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O Método Científico Hipotético Dedutivo

O MÉTODO CIENTÍFICO HIPOTÉTICO DEDUTIVO


Maximiliano Mendes - 2013

Antes da explicação, vejamos dois exemplos de situações resolvidas ao se utilizar a lógica do


método científico:

Situação 1: Aninha preparou um sanduíche antes de dormir e o guardou na geladeira. Iria


comê-lo na manhã do dia seguinte antes de ir para a escola, mas ao acordar e procurar seu
sanduíche percebeu que ele havia desaparecido. Logo de cara desconfiou que seu irmão mais
novo surrupiou seu lanche durante a noite. Porém, como ele negou e ela não podia provar,
decidiu investigar: posicionou uma câmera filmadora em um local escondido da cozinha, de
forma que poderia conferir no dia seguinte, caso mais um sanduíche sumisse, quem era o
culpado.

No dia seguinte, constatou o desaparecimento de mais um sanduíche, então, apressou-se em


pegar a câmera e assistir a gravação. Para sua surpresa, realmente, pôde observar que alguém
furtou o sanduíche, porém, Aninha estava errada: o meliante era um troll e não seu irmão
mais novo.

Situação 2. Ao tentar ligar a televisão com o controle remoto, João notou que o aparelho não
estava ligando. Inicialmente, ele testou ligar a TV diretamente e viu que ela estava
funcionando, então, supôs que o problema era com o controle. Pensou em duas
possibilidades: ou as pilhas haviam descarregado ou então o controle estava quebrado.

Como o controle nunca caiu no chão e nem foi molhado, resolveu testar a primeira hipótese:
a de que as pilhas haviam descarregado. João inclusive pensou que, se as pilhas haviam
descarregado, não fariam outro aparelho funcionar e pilhas novas poderiam fazer com que a
televisão ligasse. Sendo assim, tirou as pilhas do controle da TV e as colocou no controle do
rádio. O rádio não ligou. Além disso, testou pilhas novas tanto no controle da TV quanto no
controle do rádio e agora, ambos os aparelhos ligaram. Logo, concluiu que realmente, o
problema era que as pilhas haviam descarregado e foi assistir a novela das onze.

Com essas duas situações em mente, vejamos agora algumas definições essenciais e os passos
do método científico clássico:

Ciência: conjunto de procedimentos utilizados para adquirir conhecimentos, baseado em


observações e experimentos passíveis de serem repetidos e que podem originar teorias.

Teoria científica: explicação sobre algum aspecto do mundo natural baseado em um conjunto
de fatos repetidamente confirmados através de observações e experimentos. Pode se inferir
que a explicação (teoria) é confirmada pelos resultados de observações e experimentos
científicos.

Lei: é uma espécie de descrição, muitas vezes matemática, de como um determinado


fenômeno, dadas certas condições, sempre se manifesta da mesma forma na natureza. Essa
descrição é baseada nos resultados obtidos pela pesquisa científica. (Por exemplo, de acordo
com a lei da gravitação universal, dois corpos se atraem e essa força de atração gravitacional
pode ser descrita de acordo com a fórmula: F = G.[(m1.m2)/r²]).
Tecnologia: utilização dos conhecimentos científicos para a obtenção de resultados práticos
(produtos: como uma televisão, um tanque de guerra, um forno de micro-ondas e etc.).

Modelo: podemos dizer que um modelo é uma tentativa de explicar ou descrever algo sem
tê-lo visto diretamente. Por exemplo, temos modelos para descrever a estrutura dos átomos,
mas ainda não conseguimos vê-los diretamente. Ou então, existem modelos como a Gisele
Bündchen e outr@s que representam modelos de beleza, porém, ninguém nunca viu (e
provavelmente nunca verá) qual é a pessoa mais bela e perfeita possível.

O conjunto dos procedimentos científicos pode ser exemplificado pelo método científico
hipotético-dedutivo:

1. Identificação de um problema: aquilo que se quer resolver ou saber mais a respeito. Os


problemas são percebidos a partir de observações e coletas de dados.
2. Elaboração de uma hipótese: explicação possível para um problema e/ou fenômeno.
3. Teste da hipótese por meio de experimentos: situações artificiais que objetivam verificar
se as hipóteses são verdadeiras, aceitáveis, ou não. Também são propostos resultados
possíveis a partir da hipótese e do experimento pensado, as chamadas deduções. Em outras
palavras: ainda pensando na hipótese e no experimento, já se imagina quais serão os possíveis
resultados do experimento antes de efetuá-lo.
Brilhante dedução...

Deduções são inferências ou proposições que partem de proposições gerais/universais para


chegar a conclusões que são proposições particulares ou específicas. Exemplo: se todos os
paulistanos são brasileiros (geral); E João é paulistano; Então João é brasileiro (conclusão).
Nesse exemplo, a conclusão é específica para o caso de João e não necessariamente vale para
Barack Obama. Deve-se tomar cuidado, pois nem sempre dispomos de todos os dados
necessários para se deduzir algo acertadamente. Um exemplo bem tosco é o raciocínio a
seguir: todo ser humano um dia morre, se a lesma morre, então ela é um ser humano.

Já as induções seguem o caminho contrário: são conclusões gerais que partem de proposições
específicas. É importante destacar que nem sempre é recomendável seguir o caminho das
induções, vejamos um exemplo: todos os cisnes que vemos por aí são brancos (cada cisne
particularmente); logo, concluímos que todos os cisnes são brancos (geral para os cisnes). É
importante notar que esse raciocínio nem sempre é válido, pois, no caso do exemplo dado, o
primeiro cisne não branco que for visto invalida a conclusão.

4. Conclusões: acerca da validade da hipótese, que podem ser falsas ou


verdadeiras/aceitáveis, dependendo dos resultados experimentais.
Por último, é importante destacar que em um experimento é necessário que um grupo de
sujeitos ou itens (cobaias ou tubos de ensaio, por exemplo) seja oexperimental, o que sofre
uma intervenção, ou alterações no fator que se quer testar. O outro grupo deve ser o controle,
que não sofre essa mesma intervenção ou alterações no fator que se está testando. Ao
término do experimento são comparados os resultados obtidos com os grupos experimental
e controle, a fim de se ter uma noção mais precisa dos efeitos da intervenção efetuada no
experimento. Você também pode pensar nisso como se fossem realizados dois “experimentos
simultâneos”, um experimento controle e um experimento propriamente dito.

Um exemplo simplificado poderia ser o seguinte, a fim de testar a eficiência de um remédio


para tratar uma doença qualquer, se você tiver a disposição um grupo de 100 pessoas afligidas
por essa doença, pode pegar 50 como grupo experimental e administrar o medicamento a
eles e utilizar os outros 50 como grupo controle, administrando a eles "pílulas de farinha"
(placebo, nesse caso, algo que se saiba que não tem efeito algum sobre essa enfermidade).
Ao término é feita a comparação entre os dois grupos, para ver, por exemplo, se no grupo das
pessoas que receberam o medicamento verdadeiro o percentual de pessoas curadas é maior
ou se não fez diferença em relação ao placebo.

Exemplos de experimentos clássicos:

Experimento de Redi: Francesco Redi, médico italiano do século XVII, elaborou um


experimento para derrubar a Ideia de que os seres vivos podiam surgir a partir da
reorganização da matéria, a chamada geração espontânea. Os defensores da geração
espontânea criam, por exemplo, que a lama dos leitos dos rios poderia se organizar de forma
a gerar rãs, ou que a carne em putrefação poderia gerar larvas de moscas. Redi propôs que,
na verdade, as moscas pousavam na carne e botavam ovos que geravam as larvas (hipótese).

O experimento consistiu em utilizar três conjuntos de frascos contendo carne dentro: um


conjunto de frascos destampados, onde as moscas poderiam pousar livremente (grupo
controle); um conjunto de frascos “semitampados” com uma redinha, que permitia que o ar
e outras partículas pequenas (como ovos de moscas) pudessem entrar no frasco (um dos
grupos experimentais); e um último conjunto de frascos tampados e vedados completamente,
de forma que nada pudesse entrar em contato com a carne que estava dentro (outro grupo
experimental).

Após alguns dias, observou-se que nos frascos tampados não surgiram larvas, nos frascos
destampados surgiram várias larvas e nos frascos cobertos com as redinhas, surgiram algumas
larvas, mas em quantidade bem menor. Redi interpretou que, como surgiram larvas nos
frascos destampados e nos frascos tampados não surgiu nenhuma, a hipótese de que as larvas
resultam de ovos das moscas é verdadeira e conclui-se que a geração espontânea não é uma
boa explicação para a origem das larvas. No que tange aos frascos semitampados, Redi supôs
que as moscas puseram ovos na redinha e eles caíram na carne, por isso, a quantidade de
larvas é bem menor.

Descoberta da causa da beribéri: A Beribéri é uma doença neurodegenerativa que, no final


do século XIX era relativamente comum no sudeste asiático. Hoje em dia sabemos que é
causada por carência de vitamina b1 (tiamina), porém, um dos primeiros pesquisadores a
investigar a causa da doença, Christiaan Eijkman, em Java, acreditava que a causa era a
ingestão de alimentos contaminados por bactérias (uma hipótese), tendo em vista que a
enfermidade ocorria mais frequentemente em prisões, hospícios, quartéis e em tripulações
de navios: fortes indícios de que era uma doença contagiosa.
No curso de suas investigações, Eijkman descobriu que frangos cuja alimentação era arroz
branco sofriam de doença similar (observação). Assim, supôs que estivesse ocorrendo
contaminação nos moinhos onde se processava o arroz (dedução). Então, resolveu testar se
uma dieta de arroz vermelho, não processado, poderia curar a doença, pois poderia conter
algum tipo de antitoxina ou bactericida (hipótese e deduções). Os testes em frangos
funcionaram, porém, vários críticos não aceitaram seus resultados e Eijkman resolveu aplicar
testes em humanos.

Em primeiro lugar, propôs que se mudasse a dieta de uma prisão, de arroz branco para arroz
vermelho (teste) e o resultado foi que o percentual de acometidos pela doença diminuiu.
Porém, como não se utilizou um grupo controle, os resultados ainda não foram aceitos. Por
sorte, havia um estudo em andamento abrangendo várias prisões em Java, no qual se estava
testando dietas com variedades distintas de arroz, que forneceu dados de grupos que
poderiam ser considerados como controle. Ao se analisar a incidência de beribéri levando em
conta os dados dessa pesquisa, comprovou-se que o número de acometidos continuava sendo
maior com a dieta de arroz branco, menor com a de arroz vermelho e intermediária com as
outras variedades.

Eijkman ainda cria que a causa da doença era contaminação por parte de bactérias presentes
no arroz. Posteriormente, Gerrit Grijns, também em Java, foi o responsável por mostrar que a
doença era devida a uma carência nutricional devido ao fato de o arroz branco não fornecer
as quantidades necessárias de vitamina b1.

REFERÊNCIAS

Allchin, D. Appreciating Classic Experiments. In Carolyn Schofield (ed.), 2004-


2005.Professional Development for AP Biology. New York: College Entrance Examination
Board.
Amabis & Martho. Biologia das Células. Moderna. 2010.
Campbell, Reece et al. Biologia. 8ª ed. Artmed. 2010.
Linhares & Gewandsznajder. Biologia Hoje. Vol 1. 2ª ed. Ática. 2014.
http://en.wikipedia.org/wiki/Laws_of_science
http://science.howstuffworks.com/innovation/scientific-experiments/10-scientific-laws-
theories.htm

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