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SEMINÁRIO TEOLÓGICO

EBNESR

TP706-ACONSELHAMENTO
BÍBLICO
Parte 01

Ricardo J.C. Sobral

EBNESR
Recife, PE
2022
TP706-Aconselhamento Bíblico 2022 Ricardo J.C. Sobral

SEMINÁRIO TEOLÓGICO EBNESR


CNPJ.: 02.967.320/0001-40 Insc.: Isento
Rua Baronesa de Palmares, 190 - Boa Viagem
51030-110 – Recife, PE. (81) 3341-6514 / 3342-5269
ebnesr@gmail.com

Dedicatória:

À
Joe Mckinney:
Presbítero amado da Igreja de Cristo Joelton – Tennesse-USA

SOBRAL, Ricardo J.C. Aconselhamento


Bíblico. Recife: EBNESR, 2022.

22 pg.

1. Aconselhamento; 2. Igreja; 3. terapia.

© 2019 Ricardo J.C. Sobral

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ÍNDICE

TP706-ACONSELHAMENTO BÍBLICO ....................................................................... 1

ÍNDICE........................................................................................................................... 3

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 4

Aconselhamento: um assunto bíblico ..................................................................... 5

I. CONCEITO DE ACONSELHAMENTO ................................................................. 9

1. Termos bíblicos que definem - aconselhamento ......................................... 11

2. Aconselhamento como dizer, traduzir e explicar ......................................... 15

3. Fundamentos teológicos do aconselhamento.............................................. 17

CONCLUSÃO ................................................................................................................ 20

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 21

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INTRODUÇÃO
O aconselhamento espiritual é um serviço muito antigo,
encontrado em todas as culturas e religiões. Os textos bíblicos nos
relatam que as pessoas buscaram orientação espiritual em diversos
acontecimentos.
Nesta apostila, daremos atenção especial ao ministério do
aconselhamento no âmbito da igreja, mais especificamente como
serviço entre a irmandade. Neste texto, nossas reflexões passam
pelas seguintes questões: para que serve a direção espiritual;
fundamentos da orientação espiritual; qual deve ser o perfil do
orientador espiritual; Como identificar a necessidade de
aconselhamento; quais os elementos éticos na orientação espiritual;
metodologia da orientação espiritual à luz de algumas imagens
bíblicas.
Neste quadro não devemos esquecer que a pedagogia de

Jesus deve ser o nosso alvo. Na sua pedagogia, o protagonismo do

orientando é condição para crescer na fé e na construção da paz

interior.

✓ Ele é o Mestre que orienta sem impor;

✓ Que acolhe a todos sem distinção;

✓ Que tem uma palavra de esperança;

✓ E que é o caminho, a verdade e a vida.

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Aconselhamento: um assunto bíblico

Jesus Cristo durante seu ministério terreno exerceu amplamente


atividades voltadas ao processo do aconselhamento. Ele continua sendo o
exemplo máximo de perfeição cristã, pois durante seu ministério deu assistência
aos necessitados, desamparados, marginalizados e indivíduos excluídos da
sociedade. Nunca rejeitou alguém, ele mesmo disse:

Em Mateus 11.28-30,
“Vinde a mim, todos os que estai cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai
sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e
achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo
é leve.”

Ao estudar o livro de Atos dos Apóstolos (65 d.C.) e as Epístolas e Cartas


do Novo Testamento, percebe-se que a igreja, de modo geral, dedicava-se não
apenas a tarefa da pregação, ensino ou evangelização, mas também ao
aconselhamento espiritual. Cada cristão poderia ser um conselheiro em
potencial.

Richard Almond define a igreja como comunidades terapêuticas “que se


caracterizam por um profundo compromisso entre seus membros e por um
interesse comum na cura de (...) males psicológicos, comportamentais ou
espirituais”. (APUD. COLLINS, 2004, p. 2).

A Bíblia é o texto básico do aconselhamento pastoral teologicamente


refletido. A teóloga católica alemã Dóris Nauer descreveu, em 2001, as
concepções de aconselhamento pastoral presentes naquela época. Ela
identificou 30 tipos de concepções e as organizou em três grandes tipos de
teorias dependendo do uso e da relevância da teologia:

1. Teorias dominadas pela perspectiva teológico-bíblica,


2. Teorias com domínio teológico-psicológico,
3. Teorias com domínio teológico-sociológico.
Em todas as teorias prevalece a teologia, quer dizer que também as
concepções terapêuticas e sistêmicas referem-se a um “contexto bíblico de
compreensão”. (NAUER, 2014, p. 85).

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O aconselhamento, na perspectiva bíblica quer dizer: o testemunho


bíblico de que Deus é um Deus poimênico1, que guia o povo de Israel (Êx 20.21),
e que manifestou seu amor para todos os seres humanos em Jesus Cristo (Jo
3.16).

O Antigo Testamento oferece apoio para articular a fé cristã no


aconselhamento.

1. “Nos livros da Sabedoria documentam-se conselhos que servem para a


condução de vida.
2. Os Provérbios muitas vezes se dirigem do pai ao filho.
3. Muitos salmos articulam aflições individuais por doenças, conflitos,
inimigos, a morte iminente, expressam lamentações, bem como a alegria e
o júbilo pela salvação da vida.
4. Nos livros dos profetas encontramos uma prática diretiva e confrontativa
de comunicação pública com os representantes do povo e do governo, como
tentativa de trabalhar o trauma do povo exilado.

O Novo Testamento carrega traços de relacionamento poimênico.

1. Jesus como modelo arquetípico de aconselhamento.

A. Ele desafia as autoridades e interpreta a tradição livremente;

B. Ele transforma os valores. Amor ao próximo e ao inimigo, perdão


incondicional, a estimação e valorização dos pequenos e fracos;

C. Ele apresenta uma mudança radical de vida ao ponto de romper com


a família e com o passado;

D. As parábolas oferecem orientação em situações típicas de injustiça,


perda, separação e abrem a nova perspectiva do reino de Deus.

As histórias de cura mostram uma prática de ouvir, perceber a situação,


aceitar a pessoa, desafiá-la e motivá-la para assumir responsabilidade e agir.

2. Na perspectiva do apóstolo Paulo

A. O fundamento é a misericórdia de Deus que realiza a reconciliação do


mundo com ele através da encarnação do seu filho Jesus Cristo, sua
morte e ressureição.

1
O vocábulo poimênica originou-se no grego poimen, (grego: ποιμήν), cujo significado é pastor.

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B. O aconselhamento recorre à participação existencial dos crentes no


novo ser do Cristo ressuscitado.

C. A consolação consiste na partilha do sofrimento de Cristo e a


admoestação confia na presença do espírito de Cristo, que possibilita
conduzir a vida conforme a lei do amor a Deus e ao próximo.
3. Tiago orienta a prática do cuidado mútuo pela misericórdia de Deus:
A. Às viúvas e aos órfãos – Tg 1.27;

B. Dos presbíteros aos doentes; Tg 5.13-15.

C. Na confissão mútua dos pecados. Tg 5.16.

Base Bíblica para o Aconselhamento:

A Bíblia não usa a palavra na mesma maneira que nós a usamos, mas
mesmo assim há muitas palavras na Bíblia que fala do processo de
aconselhamento.

1 Timóteo 5:1
Não repreendas ao homem idoso; antes, exorta-o como a pai; aos
moços, como a irmãos; 2 às mulheres idosas, como a mães; às moças, como
a irmãs, com toda a pureza.
Tito 2:6
Quanto aos moços, de igual modo, exorta-os para que, em todas as
coisas, sejam criteriosos.
2 Coríntios 1:3-4
Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de
misericórdias e Deus de toda consolação! É ele que nos conforta em toda a
nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em qualquer
angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por
Deus.
Atos 20:31

Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não
cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um.

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Colossenses 3:16

Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e


aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com
salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração.

Isso posto, podemos concluir dizendo que na Bíblia encontramos,


desde o Gênesis até o Apocalipse, pessoas influenciando outras diante de
decisões importantes, com o propósito de apresentar novos rumos diante
do desconhecido. Reis, profetas, soldados e muitos outros foram
beneficiados por conselheiros diante de situações aparentemente
insolúveis.

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I. CONCEITO DE ACONSELHAMENTO
Inicialmente faz-se necessário definir a palavra aconselhamento, no
entanto, Não existe uma definição geral aceita. Quando se menciona a palavra
aconselhamento, fazem-se algumas associações com termos, como: conselho,
informação, orientação. No entanto, aconselhamento é mais do que isso. As
propostas vão de:

1. “Orientação da palavra de Deus para o indivíduo” ou “disciplina


eclesiástica” (Eduard Thurneysen).

2. “Psicoterapia no contexto da igreja” (Dietrich Stollberg)


3. “Ajuda cristã para a condução da vida” (Christoph Schneider-
Harpprecht).

4. “Aconselhamento pastoral é ajuda interpessoal fundada,


interpretada e formada pela fé cristã de maneira qualificada”
(Christoph Morgenthaler).

As definições destacam a dimensão teológica, sociológica ou psicológica.


Mostra-se que aconselhamento é uma prática multidimensional. A compreensão
daquilo que é aconselhamento difere de acordo com o contexto cultural, social,
histórico e eclesial.

Todos os termos listados anteriormente sugerem submissão a um outro,


o que não deve fazer parte de uma relação de aconselhamento. Segundo Ruth
Scheeffer, por aconselhamento se compreende:

“A relação face a face de duas pessoas, na qual uma delas é ajudada a


resolver dificuldades de ordem educacional, profissional, vital e a utilizar melhor
os seus recursos pessoais”. (SCHEEFFER, 1993, p. 14).

Percebem-se, nesse conceito, algumas das características que definem o


aconselhamento, na Igreja local ou não: relacionamento, ajuda, encorajamento.
Pode-se, portanto, conceber o cuidado pastoral como:

“Atos de auxílio, feitos por cristãos típicos, voltados para cura, amparo,
orientação e reconciliação de pessoas com problemas que surgem no contexto
de significados e preocupações básicas”. HURDING, 1994, p. 22.

Vejamos a seguir algumas concepções tanto no mundo católico, tanto no


mundo protestante, quanto no mundo secular.

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Na concepção Católica

Na compreensão católica diferencia-se desde o “liber pastoralis” (latim:


pastorais livres) do papa Gregório I do ano 590 entre a “cura animarum” (latim:
cura da alma) e a “cura pastoralis” (Latim: cura pastorais). Essa é o serviço
pastoral do bispo e do pastor que se refere ao cuidado da paróquia e do
indivíduo, incluindo o culto, os sacramentos, atividades comunitárias bem como
a confissão individual. A “cura animarum” pode ser realizada por leigos batizados
na ordem do bispo. Em algumas atividades coletivas, como a “teologia da
libertação”, acontecem sob a responsabilidade do bispo e do sacerdote.

Na concepção protestante

No protestantismo reformado na linha de Zwínglio e Calvino também


existe um traço coletivo de aconselhamento. O objetivo do serviço poimênico do
dos presbíteros é cuidar da vida da Igreja conforme a pregação do evangelho e
as leis da igreja. A responsabilidade pelo aconselhamento pastoral é de cada
membro da igreja, homem e mulher, baseado no sacerdócio de todos os crentes.

Na concepção secular

Segundo SCHEEFFER (1978, p. 9) a partir da década de 50 a forma de


comunicação comunitária passou a se chamar aconselhamento, ou seja, base
de apoio, acolhimento e ajuda para se reestruturar e se reencontrar ou para
desenvolver novos valores e sentido da existência, alcançando assim o
desvelamento do ser, que em ocasião de crise se antecede as opções vitais,
através das quais o homem se descobre e define a sua identidade. É um
encontro autêntico em que o aconselhador se aplica a compreender e penetrar
no mundo vivencial do aconselhado.

Portanto, a compreensão do aconselhamento bem como a compreensão


de conceitos como Deus, religião ou espiritualidade é construída no discurso da
sociedade e se transforma dentro desse discurso. Nos padrões de sociedades
multiculturais e religiosas o discurso sobre o aconselhamento cristão é
confrontado com outras formas e conceitos de aconselhamento religioso e
espiritual. Ele pode levar a novas construções e conceitos de aconselhamento
pastoral.

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1. Termos bíblicos que definem - aconselhamento


No Antigo Testamento, o termo conselho originasse de (‫ )עֵ צָ ה‬êtsâh. A
palavra ocorre por 86 vezes, como, por exemplo em, Dt. 32:28; Sal. 1:1 e Is 5:19;
As ideias envolvidas nesse termo e seus cognatos são «sessão», «Assembleia»,
«julgar», «defensor», «conselheiro". (CHAMPLIN, 2011, p. 875).

Entretanto no Novo Testamento, há uma variedade de termos para definir


a palavra conselho ou aconselhamento. Seguiremos o dicionário Strong para
definir os vocábulos a seguir:

Em Hebreus 3.13 ἀλλὰ παρακαλεῖτε ἑαυτοὺς καθ’ ἑκάστην


ἡμέραν, ἄχρις οὗ τὸ σήμερον καλεῖται, ἵνα μὴ σκληρυνθῇ τις ἐξ ὑμῶν
ἀπάτῃ τῆς ἁμαρτίας.
ARA NVI NTLH
13. pelo contrário, 13. Pelo contrário, 13 ...animem uns aos
exortai-vos encorajem-se uns aos outros, a fim de que
mutuamente cada dia, outros todos os dias, nenhum de vocês se
durante o tempo que se durante o tempo que se deixe enganar pelo
chama Hoje, a fim de chama "hoje", de modo pecado, nem endureça o
que nenhum de vós seja que nenhum de vocês seu coração.
endurecido pelo engano seja endurecido pelo
do pecado. engano do pecado,

G3870 – παρακαλέω - parakaleō

O significa: “encorajar”, “consolar”, “conclamar”.

Exortar aqui, não quer dizer “censurar”, “repreender”, “ofender”, “magoar”


ou “machucar”, mas sim, “confortar”, “encorajar”, “animar”.

O termo original tem a mesma procedência do título e função do Espírito


Santo, “o Consolador” (Paráklet s) (Jo 14.16,26; 15.26; 16.7). Portanto, exortar
é biblicamente uma prática da igreja cristã, mediante a qual os crentes são
encorajados, consolados e exortados mutuamente a permanecerem fiéis ao
Senhor Jesus Cristo (At 11.23; 2 Pe 1.12; 1 Ts 2.3; 3.2).

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Em Atos 20.31 - διὸ γρηγορεῖτε, μνημονεύοντες ὅτι τριετίαν νύκτα


καὶ ἡμέραν οὐκ ἐπαυσάμην μετὰ δακρύων νουθετῶν ἕνα ἕκαστον.
ARC ARA NVI
31. Portanto, vigiai, 31. Por isso, vigiem! 31. Portanto, fiquem
lembrando-vos de que, Lembrem-se de que vigiando e lembrem que
por três anos, noite e durante três anos jamais durante três anos, de dia
dia, não cessei de cessei de advertir a e de noite, eu,
admoestar, com cada um de vocês disso, chorando, não parei de
lágrimas, a cada um. noite e dia, com ensinar cada um de
lágrimas. vocês.

G3560 – νουθετέω - noutheteō

O significado: admoestar, advertir, exortar.


Embora nesse texto ela apareça associada ao ensino, há muita diferença
entre admoestar e ensinar. “Ensinar” (didachē) diz respeito ao ensino metódico
das doutrinas bíblicas, enquanto que “admoestar”, refere-se aos conselhos,
observações, exortações e advertências concernentes ao comportamento e à
prática de vida do cristão. Enquanto o ensino visa ao intelecto, a admoestação
objetiva os sentimentos e a vontade.

Em Atos 20.28 - προσέχετε ἑαυτοῖς καὶ παντὶ τῷ ποιμνίῳ, ἐν ᾧ


ὑμᾶς τὸ πνεῦμα τὸ ἅγιον ἔθετο ἐπισκόπους, ποιμαίνειν τὴν
ἐκκλησίαν τοῦ θεοῦ, ἣν περιεποιήσατο διὰ τοῦ αἵματος τοῦ ἰδίου.
ARC ARA NVI NTLH
28. Olhai, pois, 28. Atendei por 28. Cuidem de 28. Cuidem de
por vós e por vós e por todo o vocês mesmos e vocês mesmos e
todo o rebanho rebanho sobre o de todo o rebanho de todo o rebanho
sobre que o qual o Espírito sobre o qual o que o Espírito
Espírito Santo Santo vos Espírito Santo os Santo entregou
vos constituiu constituiu bispos, colocou como aos seus
bispos, para para bispos, para cuidados, como
apascentardes a pastoreardes a pastorearem a pastores da Igreja
igreja de Deus, igreja de Deus, a igreja de Deus, de Deus, que ele
que ele resgatou qual ele comprou que ele comprou comprou por
com seu próprio com o seu com o seu meio do sangue
sangue. próprio sangue. próprio sangue. do seu próprio
Filho.

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G4165 – ποιμαίνω - poimainō

O significado: apascentar, cuidar, tomar conta.

Em sentido amplo, poimênica tem a ver com o trabalho pastoral de um


modo geral. Enquanto disciplina, tem como objeto de estudo o agir do pastor. O
termo remonta às tradições mais antigas na história da Igreja, quando se tentava
definir o ministério pastoral em relação à sua comunidade. Nesta tradição, o
termo poimen tem como matriz primária a pessoa do próprio Jesus Cristo, que
se autocompreendeu como aquele que se entrega e zela por suas ovelhas e
delas cuida. Em termos mais específicos, poimênica tem sido identificada com o
refletir e o agir pastoralmente em relação ao sofrimento, em suas variadas
expressões, no âmbito da experiência e da fé individual e comunitária.

Em Mateus 4:24 – καὶ ἀπῆλθεν ἡ ἀκοὴ αὐτοῦ εἰς ὅλην τὴν Συρίαν·
καὶ προσήνεγκαν αὐτῷ πάντας τοὺς κακῶς ἔχοντας ποικίλαις νόσοις
καὶ βασάνοις συνεχομένους καὶ δαιμονιζομένους καὶ
σεληνιαζομένους καὶ παραλυτικούς, καὶ ἐθεράπευσεν αὐτούς.

G2323 – θεραπευω – therapeuo

Significado: 1) servir, realizar o serviço; 2) sarar, curar,


restaurar a saúde.
O significado, na maioria das versões bíblicas traduz o termo grego, como
“curar”. No entanto, o termo curar é muito amplo. Segundo Leloup (2004),
“therapeutes”, no grego antigo, podia apresentar dois sentidos: “servir, cuidar,
render culto” e “tratar, sarar”.

O autor afirma que, segundo a literatura da época, a figura do terapeuta


era multifacetada, cuidando do corpo, da alma, dos deuses, das palavras e da
ética. Entretanto, o terapeuta não cura, ele cuida e ajuda o vivente a tratar-se e
curar-se. Em um sentido particular desta descrição, o terapeuta navega pelas
paragens da espiritualidade: “é também um ser ‘que sabe orar’ pela saúde do
outro, isto é, chamar sobre ele a presença e a energia do Vivente, pois só ele
pode curar toda dor nela e com o qual ele ‘coopera’” (Leloup, 2004, p. 26).

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Em 2 Coríntios 11:28 χωρὶς τῶν παρεκτὸς ἡ ἐπίστασίς μοι ἡ καθ'


ἡμέραν, ἡ μέριμνα πασῶν τῶν ἐκκλησιῶν.
ARC KJA NVI
28. Além das coisas 28. Além de tudo isso, 28. Além disso,
exteriores, me oprime pesa diariamente sobre enfrento diariamente
cada dia o cuidado de mim a uma pressão interior, a
todas as igrejas. responsabilidade que saber, a minha
tenho para com todas as preocupação com
igrejas. todas as igrejas.

G3308 – μέριμνα – mérimna

Significado: cuidado, ansiedade.


Conforme Coenen (2000. pp. 149-150), no NT o verbete grego mérimna
atua em um mecanismo, significando cuidado voltado para, isto é, ânsia de zelar,
responsabilidade por alguém, pensar em, ter em mente.

Em 1Corintios 9:9 ἐν γὰρ τῷ Μωϋσέως νόμῳ γέγραπται, Οὐ


κημώσεις βοῦν ἀλοῶντα. μὴ τῶν βοῶν μέλει τῷ θεῷ;
ARC ARA B. VIVA
9. Porque na lei de 9 Porque na lei de 9 Na lei que Deus deu a
Moisés está escrito: Moisés está escrito: Moisés, Ele disse que não se
Não atarás a boca ao Não atarás a boca ao deve pôr mordaça num boi
boi que trilha o grão. boi, quando pisa o para impedir que ele coma,
Porventura, tem trigo. Acaso, é com quando está trilhando o
Deus cuidado dos bois que Deus se trigo. Vocês acham que
bois? preocupa? Deus estava pensando só
nos bois quando disse isso?

G3308 – μέλω – melō

Significado: cuidado de; preocupa-se com.


Conforme o dicionário de Rusconi (2003, p. 300), se importar, interresar:
a alguém ou algo. O dicionário VINE (Eletronico – e-Sword), dirá que, algo é o
objeto de cuidado, especialmente o cuidado de previsão e interesse, e não o de
ansiedade. Já na terceira pessoa do singular melô, significando preocupar-se
com, possui uma relação próxima com respeito ao cuidado. (COENEN, 2000. p.
149-150).

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2. Aconselhamento como dizer, traduzir e explicar


O conselheiro é hermeneuta por excelência. A ele cabe a tarefa de
interpretar. Palmer (1989, p. 24) entende que a interpretação tem três
significados:

✓ Interpretar é enunciar em palavras, ou seja, dizer;


✓ Também é tornar algo inteligível ou claro, ou seja, explicar;
✓ Também é transpor de uma língua para outra, ou seja, traduzir.

Ao conselheiro cabe a tarefa de dizer algo, como também explicar algo


incompreensível e ainda traduzir – nesse caso, geralmente traduzir no sentido
mais simbólico, isto é, transmutar, por exemplo, medos, angústias, tristezas, de
forma que façam sentido e possam ser vencidos.

A palavra grega hermeios, contudo, não pode ser esquecida aqui.


Hermeios é o sacerdote do oráculo de Delfos, cujo papel é transmutar o
incompreensível de forma a tornar-se compreensível. Hermes é, então, portador
e mediador de uma mensagem – que não é a sua própria, mas de outrem! – que
precisa ser posta em movimento e interpretada. (PALMER, 1989, p. 24).

A. Dizer
Hermenêutica tem a ver com dizer, exprimir, enunciar, afirmar. Nesse
caso, Hermes tem a função de anunciar a verdade que não é sua, mas de deus,
tendo sido incumbido de anunciá-la. Cabe-lhe, portanto, ser fiel à verdade da
qual é mensageiro intermediador. Aqui podemos fazer uma analogia (salvo as
devidas proporções) entre Hermes e Cristo, ou seja, como Filho de Deus que
traz a verdade de Deus da qual é participante. Além da fidelidade, o dizer impõe
a pergunta de como dizer algo.

Dizer é sempre já uma interpretação. Portanto, tem a ver com

✓ O tom do dizer,
✓ O olhar ao dizer,
✓ As palavras de como dizer.

Por isso o conselheiro terá que:

✓ Dar-se conta de que precisa “morrer para sua verdade e preconceitos”


ao dizer, afinal, que a verdade não é a sua verdade;
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✓ Perceber seu próprio estado de espírito ao dizer a verdade da qual é


mensageiro, afinal precisa preocupar-se também com a recepção da
verdade pelo aconselhando.

Além disso, a palavra, particularmente no caso do aconselhamento, não


está a serviço de uma ortodoxia, mas a serviço de Deus que, através dela, serve
ao ser humano. Nesse sentido, a palavra é palavra-evento a serviço da cura.

Portanto a palavra de Deus no âmbito do aconselhamento pastoral não


pode ser compreendida simplesmente como informação e transmissão de uma
“verdade”. Pelo contrário, enquanto palavra curadora, ela precisa estar a serviço
do aconselhando e não do conselheiro ou dos princípios doutrinários (muitas
vezes moralistas e legalistas) de uma igreja institucional.

B. Traduzir

Finalmente, a hermenêutica tem a ver com traduzir. Palmer pensa aqui


particularmente na tradução de um texto de uma língua para outra. Nesse caso,
o autor lembra que:

“... o tradutor é um mediador entre dois mundos diferentes. A tradução


[afirma ele] torna-nos conscientes do facto de que a própria língua contém uma
interpretação”. (PALMER, 1989, p. 37).

Palavras nas respectivas línguas apresentam experiências culturais,


visões de mundo. Mais do que isso, palavras numa mesma língua podem adquirir
sentidos distintos. Isso indica que não podemos encontrar a verdade absoluta na
letra. Ou seja, a verdade está além da letra. Portanto, não se encontra a verdade
absoluta interpretando-se “ao pé da letra”.

No caso particular do aconselhamento, isso tem relevância importante. Ao


conselheiro caberá sempre “traduzir” as palavras do aconselhando de forma a
“ouvir por trás das palavras”, ou seja, da fala. Para isso será necessário adentrar
o mundo do aconselhando de forma a traduzir sua fala para que possa ser
compreendida pelo conselheiro, mas também para que possa ser “devolvida”, ou
seja, traduzida para o próprio aconselhando. Afinal, por trás da fala do
aconselhando pode estar um enorme mundo que precisa ser traduzido para ele
próprio, já que, em meio ao seu drama particular, pode não estar conseguindo
traduzir e, logo, não encontrando respostas e saídas.

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C. A. Explicar

Hermenêutica também tem a ver com explicar. Explicar é clarificar algo. A

clarificação de algo que está incompreensível somente é possível quando


se considera que a mensagem precisar tornar-se explicada.

Particularmente no caso do aconselhamento, isso é fundamental quando


uma pessoa em meio às lágrimas não consegue “enxergar” respostas, saídas.
Cabe ao conselheiro clarificar a verdade de forma que ela faça sentido na
respectiva situação de vida. Caso a verdade não se tornar encarnada – será
libertadora, curadora, consoladora.

Ou seja, a encarnação de Deus em Cristo é o seu auto esvaziamento para


que alcance o ser humano em sua real situação. Para dizermos de outra forma,
Deus se autoexplicou, se autocomunicou em Cristo.

No aconselhamento, as implicações da encarnação de Deus são as de


que o conselheiro precisa “encarnar” a realidade do aconselhando, despindo-se
de seus preconceitos e verdades, tornando-se, como afirmou Lutero, um
pequeno Cristo para o outro e, portanto, cuidador do outro.

Isso posto, podemos, portanto, perceber que existem palavras por trás
das palavras que podem não aparecer de forma imediata. Nesse caso, cabe ao
ao conselheiro, dizer, traduzir e explicar essas palavras. Mais do que isso, será
necessário transmutar a verdade de Deus para que possa fazer sentido para a
vida. Isso aponta para o fato das palavras conterem uma profundidade que pode
não ser percebida de forma imediata, precisando então rumina-las para
aconselhar da melhor forma possível.

3. Fundamentos teológicos do aconselhamento

A antropologia cristã coloca em evidência que o cristão não pode ser


compreendido nem ajudado apenas por meio das ciências humanas, como a
psicologia, a pedagogia, a sociologia ou a história.

É à luz da antropologia cristã que compreendemos que o ser humano é


ontologicamente uma nova criatura como afirma Paulo aos Coríntios:

“Se alguém está em Cristo, é nova criatura. Passaram-se as coisas


antigas; eis que se fez uma realidade nova” (2Cor 5,17).
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Assim sendo, trata-se de uma nova realidade, que atinge profundamente


a identidade do ser humano. Mais ainda, a adesão a Cristo constrói um homem
novo, segundo as palavras de Paulo aos Efésios:

Ef 4:20-24: Todavia, não foi assim que vocês aprenderam de Cristo. De


fato, vocês ouviram falar dele, e nele foram ensinados de acordo com a verdade
que está em Jesus. Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a
despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem
renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser
semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade.

Outro elemento da antropologia cristã de relevante reflexão para


a orientação espiritual é o que trata da semelhança com Deus, a qual
foi restaurada pelo batismo, conforme nos ensina pela graça do Espírito Santo.

O ser humano foi feito “participante da natureza divina” – 2 Pe 1.4.

João afirma que, aos que creem em Cristo, Ele:

“Deu o poder de se tornarem filhos de Deus… os quais não nasceram do


sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de
Deus” (Jo 1, 12-13).

Aqui aparece uma das finalidades do aconselhamento, isto é, desenvolver


nos aconselhados o desejo de ser “tornarem filhos de Deus”, o que supõe
acolher a Pessoa de Cristo e sua Palavra. Trata-se, em poucas palavras, de um
processo de crescimento antropológico no qual todas as virtudes humanas e
espirituais devem ser cultivadas.

Este processo aparece no diálogo com Nicodemos, ocasião em que Jesus


declara: “Quem não nascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de
Deus” (Jo 3.5). É uma referência muito clara à necessidade do novo nascimento
para a vida nova que se opera pelo Batismo.

Ao conversar com a Samaritana, Cristo ilustra essa vida nova com a


imagem da água que não para de jorrar: “A água que eu lhe der tornar-se-á nele
uma fonte de água, jorrando para a vida eterna” (Jo 4.14). É uma referência ao
dinamismo da vida sobrenatural do cristão, chamada a crescer sem cessar, até
desabrochar plenamente na vida eterna (1 Jo 3.2).

Diante do exposto, temos a convicção de que o ser humano tem uma


tarefa a desempenhar neste mundo, que poderia resumir-se no seguinte:
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trabalhar com força e fé, ajudado pela graça, para prosseguir no crescimento da
dimensão espiritual em sua prática diária.

A teologia espiritual, levando em conta os dados da antropologia cristã,


explica que o Espírito Santo, ao criar em nós uma “vida nova”, implanta na nossa
alma “o organismo da vida sobrenatural do cristão”:

Esta doutrina tem importância capital para a direção espiritual, pois esta
deve consistir principalmente em orientar e ajudar o dirigido a alimentar e
aumentar a vida da graça, a cultivar as virtudes (teologais, morais e humanas),
e a buscar uma purificação e união com Deus cada vez maiores.

A teologia espiritual nos lembra que o fim último da direção espiritual é,


na realidade, a própria meta da vida cristã: a santidade. Os cristãos “[...] são
chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade”.

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CONCLUSÃO

Em um mundo em que se vê aumentada a iniquidade, a intolerância, o


ateísmo e a indiferença para com Deus, deduz-se que a maioria dos males que
afetam as pessoas em todas as camadas sociais tem sua gênese em um
relacionamento precário para com o criador ou, em muitos casos, nem existem
tais relacionamentos e, em outras situações, esse relacionamento é feito através
de algo que a Palavra de Deus rejeita e condena, o que posteriormente gerará
conflito interior.

Contudo, diante de tais circunstâncias, o sábio conselheiro cristão deve


estar aberto a buscar conhecimento, mesmo que estes estejam diametralmente
oposto às Escrituras para poder analisar os possíveis traumas das pessoas,
juntadas a uma análise prévia do tipo de temperamento que ela traz em
evidência para que se possa principiar um aconselhamento.

Mesmo que utilizando de recursos das ciências do comportamento, o


conselheiro cristão deve pautar seu trabalho objetivando levar a pessoa do
aconselhando a um relacionamento verdadeiro com o Salvador, justamente
porque, quando uma pessoa busca o conselheiro cristão, ela já bateu em muitas
portas de psicoterapeutas seculares e, pelo fato de não ter conseguido detectar
por si só a causa de suas neuroses e temores, ou quando diagnosticada
secularmente, não conseguiu ver mudanças consideradas, se é que ocorreram,
optam para o sobrenatural. O conselheiro cristão, como servo do Deus Altíssimo,
deve ter bem delineado em sua mente que possui todos os recursos para
desenvolver um método de tratamento psicoterapêutico especificamente através
da Palavra de Deus nesse momento da história da Igreja, porém, torna-se tolo
se desprezar todo o conhecimento científico deste momento da Humanidade.

Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis os


insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e
sejais longânimos para com todos.
1 Tessalonicenses 5:14

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Jun/2016.
ALMEIDA Loyde Gonçalves De. A Psicologia E A Bíblia No
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Paulo: Hagnos, 2011.
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CRABB, L. R. De Dentro para Fora. Minas Gerais: Betânia, 1992.
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MACARTHUR, John F. & MACK, Wayne A. Introdução ao Aconselhamento
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XIII(2): 206-215, jul-dez, 2007.
MACHADO, Antônia Barbosa da Silva; SANTOS Edivaldo Correia; SANTOS,
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MOURA, Jader Santana de. Aconselhamento Pastoral, Origem E
Importância. – Artigo.

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PEREIRA, Leidilene Cristina. A Interface Entre O Aconselhamento


Psicológico E O Aconselhamento Espiritual. PUC-SP - São Paulo
2009.
RAMOS, Eliezer Victor Pereira. Uma análise teológica e psicológica do
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Presbiteriana Mackenzie. São Paulo – 2008.
RODRIGUES, Alcilene E. Campos. Análise Existencial E A Logoterapia De
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SCIADINI, Frei Patrício. A pedagogia da Direção Espiritual. São Paulo:
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e a fé na ressurreição: por uma antropologia teológica no
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Revista | São Leopoldo | v. 40 | p. 133-151 | jan./abr. 2016.
WACHHOLZ, Wilhelm. Contribuições Da Hermenêutica Filosófica Para A
Poimênica E O Aconselhamento Pastoral. Estudos Teológicos São Leopoldo
v. 50 n. 2 p. 202-218 jul./dez. 2010

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO

EBNESR

TP706-ACONSELHAMENTO
BÍBLICO
PARTE 02

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EBNESR
Recife, PE
2022
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SEMINÁRIO TEOLÓGICO EBNESR


CNPJ.: 02.967.320/0001-40 Insc.: Isento
Rua Copacabana, 580 - Boa Viagem
51030-110 – Recife, PE. (81) 3341-6514 / 3342-5269
ebnesr@gmail.com

Dedicatória:

À
Joe Mckinney:
Presbítero amado da Igreja de Cristo Joelton – Tennesse-USA

SOBRAL, Ricardo J.C. Aconselhamento


Bíblico. Recife: EBNESR, 2019.

25 p.

1. Aconselhamento; 2. Igreja; 3. terapia.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 4

I. O ACONSELHAMENTO E SUAS VERTENTES .................................................. 5

1. Aconselhamento espiritual ................................................................................ 6

2. Aconselhamento psicológico ............................................................................ 8

3. Autoajuda como aconselhamento .................................................................... 9

II. MODELOS DE ACONSELHAMENTO CRISTÃO.............................................. 12

1. Modelo Integracionista - Gary R. Collins ................................................... 12

2. Modelo Noutético – Jay Adams .................................................................. 15

3. Modelo de Aconselhamento Bíblico – Larry Crabb. ................................ 18

1. Modelo eclesiástico: Edificação um dos Outros .......................................... 22

CONCLUSÃO ................................................................................................................ 24

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 25

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INTRODUÇÃO
Na unidade 01 vimos os conceitos do Aconselhamento Bíblico
e nesta unidade veremos como o Aconselhamento apresenta suas
linhas de orientação emocional do ser humano.

Veremos que o intercâmbio com disciplinas diferentes beneficia


o desenvolvimento em várias áreas do conhecimento, fazendo com
que esta interação pode compor uma simples comunicação das
ideias ou a integração de dados dos ensinos apropriados. Para tanto,
nesta unidade apresentaremos três vertentes de aconselhamentos,
o Espiritual; o Psicológico e a Autoajuda.

Além disso, vale ressaltar a distinção que há entre o


Aconselhamento cristão do que é chamado de Aconselhamento
Bíblico. Essa distinção se dá pelo fato de o Aconselhamento Cristão
ser mais integracionista, pois, assimilam teorias e métodos da
Psicologia e das ciências de um modo geral, o que o Aconselhamento
Bíblico não faz.

O aconselhamento influenciado pela Bíblia tem tentado


conciliar a psicologia e a teologia, pois a herança bíblica se
desenvolve nos dois polos. Portanto, finalizamos apresentando os
modelos, Integracionista; Noutético; Bíblico e por fim, o modelo
Eclesiástico.

Então, vamos lá!

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I. O ACONSELHAMENTO E SUAS VERTENTES

O intercâmbio com disciplinas diferentes beneficia o desenvolvimento em


várias áreas do conhecimento. Conforme Mendonça (2007), esta necessidade
contribui para a delimitação de áreas comuns entre as disciplinas e favorece a
construção da interdisciplinaridade. Veja o que diz Gusdorf:

“Os especialistas das diversas disciplinas devem estar animados de uma


vontade comum e de uma boa vontade. Cada qual aceita esforçar-se fora do seu
domínio próprio e da sua própria linguagem técnica para aventurar-se num
domínio de que não é o proprietário exclusivo. A interdisciplinaridade supõe
abertura de pensamento, curiosidade que se busca além de si mesmo” (Gusdorf,
1990, p.397).
O diálogo entre a psicologia e a religião adquire contornos de diálogo
interdisciplinar. A necessidade desse diálogo e a possibilidade de contribuição
mútua é enfatizada, tanto pelos psicólogos quanto pelos religiosos que se
interessam em ajudar as pessoas por meio do aconselhamento. Van Belzen
(2008) referindo-se ao progresso da psicologia, enfatiza a necessidade de
diálogo da psicologia com outras áreas do conhecimento. Segundo ele, é
importante que cada área e cada profissional, neste encontro, conserve suas
especificidades:

“A psicologia, e sobretudo a psicologia da religião, precisa de outras


ciências para ter seus insights. Isso precisa acontecer sem que nos tornemos
biólogos, antropólogos e teólogos. Entrar em diálogo com eles não é a mesma
coisa que ajudá-los a fazer psicologia. Isso não cabe a eles, mas a nós,
psicólogos”. (Van Belzen, 2008)

No campo da religião cristã, em especial no aconselhamento espiritual,


muitos são os autores que salientam a importância das contribuições advindas
de outras disciplinas, principalmente da psicologia (Chabassus, 1977; Casera,
1985; Giordani, 1985; Barry e Connolly, 1999; Corti, 2002; Hellinger, 2005;
Clinebell, 2007).

Como falamos antes e que corrobora com que estamos abordando neste
capitulo, as definições destacam a dimensão teológica, sociológica ou
psicológica mostrando assim, que aconselhamento é uma prática
multidimensional.

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A compreensão daquilo que é aconselhamento difere de acordo com o


contexto cultural, social, histórico e eclesial. Portanto, veremos a seguir, algumas
concepções de aconselhamento em vários universos religiosos.

1. Aconselhamento espiritual

O campo da ajuda espiritual à comunidade cristã é marcado por diferentes


modalidades de intervenção que assumem uma diversidade de denominações,
como direção espiritual, discernimento vocacional, acompanhamento
vocacional, guia espiritual, counseling, aconselhamento espiritual, diálogo
pastoral e psicoterapia pastoral. Essas denominações implicam em diferenças
que decorrem da finalidade, do destinatário e do seu nível de crescimento
espiritual, bem como da pessoa que assume a função de aconselhador (Aletti,
2008).

Num conceito multifacetado, Santos (2006) diz que a direção espiritual,


do ponto de vista metodológico, o aconselhamento caminha em duas
perspectivas: a teológica e a existencial.

Aconselhar
perspectiva

Teológica existencial

✓ Teológica: tornar-se pessoa, ser cristão e do dom do exercício


vocacional.
✓ Existencial: ajudar em momentos de dúvida, dor, angústia ou por
aspirarem a um desenvolvimento espiritual.

Esse conceito é visto, tanto entre os católicos, quanto entre os


protestantes.

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A. Protestantismo
O aconselhamento religioso no protestantismo é denominado, em geral,
por “aconselhamento pastoral”. Friesen (2000, p. 19), afirma que o
Aconselhamento Pastoral, é antes de tudo a comunicação da palavra de Deus:

“Não é psicoterapia, nem psicanálise, nem tampouco a tentativa de


resolver problemas apenas através de conselhos”. (...) “é um relacionamento
interpessoal em que o conselheiro assiste ao indivíduo em sua totalidade no
processo de ajustar-se melhor consigo mesmo e com seu ambiente”. (FRIESEN,
2000, p. 19).

Uma outra definição deste procedimento pode ser encontrada em Farris


(2005):

“De modo geral, o aconselhamento pastoral é o processo pelo qual um


pastor, ou outro representante da igreja, trabalha com indivíduos, grupos ou
famílias, num contexto relativamente estruturado, com um programa de
conhecimento emocional, psicológico e espiritual, tentando lidar com os
problemas práticos da vida, geralmente as crises”. (FARRIS 2005, p. 162)

Friesen (2000), discorre sobre a relação entre a Psicologia e o


Aconselhamento Pastoral, marcando a importância dela ao afirmar que a falta
de conhecimento profissional e técnico, do conselheiro pastoral, não é
compensada pela fé. A principal diferença estaria no fato de que o:

“Aconselhamento pastoral baseia-se primordialmente sobre princípios


bíblicos/teológicos” (p. 32).

Além disso, o aconselhamento pastoral:

“Mantém em seu rol de funções o confronto com ações pecaminosas, o


convite ao arrependimento e mudança de atitudes, e a reformulação de
princípios de vida de acordo com os preceitos bíblicos” (p. 33),

O que difere dos objetivos da psicoterapia.

B. Catolicismo
No catolicismo encontramos o aconselhamento vinculado à ideia de
“direção espiritual” que consiste sobretudo, em acolher de maneira delicada,
terna e amorosa aquele que necessita de ajuda. O seu alvo consiste em iluminar
os pensamentos, incentivar o perdão e a reconciliação, seguindo o exemplo de
Jesus Cristo (Comunidade Católica Shalom, 2005).

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A essencial é manter, para com o aconselhando/orientando, uma postura


misericordiosa, visto que ele por vezes traz consigo a ferida dos pecados, as
cegueiras espirituais, a fé ignorante e uma compreensão limitada
da realidade humana e suas adversidades (Comunidade Católica Shalom,
2005).

A literatura encontrada sobre aconselhamento no catolicismo aponta a


necessidade da experiência pessoal de Deus por parte do aconselhador. Assim,
recomenda-se uma rotina diária de orações, estudo da palavra de Deus (a
Bíblia), vida sacramental em ordem, e participação frequente (se possível diária)
da missa e da comunhão, assim como a confissão mensal ou quando houver
necessidade.

Segundo o que diz a Comunidade Católica Shalom (2005), é


indispensável que o trabalho de aconselhamento seja pautado pela palavra de
Deus e a doutrina da Igreja. Além disso, o aconselhador deve ter plena convicção
de carrega consigo o Espírito Santo, que dirige seus dons e o orienta nas
escolhas e palavras.

Um dos aspectos que se destaca nestas perspectivas é


a convicção de que podem ser utilizadas teorias e técnicas psicológicas para
ajudar o indivíduo ou o grupo.

2. Aconselhamento psicológico

A psicologia possui ferramentas de relevância para o aconselhamento


cristão. Ela torna-se útil para o mundo religioso, tanto católico quanto
protestante, nos momentos em que o sentimento religioso não apresenta
soluções.

A pluralidade religiosa está presente na sociedade em geral. Necessário


se faz salientar qual a relação da dor, do sofrimento, da angústia, ou qualquer
dificuldade, e como as diferentes culturas e religiões lidam com os dilemas
atuais.

Os recursos, através dos quais o psicólogo-conselheiro procura ajudar a


pessoa que o busca, repousam sobre sua visão acerca do homem. Sua
concepção da natureza humana representa a estrutura básica de seu
relacionamento com o mundo e de suas consequentes atitudes.
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O aconselhamento psicológico configura-se como uma relação de ajuda,


na amplitude do conceito trazido por Rogers. Trata-se de um processo de
interação entre duas pessoas, aconselhador e aconselhando, em que o primeiro
procura ajudar o segundo a se recuperar de seu adoecimento existencial. Para
Forghieri (2007) o aconselhamento psicológico focaliza os aspectos saudáveis
do aconselhando. Parte-se da premissa de que, por mais doente que ele esteja,
sempre apresentará indícios de saúde existencial.

“A partir da atualização dessa saúde, o cliente recomeça a crescer e a


adquirir estímulo e coragem para descobrir suas deficiências ou dificuldades e
então resolvê-las, se isto for possível. Se os seus limites impedirem que tal
aconteça, ao reconhecê-las e aceitá-las, o cliente poderá superar essas
dificuldades partindo para outros objetivos ou escolhas, dentro de suas próprias
possibilidades” (Forghieri, 2007, p.44)

A atuação do conselheiro deve ser orientada pelos seus conhecimentos,


entretanto, estes não podem se transformar em uma camisa-de-força que
agrilhoe os seus movimentos (Angerami, 2004). Devem se configurar como
pontes de acesso à realidade do outro, nunca como obstáculos. O conhecimento
ajuda a compreender a vivência e esta é sempre privilegiada.

O aconselhamento psicológico se apresenta mais como uma resposta às


conjunturas reais e imediatas do que como um esquema conceitual.

3. Autoajuda como aconselhamento

Ao buscar a definição do termo autoajuda deparamos com uma gama de


variadas concepções tanto da ciência quanto de conteúdos que fogem as regras
de comprovação científica por serem completamente místicos ou subjetivos.
Segundo Ferreira (2008),

“Autoajuda é o processo em que se utilizam os próprios recursos mentais com o


fito de superar problema, dificuldades, de ordem psicológica ou prática. Conjunto
de aconselhamentos e informações diretas e indiretas por meio de leituras,
palestras que irão possibilitar a autoajuda”. (FERREIRA, 2008, p. 154)

Em sua forma ampla é entendida como a literatura que procura interceder


em favor do indivíduo, a fim de que esse indivíduo possa se conhecer por meio
de reflexões sobre o mundo e sua subjetividade, resultando na possibilidade de

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se autoajudar em questões que normalmente precisaria da intervenção de


terceiros.

Na autoajuda, não há a necessidade de interferências de terceiros, pois


induz o indivíduo a pensar e agir por si mesmo, ou seja, é um aspecto de sua
prática a exclusão da ajuda de profissionais, uma vez que esses manuais
defendem que a instrumentalização das respostas aos anseios da vida está
inserida naquela literatura e surtirão efeito por meio da internalização e
consequente ação.

Segundo Rüdiger (2010), um dos principais pesquisadores do tema


autoajuda,

“Entende-se como literatura de autoajuda aquelas que proporcionam mediações


por meio das quais as pessoas comuns procuram construir um eu de maneira
reflexiva, gerenciar os recursos subjetivos e, desse modo, enfrentar os
problemas colocados aos indivíduos pela modernidade”. (RÜDIGER, 2010, p.
229),

Em outras palavras, podemos entender que os livros de autoajuda


buscam trazer aos leitores certas “respostas” por meio das reflexões que propõe
e que, em sua essência, são reflexos de questões maiores, que envolvem de
forma geral as relações da sociedade contemporânea, ou seja, as relações dos
seres humanos entre si, do ser humano com ele mesmo e com o meio, crenças,
padrões, etc.

Hall (2005) afirma que, na contemporaneidade, o sujeito não detém mais


um núcleo autônomo que lhe confira uma identidade instável. As várias
identidades que lhe são necessárias assumir no decorrer da vida, não são
unificadas ao redor de um “eu” coerente.

Essa multiplicidade faz da identidade um estado sempre incompleto, ou


seja, em constate processo de formação. Por isso Hall sugere a proposta de
substituição do termo “identidade” que remete a uma essência sólida e completa,
pelo termo identificação, com o intuito de tradução a uma identidade em
constante formação, que por sua vez deve ser entendida como

“Uma inteireza que é ‘preenchida’ a partir de nosso exterior, pelas formas por
meio das quais nós imaginamos ser vistos pelos outros” (HALL, 2005, p. 93).

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Rüdiger (2010) considera em suas análises o processo de transformação


através das literaturas de autoajuda como um novo pensamento diante de outras
tendências e ideias. Ele realiza uma profunda avaliação sobre o sentido e o que
o processo significa na formação social-histórica representada pelo
individualismo contemporâneo. Para ele,

“O processo de autoajuda por meio das literaturas, significa acordos, onde se


considera as bibliografias como manuais que, por meio de uma linguagem
prescritiva, ensinam como vencer na vida. E, procuram dar lições sobre
crescimento pessoal constituindo-se em dispositivos por meio dos quais as
massas urbanas articulam sua conversão ao individualismo” (RÜDIGER, 2010,
p. 238).

São diversos os motivos que podem levar um indivíduo a buscar as


literaturas de autoajuda como um consolador às angústias, preocupações ou
desejos. De acordo com Stoll (2009), os leitores geralmente são atraídos por
esse gênero literário, buscando ajuda para conquista de sucesso nos campos
profissional, amoroso, financeiro e pessoal de suas vidas. Esse tipo de literatura
é composto por uma gama de temas que geralmente envolvem a questão da
prosperidade, da responsabilidade pessoal pela própria felicidade e bem-estar,
e a afirmação do poder da mente como instrumento de autotransformação.

Ao desconsiderarem-se os contextos em que as pessoas estão


submetidas em seu cotidiano e gerando uma falsa ideia de que, se não houver
sucesso em sua empreitada, a responsabilidade é somente dela, ou por não ter
aplicado os conceitos do livro corretamente, ou por não ter persistência, ou por
qualquer outro fator pessoal, do qual por vezes, sozinho o indivíduo não tem a
motivação necessária para mudar, ou às vezes, nem se quer a percepção dessa
influência, pode produzir nelas um completo senso de incapacidade e profunda
frustração.

Nessa direção, Barbosa (2008) afirma que quando se responsabiliza


unicamente o indivíduo por tudo aquilo que lhe acontece, se reforça assim a
ideologia capitalista, pois esta deixa de ser questionada se é positiva ou negativa
para a sociedade. A culpa dos que nela fracassam caberia, então, apenas a
esses que a ela não se ‘adequaram’.

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II. MODELOS DE ACONSELHAMENTO CRISTÃO

O que se pretende dizer com Aconselhamento Bíblico? “Aquelas


metodologias que apresenta grande e bem divulgado destaque em sua base
escriturística. Como afirma Wayne Mack, (2004, p. 203): “trata-se de descobrir
as causas dos problemas e aplicar princípios bíblicos a essas causas”.

O aconselhamento voltado para a Bíblia está em evidencia há mais de


cinquenta anos nos Estados Unidos. Em uma tentativa de conciliação entre a
psicologia e a teologia, a herança bíblica se desenvolve em dois paralelos. Os
chamados insights desse legado oferecem uma iluminação para a prática
pastoral e as verdades bíblicas que permitem acontecer, sendo experimentadas
nos relacionamentos humanos.

Nos aconselhamentos, evidenciam-se as maneiras de fazer teologia,


conforme afirma Clinebell (1998):

Na medida em que, através da poimênica e do aconselhamento, as


pessoas encontram libertação do cativeiro de seus conflitos interiores e de sua
auto opressão, superam sua alienação das outras, aumentam a capacidade de
amar e de viver a vida em toda a sua plenitude. (CLINEBELL, 1998. p. 47).
Vejamos abaixo, os principais movimentos que tem a Bíblia como base.

1. Modelo Integracionista - Gary R. Collins

Gary R. Collins, PhD em psicologia clínica da Universidade de Purdue,


professor de Psicologia da Trinity Evangelical Divinity School, autor de vários
livros sobre psicologia e aconselhamento, entre eles Aconselhamento Cristão, o
qual traz seu perfil como orientador. Foi o primeiro psicólogo a tratar do assunto
aconselhamento cristão.

Gary R. Collins. Embora defensor do aconselhamento bíblico, Collins não


exclui o que ele chama de “verdade descoberta mediante a experiência e os
métodos de investigação científica”.

Ele entende que a Palavra de Deus é de imprescindível importância para


o aconselhamento, mas que a psicologia pode ser, sim, de grande ajuda para o
conselheiro cristão, mesmo porque a própria Bíblia não reivindica ser a única
fonte de “revelação sobre a ajuda às pessoas”, e que nem mesmo é este o seu
propósito.
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Mesmo assim, Collins não aceita a psicologia como uma ferramenta que
deva ser utilizada irrestritamente. Ele Collins propõe que toda técnica ou teoria
psicológica que se pretenda utilizar como apoio ao aconselhamento seja testada
e avalizada pelo padrão da Palavra escrita de Deus, cuja inspiração e autoridade
jamais devem ser questionados (Collins, 1995).

A base sobre a qual ele desenvolve sua teoria de aconselhamento


conforme foi exposta nos livros Aconselhamento Cristão, de 1995. Para Collins,
o aconselhamento é “uma parte importante do ministério, necessária e
biblicamente estabelecida” e consiste em:

Aconselhamento Cristão
integrativo
Collins

Psicologia

ESTIMULAR AJUDAR PROVER

✓ Estimular o desenvolvimento da personalidade;


✓ Ajudar os indivíduos a enfrentarem mais eficazmente os problemas da
vida, os conflitos íntimos e as emoções prejudiciais;
✓ Prover encorajamento e orientação para aqueles que tenham perdido
alguém querido ou estejam sofrendo uma decepção, e para assistir às
pessoas cujo padrão de vida lhes cause frustração e infelicidade. (1995,
p.12).

Em outra obra, intitulada Ajudando uns aos Outros (1982), parte do


princípio que o aconselhamento não é função só para pastores, mas sim para
todo o cristão.

Tem como princípio as abordagens do discipulado, sendo, portanto,


também uma postura puramente bíblica. Seu primeiro ponto de explanação no
livro, acima citado, traz uma visão bíblica da “grande comissão” ou “comissão
universal” de Mateus 28.18-20.

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A mensagem foi direcionada aos discípulos e aos que aceitaram Jesus,


os quais foram duplamente encarregados, tanto do ensino como para fazerem
discípulos, instruindo, encorajando, argumentando. Seguindo o exemplo de
Jesus que, ao abordar as pessoas, considerava todas as suas características,
as utilizando para enxergar e alcançar as necessidades e singularidades,
considerando, também, o meio social e a formação. (COLLINS, 1982. pp. 15-
16).

Collins (1995), considera que a igreja neotestamentária, além de uma


comunidade de ensino, evangelização e discipulado, foi também uma
“comunidade terapêutica”.

Quando os membros de uma igreja, hoje, concentram suas atenções e


atividades no culto a Deus, na evangelização, e na fraternidade, ensino e
cuidado mútuo dentro da igreja, este aspecto terapêutico se evidencia. Na
ausência de algum destes elementos, afirma Collins, há desequilíbrio e crentes
incompletos. A tarefa de manter este equilíbrio pertence aos pastores e líderes
que devem guiar o rebanho, e que para executá-la precisam conhecer os
princípios bíblicos sobre como enfrentar estes problemas, e certamente as
ferramentas que têm sido disponibilizadas pelas recentes pesquisas e
perspectivas psicológicas irão auxiliá-lo neste objetivo (1995, p.14,15).

Metodologia

De acordo com a metodologia de COLLINS (1982) a ajuda envolve uma


multiplicidade de habilidades, tidas como perícia que se adquire no aprendizado
e com o processo empírico que vai se cristalizando durante os procedimentos.

ATENÇÃO

FILTRAR OUVIR

ENSINAR RESPONDER

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Atenção: a disposição do conselheiro de conceder atenção integral ao


aconselhado por meio de um contato com os olhos que transmita interesse e
compreensão. Além, de uma postura de amabilidade, bondade e motivação à
compreensão.

O ouvir eficazmente envolve uma recepção ativa da mensagem para


ouvir além do que o aconselhado diz; captando as mensagens transmitidas pelo
tom de voz, postura e pistas não verbais; analisando suas próprias reações. Em
resumo, este ouvir ativo é uma maneira de dizer ao aconselhado: “Eu me
interesso”.

Por responder, Collins representa o interagir com o aconselhado, de


modo que ele perceba o interesse do conselheiro, por meio de ações e
participações verbais específicas. Perguntar e confrontar são fundamentais
neste momento.

Ensinar: Collins afirma: “O conselheiro é um educador, ensinando através


da instrução e do exemplo, e orientando o aconselhado à medida que ele ou ela
aprende a enfrentar os problemas da vida” (1988, p. 45).

Filtrar as informações apresentadas pelo aconselhado que,


inconscientemente, ou mesmo, deliberadamente, distorcem os fatos, deixando
detalhes embaraçantes ou comprometedores de lado.

Finalizando seu pensamento, COLLINS (1982) em Ajudando Uns aos


Outros, faz um breve comentário de que Freud contribuiu para a
profissionalização dos aconselhadores nos Estados Unidos. Seus seguidores
entendiam que os leigos também poderiam dar aconselhamentos se
recebessem um treinamento mais específico.

2. Modelo Noutético – Jay Adams

Ao iniciar sua carreira de pastor na Igreja Presbiteriana da Pensilvânia e


de Nova Jersey, se deparou com problemas em sua carreira de pastor iniciante
ao aplicar os métodos freudianos e rogerianos. Partiu na busca de literatura que
o auxiliasse, e pesquisando a Bíblia, achou fundamentos e possíveis respostas
nos Salmos 31, 38 e 51. (ADAMS, 1970. p. 11).

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Salmos 31 – Tensão – Este salmo fez impressão em mais do que uma


personagem bíblica de modo suficientemente profundo para vir à mente em
momentos de crise suprema. Jonas; Jeremias; o escritor do Salmo 71.

Salmos 38 – O Proscrito – Este grito de agonia. Já que, para Deus,


lembrar-Se é agir, esta palavra fala de colocar diante dEle uma situação que
clama pela Sua ajuda.

Salmos 51 – Mais Alvo que a Neve – Surge dos momentos mais sombrios
do conhecimento que Davi tem de si mesmo, mas, além de explorar as
profundezas da sua própria culpa, achou aqui palavras para a sua própria
confissão e para acender de novo a sua esperança. (KIDNER, 1980, p. 149-210)

Em seu livro, Conselheiro Capaz, ele afirma que:

No tratamento, quer da neurose quer da psicose, não há provas de que a


psicoterapia seja mais eficiente que o aconselhamento médico geral.
Geralmente, a terapia produz melhores resultados em pessoas jovens, bem
nascidas, bem instruídas e não gravemente enfermas. (op. cit. p. 21).
O tratamento de deficiências, quando inseridas no tratamento
psicoterápico, em casos graves de neurose e psicose, fortunas são gastas nos
divãs e muitas vezes, nenhum resultado considerável compensador é alcançado.

A abordagem de Jay Adams é conhecida pela designação que ele próprio


cunhou de “aconselhamento Noutético”. Entende que a Bíblia responde com
excelência a todos os conflitos pessoais, sendo por isso chamado de
Aconselhamento Bíblico. Por esse motivo, traz o nome do confronto com o
pecado, de Aconselhamento Noutético.

A palavra grega noutheteo é o substantivo correspondente nouthesia,


muito usado nas palavras do apóstolo Paulo, quando em seus ensinos
repreendendo, admoestando e aconselhando, “insta quer seja oportuno, quer
não, corrige repreende e exorta com toda longanimidade e doutrina” (II Timóteo
4.2). Para ADAMS (1970, p. 64), deve-se iniciar o tratamento a partir das práticas
pecaminosas confessadas, e corrigir, baseado nos princípios bíblicos.

A proposta básica de Adams é que o conselheiro deve ocupar uma função


de orientador e exortador do aconselhando. Para isso, Adams rompe com o
conceito da pessoa em conflito como ‘doente mental’ que, segundo ele, torna o

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indivíduo não responsável pelo seu comportamento e atitudes, e trata todo


distúrbio como enraizado no pecado.

Para Adams as pessoas perturbadas precisam ser confrontadas com a


Palavra de Deus e, em última análise, assumir responsabilidade pessoal através
de confissão de seus atos (1986, p. 55-56).

O método de Adams é uma reação aos desenvolvimentos das ciências


psicológicas da década de 1960, principalmente sua objeção às abordagens
freudianas e rogerianas. Para Adams, o papel do conselheiro não deve ser como
simples aliviador de sentimento de culpa falsos que perturbam o indivíduo (cf.
Freud) ou da busca de satisfação ou realização pessoal (cf. Roger).

Adams descreve a “confrontação noutética” como contendo três


elementos principais:

ENSINAR

CORRIGIR CONFRONTAR

✓ O ensino com propósito de provocar mudança de conduta e


personalidade;
✓ A confrontação verbal;
✓ A correção em amor.

Nessa abordagem, a Bíblia se torna instrumento básico do


aconselhamento.

Para ADAMS (1970), deve-se ao pecado toda doença mental, que


corresponde aos termos neurose e psicose, como a ciência nomeia. Toda a
doença não orgânica está relacionada ao pecado e a pessoa deve ser
confrontada para que haja o arrependimento e assim, ocorra à mudança. Não
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sugere outro caminho para uma cura eficaz, só o conselho divino e o demoníaco.
Para ele, a Bíblia e a Psicologia estão diametralmente opostas, completamente,
sem meios termos.

O próprio Adams expressa bem a essência de sua abordagem ao indicar


que no aconselhamento noutético não se preocupa com o porquê dos
problemas, mas com o quê. Segundo ele, o por quê já se sabe “antes de iniciar-
se o aconselhamento” e acrescenta ainda que,

“A razão pela qual as pessoas se envolvem em problemas em suas


relações com Deus e com o próximo está em sua natureza pecaminosa. Os
seres humanos já nascem pecadores” (1986, p. 61).
Assim, a ênfase do aconselhamento é determinar o “quê” aconteceu e o
“quê” se deve fazer.

A abordagem de Adams é uma reação aos valores e pressupostos


humanistas da psicologia e justamente por ele ter colocado sua abordagem
nesses termos tem tido boa aceitação entre pastores que, até em função de sua
atividade, preferem exortar e corrigir as pessoas ao invés de procurar trabalhar
com elas mais demoradamente. Embora sua abordagem foi desenvolvida nos
anos 1960 (a primeira edição do livro no original foi em 1970), ainda tem
aceitação em círculos mais conservadores no Brasil.

3. Modelo de Aconselhamento Bíblico – Larry Crabb.

Larry J. Crabb1 também adota um modelo bíblico e, semelhantemente a


Adams, reage contra os desenvolvimentos da psicologia e psicanálise
modernas. A experiência de Crabb é parecida com a de Adams. Ambos se viram
incapacitados de utilizar as ferramentas da formação psicológica no trabalho de
aconselhamento pastoral e saíram em busca de um modelo de aconselhamento
que levasse a sério a revelação bíblica e a antropologia bíblica (cf. CRABB, 1984,
p. 8-9).

1
Lawrence J. Crabb nasceu em Evanston, Illinois, em 1944, autor de Best Sellers,
palestrante, diretor e fundador do ministério New Way Ministers, em 2002. Apontado
como diretor da Associação Americana de Conselheiros Cristãos em 2000. É bacharel em
Psicologia pela Faculdade Ursinus, em 1965. Fez Mestrado e Doutorado em Psicologia
Clínica, pela Universidade de Illinois, finalizado no ano de 1970.
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Aderiu às influencias e os ensinamentos de Schaeffer e Lewis sobre a


convicção do cristianismo, e que todos os conhecimentos pessoais psicológicos
teriam que se adequar à verdade bíblica. “Eu desejava sinceramente uma
compreensão substancial dos problemas das pessoas e da melhor maneira de
lidar com eles de modo plenamente bíblico.” (CRABB, 1984. pp. 7-8)

Crabb a partir dessa dedicação e oração desenvolveu o primeiro livro 2 na


tentativa pessoal, de coerência voltada para a revelação bíblica.

Crabb defende o desenvolvimento “de uma abordagem bíblica do


aconselhamento que assevera a autoridade das Escrituras e a necessidade e
suficiência de Cristo” (p. 11). Ele designa sua abordagem como
“aconselhamento bíblico”. O aconselhamento bíblico, segundo o autor, se
constrói “sobre a premissa fundamental de que realmente há um Deus pessoal
e infinito que se revelou proporcionalmente na palavra escrita, a Bíblia, e
pessoalmente na palavra viva, Jesus Cristo” (p. 13).

Semelhantemente a Adams, Crabb defende que o problema fundamental


do todo ser humano é sua separação de Deus. Essa separação precisa ser
transposta através do arrependimento de pecados e fé em Jesus Cristo (p. 13).
Contudo, diferentemente de Adams, Crabb aceita a utilização de ferramentas da
“psicologia secular” e rechaça a proposta simplista de Adams de reduzir tudo ao
descobrimento e confissão de pecado (p. 14, 41 -43, 49).

Para Crabb, as pessoas precisam de um sentimento de propósito ou


significado na vida (p. 12). Ele entende que as abordagens modernas da
psicologia não possibilitam isso, especialmente, dentro da visão bíblica. Na
abordagem de Crabb, os sentimentos negativos (ou pecaminosos) estão
baseados em comportamentos negativos que são causados por pensamentos

2
Os livros publicados de Crabb são: Princípios Básicos de Aconselhamento Bíblico foi
escrito em 1975, A Igreja Local - 1975, e Aconselhamento Bíblico Efetivo em 1977. E na
caminhada de 25 anos atuando no aconselhamento em palestras e seminários, escreveu
mais de 40 livros. A construção do casamento – 1982, Ajudando uns aos outros – 1982,
Homem e Mulher desfrutando a diferença – 1991, O silencio de Adão – 1995,
Entendendo as pessoas – 1995, Entendendo quem você é, e o que seus relacionamentos
dizem sobre você – 1997, A cura para nós mesmos e nossos relacionamentos – 1997,
Conexão. O Plano de Deus visando a Cura Emocional - 1997, De Dentro para fora –
1998, O lugar mais seguro da Terra – 1999, Chega de Regras - 2002, Conversa da Alma
- 2003. A oração do Pai – 2006; e muitos outros.
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errados. A partir daí o trabalho de aconselhamento gira em torno de corrigir os


pensamentos negativos ou, conforme o autor, “promover o pensamento certo”,
para produzir comportamento correto e sentimentos corretos (p. 44-45). Nesse
ponto, fica clara a distinção entre Crabb e Adams.

Embora ambos buscam uma confrontação do indivíduo com a palavra de


Deus, Adams busca a confissão de pecados, seja no nível de sentimentos,
comportamentos ou pensamentos. Para Crabb, é necessário focar nos
pensamentos. Ele define os ressentimentos, culpa e ansiedade como as três
principais dificuldades por trás de todos os problemas do indivíduo. Nesses
termos, a tarefa inicial do aconselhamento bíblico é “reconhecer as
necessidades pessoais básicas das pessoas (segurança e significado) e
identificar os pensamentos errados sobre como suprir essas necessidades, que
levaram ou ao comportamento pecaminoso (então o problema é culpa) ou aos
sentimentos pecaminosos (que resultam em ressentimentos ou ansiedade) ” (p.
83).

Basicamente, o modelo de Lawrence CRABB (1984) declara a autoridade


das Escrituras estimulando a crença na suficiência de Cristo, possui uma
habilidade peculiar e cautelosa, numa abordagem integracionista com a
psicologia e a bíblica, cuidadosamente passando os conceitos seculares da
psicologia pelo crivo da Escritura inerrante. A visão sobre aconselhamento pode
se resumir da seguinte forma:

Aconselhar é conduzir a maturidade, é ensinar a pensar de forma a


produzir a mente transformada, que atua sobre o comportamento da pessoa e
resulta em sentimentos construtivos. Todo homem necessita de significado e
segurança por causa da transgressão da lei de Deus e da ofensa pessoal a Sua
Pessoa. O corpo de Cristo é o ambiente ideal para o aconselhamento. A
“Koinonia” a pratica da verdadeira comunidade, a comunhão abre um campo
para o encorajamento, para a exortação e para o esclarecimento de vidas vazias,
sem propósitos verdadeiros e sujeitas a grande número de desordens
psicológicas. (CRABB, 1984. Capa)

O método
CRABB (1999) entende que a solução para um aconselhamento eficaz
deve estar direcionada ao envolvimento do aconselhado com sua igreja local.

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Nesse ambiente, ele apresenta três propostas ou degraus para que o conselheiro
inicie seus trabalhos:

1 – Estímulo que trata basicamente de “sentimentos problemáticos” na


busca de se tornarem “sentimentos bíblicos” Localizar a raiz do sentimento.
CRABB (1999, p. 159) é necessário um estudo para chegar às raízes do
problema e a premissa é “comportamentos orientados por alvos”.

As tarefas a serem exercidas pelos cristãos são pessoais e cada um tem


sua importância e aptidão na igreja para auxiliar:

Todo cristão é sacerdote e ministro diante de Deus com a


responsabilidade e o privilegio primeiro de adorar a Deus diretamente e então de
servi-lo de acordo com o dom que Ele outorgou. (...) Os líderes precisam voltar
para o modelo de Efésios 4.11-12, equipando o seu povo para o ministério, a fim
de que o encanador, o professor, a dona de casa, e o profissional possam gozar
o significado de ajudar a construir a Igreja Eterna de Jesus Cristo. (CRABB,
1984. p. 59).

2 – Exortação das mudanças de “comportamento problemático” se torne


um “comportamento bíblico”. A meta aqui é encontrar onde e o que foi que
ocasionou esse comportamento. CRABB (1999, p. 162) traz um exemplo
significativo de um caso em que a pessoa tem dificuldade em permanecer no
emprego, foi indagado sobre qual foi sua mais antiga lembrança e veio à tona
um acontecimento aos quatro anos de idade que o aterrorizou e ocasionou esse
comportamento. Cabe ao conselheiro prescrever caminhos e direções para se
alcançar uma revelação nesse nível, é necessária que se tenha habilidade e
conhecimento.

3 – Esclarecer e promover uma mudança de “pensamento problemático”


dar lugar ao ”pensamento bíblico” A partir da identificação da crença volta-se
para a uma intervenção apurada ao caminho das Escrituras para apresentar o
conceito de suprir as necessidades pessoais. A sugestão de Crabb para esse
nível de mudança seria um aconselhador mais equipado e selecionado porque
se trata aqui de pensamento antigos para incrustar na pessoa um novo hábito,
uma nova perspectiva. (op. cit. p. 163).

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1. Modelo eclesiástico: Edificação um dos Outros

A carta aos Efésios nos auxilia na conceituação do termo aconselhamento


no âmbito eclesial. O apóstolo Paulo apresenta, nos três primeiros capítulos, o
valor e a importância da Igreja no plano redentor do trino Deus para aconselhar
uns aos outros.

Ef 2:19-22: Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas


concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o
fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra
angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado
ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para
habitação de Deus no Espírito.
Ef 4:15-16: Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo
naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e
consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada
parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor.

John Hammett, (2005, p. 46), descreve bem a importância do


entendimento da participação de cada irmão.

“O sacerdócio de todos os crentes [...] tem a ver com nossa comum


responsabilidade de ministrarmos uns aos outros e ao mundo. Vê-la de forma a
justificar de alguma forma uma atitude de autossuficiência individual é
compreender errado a doutrina e esquecer da nossa necessidade da igreja e da
necessidade da igreja do ministério de cada membro”.

John MacArthur, Jr, afirma:

“Desde os tempos apostólicos, o aconselhamento tem ocorrido na Igreja


como função natural da vida espiritual de corpo”. (MACARTHUR, 2014, p. 21).

Então, pode-se compreender que o aconselhamento no Novo Testamento


está voltado à consolação mútua. O Novo Testamento ordena aos crentes:

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✓ “Ora, nós que somos fortes, devemos suportar as debilidades dos


fracos, e não agradar-nos a nós mesmos” (Rm 15.1). E ainda:
✓ “Admoestem-se uns aos outros” (Rm 15.14);
✓ “Levai as cargas uns dos outros” – Gálatas 6.2;
✓ “Consolai-vos uns aos outros com estas palavras” (1Ts 4.18);
✓ “Consolai-vos uns aos outros, e edificai-vos reciprocamente uns aos
outros” (1Ts 5.11);
✓ “Exortai-vos mutuamente” (Hb 3.13);
✓ “Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos
outros, para serdes curados” (Tg 5.16).

Mat 26:38 Então, lhes disse: A minha alma está profundamente triste até
à morte; ficai aqui e vigiai comigo. Jesus no Getsemani – “Preciso de você perto
de mim, vamos orar e vigiar juntos”. Jesus tinha relacionamento perfeito com
Deus, mas precisava de uma pessoa com ele naquele momento.

Deus não se ofende quando levamos nossas necessidades para outras


pessoas. Preciso de Cristo, mas preciso também das outras pessoas.

Satanás é comparado na bíblia a um leão – 1 Pedro 5:8-9. Como é que


um Leão ataca - mais fraco, doente, aleijados, isolados, vulnerável.

O paralítico descido pelo telhado (Lc 5,17-26: Mc 2,1 -12; Mt 9,1-8).


Quando não pudermos andar, é muito importante ter amigos que nos
“carreguem” em seus braços.

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CONCLUSÃO

Nessa unidade vimos que há semelhanças e divergências entre


as vertentes do Aconselhamento. Como isso, procuramos apresentar
e destacar esses pontos convergentes e divergentes para que
fiquemos cientes onde podemos explorar e aproveitar cada situação
exposta.

No aconselhamento espiritual e psicológico, como se viu, tem


o mesmo propósito, no entanto, são independentes nos seus
métodos. Para tanto, apresentamos os modelos e seus respectivos
defensores.

Apesar da controvérsia, apresentamos as formas de


aconselhamentos onde, tanto o aconselhado, como o conselheiro, e
até o ser individual no modelo de autoajuda, podem alcançar os
objetivos estabelecidos para as necessidades de cada um.

Por fim, apresentamos os modelos Integracionista do Collins, o


modelo Noutético do Adans, o modelo bíblico de Clabb e o modelo
Eclesiástico, o qual enfatiza a participação da Igreja no auxilio mutuo
de cada membro.

Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis os


insubmissos, consoleis os desanimados, ampareis os
fracos e sejais longânimos para com todos.
1 Tessalonicenses 5:14

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