Você está na página 1de 4

Entendendo a Vida Social – William Outhwaite

O método chamado Verstehen. (entender)

- Entendimento, Interpretação e Hermenêutica Capítulo 2.

“Interpretação” tende a vir de uma perspectiva teórica particular (como na “Interpretação


marxista da história”), enquanto “entendimento” sugere uma perspectiva mais abrangente.
Esta é a visão de Joachim Wach na sua obra dividida em três volumes Sketch of the history of
hermeneutic theory in the nineteenth century.

“Por interpretação entendemos... investigação e explicação partindo de uma perspectiva de


um sistema dado, dentro do qual a tentativa é feita para compreender o que é dado. Quando
os antigos escritores hermenêuticos diziam, o significado deve ser extraído só do que o texto
realmente diz, tentavam distinguir entendimento de interpretação, não exatamente de exegese
arbitrária...”

Entendimento, em contraste com interpretação, é caracterizado pela tentativa, no


conhecimento da natureza condicionada (da interpretação) ..., de superá-la ou, pelo menos,
neutralizá-la”.

O conceito de entendimento, que interessa neste livro, foi inicialmente elaborado no contexto
teológico. Os reformadores protestantes proclamavam que os escritos sagrados poderiam ser
diretamente entendidos, sem a mediação de uma tradição eclesiástica. A teologia manteve sua
posição dominante no desenvolvimento da teoria do entendimento até meados do século
XV111, quando a filologia e a jurisprudência passaram a tratar desse tema.

Os filósofos, à exceção de Spinoza e, posteriormente, Herder, tiveram pouca atuação, como


diz Wach em relação a Kant, “A teoria transcendental do idealismo se preocupa basicamente
pouco com as questões de entendimento histórico”.

Devemos estudar o mundo antigo tendo em mente a noção de entendimento (Verstehen


Erkennen) para que possamos aprender com ele e ter uma ideia geral de sua estrutura interna.

Não entenderíamos tanto a antiguidade em geral quanto os documentos e as obras-de-arte em


particular “se o nosso espírito (consciência) não estivesse essencialmente identificado com o
espírito da antiguidade, de modo a poder absorver para dentro de si esse espírito, apenas
temporariamente e relativamente, estranho. Todo o conhecimento e entendimento não apenas
de uma palavra estranha, mas mesmo de uma outra pessoa é simplesmente e impossível sem a
unidade original e a identificação de todo conteúdo espiritual (alles geistigen) e sem a
unidade original de todas as coisas no Espírito”.

F.A.Wolf viveu de 1759 a 1824 e foi muito ativo na Haia e em Berlim, Wach menciona em
particular sua tendência em esconder a finalidade da hermenêutica em termos psicológicos, o
objetivo seria conhecer, tão literalmente quanto possível, as intenções do escritor ou do
interlocutor para entender seus pensamentos do modo que eles fossem entendidos.

A interpretação é um ato que envolve a “construção de algo finito e determinado a partir de


algo que é infinito e indeterminado”. Não pode existir um sistema de regras inflexíveis para
uma atividade como essa, que requer habilidade linguística e conhecimento dos seres
humanos.

Boeckh enfatizou podem os homens entender-se uns aos outros sem uma teoria explícita, do
mesmo modo que podem pensar corretamente sem seguir uma lógica explícita, ambos são
arte.

A lógica é a teoria formal da filosofia do conhecimento (Erkennen), e a teoria do


entendimento é a teoria formal da filologia. Boeck delineou uma tipologia interessante da
interpretação de acordo com a qual uma obra pode ser entendida em termo de “condições
objetivas” e subjetivas do que é comunicado.

“As primeiras consistem em “interpretação gramatical” do significado literal e, em segundo


lugar, interpretação histórica em relação à situação objetiva. A interpretação em termos de
condições subjetivas pode relacionar-se com a locução por si só (interpretação individual) ou
o que ele chama “interpretação genérica” em termos de objetivo direto e de direção geral da
obra.

Droysen estabeleceu como premissa de sua teoria do entendimento a separação entre Natu e
Geist, a natureza e a mente, e a unidade fundamental da natureza humana.

“As possibilidades de entendimento repousam sobre nossa familiarização com as


expressões que estão presentes como materiais históricos. O entendimento depende do
fato de a natureza do homem, expressar todo o processo mais íntimo de modo que possa
ser percebido pelos sentidos e refletir os processos mais íntimos em cada expressão.
Uma expressão projeta-se numa pessoa que a percebe e excita o mesmo processo
interior. Quando ouvimos um grito de agonia, experimentamos a agonia da pessoa que o
pronunciou...”

Tomada isoladamente, essa avaliação pode parecer mecanicista a ponto de atingir o absurdo.
Não era a intenção de Droysen, contudo, explicar o entendimento em termos de uma
psicologia mecanicista. Ele cuidadosamente distinguiu o ato do entendimento do que chamou
de “mecanismo lógico” envolvido.

Karl-Heinz Spieler sugere ter Droysen empregado o termo “entendimento” em pelo menos
três sentidos, que falhou ao distinguir:

1- O ato intuitivo do entendimento. Essas intuições e as hipóteses que elas levantam


devem prová-las, em confrontação com o material histórico.
2- O entendimento de expressões. Para Droysen, “As expressões são todos os
fenômenos do comportamento humano em que podemos identificar conteúdo
psíquico.”
3- O terceiro sentido de “entendimento” para Droysen pertence à antropologia
filosófica. Ele vê o entendimento como a capacidade mais caracteristicamente
humana do homem, “A mais básica ligação entre homens é a base de toda existência
moral”

Spieler parece ter razão ao dizer que Droysen negligência um outro tipo possível de
entendimento, o entendimento hermenêutico do sentido da expressão linguística. Droysen
deveria ter desenvolvido esse tema na sua discussão sobre a língua, mas ele a vê meramente
como uma expressão da atividade mental interna. Por outro lado, reconhece claramente os
limites de um entendimento puramente psicológico:

“Se a interpretação psicológica fosse o trabalho principal do historiador, Shakespeare seria o


maior historiador”, “É necessário mais do que personalidades para se constituírem
processos reais”

Droysen tende a usar as palavras “entendimento” e “interpretação” como sinônimos, ou seja,


ele está principalmente preocupado com o processo amplamente psicológico da interpretação,
que corresponde a sua avaliação de um entendimento. “A essência da interpretação é ver as
realidades dos eventos passados com a gama completa de condições que os realizam”.
Droysen estabeleceu a conexão fundamental entre teoria do entendimento e a filosofia da
história, da qual a ideia de uma ciência social Verstehen essencialmente crescem. “O
entendimento espontâneo que existe entre os seres humanos na vida social cotidiana deve ser
sistematizado com o auxílio do conhecimento teórico.”

“Naturalmente temos um certo entendimento imediato e subjetivo das relações humanas, de


toda expressão e de todo traço da criatividade e do esforço que podemos perceber na medida
das possibilidades. Devemos encontrar, contudo, um meio de obter medidas e controles
objetivos para essa subjetividade e imediata concepção e, desse modo, estabelecer, corrigir e
aprofundá-la. Parece que só isso pode ser o significado da “Objetividade histórica” tão
frequentemente mencionada.

Você também pode gostar