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A Esposa de Jó, A Mulher que Disse Não a Deus 1

A ESPOSA DE JÓ, A MULHER QUE DISSE NÃO A DEUS

"A principal culpa de um homem não são os seus pecados. A


tentação é poderosa e a sua força é pouca. A principal culpa de
um homem é que ele pode voltar-se em qualquer momento
para Deus e negligencia fazê-lo".*

Jó 1:1-3, 6-12
Jó 2:1-10
Jó 42:10-13
Romanos 8:28

A esposa de Jó viveu na terra de Uz, na Arábia, provavelmente não


muito longe de Ur dos Caldeus, a cidade donde Deus chamou Abraão.
Poucas mulheres foram tão privilegiadas como ela. O marido era
imensamente rico. A sua casa real continha muitos servos. Ela tinha sete
filhos e três filhas. Todos eram saudáveis e tinham reuniões freqüentes e
agradáveis uns com os outros. Realizavam mesmo festas familiares
regularmente, para fortalecerem os seus laços mútuos. Mas a maior das
suas bênçãos era o marido, Jó.
Jó era um homem que amava a Deus. Tudo o que sabia acerca de
Deus era o que outros lhe haviam dito, mas isso fora suficiente para
mover Jó a servi-Lo com devoção. A profundidade da vida espiritual de
Jó, concorria para a acolhedora atmosfera do seu lar. A sua vida era tão
permeada pela devoção centralizada em Deus, que as pessoas à sua volta
tinham consciência disso. Diziam que Jó era um homem devoto e que
essa era a razão da sua prosperidade. O fundamento da vida da esposa de
Jó era a piedade e a prosperidade do marido e da sua casa.
Era esta a situação na terra.

*
Boenam, Rabi e Buber, Martin. Fountains of Jewish Wisdom (Fontes da Sabedoria Judaica), 1969,
Lenbneh hand lung (Leo Bookshop) Sanht Gallen, Suíça.
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Algo de importante teve lugar no céu nessa altura. Jó foi o motivo
de uma conversa entre Deus e Satanás. Deus estava contente porque Jó,
um homem da terra, O amava voluntariamente. Deus buscava pessoas
como Jó – ele estava a cumprir o propósito para que Deus o havia criado
– comunhão com Ele.
Satanás, o acusador dos crentes (Apoc. 12:10), não concordou com
a apreciação de Deus a respeito de Jó. Contradisse o que as pessoas da
terra afirmavam sobre ele. Achava que a razão de Jó ser devoto estava na
sua prosperidade e insinuou que se lhe fosse tirada essa prosperidade ele
se afastaria de Deus.
"Pois bem'', respondeu Deus. "Vamos pôr à prova a tua acusação,
Satanás. Tira-lhe os bens, mas não toques na sua vida''.
Satanás ficou diabolicamente feliz com este arranjo e derramou
calamidades sobre Jó como chuvas inesperadas em Março. Tragédia
após tragédia caiu sobre ele. A sua enorme reserva de gado ou foi
roubada, ou morta por faíscas. Assim, Jó perdeu toda a sua riqueza. Mas
a maior catástrofe de todas reservou-a Satanás para o fim – destruiu
todos os filhos de Jó.
Tudo o que Jó havia edificado ao longo de muitos anos tinha
desaparecido de repente. O homem mais rico de todo o oriente ficara
subitamente sem nada e sem filhos. E tudo o que lhe ficou, além da casa,
foram quatro servos – e a esposa.
Satanás concluíra o seu trabalho, mas ainda não havia conseguido o
seu propósito. Embora Jó, como homem do oriente, rasgasse o seu
manto, a sua fé em Deus permaneceu firme. "Nu saí do ventre de minha
mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito
seja o nome do Senhor", disse Jó (1:21).
Satanás e Deus falaram mais uma vez a respeito de Jó. Deus
salientou que a lealdade de Jó continuava. Satanás reagiu dizendo que Jó
não tinha sido atingido pessoalmente. Só os seus bens e pessoas externas
haviam sido afetadas. Tocasse ele o seu corpo, e então veria se a fé de Jó
persistia.
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Deus permitiu então a Satanás que fizesse o que desejava, com a
única restrição de que não lhe tirasse a vida. Satanás enviou uma doença
tão temível que podia realmente levar um homem à loucura. Jó ficou
coberto desde a sola dos pés até ao alto da cabeça com chagas ardentes.
A ciência médica concorda que o sofrimento de tal doente devia ser
insuportável – para além da nossa imaginação. A repugnante doença
levou-o para a fossa do lixo, onde os cães procuravam cadáveres de
animais, e onde os seres humanos mais pobres tentavam apanhar o que
os outros haviam deitado fora. Aí se sentou ele e raspou as chagas com
um pedaço de telha...
Mas veio então o maior de todos os golpes. A esposa voltou-se
contra ele. A mulher que Deus havia destinado para apoiar Jó, fossem
melhores ou piores as circunstâncias, a mulher de que ele necessitava
agora mais do que nunca, já não lhe dava apoio. Por meio dela Satanás
jogou a última cartada. "Ainda reténs a tua sinceridade?'' perguntou ela
com azedume. "Amaldiçoa a Deus e morre!"
Ela estava tão dominada pela tristeza, que só era capaz de ver uma
saída – renunciar à fé em Deus e cometer suicídio. A sua reação foi
exatamente o oposto da do marido.
A fé de Jó agüentou mesmo esta crise. A situação real pode ter sido
escondida dele, mas não duvidou de Deus. Deus era ainda uma realidade
para ele. Portanto, foi capaz de aceitar tanto o bem como o mal vindos
dEle. A sua vida estava edificada sobre urna rocha, e embora as
tempestades batessem contra ela incessantemente, não cairia. Tratava-se
de um fundamento resistente.
Como as raízes de uma árvore são testadas quanto à sua força por
um vendaval, assim os temporais de tristezas e experiências
inexplicáveis descobrem o fundamento da vida de um homem. Jó tinha
um alicerce forte; a esposa, não. Naturalmente, as tristezas dela eram
extremas. É difícil identificarmo-nos com a sua perda. Ela podia ter-se
agüentado, se tivesse edificado a sua vida sobre o mesmo sólido
fundamento que o seu marido. Mas as suas diferentes respostas à
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situação não foram devidas ao modo como cada um experimentou a
tristeza, mas aos seus alicerces (Mt. 7:24-27). Desse modo, ela não foi
capaz de apoiar o marido durante o período mais difícil da sua vida. Pelo
menos, os amigos de Jó vieram visitá-lo, embora não tivessem sido de
grande ajuda. Mas, a Bíblia não registra qualquer tentativa da parte da
esposa para o aliviar na sua dor. Durante todo o período de sofrimento,
ela nunca esteve em primeiro plano na história.

Muitos séculos mais tarde, depois de o Redentor, em quem Jó


acreditava (19:25), ter vindo, ter morrido, ressuscitado e
ascendido ao céu, Paulo escreveu que só há um fundamento
sobre o qual o homem pode construir a sua vida – Jesus Cristo
(1 Cor. 3:11).

Deus dotou as mulheres de um dom único para sentir os


sofrimentos dos outros e animá-los. Mas a esposa de Jó não o usou,
quando ele mais precisava.

Súbita e radicalmente a situação mudou uma vez mais. Jó e a


esposa tiveram de novo dez filhos, sete filhos e três filhas, como antes.
Os seus bens foram restaurados, de fato, ele ainda adquiriu mais gado do
que anteriormente à catástrofe.
Mas o sofrimento de Jó tinha produzido um fruto muito mais
importante do que estas coisas temporais. A sua relação com Deus
tornara-se mais profunda. "Eu te conhecia só de ouvir", disse Jó a Deus,
"mas agora os meus olhos te vêem" (Jó 42:5).
Jó não tinha mais necessidade de depender das experiências dos
outros, pois havia tido um encontro pessoal com Deus. Isto levou-o ao
arrependimento e à humildade (Jó 42:6). Estas duas características são
resultados inevitáveis de um encontro com Deus.
Jó tinha recebido uma compreensão mais profunda de si mesmo e
de Deus. Compreendeu que era necessário um Mediador entre Deus e o
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homem (Jó 9:32-35; 16:19). Assim, o sofrimento tinha desempenhado
uma função positiva para ele. Revelara-lhe coisas que nunca antes
conhecera. Como Jacó, lutara com Deus e prevalecera (Gên. 32:28). O
resultado foi uma vida mais rica e mais feliz.
E Satanás? Foi de novo vencido. O resultado de ele ter tentado Jó
foi exatamente o oposto do que ele tinha previsto – Jó estava mais
dedicado a Deus do que nunca.
A Bíblia não diz muito acerca da mulher de Jó. Afirma que no calor
da tentação ela havia apontado para o lado errado – Deus – como sendo
o culpado. Como muitos incrédulos, ela havia sido cegada por Satanás (2
Cor. 4:4,11). Não compreendeu que embora Deus permitisse o
sofrimento, o Seu alvo não é meramente que o homem sofra, mas que o
sofrimento possa produzir um fruto positivo (Heb. 12:11). A sua
felicidade frágil tinha-lhe sido tirada, temporariamente, a fim de que
pudesse encontrar a felicidade imperecível – o próprio Deus. Contudo, a
estrada para encontrar essa felicidade passava pela escola do sofrimento.
Como uma mulher do Velho Testamento, ela carregava,
naturalmente, um fardo duplamente pesado. Não dispunha do
encorajamento da Palavra de Deus escrita e não tinha qualquer grupo de
amigos cristãos para lhe darem apoio. No entanto, tinha uma prova viva
de que não era preciso ser derrotada numa crise, mesmo no seu tempo. O
marido, Jó, era essa prova. O Novo Testamento louva-o porque
continuou a confiar em Deus em tempos de tribulação (Tg. 5:11).
Quando Satanás apontou os seus dardos de tentação, Jó usou a sua fé
como um escudo para os apagar (Efés. 6:16).
Ele provou que nenhum homem é tentado tão fortemente que não
possa agüentar-se com firmeza, e que Deus dá um escape no meio de
toda a tentação (1 Cor. 10:13).
Jó tinha edificado a sua vida sobre o fundamento de Deus. Mas
parece que a esposa não pôde encontrar qualquer fundamento sólido para
os seus pés. A tristeza arremessou Jó para os braços de Deus. Mas na
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hora crítica da vida, a esposa de Jó disse não a Deus. Isso não faz dela
um bom exemplo para ser seguido.

A Esposa de Jó, a mulher que disse não a Deus


(Jó 1:1-3, 6-12; 2:1-10; 42:10-13; Romanos 8:28)

Perguntas:
1. Descreva a família de Jó antes das catástrofes.
2. Quem foi a causa da tristeza que afligiu a família de Jó? (ver
também Apocalipse 12:9, 10).
3. Reflita sobre a reação da esposa de Jó. Formule a sua resposta
nas suas próprias palavras.
4. Olhe para a vida dela e para a do marido em relação com Mateus
7:24-27. Que é que pode concluir?
5. Que encorajamento é que a Bíblia oferece aos cristãos que
perseverara nas dificuldades? Compare Tiago 5:11, Hebreus
12:11 e 1 Coríntios l0:13.
6. O que é que aprendeu pessoalmente, das experiências da esposa
de Jó? Que é que está a fazer para aplicar isto na sua própria
vida?

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