do R io de Jan eiro , Adilson Dias Bastos dedicou-
se a pensar como se dá a construção deste “biográfico” na prática
técnica dos psicólogos. N a reconstrução da história de vida dos
sentenciados, incluindo adolescentes, este biográfico visa mos­
tra r com o o indivíduo “já se parecia com seu delito antes m es­
m o de o ter p raticad o ”: o pai é ausente... diz que a m ãe m orreu
no p a r to ... estudou apenas até a 2a série... acha que como está
nesta vida não tem m ais je ito ... foi expulso da escola.'., pouco
sociável... disperso... im p a c ie n te... baixo grau de tolerância à
frustração... vive nas ruas e diz que é m endigo... diz que nas­
ceu p a ra ser lad rão ... disse que conhece mais gente que está
presa do que gente em lib e rd ad e ...'tem um irmão- mais velho
que-j á-foi-preso. ..-(B astos,_20.02115-119).______ _______ ____
Segundo Bastos, esta produção técnica, que além de ser
um discurso de “verdade” e um discurso que no limite “faz
v iv e r e deixa m orrer”, é tam bém ,um discurso que “faz rir” .
Exem plificando, cita laudos periciais colhidos por Isabelle N o­
gueira nos arquivos do M anicôm io Judiciário H eitor Carrilho,
situado no m unicípio do Rio de Janeiro. N ogueira se dedicou
a pesquisar os laudos de pessoas que haviam sido apreendidas
p or motivos banais como brigas, xingameritos, vadiagem, pe­
quenos furtos e desacato a autoridade (Nogueira, 2002). V eja­
mos um pequeno trecho, de um dos exemplos, do ano de 1924.
É elle p o rtad o r de estygmas phisicos de degeneração bem
pronunciados (...) N em m esm o lhe faltam as tatuagens,
estygma physico adquirido .que, com freqüência aparecem
nos degenerados e nos delinqüentes. Vê-se, assim, no seu
. ante-braço direito, um pássaro com um a carta no bico;
um vaso de p lanta e o nom e de Idalina; no braço direito
várias estrellas, um com eta e algumas lettras; no braço es­
querdo as iniciais AP; no peito, iniciais, um pássaro e a
expressão ‘A m o-te1(Bastos, 2002: 120; Nogueira, 2002: 99).

D entre os discursos que “faz chorar” destaco o de um


grupo de médicos, m em bros da Escola N ina Rodrigues, estu­
dado p o r M arisa C orrêa. Este grupo foi im portante na consti­
tuição da M edicina Legal no Brasil, sendo um dos mais atuantes
Leonídio Ribeiro, fundador do Instituto de Idendficação do
R io de Ja n eiro e ganhador do Prêm io Lombroso de 1933. É
dele a citação abaixo:
N a criança de um ano é, às vezes, possível já reconhecer o
futuro criminoso. É n a prim eira infanda, ou na puberda­
de, que se revelam as prim eiras tendências p ara as atitudes

43
an ti-sociais, que se concretizam e agravam progressivamente,
sob a influência geral do am biente. Existem, n a criança, os
cham ados ‘sinais de alarm e’ de tais predisposições e ten­
dências ao crim e, sinais que p o d em ser .de n a tu re z a
morfológica, funcional ou psíquica. Especialmente sobre
estes últimos é que devem estar vigilantes todas as mães,
sabiclo que as crianças perversas, rebeldes, violentas, im ­
pulsivas, indiferentes e desatentas são principalm ente as que
precisam recebcr cuidados especiais para não se. tornarem ,
afinal, elementos perigosos para a sociedade (Corrêa, 1982:
60-61).

Em pesquisa sobre juventude e drogas, V era M alaguti


Batista estudou a evolução, do problem a no Rio de Janeiro, no
período 1968-1988, a 'p a rtir de processos encontrados no ar­
quivo do então Juizado de M enores (Batista, 1998). Além de
análise quantitativa, Batista analisou os conteúdos dos laudos e
pareceres das equipes técnicas formadas por assistentes sociais,
psiquiatras e médicos das Delegacias de Menores, da FUNABEM
e do Juizado de M enores, encontrados nos processos.
Pela análise de Batista é flagrante a construção de este­
reótipos, a partir de olhares cientificistas e preconceituosos,
erigidos na virada do século XIX, e que ainda persistem na
prática de muitas equipes técnicas: o preconceito em relação às
favelas e bairros pobres (“o .local onde reside propicia seu en­
volvimento com pessoas perniciosas à sua form ação”); a atitu­
de suspeita (“estava desempregado, peram bulando em estado
de vadiagem pela Zona Sul quando sua residência se encontra­
va na Zona N òrte”); a criminalização do uso de drogas (“foi
detido cheirando benzina”); a desqualificação familiar (“proce­
de de família desagregada”); serviços que não são considerados
trabalho (“está trabalhando em biscates, pois diz não ter paci­
ência para aturar patrão; não está estudando nem trabalhan­
do”); a hereditariedade (“o pai já fez tratam ento nervoso”); os
distúrbios de conduta (“autuado por práticas anti-sociais”). T al
caracterização leva sempre às.m esm as recom endações: resso-
cializar, reeducar,’recuperar, tratar, profissionalizar, rem eten­
do as faltas e as dificuldades dos adolescentes a eles mesmos ou
às suas famílias. No entanto, conclui Batista, mais do que “doen­
ça m ental”, os processos revelam histórias de miséria c exclu­
são social. . ;;r
Aline Pereira Diniz, estudando um a am ostra de 46 p a ­
receres psicológicos, no período de 1995 a. 1998, encontrados
nos processos de adolescentes evadidos do sistema socioeducadvo
do Rio de Jan eiro enquanto cum priam M edida Socioeducati-
va de Internação, e com M andato de Busca e Apreensão, cons­
tatou que a grande m aioria pertencia ao sexo masculino, com
idades entre 15 e 17 anos e poucos anos de escolaridade. Em
sua m aioria estes adolescentes foram acusados dc infrações
análogas aos crimes contra o patrim ônio e análogas à Lei de
Entorpecentes. D entre os motivos alegados pelos adolescentes
p a ra as fugas, destaco a existência, na m esm a unidade dc aten­
dim ento, de adolescentes pertencentes a grupos ou facções ri­
vais: “fugiu por lá ter encontrado o gerente da boca, que disse
que ele deveria pegar a carga”; “porque lá encontrou m em ­
bros do com ando rival, que estão em guerra, então teve que
fugir de novo” . O utros motivos foram am eaças de estupro, por
sofrer agressões, por ter a roupa furtada; por m edo de ser p u ­
nido ou encam inhado à Delegacia de Polícia por ter sido pego
fum ando m aconha (Diniz, 2001: 50).
Diniz identifica dois “tipos” de adolescentes, a partir dos
pareceres psicológicos: aquele que foi “levado” ao ato infracional
pelas circunstâncias ou pelas amizades e aquele que teria o
“perfil” de infrator, facilitado pela ausência paterna, desestru-
turação fam iliar e por determ inados traços ou caracterísdcas
de personalidade como agressividade, impulsividade, malícia,
dificuldades em lidar com limites, sentimentos de inferioridade
etc. C om o conclusão dos pareceres, a adequação à rotina ins­
titucional e a participação nas atividades propostas aparecem

45
quase sem pre com o critério de que o adolescente está recupe­
rado ou ressocializado.
P a ra concluir, gostaria de dizer que um fator comum
que une os estudos acim a é a busca de alternativas p a ra a atu-
açâo_profissional3_na-esperança~de-quc-a-Psieoiogia-possa-ser—
exercida de um a ou tra form a, além de trazer à luz o enorm e
sofrim ento causado pelo encarceram ento de adolescentes. ^
R etom em os então, de um Outro m odo, a pergunta “Q ue
é a Psicologia?”, possibilitada aqui pelas lem branças de Bastos
(2002): : : í
N u m a de suas belíssimas aülas ele se dirigiu a alguns alu­
nos do curso de psicologia e perguntou: O que vem a
ser a psicologia?” “P ara que ela serve?” A nte a nossa con­
fusão, perplexidade e dem ora, Cláudio U lpiano nos disse:
D epende das forças que se apoderam 'dela!; Coloquem- ■
suas forças em b atalh a p a ra produzirem um a psicologia
afirm ativa.” 10

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10 N o ta d e esclarecim en to feita por Bastos (2002: 58): “C láudio U lp ian o,


filósofo, ex-professor d a U n iversidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
e da U n iversidade Federal F lum inense (UFF), já falecido. R esp onsável por
introduzir nestes estab elecim en tos o pensam en to de D eleu ze, Bergson,
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