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Entenda o

Transtorno
Obsessivo -
Compulsivo
(T.O.C.)
POR LEILA SLEIMAN
Psicóloga Clínica
Sobre a Autora

Leila Sleiman
Psicóloga Clínica (CRP- 06/124906)

Sou psicóloga, atuo na área clínica, tive experiências na área hospitalar e


organizacional. Apesar de serem áreas com propostas diferentes, há algo nelas que
realmente me instiga: o ser humano. Esse sujeito inserido nos mais diferentes
âmbitos. Cada um com suas vivências, fragilidades e potencialidades. Cada qual
apresentando e nos presenteando com suas histórias. E nessa trajetória, um dos
quadros que mais despertou minha curiosidade e me estimulou a estudar é o
Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC).
Este e-book tem como finalidade fornecer informações relativas a essa doença e
pretende, acima de tudo, fornecer uma perspectiva, novos horizontes para quem
sofre com ela. Adoecer muitas vezes não está em nossas mãos, mas caminhar rumo
a melhora, ainda que em passos lentos, é possível!

Contatos: le_sleiman@hotmail.com
Whatsapp: (11) 95878.9898
Skype: Leila Sleiman

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Numa bela tarde de sábado Aninha ganhou de presente uma bicicleta
Numa bela tarde de sábado Aninha começou a aprender
Numa bela tarde de sábado Aninha sentou-se na bicicleta
Segurou firmemente o guidão e com o auxílio das "rodinhas de apoio" e
muita força nos pés
Aninha aventurou-se a pedalar
Pedalou, pedalou, pedalou...
Com confiança e muito equilíbrio, ela continuou
Ela dispensava ajuda, afinal sentia-se segura
Numa bela tarde de sábado sua mãe levantou as rodinhas
Aninha tentou se equilibrar
Com um pouco de treino Aninha voltou a, maestralmente,pedalar
Numa bela tarde de sábado, as rodinhas, a mãe de Aninha decidiu tirar
Como alguém que vive em uma relação simbiótica, Aninha pôs se a
protestar
Aninha insistia, ela necessitava de suas rodinhas para pedalar
Mas o que Aninha mal sabia
É que ela logo, logo, perderia essa traiçoeira mania
De muletas precisar.

Introdução
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Você já parou para Imagine que você está
pensar no que faz cada pessoa convencido de que é totalmente
ser como é? Por que responsável pela vida ou saúde
determinados indivíduos tendem de quem você ama. Pense que
a agir de um modo específico? você realmente acredita que
Ao longo da vida, as pessoas você pode evitar doenças,
recebem influências do meio que brigas, desentendimentos,
as rodeiam e também herdam catástrofes fazendo alguns rituais
uma carga genética que pode mentais ou comportamentais.
influenciar a maneira como Tente se colocar neste lugar!
pensam, sentem e se Doloroso, não?
comportam. São exatamente esses
O desenvolvimento do ser alguns dos pensamentos
humano se dá em várias fases, recorrentes na mente de quem
cada uma com características sofre de Transtorno Obsessivo-
diferentes. Em determinado Compulsivo (TOC).
momento destas etapas, para
lidar com os eventos que se Transtorno Obsessivo-
sucedem os indivíduos podem Compulsivo
criar estratégias, algumas O TOC é uma doença
positivas, saudáveis e outras que caracterizada pela presença de
geram prejuízo. Então, você obsessões e compulsões.
pode se perguntar, qual o sentido A mente de quem tem TOC
de manter uma estratégia que é invadida por obsessões. Este é
não é vantajosa? A resposta é o nome dado aos pensamentos,
simples, porém nem sempre é impulsos ou imagens, intrusivos,
vista assim para quem passa por indesejáveis e recorrentes. Eles
isso. causam medo, ansiedade ou
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desconforto. Essas ideias neutralizá-los com algum outro
acabam por consumir muito pensamento ou ação.
tempo da vida de quem sofre Não raramente, a pessoa
com essa doença, sendo em sente-se forçada a responder
atividades simples do dia a dia, as obsessões de modo que
nos relacionamentos ou no passa a ter compulsões ou
trabalho. rituais, ou seja, comportamentos
E quais são os repetitivos ou atos mentais.
pensamentos mais O alívio temporário que a
frequentes? Eles são referentes realização das compulsões traz,
ao medo e preocupação de se é o que as mantêm. Assim,
contaminar, dúvidas relacionadas proporcionam a ilusão de que a
a possibilidade de falha, execução do ritual, de fato,
necessidade de ter certeza. afastou a ameaça. Existe uma
Como também pode ter um grande variedade de compulsões
conteúdo violento/agressivo, como de lavagem, verificação,
sexual ou religioso, pensamentos repetição, simetria, acumulação,
supersticiosos, preocupação em etc. Compulsões mentais
manter simetria e também são frequentes tal qual:
armazenamento de coisas rezar, repetir palavras, frases
inúteis. Para lidar com essa e/ou números, entre outros.
enxurrada de pensamentos , Para efetuar o
impulsos ou imagens, o sujeito diagnóstico de TOC, é
tenta ignorá-los ou ainda primordial verificar se as
obsessões e/ou compulsões
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consomem tempo, causam que tem este transtorno precisa
sofrimento ou prejuízo de ajuda. Assim, é importante
significativo para a vida do que ele procure e se engaje em
portador. E o conteúdo dos um tratamento.
sintomas não deve estar Tratamento
relacionado a substâncias, O tratamento do TOC é
medicamentos, condições realizado através de intervenção
médicas ou outros transtornos medicamentosa associada à
psiquiátricos. psicoterapia.
Portanto, verifica-se que a Tratamento através da Terapia
pessoa que possui este Cognitivo-Comportamental
transtorno tem um grande A psicoterapia na linha da
prejuízo em sua vida decorrente Terapia Cognitivo-
da doença, suas compulsões não Comportamental (TCC) é de
são apenas manias, o grau de suma importância para o
sofrimento é muito alto, tratamento do TOC. Ela tem a
principalmente, quando as finalidade de promover
obsessões não são sucedidas mudanças nos pensamentos que
por compulsões, evitações ou muitas vezes não estão de
neutralizações. acordo com a realidade.
O TOC pode se Para Knapp (2004) as
desenvolver por vários fatores obsessões que os pacientes
como: a predisposição genética, possuem podem estar atreladas
alterações cerebrais e aspectos a crenças disfuncionais,
psicológicos. distorcidas, que eles têm sobre
Para tentar voltar a ter uma si, os outros e o mundo.
vida funcional e sem
significativos prejuízos o paciente
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A seguir será apresentada uma técnica socrática
que pode ajudar a corrigir as crenças distorcidas
de uma pessoa com TOC:
 Quais evidências eu tenho de que o que passa pela minha
cabeça ou os meus medos têm algum fundamento? Quais
evidências são contrárias?
 Existe uma explicação alternativa para isso?
 Meus medos têm como base alguma prova real, ou ocorrem
porque eu tenho TOC? O que é mais provável?
 O que ______________________ (alguém de referência para
você) diria sobre meus medos?
 Como a maioria das pessoas se comporta em situações
semelhantes?

Ao fazer tais questões, o terapeuta auxilia o paciente a analisar


por novos e distintos ângulos seus pensamentos distorcidos,
permitindo que essa pessoa se conscientize e possa corrigí-
los. Busca-se chegar a uma resposta mais funcional, racional e
realista para a interpretação da realidade. Após muito exercitar
essa técnica, o paciente acaba por utilizá-la quando perceber
suas obsessões.

Outra técnica muito utilizada para mudar uma


interpretação distorcida é a das duas teorias (A e B)
proposta por Salkovskis et al. (1998) apud Knapp(
2004):
Nós temos duas teorias alternativas para explicar o que ocorre
com você:

1) Teoria A: Você está de fato contaminado e precisa se lavar


porque pode contaminar sua família e ser responsável por
doenças e, quem sabe, pela morte de familiares.

2) Teoria B: Você é uma pessoa muito sensível a medos de


ser contaminado e reage a esses medos de uma forma que
compromete sua vida: fazendo um excesso de lavagens
seguidas.

Assim, pode-se questionar ao paciente:

 Qual destas duas alternativas é a mais provável?


 Você já tentou lidar com este problema de acordo com a
segunda hipótese, ou seja, como se fosse um problema de
preocupação ou medo excessivo, e não uma possibilidade
real?
Desta maneira, verifica-se que a TCC dispõe de uma gama de
técnicas que podem ser aplicadas junto aos pacientes com
TOC. Embora as sessões sejam estruturadas e haja um
protocolo a seguir, ressalta-se a necessidade do profissional
debruçar-se sobre cada caso como único- pois assim o é,
algumas características em comum (padrões) não devem
sobressair-se diante do ser humano que ali se apresenta.
Neste sentido, a flexibilidade, a criatividade e a paciência são
atributos significativos que precisam acompanhar o trabalho e a
postura do Psicólogo.

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Aos portadores de TOC ter onde se guiar e se equilibrar,
As pessoas que se mas mudar ajudará a,
identificaram com esses principalmente, perceber quando
sintomas continuem sendo mais a "rodinha" limita e mantém o
do que pacientes que esperam, indivíduo refém dela, como se
perseverem, movimentem-se! sua presença fosse
Não hesitem em procurar indispensável, não consentindo
ajuda! O TOC tem tratamento. que ele pedale ou caminhe por si
Conhecer o seu quadro é o só.
primeiro passo para se entender Finalmente, mudar
e decidir por onde começar a propiciará a você descobrir
mudar. novas potencialidades,
Por fim, Mudar implicará possibilidades, forças e
em renunciar, abandonar capacidades. Permitirá construir
velhas "manias" e arriscar-se novos alicerces, porém não
no novo. Poderá provocar medo, baseados em ideias irreais, mas
ansiedade ou incerteza diante do sim, em evidências concretas. E
desconhecido. Desvendar um toda essa vivência terá seu auge
novo mundo aventurar-se a quando você (re)experimentar a
caminhar sem muletas, pedalar sensação de LIBERDADE.
sem "rodinhas de apoio".
Possibilitará constatar que, até
determinado momento, caminhar
com amparo é fundamental, para
Referências

APA- American Psychiatric Association. DSM-5: manual diagnóstico e


estatístico de transtornos mentais. 5 ed. Porto Alegre: Artmed,
2014.

CORDIOLI, A. (2005). Psicofármacos: consulta rápida. Porto Alegre,


Artmed.

CORDIOLI, A. (org). TOC: manual de terapia cognitivo-comportamental


para o transtorno obsessivo-compulsivo. 2 ed. Porto Alegre:
Artmed, 2014.

Knapp, P. (2004). Terapia Cognitivo-Comportamental na Prática


Psiquiátrica. Porto Alegre: Artes Médicas.

SILVA, A. Mentes ansiosas: medo e ansiedade além dos limites. Rio de


Janeiro: objetiva, 2012.

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