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Formação em Teologia

Volume 16

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Formação em Teologia

O Livro de Jó (parte 3)

X As teses de satanás
O objetivo dessa aula é ajudar a perceber o movimento do mal, e do nosso
adversário, que tenta usar a dor e o sofrimento:

• Fazendo com que expliquemos o sofrimento de forma equivocada, criando


uma forte sensação de injustiça.

• Criando um padrão equivocado para nos relacionarmos com a dor e a


frustração, de forma que no dia mau, ao invés de esperança, tenhamos
incredulidade, solidão e frustração.

A armadilha de Satanás em meio ao sofrimento é esvaziar a nossa adoração a


Deus, enquanto ele nos acusa diante dEle. E se o sofrimento pode se tornar
armadilha, embaraço e escândalo para o cristão, como se proteger? No Livro de Jó,
de uma forma muito inteligente e ardilosa, satanás questiona os nossos princípios
éticos e morais. Como ensina o Pastor Hernandes Dias Lopes em seu livro, essas
são as teses de satanás:

• Ninguém ama mais a Deus do que ao dinheiro;

• Ninguém ama mais a Deus do que à família;

• Ninguém ama mais a Deus do que a si mesmo e sua própria saúde.

O argumento do livro é que, quando os seres humanos são colocados entre


o dinheiro e o amor a Deus, todos darão preferência ao dinheiro. E isso se repetirá
em relação à família e à saúde. Satanás levanta essas teses questionando: é claro
que com saúde, dinheiro e família, qualquer um Te adora!

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Já no início do Livro de Jó, ele lança essa maldosa sugestão. O que está em jogo é:
será que Jó teme a Deus sem segundas intenções? Será que alguém teme a Deus
sem segundas intenções?

XI Provocação do inimigo
Há uma luta espiritual esquecida por muitos cristãos, uma batalha
permanente que alcança todas as gerações. Satanás continua provocando e
falando de nós o que falou de Jó: “Se o Senhor tirar o que ele tem, Jó vai blasfemar
contra o Senhor!” E infelizmente, muitos que gastaram anos no serviço na igreja,
têm virado as costas ao Senhor, foram derrotados.
Então, qual é a essência da nossa fé? Vamos blasfemar caso formos
testados? Será que Deus precisa subornar as pessoas com bênçãos para que o
adorem? A provocação do inimigo é esta: tire as bênçãos e a adoração acaba.
O plano de ação do inimigo é distorcer nosso relacionamento com Deus,
querendo que acreditemos que a adoração é uma troca, uma barganha, um
negócio. Mas pelo Novo Testamento, somos ensinados que o relacionamento do
homem com Deus é baseado num propósito eterno e perfeito, fundado no amor de
Cristo. E é notável que o Livro de Jó antecipe essa relação; a adoração genuína feita
pela ação do Espírito de Deus no coração humano renovado, regenerado e
reconciliado com Deus, que não tem nada circunstancial, é o próprio Senhor.
Conforme o ensino do pr. Hernandes, quando Jó estava triste, cabisbaixo e
questionando, ele não notou que foi escolhido para deixar uma marca inequívoca
de que Satanás está errado, isto é, sua história é usada para mostrar que a relação
com Deus não é comércio, pois a adoração envolve o caráter de quem está se
relacionando, e nessa relação o nosso caráter é afetado pelo caráter de Deus, não
por interesse material mesquinho, mas pelo amor e santidade dEle.

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Sob a permissão de Deus, mas pela mão de Satanás, recai sobre as posses
de Jó desastres “naturais” e bandos de salteadores, para acabar com toda a
prosperidade dele. Quando o homem mais rico do seu tempo vai à falência, o
primeiro round é inaugurado. Satanás vai provar sua tese? Será que a fé de Jó é
uma ilusão? Imagine que anjos e demônios estão assistindo à batalha esperando
se Jó vai ou não blasfemar contra Deus. A reação de Jó quando perde sua riqueza
não é uma de blasfêmia, pelo contrário, ele rasgou seu coração, dizendo que Deus
está acima de todas as coisas.
O segundo momento narrado (Jó 1:19) nos conta que no mesmo dia em que
perde toda sua riqueza, Jó perde seus dez filhos. Então assume o luto o Jó, mas
não deixa de adorar a Deus. Mais um round termina e a fé de Jó permanece:

“Então Jó se levantou, rasgou o seu manto, rapou a sua


cabeça e, lançando-se em terra, adorou; e disse: [...]

[...] nu saí do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá. O


Senhor deu, o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor.”
(Jó 1: 21)

Uma a uma, as teses de satanás foram sendo desmontadas, e, mesmo sem


perceber, Jó está vencendo o mais importante combate da sua vida, e Satanás
ainda tente um último movimento: tocar na saúde de Jó para que ele amaldiçoe a
Deus. Assim inicia a terceira fase desta batalha, o corpo de Jó fica cheio de feridas,
furúnculos, lesões por toda a pele, e ao que parece, é a doença que hoje conhecemos
como lepra. Antes Jó possuía, não apenas um relacionamento em sua comunidade,
como também prestígio, mas por conta da doença, agora ele é afastado desse
convívio, o que faz sua mulher questionar:

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“Então disse sua mulher: Ainda reténs tua integridade?


Amaldiçoa a Deus, e morre. Mas ele lhe disse: Como
costumam falar as mulheres tolas, hás falado tu. Se
receberemos o bem da mão de Deus, não receberemos o
mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios.”
(Jó 2: 9,10)

Apesar de todas as provações, Jó não pecou contra Deus, e as teses de


Satanás foram frustradas. Jó deu um testemunho a todas as gerações que viriam
depois dele, de que é possível servir e adorar a Deus; é possível colocar Deus acima
do dinheiro, da família e da própria saúde, mesmo quando angustiados e confusos
no mundo espiritual:

“Assim como a nuvem esvai-se e desaparece,


assim quem desce à sepultura não volta. [...]

[...] Nunca mais voltará ao seu lar;


a sua habitação não mais o conhecerá.
"Por isso não me calo; na aflição do meu espírito me desabafarei,
na amargura da minha alma farei as minhas queixas.
Sou eu o mar, ou o monstro das profundezas,
para que me ponhas sob guarda?
Quando penso que minha cama me consolará
e meu leito aliviará a minha queixa,
mesmo aí me assustas com sonhos e me aterrorizas com visões.
Prefiro ser estrangulado e morrer a sofrer assim;
sinto desprezo pela minha vida!...

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...Não vou viver para sempre;


deixa-me, pois os meus dias não têm sentido.
"Que é o homem, para que lhe dês importância e atenção,
para que o examines a cada manhã e o proves a cada instante?
Nunca desviarás de mim o teu olhar?
Nunca me deixarás a sós, nem por um instante?
Se pequei, que mal te causei, ó tu que vigias os homens?
Por que me tornaste teu alvo? Acaso tornei-me um fardo para ti?
Por que não me perdoas as ofensas e não apagas os meus pecados?
Pois logo me deitarei no pó; tu me procurarás, mas eu já não existirei".
(Jó 7: 9-21)

Observação: Será que temos uma consciência de fé que acalma o nosso coração?
Quando a dor e o sofrimento chegam, a nossa fé é espremida contra a parede e as
respostas faltam, o que nossa fé produz em nós? Vemos uma geração que adora a
Deus nos dias bons. Mas, e o dia mal, quando vier, a fé que carregamos vai nos
sustentar? Vamos buscar a Deus ou blasfemar? Será que Satanás tem razão?
Será que a nossa adoração tem segundas intenções? Será que a nossa fé
sobrevive às calamidades da vida? John Piper, pastor americano, declarou:

“Um dos meus deveres como pastor é pregar e orar de tal modo que
você esteja preparado na mente e no coração para não amaldiçoar a
Deus no dia da sua calamidade, mas que possa adorar a Deus e
bendizê-lo como vosso Pai livre, soberano, não importando quão intensa
ou profunda a dor que ele permitir sobre a sua vida.”

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XII A teologia dos amigos de Jó


Os amigos de Jó são fascinantes, parte importante da narrativa e do seu
sentido, no início da história parecem ser amigos perfeitos:

“Quando o viram à distância, mal puderam reconhecê-lo e


começaram a chorar em alta voz. Cada um deles rasgou o
manto e colocou terra sobre a cabeça. Depois se assentaram
no chão com ele, durante sete dias e sete noites. Ninguém lhe
disse uma palavra, pois viam como era grande o seu
sofrimento.” (Jó 2: 12,13)

Mas a conduta deles se desvia, e é surpreendente ver como a teologia dos


amigos de Jó são palavras que não trazem consolo, ao estudar sobre o pensamento
desses amigos, somos desafiados a refletir para interpretar o momento e saber que
palavras usar, e não se pode generalizar, por exemplo: não se conversa com uma
mulher que perdeu o filho num suicídio da mesma forma que com um adolescente
rebelde. Assim, a conduta certa é não dar conselhos vazios, por isso é necessário
buscar saber como falar e agir.
Os amigos de Jó não tinham nomes israelitas. Outro ponto é que, apesar de
Jó ser considerado íntegro por Deus, a história não se passa em Israel. Não é à toa
que os conselhos dos amigos de Jó “Estavam presos ao pensamento revelado em
uma multidão de textos acádicos que atestam a ideia segundo a qual prosperidade,
boa saúde e longa vida são resultados da virtude. Inversamente, consideram a
doença, a pobreza, a aflição e a morte prematura como punições por atos
criminosos ou, mais frequentemente, por pecados dissimulados, muitas vezes até
desconhecidos daqueles que os cometeram”. ⁹

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É importante lembrar que, no texto, essas três pessoas simbolizam a


amizade e a sabedoria. O que poderíamos esperar mais se o momento é difícil? O
que poderia ser mais útil do que bons amigos e conselhos sábios? Quando eles
surgem na história, criamos uma expectativa de que irão acalmar o coração de Jó,
apontar direção, mas ao final do livro, Deus considera que esses três “especialistas”
não falam a verdade sobre Ele. Surge então o questionamento: se os meus amigos
não podem consolar e aconselhar, quem poderia? Se esses homens, aparentemente
sábios, não entendem Deus e nem o sofrimento, quem entende?

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Notas:
1: cit. Blomberg e Hubbard Jr.
2: cit. Samuel Terrien
3: cit. Dillard e Longman II
4, 5, 6, 7, 8 e 9: cit. Samuel Terrien

Bibliografia sugerida:
Site: https://bibleproject.com/

PRICE, Randall. Manual de arqueologia bíblica (Thomas Nelson/ RandallPrice e H Wayne


House. Tradução de Wilson Ferraz de Almeida- Rio de Janeiro: Thomas Nelson. 2020)

KLEIN, William W. HUBBARD JR., Robert L. CRAIG, L. Blomberg (Tradução Maurício


Bezerra Santos Silva. 1 ed. - Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2017)

Manual bíblico vida nova (Editor geral: David S. Dockery. Tradução: Lucy Yamakami.
Hans Udo Fuchs, Robinson Malkomes. - São Paulo: Edições Vida Nova,2001)

DILLARD, Raymond B. Introdução ao Antigo Testamento (Raymond B. Dillard, Tremper


Longman III. Tradução Sueli da Silva Saraiva. São Paulo: Vida Nova, 2006)

TERRIEN, Samuel. Jó (Tradução: Benôni Lemos- São Paulo: Paulus 1994)

KELLER, Timothy. Gálatas para você (São Paulo. Vida Nova. 2017)

LOPES. Hernandes Dias. As teses de satanás. (United Press)

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