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TEOLÓGICO
EBNESR
Literatura
Sapiencial
Jó,
Provérbios
e
Eclesiastes
Dedicatória:
À
Alaís
César
Pestana
Minha
querida
mãe,
serva
de
Deus,
que
tantas
vezes
me
fez
ler
e
copiar
os
Salmos
e
Provérbios.
PESTANA,
Álvaro
Cesar.
Literatura
Sapiencial:
Jó,
Provérbios
e
Eclesiastes,
Recife:
EBNESR,
2012.
126
p.:
30
cm.
1.
Introdução
ao
Velho
Testamento;
2.
Panorama
da
Bíblia;
3.
Bíblia;
4.
Literatura
Sapiencial.
©
2012
Álvaro
César
Pestana
INTRODUÇÃO
Poesia
foi
a
forma
mais
utilizada,
na
Antiguidade,
para
escrever
e
preservar
o
pensamento
dos
homens.
Algumas
das
grandes
obras
do
passado
como
a
Ilíada,
a
Odisséia,
as
obras
de
Hesíodo,
a
Eneida
e
até
mesmo
obras
mais
recentes
como
a
Divina
Comédia,
o
Paraíso
Perdido,
Os
Lusíadas
e
muitas
outras
foram
escritas
em
poesia.
A
predileção
dos
antigos
pela
poesia
provavelmente
tinha
motivos
práticos,
além
dos
estéticos
e
artísticos.
É
mais
fácil
memorizar
e
decorar
poesia
do
que
prosa.
Como
o
acesso
aos
livros
e
mesmo
a
capacidade
de
ler
eram
difíceis
no
mundo
antigo,
a
recitação
de
uma
poesia
memorizada
era
um
jeito
seguro
e
fácil
de
transmitir
histórias,
tradições
e
outras
formas
de
conhecimento
cultural.
No
nosso
Antigo
Testamento,
cinco
livros
são
classificados
como
“Poesia”
ou
literatura
poética:
O
Livro
de
Jó,
o
Livro
dos
Salmos,
o
Livro
de
Provérbios,
o
Eclesiastes
e
o
Livro
de
Cantares.
Embora
vastas
outras
porções
dos
livros
proféticos,
e
até
dos
históricos,
seja
composta
por
poesia,1
estes
cinco
livros
merecem
especial
consideração
por
serem,
além
de
poesia,
pertencentes
ao
gênero
de
“Literatura
de
Sabedoria”
do
mundo
antigo.
Nesta
disciplina2,
(i)
buscaremos
uma
compreensão
geral
da
poesia
hebraica
do
Velho
Testamento,
(ii)
depois
observaremos
como
esta
poesia
foi
utilizada
nos
livros
classificados
como
Literatura
Poética
e
de
Sabedoria,
e,
finalmente,
(iii)
estudaremos
três
livros
que
chamaremos
de
1 RIDDERBOS, N. H.; WOLF, H. M. Hebrew Poetry In: BROMILEY, Geoffrey W., The
Como
você
deve
recordar,
hoje
em
dia,
as
Bíblias
Hebraicas
os
colocam
na
terceira
divisão
da
Tanakh,
que
é
chamada
de
Ketubim
ou
Escritos.
Quando
os
livros
do
Velho
Testamento
são
arranjados
em
24
livros,
a
ordem
é
a
seguinte:3:
3
A
TEB
segue
exatamente
esta
ordem.
4 O Talmude, Baba Batra 14 dirá que a ordem correta dos livros dos profetas é:
Josué,
Juizes,
Samuel,
Reis,
Jeremias,
Ezequiel,
Isaías
e
Os
Doze
Profetas.
A
explicação
que
o
próprio
Talmude
dá
é
que
Jeremias
fala
de
destruição,
enquanto
Ezequiel
fala
de
destruição
e
depois
de
consolação.
Como
Isaías
fala
de
consolação
todo
o
tempo,
esta
é
a
ordem
a
ser
utilizada:
destruição-‐consolação.
5
O
Talmude,
Baba
Batra
15a
afirma
outra
ordem
para
os
Kethuvim:
Rt,
Sl,
Jó,
Pv,
Ec,
Ct,
Lm,
Dn,
Et,
Ed-‐Ne,
Cr.
A
razão
é
não
começar
com
o
mais
antigo
cronologicamente,
que
seria
Jó,
pois
é
fala
de
sofrimento.
Embora
Rute
fale
do
sofrimento,
tem
final
feliz
e
anuncia
Davi
que
está
ligado
aos
Salmos
subsequentes.
6
YOUNG,
E.
J.
Introdução
ao
Antigo
Testamento.
São
Paulo:
Ed.
Vida
Nova,
1964,
p.
307.
7
Lembre-‐se
que
o
hebraico
se
escreve
da
direita
para
a
esquerda,
logo,
as
letras
que
“parecem”
ser
as
últimas
nas
palavras
hebraicas
citadas,
são
as
letras
iniciais:
tm,a/
ç
i~yLihit.,
ylev.m,i
bAYa.
ç
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Bíblica
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os
Servos
do
Reino
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Literatura Sapiencial 2012 Álvaro César Pestana
8 Veja uma lista muito similar em SOARES, Ezequias. Septuaginta: Guia Histórico e
9 ARNOLD, Bill T.; BEYER, Bryan E. Descobrindo o Antigo Testamento: Uma
perspectiva
cristã.
São
Paulo:
Ed.
Cultura
Cristã,
2001,
p.
290;
IRWIN,
Willian
A.
In:
BUTTRICK,
George
Arthur.
The
Interpreter’s
Bible:
vol.
III.
Nashville:
Abingdon
Press,
1984,
212-‐219;
KIDNER,
Derek.
Poetry
and
Wisdom
Literature
In:
ALEXANDER,
David;
ALEXANDER,
Pat
(Eds.).
Eerdmans’
Handbook
to
the
Bible.
Grand
Rapids:
Eerdmans,
1973,
p.
316-‐318.
10
FERREIRA,
Aurélio
Buarque
de
Holanda.
Novo
Dicionário
da
Língua
Portuguesa.
Rio
de
Janeiro:
Nova
Fronteira,
1975,
p.
1105:
“Poesia:
...
1.
Arte
de
escrever
em
verso;
...”
11
BURNEY,
C.
F.
The
Poetry
of
Our
Lord.
Oxford:
Clarendon
Press,
1925,
p.
15;
ARNOLD;
BEYER,
2001,
p.
282-‐288;
KIDNER
In:
ALEXANDER;
ALEXANDER,
1973,
p.
316-‐317.
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Bíblica
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os
Servos
do
Reino
7
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Literatura Sapiencial 2012 Álvaro César Pestana
12 Sua obra foi De Sacra poësi Hebraeorum (1753). RIDDERBOS; WOLF, In:
BROMILEY,
1988,
p.
892.
Para
uma
breve
visão
de
estudiosos
anteriores
que
vislumbraram
um
pouco
da
questão
do
paralelismo
sem
a
clareza
e
profundidade
de
Lowth
veja
BALLARINI,
Teodorico;
REALI,
Venanzio.
A
Poética
Hebraica
e
os
Salmos.
Petrópolis:
Vozes,
1985,
p.
18,
20-‐26.
13
Segundo
RIDDERBOS;
WOLF
In:
BROMILEY,
1988,
p.
892,
Lowth
sabia
que
o
hebraico
deveria
ter
uma
métrica,
mas
como
na
época
se
ignorava
muito
da
pronúncia
do
hebraico
clássico,
ele
se
concentrou
no
“paralelismo
dos
membros”
das
construções
poéticas.
Assim
também
observa
ANGUS,
Joseph.
História,
Doutrina
e
Interpretação
da
Bíblia:
Vol.
2
–
Os
livros
da
Bíblia.
Rio
de
Janeiro:
Casa
Publicadora
Batista,
1953,
p.
149.
14
ANGUS,
1953,
p.
149.
15
ARCHER
JR.,
Gleason
L.,
Merece
Confiança
O
Antigo
Testamento?
São
Paulo:
Ed.
Vida
Nova,
1974,
p.
493.
Outra
definição
interessante
vem
de
SCHMIDT,
Werner
H.
Introdução
ao
Antigo
Testamento.
São
Leopoldo:
Sinodal,
1994,
p.
284:
parallelismus
membrorum
que
combina
identidade
na
forma
com
a
mudança
de
terminologia”.
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Bíblica
Nacional
para
Equipar
os
Servos
do
Reino
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Literatura Sapiencial 2012 Álvaro César Pestana
19 DRIVER, S. R., An Introduction to the Literature of the Old Testament.
Paralelismo
sinônimo
idêntico:
Sl
24.1;
(ii)
Paralelismo
sinônimo
semelhante:
Sl
19.2.
DRIVER,
1905,
p.
363
faz
distinção
semelhante:
(i)
Paralelismo
sinônimo
idêntico:
Nm
23.8;
(ii)
Paralelismo
sinônimo
semelhante:
Js
10.12.
Costuma-‐se
falar
de
“paralelismo
sinônimo
incompleto”
quando
um
elemento
da
primeira
frase
é
omitido
na
segunda:
RIDDERBOS;
WOLF
In:
BROMILEY,
1988,
p.
893.
Tal
detalhamento
observa
o
fenômeno
verdadeiro
da
arte
da
poesia
hebraica,
pois
muitas
vezes
um
elemento
não
citado
na
segunda
linha
está
subentendido
e
sua
omissão
cria
um
bom
efeito
poético.
KIDNER,
Derek,
Salmos
1-‐72:
Introdução
e
Comentário.
São
Paulo:
Ed.
Vida
Nova,
1980,
p.
14,
menciona
mais
um
tipo
de
“paralelismo
sinônimo
culminante”
onde
a
segunda
e
depois
até
mesmo
uma
terceira
frase
vai
ultrapassando
as
anteriores
como
ondas
que
se
sucedem
alvultando-‐se
umas
às
outras:
Sl
93.3
e
92.9.
21
DRIVER,
1905,
p,
363;
BURNEY,
1925,
p.
20.
22
ARNOLD;
BEYER,
2001,
p.
283.
23 PESTANA, Alvaro César, Provérbios de Jesus. São Paulo: Ed. Vida Cristã, 2002,
p.
16,
17.
Escola
Bíblica
Nacional
para
Equipar
os
Servos
do
Reino
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Literatura Sapiencial 2012 Álvaro César Pestana
costume
era
dar
ênfase
na
segunda
frase
da
parelha
e
não
na
primeira,
como
era
o
costume
mais
comum
no
Antigo
Testamento.25
(3)
Paralelismo
Sintético26
Há
muitas
definições
para
esta
forma
de
paralelismo,
a
mais
simples,
contudo,
é
uma
confissão:
Quando
o
paralelismo
não
é
sinônimo
e
nem
antitético,
então
fica
sendo
sintético
–
ou
seja,
ficam
nesta
categoria
os
que
não
se
encaixam
nas
duas
anteriores,
mas
são
poesia
hebraica.27
Claro
que
muitos
eruditos
não
gostarão
desta
definição,
mas,
na
verdade,
é
o
que
define
esta
forma
de
paralelismo.
Ele
não
se
encaixa
nos
outros.
“Nesta
forma
de
paralelismo,
a
segunda
linha
suplemente
e
completa
a
primeira;
há
um
paralelismo,
não
de
pensamento,
mas
somente
de
forma”28.
Por
causa
disto,
muitos
estudiosos
chegam
a
reconhecer
que
não
há
um
verdadeiro
“paralelismo”
nesta
forma
poética.29
Outros
preferem
mudar
o
nome
para
“paralelismo
formal”.30
Também
esta
forma
de
“paralelismo”
tem
recebido
subclassificações,
mas,
na
maioria
dos
casos,
estas
categorias
pouco
ajudam.31
Alguns
exemplos
podem
ser
oferecidos.
Repare
como
eles
não
se
enquadram
facilmente
nos
paralelismos
sinônimo
e
antitético:
complementar
–
que
é
um
paralelismo
mais
de
ritmo
do
que
de
sentido
(Sl
2.6);
(ii)
paralelismo
sintético
de
comparação
(Pv
15.17);
(iii)
paralelismo
sintético
de
raciocínio
(Pv
26.4).
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Bíblica
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para
Equipar
os
Servos
do
Reino
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Literatura Sapiencial 2012 Álvaro César Pestana
Sl
3.2
São
muitos
os
que
dizem
de
mim:
Não
há
em
Deus
salvação
para
ele.
Neste
tipo
de
exemplo
é
possível
ver
os
“degraus”
da
poesia:
serão
dispersos
todos
os
que
praticam
a
iniquidade.
eis
que
os
teu
inimigos
perecerão;
33 DRIVER, 1905, 363; ARCHER JR., 1974, p. 494; RIDDERBOS; WOLF In:
tautológico”.
ARCHER
JR.,
1974,
p.
495
fala
de
“paralelismo
tipo
escadaria”
como
muito
parecido
como
“paralelismo
climático”.
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Bíblica
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Equipar
os
Servos
do
Reino
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Literatura Sapiencial 2012 Álvaro César Pestana
verso,
uma
metáfora
ou
um
emblema
que
descreve
o
justo
e
o
ímpio,
respectivamente.
Veja
também
Pv
26.20-‐21.
39
ARCHER
JR.,
1974,
p.
494.
40
ARCHER
JR.,
1974,
p.
495.
41
FRANCISCO,
1995,
p.
212.
43 Assim nos dão a impressão: ARNOLD; BEYER, 2001, p. 282: “a poesia hebraica
baseia-‐se
muito
mais
na
métrica
do
que
na
rima”;
RIDDERBOS;
WOLF
In:
BROMILEY,
1988,
p.
892:
“Em
dois
aspectos
há
uma
virtual
unanimidade:
(1)
a
poesia
hebraica
tem
uma
métrica
de
acentos
e
não
um
metro
qualitativo
como
a
poesia
grega
ou
latina;
(2)
o
obstáculo
mais
sério
contra
a
atribuição
de
um
metro
é
nossa
ignorância
sobre
a
pronúncia
original
do
hebraico”;
ANDERSON,
G.
W.
A
Critical
Introduction
to
the
Old
Testament.
London:
Gerald
Duckworth
&
Co.
Ltd.,
1966,
p.
172.
44
ARCHER
JR.,
1974,
495-‐497:
Ele
cita
Delitzsch,
dizendo
que
“a
poesia
hebraica
não
tem
nem
rima
nem
metro;
nenhum
dos
dois
foi
adotado
na
poesia
hebraica
até
o
sétimo
século
depois
de
Cristo”;
HARRISON,
1969,
p.
968,
afirma
que
“não
há
tradição
de
metro
na
composição
do
hebreu
clássico
e
mesmo
o
Talmude
não
tem
nada
a
dizer
sobre
este
tópico
em
particular”.
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os
Servos
do
Reino
18
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Literatura Sapiencial 2012 Álvaro César Pestana
45 YOUNG, 1964, p. 309-‐311. BALLARINI; REALI, 1985, p. 30-‐31: acredita que “o
verso
hebraico
se
baseia
sobre
um
determinado
número
de
acentos
intensivos
entre
uma
pausa
maior
e
outra”;
HARRISON,
1969,
p.
970-‐972,
reconhece
que
é
possível
encontra
um
pouco
de
métrica
na
poesia
hebraica,
mas
sugere
“uma
grande
dose
de
cuidado”
ao
fazer
considerações
baseadas
em
suposta
métrica
da
poesia.
46
KIDNER,
1980,
p.
11-‐12;
FRANCISCO,
Edson
de
Faria.
Manual
da
Bíblia
não se detém e no caminho dos pecadores, dm'[' al{ ~yaiJ'x; %r,d,b.W 1c
não se assenta. e na reunião de escarnecedores, `bv'y" al{ ~ycile bv;Amb.W 1d
Veja
que
o
quiasmo,
ou
seja,
a
inversão
dos
verbos
do
1b
para
o
1c
e
1d
só
aparece
no
original
hebraico
e
é
difícil
que
as
traduções
possam
ficar
sinalizando
estes
detalhes
estilísticos.48
Outra
característica
já
observada
no
paralelismo,
que
é
o
clímax,
pode
ocorrer
como
figura
de
estilo
na
poesia,
não
estando
associada,
necessariamente,
ao
chamado
“paralelismo
climático”.
Observemos,
de
novo
o
Salmo
1.1.
A
frase
caminha
para
um
aumento
da
intensidade
do
mal:
“andar...
parar...
assentar-‐se”:
47 BALLARINI; REALI, 1985, p. 28; RIDDERBOS; WOLF In: BROMILEY, 1988, p. 895-‐
896.
48
RIDDERBOS;
WOLF
In:
BROMILEY,
1988,
p.
895,
oferecem
uma
lista
de
não se detém e no caminho dos pecadores dm'[' al{ ~yaiJ'x; %r,d,b.W 1c
não se assenta e na reunião de escarnecedores `bv'y" al{ ~ycile bv;Amb.W 1d
Outras
construções
similares
aumentam
o
vigor
da
poesia
por
meio
de
construções
que
culminam
num
clímax.49
Repetição
é
outra
figura
de
estilo
que
pode
ser
de
dois
tipos:
anáfora
e
epífora.
No
caso
da
anáfora,
uma
palavra
ou
um
conjunto
de
palavras
são
repetidos
no
início
de
versos
ou
membros
do
paralelismo.
Exemplo
de
anáfora:
Salmo
13.1-‐2
–
“até
quando...”
é
repetido
quatro
vezes.
No
caso
de
epífora,
temos
a
repetição
no
fim
ou
na
segunda
parte
do
verso
ou
dos
membros.
Seis
vezes
a
expressão
“a
voz
de
Yahweh”
aparece
no
Salmo
29
(versos
4-‐5
e
7-‐9).
Exemplo
de
epífora:
Salmo
136
tem
uma
frase
repetida
a
cada
verso:
“a
sua
misericórdia
dura
para
sempre”.
Outro
exemplo
complexo
é
o
Salmo
118
que
apresenta
anáfora
nos
versos
2-‐4
(“diga/digam”)
e
epífora
nos
versos
1-‐4,
29
(“a
sua
misericórdia
dura
para
sempre”).50
Artifícios
sonoros
são
possíveis
de
detectar
no
original
hebraico:
aliteração
é
feita
com
a
insistência
ou
repetição
de
uma
mesma
letra.
No
Salmo
127,
a
frase
“em
vão
vigia
a
sentinela”,
no
hebraico,
soa
algo
como:
“sau’
saqad
somer”
(rmeAv dq;v' aw>v)'
–
veja
a
insistência
nos
“s”.
Raramente
o
tradutor
terá
a
felicidade
de
produzir
efeito
semelhante
na
língua
em
que
faz
a
tradução.
Assonância
lida
com
repetição
de
um
mesmo
som,
geralmente
uma
sílaba:
Is
24.17
–
“terror,
laço
e
cova
vem
sobre
ti,
ó
morador
da
49
RIDDERBOS;
WOLF
In:
BROMILEY,
1988,
p.
895:
Sl
1.1;
7.5;
9.3,
5;
31.2;
etc.
50
BALLARINI;
REALI,
1985,
p.
28,
chamam
esta
combinação
de
“símploce”
além
de
51 GOMES, 2000, cita os seguintes exemplos: Os livros poéticos, em especial Salmos,
estão
recheados
de
figuras
de
linguagem.
Veja
as
7
mais
comuns:
(i)
Símile
–
Faz
uma
comparação
por
semelhança
usando
a
palavra
COMO:
Sl
1.3;
(ii)
Metáfora
–
Faz
uma
comparação
por
representação
não
usando
a
palavra
COMO:
Sl
23.1;
(iii)
Alegoria
–
É
um
metáfora
mais
extensa,
mais
longa
em
que
há
vários
elementos
ligados
a
um
ponto:
Sl
88.8ss;
(iv)
Metonímia
–
Substitui
uma
palavra
pela
outra,
estabelecendo
relação
entre
as
duas:
Sl
79.3;
(v)
Hipérbole
–
É
um
exagero,
empregado
para
dar
mais
ênfase:
Sl
6:6;
(vi)
Personificação
–
É
quando
objetos
ou
ideias
abstratas
agem
como
se
fossem
vivos:
Sl
35.10;
(vii)
Antropomorfismo
e
Antropopatia
–
É
atribuir
a
Deus
características,
paixões
e
sentimentos
humanos.
Note
claramente
em
Salmos
10.12
e
6.1.
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Nacional
para
Equipar
os
Servos
do
Reino
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Literatura Sapiencial 2012 Álvaro César Pestana
52 Interessante é observar um refrão poderoso na pregação Isaías 9.8-‐10.4: “Com
tudo
isto
não
se
aparta
a
sua
ira
e
a
mão
dele
continua
estendida”
nos
versos
9.12,
17,
21
e
10.4.
O
Salmo
107
tem
um
refrão
nos
versos
8,
15,
21,
31,
contudo,
o
refrão
tem
seu
tema
anunciado
na
primeira
frase
do
primeiro
verso.
A
segunda
frase
do
primeiro
verso
fala
das
misericórdias
de
Deus
que
serão
evocadas
como
o
tema
do
Salmo
todo
no
último
verso
dele,
verso
43
–
uma
inclusão.
53
Mais
exemplos:
Salmos
24.7-‐10;
39.5,
11;
46.7,
11;
57.5,
11;
62.1,5;
67.3,
5;
80.3,
7,
19.
54
Caso
semelhante,
com
palavras
um
pouco
diferentes,
é
o
do
Salmo
145
que
começa
e
termina
com
um
convite
para
louvar
o
Senhor
para
sempre.
55
Além
disso,
pode-‐se
observar
que
o
Salmo
é
construído
numa
inclusão
da
frase
56 Sobre as várias interpretações dadas ao misterioso Seláh, veja BALLARINI;
REALI,
1985,
p.
45-‐46,
onde
a
possibilidade
de
usá-‐lo
na
determinação
de
estrofes
também
é
citada.
57
Uso
ARA,
mas
fiz
pequenas
alterações
apenas
no
negrito
vos
versos
3
e
5
para
alemão,
que
nos
parece
mais
um
“k”
forte,
quase
com
um
erre,
como
em
ich,
som
“ikr”!
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Bíblica
Nacional
para
Equipar
os
Servos
do
Reino
27
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Literatura Sapiencial 2012 Álvaro César Pestana
b beth
g guimel
d daleth
h he
w vav
z zayin
x ḥeth
j ṭeth
y yodh
k kaph
l lamed
m mem
n nun
s samekh
[ `ain
p pe
c ṣade
q qof
r resh
Os
poemas
acrósticos
de
nossa
Bíblia
hebraica
serão
todos
alfabéticos
(ou
quase
alfabéticos).
Os
mais
famosos
acrósticos
da
Bíblia
são:
112,
119,
145
(com
uma
falha
devida
a
problemas
textuais).
Os
Salmos
9-‐10
devem
ter
sido
uma
unidade
em
alguma
época,
pois
ainda
preservam,
quando
reunidos,
uma
sequencia
quase
completa
do
alfabeto
hebraico.
Os
primeiros
versos
do
livro
de
Naum
oferecem
um
acróstico
incompleto,
com
apenas
11
letras
do
alfabeto
hebraico:
alef-‐kaph
–
Na
1.2-‐8.
A
razão
disto
não
está
clara.
Se
não
tiver
uma
Bíblia
Hebraica
para
observar
a
forma
de
todos
estes
acrósticos,
veja
a
BJ
para
observar
a
distribuição
das
letras
nos
textos
citados.
62
Algumas
versões
não
sinalizam
o
acróstico
de
modo
algum
no
texto:
ARA,
AEC,
64 Eles não usaram as seguintes letras de nosso alfabeto: K, W e X. Opção
2002.
69
Outro
esquema
parecido
é
o
seis-‐sete
de
Jó
5.19.
Parecido
com
este
tipo
de
enumeração
que
chega
ao
“limite”
no
final
é
Pv
6.16-‐19
–
a
sétima
é
abominável!
70
Am
7.14.
LASOR;
HUBBARD;
BUSH,
1999,
p.
497.
71
LASOR;
HUBBARD;
BUSH,
1999,
p.
485.
72
LASOR;
HUBBARD;
BUSH,
1999,
p.
486.
Bíblia
e
o
Talmude.
78
ARAÚJO,
Emanuel.
Escrito
para
a
eternidade:
a
literatura
no
Egito
faraônico.
Brasília:
Editora
UnB,
2000,
p.
215-‐297:
apresenta
todas
as
seis
obras
citadas
abaixo
na
íntegra
em
português.
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Bíblica
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para
Equipar
os
Servos
do
Reino
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Literatura Sapiencial 2012 Álvaro César Pestana
79
Pequenos
extratos
são
citados
em
ARNOLD;
BEYER,
2001,
p.
291.
80
A
palavra
“trinta”
pode
estar
em
Pv
22.20:
compare
as
várias
traduções.
81
A
BLH,
a
NTL
e
a
Ed.Past.
arriscam
uma
divisão
em
30
conjuntos,
numerando
claramente
as
divisões.
A
NVI
faz
uma
boa
divisão
de
parágrafos,
mas
não
se
arrisca
introduzindo
a
numeração
de
1
a
30.
82
Ou
um
depende
do
outro
ou
ambos
dependem
de
um
original
comum.
O
livro
de
Provérbios
qualifica
esta
secção
como
“ditados
dos
sábios”
(Pv
22.17).
83
LASOR;
HUBBARD;
BUSH,
1999,
p.
487.
que
seria
melhor
chamar
este
livro
de
“O
Progresso
do
Peregrino
Babilônico”
ao
invés
de
“Jó
Babilônico”,
pois
o
tema
é
mais
parecido
com
a
obra
de
J.
Bunyan.
86
ARNOLD;
BEYER,
2001,
p.
292.
87
LASOR;
HUBBARD;
BUSH,
1999,
p.
492-‐494;
ARNOLD;
BEYER,
2001,
p.
292,
IOB
˒IYYÔB
(JÓ)
PAROIMIAI
MISHELÊ
(PROVÉRBIOS; PARÁBOLAS)
EKKLESIASTES
QŌHELET
ASMA SALOMÃO
SHıR̂ HASH-SHıR̂ ıM
̂
Ao
observarmos
cada
livro,
observaramos
mais
detalhes
sobre
os
nomes
aqui
citados
de
modo
geral.
89 A VB e a antiga ARC de 1955, quando ainda publicada pela Sociedade Biblica
poderíamos
imaginar
que
ele
tomou
conhecimento
da
história
e
todos
os
detalhes
por
meio
de
seu
sogro,
Jetro,
que
seria
de
uma
tribo
relacionada
a
Jó,
um
contemporâneo
ou
um
antigo.
93
ANDERSEN,
1984,
p.
74.
on
Daniel.
London:
The
Banner
of
Truth
Trust,
1972,
p.
274-‐275.
96
A
Septuaginta
identifica
Jó
com
Jobabe,
rei
de
Edom
(Gn
36.33):
ANDERSEN,
de
Tolstoi
e
de
tantos
outros,
até
mesmo
de
Nietzsch:
a
arte,
como
a
teologia,
muitas
vezes
brota
melhor
na
adversidade
do
que
na
prosperidade.
98
ANDERSEN,
Francis
I.
Jó:
Introdução
e
Comentário.
São
Paulo:
Ed.
Vida
Nova,
Proféticos
Posteriores,
Tomo
II.
São
Paulo:
Herder,
1967,
p.
188,
assinala
elementos
dependentes
do
meio
Egípcio
no
livro
de
Jó:
28.1-‐11
–
as
minas
do
Sinai;
40.15-‐41.26
–
Behemoth
e
Leviatã
(hipopótamo
e
crocodilo
gigante);
9.26
–
barcos
de
junco;
8.11
–
papiro;
40.11-‐12
–
lótus.
Claro
que
a
Literatura
de
Sabedoria
é
internacional,
por
natureza,
e
estes
dados
podem
indicar
apenas
uma
grande
cultura
geral,
antes
de
indicar
relações
de
origem
do
discurso
ou
da
obra.
104
YOUNG,
1964,
p.
338
faz
uma
lista
de
outras
datas.
veja
PESTANA,
Álvaro
César.
Provérbios
do
Diabo.
São
Paulo:
Ed.
Vida
Cristã
/
Ed.
Arte
Editoria,
2007,
p.
39-‐62.
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Bíblica
Nacional
para
Equipar
os
Servos
do
Reino
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Literatura Sapiencial 2012 Álvaro César Pestana
O
retrado
de
Jó A
1a
série
de
A
2a.
série
de
Os
três
amigos
de
provações provações Jó
A B B’ A’
As desgraças A aflição
(1.13-‐19) (2.7b-‐8)
109 Os momentos de “prosa” em Jó são: 1-‐2 – prólogo da obra; 3.1-‐2; 4.1; 6.1; 8.1;
9.1;
11.1;
12.1;
15.1;
16.1;
18.1;
19.1;
20.1;
21.1;
22.1;
23.1;
25.1;
26.1;
27.1;
29.1;
31.40b
–
fim
das
palavras
de
Jó;
32.1-‐5
–
introdução
de
um
novo
personagem;
32.6a;
34.1;
35.1;
36.1;
38.1
–
a
vinda
de
Deus;
40.1;
40.3;
40.6;
42.1;
42.7-‐17
–
epílogo
da
obra.
110
O
esboço
é
meu,
mas
aproveito
ideias
de
ANDERSEN,
1984,
18-‐21;
Biblia
No
centro
de
toda
esta
estrutura
do
prólogo
está
uma
série
de
desventuras
de
Jó
(1.13-‐22)
onde
é
possível
detectar
um
certo
arranjo
poético
em
parte
dos
relatos
das
desgraças
(1.16-‐19)
e,
certamente,
a
grande
confissão
de
fé
de
Jó
é
feita
em
forma
poética
–
este
é
o
grande
centro
dos
capítulos
1
e
2111:
“Nu
saí
do
ventre
de
minha
mãe
e
nu
tornarei
para
lá;
Yahweh
deu
e
Yahweh
tirou;
louvado
seja
o
nome
de
Yahweh.
Jó
2.21
O
retrado
de
A
1a
série
de
confissão
de
A
2a.
série
de
Os
três
Jó provações fé provações amigos
de
Jó
A B * B’ A’
Os
discursos
também
são
muito
bem
estruturados
em
ciclos:
111 Contando as linhas de um texto hebraico temos aproximadamente a mesma
quantidade
de
linhas
entre
1.1-‐15
e
entre
1.22-‐3.1.
Ou
seja,
a
estrutura
poética
1.16-‐19
mais
1.21
estão
no
centro
da
narrativa
inicial,
sendo
que
1.21
é
o
clímax
deste
“centro”.
Esta
contagem
vale
tando
para
a
Biblia
Hebraica
Stuttgartensia
como
para
a
edição
de
Norman
Henry
Snaith
publicada
pela
Sociedade
Bíblica
de
Israel.
112
Este
arranjo
faz
esta
secção
ficar
“incluída”
entre
as
frases:
1.22
-‐
“Em
tudo
isso
Jó
não
pecou
e
não
culpou
a
Deus
em
coisa
alguma”
e
2.10b
-‐
“em
tudo
isso
Jó
não
pecou
com
seus
lábios”.
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Bíblica
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para
Equipar
os
Servos
do
Reino
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Outra
forma
vívida
de
organizar
a
obra
foi
sugerida
por
Elmer
B.
Smick113,
conforme
apresentada
abaixo:
Prólogo
1-‐2
Lamento
de
abertuda
de
Jó
3
Debates:
4-‐14
Debates:
15-‐21
Debates:
22-‐27
Louvor
da
Sabedoria
28
Monólogo
de
Jó
–
29-‐31
113 SMICK, Elmer B. Job In: GAEBELEIN, Frank E. The Expositor’s Bible
Commentary:
vol.
4,
1&2
Kings,
1&2
Chronicles,
Ezra,
Nehemiah,
Esther,
Job.
Grand
Rapids:
Zondervan,
1988,
p.
848.
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Reino
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114 O famoso Código de Hamurabi tem suas leis emolduradas por um prólogo e um
epílogo
poéticos.
Mais
assemelhado
ao
livro
de
Jó,
temos
a
já
citada
obra
egípcia
“O
Campones
Eloquente”
que
tem
um
prólogo
e
um
epílogo
em
prosa
e
o
centro
composto
por
nove
discursos
em
poesia:
ANDERSEN,
1984,
p.
27.
Um
exemplo
de
outra
natureza
é
o
livro
de
Daniel,
que
tem
o
capítulo
inicial
(1)
e
os
finais
(8-‐12)
escritos
em
hebraico
e
o
“miolo”
(2-‐7)
em
aramaico.
Tais
enquadramentos,
muitas
vezes,
são
a
garantia
da
unidade
da
obra.
115
Uma
“inclusão”
ou
mais
modernamente,
“ring
compostion”.
116
ANDERSEN,
1984,
p.
39-‐53,
faz
uma
reconstrução
positiva
e
interessante
de
uma
possível
história
literária
para
o
livro
de
Jó.
Apesar
de
criativa
e
confiante
na
inspiração
divina
ela
não
deixa
de
ser
“um
palpite”.
Outras
reconstruções:
DRIVER,
Samuel
Rolles;
GRAY,
George
Buchanan.
A
Critical
and
Exegetical
Commentary
on
The
Book
of
Job.
Edinburgh:
T.
&
T.
Clark,
1964,
p.
xxxiv-‐l
(§18-‐31);
ROBERT.
A.;
FEUILLET,
A.
Introdução
à
Bíblia:
Antigo
Testamento,
Os
Livros
Proféticos
Posteriores,
Tomo
II.
São
Paulo:
Herder,
1967,
p.
179-‐182.
Uma
análise
conservadora
de
várias
teorias
é
feita
por
YOUNG,
1964,
p.
335-‐338;
ARCHER
JR.,
1974,
p.
527-‐530.
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117 BAXTER, J. Sidlow. Examinai as Escrituras: Jó a Lamentações. São Paulo: Ed.
Vida
Nova,
1993,
p.
70
(toda
a
discussão
das
p.
61-‐71
são
muito
úteis
e
equilibradas).
118
ANDERSEN,
1984,
p.
52,
cita
vários
autores
que
veem
na
ausência
do
discurso
de
Zofar
a
prova
de
que
os
amigos
de
Jó
foram
derrotados,
não
tinham
o
que
dizer
e
que
o
debate
desmoronou.
Infelizmente,
a
Bíblia
de
Jerusalém
toma
a
liberdade
de
recortar
e
emendar
o
texto
atribuindo
Jó
26.5-‐14
a
Bildade,
na
esperança
de
“remediar”
a
brevidade
do
discurso.
Tais
modificações
do
texto
mutilam
a
arte
e
a
mensagem
do
autor
original.
Também
LASOR;
HUBBARD;
BUSH,
1999,
p.
527.
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119 A Septuatinta, edição Rahlfs, marca com sinais diacríticos antigos, muitos textos
Esta
seria
um
boa
ocasião
para
orar
e
ficar
calado.
Mais
tarde
Jó
acusará
estes
amigos
justamente
de
falarem
quando
deviam
calar
(Jó
13.5).
Elifaz,
Bildade
e
Zofar
resolvem
falar
e
responder
a
Jó.
Talvez
seja
esta
uma
segunda
lição
do
livro,
para
nos
ensinar
lidar
com
o
sofrimento,
sobretudo
com
o
sofrimento
injusto:
é
melhor
ficar
mudo
–
não
falar.
É
muito
difícil
lidar
corretamente
com
as
palavras
e
mesmo
com
a
verdade
em
uma
hora
destas.
A
nossa
sabedoria
não
basta...
Será
que
o
livro
de
Jó
não
está
ensinando
que
a
maior
sabedoria
diante
do
sofrimento
é
ficar
como
ovelha
muda
diante
dos
seus
tosquiadores?
Será
que
o
livro
já
é,
em
si
mesmo,
uma
advertência
para
que
sejamos
“prontos
para
ouvir,
tardios
para
falar
e
tardios
para
tomar
providências”?
Contudo,
Elifaz,
Bildade
e
Zofar
querem
ajudar.
Não
duvidemos
da
sinceridade
inicial
deles.
Contudo,
o
que
era
para
ser
uma
consolação
transforma-‐se
em
contenda
e
competição.
A
tese
básica
dos
três
“amigos”
de
Jó
é
uma
só:
“Sofrimento
é
decorrente
do
pecado:
se
Jó
está
sofrendo,
é
resultado
do
pecado.
A
solução
é
o
arrependimento
e
retorno
ao
convívio
com
Deus”.
Claro
que
o
livro
de
Jó
não
trata
deste
assunto
com
esta
falta
de
arte
e
de
graça
como
estamos
fazendo.
Cada
um
dos
amigos
de
Jó
tem
uma
personalidade,
um
tipo
de
epistemologia
(ciência
do
saber)
no
qual
baseia
seu
pensar
e
cada
um
atua
em
um
certo
momento
do
diálogo:
tudo
isto
condiciona
e
modifica
a
tese
básica
mantida
pelos
três.
Farei
abaixo
generalizações
sobre
Elifaz,
Bildade
e
Zofar.
Como
generalizações
elas
buscam
mostrar
cada
um
deles
com
seus
aspectos
característicos,
mas
não
exaure
a
riqueza
do
relato
bíblico
que
trata
artística
e
elaboradamente
de
cada
um
deles.
Mais
calmo,
doutoral
no
Mais
espontâneo
e
direto
Mais
áspero,
sutil
e
falar menos
argumentativo cáustico
ao
falar.
Nenhum deles pode dar uma explicação para a situação de Jó
120 ROBERT; FEUILLET, 1967, p. 183-‐184; BAXTER, 1993, p. 51-‐57; SMICK In:
GAEBELEIN,
1988,
p.
862;
LASOR;
HUBBARD;
BUSH,
1999,
p.
518
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121 LASOR; HUBBARD; BUSH, 1999, p. 523, vão dizer que Eliú é israelita. Isto seria
excluir
a
possibilidade
da
história
ser
anterior
à
instalação
de
Israel
na
Palestina.
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124 SMICK In: GAEBELEIN, 1988, p. 997-‐999; LASOR; HUBBARD; BUSH. 1999, p.
523.
125
ROBERT;
FEUILLET,
1967,
p.
185.
126
BAXTER,
1993,
p.
77.
127
BAXTER,
1993,
p.
81.
que,
no
fim
do
fim,
no
último
fim
das
coisas,
o
justo
viverá
por
fé
e
Deus
vai
abençoar
seu
povo.
A
miopia
da
teologia
da
prosperidade,
que
só
vê
o
que
está
perto,
não
deve
nos
transformar
em
míopes,
deixando
de
ver
a
eternidade...
O
livro
de
Jó
permanece
como
um
dos
maiores
tesouros
da
Bíblia
e
da
literatura
mundial.
Sua
temática,
seu
drama,
sua
arte
e
seu
impacto
na
vida
espiritual
e
cultural
da
humanidade
não
podem
ser
totalmente
aquilatados.
Um
homem
que
sofre
pode
mudar
muitas
coisas...
Será
que
esta
não
é
uma
boa
lição
a
aprender
no
livro
de
Jó,
que
ensina
que
o
sofrimento
é,
ocasionalmente,
mais
poderoso
que
o
poder,
a
saúde,
a
prosperidade,
a
boa
fama
e
as
outras
coisas
boas?
O
livro
de
Jó,
em
sua
grandeza
tem
sido
considerado
como
sendo
pertencente
a
vários
gêneros
literários.128
Ocasionalmente,
parece
com
a
literatura
de
“queixa
e
reconciliação”ou
com
os
“lamentos”
do
mundo
antigo.
Apesar
de
partilhar
de
algo
destes
gêneros,
o
livro
é
maior
que
isto.
Apresenta
lições
e
desenvolvimentos
no
pensamento.
Portanto,
alguns
vão
considera-‐lo
como
“preleção
escolar”
ou
como
“disputa
legal”
ou
ainda
como
“debate
filosófico”.
Tudo
isto
representa
um
progresso
na
avaliação,
mas
não
dá
conta
da
dramaticidade
e
realidade
dos
temas
tratados.
Alguns,
então,
consideram
a
obra
como
uma
“tragédia”
ou
mesmo
uma
“comédia”
(seria
melhor
dizer
tragi-‐comédia),
pois
os
elementos
dramáticos
e
artísticos
não
a
deixariam
atrás
dos
melhores
representantes
do
gênero.
O
problema
destas
classificações
assim
como
também
é
problemático
considerar
a
obra
como
“parábola”,
“fábula”
ou
“lenda”
reside
na
necessidade
da
realidade
da
obra
e
dos
sentimentos
para
que
os
verdadeiros
valores
desta
registro
sejam
válidos.
Se
a
obra
for
fictícia,
transmite
pensamento
positivo,
mas
se
for
verdadeira,
transmite
fé
e
esperança
verdadeiras
e
seguras.
Por
esta
causa,
suponho
que
a
única
classificação
de
gênero
128
LASOR;
HUBBARD;
BUSH,
1999.
P.
529-‐531.
digna
do
livro
seja
“história
épica”,
ou
seja,
a
história
foi
real
e
é
contada
de
modo
grandiloquente
e
poderoso.129
Uma
última
palavra.
O
livro
de
Jó
nos
ensina
a
tomar
cuidado
com
o
mau
uso
dos
livros
da
Bíblia.
Eles
não
são
escritos
“oraculares”
onde
cada
sentença
é
a
palavra
de
um
deus
que
precisa
ser
interpretada
e
aplicada.
Para
entender
corretamente
a
mensagem
da
Bíblia,
geralmente,
temos
que
ler
o
livro
até
o
fim:
a
mensagem
só
é
transmitida
no
fim,
pela
compreensão
do
todo
do
livro.
Isto
vale
muito
para
o
livro
de
Jó
e
para
o
livro
de
Eclesiastes,
que
também
é
um
raciocínio.
Contudo,
vale
também
para
as
cartas
de
Paulo,
os
evangelhos
e
todos
os
livros
bíblicos.
As
cartas
de
Paulo,
por
exemplo,
eram
lidas
como
um
todo
nas
igrejas
e
não
“pedacinho
por
pedacinho”
como
temos
o
costume.
Não
estou
dizendo
que
isto
é
errado,
mas
que
pode
induzir
a
erro
e
pode
fazer
perder
a
mensagem
global.
Mesmo
em
cartas,
como
as
de
Paulo,
a
mensagem
total
que
ele
queria
dar
para
as
comunidades
normalmente
era
reservada
para
a
parte
final
das
cartas
–
parte
normalmente
negligenciada
nos
estudos,
pois
“o
tempo
acabou...”
O
livro
de
Jó
tem
longos
discursos,
belos
e
artísticos
de
Elifaz,
Bildade
e
Zofar,
apresentando
pontos
de
vista
cheios
de
bom
senso
e
de
sabedoria
popular...
um
lixo!
Deus
repreendeu
estes
três
homens
e
ameaçou-‐os
no
fim
do
livro
–
suas
palavras
não
eram
boas.
Quais?
Não
sabemos
ao
certo.
É
claro
que
nem
tudo
que
eles
disseram
está
errado,
mas
um
pouco
de
fermento
leveda
toda
a
massa...
Assim,
devemos
ter
muito
cuidado
ao
citar
frase
do
livro
de
Jó.
Se
os
autores
são
estes
três
homens,
temos
boas
razões
para
desconfiar
delas.
Isto
não
quer
dizer
que
o
livro
de
Jó
não
seja
um
livro
inspirado
por
Deus,
como
dizia
Paulo
(2Tm
3.16-‐17).
Na
verdade,
o
registro
da
Bíblia
muitas
vezes
inclui
um
registro
verdadeiro
de
palavras
falsas.
A
Bíblia
registra
129
ANDERSEN,
1984,
p.
35.
parábola
ou
enigma
em
Jo
10.6;
(ii)
em
Jo
16.25,
29
o
ensino
direto
é
contrastado
com
o
ensino
por
parábolas
enigmáticas;
(iii)
o
termo
provérbio
ocorre
para
os
distos
populares
de
2Pe
2.22.
133
Vulgata:
“Liber
Proverbiorum”
–
Livro
dos
Provérbios.
134
FRANCISCO,
1995,
p.
245.
Ver
também
FRITSCH,
Charles
T.
The
Book
of
Proverbs
In:
BUTTRICK,
George
Arthur.
The
Interpreter’s
Bible:
vol.
IV.
Nashville:
Abingdon
Press,
1984,
p.
771-‐772.
135
Ez
17.2,
3-‐10
–
a
alegoria
das
duas
águias;
20.49
–
o
profeta
como
“proferidor
de
parábolas”;
23.1-‐48
–
a
parábola
de
Oolá
e
Oolibá;
24.3
a
parábola
é,
agora,
uma
ação
simbólica.
136
Jó
41.25
=
semelhantes,
como.
motejo.
141
KOEHLER;
BAUMGARTNER,
1958,
p.
576-‐577;
DAVIDSON,
Benjamin.
The
Analytical
Hebrew
and
Chaldee
Lexicon.
Lynn:
Hendrickson,
1981,
p.
522.
142
No
Novo
Testamento,
percebemos
este
sentido
mais
abrangente
das
palavras
147 FEE, Gordon D.; STUART, Douglas. Entendes o que Lês? – Um Guia para
Entender
a
Bíblia
com
o
Auxílio
da
Exegese
e
da
Hermenêutica.
São
Paulo:
Edições
Vida
Nova,
1984,
p.
206.
148
WESTERMANN,
Claus,
Roots
of
Wisdom:
The
Oldest
Proverbs
of
Israel
and
cartas
de
Paulo
aos
Coríntios
por
meio
da
Análise
Literária,
Epistolar,
Retórica
e
da
Paremiologia
–
4a.
Edição.
Campo
Grande:
Alvaro
Cesar
Pestana
–
Editor,
2010,
p.
7.
Escola
Bíblica
Nacional
para
Equipar
os
Servos
do
Reino
62
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150 Aproveito aqui e nos próximos parágrafos, informações de SCOTT, 1971, p. 53-‐
55.
Escola
Bíblica
Nacional
para
Equipar
os
Servos
do
Reino
63
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Literatura Sapiencial 2012 Álvaro César Pestana
dez
discursos.
Eles
seriam
iniciados
em:
1.10ss;
2.1ss;
3.1ss;
3.21ss;
4.1ss;
4.11ss;
4.20ss;
5.1ss;
6.20ss;
7.1ss.
Ele
deixa
de
incluir
os
vocativos
em
1.8s
e
6.1ss
(com
6.3).
Com
estas,
teríamos
12
discursos.
Talvez
5.7ss
também
pudesse
ser
um
dos
marcadores
de
discursos.
ARCHER
JR.,
1974,
p.
531,
terá
outra
organização
em
15
divisões
para
o
texto
de
Pv
1.7-‐9.18.
152
SCOTT,
1971,
p.
60-‐63.
153
Pv
27.8
157 A fórmula destes provérbios é sempre falar de X coisas e depois de X+1 coisas.
Padrão
de
6/7:
Pv
6.16-‐19;
Padrão
3/4:
Pv
30.15b-‐16,
18-‐19,
21-‐23,
29-‐31
(Amós
1-‐2);
Padrão
1/2:
Sl
62.11-‐12
158
Tipo
(i)
acima.
159
Tipo
(iii)
acima.
160
Dois
itens:
Pv
30.7-‐9,
15a
(Jó
13.20-‐21);
Quatro
itens:
Pv
30.11-‐14,
24-‐28.
161
FRANCISCO,
1995,
p.
245.
162 Esta tradução de ARA é confirmada por BJ, AEC e Ed.Past. Outra forma de
traduzir
este
título
é:
“Ditados
de
Agur,
filho
de
Jaque;
oráculo”
–
NVI,
TEB,
ARC,
BLH
e
NTLH.
A
Tr.CNBB
fica
“no
meio”
duplicando
a
palavra.
163
A
mesma
questão
acima,
ocorre
aqui.
Massá
é
entendido
como
toponômio
por
ARA,
BJ,
AEC,
e
Ed.Past.
Esta
palavra
é
traduzida
como
“oráculo,
lição,
exortação,
palavras
solenes
ou
profecia”
por
NVI,
TEB,
ARC,
BLH
e
NTLH.
A
Tr.CNBB
continua
no
meio.
164
Outras
formas
de
dividir
esta
secção,
antecipam
seu
fim.
As
palavras
dos
Sábios
seriam
apenas
Pv
22.17-‐23.14
(texto
relacionado
de
alguma
forma
com
a
Sabedoria
de
Amenofis
[ou
Amenemope]
que
estaria
na
base
de
Pv
22.17-‐22.11.
Depois
disto,
dois
versos
seriam
da
obra
babilónicas
chamada
“Ditos
de
Ahikar”
(Pv
22.12(?)
e
13).
O
texto
restante
seria
de
outras
fontes
(23.15-‐24.22).
Para
este
modo
de
dividir
veja
HARRISON,
1969,
p.
1014-‐1015.
YOUNG,
1964,
p.
329,
fala
de
Pv
22.17-‐23.12
como
ligados
de
alguma
forma
a
Amenemope/Amenofis.
YOUNG,
1964,
p.
329-‐230,
mostra
a
possibilidade
de
Amenemope
ter
copiado
Salomão
e
Escola
Bíblica
Nacional
para
Equipar
os
Servos
do
Reino
68
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Pv
24.23 IV Pv
24.23-‐34
Pv
25.1 V Pv
25.1-‐29.27
Pv
30.1 VI Pv
30.1-‐33
Pv
31.1 VII Pv
31.1-‐31
Secçao
II
–
Pv
10.1-‐22.16
O
núcleo
reconhecido
como
o
mais
antigo
do
livro
de
Provérbios
é
o
bloco
de
Pv
10.1-‐22.16.165
São
375
provérbios
cuja
cifra
é
o
exato
valor
numérico166
do
nome
de
Salomão
em
hebraico
(lembre
que
a
tabela
abaixo
deve
ser
lida
da
direita
para
a
esquerda):
hmol{v.
h
m
l
v
375 5 40 30 300
Talvez,
esta
questão
simbólica
do
nome
de
Salomão
explique
porque
não
temos
os
3.000
provérbios
de
sua
autoria
(1Rs
4.32).
Até
Salomão
sabia
que
tudo
que
é
demais,
prejudica
(Ec
12.11-‐12).
Como
diriam
depois
os
gregos
“nada
em
excesso”
(meden
agan,
mhde.n a;gan).
Todos
estes
375
versos,
exceto
um167,
são
compostos
por
duas
frases,
a
famosa
parelha
do
paralelismo
hebraico.
Nos
capítulos
iniciais
(Pv
10-‐15)
predomina
o
paralelismo
antitético.
Depois,
o
paralelismo
antitético
é
menos
empregado
e
começam
a
predominar,
nesta
parte
da
coleção
não
ter
entendido
a
palavra
“marcos
antigos”
e
traduzido
por
“órfãos”
em
seu
texto.
165
LASOR;
HUBBARD;
BUSH,
1999,
p.
503;
HARRISON,
1969,
p.
1017;
166
BAUMGARTNER,
W.
(ed.).
Hollemberg-‐Budde:
Gramática
Elementar
da
168 ROBERT; FEUILLET, 1967, Vol. 2, p. 166, esboça esta secção por meio dos
paralelismos
predominantes:
(i)
antitético
–
Pv
10-‐15;
(ii)
sinonímico
–
Pv
16-‐22.
169
LASOR;
HUBBARD;
BUSH,
1999,
p.
503-‐505.
SCHMIDT,
1994,
p.
309
170
SCHMIDT,
1994,
p.
308,
supõem
que
esta
parte
é
a
mais
recente
de
toda
a
textos
de
Pv
1-‐9
tem
encontrado
paralelos
na
literatura
cananítica,
ugarítica
e
de
outros
povos
da
Palestina
pré-‐monárquica.
173
Para
uma
boa
coletânea
de
exemplos:
KIDNER,
Pv,
1980,
p.
17-‐21.
174
ARAÚJO,
2000,
p.
217-‐224
e
244-‐259:
estes
textos
têm
forma
de
conselho
datadas
como
o
elemento
mais
recente
do
livro,
“tem
a
maior
proximidade
do
pano
de
fundo
cananita
de
Israel,
recuando-‐se,
talvea,
até
a
data
de
Salomão”.
Escola
Bíblica
Nacional
para
Equipar
os
Servos
do
Reino
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179
Etã
e
Hemã
são
citados
nos
títulos
dos
Salmos
(Sl
88-‐89).
Veja
1Cr
2.6.
180
Assim
sugere
ARCHER
JR.,
1974,
p.
531.
181
Assim
pensam
LASOR;
HUBBARD;
BUSH,
1999,
p.
506.
182 Nesta questão SCHMIDT, 1994, p. 309, vê relação com Amenémope apenas em
Pv
22.17-‐23.11.
Ele
divide
esta
secção
em
uma
introdução
(22.17-‐21)
e
dez
temas
(22.22-‐23.11).
A
outra
parte
deste
texto,
Pv
23.13-‐24.22
ele
vê
pouca
influência
estrangeira,
exceto
o
texto
de
Ahikar
(23.13-‐14)
e
um
outro
texto
(24.10-‐12).
Para
ele,
esta
segunda
parte
apresenta
uma
forte
religiosidade.
KIDNER,
Pv,
1980,
p.
22,
assinala
que
22.17-‐23.14
é
o
local
onde
se
concentram
as
semelhanças
com
Amenótepe.
Escola
Bíblica
Nacional
para
Equipar
os
Servos
do
Reino
73
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Literatura Sapiencial 2012 Álvaro César Pestana
183 YOUNG, 1964, p. 329-‐330, mostrando que o egípcio entendeu mal certas
palavras
do
hebraico
e
assim,
fez
sua
obra.
Ele
mostra
que
a
divisão
em
30
partes
é
difícil
de
achar
e
também
questiona
a
“colcha
de
retalhos”
que
seria
usara
Amenémope
e
Ahikar
no
mesmo
conjunto.
ARCHER
JR.,
1974,
p.
539-‐541,
mostra
que
a
data
para
a
obra
de
Amenémope
pode
ser
mais
recente
do
que
se
pensa
além
de
conter
muito
semitismos.
Ele
também
mostra
os
problemas
que
o
egípcio
pode
ter
tido
em
entender
os
termos
hebreus.
ROBERT;
FEUILETT,
1967,
Vol.
2,
p.
168,
fala
da
dificuldade
de
datar
a
obra.
Os
palpites
oscilam
entre
1000-‐600
a.C.
KIDNER,
Pv,
1980,
p.
24,
argumenta
que
um
ostraco
descoberto
com
extratos
da
obra
de
Amenémope
datam
a
obra
de
1300
a.C.
Seria,
contudo,
prudente
examinar
se
esta
datação
baseou-‐se
nas
datações
equivocadas
das
dinastias
egípcias.
Se
esse
for
o
caso,
a
obra
pode
estar
datada
uns
300
a
350
anos
antes
da
realidade,
de
forma
que
o
ostraco
em
questão
seria
contemporâneo
de
Salomão!!!
184
HARRISON,
1969,
p.
1015
assim
entende
a
relação
entre
as
duas.
LASOR;
HUBBARD;
BUSH,
1999,
p.
507-‐508,
acham
normal
a
dependência
de
Provérbios
da
obra
egípcia.
Escola
Bíblica
Nacional
para
Equipar
os
Servos
do
Reino
74
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mais
secular
da
sabedoria
israelita
e
os
capítulos
28-‐29,
um
texto
com
maior
conotação
religiosa.
LASOR;
HUBBARD;
BUSH,
1999,
ressaltam
que
em
28-‐29
retorna
uma
maior
frequência
dos
provérbios
antitéticos.
187
ROBERT;
FEUILLET,
1967,
Vol.
2,
p.
166;
LASOR;
HUBBARD;
BUSH,
1999,
p.
509.
188
Já
mencionamos
anteriormente
a
discussão
em
torno
deste
termo.
189
Citado
por
KIDNER,
1980,
Pv,
p.
172.
A
Vulgata
traduziu
os
nomes
de
forma
que
segunda
parte.
Assim:
ROBERT;
FEUILLET,
1967,
Vol.
2,
p.
166;
SCHMIDT,
1994,
p.
309.
192
Outra
hipótese
faria
com
que
o
livro
tivesse
uma
edição
salomônica
original,
Pv
10.1-‐22.16
que
foi
suplementada
no
tempo
de
Ezequias:
Pr
1-‐9
+
Pv
10.1-‐22.16
+
Pv
25-‐29.
Quando
entraram
os
outros
elementos,
dos
Sábios
(Pv
22.17-‐24.34)
e
os
textos
30
Agur
e
Lemuel
(Pv
30-‐31)
ficaria
em
aberto.
KIDNER,
Pv,
1980,
p.
25-‐27,
parece
sugerir
algo
assim,
mas
acredita
que
todo
o
conteúdo
já
existia
no
tempo
de
Salomão
(p.
27).
Escola
Bíblica
Nacional
para
Equipar
os
Servos
do
Reino
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Literatura Sapiencial 2012 Álvaro César Pestana
É
fácil
observar
que,
apesar
do
livro
de
Provérbios
repetir
e
insistir
em
determinados
temas,
ocasionalmente
um
provérbio
é
repetido
na
coleção.
Alguns
estudiosos
valorizam
isto
demais
culpando
os
editores
por
“falta
de
atenção”
ou
por
“excesso
de
tradicionalismo”
que
não
quer
perder
nada
do
texto.
Observando
as
repetições
de
provérbios
no
livro,
tabulada
nas
tabelas
abaixo,
pode-‐se
afirmar:
194 ANGUS, 1953, p. 173-‐175, § 397; FEE; STUART, 1984, p.209-‐216.
195 ANGUS, 1953, p. 173-‐175 faz uma série enorme de paralelos entre o ensino dos
196 SCOTT, 1971, p. 52 – preceito = normalmente no imperativo; provérbio =
O
que
se
percebe
é
que
as
várias
formas
do
livro
oferecem
diferentes
estratégias
retóricas
e
pedagógicas.
Todas
elas,
em
conjunto,
oferecem
um
amplo
arsenal
de
instrução
para
o
ensino
da
Sabedoria.
O
livro
de
Provérbios
é
a
prova
de
que
Deus
quer
que
vivamos
bem
e
não
sejamos
ingênuos.
O
livro
é
uma
das
preciosidades
do
pensamento
humano,
superando
as
coletâneas
antigas
e
antecipando
pensamentos
que
se
desenvolveram
na
humanidade,
séculos
depois.
(i)
Provérbios
e
a
psicanálise
Salomão
fala
muito
da
mulher
adúltera
(Pv
5.1-‐23;
6.20-‐27;
9.13-‐18)
e
também
fala
da
Sabedoria
com
se
fosse
uma
mulher
(Pv
8.1-‐9.12).
Este
foco
no
feminino
precisa
ser
bem
entendido.
Não
se
trata
do
aspecto
“mulherengo”
da
vida
de
Salomão,
tomando
conta
de
seus
escritos.199
Também
não
devemos
pensar
que
ele
é
machista,
pois
a
Sabedoria
é
uma
mulher
e
o
livro
termina
com
o
discurso
de
uma
mulher,
ARC1995 “Pregador”201
Tr.CNBB “Coélet”
A
tradução
do
hebraico
Qoheleth,
tl,h,qo,
para
o
grego
Ekklesiastes,
vEkklhsiasth,j,
já
inaugura
as
dificuldades
deste
livro.202
O
termo
ocorre
apenas
no
livro
de
Eclesiastes
por
sete
vezes
(Ec
1.1,
2,
12;
7.27;
12.8,
9,
10).
Vem
do
verbo
hebraico,
reunir,
congregar
[qahal,
lh;q'].
O
sentido
tem
algo
a
211 Este não seria exatamente o caso dele: arrastado para a idolatria por suas
texto
bíblico,
no
caso
de
Eclesiastes,
“jogaram
a
tolha”,
ou
seja,
desistiram
da
luta.212
Como
sempre,
o
tamanho
de
Golias
parece
impressionante
até
que
uma
pedra
penetre
na
brecha
de
seu
elmo.
Uma
vez
no
chão,
qualquer
um
pode
decapitar
o
gigante,
até
o
garoto
chamado
Davi.
Com
isto
quero
dizer
que
os
argumentos
para
a
rejeição
da
autoria
de
Salomão
se
avultam
a
ponto
de
parecer
um
Golias.
Contudo,
há
muitas
e
muitas
brechas
nesta
armadura
–
não
é
necessário
fazer
algo
que
pode
ser
prejudicial
ao
estudo
da
Bíblia:
não
precisamos
rejeitar
o
dado
Bíblico
para
salvaguardar
outros
dados,
aparentemente
verdadeiros.
Quais
são
os
argumentos
contra
a
autoria
salomônica
de
Eclesiastes?
Os
arguentos
podem
ser
sumarizados
em
três
categorias:
(i)
Argumentos
internos;
(ii)
Argumentos
linguísticos;
(iii)
Argumentos
filosóficos.
(i)
Argumentos
internos
contra
a
autoria
salomônica
Estes
argumentos
ressaltam
certos
textos
e
frases
que,
aparentemente,
não
deveriam
ter
sido
escritos
por
Salomão
e
que
seriam
mais
naturalmente
escritos
por
um
terceiro.
i. Ec
1.1
–
“Palavra
do
Pregador,
filho
de
Davi,
rei
de
Jerusalém.”
Ora
se
o
autor
era
Salomão,
qual
a
razão
para
não
citar
o
nome
dele
de
modo
claro
como
fazem
Pv
1.1
ou
Ct
1.1?
Isto
indica
que
não
é
Salomão
que
escreve.
ii. Ec
1.12
–
“Eu,
o
Pregador,
venho
sendo
rei
de
Israel...”
A
frase
“venho
sendo”213
foi
traduzida
pelo
pretérito
212 Cito especificamente Joseph Angus, E. J. Young e R. K. Harrison. Estes,
normalmente,
defendem
datas
tradicionais
ou
próximas
do
tempo
dos
autores
tradicionais,
mas
abandonaram
tal
defesa
para
este
livro.
Neste
caso
apenas
uns
poucos
autores
insistirão
na
aceitação
do
dado
bíblico
mais
óbvio:
G.
L.
Archer
Jr.
e
Derek
Kidner.
Observe
as
notas
que
se
seguem
para
as
informações
mais
específicas.
213
ARA.
214
VB,
ARC,
AEC,
BLH,
NTLH,
BJ,
Ed.Past,
Tr.CNBB,
TEB.
215
YOUNG,
1964,
p.
363.
216
LASOR;
HUBBARD;
BUSH,
1999,
p.
544;
217
HARRISON,
1969,
p.
1075,
1078
219
HARRISON,
1969,
p.
1074
citando
os
estudos
de
R.
Gordis.
220
ARCHER
JR.,
1974,
p.
555,
revelando
uma
inconsistência
de
raciocínio
de
Young.
221
ARCHER
JR.,
1974,
p.
554,
revelando
outra
inconsistência
de
Young.
iv. Ec
3.16;
4.1-‐3,
13;
5.8;
7.10;
8.
[2],
9;
10.5-‐7,
16-‐17,
20
–
Estes
textos
poderiam
ser
escritos
por
Salomão,
pois
no
fim
de
sua
vida,
ele
podia
falar,
não
como
rei,
mas
como
o
personagem
que
escolheu,
“o
Pregador”.222
Suas
palavras
não
são
específicas
contra
ele
mesmo,
embora
se
aplicassem
a
ele.
Lembre
que
a
rebelião
das
dez
tribos
do
Norte
ocorreu
por
causa
da
imensa
carga
tributária
de
Salomão
(1Rs
12.4).
Se
o
livro
de
Eclesiastes
for
“As
Retratações”
ou
“As
Confissões”
de
Salomão,
a
admissão
de
uma
certa
opressão
e
culpa
no
caso
da
admistração
de
Israel
não
ficaria
mal.223
v. Ec
7.23
–
“...
mas
a
sabedoria
estava
longe
de
mim.”
Em
primeiro
lugar,
esta
frase
tem
sentido
no
seu
contexto.
No
fim
do
livro,
o
autor
denomina-‐se
sábio
(Ec
12.9).
Logo,
o
texto
fala
de
um
momento
da
busca
pela
sabedoria.
Também
o
texto
faz
sentido
como
crítica
da
suposta
sabedoria
que
muitas
vezes
não
é
efetiva
e
nem
praticada.
De
fato,
Salomão,
o
mais
sábio
de
todos
os
homens
caiu!
Como,
por
seus
desejos
(1Rs
11).
Assim,
o
texto
pode,
deve
e
precisa
ser
de
Salomão.
(ii)
Resposta
aos
argumentos
linguísticos
contra
a
autoria
salomônica
i. Aramaísmos
podem
ser
encontrados
na
literatura
bíblica
entre
os
Séculos
X
até
o
IV,
sendo
esta
influência
mais
forte
no
Século
VI
a.C.224
Contudo,
aramaísmos
nunca
são
uma
base
segura
para
a
datação
de
documentos.225
Quando
se
estuda
a
linguagem
do
livro
de
Eclesiastes,
chega-‐se
à
conclusão
que
ele
não
se
encaixa
em
ponto
222
PINTO,
Carlos
Osvaldo.
Eclesiastes:
Uma
Análise
Introdutória
In
VOX
SCRIPTURAE
4:2
(set/1994),
p.
153,
faz
um
paralelo
histórico
com
o
imperador
romano
Marco
Aurélio
que
escreveu
como
filósofo
e
não
como
propagandista
do
Império.
223
Outros
argumentos
são
dados
por
ARCHER
JR.,
1974,
p.
553.
224
EATON,
Michael
A.;
CARR,
Lloyd
Carr.
Eclesiastes
e
Cantares:
Introdução
e
Veja
também
EATON;
CARR,
1989,
p.
22,
notas
18
e
19.
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Bíblica
Nacional
para
Equipar
os
Servos
do
Reino
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226 EATON; CARR, 1989, p. 24: não se pode usar sua linguagem para data-‐lo. Muitos
autores
falam
de
influência
fenícia
e
cananita
no
livro.
Isto
favoreceria
o
tempo
de
Salomão
e
não
os
tempos
pós-‐exílicos.
Veja:
HARRISON,
1969,
p.
1075;
PINTO,
1994,
155-‐156.
227
ARCHER
JR.,
1974,
p.
551-‐552;
EATON;
CARR,
1989,
p.
24.
228
ARCHER
JR.,
1974,
p.
556.
229
HARRISON,
1969,
p.
1075;
EATON;
CARR,
1989,
p.
24;
BARTON,
1908,
p.
32-‐33:
embora
ele
não
assuma
a
data
salomônica,
a
discussão
que
ele
apresenta
mostra
a
impossibilidade
de
que
os
supostos
grecismos
sejam
importantes
para
a
questão
da
data
e,
consequentemente,
da
autoria.
230
LASOR;
HUBBARD;
BUSH,
1999,
p.
544.
231
HARRISON,
1969,
p.
1075-‐1076;
BARTON,
1908,
p.
34-‐43;
EATON;
CARR,
1989,
p.
24-‐25.
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Equipar
os
Servos
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Reino
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232 Devo esta observação a GORDON, Cyrus; RENDSBURG, Gary. The Bible and the
Ancient
Near
East.
New
York:
W.
W.
Norton
&
Co.,
1997,
p.
107.
233
HARRISON,
1969,
p.
1076.
234
EATON;
CARR,
1989,
p.
39.
235
GORDON;
RENDSBURG,
1997,
p.
62-‐63.
português,
veja
Torá:
A
Lei
de
Moisés.
São
Paulo:
Sefer,
2001,
p.
647.
Em
outro
ponto,
comentando
os
antigos
rabinos,
esta
obra
afirma
que
todos
os
3
livros
são
fruto
da
velhice
de
Salomão:
Torá,
2001,
p.
669.
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os
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Rapids:
Eerdmans,
1978,
p.
188,
citando
também
Jerônimo.
Veja
também
LASOR;
HUBBARD;
BUSH,
1999,
p.
547.
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Outros
autores,
reconhecendo
o
interesse
do
Pregador
em
corrigir
os
sábios
de
seu
tempo,
observam
o
livro
uma
deliberada
repetição
de
argumentos
seguida
de
conselhos,
geralmente
em
forma
de
provérbios.
Desta
forma,
o
esboço
seria:245
Introdução
(1.1-‐13)
[Título
=
1.1;
Tema
=
1.2-‐3]
244 STORNILOLO, Ivo. Tragalho e Felicidade: O Livro de Eclesiastes. São Paulo:
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os
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lb,h,.248
Esta
palavra
ocorre
36
vezes
no
livro
de
Eclesiastes,
sendo
que
ocorre
pelo
menos
em
cada
um
dos
capítulos,
excetuando-‐se
o
capítulo
10.249
Ela
caracteriza
pelo
menos
três
usos
da
palavra
dentro
de
Eclesiastes:
(i)
vaidade
indica
a
incapacidade
de
encontrar
realização
nas
coisas
(2.11,
19,
21,
23;
4.4,
8;
6.2);
(ii)
vaidade
também
mostra
a
incapacidade
de
entender
as
anomalias
e
injustiças
da
vida,
a
vida
é
“sem
sentido”
(2.15;
6.7-‐9;
8.10-‐14);
e
(iii)
vaidade
exprime
também
o
problema
da
brevidade
da
vida
(3.19;
6.12;
11.8,
10).
248 A palavra, em geral, pode descrever: (1) respiração (Jó 7.16 – “sopro” em ARA);
(2)
ídolo
(Dt
32.21
–
“ídolo”
em
ARA);
(3)
vaidade,
que
é
o
uso
preponderante
de
Eclesiastes.
VINE,
W.
E.;
UNGER,
W.
F.;
WHITE
JR.,
W.
Dicionário
Vine.
Rio
de
Janeiro:
CPAD,
2002.
p.
263.
249
HAMILTON,
Victor
P.
hebel
[lb,h,]
In:
HARRIS,
R.
Laird;
ARCHER
JR.,
Gleason
L.;
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os
Servos
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Reino
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Assim,
Salomão,
no
fim
de
uma
vida
de
“experiências”
percebe
que
muitas
das
coisas
buscadas
pela
humanidade
são
“fúteis
e
passageiras”,
logo,
estão
perto
da
“falsidade”
e
da
“mentira”
quando
considerados
como
valores
humanos.251
(iii)
A
obra
também
enfatiza
a
necessidade
de
saber
aproveitar
a
vida,
fazendo-‐o,
sobretudo,
de
modo
equilibrado.
251
REHFELD,
Walter
I.
Tempo
e
Religião:
A
Experiência
do
Homem
Bíblico.
São
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os
Servos
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Reino
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Servos
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Reino
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Neste
tipo
de
situação,
devemos
reparar
que
o
autor
está
desafiando
os
postulados
tradicionais
da
sabedoria
e
que
seu
pensamento
não
é
contraditório,
mas
crítico
contra
um
sistema
vigente
em
sua
época.
Veja,
por
exemplo,
sua
crítica
da
própria
sabedoria:
o Na
muita
sabedoria
há
enfado
e
quem
aumenta
a
ciência
aumenta
a
tristeza
(1,18)
o Porque
busquei
a
sabedoria?
...
vaidade!
(2.15)
o Não
há
limite
para
fazer
livros...
o
muito
estudar
é
enfado
da
carne
(12.12)
259 A doutrina da retribuição é um ensino bíblico fundamental. Deuteronômio 28 já
falava
de
bênçãos
da
obediência
e
de
maldições
da
desobediência.
Embora
esta
seja
uma
regra
geral
infalível
no
âmbito
do
Juízo
Final,
no
cotidiano,
não
pode
ser
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Servos
do
Reino
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totalmente
absolutizada.
O
Eclesiastes,
assim
como
o
livro
de
Jó
e
outros
desafiam
as
aparentes
certezas
do
mau
uso
deste
princípio.
260
LOADER,
J.
A.
Ecclesiastes:
A
Practical
Commentary.
Grand
Rapids:
Eerdmans,
Vol.
6,
No
5,
Junho/1992.
Belo
Horizonte,
p.
5-‐8.
Utilizo
aqui
este
artigo
com
algumas
revisões
e
acréscimos.
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Equipar
os
Servos
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Reino
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5.13,
18;
6.1;
7.15;
8.9,
10,
17;
9.11,
13;
10.5,
7).
Portanto,
Salomão
buscou
usar
uma
linguagem
e
abordagem
não
religiosa
para
valorizar
a
verdadeira
religião,
que
ele
proclama
em
alguns
momentos
do
livro
e,
com
toda
a
força,
no
fim
da
obra.
O
livro
tem
sido
considerado
como
uma
obra
de
evangelização,
confrontando
a
humanidade
com
o
vazio
e
o
absurdo
de
uma
vida
sem
Deus.263
Aquilo
que
os
filósofos
nihilistas
e
existencialistas
demoraram
para
concluir
já
estava
declarado
no
Eclesiastes.264
3.
O
LIVRO
APRESENTA
UM
PONTO
DE
VISTA
DE
FÉ
EM
DEUS.
O
Eclesiastes
fala
repetidamente
da
bondade
e
da
generosidade
de
Deus
para
com
o
homem
nesta
vida
(2.24-‐26;
3.12-‐13,22;
5.18-‐20;
[6.2];
7.14;
8.12,
15;
9.7-‐10;
11.9-‐10;
12.1,
7,
11).
Estes
textos
contrastam-‐se
com
aqueles
que
falam
da
futilidade
de
uma
vida
sem
Deus.
Por
isso
o
livro
parece
oscilar
entre
dois
extremos:
a
esterilidade
do
ateísmo
e
a
benção
da
vida
com
Deus.
Com
Deus,
tudo
neste
mundo
tem
valor.
Como
já
foi
mencionado,
os
judeus
leem
este
livro
na
sua
festa
mais
alegre,
a
Festa
dos
Tabernáculos.
Logo,
seu
conteúdo
é
alegre,
se
corretamente
utilizado
e
vivenciado
na
comunhão
com
Deus.
4.
LEIA
O
LIVRO
POR
INTEIRO.
O
livro
de
Eclesiastes
deve
ser
lido
e
entendido
por
inteiro.
Esta
regra
de
estudo
aplicável
a
qualquer
livro
bíblico
é
mais
importante
ainda
no
estudo
deste.
A
razão
disto
está
no
fato
de
que
o
autor
está
fazendo
um
raciocínio,
que
somente
vai
chegar
a
uma
conclusão
no
final.
Em
alguns
casos
o
raciocínio
intermediário
é
de
dúvida
e
de
busca,
e
não
de
solução
ou
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Esta
lista
é
apenas
parcial,
mas
ajuda
a
ver
que
neste
livro,
temos
a
descrição
e
relato
inspirados
de
raciocínios
não
inspirados.
Também
devemos
estar
atentos
para
os
fato
já
mencionado
acima:
ocasionalmente
o
Pregador
está
citando
uma
frase
popular
e
negando-‐a
ou
relativizando-‐a.
Vale
a
pena
ver
o
que
é
dele
e
o
que
não
é.
5.
USE
A
CONCLUSÃO
DA
OBRA
PARA
JULGAR
SEU
CONTEÚDO.
"De
tudo
o
que
se
tem
ouvido,
a
suma
é:
Teme
a
Deus,
e
guarda
os
seus
mandamentos;
porque
isto
é
o
dever
de
todo
homem.
Porque
Deus
há
de
trazer
a
juízo
todas
as
obras
até
as
que
estão
escondidas,
quer
sejam
boas,
quer
sejam
más"
(12.13-‐
14).
Esta
conclusão
deve
ser
levada
em
conta
ao
avaliar
o
raciocínio
do
escritor
no
decorrer
de
sua
obra.
Ele
fala
de
“temer
a
Deus”,
logo,
ele
aceita
a
Torá
e
as
orientações
divinas
como
expressão
deste
temor.
Ele
fala
de
juízo
até
das
obras
ocultas:
ora,
isto
não
implica,
necessariamente,
em
alguma
forma
de
crença
na
continuação
da
vida?
Embora
ele
não
fale
claramente
de
ressurreição,
também
não
afirma
que
este
juízo
divina
se
realiza
somente
na
descendência
do
homem
julgado.
Logo,
o
livro
que
em
alguns
momentos
parece
afirmar
que
a
morte
é
a
aniquilação
total
do
homem,
na
conclusão
afirma
a
existência
de
um
juízo
“depois
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Este
parágrafo,
fora
de
seu
contexto
parece
negar
vários
fatos
fundamentais
da
fé
bíblica:
1.
Nega
a
existência
de
vida
após
a
morte
(19-‐21);
2.
Nega
a
ressurreição
dos
mortos
(22).
Algumas
divisões
do
cristianismo
acima
estão
dispostas
a
usar
esta
passagem
para
negar
a
existência
de
vida
após
a
morte.
Apesar
disto,
elas
não
são
consitentes
em
negar
também
a
ressurreição,
pois
estas
seitas
acreditam
em
uma
ressurreição.
Se
o
texto
nega
a
vida
após
a
morte,
como
eles
afirmam,
necessariamente
precisa
negar
também
a
ressurreição!
No
texto
de
Eclesiastes
3.16-‐22
temos
algumas
observações
do
Pregador
(16),
seus
comentários
(17-‐21)
e
uma
conclusão
(22).
1.
Observações
do
Pregador
(16)
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além-‐túmulo
com
base
neste
texto,
pois
ele
apresenta
as
coisas
como
parecem
ser
"debaixo
do
sol"
e
não
de
um
ponto
de
vista
espiritual
ou
escatológico.
ECLESIASTES
9.1-‐10
"1
Deveras
me
apliquei
a
todas
estas
cousas
para
claramente
entender
tudo
isto:
que
os
justos,
e
os
sábios,
e
os
seus
feitos,
estão
nas
mãos
de
Deus;
se
é
amor
ou
se
é
ódio
que
está
à
sua
espera,
não
o
sabe
o
homem.
Tudo
lhe
está
oculto
no
futuro
.
2
Tudo
sucede
igualmente
a
todos:
o
mesmo
sucede
ao
justo
e
ao
perverso;
...
3
Este
é
o
mal
que
há
em
tudo
quanto
se
faz
debaixo
do
sol
;
também
o
coração
dos
homens
está
cheio
de
maldade,
nele
há
desvairos
enquanto
vivem
;
depois
rumo
aos
mortos.
4
Para
o
que
está
entre
os
vivos
há
esperança;
porque
mais
vale
um
cão
vivo
do
que
um
leão
morto.
5
Porque
os
vivos
sabem
que
vão
morrer,
mas
os
mortos
não
sabem
cousa
nenhuma,
nem
tão
pouco
terão
eles
recompensa,
porque
sua
memória
jaz
no
esquecimento
.
6
Amor,
ódio
e
inveja,
para
eles
já
pereceram;
para
sempre
não
têm
eles
parte
em
cousa
alguma
do
que
se
faz
debaixo
do
sol
.
7
Vai,
pois,
come
com
alegria
o
teu
pão
e
bebe
o
teu
vinho
...
Deus
...
se
agrada
das
tuas
obras.
8
...
9
Goza
a
vida
com
a
mulher
que
amas,
todos
os
dias
de
tua
vida
fugaz,
os
quais
Deus
te
deu
debaixo
do
sol;
porque
esta
é
a
tua
porção
nesta
vida
pelo
trabalho
com
que
te
afadigaste
debaixo
do
sol
.
10
Tudo
quanto
te
vier
à
mão
para
fazer,
faze-‐o
conforme
as
tuas
forças,
porque
no
além
para
onde
tu
vais,
não
há
obra,
nem
projetos,
nem
conhecimento,
nem
sabedoria
alguma."
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265 Esta bibliografia é da obra original não resumida. Assim, pode ser que alguns
livros
aqui
mencionados
não
sejam
diretamente
citados
neste
resumo,
mas
fazem
parte
da
obra
original
de
onde
este
material
foi
tirado.
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do
Reino
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NTLH = Nova Tradução na Linguagem de Hoje, SBB. [substitui BLH]
BAM = Bíblia Ave Maria, (da Editora Ave Maria, agora, Editora Santuário)
Tr.CNBB = Bíblia Sagrada: tradução da CNBB (da Canção Nova / CNBB)
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