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Aconselhamento

Cristão

Pr. Kenneth Eagleton

Escola Teológica Batista Livre

Campinas, SP

2019
1

ACONSELHAMENTO CRISTÃO
Pastor Kenneth Eagleton
1º Semestre 2019

Com a desobediência do ser humano e queda do estado de graça diante de Deus (Gênesis capítulo 3),
o pecado contaminou o ser humano e trouxe várias consequências que nos afetam hoje. Já não
pensamos mais como Deus pensa, não sentimos como ele sente e não agimos como ele age ou
gostaria que nós agíssemos. O pecado afeta nossa maneira de pensar, nossas emoções e nosso
comportamento. A corrupção resultante traz uma longa lista de distúrbios e problemas para o ser
humano.

Quando o cristão se volta para o seu próximo com o intuito de alcançá-lo para Cristo e servir a
humanidade, é muito comum encontrar-se em situações que demandam ajudar ao próximo. Às vezes,
são os outros que nos procuram pedindo ajuda e conselho. Outras vezes somos nós que vemos
necessidades gritantes na vida dos outros aos quais gostaríamos de ajudar.

Os cristãos mais maduros na fé e os que estão em posições de liderança na igreja são frequentemente
procurados por pessoas dentro e fora da igreja que necessitam de uma ajuda durante alguma crise
pessoal ou de um aconselhamento para lidar com problemas crônicos. Este curso visa providenciar
alguns recursos para capacitar o cristão a ser mais efetivo como conselheiro em sua busca por um
aconselhamento com bases bíblicas.

Definição

Definição de aconselhamento cristão: aconselhamento feito por cristãos maduros preparados, com
o intuito de ajudar as pessoas com seus problemas relacionais, pessoais, emocionais e espirituais.
Não estamos falando apenas de pessoas com cargo ou título de pastor, mas também pessoas que
exercem o dom espiritual de pastor. “Pastor” é aquele que cuida das ovelhas.

A palavra grega parakaleó (da mesma raíz de paracletos, palavra usada para descrever Jesus e o
Espírito Santo) apresenta nuances diferentes de sentido, dependendo de como é usada: encorajar,
exortar, confortar e consolar. Esta palavra é usada para descrever um dos dons do Espírito em Rm
12:7-8: “Se o seu dom é servir, sirva; se é ensinar, ensine; se é dar ânimo (paracaleó), que assim faça...”
(NVI). É a capacidade de encorajar, exortar, confortar e consolar as pessoas, ajudando-as com seus
problemas pessoais. Algumas pessoas são dotadas ou capacitadas pelo Espírito Santo para fazer este
trabalho com mais eficiência, mas todos nós como cristãos devemos estar dispostos a ajudar nosso
próximo. No contexto da mutualidade que devemos ter como cristãos, lemos em Hb 3:12-13 – “12
Cuidado, irmãos, para que nenhum de vocês tenha coração perverso e incrédulo, que se afaste do Deus
vivo. 13 Ao contrário, encorajem-se (paracaleó) uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se
chama “hoje”, de modo que nenhum de vocês seja endurecido pelo engano do pecado” (NVI).

Há um bom exemplo bíblico de uma pessoa que havia o dom de encorajar (animar, aconselhar). Ele
se chamava José, mas ficou sendo conhecido pelo apelido “Barnabé” (Atos 4:36). Barnabé significa
“filho de encorajamento”. Ele tinha o dom de ajudar e encorajar os outros. No verso seguinte vemos

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que ele vendeu um campo e levou todo o dinheiro da venda e entregou aos apóstolos para que fosse
distribuído aos que tinham necessidades econômicas. Ele tinha um desejo de ajudar os outros.

Em Atos 9:26-27, logo depois da conversão de Saulo, lemos sobre a chegada dele a Jerusalém. Os
discípulos estavam com medo dele e não queriam se envolver com ele. No entanto, Barnabé acreditou
em Saulo e o levou para apresenta-lo aos apóstolos. Ele foi de grande ajuda.

Em Atos 11:19-26, lemos que uma multidão de gentios começou a se converter em Antioquía da Síria.
Quando a igreja de Jerusalém ouviu falar disto, enviaram Barnabé para Antioquía para servir de
discipulador. Chegando à cidade e vendo o volume de pessoas que haviam se convertido, Barnabé viu
que a tarefa seria grande demais para ele sozinho. Resolveu chamar Saulo para ajudá-lo com esta
tarefa, servindo como seu mentor. Juntos, ficaram um ano ensinando os irmãos desta nova igreja.

Barnabé é um bom exemplo do que um conselheiro cristão deve fazer, caminhando ao lado de alguém
para encorajar, confortar, consolar, guiar e mentoriar.

Linhas principais de aconselhamento entre os evangélicos:

1. Aconselhamento bíblico ou “noutético”. “Noutético” vem da palavra de origem grega


“nouthesia”, que literalmente significa “o ato de pôr em mente” (formado de “nous”, “mente”, e
“tithemi”, “pôr”). O termo “nouthesia” é “o treinamento pela palavra”, quer por incentivo, ou, se
necessário, por reprovação ou reclamação1.

Esta linha de aconselhamento caracteriza-se pelo estilo de confronto ao pecado. De acordo com
esta linha, tudo que se precisa para aconselhar é o texto bíblico. Não se aceita elementos da
psicologia. Uma das principais figuras responsáveis pela propagação desta linha foi o Dr. Jay
Adams nos anos 70. No Brasil, a Associação Brasileira de Conselheiros Bíblicos (ACBC:
http://abcb.org.br/) é muito ativa na promoção e treinamento desta corrente de aconselhamento.

2. Terapia pela psicologia. Muitos cristãos fazem aconselhamento usando exclusivamente princípios
da psicologia. Um psicólogo cristão não faz necessariamente um aconselhamento cristão se segue
apenas o treinamento humanista que recebeu na universidade.

Em 1992 o Journal of Psychology and Theology publicou uma pesquisa feita com terapeutas
cristãos americanos e constatou que somente 52% dos entrevistados disseram que sua fé
influencia de forma substancial a sua terapia; 28% disseram que, apesar de sua fé ser
fundamental, a maior parte de suas técnicas vem da psicologia e 13% disseram que sua fé tem
pouco a ver com sua profissão.

A cosmovisão da psicologia é humanista. Seus pressupostos não levam em consideração Deus e o


sobrenatural, nem as consequências do pecado na vida do ser humano. Contrariamente ao ensino
bíblico, tem uma visão otimista a respeito da condição natural do ser humano.

1
Fonte: https://expositivowebmackenzie.wordpress.com/2017/11/30/aconselhamento-noutetico/ - acessado em
06/05/2019.

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Aspecto positivo: estudos da psicologia têm descrito os processos da mente, das emoções, do
comportamento e do aprendizado humano que nos ajudam a nos conhecer melhor como seres
criados por Deus.

3. Cura interior (linha frequentemente seguida pelos pentecostais e carismáticos). Esta linha de
aconselhamento é caracterizada pela crença de que a solução dos problemas das pessoas virá
somente pela conversão e intervenção sobrenatural através da oração, aliados à fé da pessoa
necessitada. Longos períodos de clamor são praticados. Muitas vezes está associado à noção de
“libertação”, com ou sem outras disciplinas espirituais (como o jejum). O termo “cura interior” é
usado para uma grande variedade de práticas, algumas das quais vão mais além do que o descrito
aqui ou pode também ser usado como sinônimo de uma das outras três linhas aqui apresentadas.

4. Aconselhamento integrativo ou aconselhamento cristão (diferente da linha do aconselhamento


bíblico).

Esta linha de aconselhamento é mais abrangente, pois integra o componente noutético à teoria
da personalidade, aos conceitos do desenvolvimento, à psicopatologia e à formação espiritual. Ela
integra conhecimentos da psicologia e da espiritualidade: verdades bíblicas, discipulado, oração e
outras disciplinas. É cristão, pois parte de uma cosmovisão cristã (bíblica) e usa princípios bíblicos.
O aconselhamento cristão propõe uma metaperspectiva. O aconselhamento se baseia no princípio
de parakaleo (= andar ao lado da pessoa para confortar, consolar, encorajar e desafiar). A
organização que trabalha nesta linha no Brasil é o Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos
(CPPC: https://cppc.org.br/).

Oração, fé, cura e medicamentos (ou terapias)

É comum ouvir pessoas dizendo que basta orar com fé para obter tudo que necessitamos; isto é, a
resolução dos nossos problemas pessoais, além de cura física e emocional. Versículos como Mt 7:7-8
são usados: “Peçam, e receberão. Procurem, e encontrarão. Batam, e a porta lhes será aberta. Pois
todos que pedem, recebem. Todos que procuram, encontram. E para todos que batem, a porta é
aberta”.

Na prática, vemos que estas soluções ou curas nem sempre se materializam. Será que a oração
realmente funciona? Será que a fé realmente move montanhas? A explicação que dão os proponentes
desta posição é que não se orou o suficiente, ou então, não tiveram fé suficiente.

Porque algumas pessoas recebem o que pedem e outras não? Porque alguns recebem uma cura
milagrosa e outros não? Jesus disse: “Por certo havia muitas viúvas necessitadas em Israel no tempo
de Elias, quando o céu se fechou por três anos e meio e uma fome terrível devastou a terra. E, no
entanto, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas sim a uma estrangeira, uma viúva de Sarepta, na
região de Sidom. E havia muitos leprosos em Israel no tempo do profeta Elizeu, mas o único que ele
curou foi Naamã, o sírio” (Lc 4:25-27).

Talvez parte da resposta está nos versículos de continuação da passagem acima de Mateus, onde Jesus
diz: “Respondam: Se seu filho lhe pedir pão, você lhe dará uma pedra? Ou, se pedir um peixe, você lhe
dará uma cobra? Portanto, se vocês, que são maus, sabem dar bons presentes a seus filhos, quanto

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mais seu Pai, que está no céu, dará bons presentes aos que lhe pedirem! Em todas as coisas façam aos
outros o que vocês desejam que eles lhes façam. Essa é a essência de tudo que ensinam a lei e os
profetas” (Mt 7:9-12).

Jesus é como um bom pai, que não dá algo maléfico aos seus filhos quando estes lhe pedem uma coisa
boa. O problema é que nem sempre os filhos sabem o que é bom para eles e muitas vezes pedem
coisas que vão lhes fazer mal ou que não trazem glória a Deus. É comum crianças pequenas quererem
brincar com fósforos ou com uma faca ou ir para lugares perigosos. Um bom pai não permitiria isto,
mesmo se o filho lhe pedisse. Muitas vezes nós também pedimos coisas a Deus que Ele não permite
por saber que isto não nos fará bem.

Outras vezes, aliado à oração e a fé, Deus nos pede para agir, colocando nossa fé em ação: “façam
aos outros o que vocês desejam que eles lhes façam”. A fé exige ação. Quando os israelitas estavam
saindo do Egito e próximos ao Mar Vermelho, os egípcios os perseguiam. Apavorados, o povo clamou
a Moisés que clamou ao Senhor. O Senhor mandou que Moisés estendesse a sua vara para que o mar
se abrisse. Foi necessário que ele agisse com fé, obedecendo as instruções do Senhor (Ex 14:10-22).
Em outra ocasião, no início da liderança de Josué, quando os israelitas chegaram ao bordo do Jordão,
o Senhor deu instruções para que os sacerdotes entrassem na água do Rio Jordão para que o rio se
partisse em dois para a travessia dos israelitas (Jz 3:13-16). Novamente, sua fé foi testada pela ação.
Há muitos outros exemplos bíblicos deste princípio.

Quando uma pessoa necessitada pede nossa ajuda, é sempre importante orarmos por ela e encorajá-
la a ter fé em Deus. Mas muitas vezes Deus não intervém sem que sejamos obedientes a Ele, em fé,
colocando nossa fé em ação e obedecendo aos Seus princípios. A solução dos problemas pessoais
também depende da disposição da pessoa necessitada em fazer mudanças em sua vida e tomar os
passos necessários. Quando um filho pede aos pais para fazer o seu dever escolar em casa, um bom
pai não consente em fazer o trabalho por ele ou dar todas as respostas, mas ajuda o filho a aprender
como achar as respostas ou coloca-o no caminho da solução, sem fazer todo o trabalho. Isto é
necessário para a aprendizagem e o amadurecimento da criança. Deus age assim também conosco.
Ele está presente e nos guia pelo caminho, mas exige que ajamos em fé para o nosso bem e nosso
amadurecimento.

As ações a serem tomadas podem ser variadas: conversar com alguém (para pedir perdão, dar
esclarecimentos ou buscar uma resolução de conflito), mudar sua forma de pensar, mudar seu
comportamento, buscar ajuda profissional, seguir uma terapia ou um tratamento medicamentoso,
entre outros. Estas ações não são uma demonstração de falta de fé. Muito pelo contrário, são uma
demonstração de fé e obediência, de que debaixo da mão de Deus estas ações contribuirão para trazer
uma solução à sua necessidade. Não há contradição entre fé em Deus e o uso das ferramentas que Ele
coloca em nossas mãos para a resolução de certas situações. Sempre há a possibilidade de que Deus
resolva intervir de forma sobrenatural. Esta é sua prerrogativa. Mas não será sempre assim.

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Objetivo do aconselhamento:

Terapia cognitiva comportamental + mudança do coração


(mente) (emoções e vontade)

 Avaliação, identificação e renúncia  Avaliação, identificação e


de modos equivocados de pensar renúncia de emoções danosas
 Substituição por modos bíblicos de  Imposição da vontade sobre
pensar e agir as emoções

Transformações deste nível exigem uma mudança de cosmovisão (modo de pensar). Para que haja
uma transformação espiritual profunda, com mudanças no modo de pensar, agir, sentir e desejar, é
necessário a implantação de uma cosmovisão bíblica. Isto é, a implementação de uma maneira de
interpretar a realidade informada pela Bíblia, a revelação de Deus. O processo de transformação é
fortemente influenciado pelo relacionamento com Cristo, que inclui a formação espiritual e o
crescimento em maturidade cristã (santificação). Ao adotar a cosmovisão cristã, uma das áreas de
transformação que ficará evidente é que haverá uma mudança de foco do que é imediato e terrenal,
ao que é eterno. A perspectiva eterna passará a ter prioridade sobre o que é expediente somente para
o momento.

Alguns Princípios e Orientações Práticas:

Ao nos preparar para aconselhar e ajudar outras pessoas, há alguns princípios e orientações práticas
que devemos seguir para sermos eficazes e não cairmos em algumas armadilhas.

1. Autoridade da Bíblia. Para que um aconselhamento seja cristão, é necessário reconhecer o


senhorio de Jesus Cristo e a Bíblia como sendo a revelação de Deus para nós. O autor da Bíblia é
nosso criador. Foi ele que nos projetou e que nos conhece em profundidade. A Bíblia revela sua
intenção para nós. Os princípios e mandamentos ali expostos são para o nosso bem. É um manual
do usuário que necessitamos usar se quisermos ter bons resultados.

A Bíblia nunca está desatualizada. Ela revela verdades eternas que permanecem sempre atuais,
pois são verdades que dizem respeito à condição humana. Por serem de origem divina, são
princípios inerrantes (sempre corretos). Podemos ter confiança no que diz a Bíblia. Ela serve como
guia fiel para nossas vidas. Os princípios bíblicos não são ideais inatingíveis. Pela obediência às
Escrituras, pela graça que nos é dada por Deus e pela atuação capacitadora do Espírito Santo, é
possível vivermos à luz do que nos ensina a Bíblia.

Tendo dito isto, é necessário enfatizar que a Bíblia não se propõe a ser um livro didático de
psicologia, medicina, sociologia, ou qualquer outra disciplina. Tudo que ela contém é verdadeiro,
mas a verdade toda não está contida nela. Muitos conhecimentos sobre a criação de Deus e o
funcionamento do corpo e da mente humana podem ser aprendidos por pesquisas, experimentos
e estudos. Não devemos desprezar estas descobertas apenas por não estarem contidas na Bíblia.
Não há contradição entre a Bíblia e a ciência verdadeira.

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2. Estabelecer relação pessoal. Como cristãos, devemos tratar todos com a dignidade com que
merecem. Todos temos o mesmo valor diante de Deus, independentemente de nossa condição
social, econômica e até espiritual. Mesmo aqueles que já cometeram muitos erros na vida (talvez
até graves) têm um valor inestimável diante de Deus. Toda vida é preciosa.

Além de tratar a todos como pessoas dignas, devemos trata-las também com amor. O amor deve
ser a marca do cristão. Sendo assim, ninguém deve ser tratado com frieza, como um cliente
qualquer. É importante que a pessoa que estamos tentando ajudar veja em nós uma preocupação
sincera para com ela.

Algumas pessoas se abrem com facilidade para falar de seus problemas, sentimentos mais íntimos
e lutas interiores. Porém a maioria não se abre com tanta facilidade. Para que uma pessoa se sinta
à vontade para conversar sobre seus assuntos pessoais, é necessário estabelecer uma relação de
confiança. Muitas vezes isto pode levar algum tempo, principalmente se a pessoa já sofreu algum
tipo de quebra de confiança que a machucou profundamente. Pode ser mais difícil para ela voltar
a confiar em alguém.

Guardar a confidencialidade do que as pessoas nos contam sobre suas vidas pessoais é muito
importante para construir e manter a confiança da pessoa. Ninguém gosta de ouvir de outros,
coisas que confidenciaram para um conselheiro. Devemos manter confidencialidade mesmo
quando isto não for explicitamente pedido pela pessoa que estamos ouvindo. Se percebermos
que a pessoa tem receio em se abrir, podemos assegurá-la de que o que ela contar ficará em
confidência. Repetir estas informações a outros pode facilmente ser caracterizado como fofoca
ou fuxico, o que é pecado. Muitas vezes, no meio cristão, a fofoca é disfarçada como “pedido de
oração”.

“O fofoqueiro espalha segredos, mas a pessoa confiável sabe guardar confidências” (Pv 11:13).

Há, porém, casos que podem exigir quebra da confidencialidade. Avise a pessoa que você está
tentando ajudar, desde o início do aconselhamento, que se surgirem informações criminosas ou
que ponham em risco a vida ou o bem-estar de alguém, poderá ser necessário quebrar a
confidencialidade. Se houver indício de atividade criminosa, pode ser necessário comunicar isto
às autoridades. Se a pessoa que está sendo ajudada demonstrar que está contemplando o suicídio,
um encaminhamento à um profissional deve ser feito e os familiares mais próximos devem ser
avisados. Se a pessoa demonstra intenção de agressão à outras pessoas, estas devem ser avisadas
para que tomem precauções.

O nível de confidencialidade depende também do grau de conhecimento geral de uma


determinada situação. Casos com conhecimento restrito (sem envolvimento de outros ou com
envolvimento e conhecimento mínimo) podem ser tratados de maneira restrita. Casos com
conhecimento generalizado ou com muitas pessoas envolvidas, podem necessitar de alguma
declaração pública se houver necessidade de disciplina eclesiástica. Isto somente deve ser feito
por pessoas com experiência suficiente para controlar os danos causados.

É importante o conselheiro estabelecer uma relação com a pessoa que está ajudando. No entanto,
deve-se ter muito cuidado em não criar uma relação de dependência da pessoa aconselhada no
conselheiro. O conselheiro pode ajudar nas crises, mas a pessoa tem que aprender a caminhar

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com as próprias pernas, tomando suas próprias decisões e assumindo responsabilidade por sua
vida. A nossa dependência prolongada deve ser somente em Deus.

Há um grande perigo envolvido na relação de ajuda: são as situações que podem colocar a
reputação do conselheiro em risco, principalmente com pessoas do sexo oposto! Muito cuidado
deve ser usado para não dar motivo de suspeitas de um comportamento inapropriado, como
também para não se expor a uma situação de tentação. O nosso inimigo é astuto e sabe usar estes
momentos de vulnerabilidade para trazer tentação. Todo conselheiro deve seguir alguns cuidados
básicos para não ser surpreendido ou mal compreendido.

3. Esteja presente. Quando as pessoas passam por algum trauma, muitas vezes sentem a
necessidade de saber que não estão sozinhas. Talvez não sabemos o que dizer nesta situação, mas
a nossa simples presença já conforta. Quando Jó passou por tantas provas, alguns de seus amigos
vieram estar com ele. Cumpriram alguns ritos de demonstração de luto e depois por sete dias
ficaram sentados com Jó sem falar. Sua simples presença era um apoio e um conforto para Jó.
Quando começaram a fazer discursos, deixaram de ser tão reconfortantes, pois não tinham uma
perspectiva correta e diziam coisas errôneas. Se não soubermos que conselho dar, é melhor ficar
calado e somente se mostrar presente e disponível.

4. Empatia. Procure colocar-se no lugar da pessoa machucada que está contando sua história ou
descrevendo como se sente. Isto pode nos ajudar a evitar que digamos coisas inapropriadas. Como
é que eu me sentiria se estivesse no lugar desta pessoa? O que eu faria? Ter empatia por alguém
não é a mesma coisa que sentir dó. Quando nos colocamos no lugar da outra pessoa, isto nos
ajuda a evitar o erro de começar a falar sobre nós mesmos.

5. Saiba ouvir. Ouça com interesse genuíno. Parafraseie o que você ouviu, pois isto demonstra que
está ouvindo, mas também evita desentendimento. Ouça não somente o que é dito, mas também
aquilo que não é dito. Preste atenção não somente às palavras, mas também às emoções que
estão sendo demonstradas. Muitas vezes a pessoa necessita contar sua história a alguém que
esteja disposta a ouvir. Pessoas que se sentem solitárias ou que têm acumulado muitas emoções
dentro de si se sentem muito melhor depois que tiveram a oportunidade de falar e extravasar o
que está preso dentro de seu interior. Para estas pessoas, a melhor coisa que podemos fazer para
ajudar é ser ouvintes atenciosos. Saber ouvir é terapêutico.

“Quem responde antes de ouvir comete insensatez e passa vergonha” Pv 18:13 (NVI).

“Entendam isto, meus amados irmãos: estejam todos prontos para ouvir, mas não se apressem
em falar nem em se irar” Tg 1:19 (NVT).

Para ser um ouvinte atencioso, precisamos suprimir nossa vontade de falar e de dar respostas
para tudo. Nem tudo precisa de uma resposta. Ser um bom ouvinte é reconfortante para muitos
que estão passando por dificuldades.

Se a pessoa tem dificuldades para se expressar, faça perguntas abertas (que não podem ser
respondidas somente com “sim” ou “não”) para estimular a pessoa a falar.

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6. Investigação. Em Gn 3:9, lemos que Deus perguntou para Adão e Eva: “Onde você está?” (NVT).
Foi a primeira comunicação de Deus com o pecador depois da queda no Jardim do Éden. Ao
aconselhar os outros, temos que entender onde a pessoa está:
 Consigo mesma (suas emoções, saúde física, etc.),
 Nos seus relacionamentos com os outros e
 No seu relacionamento com Deus.

Este é um processo de descoberta tanto para o conselheiro pastoral como para a própria pessoa
sendo aconselhada. Tome cuidado para não tirar conclusões precipitadas a respeito da situação.
É necessário ter todos os fatos. Muitas vezes as primeiras coisas que ouvimos são as informações
filtradas, somente os fatos ou o ponto de vista que a pessoa quer que ouçamos. Uma investigação
mais profunda pode revelar que há outros elementos envolvidos que não foram expostos
inicialmente e que podem mudar o nosso entendimento sobre o problema.

Sempre há pelo menos dois lados para cada história. Cada pessoa envolvida em um conflito tem
a sua perspectiva e sua opinião. Cada lado apresenta mais detalhes (que às vezes foram omitidos
por outros) que ajudam a esclarecer os fatos. Se possível, precisamos ouvir todos os lados
envolvidos.

Ao tentar entender uma situação pessoal que nos é colocada, é também muito útil procurar
entender um pouco da história familiar e pessoal da pessoa que estamos ajudando. Como era sua
família de origem (seus pais e irmãos)? Qual é a dinâmica da família atual (cônjuge, filhos)? Quais
são as experiências mais marcantes do histórico pessoal? Existem traumas emocionais
importantes em seu passado? Todos estes elementos podem nos ajudar a entender o quadro geral
com o qual estamos lidando.

7. Anotar. Tome notas dos encontros de aconselhamento. Isto nos ajuda a relembrar tudo que foi
dito. Antes de um próximo encontro, revise as anotações para refrescar a memória. As anotações
também poderão ser úteis se alguma questão for levantada muito tempo depois do
aconselhamento.

8. Não caia na tentação de oferecer uma solução rápida.2 Não prometa algo que não se pode
cumprir e nem caia na tentação de dar uma receita mágica para os problemas ou usar chavões ou
frases feitas. “É só perdoar e pronto”! “É só aceitar a situação e pronto”! Basta orar todos os dias
e a situação vai se resolver”. O aconselhamento bíblico cristão é um processo que envolve a
reprogramação da mente a partir de um novo paradigma, a partir de uma nova visão, onde o
aconselhado é levado a enxergar de maneira diferente daquela que tem enxergado até então.
Portanto, ele/ela é desafiado a agir com base em novos valores. Isto leva tempo e disciplina.

9. Confrontar o pecado. Quando existe pecado, leve a pessoa a reconhecê-lo, confessá-lo e


abandoná-lo. Muitos não reconhecem que estão vivendo em pecado, as vezes por ignorância e as
vezes por um processo inconsciente de racionalização ou justificação de seu pecado. Como
cristãos, somos chamados a confrontar os nossos irmãos na fé. “Se um irmão pecar contra você,
fale com ele em particular e chame-lhe a atenção para o erro. Se ele o ouvir, você terá recuperado

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Pr. Lucas Lima.

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seu irmão. Mas, se ele não o ouvir, leve consigo um ou dois outros e fale com ele novamente, para
que tudo que você disser seja confirmado por duas ou três testemunhas” (Mt 18:15-16).

Quando há arrependimento, pode ser que seja necessário pedir perdão a alguém e até fazer
restituição.

10. Dê esperança. Aqueles que tenham passado por uma perda, um trauma ou que estão passando
por problemas emocionais ou de conflito com outras pessoas – todos necessitam esperança. Não
há caso perdido para Deus. Não há caso sem solução. Cristo pode ajuda-los a superar qualquer
problema, por mais que possa parecer difícil. O conselheiro cristão sempre pode ajudar a pessoa
machucada, desesperada ou deprimida a voltar a ter esperança.

“Por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por que está assim tão perturbada
dentro de mim? Ponha a sua esperança em Deus! Pois ainda o louvarei; ele é o meu Salvador e o
meu Deus” Salmo 42:11.

“Como são felizes os que têm o Deus de Jacó como seu auxílio, os que põem sua esperança no
Senhor, seu Deus” Sl 146:5 (NVT).

“De manhã ouves, Senhor, o meu clamor; de manhã te apresento a minha oração e aguardo com
esperança” Sl 5:3 (NVT).

11. Aconselhamento de crises. Há momentos em que as pessoas passam por situações graves
inesperadas ou por exacerbações críticas de problemas preexistentes. Nos momentos de crise o
conselheiro deve se concentrar em ajudar o aconselhado a atravessar o momento da crise,
atenuando-a se possível. Depois de passado a crise, pode-se tratar do que levou à crise. Durante
a crise os objetivos principais devem ser:
 Avaliar riscos iminentes de violência (à própria pessoa [suicídio] ou a outros) ou desequilíbrio
emocional sério que exija intervenção de um profissional.
 Tranquilizar o aconselhado.
 Orientá-lo a não tomar decisões importantes durante a crise. Um estado emocional alterado
inibe o raciocínio. Decisões importantes tomadas durante este estado podem trazer um
arrependimento posterior. Porém, nem todas estas decisões são reversíveis.

12. Encaminhamento. Às vezes, a pessoa que estamos tentando ajudar requer mais ajuda do que
aquilo que podemos oferecer (droga adição, depressão profunda, ansiedade paralisante,
psicopatologias, abuso sexual, etc.). Nestes casos precisamos ajudá-lo a encontrar um profissional
que possa ajudar. Muitos casos de depressão também necessitam de uma avaliação médica e/ou
psicológica e devem ser encaminhados.

Dois exemplos bíblicos de encaminhamento:


 Uma menina escrava (2 Reis capítulo 5). Uma menina hebreia, que tinha sido capturada
durante uma invasão síria de Israel, trabalhava como serva da esposa do general da Síria,
Naamã. O general desenvolveu lepra; incurável à época. A menina via aquilo, mas não podia
fazer nada. No entanto, ela resolveu contar à sua senhora que havia um profeta em Israel que
poderia ajudar. Ela fez um encaminhamento que salvou a vida de Naamã e demonstrou o
poder de Deus.

06/05/2019 Pr. Kenneth Eagleton


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 O bom samaritano (Lucas 10:30-35). Jesus contou a parábola de um homem que viajava de
Jerusalém a Jericó por uma estrada deserta e perigosa. Ele foi assaltado por bandidos que o
deixaram ferido à beira da estrada. Duas pessoas religiosas passaram por ali, mas não pararam
para prestar socorro. Por fim, passou um samaritano que parou para socorre-lo. O homem
ferido precisava de um cuidado maior do que o samaritano poderia oferecer. No entanto,
pegou o homem ferido, colocou-o encima de seu jumento e o levou a uma hospedaria onde
encontrou alguém que pudesse tomar conta dele.

O que nos impede de ajudar os necessitados (como os dois religiosos no caso da parábola)?
 Medo. Às vezes, quando vemos uma pessoa necessitada, o medo de nos envolvermos nos faz
recuar ou nos faz passar ao largo.

 Sensação de impotência. O sentimento de que somos impotentes e não podemos fazer nada
também nos motiva a não nos envolvermos com os necessitados. “Eu não sei o que fazer”.
“Eu não tenho capacidade para ajudar esta pessoa”.

 Falta de tempo. Ajudar aos outros exige dedicar seu tempo a eles. Muitas vezes, situações em
que as pessoas necessitam de ajuda interrompem o que estamos fazendo. Temos outras
prioridades urgentes e simplesmente não queremos investir o tempo que seria necessário.

Quais são os encaminhamentos possíveis? Os encaminhamentos dependem do tipo de caso.


Alguns casos exigem uma abordagem multidisciplinar (com profissionais de mais de uma área).
 Pastor / conselheiro cristão (com formação). Em casos difíceis, com um componente espiritual
importante, o aconselhado deve ser encaminhado a um pastor com formação e experiência
na área de aconselhamento ou com um conselheiro cristão formado.

 Médico. Muitas situações de distúrbios emocionais e psicossomáticos têm um componente


físico. Uma boa avaliação médica pode ajudar com o processo de tratamento.

 Psiquiatra. O psiquiatra é um médico que se especializa na área de psiquiatria. Quando há


distúrbios mentais ou psicopatologias que necessitam de um tratamento medicamentoso
para o componente biológico ou uma psicoterapia, é necessário encaminhar o aconselhado a
um psiquiatra. Depressão clínica, esquizofrenia e distúrbio bipolar são alguns exemplos de
pessoas que necessitam do profissional de psiquiatra. Alguns neurologistas também podem
ajudar com casos de depressão.

 Psicólogo. Muitos casos em que não há necessidade de se prescrever uma medicação podem
ser acompanhados por psicólogos. Recomenda-se, no entanto, que seja um psicólogo cristão
que usa terapias a partir de uma cosmovisão cristã.

 Assistente social. Estes profissionais podem ser muito úteis para ajudar o aconselhado na
busca por recursos que podem estar disponíveis. Estes recursos podem ser oferecidos por
entidades assistências sem fins lucrativos ou pelos diferentes níveis de governo (municipal,
estadual ou federal).

13. Estabelecer alvos, planos de ação e tarefas para mudanças. A solução de problemas emocionais
ou relacionais exigem mudanças na maneira de pensar e no comportamento. Estas mudanças não
são rápidas e nem automáticas. Elas exigem uma reeducação da mente e do comportamento. Para

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isto, é necessário implementar estratégias para mudar áreas que foram identificadas durante o
aconselhamento. É necessário ser proativo na implementação de alvos, planos de ação ou tarefas
a serem realizadas durante um espaço de tempo combinado. Esta é a parte prática do
aconselhamento. Estes alvos, planos de ação ou tarefas devem ser cobrados do aconselhado.

As estratégias devem conter pequenas tarefas específicas que o aconselhado deve fazer entre
uma sessão de aconselhamento e outra. Os resultados das tarefas devem ser avaliados por ambos.
Todo progresso rumo à mudança desejada deve ser celebrado como motivo de encorajamento ao
aconselhado pelas mudanças difíceis que precisam ser feitas em sua vida.

14. Resultados. Em uma relação de ajuda, não se pode “concertar” alguém, nem exigir que elas
mudem. Podemos oferecer conselho, ajuda, orientação e oração, mas não podemos forçar a
pessoa que estamos aconselhando a seguir o conselho. Não controlamos os resultados. Os
resultados serão muito variáveis. Algumas pessoas serão bastante ajudadas, outras minimamente
ajudadas e ainda outras não aceitarão a nossa orientação. Quanto melhor formado e maior for a
experiência do conselheiro, melhor são as chances de poder ajudar o próximo. No entanto, as
mudanças necessárias para a solução de problemas pessoais, nem sempre são aceitas pelo
aconselhado. Deve haver uma motivação grande por parte do aconselhado para persistir na
implementação destas mudanças.

15. Resiliência.3 Resiliência é a capacidade que o ser O que você realmente acha?
humano tem de resistir emocionalmente, absorver Leia as seguintes afirmações e determine se
o choque emocional ou se recuperar rapidamente você acha que são verdadeiras ou falsas.
1. Coisas más só acontecem às pessoas más.
diante de situações adversas da vida. Resiliência 2. Se alguém fizer o bem, sua vida será mais
vem do desenvolvimento de processos chaves que fácil.
permitem a uma pessoa batalhar bem, transpor 3. A vida deveria ser como um mar de rosas.
4. Não importa o que você crê.
obstáculos e seguir em frente com uma vida 5. Deus só ouve orações bonitas.
abundante. Em todos os casos de aconselhamento 6. O que Deus faz sempre faz sentido.
cristão, parte da estratégia de médio e longo prazo 7. Tudo que é necessário é uma boa dose de
fé que todos os problemas desaparecem.
deve ser o de ajudar a pessoa a desenvolver 8. Crentes de verdade não se deprimem.
resiliência emocional e espiritual para enfrentar 9. Tudo que importa é o que acontece
situações futuras. Leia o quadro ao lado. comigo.
10. Não se precisa de uma família.

As afirmações são verdadeiras ou falsas? Elas são


todas falsas, porém, muitos acreditam em alguns destes mitos. O conteúdo do nosso pensamento,
nossas crenças ou a maneira de pensar, impacta nossa maneira de viver e se iremos florescer ou
prosperar. A maneira de pensar de uma pessoa também determina sua resiliência. Suas
convicções internas virão à tona quando se confrontar com uma situação estressante ou chocante.
Isto determinará o que a pessoa diz e como ela age.

16. O conselheiro deve cuidar de sua saúde emocional e espiritual. É de se presumir que para que o
conselheiro cristão possa ajudar outras pessoas, ele/ela deve ter uma boa saúde emocional e
espiritual. Não é fácil manter isto. O aconselhamento de outras pessoas é emocionalmente
estressante. Não é agradável ouvir os problemas dos outros e à medida em que desenvolvemos
nossa atividade com empatia e amor, os problemas deles facilmente começam a pesar sobre nós

3
MOODY, JR., Edward E., First Aid for Emotional Hurts: Helping People Through Difficult Times, Randall
House Publications, 2008, p. 65-66.

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e se tornam um fator de estresse emocional. O conselheiro deve sempre estar vigilante aos seus
próprios sintomas de sobrecarga emocional.

“Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida” Pv 4:23 (NVI).

“Assim, aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia”! 1 Co 10:12 (NVI).

Além de sofrer emocionalmente, o conselheiro também pode sofrer espiritualmente. Estamos em


uma batalha espiritual. Quando nos dedicamos a ajudar outras pessoas na área espiritual, nós
também podemos ser atacados espiritualmente. Precisamos revestir toda a armadura de Deus,
estar firmes e vigilantes e manter uma comunhão regular e íntima com o Senhor.

“Vistam toda a armadura de Deus, para que possam permanecer firmes contra as estratégias do
diabo. Pois nós não lutamos contra inimigos de carne e sangue, mas contra governantes e
autoridades do mundo invisível, contra grandes poderes neste mundo de trevas e contra espíritos
malignos nas esferas celestiais. Portanto, vistam toda a armadura de Deus, para que possam
resistir ao inimigo no tempo do mal. Então, depois da batalha, vocês continuarão de pé e firmes”
Ef 6:11-13 (NVT).

06/05/2019 Pr. Kenneth Eagleton


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Entendendo algumas crises e como orientar

Problemas Emocionais

Depressão Sintomas da depressão:


4,4% da população mundial (322 milhões de pessoas)  Humor deprimido (sem ânimo) a maior parte
sofre de depressão, segundo a Organização Mundial do dia, quase todos os dias; tristeza, sensação
de vazio (irritabilidade nas crianças).
da Saúde.4 No Brasil, a porcentagem é mais alta: 5,8%  Diminuição do interesse pelas coisas
da população (11,5 milhões de brasileiros). 10-25% prazerosas. A perturbação é tanta, que não se
das mulheres e 5-12% dos homens terão pelo menos imagina fazendo algo que lhe dê prazer.
 Alteração significativa do peso (ganho ou
um episódio de depressão durante sua vida. A
perda de pelo menos 5%). Perda do apetite.
depressão tem várias causas, formas e intensidades.  Alteração do sono (insônia ou aumento
A definição de depressão clínica (ou depressão significativo do sono).
patológica) é apresentar pelo menos 5 dos sintomas  Fadiga ou falta de energia. Dificuldade para
sair da cama pela manhã.
da depressão por um período mínimo de duas  Sentimento de ser inútil, não servir para
semanas (sendo obrigatório um dos dois primeiros nada.
da lista de sintomas).  Diminuição da capacidade em se concentrar
ou raciocinar.
 Pensamentos recorrentes de morte ou
Tipos e causas de depressão5 suicídio.

Transtorno depressivo importante. Este tipo de depressão geralmente tem base biológica. Um alto
índice está ligado a doenças (como diabetes, AVC ou câncer) ou desequilíbrios de neurotransmissores
químicos. Mais de 60% dos que têm um episódio sofrerão de um segundo episódio. Há também um
fator familiar, sendo que quem tem familiar próximo com histórico de depressão apresenta maior
probabilidade para também desenvolver a doença.

Transtorno bipolar (ou maníaco-depressivo). Este é um quadro que alterna períodos de depressão com
períodos de alta energia, agitação e comportamento de alto risco. Muitos dos que sofrem deste
transtorno têm histórico de algum familiar com o mesmo transtorno ou com esquizofrenia ou outra
doença mental. Este transtorno necessita tratamento e manutenção medicamentosa por toda a vida
para evitar consequências graves.

Transtorno depressivo persistente (distimia). É um tipo de depressão mais branda, sem os sintomas
mais severos, que dura pelo menos dois anos. Este tipo de depressão geralmente requer tratamento
com medicamentos psicotrópicos, além de outras terapias.

Fatores situacionais. Situações da vida também podem levar à depressão, tais como diagnóstico de
uma doença grave (como câncer), perdas (morte, desemprego, separação conjugal, filhos que deixam
o lar, etc.), conflitos interpessoais ou mudanças extremas de cultura ou de rotina. A pessoa que
“rumina” (não para de pensar, totalmente absorta em pensamentos, não consegue pensar em outra

4
https://g1.globo.com/bemestar/noticia/depressao-cresce-no-mundo-segundo-oms-brasil-tem-maior-
prevalencia-da-america-latina.ghtml, acessado em 8 de maio de 2019.
5
MOODY, JR., Edward E., First Aid for Emotional Hurts: Helping People Through Difficult Times, Randall
House Publications, 2008, p. 85-92.

06/05/2019 Pr. Kenneth Eagleton


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coisa) acontecimentos desagradáveis em sua vida pode também cair em depressão; ou, no mínimo,
alimentará a sua depressão.

A depressão não afeta apenas o paciente. Afeta todas as outras pessoas com quem convive. Os mais
afetados são os que estão mais próximos: cônjuges, filhos, pais, amigos e colegas de equipe de
trabalho.

Tratamento6

Se a pessoa que estamos procurando ajudar enquadrar-se na definição de depressão clínica, como
conselheiro cristão, necessitamos orientá-la a buscar ajuda de um profissional (veja
“encaminhamento”, número 12, acima) para avaliação e orientação terapêutica. Geralmente estes
pacientes precisam, de início, de um tratamento medicamentoso para uma melhora dos sintomas,
seguido de algum tipo de terapia cognitiva. Outras medidas práticas que ajudam a vencer a depressão
são:
 Descansar fora do ambiente de estresse.
 Substituir pensamentos equivocados pela verdade, principalmente aquilo que a Palavra de
Deus nos ensina a respeito de nós mesmos.
 Exercitar-se. O exercício pode ajudar mais do que os remédios antidepressivos.

Automutilação (se cortar, “cutting”)

“A automutilação [é] caracterizada por comportamento de agressão direta ao próprio corpo sem
intenção consciente de suicídio e com intenção direta de produzir dor ou sofrimento físico”.7 Uma das
formas mais frequentes atualmente de automutilação (cerca de 90%) é o hábito de se cortar
(geralmente nas coxas ou nos braços), provocando vários pequenos cortes paralelos sem grande
profundidade. A automutilação geralmente acontece devido a uma dor emocional intensa, tristeza
profunda, estresse ou sentimento de culpa com necessidade de autopunição. 88% dos que praticam
a automutilação são do sexo feminino e a idade média é de 16 anos. Muitos casos estão ligados ao
transtorno bipolar.

O conselheiro cristão pode ajudar pessoas com este transtorno contribuindo para reverter as causas:
lidando apropriadamente com a dor emocional, a tristeza (ou depressão), a redução do estresse por
mudança de estilo de vida e a confissão e perdão para os casos associados ao sentimento de culpa.
Outras ações que podem ajudar a aliviar o desejo da automutilação são:

 Distrair-se com outras coisas que tirem a mente da ideia de se automutilar.


 Praticar atividades que deem vazão à ira: malhar na academia, praticar algum esporte ou
corrida, dançar com música agitada, etc.
 Estratégias para fazer passar os pensamentos de se cortar: tomar um banho frio e bater
palmas com força.
 Buscar novas amizades e passar tempo com outras pessoas. Falar mais sobre seus
sentimentos.

6
MOODY, JR., Edward E., First Aid for Emotional Hurts: Helping People Through Difficult Times, Randall
House Publications, 2008, p. 98-100.
7
http://genmedicina.com.br/2017/08/30/automutilacao-e-doencas-psiquiatricas/, acessado em 13/05/2019.

06/05/2019 Pr. Kenneth Eagleton


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Ansiedade

O Brasil apresenta a maior taxa mundial de ansiedade. A ansiedade patológica afeta 9,3% dos
brasileiros. A ansiedade geralmente está relacionada a algum tipo de estresse. “Os transtornos de
ansiedade envolvem um angustiante estado de nervosismo crônico, porém flutuante, cuja gravidade
é desproporcional às circunstâncias da pessoa. Os transtornos de ansiedade podem causar sudorese,
asfixia ou tonturas, aumento da frequência cardíaca e tremores, bem como fazer com que a pessoa
passe a evitar certas situações”.8 Os transtornos de ansiedade incluem: transtorno de ansiedade
generalizada (a diversas atividades ou acontecimentos), ataques de pânico / síndrome do pânico,
transtornos fóbicos específicos, transtornos obsessivos-compulsivos (TOC) e transtorno de estresse
pós-traumático (TEPT). Os transtornos de ansiedade geralmente exigem um tratamento
medicamentoso com um ansiolítico enquanto se inicia psicoterapia ou aconselhamento.

O pânico se dá de forma súbita, podendo estar associado a sintomas físicos, como dor no peito, falta
de ar, tontura, náusea e sensação de que se está engasgando. Quando os ataques se tornam
frequentes, o transtorno é conhecido como síndrome do pânico.

As fobias são medos exagerados e específicos, ligados a certos acontecimentos ou situações. As fobias
podem ser bastante incapacitantes, impedindo a pessoa de trabalhar e de se relacionar com os outros.

“O transtorno obsessivo-compulsivo é caracterizado por ideias, imagens ou impulsos (obsessões)


recorrentes, persistentes, indesejados, que provocam ansiedade e são intrusivos. Além disso, algumas
pessoas sentem vontade de realizar determinados rituais repetidamente (compulsões) - ações ou atos
mentais particulares - para tentar diminuir e evitar a ansiedade causada pelas obsessões”.9

“Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) é caracterizado por lembranças recorrentes e


intrusivas de um evento extremamente traumático. Eventos de risco à vida ou ferimentos graves
podem causar angústia intensa e de longa duração. As pessoas afetadas podem reviver o evento, ter
pesadelos frequentes e evitar qualquer coisa que possa lembrá-las do evento”.10

O aconselhamento cristão tem um grande papel a desempenhar na ajuda às pessoas que têm estes
transtornos, pois parte do tratamento se fundamenta em ajudar a pessoa a mudar sua forma de
pensar. A Bíblia tem muito a dizer sobre a ansiedade e o medo. Estudando estes princípios e aplicando-
os à sua vida pode ser de grande benefício à pessoa com estes transtornos.

"Não andeis ansiosos por coisa alguma; pelo contrário, sejam os vossos pedidos plenamente
conhecidos diante de Deus por meio de oração e súplica com ações de graças; e a paz de Deus, que
ultrapassa todo entendimento, guardará o vosso coração e os vossos pensamentos em Cristo Jesus.
Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que

8
GREIST, John H., Considerações gerais sobre os transtornos de ansiedade,
https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-de-sa%C3%BAde-mental/ansiedade-e-transtornos-
relacionados-ao-estresse/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-os-transtornos-de-ansiedade, acessado
em 13/05/2019.
9
PHILLIPS, Katharine A., Transtorno obsessive-compulsivo (TOC),
https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-de-sa%C3%BAde-mental/transtorno-obsessivo-
compulsivo-e-dist%C3%BArbios-relacionados/transtorno-obsessivo-compulsivo-toc, acessado em 13/05/2019.
10
GREIST, John H., Considerações gerais sobre os transtornos de ansiedade,
https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-de-sa%C3%BAde-mental/ansiedade-e-transtornos-
relacionados-ao-estresse/transtorno-do-estresse-p%C3%B3s-traum%C3%A1tico-tept, acessado em 13/05/2019.

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é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor,
nisso pensai. O que aprendestes, recebestes, ouvistes e vistes em mim, tudo isso praticai; e o Deus de
paz estará convosco". Fp 4:6-8 (Almeida Século 21).

"Portanto, não vos inquieteis, dizendo: ‘Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos’?
Pois os gentios é que procuram todas essas coisas. E, de fato, vosso Pai celestial sabe que precisais de
tudo isso. Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas.
Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã trará suas próprias
preocupações. Basta a cada dia o seu problema”. Mt 6:31-34 (Almeida Século 21).

Outros versículos: Sl 23:4; 34:4; 56:3; 94:19; 121:1-2; Pv 12:25; Is 41:10; Mt 11:28-30 e Hb 13:6.

Baixa autoestima (autoimagem)

A baixa autoestima é uma avaliação subjetiva negativa que uma pessoa faz de si mesma. Ela se enxerga
de maneira negativa. Esta avaliação inclui seu valor (sensação de que não vale nada, ninguém se
importa com ela), o que ela pensa (ela se considera incompetente e/ou malquista), suas emoções (tem
vergonha de si mesma, é insegura, sente desespero) e seu comportamento (age com insegurança e
muita cautela). A baixa autoestima pode levar a outros distúrbios mais graves como a depressão, a
ansiedade, os distúrbios alimentares e até buscar refúgio em vícios.

Alguns fatores que contribuem para a baixa autoestima incluem:


 Mensagens negativas, constantes, recebidas durante a infância provenientes de pessoas em
autoridade (pais, professores, adultos mais velhos, etc.). “Você não presta”. “Você não sabe
nada”. “Burro”! “Você só faz burrada”! Estas e outras frases degradantes moldam a pessoa,
fazendo-a acreditar no que está ouvindo. Dificilmente estas crianças ouvem frases de elogio
ou encorajamento e crescem acreditando nas mentiras.
 Traumas ou acontecimentos desagradáveis podem marcar uma pessoa e fazê-la acreditar que
ela não tem valor. Podem ser acontecimentos em que a pessoa errou e está pagando um alto
preço, ou acontecimentos onde não tinha culpa, como o de ser vítima de abuso sexual na
infância.
 Origem da pessoa. Pessoas de origem humilde ou de minorias étnicas (raciais) podem sofrer
discriminação ou enfrentar falta de oportunidades que as façam se sentir inferiores.
 Aparência física que julgam não ser atrativa ou deficiência. Sofrem muita discriminação e falta
de aceitação pela sociedade, podendo afetar sua autoestima.

Estes, e outros fatores psicológicos, podem levar uma pessoa a desenvolver baixa autoestima. Estas
pessoas podem se beneficiar muito da terapia cognitiva comportamental que pode ajudá-las a
identificar estes vícios de pensamento errôneo a respeito de si mesmas. Uma vez identificadas estas
maneiras errôneas de pensar, agir e sentir, faz-se necessário trocá-las por uma cosmovisão bíblica.
Nosso valor como seres humanos não pode ser definido pelo que os outros pensam de nós e nem pela
nossa própria avaliação, pois “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas” (Jr 17:9). O que
mais importa é o ponto de vista de Deus, pois é nosso criador e senhor de nossa vida. Dois elementos
principais devem fazer parte da verdade que deve ser inculcada na mente da pessoa que luta com
baixa autoestima:

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1. Somos criados à imagem e semelhança de Deus (Gn 1:26-27). Esta semelhança não é física, mas
moral, intelectual e volitiva. Apesar da imagem de Deus ter sido distorcida pelo pecado, ela não
foi apagada. Temos uma potencialidade de exibir algumas das próprias características de Deus,
embora não na mesma intensidade. Temos a capacidade de raciocinar, tomar decisões, saber o
que é certo e errado, amar e tantas outras qualidades. Somos criaturas preciosas aos olhos de
Deus, acima de todas as outras criaturas por Ele criadas.

“Tu formaste o meu interior e me teceste no ventre de minha mãe. Eu te agradeço por me teres
feito de modo tão extraordinário; tuas obras são maravilhosas, e disso eu sei muito bem” (Sl
139:13-14).

“Como são preciosos os teus pensamentos a meu respeito, ó Deus; é impossível enumerá-los”! (Sl
139:17).

2. Somos amados por Deus com amor incondicional. Ele nos ama independentemente daquilo que
achamos dele ou do que já fizemos. Nada pode diminuir e nem aumentar o amor dele por nós. Ele
nos amou tanto que enviou Jesus para sofrer no nosso lugar, entregando-se como sacrifício por
nossos pecados. E agora ele nos oferece perdão e uma nova vida com Ele.

“Porque Deus amou tanto ao mundo [as pessoas no mundo] que deu seu Filho único, para que
todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16 - NVT).

“Vejam como é grande o amor do Pai por nós, pois ele nos chama de filhos, o que de fato somos”!
(1 Jo 3:1a - NVT).

“E nisto consiste o amor: não que tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou
seu Filho como sacrifício para o perdão de nossos pecados” (1 Jo 4:10 - NVT).

Distúrbios de alimentação (anorexia e bulimia)

Anorexia nervosa – Anorexia nervosa é um distúrbio psicológico que consiste em abstenção severa de
alimentação devido a uma preocupação exagerada com o peso corporal e a forma física. Pessoas com
anorexia nervosa, apesar de sua magreza, se olham no espelho e se veem como gordas. Isto as leva a
dietas radicais, exercícios prolongados e exagerados e ao uso de métodos de expurgo (vômitos
provocados, diuréticos, laxantes e enemas). 90% dos casos são do sexo feminino.

A falta de alimentação, associada a métodos de expurgo, leva a uma desnutrição cada vez mais severa
e o risco de morte aumenta de seis vezes quando comparado à média da população. As causas são de
origem psicológica, geralmente ligadas à baixa autoestima e pressão repassada pela sociedade do
ideal de beleza. Pessoas envolvidas em atividades ligadas à arte (artistas, músicos, dançarinas, etc.), à
mídia (apresentadoras, etc.) e ao esporte estão mais suscetíveis a desenvolver a anorexia nervosa.

O tratamento necessita de acompanhamento médico, devido aos danos causados à saúde física, além
de um acompanhamento psicológico que trabalhe as causas de base, como a autoestima e o estresse.
A terapia cognitiva comportamental passa a ser importante, ajudando a pessoa a mudar sua maneira
de pensar e de se ver.

06/05/2019 Pr. Kenneth Eagleton


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Bulimia nervosa – Bulimia nervosa é um distúrbio psicológico que consiste em crises de ingestão
exagerada de alimento seguido de métodos de expurgo para compensar o que foi ingerido. Para evitar
o ganho de peso, a pessoa recorre à provocação de vômito e uso excessivo de laxantes, diuréticos e
enemas, devido a um sentimento de culpa por não ter controlado a ingestão. A bulimia nervosa se
caracteriza por um ciclo vicioso de compulsão por grandes quantidades de comida seguida de métodos
compensatórios de expurgo. Estes exageros podem levar a desequilíbrios metabólicos e eletrolíticos
graves, desidratação e até mesmo à morte.

As causas são de origem psicológica, geralmente ligadas à baixa autoestima (muitas vezes relacionadas
à imagem física) e a fatores de estresse. Par o tratamento da bulimia é necessário tratar-se as causas
(baixa autoestima, estresse e outros).

Culpa

Muitas pessoas carregam um fardo de culpa que pesa muito no seu estado emocional. Este peso
também pode levar a outros distúrbios mais graves como: depressão, ansiedade, distúrbios
alimentares e até a busca de refúgio nos vícios. Este sentimento de culpa pode estar presente devido
a situações reais na vida ou a mentiras que são lançadas pelo inimigo de nossas almas, O Diabo, o Pai
da Mentira. Jesus disse que “não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é
mentiroso e pai da mentira” – Jo. 8:44.

Algumas situações que podem trazer culpa ou vergonha são: as más escolhas, pecados cometidos
contra Deus ou contra o próximo e a violação da consciência (fazer o contrário daquilo que sabíamos
que deveríamos fazer).

Porém, o sentimento de culpa pode também estar presente devido a pensamentos mentirosos
plantados na mente por Satanás: “Você é um perdedor; nada que você faz dá certo”. “É tudo culpa
sua!”; outras pessoas querendo impor a responsabilidade a outrem pelos erros delas; vítimas (de
maus tratos, de abuso sexual, etc.) sendo levadas a pensar que tudo é culpa delas.

Para os que sentem culpa pelos atos que realmente praticaram, ajude-os a entender que existe
perdão. Basta pedir perdão a Cristo, com toda sinceridade e remorso.

“Ele mesmo levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro [a cruz], a fim de que
morrêssemos para os pecados e vivêssemos para a justiça; por suas feridas vocês foram curados” 1
Pe. 2:4 (NVI).

“Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus” Rm. 8:1 (NVI).

Pessoas que sentem culpa por aquilo de que não são culpadas, podem muito se beneficiar da terapia
cognitiva comportamental, que poderá ajudá-las a identificar as mentiras às quais foram induzidas a
acreditar e substituí-las pela verdade.

06/05/2019 Pr. Kenneth Eagleton


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Lidando com perdas

Ninguém gosta de perder algo, principalmente se for alguma coisa que considerava muito. É frustrante
perder as chaves de casa, um jogo de futebol ou o trocado que se tinha no bolso. Porém, é muito pior
quando se perde o emprego, a saúde, ou uma pessoa amada. A dor dessas perdas é real e afeta o
nosso emocional. É normal passar por um período de dor, tristeza e luto. As pessoas reagem de
maneiras diferentes a essas perdas. Algumas necessitam de ajuda externa para superarem as
consequências da perda e passarem à próxima etapa.

As perdas que causam dor são variadas. Pode ser a perda de emprego, o diagnóstico de uma doença
debilitante (com perda da boa saúde e mudança obrigatória de hábitos), saída dos filhos de casa
(síndrome do ninho vazio), perda da mobilidade e da independência (muito comum entre os idosos)
e a morte de uma pessoa próxima e amada (um dos pais, filho, cônjuge, etc.). As mortes trágicas e
inesperadas são as piores (morte súbita de uma criança, acidente, suicídio, homicídio, etc.) e a
resolução da dor emocional do luto pode ser mais complicada.

O luto, que nem sempre segue o mesmo caminho em todos os casos, pode passar por algumas fases.
1- Fase do choque. É difícil assimilar a realidade da perda. Há uma tendência de negar ou desacreditar
que a perda realmente aconteceu. 2- Fase da depressão. Depois que a realidade foi assimilada, instala-
se uma tristeza profunda com sentimento de vazio, confusão e anseio profundo pela pessoa que
partiu. 3- Fase da ira. Pode haver uma tentativa de culpar os outros ou a si mesmo pela morte da
pessoa querida e o surgimento do sentimento de raiva. 4- Fase da resolução. O luto vai passando com
a diminuição da tristeza e da ira, e passa-se a pensar no futuro. A falta da pessoa falecida não passa,
mas a dor diminui para o nível de uma saudade.

O luto pela perda tem impactos psicológicos, cognitivos, comportamentais e espirituais.

Impactos psicológicos (emocionais) mais comuns: tristeza, ira (raiva da pessoa que faleceu, raiva de
outras pessoas que podem ser vistas como culpadas pela morte e até raiva de si mesmo), culpa (pelas
coisas não realizadas enquanto a pessoa ainda vivia), ansiedade sobre o futuro, solidão, falta de
energia (difícil de acordar pela manhã), sensação de impotência, saudade, alívio (principalmente
quando alguém falece após um período de longo sofrimento), e uma sensação de vazio (deixado pela
pessoa que partiu).

Impactos cognitivos (sobre o pensamento): descrença (no início), confusão (não consegue pensar
claramente), distração (dificuldade para se concentrar), revive o passado com a pessoa falecida,
alucinações e sonhos com o falecido.

Impactos comportamentais e físicos: distúrbios do sono (geralmente insônia), mudanças do apetite


(geralmente perda do apetite), retração do convívio social, evitar coisas e locais que fazem relembrar
a pessoa falecida (ou às vezes o contrário) e choro frequente e, às vezes, repentino.

Impactos espirituais: Pensamentos de que Deus não é justo, questionamento sobre o tempo de Deus
e dúvidas a respeito de Deus.

Jó foi uma pessoa que passou por múltiplas perdas, quase simultâneas. Perdeu todos os bens, todos
os filhos e perdeu a saúde. Recebeu conselho da esposa para amaldiçoar a Deus; e os amigos o

06/05/2019 Pr. Kenneth Eagleton


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acusaram injustamente de estar sofrendo devido a algum pecado em sua vida. No entanto, Jó
perseverou durante seu sofrimento e luto.

“Irmãos, tomem como exemplo de paciência no sofrimento os profetas que falaram em nome do
Senhor. Consideramos felizes aqueles que permaneceram firmes em meio à aflição. Vocês ouviram
falar de Jó, um homem de muita perseverança. Sabem que, no final, o Senhor foi bondoso com ele,
pois o Senhor é cheio de compaixão e misericórdia” Tg 5:10-11.

Como ajudar alguém que passa por uma perda:


1. Esteja presente, apoiando, e mostre-se disponível para ouvir e conversar, se a pessoa quiser. Não
ofereça frases feitas ou fórmulas mágicas. Cada luto é diferente.
2. Mostre que o luto é um processo normal pelo qual todos passam. É saudável reconhecer o luto.
3. Ajude a pessoa a ter paciência e perseverança durante o processo, mantendo, porém, a
esperança.
4. Aconselhe a pessoa a não tomar decisões importantes sobre o futuro enquanto está de luto (pode
ser muito precipitado e ela poderá se arrepender mais tarde).
5. Se a pessoa enlutada apresentar sintomas importantes ou prolongados de depressão, pode ser
necessário encaminhá-la a um profissional para avaliação.

Vícios e dependências11

O pecado pode ser perigoso e mortal; pode levar a um ciclo vicioso de dependência. A Bíblia nos ensina
que não devemos ser dominados por nada, a não ser o Espírito Santo de Deus. Tudo que nos domina,
passa a ser um pecado. “Tudo me é permitido, mas nem tudo convém. “Tudo me é permitido, mas eu
não deixarei que nada me domine” (1 Co 6:12).

Além do domínio que o vício cria, na maioria das vezes, o vício é nocivo à nossa saúde física ou
emocional. Devemos preservar o nosso corpo dessas agressões. “Acaso não sabem que o corpo de
vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que vocês não
são de si mesmos? Vocês foram comprados por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o seu
próprio corpo” (1 Co 6:19-20).

Como saber se alguém está dependente de uma substância? Quando uma pessoa está viciada, ela
desenvolve uma tolerância e sofre sintomas de abstinência quando deixa de consumir a substância ou
deixa de exercer a atividade. Tolerância é quando uma pessoa requer doses cada vez maiores de uma
substância ou de uma atividade para obter o mesmo efeito desejado. Os sintomas de abstinência se
iniciam poucas horas após o uso da última dose da substância e dura até o corpo se acostumar a
funcionar sem a mesma. Estes dois fenômenos indicam que a pessoa está viciada.

Viciados anseiam desesperadamente pela substância ou a atividade. Dedicam muito mais tempo à
atividade do que pretendiam, mesmo que paguem um alto preço por isso (perda do emprego, da
licença para dirigir veículos, da saúde e até perda dos relacionamentos). Há uma tendência de a pessoa

11
MOODY, JR., Edward E., First Aid for Emotional Hurts: Helping People Through Difficult Times, Randall
House Publications, 2008, p. 113.

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viciada se preocupar tanto com a substância, ou com a atividade, que se torna difícil pensar em outra
coisa. A seguir, algumas informações sobre os vícios mais comuns.

Alcoolismo.12

A dependência ao álcool é o maior vício no Brasil e afeta 13% da população; ou seja, 27 milhões de
pessoas. Todos os anos, mais de 100 mil pessoas morrem por consequência direta do álcool:
problemas de saúde (cirrose, doenças cardiovasculares, entre outras), suicídio, homicídio e acidentes
diversos (de trânsito, quedas, afogamentos).

A síndrome da abstinência do álcool pode incluir os seguintes sintomas: tremores, delírio (delirium
tremens), alucinações, ilusões (impressões ou crenças absurdas mantidas com tenacidade, apesar de
provas racionais ao contrário), febre e taquicardia (palpitações no peito). Mesmo com tratamento
médico, a síndrome da abstinência pode levar 1-5% dos pacientes ao óbito.

Tabagismo

O percentual de pessoas que fumam na população adulta no Brasil é de 15% (dado de 2013). O
tabagismo é responsável por 200 mil mortes por ano no Brasil (23 pessoas por hora). A maioria começa
a fumar na adolescência. Os motivos são geralmente o suposto glamour que o fumar traz ou como
uma maneira de se impor como “adulto”. A nicotina contida no cigarro causa uma dependência
química. Além disto, a rotina de fumar em certos horários, em certos lugares, ou ligado a certos
hábitos (como tomar café) reforçam o vício.

É fartamente comprovado que o tabagismo é responsável por um aumento significativo na


probabilidade de desenvolver vários cânceres diferentes, principalmente os de pulmão, esôfago e
boca. Além disto, o tabagismo é responsável por um risco significativamente maior de sofrer infarto
(ataque cardíaco), bronquite crônica, enfisema pulmonar e AVC (derrame cerebral).

A abstinência do cigarro pode provocar os seguintes sintomas: irritabilidade, inquietude, depressão,


agitação, insônia, ansiedade, fome, falta de concentração, alteração de humor, queda da frequência
cardíaca e aumento de apetite e/ou de peso.

Estratégias para deixar de fumar:

1. Parar de uma só vez. Determine o dia para começar. Jogue fora todos os cigarros (em casa, no
carro, no trabalho) e os cinzeiros. Higienize a roupa para tirar o cheiro do cigarro. Mude a rotina
dos gatilhos que dão vontade de fumar (cafezinho, por exemplo). Faça algo prazeroso naquele
primeiro dia para se distrair. Recrute pelo menos uma pessoa para ajudá-lo a deixar de fumar.

2. Parada gradual. Faça uma programação para diminuir 1 ou 2 cigarros por dia até parar de fumar.
Isto deve ser feito em um espaço de, no máximo, duas semanas. A diminuição pode ser feita
espaçando-se o tempo entre o consumo dos cigarros. Recrute pelo menos uma pessoa para ajudá-
lo a cumprir seus objetivos.

12
MOODY, JR., Edward E., First Aid for Emotional Hurts: Helping People Through Difficult Times, Randall
House Publications, 2008, p. 115-116.

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3. Tratamento da dependência química. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento gratuito
aos dependentes da nicotina como parte do Programa Nacional de Controle do Tabagismo. Ligue
para o número 136 e informe-se sobre as Unidades Básicas de Saúde e Hospitais de seu município
nas quais o serviço está disponível.

Cocaína.13

Cocaína é uma droga perigosa. Centenas de pessoas morrem todos os anos no Brasil por overdose de
cocaína em todas as suas formas. A cocaína age diretamente no coração, lesionando o músculo e/ou
os vasos sanguíneos ao redor do coração. As causas mais frequentes de morte são: enfarto do
miocárdio (ataque cardíaco), acidente vascular cerebral (derrame), falência respiratória, paralisia e
distúrbios do ritmo cardíaco. Usuários crônicos também podem sofrer convulsões, sintomas
respiratórios, dano hepático (fígado), neurológico e distúrbios emocionais.

A cocaína pode ser consumida por inalação, injeção subcutânea ou fumada (crack). O efeito excitante
é atingido rapidamente após o consumo, mas dura por pouco tempo.

Maconha (cannabis).14

A maconha é provavelmente a droga mais consumida (depois do álcool). Muitos pensam que a
maconha não produz efeitos colaterais e não causa dano ao organismo. Esta noção é equivocada. 40-
60% dos usuários apresentam efeitos colaterais: euforia, perda do apetite, dificuldades com a
memória, perda de concentração, olhos vermelhos e ataques de ansiedade ou pânico (15%). Em fortes
doses, a maconha pode provocar instabilidade emocional, desorientação e até psicose.

A síndrome de abstenção da maconha pode provocar irritabilidade, comportamento agressivo,


ansiedade, insônia, náusea, vômitos, perda do apetite e sudorese. Estes sintomas atingem seu pico
mais elevado entre o segundo e o décimo dia após a última dose.

Anfetaminas.15

As anfetaminas são estimulantes com ação parecida à da cocaína. Anfetaminas encontram-se em


alguns remédios para emagrecer e, juntamente com a efedrina e a ritalina, seu abuso pode provocar
efeitos físicos e emocionais colaterais. Em doses altas podem provocar delírio, pânico, paranoia e
alucinações. Seus usuários tendem a apresentar um comportamento agressivo.

Opeáceos.16

Esta classe de medicamento é muito usada para o combate à dor severa e inclui a morfina, o demerol,
a codeína e a heroína. Os primeiros três são remédios de uso controlado, mas o abuso de sua
prescrição tem crescido muito nos últimos anos, tornando-se verdadeira epidemia de saúde pública,

13
MOODY, JR., Edward E., First Aid for Emotional Hurts: Helping People Through Difficult Times, Randall
House Publications, 2008, p. 117.
14
MOODY, JR., Edward E., First Aid for Emotional Hurts: Helping People Through Difficult Times, Randall
House Publications, 2008, p. 117-118.
15
MOODY, JR., Edward E., First Aid for Emotional Hurts: Helping People Through Difficult Times, Randall
House Publications, 2008, p. 118-119.
16
MOODY, JR., Edward E., First Aid for Emotional Hurts: Helping People Through Difficult Times, Randall
House Publications, 2008, p. 119.

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de proporções alarmantes. A heroína é uma droga ilegal de abuso frequente. O abuso desta classe de
drogas pode levar a overdoses com coma, insuficiência respiratória e morte. O uso crônico traz sérios
danos ao cérebro.

Êxtase.17

Droga muito usada entre jovens e na vida noturna pelo seu efeito eufórico. Uma overdose faz com
que o corpo perca a capacidade de regular a temperatura, levando à desidratação, coma e morte. O
uso prolongado desta substância pode levar à confusão mental, depressão, distúrbios do sono,
ansiedade, agressividade, danos à memória e ao aprendizado, e distúrbios do ritmo cardíaco.

Jogo patológico (jogos de azar).18

O jogo patológico é marcado por um desejo de euforia que envolve apostas cada vez maiores e mais
arriscadas. É comum o apostador que começa perdendo querer “recuperar as perdas” e arriscar ainda
mais. Se a pessoa não consegue mais fazer empréstimos, ela pode passar a cometer fraude ou roubos.
Parece haver uma distorção no pensamento destas pessoas de que o dinheiro é a causa e a solução
de todos os problemas.

Pornografia.19

Com o advento da internet e a acessibilidade virtual de pornografia cada vez maior, a pornografia
passou a ser um vício comum entre os homens. Da mesma forma que as substâncias químicas, o
viciado tem uma necessidade cada vez maior de consumir pornografia e passa a buscar conteúdo mais
forte e pervertido. O vício da pornografia traz sérias disfunções sexuais e uma insatisfação com a
aparência e a atuação do cônjuge. A pornografia também contribui para a objetivação da mulher.

Tecnologia.

A tecnologia veio para ficar e está tomando cada vez mais espaço em nossas vidas. O trabalho, a
comunicação e o lazer estão cada vez mais ligados à tecnologia. Nosso mundo depende do seu uso e
nem se cogita ficar ela. No entanto, a tecnologia precisa estar a serviço do homem e não e fazer do
homem seu escravo. Aqui estão alguns indícios de que a pessoa pode estar viciada em tecnologia e
necessita repensar o seu uso:

 Não consegue fazer uma refeição sem checar o celular.


 Fica distraída com as notificações do celular enquanto está conversando com alguém.
 Não consegue ficar com o celular desligado por períodos de tempo.
 Passa mais tempo nas redes sociais do que pretendia.
 Prefere se comunicar por meio de um dos meios tecnológicos do que falar face a face.
 Passa muitas horas jogando vídeo games, perdendo muitas vezes a noção do tempo.

1717
MOODY, JR., Edward E., First Aid for Emotional Hurts: Helping People Through Difficult Times, Randall
House Publications, 2008, p. 120.
18
MOODY, JR., Edward E., First Aid for Emotional Hurts: Helping People Through Difficult Times, Randall
House Publications, 2008, p. 121.
19
MOODY, JR., Edward E., First Aid for Emotional Hurts: Helping People Through Difficult Times, Randall
House Publications, 2008, p. 122.

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Alguns dos perigos do vício da tecnologia incluem: diminuição da capacidade de socialização,


diminuição do prazo de atenção a uma pessoa ou atividade, diminuição da leitura de livros e textos
longos, diminuição da capacidade de se expressar em público e diminuição do tempo que passa a sós
com Deus.

Passos para recuperação de viciados e dependentes químicos20

1. Intervenção. Um indivíduo que está arruinando sua vida (e a de seus familiares e amigos) com um
vício ou uma dependência química não consegue sair do círculo vicioso. Frequentemente
familiares ou amigos precisam confrontá-lo com o esse comportamento destrutivo e fazê-lo ver
como está arruinando sua vida, e machucando todos que o amam e estão à sua volta. A
intervenção geralmente tem por finalidade convencer o dependente de que tem um problema
sério e de que necessita de ajuda. Pode ser difícil, mas é um passo necessário.

2. Desintoxicação. No caso de dependentes químicos, normalmente é necessário internação em uma


clínica ou hospital, sob supervisão profissional, para desintoxicação da substância à qual estão
dependentes.

3. Terapia cognitiva. Para haver mudança real no comportamento é necessário passar por mudanças
na maneira de pensar. Dependentes químicos e de outros vícios precisam corrigir sua maneira de
pensar. Uma maneira de mudar o pensamento é saturar a mente com a Palavra de Deus.
Versículos que contém princípios relacionados com ao tipo de dependência devem ser
memorizados e repetidos constantemente para mudar a maneira de se pensar.

4. Mudança de ambiente. Mudanças verdadeiras podem ser um grande desafio, mas mudanças no
ambiente da pessoa podem ajudar. Exemplos: pessoas que estão tentando deixar de fumar devem
evitar os locais ou atividades que sirvam de gatilho para o desejo de fumar; alcoólatras em
recuperação devem evitar lugares onde costumavam beber. Quebrar o ciclo de dependência
requer mudanças radicais, inclusive mudança de amigos. Pessoas que lutam contra uma
dependência não podem continuar a frequentar os mesmos ambientes, com as mesmas pessoas
que partilhavam de sua dependência, senão, terão uma recaída. Pelo contrário, necessitam
encontrar uma pessoa ou grupo de pessoas que possam ajudá-los com prestação de contas.
Grupos como Alcoólatras Anônimos ou Narcóticos Anônimos têm ajudado muitas pessoas em
recuperação.

5. Aprendizagem emocional. Problemas interpessoais, conflito social ou emoções fortes (como ira,
frustração, ansiedade, depressão ou tédio) aumentam o risco de recaída. A pessoa em
recuperação precisa aprender estratégias alternativas para lidar com estas situações de maneira
saudável. Esta é uma área em que o conselheiro cristão pode ser útil, ajudando a pessoa em
recuperação a entender o que a Bíblia ensina sobre como lidar com estas questões. É também
nesta fase que precisam aprender a controlar seus pensamentos, não permitindo que voltem a
pensar de maneira negativa ou baseada em conceitos errôneos. Talvez um dos maiores riscos é
quando a pessoa em recuperação pensa que já superou todos os riscos e que não voltará a ter
recaídas. O excesso de confiança pode levá-la a baixar a guarda, deixando-o vulnerável.

20
MOODY, JR., Edward E., First Aid for Emotional Hurts: Helping People Through Difficult Times, Randall
House Publications, 2008, p. 124-131.

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Conflitos

Um dos efeitos da entrada do pecado no mundo foi a repercussão que isto teve sobre os
relacionamentos interpessoais. O egoísmo e a maldade levam os indivíduos ao desentendimento em
suas relações em todos os níveis: na família, na comunidade, no local de trabalho, na política e até nas
relações entre nações. Os conflitos podem compreender desentendimentos, passando por bate-boca
acalorado, violência física, até às guerras envolvendo milhões de pessoas. Líderes ministeriais na igreja
são frequentemente chamados a resolver conflitos dentro do ministério ou da igreja.

Um conflito sempre expõe um pecado, pois somos chamados a viver em paz uns com os outros. O
pecado que parece estar na raiz de todos os outros pecados é o egoísmo. A partir daí, podemos
também mencionar o orgulho, a avareza, a intolerância, a insensibilidade, a ira, a inveja, o ciúmes, a
falta de paciência, a ambição pecaminosa, etc. Sempre se pode identificar um ou mais pecados
envolvidos em um conflito. Para que haja resolução verdadeira, é necessário o reconhecimento do
erro, o arrependimento e o perdão (dar e receber perdão).

Respostas humanas inadequadas ao conflito:

1. Respostas de fuga (falsa paz). Evitar o conflito sem resolvê-lo. A) Negação: fingir que o conflito
não existe. B) Fuga: procurar escapar de seus conflitos (evitar a pessoa, deixar o cargo ou
ministério na igreja, deixar de frequentar a igreja, se entregar a vícios, etc).

2. Respostas de ataque (quebra da paz). A) Agressão: ameaças (físicas, verbais ou financeiras como
forma de pressão); violência física. B) Litígio: todas as formas de fofoca, difamação e julgamentos
insensíveis. Inclui também uma ação na justiça civil (1Co 6:1-8).

Passos para a restauração de um conflito:

1. Reconhecer nossa participação no conflito, seja como instigador ou pela nossa reação.
2. Pedir perdão, primeiro a Deus e depois à(s) pessoa(s) envolvidas (Tg 5:16). Seja específico sobre a
atitude ou ação pela qual você está pedindo perdão. Faça um compromisso de mudar de
comportamento. Pode ser que a outra pessoa não queira perdoar. Isto é problema dela. Ao menos
você fez a sua parte. Deus perdoa imediatamente, os seres humanos podem levar mais tempo.
3. Liberar perdão aos que cometeram ofensas, mesmo que eles mesmos não o peçam. A Bíblia fala
muito sobre a necessidade de liberar perdão (Lc 6:37; Cl 3:13; Mt 18:21-35).

Sugestões gerais na resolução de conflitos:

1. Reflita antes de falar – Tg 1:19; Pv 15:23, 26, 28; Pv 21:23.


2. Diga sempre a verdade em amor – Ef 4:15,25.
3. Não brigue. É possível ter opiniões diferentes sem brigar ou discutir. Violência verbal e física só
levam a uma escalada do conflito, dificultando uma solução – Pv 17:14; Pv 20:3, Ef 4:31.
4. Não responda quando estiver com raiva ou nervoso – Pv 14:29; 15:1; 25:15.
5. Não use palavras duras, ofensivas, ou que machucam – Mt 5:22.

06/05/2019 Pr. Kenneth Eagleton


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Conflitos conjugais

Em 1984, 10% dos casamentos no Brasil terminavam em divórcio. Em 2016, este número cresceu para
31,5%; quase 1 casamento em 3 termina em divórcio. No gabinete pastoral, há uma crescente
demanda por aconselhamento de casais, dentro e fora da igreja. Acrescente a isto um grande número
de casais que claramente passa por dificuldades, mas não permitem que alguém os ajude.

Causas mais comuns de conflitos conjugais:

 Diferenças de expectativas (causadas por diferenças no histórico de vida, famílias de origem,


gênero, personalidade, etc.). Aqui estão algumas das áreas em que os cônjuges apresentam
diferenças em suas expectativas:
a. Entendimento diferente do que se espera do casamento e o que o mantém (concepções de
amor, compromisso, lealdade, fidelidade, companheirismo, etc.). Quando os cônjuges
entram no casamento com expectativa maior quanto ao que vão receber do cônjuge em vez
de quanto vão contribuir para o casamento, haverá um grande risco de conflitos.
b. Expectativas de como se deve ser tratado. Diferenças nas necessidades emocionais de cada
um (principalmente devido às diferenças entre homens e mulheres).
c. Expectativas quanto à divisão de trabalho dentro de casa e às responsabilidades de cada
um. Choque de ideias sobre o papel de cada cônjuge.
d. Expectativas quanto à carreira e questões financeiras.
e. Expectativas quanto a ter filhos e filosofias diferentes quanto à criação de filhos.

 Problemas de comunicação (falta de comunicação das duas partes, somente um se comunica,


silêncio usado como arma ou castigo, comunicação mascarada, comunicação indireta [passando
por terceiros], comunicação violenta). O segredo de uma boa comunicação é a confiança e o
respeito. Se estes elementos estiverem faltando no casamento, dificilmente a comunicação entre
o casal chega a um nível que permita total transparência de opiniões, desejos, emoções, sonhos e
temores de cada um.

 Problemas de ajustamento sexual (experiências sexuais anteriores que interferem na relação


sexual, falta de conhecimento sobre a anatomia e sobre o ato sexual, falta de local adequado para
a intimidade, cansaço e preocupações, problemas de saúde, diferenças de expectativa quanto à
frequência da relação sexual).

 Infidelidade – um dos maiores destruidores de casamentos. A infidelidade pode ser emocional


(manter um contato de amizade íntima, às vezes por internet, sem envolvimento físico), apenas
físico (relação sexual sem grande envolvimento emocional) ou pode envolver tanto o emocional
quanto o físico. A infidelidade nunca acontece por acaso ou por um deslize momentâneo. Ela
acontece em um casamento que já apresentava sinais de desgaste e conflitos não resolvidos. Os
cônjuges buscam satisfazer suas necessidades emocionais e físicas fora do casamento quando não
são satisfeitos em casa. Conflitos conjugais devem ser tratados sem demora para não deixar os
cônjuges em situação vulnerável. Em casamentos sadios, os cônjuges desenvolvem estratégias
para proteger (blindar) o seu casamento dos perigos da infidelidade. Mesmo que a infidelidade
tenha ocorrido, pode e deve haver uma reconciliação e a reconstrução da confiança um no outro.
Este é um processo que leva tempo. Há casos em que o divórcio pode ocorrer, mas nunca deve
ser a primeira opção.

06/05/2019 Pr. Kenneth Eagleton


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 Finanças. Outro grande destruidor de casamentos são os conflitos resultantes das finanças do
casal. Estes conflitos geralmente envolvem dívidas que foram contraídas e decisões ligadas à
organização e ao orçamento da família (Quem vai cuidar das finanças? Quanto será gasto com
cada item? Quanto será economizado? Um gasta mais e o outro segura mais.). A pressão das
dívidas causa muita discussão e acusações.

Sugestões na resolução de conflitos de casais (além dos gerais acima):

1. Ache o tempo mais apropriado para falar de algum assunto sensível.


2. Não desenterre rixas, acusações ou desentendimentos antigos. O que já foi perdoado não deve
mais ser mencionado ou usado como arma contra o cônjuge.
3. Conversas difíceis não são agradáveis, mas são necessárias na intimidade do casamento.
4. Se não conseguirem solucionar o problema, busquem ajuda (mediação) de uma pessoa
experiente, espiritualmente madura, que possa ajudá-los. “Não se ponha o sol sobre a vossa ira”
– não deixe passar o tempo sem resolução – Ef 4:26.
5. Separação não é a solução!

Conflitos entre pais e filhos

Os pais têm responsabilidades para com seus filhos. Em primeiro lugar estão os cuidados para com os
filhos (alimentação, moradia, vestimenta, proteção e educação). Outra área de responsabilidade pode
ser resumida na palavra “discipulado” (veja Dt 6:3-9): é a obrigação que os pais têm de inculcar valores
morais e espirituais aos seus filhos. Veja que o trecho fala de a necessidade dos pais prestarem
atenção às palavras do Senhor (versos 3 e 4), amarem ao Senhor de todo o seu ser (v. 5), serem
praticantes da palavra de Deus (v. 6) e finalmente passar isto para seus filhos de forma natural durante
as atividades do dia (v. 6-9). É um trabalho diário até os filhos deixarem o lar. Veja também Ef 6:4.

O dever dos filhos é de obedecer e honrar aos pais, conquanto que as suas diretivas não firam os
ensinos do Senhor (Ef 6:1-3; Cl 3:20).

No entanto, nem sempre as coisas andam bem no relacionamento entre pais e filhos. Pode haver uma
revolta nos filhos, pois estes também são pecadores. No entanto, vamos focar em alguns erros que os
pais cometem que podem favorizar o conflito:

1. Pais que irritam seus filhos (Ef 6:4; Cl 3:21). Alguns pais confundem, frustram e irritam seus filhos
devido a: falta de clareza naquilo que esperam dos filhos, inconsistência na disciplina, favoritismo
de um filho sobre outro (visto como injustiça), etc.

2. Pais que não demonstram afeto e/ou não passam tempo com seus filhos. Estes podem achar que
não são amados ou que os pais não lhes dão importância e se revoltam com isto.

3. Pais austeros demais. Quando os pais são demasiadamente rígidos e autocráticos, os filhos podem
se rebelar quando forem mais velhos, pois sentem que os pais os tratam como objetos ou que não
têm confiança neles.

06/05/2019 Pr. Kenneth Eagleton


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4. Pais superprotetores. Querem manter os filhos seguros, não permitindo que os filhos participem
de muitas atividades das quais outras crianças participam. Quando os filhos são um pouco mais
velhos, não permitem que tomem suas próprias decisões. Eventualmente isto pode levar a filhos
exageradamente submissos ou então, rebeldes.

Conflitos na adolescência

A adolescência (da puberdade até aproximadamente 20 anos) é um período especial de transição


entre a infância e a idade adulta. Muitos dos problemas dos jovens aparecem por sua dificuldade na
adaptação durante a transição. Às vezes o jovem pensa e age como uma criança e, paradoxalmente,
em outros momentos, pensa e age como um adulto. Os conflitos desta idade são principalmente
internos, mas acabam se manifestando externamente, pelo seu comportamento. Algumas das áreas
de conflito características desta faixa etária são:

a. Sexualidade. Com a puberdade, acontecem as mudanças físicas externas e hormonais no


corpo do adolescente. Estas mudanças podem deixá-lo confuso e também curioso. É muito
comum querer experimentar com o seu próprio corpo. O interesse por adolescentes do sexo
oposto também traz curiosidade. Antes da puberdade e no início da adolescência, é muito
importante que haja um trabalho de educação sexual aliado aos valores morais e espirituais
para orientar o adolescente quanto a estas mudanças e como devem lidar com elas. Não se
pode depender da educação sexual que os alunos tenham eventualmente aprendido na
escola, pois esta vem desprovida de valores morais.

b. Namoro. Esta nova atração pelo sexo oposto levará o jovem a querer namorar, muitas vezes
com intenções de exercer sua sexualidade. O jovem precisa de orientações antes desta fase
para que reflita sobre a necessidade do respeito mútuo, o objetivo do namoro e como
escolher um(a) namorado(a).

c. Valor próprio e busca pela aceitação. Nesta fase de transição, o jovem está buscando se
estabelecer como pessoa, com identidade separada de sua família. Ainda sente muita
insegurança nesta busca por sua própria identidade e tem necessidade de se sentir aceito por
outros jovens de sua geração e de seu ambiente. Muitas coisas que talvez não teria escolhido
fazer por si mesmo, acaba fazendo para ser aceito pelo grupo (sua “tribo”).

d. Amizades. Os adolescentes são fortemente influenciáveis por seus amigos, devido a uma
necessidade grande, desta faixa etária, de ser aceito pelos seus pares. É muito importante que
o jovem tenha orientação de como escolher seus amigos.

e. Rebeldia contra os valores da família. Esta é outra consequência do jovem que procura
estabelecer a própria identidade. Durante toda sua infância, seguiu os valores que sua família
lhe passou. Suas opiniões e crenças eram as de sua família. Mas nesta fase da vida o jovem
põe tudo isto em questão e passa a tentar estabelecer suas próprias convicções relacionadas
a todos os aspectos da vida, inclusive os ensinamentos espirituais que recebeu. O resultado é
que, às vezes, acaba concordando com as convicções da família e, às vezes, difere. Este desejo
de ser diferente e criar sua própria identidade e ter suas próprias convicções, pode levar a
uma rebeldia contra os valores da família. A maneira dos pais reagirem ao jovem durante esta
fase pode fazer toda a diferença quanto à extensão de sua rebeldia.

06/05/2019 Pr. Kenneth Eagleton


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Conflitos interpessoais

Além dos conflitos dentro da família, verificamos que, em todas as esferas do convívio humano, há
conflitos interpessoais. Onde há mais de uma pessoa, há também o potencial para um conflito. O Novo
Testamento está repleto de exortações aos cristãos quanto às discussões inúteis, divisões, facções,
etc. Em Gálatas, temos uma lista de obras da carne (ou desejos da natureza humana pecaminosa) que
se opõem aos frutos do Espírito, listados logo a seguir. Boa parte das obras da carne listadas são
atitudes ligadas ao conflito interpessoal: hostilidade, discórdias, ciúmes, acessos de raiva, dissensões,
divisões e inveja (Gl 5:19-21).

Esta não é a forma com a qual o cristão é chamado a viver. Ele é chamado a demonstrar o fruto do
Espírito em sua vida (Gl 5:22-23). Além disto, dentro do corpo de Cristo, o cristão deve conviver com
os outros membros do corpo em mutualidade. Aqui estão alguns exemplos:

o Amar uns aos outros – Jo 13:34-35; 1 Pe 4:8; 1 Jo 3:23; Rm 12:10


o Preferir em honra uns aos outros – Rm 12:10
o Ter uma mesma atitude uns com os outros – Rm 12:15-17; Fp 2:1-4
o Servir uns aos outros – 1 Pe 4:10; Gl 5:13
o Levar os fardos pesados uns dos outros – Gl 6:1-3
o Orar uns pelos outros – Tg 5:16
o Confessar seus pecados uns aos outros – Tg 5:16
o Perdoar uns aos outros – Ef 4:32; Cl 3:13
o Ser bondosos e compassivos uns para com os outros – Ef 4:32
o Encorajar uns aos outros – Hb 3:12-13; 10:25; 2 Co 1:3-4
o Ensinar uns aos outros – Cl 3:16
o Aconselhar (admoestar) uns aos outros (advertir, aconselhar, instruir, ou chamar a atenção)
– Cl 3:16; Rm 15:14
o Suportar uns aos outros – Ef 4:2; Cl 3:13
o Se sujeitar uns aos outros – Ef 5:21
o Lavar os pés uns dos outros – Jo 13:14
o Consolar uns aos outros – 1 Ts 4:18; 5:11

O objetivo do conselheiro cristão deve ser de levar a pessoa que está aconselhando a entender onde
errou (ou está errando), confessar o seu pecado, pedir perdão à pessoa com quem está em conflito,
restaurar o relacionamento e aprender a aplicar os princípios bíblicos nos seus relacionamentos.

06/05/2019 Pr. Kenneth Eagleton

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