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4.. História da obra: Adorno e Horkheimer, judeus exilados em 1941 em Los Angeles
(USA), encaram juntos um antigo projeto de escrever um livro sobre a dialética. O
ponto de partida é uma antiga idéia de Horkheimer de escrever um livro sobre as
vicissitudes e possibilidades da dialética – no sentido hegeliano do termo. Mas diante
do recrudescimento da II Guerra mundial e o extermínio dos judeus, modificam o
projeto original e decidem escrever não somente sobre a dialética, acrescentando à obra
um capítulo sobre a Indústria Cultural e um sobre o Anti-semitismo.
5.1.1. Kant: Horkheimer defende em 1922 uma tese de habilitation intitulada: “Sobre a
antinomia da faculdade teleológica do juízo.” Já a proposta de tese de habilitação de
Adorno, intitulada: “O conceito do inconsciente na doutrina transcendental da alma”,
que pretendia coordenar a filosofia transcendental de Kant com o inconsciente de Freud,
não foi aceita em 1927 e foi trocada por um trabalho sobre Kierkegaard.
5.1.2. Hegel: Em 1925 Horkheimer profere sua primeira palestra e um curso como livre
docente na Universidade de Frankfurt sobre as relações entre Kant e Hegel.
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Adorno tem uma influência hegeliana indireta através da leitura do jovem Lukács e de
Ernst Bloch.
5.1.3. Marx: Influência mais decisiva dos autores: Nas publicações do Instituto de
Pesquisa social, ambos pretendem demonstrar que a teoria social pode ser
eminentemente crítica e transformadora da realidade. Antes da publicação da dialética
do esclarecimento, Adorno publica em 1938 seu texto: “O fetichismo na música e a
regressão da audição”, no qual procura transpor a concepção do fetichismo da
mercadoria, tal como aparece no livro I de O capital, para realizar uma análise crítica da
cultura mercantilizada.
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O que está em jogo: crítica a noção de história como um continuum que progride
sempre para o melhor. Ele já acentua a interpenetração entre cultura e barbárie.
Comentários:
Nossa Razão é reduzida ao elemento de racionalidade dominadora do real, promovendo
e justificando o desenvolvimento do processo de dominação da natureza pelo homem e
do homem pelo homem (= a reificação do homem).
Nesse contexto, a cultura deixou de ser a expressão, em termos estéticos, dos anseios e
projeções da experiência mais íntima homem para se tornar mais um campo de
exploração econômica.
“O medo que o bom filho da civilização moderna tem de afastar-se dos fatos – fatos
esses que, no entanto, já estão pré-moldados como clichês na própria percepção pelas
usanças dominantes da ciência, nos negócios e na política – é exatamente o mesmo do
medo do desvio social. Essas usanças também definem o conceito de clareza na
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linguagem e no pensamento a que a arte, a literatura e a filosofia devem se conformar
hoje. Ao tachar de complicação obscura e, de preferência, de alienígena o pensamento
que se aplica negativamente aos fatos, bem como às formas de pensar dominantes, e ao
colocar assim um tabu sobre ele, esse conceito mantém o espírito sob o domínio da mais
profunda cegueira.” (Prefácio da Dialética do Esclarecimento, p. 13)
Adorno e Horkheimer mostraram que esses meios criam a “falsa identidade do universal
e do particular”, ou seja, dão a aparência de que o indivíduo e o todo se encontram
reconciliados quando na verdade, tal sistema é um poderoso instrumento para gerar
lucros e exercer um tipo de controle social.
A Mass Mídia (cinema, televisão, rádio, discos, publicidade etc) são os instrumentos da
alienação, da exploração e da espoliação.
Na atualidade, as principais expressões dessa dominação técnica estão na Indústria
Cultural e na massificação do conhecimento, da arte e cultura que diluem o significado,
a importância e a força expressiva dessas instâncias, transformando tudo em objetos
estereotipados de consumo e promovendo a alienação resignada da sociedade.
Hoje, é sobretudo com a mídia que o poder impõe valores e modelos de
comportamento, cria necessidades e estabelece a linguagem. Esses valores não
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emancipam, nem estimulam a criatividade, pelo contrario, bloqueiam-na, porque
acostumam a nossa sociedade a receber passivamente as mensagens.
Entretanto, não é verdade que a padronização e o baixo nível dos produtos culturais
sejam um reflexo daquilo que o próprio público deseja.
Na crítica a mercantilização da cultura, os autores denunciam que ela realiza uma
apropriação da capacidade de “esquematismo” das pessoas. “Esquematismo” é o termo
cunhado por Kant para designar o procedimento mental de referirmos nossas percepções
sensíveis a conceitos fundamentais, que ele chamava de “categorias”. A indústria
cultural decompõe o que podemos perceber em suas partes elementares e as rearranja de
um modo que lhes seja interessante, ela adquire o enorme poder de influir no modo
como nós percebemos a realidade de nosso mundo sensível.
Além disso, aprendemos com o capitalismo monopolista que é a oferta que cria a
demanda.
Entre os agentes da industria cultural e conhecida a eficácia da “manipulação retroativa”
= Mecanismo Ideológico para a obtenção da adesão das massas.
Ex: plugging = repetição ad nauseam de um programa ou canção que se quer que o
público “goste”. (Procedimento oferecido mediante o suborno = jabá)
A manipulação retroativa consiste na conquista dos consumidores de modo a dar a
aparência de que eles estão escolhendo o que desejam, quando, na verdade, estão sendo
manipulados.
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mais fracos: “assim como o Pato Donald nos cartoons, também os desgraçados na vida
real recebem a sua sova para que os espectadores possam se acostumar com a que eles
próprios recebem.”
As obras criadas pela indústria cultural servem para produzir a passividade, distração. O
verdadeiro objetivo é desinformar e dessensibilizar. Tornar o indivíduo incapaz de
avaliar e criticar. Assim o individuo pode ser explorado, reificado, despolitizado e
domesticado para apoiar projetos políticos autoritários sem nenhuma resistência.
Sobre a “mentalidade do ticket” : “não é preciso ser um anti-semita convicto para eleger
um governo fascista, mas apenas dizer “sim” ao ticket fascista, isto é, a uma obscura
lista de proposta e candidatos que confundem o desatento eleitor, de modo semelhante
ao que leva o espectador, igualmente distraído, a adquirir bens sem qualquer serventia,
apenas par se sentir em conexão com o mundo.” (Duarte) .
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7. Exemplos atuais a partir das respostas subjetivas da Industria Cultural
Existem basicamente dois tipos de respostas aos avassaladores estímulos da
industria cultural:
Exemplos de reação dos internautas ao filme: Star Wars: a vingança dos Sith
ASSITAM DOMINADOS
O FILME É SOBRE UM GRUPO DE EMPRESÁRIOS DE UM IMPÉRIO DO MAL,
QUE SUBJUGA OS ESCRAVOS. VC NÃO VÃO VER QUE ISSO, SAIU EM
TODOS OS JORNAIS, REVISTAS, FIZERAM DOCUMENTÁRIOS,, VCS NÃO
VÃO RESISTIR, COMO VOCÊS PODEM RESITIR AO LADO NEGRO DA FORÇA?
OBEDEÇAM E ENTRE NA FILA, COMPREM , CONSUMAM E ESPEREM A NOVA
ORDEM
Renato Garia (105 anos)
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do som e da imagem, não apenas bidimensionalmente, mas flertando com a
possibilidade de criar “mundos” tridimensionais paralelos, criando a realidade virtual.
O autor observa que, normalmente, quanto maiores são as possibilidades de registro e
produção precisos e abrangentes de imagem e som, mais empobrecido é o conteúdo. Na
verdade, este empobrecimento não é por descuido ou por necessidade de economizar na
produção, mas de modo estudado, no sentido de fazer com que aquilo que se apresenta
na tela – e, em breve, em espaços virtuais tridimensionais - se diferencie cada vez
menos do que se vive na realidade.
Numa escala reduzida e em caráter experimental, temos a chamada “cidade real” criada
pelo conglomerado Disney, denominada “Celebration”.
Trata-se de um aglomerado urbano que – diferentemente de todos os outros que
possuem uma historia – é planejado até os mais ínfimos detalhes, retirando de seus
abonados moradores qualquer possibilidade de escolha. Celebration não tem prefeitura,
mas uma administração totalmente profissional que reduz todas as questões políticas
associadas à gestão de uma cidade a problemas gerenciais. Ela espelha a obsessão da
Disney pelo controle. Quase tudo em Celebration, da sua arquitetura a sua horticultura é
predeterminado pelo pessoal da Disney.
Temos ai um excelente exemplo da tendência da industria cultural de promover um
controle crescente sobre a percepção que seus consumidores têm do seu meio ambiente,
objetivando um envolvimento cada vez maior nos menores detalhes de sua vida, de
modo a conquista-los, seja para a compra do lançamento da semana ou para a aquisição
da certeza de que não é possível viver de uma forma fundamentalmente diferente do que
aquela na qual eles estão vivendo. Sob esse ponto de vista, não há diferença
fundamental entre a substituição da realidade física por outra “virtual”, eletronicamente
simulada – como, por exemplo, no filme Matrix – cuja verdadeira função não apenas a
de criar uma realidade fictícia, mas de auxiliar na confusão entre o real e o ilusório
artificilmente produzido com objetivos ideológicos.