Você está na página 1de 8

Theodor ADORNO (1903 – 1963) & Max HORKHEIMER (1895 – 1973): Dialética

do Esclarecimento [Dialektik der Aufklãrung, 1947]

1. Idéia nuclear: “o projeto civilizatório, no qual o homem aprendeu a controlar a


natureza em seu próprio benefício, acaba revertendo-se no seu contrário: na mais crassa
barbárie, em virtude da unilateralidade com que foi conduzido desde a idade da pedra
até nossos dias.” (Duarte, p. 8)

“O iluminismo, no sentido mais amplo de pensamento em contínuo progresso, sempre


perseguiu o objetivo de tirar o medo dos homens e torna-los senhores de si próprios.
Mas a terra inteiramente iluminada resplandece sob a égide de triunfal desventura.” (O
conceito do esclarecimento In: Dialética do esclarecimento, p. 17).

2. Contexto Político do surgimento do texto: Início da década de 1920, ou Social-


democracia de centro-esquerda ou Partido Comunista alemão, sob a lideraça de
Moscou. Alternativa do grupo formado a partir do Instituto para a Pesquisa Social da
Universidade de Frankfurt, promover uma investigação teórica crítica com o objetivo de
ampliar os horizontes teóricos do marxismo. Apontavam para a necessidade de
interpenetração progressiva entre a filosofia e as ciências humanas particulares
(sobretudo a sociologia weberiana e a psicanálise freudiana) para superar a crise do
marxismo, a miopia ideológica do Partido Comunista, assim como alguns
desenvolvimentos modernos da “ciência burguesa”.

3. Atualidade da obra: Embasamento filosófico + atualidade (temas do nosso


cotidiano: devastação da natureza pelo homem; opressão das mulheres; racismo,
planejada manutenção do povo na ignorância através dos meios de comunicação de
massas.

4.. História da obra: Adorno e Horkheimer, judeus exilados em 1941 em Los Angeles
(USA), encaram juntos um antigo projeto de escrever um livro sobre a dialética. O
ponto de partida é uma antiga idéia de Horkheimer de escrever um livro sobre as
vicissitudes e possibilidades da dialética – no sentido hegeliano do termo. Mas diante
do recrudescimento da II Guerra mundial e o extermínio dos judeus, modificam o
projeto original e decidem escrever não somente sobre a dialética, acrescentando à obra
um capítulo sobre a Indústria Cultural e um sobre o Anti-semitismo.

5. Principais Influência Teóricas:

5. 1. Filosóficas: Kant, Hegel, Marx, Nietzsche e Freud

5.1.1. Kant: Horkheimer defende em 1922 uma tese de habilitation intitulada: “Sobre a
antinomia da faculdade teleológica do juízo.” Já a proposta de tese de habilitação de
Adorno, intitulada: “O conceito do inconsciente na doutrina transcendental da alma”,
que pretendia coordenar a filosofia transcendental de Kant com o inconsciente de Freud,
não foi aceita em 1927 e foi trocada por um trabalho sobre Kierkegaard.

5.1.2. Hegel: Em 1925 Horkheimer profere sua primeira palestra e um curso como livre
docente na Universidade de Frankfurt sobre as relações entre Kant e Hegel.

1
Adorno tem uma influência hegeliana indireta através da leitura do jovem Lukács e de
Ernst Bloch.

5.1.3. Marx: Influência mais decisiva dos autores: Nas publicações do Instituto de
Pesquisa social, ambos pretendem demonstrar que a teoria social pode ser
eminentemente crítica e transformadora da realidade. Antes da publicação da dialética
do esclarecimento, Adorno publica em 1938 seu texto: “O fetichismo na música e a
regressão da audição”, no qual procura transpor a concepção do fetichismo da
mercadoria, tal como aparece no livro I de O capital, para realizar uma análise crítica da
cultura mercantilizada.

5.1.4. Nietzsche: Inicialmente mal-interpretado na Alemanha do inicio do século, em


razão da estratégia mercadológica de sua irmã e herdeira, que tentou associá-lo ao
discurso da direita alemã, Nietzsche é posteriormente compreendido, por Adorno e
Horkheimer, exatamente de maneira oposta. Ele passa a ser percebido como um autor
verdadeiramente libertário que denuncia toda a tentativa de enevoar a realidade com
seitas metafísicas, cultos germânicos e anti-semitismo, como sinal de uma nova
barbárie. Além disso, Nietzsche é o anti-Kant, ou o primeiro a criticar o esclarecimento
e a ambigüidade desse para com a emancipação humana quando produz uma moral
totalmente formalizada.

5.1.5. Freud: Horkheimer se submeteu a psicanálise com Karl Landauer e a frente do


Instituto de Pesquisa Social, incentivou a criação do Instituto de Psicanálise em 1929.
Talvez também tenha atuado nos bastidores para a concessão do Prêmio Goethe a Freud
naquele mesmo ano. Já o interesse de Adorno é mais teórico. Desde sua tentativa de
habilitação pretendia se apropriar de referências psicanalíticas com o objetivo de
empreender uma crítica da cultura contemporânea.

5. 2. Influência de seus colegas contemporâneos:

Benjamin e Marcuse: a denúncia da dimensão ideológica.


Em “O caráter afirmativo da cultura”, Marcuse demonstra como a burguesia, apesar de
ser supostamente uma classe revolucionária (Marx), aprofundou as desigualdades
existentes, pois não possibilitou o acesso das classes subalternas às obras de arte. Antes
mesmo da Dialética do esclarecimento, Marcuse compreendeu que a cultura, destinada
a um papel crucial na sinalização de que todos podem usufruir dos valores supremos,
dentre os quais a beleza se destaca, na verdade, transformou a estética dos três séculos
de predomínio burguês em um elemento ideológico da manutenção da desigualdade.
Benjamin, de modo análogo ao artigo de Marcuse, chama atenção, em seu texto sobre A
obra de arte na era da reprodutibilidade técnica, para o potencial de dominação dos
conceitos consagrados pela estética tradicional, tais como: criação, genialidade, valor
eterno e segredo, ao serem apropriados pelo processamento fascista.
Outra contribuição fundamental de Benjamin à Dialética do esclarecimento foi tirada do
manuscrito de suas “Teses sobre a filosofia da história”. Sobre esta contribuição Adorno
teria declarado: “nenhum dos trabalhos de Benjamin mostra-o tão próximo de nossas
próprias intenções. Principalmente no tocante à idéia da história enquanto catástrofe
permanente, a crítica ao progresso e ao domínio da natureza e o posicionamento com
relação à cultura” (Citado por Duarte, p. 25)

2
O que está em jogo: crítica a noção de história como um continuum que progride
sempre para o melhor. Ele já acentua a interpenetração entre cultura e barbárie.

6. Idéias principais da obra:

6.1. Elucidação da racionalidade restritiva:

Programa: o desencantamento do mundo (Weber): o esclarecimento queria


dissolver os mitos e desbancar a crendice através do conhecimento. Este tipo de
conhecimento técnico [“razão instrumental”], oriundo do medo ancestral do homem
diante das forças naturais ameaçadoras, não tem como objetivo a felicidade do homem,
mas uma precisão metodológica que potencialize o domínio sobre a natureza (Cf.
Duarte, p. 27).

O problema é que ai reside o aspecto regressivo do esclarecimento: “só é


suficientemente duro para romper os mitos o pensamento que pratica violência contra si
mesmo.”

Inversão: Nesse propósito, a razão esclarecida se assemelha ao próprio mito: desde os


mitos, os homens já pretendiam intervir nos processos naturais através de rituais,
feitiços e outras ações não comprováveis. Há algo no conhecimento científico, o caráter
de repetição, ou a explicação de todo o acontecer como repetição, que o liga
inextrincavelmente ao mito: tudo nela pode ser repetido ad nauseam, dando sempre o
mesmo resultado. Ex: Representação/ feitiço (vudoo).

Comentários:
Nossa Razão é reduzida ao elemento de racionalidade dominadora do real, promovendo
e justificando o desenvolvimento do processo de dominação da natureza pelo homem e
do homem pelo homem (= a reificação do homem).

No modo como nossa razão se desenvolveu (a instrumentalização da Razão), o que


importa não é a veracidade das teorias, senão sua funcionalidade, funcionalidade em
vista de fins sobre os quais a razão perdeu todo direito.

Nesse contexto, a cultura deixou de ser a expressão, em termos estéticos, dos anseios e
projeções da experiência mais íntima homem para se tornar mais um campo de
exploração econômica.

A Razão é razão instrumental porque só pode identificar, construir e aperfeiçoar os


instrumentos ou meios adequados para alcançar fins estabelecidos e controlados pelo
“Sistema” (Razão acrítica e desenvolvimento de elementos ideológicos da manutenção
do Status quo).

“O medo que o bom filho da civilização moderna tem de afastar-se dos fatos – fatos
esses que, no entanto, já estão pré-moldados como clichês na própria percepção pelas
usanças dominantes da ciência, nos negócios e na política – é exatamente o mesmo do
medo do desvio social. Essas usanças também definem o conceito de clareza na

3
linguagem e no pensamento a que a arte, a literatura e a filosofia devem se conformar
hoje. Ao tachar de complicação obscura e, de preferência, de alienígena o pensamento
que se aplica negativamente aos fatos, bem como às formas de pensar dominantes, e ao
colocar assim um tabu sobre ele, esse conceito mantém o espírito sob o domínio da mais
profunda cegueira.” (Prefácio da Dialética do Esclarecimento, p. 13)

“O que não se submete ao critério da calculabilidade e da utilidade torna-se suspeito


para o esclarecimento.” (...)
“O esclarecimento é totalitário.”(...)
“O esclarecimento comporta-se com as coisas como o ditador se comporta com os
homens. Este conhece-os na medida em que pode manipula-los.
(O conceito do esclarecimento In: Dialética do esclarecimento, p.19 - 21)

Excurso I: Ulisses ou Mito e Esclarecimento (comentar a alegoria do mundo


administrado – “aqueles que podem escutar”)

Excurso Juliette ou Esclarecimento e Moral

“A filosofia, da crítica de Kant à Genealogia de Nietzsche, proclamara-o; só um


desenvolveu-o em todos os pormenores. A obra do marquês de Sade mostra o
“entendimento sem a direção de outrem”, isto é, o sujeito burguês liberto de toda tutela.
(Dialética do esclarecimento, p. 75)

“ a apatia (considerada como fortaleza) é um pressuposto indispensável da virtude”, diz


Kant distinguindo essa “apatia moral” (um pouco à maneira de Sade) da insensibilidade
no sentido da indiferença a estímulos sensíveis” (...)
Clairwill constata o mesmo vício. “Minha alma é dura, e estou longe de achar a
sensibilidade preferível à feliz apatia de que desfruto.” (Dialética do esclarecimento,p.
82)

6. 2. Industria cultural: o esclarecimento como mistificação das massas

Constatação sociológica: o declínio da religião não levou ao caos cultural, como se


temia, pois o cinema, o rádio e as revista a substituíram. Conjunto desses meios,
inexistentes antes da virada do séc. XIX ao XX foram batizados de “industria cultural”.

Adorno e Horkheimer mostraram que esses meios criam a “falsa identidade do universal
e do particular”, ou seja, dão a aparência de que o indivíduo e o todo se encontram
reconciliados quando na verdade, tal sistema é um poderoso instrumento para gerar
lucros e exercer um tipo de controle social.

A Mass Mídia (cinema, televisão, rádio, discos, publicidade etc) são os instrumentos da
alienação, da exploração e da espoliação.
Na atualidade, as principais expressões dessa dominação técnica estão na Indústria
Cultural e na massificação do conhecimento, da arte e cultura que diluem o significado,
a importância e a força expressiva dessas instâncias, transformando tudo em objetos
estereotipados de consumo e promovendo a alienação resignada da sociedade.
Hoje, é sobretudo com a mídia que o poder impõe valores e modelos de
comportamento, cria necessidades e estabelece a linguagem. Esses valores não

4
emancipam, nem estimulam a criatividade, pelo contrario, bloqueiam-na, porque
acostumam a nossa sociedade a receber passivamente as mensagens.

A Indústria do Divertimento (Entertainment) não é o lugar da recreação, da liberdade,


da genialidade, da verdadeira alegria. É a indústria cultural que fixa o divertimento e
seus horários. E o individuo se submete.

Os grandes filmes da industria cinematográfica americana são divulgados em todos os


jornais, revistas e aparecem em documentários. E assim, somos dominados
(manipulados). Quando o filme estréia, não resistimos. Nós nos entregamos à sedução,
entramos na fila, pagamos, consumimos e ficamos esperando as continuações. O
objetivo é dominar para garantir o retorno financeiro.
Quanto maiores são os recursos técnicos de registro e produção imagem e som, mais
empobrecido é o conteúdo. (Saturação do expectador; pensar ≠ receber estímulos)

Entretanto, não é verdade que a padronização e o baixo nível dos produtos culturais
sejam um reflexo daquilo que o próprio público deseja.
Na crítica a mercantilização da cultura, os autores denunciam que ela realiza uma
apropriação da capacidade de “esquematismo” das pessoas. “Esquematismo” é o termo
cunhado por Kant para designar o procedimento mental de referirmos nossas percepções
sensíveis a conceitos fundamentais, que ele chamava de “categorias”. A indústria
cultural decompõe o que podemos perceber em suas partes elementares e as rearranja de
um modo que lhes seja interessante, ela adquire o enorme poder de influir no modo
como nós percebemos a realidade de nosso mundo sensível.

Lembremos do que Adorno já tinha descoberto em seu texto O fetichismo na música e a


regressão da audição sobre o caráter manipulatório e opressor da indústria fonográfica.
Ela promove a incapacidade crescente do público avaliar o que é oferecido aos ouvidos.
Toda programação atende aos monopólios culturais.

Outro exemplo é a capacidade do filme sonoro e a televisão (síntese do radio com o


cinema) de criar a ilusão de um mundo que não é o que nossa consciência
espontaneamente pode perceber, mas o que interessa ao sistema econômico e político no
qual se insere a indústria cultural.

Além disso, aprendemos com o capitalismo monopolista que é a oferta que cria a
demanda.
Entre os agentes da industria cultural e conhecida a eficácia da “manipulação retroativa”
= Mecanismo Ideológico para a obtenção da adesão das massas.
Ex: plugging = repetição ad nauseam de um programa ou canção que se quer que o
público “goste”. (Procedimento oferecido mediante o suborno = jabá)
A manipulação retroativa consiste na conquista dos consumidores de modo a dar a
aparência de que eles estão escolhendo o que desejam, quando, na verdade, estão sendo
manipulados.

Os Monopólios culturais e a padronização têm o objetivo de garantir o retorno


financeiro e impedir qualquer resistência.

Desenvolvimento de um tipo de sadomasoquismo com o objetivo de que, desde


crianças, as pessoas se habituem a apanhar dos mais fortes e, se for o caso, golpear os

5
mais fracos: “assim como o Pato Donald nos cartoons, também os desgraçados na vida
real recebem a sua sova para que os espectadores possam se acostumar com a que eles
próprios recebem.”

As obras criadas pela indústria cultural servem para produzir a passividade, distração. O
verdadeiro objetivo é desinformar e dessensibilizar. Tornar o indivíduo incapaz de
avaliar e criticar. Assim o individuo pode ser explorado, reificado, despolitizado e
domesticado para apoiar projetos políticos autoritários sem nenhuma resistência.

6.3. Elementos de anti-semitismo. Limites do esclarecimento.

Tema relacionado com a indústria cultural: o desenvolvimento do mesmo caráter


sadomasoquista pressuposto no grande público é condição indispensável para o
surgimento do anti-semitismo em sua feição nazista.

EXPLICAÇÃO PELO FENOMENO DA FALSA PROJEÇÃO: “assim como existe


uma mimesis “saudável” que desvirtuada pelos anti-semitas como objetivos de
dominação, ocorre algo análogo em relação ao que os autores chamam de
“comportamento projetivo”. Numa evidente influência da teoria kantiana do
conhecimento, eles acreditam que a percepção do mundo depende de uma atividade do
sujeito, o qual “deve dar-lhe de volta mais do que dela obtém”. Em outras palavras, um
sujeito mal-constituido e empobrecido interiormente não tem propriamente uma
percepção da realidade. A falsa projeção, ou a percepção equivocada do mundo leva o
anti-semita a ver o judeu (ou aquele que é diferente, em geral) como um animal
daninho, cuja eliminação só faria bem a sua coletividade. Os autores chamam essa
percepção equivocada de “semicultura”, o espírito objetivo do capitalismo tardio,
relacionado-a com o tipo de caráter propicio à depauperação através da cultura de
massas.” (Cf. Duarte, p. 48 – 49).

Sobre a “mentalidade do ticket” : “não é preciso ser um anti-semita convicto para eleger
um governo fascista, mas apenas dizer “sim” ao ticket fascista, isto é, a uma obscura
lista de proposta e candidatos que confundem o desatento eleitor, de modo semelhante
ao que leva o espectador, igualmente distraído, a adquirir bens sem qualquer serventia,
apenas par se sentir em conexão com o mundo.” (Duarte) .

Comentário final sobre o aspecto positivo ou “afirmativo” da Dialética do


esclarecimento:

Duarte chama atenção para a profissão de fé que os autores da dialética do


esclarecimento fazem no pensamento dialético. Ao contrario do que se poderia pensar,
Adorno e Horkheimer não consideram a situação da humanidade um caso perdido.
Talvez seja possível fazer emergir no seio da própria sociedade humana o substrato
natural que se pretendeu submeter desde a pré-historia. Trata-se da possibilidade de
“rememoração da natureza no sujeito” , ou de uma espécie de mímesis capaz de
estabelecer uma síntese com o não-idêntico, como um caminho para, pelo menos, se
iniciar o processo de reversão do esclarecimento unilateral, com o objeto de torná-lo
“dialético”, isto é, consciente de sua relação com aquilo que ele não é ( o afeto e a
emoção, por exemplo).[ Cf. Duarte, p. 32 – 33].

6
7. Exemplos atuais a partir das respostas subjetivas da Industria Cultural
Existem basicamente dois tipos de respostas aos avassaladores estímulos da
industria cultural:

i) A necessidade de pertença a um grupo e de identificação com uma certa


unidade social: pode-se dizer que essa resposta constitui um elemento
natural à sociabilidade. Esta reação inspira ainda uma certa esperança na
possibilidade de emancipação humana.

ii) A vontade de se “libertar do pensamento como negação”. Uma reação


que demonstra uma modalidade patológica de renúcia pulsional. No fundo
trata-se de uma reação de perversidade e sadomasoquismo.

Exemplos de reação dos internautas ao filme: Star Wars: a vingança dos Sith

Bando de mal amados...


Star Wars é um espetáculo único, e o Episódio 3 foi simplesmente perfeito e
maravilhoso. Acho engraçado que tem um bando de mal amados que adora
meter o pau no filme... Se não gostam, não percam seu tempo postando
aqui e muito menos seu dinheiro assistindo ao filme. É como diria o ditado:
Gosto é igual a cabelo: uns tem bom, outros tem ruim e outros não tem
nenhum. Vão lá queimar seus neurônios no espaço Unibanco com aqueles
filmecos de arte que não levam a lugar algum e numa salinha espremida e
desconfortável que mal mal, tem som estéreo.
FERNANDO COSTA (39 anos)
Ou ainda:

ASSITAM DOMINADOS
O FILME É SOBRE UM GRUPO DE EMPRESÁRIOS DE UM IMPÉRIO DO MAL,
QUE SUBJUGA OS ESCRAVOS. VC NÃO VÃO VER QUE ISSO, SAIU EM
TODOS OS JORNAIS, REVISTAS, FIZERAM DOCUMENTÁRIOS,, VCS NÃO
VÃO RESISTIR, COMO VOCÊS PODEM RESITIR AO LADO NEGRO DA FORÇA?
OBEDEÇAM E ENTRE NA FILA, COMPREM , CONSUMAM E ESPEREM A NOVA
ORDEM
Renato Garia (105 anos)

Cf. Opinião dos internautas. Disponível em www.cinema.uai.com.br. Acesso em 05


jun. 2005.
Obs.: É preciso lembrar do conceito adorniano de “Manipulação retroativa”, segundo
o qual os agentes da Industria cultural dão a aparência de que os consumidores estão
escolhendo o que desejam, quando, na verdade, estão sendo objeto de uma sutil
imposição. Trata-se, na verdade, de um procedimento que leva em conta “necessidades
objetivas”, porem latentes, dos consumidores, com o objetivo de conquista-los de um
modo através do qual eles suporão ser sujeitos, quando na verdade são objetos.
Portanto, esse tipo de reação abordado na vontade de se “libertar do
pensamento como negação”, denota simplesmente o lamentável fato de que os
consumidores “morderam a isca”.

A “realidade” Disney e o Matrix


Finalmente, temos um ultimo comentario sobre a atual tendência da industria cultural de
promover inovações tecnológicas no sentido de uma reproduçéao cada vez mais perfeita

7
do som e da imagem, não apenas bidimensionalmente, mas flertando com a
possibilidade de criar “mundos” tridimensionais paralelos, criando a realidade virtual.
O autor observa que, normalmente, quanto maiores são as possibilidades de registro e
produção precisos e abrangentes de imagem e som, mais empobrecido é o conteúdo. Na
verdade, este empobrecimento não é por descuido ou por necessidade de economizar na
produção, mas de modo estudado, no sentido de fazer com que aquilo que se apresenta
na tela – e, em breve, em espaços virtuais tridimensionais - se diferencie cada vez
menos do que se vive na realidade.
Numa escala reduzida e em caráter experimental, temos a chamada “cidade real” criada
pelo conglomerado Disney, denominada “Celebration”.
Trata-se de um aglomerado urbano que – diferentemente de todos os outros que
possuem uma historia – é planejado até os mais ínfimos detalhes, retirando de seus
abonados moradores qualquer possibilidade de escolha. Celebration não tem prefeitura,
mas uma administração totalmente profissional que reduz todas as questões políticas
associadas à gestão de uma cidade a problemas gerenciais. Ela espelha a obsessão da
Disney pelo controle. Quase tudo em Celebration, da sua arquitetura a sua horticultura é
predeterminado pelo pessoal da Disney.
Temos ai um excelente exemplo da tendência da industria cultural de promover um
controle crescente sobre a percepção que seus consumidores têm do seu meio ambiente,
objetivando um envolvimento cada vez maior nos menores detalhes de sua vida, de
modo a conquista-los, seja para a compra do lançamento da semana ou para a aquisição
da certeza de que não é possível viver de uma forma fundamentalmente diferente do que
aquela na qual eles estão vivendo. Sob esse ponto de vista, não há diferença
fundamental entre a substituição da realidade física por outra “virtual”, eletronicamente
simulada – como, por exemplo, no filme Matrix – cuja verdadeira função não apenas a
de criar uma realidade fictícia, mas de auxiliar na confusão entre o real e o ilusório
artificilmente produzido com objetivos ideológicos.

Você também pode gostar