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A FÉ NUM CACO DE TELHA

É fácil manter a fé em Deus quando a conta está no azul, a saúde vai bem e as
pessoas que você ama estão do seu lado. Mas e quando tudo isso vai embora? Será que é
possível manter a fé mesmo nas experiências mais difíceis da nossa vida? A pregação de
hoje tem o objetivo de revelar a essência da fé que tudo suporta. Por gentileza, abra sua
Bíblia no livro de Jó. Vamos recontar a história contida nos dois primeiros capítulos do
livro e em seguida descobrir seu significado para nossos dias.

Narração da história

No tempo de Jó, a grandeza de um homem era medida pelo número de animais e


pela quantidade de filhos. A Bíblia diz que Jó possuía sete mil ovelhas, três mil
camelos, quinhentas juntas de boi, quinhentos jumentos e tinha muita gente a seu
serviço. Sua família era grande; não cabia nem numa kombi. Ele e sua esposa tinham
dez filhos. Jó era o homem mais rico do Oriente, o sheik da sua época.
Contudo, o nosso personagem não era apenas grande aos olhos dos homens, ele
era grande aos olhos do Senhor. Não havia ninguém com uma fé tão refinada como a de
Jó. O texto bíblico afirma que ele era homem íntegro, correto, que temia a Deus e
rejeitava o mal. Além de possuir essas credenciais, Jó era o sacerdote da sua própria
família, e constantemente oferecia sacrifícios ao Senhor em favor dos seus filhos. Pois
ele pensava: “por segurança preciso interceder por eles, pois talvez algum dos meus
filhos blasfemou contra Deus em seu coração.”
Todas as áreas de sua vida estavam funcionando bem. Nada lhe faltava. Jó tinha
muitos bens, trabalhadores solícitos, filhos unidos, uma esposa que o apoia, saúde
estável e uma fé vibrante. O cenário é mais favorável do que podemos imaginar. Todo o
Oriente via a bênção de Deus descendo como orvalho na existência de Jó.
Agora a história se desloca da terra dos viventes para o mundo espiritual. Em um
certo dia, os anjos vieram à presença do Senhor, e Satanás veio no meio deles. Deus
nota o elemento estranho e logo lhe pergunta: “de onde você vem?” O diabo responde:
“acabei de dar uma voltinha na terra”. “Ah, então você deve ter notado o meu servo Jó”
- disse o Senhor. “Não há ninguém na terra como ele. Homem íntegro e correto, que
teme ao seu Deus e se aparta do mal”. Satanás retrucou: “Ah, não é de admirar! O
senhor o trata à pão de ló, cuida de tudo para que nada de mal aconteça a ele e sua
família e ainda abençoa tudo que ele faz! Desse jeito, quem não seria fiel? Mas se você
tirar tudo o que ele tem, com certeza ele vai te amaldiçoar na sua cara! Aí ficará
explícito que ele te serve só por interesse. O Senhor respondeu: “você acha? Vá em
frente: faça o que quiser com tudo que ele tem, mas não toque nele”. Satanás saiu da
presença de Deus.
Jó nada sabe sobre essa conversa que aconteceu no mundo espiritual. No seu
ambiente, ele continuou fazendo suas atividades normalmente. Havia muitos animais
para olhar e questões importantes para resolver. Tudo estava em ordem, apesar de haver
muito trabalho. Mas de repente o caos se instalou. Veio o pior dia da sua vida.
Todos seus filhos e filhas estavam na casa do irmão primogênito se
confraternizando em uma refeição. Seus trabalhadores estavam distribuídos em várias
regiões do seu campo, cuidando dos diferentes rebanhos. Jó estava no seu recinto,
sentado, quando de longe viu um de seus trabalhadores correndo desesperadamente ao
seu encontro. Ele disse: “Os sabeus nos atacaram, mataram seus servos e roubaram
todos os seus bois e jumentos; só eu escapei para trazer a notícia”. Quando este ainda
terminava de falar, chegou correndo outro mensageiro que ofegante disse a Jó: “caiu
fogo do céu e incendiou todas as suas ovelhas e servos, só eu escapei para contar a
notícia”. Mal deu tempo de Jó engolir seco quando chegou o próximo mensageiro no
seu recinto. “Os caldeus se dividiram em três bandos, mataram seus trabalhadores e
roubaram todos os camelos, só eu escapei para trazer a notícia” – disse o servo. Jó
estava confuso. Era muita notícia ruim de uma só vez. Mas o golpe mais doloroso
chegou no mesmo minuto por meio do quarto mensageiro que veio depressa dizendo:
“teus filhos e tuas filhas estavam se confraternizando na casa do irmão primogênito
quando de repente veio um vento muito forte que bateu nos quatro cantos da casa e
derrubou a construção por cima deles. Todos morreram. Fui o único que escapei para
trazer a notícia.”
Então Jó, sem forças, se levantou devagar. Cheio de tristeza, ele rasgou suas
roupas e raspou a cabeça, em sinal de profundo sofrimento. Depois disso, ajoelhou-se,
colocou o rosto em terra e com os lábios tremendo adorou a Deus, dizendo: “nu sai do
ventre da minha mãe e nu voltarei; o Senhor deu o Senhor tomou, bendito seja o nome
do Senhor.”
A reação surpreendente de Jó causou outro diálogo entre Deus e o Satanás nas
regiões celestiais. No meio de uma reunião com anjos, o Senhor se dirigiu ao diabo
dizendo: “você reparou em meu servo Jó? Não há ninguém na terra como ele. O meu
servo não perdeu sua fé, apesar de você me ter instigado a prejudicá-lo sem motivo”.
Satanás respondeu: “Você não afetou a saúde dele. Mas se você tocar em seus ossos e
na sua carne, destruindo sua saúde, você vai ver! Jó vai te amaldiçoar na sua cara!”.
“Pois bem”, disse o Senhor. “Faça o que quiser com ele, apenas não tire a sua vida”.
Então Satanás saiu da presença do Senhor e no mesmo instante causou feridas
terríveis na pele de Jó, das solas dos pés ao topo da cabeça. Vendo o seu corpo ferido e
cheirando mal, Jó se sentou em meio às cinzas e começou a coçar suas feridas com um
caco de telha. Que situação! O homem mais próspero do Oriente se tornou um
moribundo miserável condenado à morte. Antes ele tinha tudo nas mãos, agora tem
apenas um caco de telha. Todo esse contexto abalou muito a sua esposa, que vendo Jó
ainda exercitando sua fé, disse: “Você ainda tenta manter sua confiança em Deus? Olhe
a sua situação! Amaldiçoe a Deus e morra!”. Mas Jó respondeu: “meu bem, o que você
está falando é loucura. Já recebemos tantas coisas boas de Deus, porque não receber
também as coisas más?” Diante de todo este sofrimento terrível Jó não disse uma
palavra má contra Deus."
Quando os três amigos de Jó souberam de todas as tragédias que aconteceram,
eles rapidamente se deslocaram dos seus lugares para consolá-lo. Ao chegarem aonde Jó
estava, eles mal o reconheceram. O homem mais poderoso do Oriente estava acabado.
Então choraram alto, rasgaram seus mantos e jogaram terra sobre suas cabeças. Depois,
sentaram-se no chão com ele durante sete dias e sete noites. Não disseram uma palavra,
pois viram que o sofrimento de Jó era muito grande.

Efeito da queda e aplicação da graça

Jó perdeu tudo: os seus bens, os seus dez filhos e sua saúde. Ele não entendeu
porque isso aconteceu na sua vida, afinal, ele era um homem bom. O fato de Jó ter
sofrido sem um motivo explícito nos chama à atenção. O problema da dor é um assunto
muito sensível que nos enche de perplexidade. Mas há algo mais surpreendente na
história: a fé de Jó. Que fé é essa que tudo suporta? Que fé é essa que consegue
sobreviver na mais profunda dor? Essa fé precisa ser estudada pela NASA e examinada
no microscópio. Qual sua composição? Qual é o seu diferencial? O que faz ela
funcionar tão bem?
Com base no texto bíblico é possível achar uma resposta: a fé de Jó não era
interesseira. Satanás estava errado. Ele achava que Jó servia a Deus por causa das
bênçãos que recebia, e não porque verdadeiramente amava seu Criador. Por isso que o
diabo retrucou dizendo “tire tudo dele, aí ele desistirá da fé”. Mas não foi isso que
aconteceu.
Existem dois tipos de fés: a fé interesseira e a fé despretensiosa. A primeira é
completamente centrada nas bênçãos; a segunda é completamente centrada no
abençoador. A fé interesseira não serve a Deus pelo que ele é, mas pelo que se pode
receber dele. A fé despretensiosa é diferente; ela existe para glória de Deus. Quem tem
uma fé interesseira diz: “Eu sirvo a Deus para que as coisas comecem a dar certo na
minha vida”; mas quem tem uma fé despretenciosa afirma “Eu sirvo a Deus porque ele
é a minha vida”. A primeira fé vive para ver as bênçãos, a segunda fé vive para ver o
próprio Deus. Mas como distinguir a fé interesseira da fé despretensiosa? Somente o dia
mal é capaz de revelá-las, pois somente uma delas permanece. A fé que se empolga com
as bênçãos, fissurada nas recompensas, não dura, mas a fé centrada no abençoador
permanece mesmo no olho do furacão.
Se você basear sua fé naquilo que você ganha ou perde, sua fé vai ser muito
inconstante e em breve morrerá, porque a vida é uma roda gigante: hora você tá em
cima, perto dos céus; hora você tá embaixo, perto do chão onde será enterrado. O
problema é que só enxergamos Deus participando da nossa vida quando estamos no alto
da roda gigante. Mas quando estamos embaixo, na miséria e no sofrimento, logo
questionamos: “onde está o Senhor?”. Sabe onde ele está? Ele está presente no dia bom
e no dia mal, no caos e na bonança, na alegria e na agonia.
Portanto, quando a dor bater na porta de sua casa, entrar e lá permanecer, isso
não significa que Deus está sendo mau, infiel ou injusto com você. O Senhor não está
em falta contigo. Ele continua misteriosamente benevolente. A fé interesseira sempre
acha que está faltando esta ou aquela bênção, mas a fé despretensiosa sabe que Deus
não lhe deve nada.
E parando pra pensar, o Senhor não é obrigado a visitar minha conta bancária,
nem a me dar saúde que quero e preservar a vida de quem me faz feliz ou até mesmo
preservar a minha própria vida. Ele não tem uma dívida comigo, pelo contrário, eu que
devo a minha vida a ele. Nós não devemos adorá-lo porque queremos algo dele, mas
porque ele nos quis primeiro.

Conclusão evangélica
A impressionante fé de Jó aponta para aquele que exercitou a fé despretensiosa
com perfeição. Jesus não serviu a Deus visando receber alguma recompensa. Ele nunca
exigiu nada, ele nunca achou que Deus lhe devia alguma coisa. Cristo se manteve fiel
no deserto aonde não havia pão, e se manteve fiel no madeiro aonde sentiu sede. Jesus
confiou na bondade de Deus até o fim. Em sua agonia no jardim, com a alma
profundamente abatida até a morte, suando sangue, ele disse: “que seja feita a tua
vontade e não a minha”. Com muita dor ele recebeu o mal da parte de Deus, mas ele
sabia que o Senhor poderia usar a sua tragédia para sua própria glória.
Foi justamente neste exercício perfeito da fé despretensiosa que ele, por mérito,
se tornou o nosso intercessor. Um intercessor completo e plenamente capaz de nos
ajudar. Ele tem currículo e repertório suficientes para nos preparar para a calamidade,
apaziguar nosso desespero e curar as dores mais sobre-humanas que você possa sentir.
Ele aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu. Ele sabe o que é padecer. Ele foi
para cruz, visitou a sepultura, desceu ao mundo dos mortos, venceu a morte, quebrou os
grilhões, ressuscitou em glória e hoje vive para interceder por quem se aproxima de
Deus. Será que ele não é capaz de ajudar quem sofre? Jesus é o caminho que leva quem
sofre ao abençoador e o fio condutor que liga sua alma ao Deus da sua vida. E nele,
somente nele, a fé pode ser mantida, até mesmo quando nada resta nas mãos, a não ser
um caco de telha. O Senhor seja adorado!

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