Você está na página 1de 4

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO

NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E


ARTES
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA -
2022.1

Discente: Abner Ferreira Barbosa


Docente: Fernanda Machado de Bulhões

RESUMO DE ARTIGO: “NIETZSCHE E O NASCIMENTO DA FILOSOFIA


GREGA”

Natal/RN
2022
Nietzsche, logo no início de seus esforços docentes, já nutria poderosa afeição pelo
tempo histórico e as figuras históricas que protagonizaram o nascimento da filosofia, a qual,
conforme o professor, se manifestou na Grécia Antiga (séculos VI e V a.C.) em sua forma
mais pura e mais grandiosa. Na ocasião, estariam sendo lançados os fundamentos e
parâmetros aos quais toda a posteridade viria a recorrer. Era vivido um tempo no qual todo
pensamento resultava em uma implicação prática imediata, de modo que não havia separação
alguma entre teoria e prática. A filosofia pulsava nas ruas gregas, fazendo da vida de seus
filósofos um testemunho vivo das suas ideias.
Desta feita, passaremos a realizar uma análise, acompanhada do filósofo alemão e a
exposição de suas ideias no artigo de Bulhões (2013), da época trágica e das figuras de Tales
e Anaximandro.
A época trágica: a derrocada do mito e a ascensão da centralidade do Logos. O status
quo grego, nutrido pela cultura homérica e as religiões míticas, estava abalado. Há um
crescente questionamento dos modos de viver e pensar hegemônicos deste tempo. É nesta
brecha que os poetas líricos e trágicos, bem como os filósofos, irão habitar. Sendo
proponentes de uma nova forma de enxergar o mundo e nele viver.
O cidadão grego da época homérica estaria envolvido em certa magia apolínea que
resultava em uma ilusão de segurança, na qual sua fragilidade e vulnerabilidade estariam
tamponadas por uma espécie de véu. Aqui, usa-se a analogia do barqueiro, o qual, por mais
que esteja envolto por uma imensidão de mar, confia plenamente na força da estrutura de seu
barco e não teme os desfechos trágicos iminentes. A vida torna-se um sonho, pelo qual o ser
humano alimenta profundo desejo, querendo jamais dela se apartar.
Apolo haveria de reinar soberanamente no período homérico, até que a época trágica
traria consigo a força de Dioniso, acompanhado do sábio Sileno. Entra em cena a condição
efêmera da existência humana e sobre tudo é lançada a neblina da morte que chega para
abalar os apaixonamentos ingênuos em relação ao mundo. A época trágica é responsável por
protagonizar o rompimento do efeito apolíneo que transforma tudo em beleza. Contudo, há de
se mencionar algo importante, o “milagroso” pacto entre Apolo e Dioniso que trata de
potencializar e minar aspectos característicos de cada um deles. Por um lado, o furor
dionisíaco é aplacado. Por outro, o entorpecimento apolíneo encontra seu fim. Assim, se
constitui o campo, no qual emerge a possibilidade da tragédia e da filosofia.
Nietzsche nos apresenta estes primeiros filósofos como sendo detentores de um
verdadeiro ‘espírito de reforma’, um espírito inventivo que conferiu um poder, quase que
inabalável, promotor de novas formas de ser e estar no mundo. Cada filósofo portará isso de
forma deveras pessoal, cada qual segundo seus sistemas de pensamento.
Neste cenário, há a figura importantíssima daquele que é considerado por Nietzsche
como sendo o primeiro dentre os filósofos gregos. Aquele que plantou o que viria a ser o
poderoso princípio de que ‘tudo é um’, a saber, Tales de Mileto. Ele seria o primeiro filósofo
por três razões: 1) elaborou acerca da origem das coisas; 2) o fez sem recorrer às fabulações
míticas; e 3) fundou a possibilidade do que se tornou a expressão ‘tudo é um’. Tales poderia
ter se restringido a um “entendimento calculante” e científico das coisas, contudo, ao
dissertar acerca de como tudo deveria ser proveniente da água, ou mais especificamente, do
úmido, ele o fez com um golpe de pensamento, algo próprio da filosofia. Ou seja, ao tentar
abranger a totalidade, Tales avançou para além da mera compreensão parcial característica
das ciências, ele buscou o todo como é típico dos filósofos. Para Nietzsche (1994), Tales foi o
primeiro a satisfazer a definição da filosofia como sendo: “a arte de representar em conceitos
a imagem de tudo o que existe.” Assim, Tales se constituí como o primeiro dentre os muitos
que haveriam de vir.
Por conseguinte, pode-se destacar também a figura de Anaximandro, a qual seria
responsável pela instituição do devir, o vir a ser inerente às coisas, conceito e problemática
fundamental da reflexão filosófica. A partir da visão do devir, Anaximandro iria pressupor a
existência de um ser anterior ao devir, um ser primordial, o chamado: ápeiron, o
indeterminado. Assim, ele inaugura uma visão dual do mundo: uma realidade primordial, a
habitação do ápeiron, eterna, una, indeterminada, atemporal, e outra realidade, a habitação do
devir, efêmera, decadente, das coisas múltiplas e determinadas, destinadas, invariavelmente, à
morte. Tratam-se de dois mundos separados, o que não deveria existir, todavia, por efeito do
processo de “injustiça”, as coisas se separam da realidade primeira. Desse modo, há uma falta
moral onipresente no mundo do devir, a qual deverá ser expiada pela decomposição inerente
a este mundo. Portanto, podemos considerar a visão de Anaximandro como sendo dualista,
moralista e pessimista, uma vez que sustentasse através de um sistema de culpa e punição,
crime e castigo. Porém, a atenção dada por Anaximandro a problemática do devir haveria de
perdurar por séculos a fio.
Por fim, é válido ressaltar que, em Nietzsche, a questão fundamental da filosofia,
desde o seu princípio, não é outra senão a questão do devir. O ser é importante, não há como
negar, mas o devir é o combustível próprio das reflexões filosóficas, é o constante vir a ser
que se passa diante de nossos olhos que produz thaumazein (espanto, admiração, assombro) e
nos leva a pensar. Cabe também a nós sermos inventivos, criativos, imaginativos, a
semelhança de uma criança, a semelhança dos filósofos arcaicos.

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
BULHÕES, Fernanda. Nietzsche e o nascimento da filosofia grega. Princípios, v. 20, n.
33, 2015, pp. 391-410.
NIETZSCHE, Friedrich. Les philosophes préplatoniciens. Trad. Nathalie Fernand.
Apresentação e notas: Paolo D’lorio. Paris, Editions de Léclat, 1994.

Você também pode gostar