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DO MITO AO LÓGOS – DA Palavra mágico-religiosa à Palavra-diálogo

2 tipos de palavra, 2 tipos de verdade

Mythos – palavra que narra, que conta uma história, uma história verdadeira
Logos – palavra que demonstra, que explica algo através de raciocínios lógicos

DETIENNE, Marcel. Os mestres da verdade na Grécia Arcaica. Trad. Andréa


Daher. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988. Resenha de João Mattar.
O clássico livrinho começa com um Prefácio de Pierre Vidal-Naquet

ÓTIMA Resenha de João Mattar sobre o livro Os mestres da verdade na Grécia


Arcaica de DETIENNE, Marcel.
Acesso: http://joaomattar.com/blog/2010/01/21/os-mestres-da-verdades-na-
grecia-arcaica-marcel-detienne/

Palavra mágico-religiosa – fundamento divino


Verdade – Alétheia – Des-velamento, Não-esquecimento
Verdade traz a coisa consigo

Palavra-diálogo – fundamento humano


Verdade – adequação da palavra à coisa

Grécia homérica
Alétheia (Verdade) tem um sentido mágico-religioso, está ligada a um saber oracular
A Verdade é dita através do poeta, do profeta, do adivinho
O poeta é inspirado pelas Musas (filhas da Memória com Zeus, Mnemosýne,
“saber do foi, do que é e do que será),
O profeta, o adivinho, é inspirado por Apolo

A palavra do poeta, do adivinho (e do rei) funda-se numa instância mágico-


religiosa. É inquestionável, não precisa ser demonstrada por argumentos
lógicos.

OBS: além da palavra mágico-religiosa, na Grécia arcaica havia também a


palavra-diálogo que era praticada nas assembleias dos guerreiros quando estes
se reuniam em círculo para resolverem as questões de interesse comum a todos.

Ao contrário da palavra mágico-religiosa, essa palavra-diálogo é laicizada,


está no campo dos homens e aponta para a isonomia e igualdade: “A palavra
não é mais, nesse momento, o privilégio de um homem excepcional, dotado de
poderes religiosos. As assembleias são abertas aos guerreiros, a todos aqueles
que exercem plenamente o ofícios das armas.” (p. 50).
Detienne destaca a importância do centro (méson),
ponto comum aos homens organizados em círculo,
“Ponto comum, o méson é, por isso mesmo, o lugar público por excelência: por
sua posição geográfica, é sinônimo de publicidade.” (p. 50). O centro é ao
mesmo tempo o que está submetido ao olhar de todos e o que pertence a todos
em comum.
Os grupos de guerreiros são os primeiros a usar a palavra-diálogo cujo
fundamento é HUMANO

O Processo de Laicização – acontece no modo de pensar e na


estrutura política das cidades
É a passagem da palavra-mágico-religiosa à palavra-diálogo.

Grécia Arcaica (VII - VI)


a emergência da pólis – cidade-estado - democracia

difusão do alfabeto

surgimento da moeda

PROCESSO DE LAICIZAÇÃO

Detienne defende que a passagem do mito à razão não se resume a um milagre


(J. Burnet) ou a uma decantação progressiva de um pensamento mítico a uma
conceitualização filosófica (F. M. Cornford), mas “é nas práticas institucionais
de tipo político e jurídico que se opera, durante os séculos VII e VI a.C., um
processo de secularização das formas do pensamento. É na vida social que se
constroem, ao mesmo tempo, o quadro conceitual e as técnicas mentais que
favorecem o advento do pensamento racional.” (p. 53-54).

A palavra-diálogo se superpõe à palavra mágico-religiosa

“Uma reflexão sobre a linguagem elabora-se em duas grandes direções: por um


lado, sobre o lógos como instrumento das relações sociais; por outro, sobre
o lógos como meio de conhecimento do real”.

“A Retórica e a Sofística exploram a primeira via forjando técnicas de persuasão,


desenvolvendo a análise gramatical e estilística do novo instrumento.
A outra via é o objeto de uma parte da reflexão filosófica: a palavra é capaz de
conhecer o real, todo o real? Tal problema se faz urgente, na medida em que o
desenvolvimento do pensamento matemático faz nascer a ideia de que o real é
igualmente expresso por números.” (p. 55).

Com o processo de laicização,


Verdade passa a significar adequação da palavra à coisa,
correspondência entre o que é dito e a coisa dita.
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GRÉCIA – PERÍODO ARCAICO VII-VI
Surgem a poesia lírica, a tragédia e a filosofia
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Simônides de Céos, 556 a.C. — 468 a.C., foi um dos maiores poetas do período arcaico.
Foi o primeiro que cobra por sua poesia e rejeita a noção de poeta inspirado.
Marca uma mudança na Tradição Poética, pois é o primeiro a fazer da Poesia um ofício
e receber benefícios por ela.
É a Simônides que a Antiguidade atribui a famosa definição: “A pintura é uma Poesia
silenciosa e a Poesia é uma pintura que fala”.
Com suas mnemotécnicas, é possível assistir ao processo de secularização da
memória, que deixa de ser uma forma de conhecimento privilegiado, enquanto a
escrita torna-se um instrumento de publicidade.

Poetas trágicos
Ésquilo – 525 -456
Sófocles - 497 – 406
Eurípedes – 480 - 406

“Praticar a poesia como um ofício, definir a arte poética como uma obra de
ilusão, fazer da memória uma técnica secularizada, são estes os muitos aspectos
de uma mesma empresa. Neste plano, percebe-se também a ligação necessária
entre a secularização da memória e o declínio de Alétheia. Privada de seu
fundamento, a Alétheia é brutalmente desvalorizada; Simônides rechaça-a,
considerando-a como símbolo da antiga poética. Em seu lugar, reivindica
a doxa.” (p. 58).
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Detienne analisa o pensamento e a obra de Simônides de Céos, que cobra por
sua poesia e rejeita a noção de poeta inspirado, colocando-se do lado da Apáte.
Com suas mnemotécnicas, é possível assistir ao processo de secularização da
memória, que deixa de ser uma forma de conhecimento privilegiado, enquanto a
escrita torna-se um instrumento de publicidade.

“Praticar a poesia como um ofício, definir a arte poética como uma obra de
ilusão, fazer da memória uma técnica secularizada, rejeitar a Alétheia como
valor cardinal, são estes os muitos aspectos de uma mesma empresa. Neste
plano, percebe-se também a ligação necessária entre a secularização da
memória e o declínio de Alétheia. Privada de seu fundamento, a Alétheia é
brutalmente desvalorizada; Simônides rechaça-a, considerando-a como símbolo
da antiga poética. Em seu lugar, reivindica a doxa.” (p. 58).

https://pt.wikipedia.org/wiki/Sim%C3%B3nides_de_Ceos

 Simōnídēs de Ceos (em grego: Σιμωνίδης ὁ Κεῖος; ca.  Simônides marcaria o momento


em que o homem grego descobre a imagem. Ele seria o primeiro testemunho da teoria da
imagem, ou Mimesis (SETTI, 1958: 78).
A reflexão sobre a Poesia, sua função e seu objeto próprio, consuma a ruptura com a
tradição do Poeta inspirado, que diz a Alétheia tão naturalmente quanto respira. Mas a
desvalorização de Alétheia não é inteligível, a não ser em sua relação com uma inovação
técnica, que é um outro aspecto fundamental da secularização da Poesia empreendida por
Simônides. Toda uma Tradição atribui-lhe a invenção da Mnemotécnica, o que significa no
plano poético a colocação em prática de procedimentos de memorização.
Até Simônides a Memória era um instrumento fundamental para o Poeta: função de caráter
religioso que lhe permitia conhecer o passado, o presente e o futuro. Através de uma visão
imediata, através da Memória, o Poeta entrava no além, atingia o invisível. Com Simônides
a Memória torna-se uma técnica secularizada, uma faculdade psicológica que cada um
exerce mais ou menos segundo regras definidas, ao alcance de todos. Não é mais uma
forma de conhecimento privilegiada, nem como a Memória dos Pitagóricos, um exercício
de salvação; é o instrumento que contribui para o aprendizado de um ofício. No lugar da
mítica Alétheia Simônides reivindica a Doxa. Retomando as palavras de Platão, a retórica
é “uma prática que exige uma alma dotada de penetração e audácia, e naturalmente, apta
para o trato com os homens” (JAEGER, 1995: 335).
Detienne explora o campo da oposição
alétheia/léthe:
louvor (Epainos)/censura (Momos),
palavra/silêncio,
luz/obscuridade,
memória/esquecimento.
“Funcionário da soberania ou louvador da nobreza guerreira, o poeta é sempre
um ‘Mestre da Verdade’”.

http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=1131

Portal Graecia Antiqua está estruturado em diversas áreas


(Mitologia, Literatura, Ciências, etc.), que por sua vez se dividem
em seções, capítulos e, eventualmente, subcapítulos, de acordo
com a lógica temática de cada assunto ou tópico.
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Democracia (gr. δημοκρατία), palavra grega traduzida em nossos dias


como ‘o poder do povo’, é uma forma de governo na qual o exercício do
poder se distribui de forma igualitária entre os membros da comunidade.
No regime democrático todos têm, idealmente, os mesmos deveres e os
mesmos direitos.
Em Atenas, no final do século -VI, um regime “democrático” foi instituído
em oposição ao regime vigente, dito aristocracia (gr. ἀριστοκρατία), lit. ‘o
poder dos melhores’, no qual o poder político estava nas mãos de uma
minoria, de uma elite formada pelos grandes proprietários de terras.
Deve-se ter em mente que o regime democrático instituído em Atenas pelo
arconte Clístenes (fl. -525/-505) aumentou consideravelmente o número de
cidadãos com direito de participar da vida pública, mas não contemplou o
conceito de democracia em sua plena acepção. A razão é simples: todos os
homens nascidos em Atenas e maiores de 18 anos podiam participar,
enquanto os residentes nascidos em outras póleis, mulheres e escravos não
tinham direitos — mas tinham deveres, é claro.
Novas divisões da Ática
“Democracia ateniense” não é, portanto, sinônimo de “democracia”,
embora seja inegável a importância histórica da instituição desse regime
em Atenas, base de ogrande parte das instituições políticas modernas.

AS REFORMAS DE CLÍSTENES
As bases do novo regime, que durou em Atenas de -507/-501 a -322, eram
a liberdade política e pessoal, a igualdade e o domínio da lei (Th. 2.37;
Aeschin. 1.4-5).
As decisões da assembleia de cidadãos eram usualmente registradas com a
seguinte introdução: ἔδοξεν τῶι δήμωι, ‘pareceu adequado ao demo / povo’
(IG II  28.2). A expressão reflete a nova unidade político-administrativa,
2

que passou a ser o demo (gr. δῆμος), uma espécie de ‘distrito’[1].


Havia 139 demos de tamanho variável, desde um bairro até uma pequena
vila ou comunidades realmente populosas. Os demos de uma mesma área
eram agrupados em trítias (gr. τριττύες), que por sua vez se agrupavam em
10 tribos (gr. φυλαί), que receberam o nome de heróis da Ática.
Cada trítia correspondia geograficamente a uma área da cidade, uma do
interior e uma do litoral da Ática.
Eram os demos que registravam os cidadãos em suas listas e, com isso, os
habilitavam a falar nas assembleias, a participar dos conselhos e a serem
sorteados para serem jurados, exercer magistraturas, lutar no exército, etc.
Em geral o cidadão podia participar de todas as instâncias do sistema só
depois do 30 anos de idade.

[em andamento]

O OSTRACISMO
O ostracismo (gr. ὀστρακισμός) era um processo provavelmente criado por
Clístenes c. -506, através do qual membros da assembleia votavam se
determinado indivíduo devia ou não ser exilado da pólis durante 10 anos,
em geral por razões políticas. Os cidadãos que concordavam com o exílio
escreviam o nome dessa pessoa em um caco de telha (em gr. ὄστρακον, daí
o nome do processo) e o depositavam em urna própria.
Aparentemente, o sistema foi usado apenas durante o século -V.
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