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Volume 16
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Conteúdo licenciado para Jose Jales de Figueiredo Junior -
Formação em Teologia
Livros poéticos
I Cantares
Também conhecido como Cântico dos Cânticos, o Livro de Cantares até hoje
é objeto de muita controvérsia:
“Talvez nenhum outro livro bíblico tenha sido lido de modos tão
diferentes ao passar de um período para outro. Na Idade Média, poucos
interpretariam o livro relacionando-o à sexualidade humana. Na
verdade, fazê-lo era perigoso e poderia resultar em excomunhão ou
coisa pior (Pope, p. 112-6). Hoje, a maioria dos cristãos acha esse tipo de
abordagem natural e sensata. Contudo, é correto interpretar Cântico
dos Cânticos de forma ‘não-teológica?’. Por que um livro que apresenta
tais implicações obviamente eróticas está no cânon?” ¹
Primeira interpretação - Utilizada por judeus, que interpretam como sendo o amor
entre Deus e Israel, assim, é um livro que explica a relação de Deus com o povo
israelita. É importante notar que nas canções/poemas, a voz principal é da mulher,
nesse caso, a voz do povo de Israel.
Terceira interpretação - Lança um olhar sobre o livro como sendo uma coletânea
de poesias que mostram o amor de um casal como um presente de Deus.
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III Gênero
Duas direções disputam entre os estudiosos a primazia sobre qual seria a
melhor estrutura do Livro de Cantares. São elas:
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IV Contexto histórico
V Interpretação alegórica
Algo deve ser esclarecido quanto aos tipos de interpretação anteriores, se
considerarmos o livro uma coleção de poemas de amor entre Deus/Israel, ou entre
Cristo/Igreja, trataremos o livro como uma alegoria. Qual é a consequência disso?
O Targum, de Cântico dos Cânticos (séc. VII d.C.), é um exemplo de interpretação
alegórica feita pelos judeus. Ao considerar os poemas uma alegoria, na perspectiva
judaica, Cantares se torna uma história da redenção.
O Targum ensina que o livro é a história do amor que Israel tem por Deus,
mas que é atrapalhado pelo pecado da nação. O livro é dividido em cinco partes,
referentes a cinco períodos históricos diferentes:
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O Targum trata esse texto como referência ao Êxodo, assim, Deus estaria
tirando o povo do Egito e o colocando em suas recâmaras (terra prometida).
Não apenas a tradição judaica trata cantares como alegoria, a tradição
cristã antiga faz o mesmo. A história mostra que muitos cristãos do primeiro século,
como Orígenes e Jerônimo, aderiram a essa abordagem. Hipólito (200 d.C.)
interpretou o texto acima como sendo Cristo conduzindo os salvos à igreja.
Noutro exemplo, extraído do livro Introdução ao Antigo Testamento, os
autores² analisam a interpretação do capítulo 1:13, de Ciríaco de Alexandria:
VI Consideração crítica
Em parte, podemos explicar essa migração do significado imediato para um
significado espiritual ou alegórico em consequência dos pensamentos filosóficos
que influenciaram a mentalidade cristã. Pode-se notar o dualismo platônico,
estoicismo e cultos helenístico-romanos entrando no ambiente cristão e resultando
numa visão do corpo como mau e pecaminoso, portanto, o ele passa a ser tratado
de forma severa, com “jejuns e açoites”, pois tudo o que era relacionado à matéria
e ao corpo era mau. Por isso, o Livro de Cantares é visto com o máximo afastamento
de qualquer narrativa que contenha sexualidade.
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E, apenas o pouco que irei descrever, é o que os meus olhos me permitem ver:
Sua cabeça é como o cálice de cristal, seu cabelo como a noite escura,
Seu cabelo é como as sete noites, igual não há em todo o ano;
Em ondas se movem para cá e para lá, como a corda que ela lança para pegar água.
E as suas faces exalam qual fragrância, que me mata. [...]
Seu nariz é como a tâmara do lraque, como o fio da espada indiana;
Seu rosto é como a lua cheia, e um coração se partindo são as suas faces. [...]
Sua saliva, puro mel de virgem, e a cura para a picada da víbora.
Comparável à escrita elegante, o Seijai desce por seu queixo. [...]
Seus seios como placas mármore polido, quando os navios as trazem para Sidom.
Ali, como pomos da romã, duas joias brilhantes…”
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VIII Conclusão
Fugir da alegoria é importante, apesar disso, podemos usar a metáfora
apresentada num sentido positivo. Significa dizer que o amor de um casal, como
descrito no texto sagrado, pode nos servir de analogia do amor de Cristo pela Igreja
(ou de Deus por seu povo, como em Efésios 5:22-23), que ensina exatamente isso.
A intensidade do amor se revela em ondas de encontros e desencontros,
como num relacionamento; conversas, aproximação, distância, o sentimento da
nova aproximação e a ansiedade da paixão. A analogia de Cantares ensina sobre a
aproximação e o afastamento entre as pessoas amadas. A duplicidade da paixão e
o sonho de quem está amando, seguida da decepção ao acordar do sonho e não ter
o objeto do seu amor; o sentimento de perder e achar, a alegria de estar na
presença da amada, depois a tristeza e o suspense do que ainda está por vir; a
angústia de não saber como será. Os versículos abaixo resumem a força do amor:
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Expectativas cruzadas: O noivo queria sair da chuva e encontrar a noiva, mas ela
queria se aquecer e não se sujar. Até que a mão do noivo surgiu na fresta da porta,
o coração da noiva acendeu de paixão e mostrou a prioridade, mas já era tarde.
Aplicação: Mesmo amados por Deus, ainda somo mesquinhos, o que demonstra
que as nossas expectativas se encontram em descompasso com vontade de Deus,
até que o toque do amor divino reoriente nossas prioridades. A cama vazia faz
parte, mas não é sinal de ausência de amor, pois uma pessoa e uma igreja podem
dizer “Eu pertenço ao meu amado, e ele me deseja.” (Cânticos 7:10)
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Notas:
1,2 e 3: extraídas de Introdução ao Antigo Testamento por Longman II e Dillard
Bibliografia sugerida:
PRICE, Randall. Manual de arqueologia bíblica (Thomas Nelson/ Randall Price e H Wayne
House. Tradução de Wilson Ferraz de Almeida- Rio de Janeiro: Thomas Nelson. 2020)
Manual bíblico vida nova (Editor geral: David S. Dockery. Tradução: Lucy Yamakami.
Hans Udo Fuchs, Robinson Malkomes. - São Paulo: Edições Vida Nova,2001)
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