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LIVROS POÉTICOS

Professor Rafael Guimarães


SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 3

1. A POESIA....................................................................................................... 3

Características da poesia hebraica................................................................. 4

A linguagem figurada e as metáforas ............................................................. 4

O paralelismo.................................................................................................. 4

Outras características ..................................................................................... 5

2. A LITERATURA SAPIENCIAL........................................................................ 5

Tipos de declarações sapienciais ................................................................... 6

3. JÓ ................................................................................................................... 6

O Cenário do Livro .......................................................................................... 7

Data e Autoria ................................................................................................. 7

Tema .............................................................................................................. 7

A Natureza do Livro ........................................................................................ 8

Tema .............................................................................................................. 8

A estrutura do livro .......................................................................................... 9

4. SALMOS ...................................................................................................... 10

Data e Autoria ............................................................................................... 10

Tema ............................................................................................................ 11

A estrutura do livro ........................................................................................ 11

Salmos messiânicos ..................................................................................... 12

5. PROVÉRBIOS.............................................................................................. 12

Data e autoria ............................................................................................... 12

O que é um provérbio? ................................................................................. 13

Propósito....................................................................................................... 13

A estrutura do livro ........................................................................................ 14

6. ECLESIASTES ............................................................................................. 15

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Data e autoria ............................................................................................... 15

Tema ............................................................................................................ 15

Como um livro assim pode ser Palavra de Deus? ........................................ 16

Estrutura do livro........................................................................................... 17

8. CÂNTICOS DOS CÂNTICOS ....................................................................... 17

Data e autoria ............................................................................................... 17

Tema ............................................................................................................ 17

Um poema .................................................................................................... 17

Os interlocutores........................................................................................... 18

A noiva .......................................................................................................... 18

Interpretações ............................................................................................... 18

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 19

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INTRODUÇÃO

A Poesia e a literatura sapiencial (de sabedoria) do AT têm um estreito


relacionamento entre si. A literatura sapiencial é geralmente poética na sua
forma, mas o inverso não é o caso: nem toda poesia do AT é literatura sapiencial.
Cinco livros do AT são claramente poéticos: Jó, Salmos, Provérbios,
Eclesiastes e Cânticos dos Cânticos. (Na Bíblia hebraica, esses livros não são
agrupados juntos conforme o foram na Septuaginta e o são nas nossas Bíblias).
Desses cinco livros, quatro são sapienciais (Jó, Provérbios, Eclesiastes, Cântico
dos Cânticos), ao passo que o livro de Salmos não o é.
Os salmos expressam todas as emoções que o fiel encontra na vida,
sejam elas louvor ou amor a Deus, ira contra aqueles que praticam a violência e
o dolo, lamento e perplexidade pessoal ou apreço pela verdade de Deus.
Provérbios não só examina questões morais, como também nos ajuda a lidar
com as questões comuns da vida, como endividamento e relações de trabalho.
Cântico dos Cânticos celebra a alegria do amor entre um homem e uma mulher.
Jó e Eclesiastes fazem-nos encarar nossos problemas mais profundos e, com
isso, levam-nos a uma fé mais genuína em Deus. Em suma, todos esses livros
tratam da vida real.

1. A POESIA

É possível que um terço do AT seja constituído de Poesia. A razão por


que essa declaração fica um pouco vaga é que às vezes é difícil determinar onde
termina a prosa hebraica e começa a poesia.
Uns poucos livros do AT estão essencialmente destituídos de Poesia:
Levítico, Rute, Esdras, Neemias, Ageu e Malaquias – mas mesmo nesses livros,
alguma forma poética ocasional consegue se introduzir.
E alguns livros não são poéticos, mas contêm poemas, tais como Gênesis
49, Êxodo 15, Deuteronômio 33 e Juízes 5.

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Características da poesia hebraica

Em português, a poesia geralmente tem rima. A poesia hebraica, não. Em


vez disso, essa poesia possui duas características que podem ser facilmente
reconhecidas, mesmo numa tradução em português: a linguagem figurada e o
paralelismo.

A linguagem figurada e as metáforas

A linguagem figurada é muito utilizada na literatura hebraica, talvez a mais


conhecida seja “O SENHOR é o meu pastor” (Sl 23.1; metáfora). Vejamos mais
exemplos:
➢ “Mas eu sou como uma oliveira que floresce na casa de Deus” (Sl 52.8;
símile).
➢ “Com o teu auxílio posso atacar uma tropa; com o meu Deus posso transpor
muralhas” (Sl 18.29; hipérbole).
➢ “Batam palmas os rios, e juntos cantem de alegria nos montes” (Sl 98.8;
personificação).

O paralelismo

O Antigo Testamento não foi escrito num vazio cultural ou literário.


Muitos dos temas e das características das literaturas egípcia, cananeia e
mesopotâmica são também encontrados no Antigo Testamento, particularmente
nas passagens poéticas e de sabedoria.
O paralelismo envolve uma relação de pensamentos entre duas ou mais
linhas. Pode ser considerado um “ritmo de pensamento”. Por exemplo:
❖ Paralelismo antitético. Há um contraste com a primeira parte. A segunda
linha declara o inverso da primeira: “Pois o SENHOR aprova o caminho dos
justos, mas o caminho dos ímpios leva à destruição” (Sl 1.6).
❖ Paralelismo emblemático. A primeira linha é um símile, a segunda é o
significado literal: “Pois como os céus se elevam acima da terra, assim é
grande o seu amor para com os que o temem” (Sl 103.11).

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❖ Paralelismo sintético ou culminante. A segunda linha completa ou
acrescenta ideias ao pensamento da primeira: “Confie no SENHOR e faça o
bem; assim você habitará na terra e desfrutará segurança” (Sl 37.3).
❖ Paralelismo sinonímico. Acontece quando a segunda linha repete a
primeira. Ambas as linhas expressam o mesmo pensamento em palavras
diferentes: “SENHOR, quem habitará no teu santuário? Quem poderá morar
no teu santo Monte?” (Sl 15.1).

Outras características

➢ Refrão. Exemplo Salmos 42 e 43.


➢ Repetição. Geralmente é feita tanto no começo quanto no fim do poema.
Exemplo Salmo 118.
➢ Acrósticos. A primeira linha de um salmo ou poema começa com a primeira
letra do alfabeto, a segunda linha com a segunda letra e assim por diante.
Exemplo Salmo 199.

2. A LITERATURA SAPIENCIAL

A palavra hebraica que significa sabedoria tem um sentido muito mais


amplo que a palavra “sabedoria” em português. Inclui, por exemplo, perícia no
feitio das coisas, de modo semelhante ao nosso conceito de artesanato (Êx 31.3;
Jr 9.17).
Em hebraico, sabedoria inclui a disposição e a capacidade de perceber
corretamente o mundo criado em todos os seus aspectos e de ter um
relacionamento correto com ele. Deus criou o mundo de determinada maneira,
e a sabedoria importa em viver de acordo com a estrutura básica do universo.
A literatura sapiencial é poética na forma, mas prática no conteúdo. Não
procura comunicar conhecimentos factuais ou abstratos, mas, sim, ensinar
habilidades práticas para o viver. A literatura sapiencial, portanto, é o “manual de
instruções para a vida” registrado no Antigo Testamento.
Jeremias 18.18 demonstra até que ponto a sabedoria era considerada
importante. É mencionada lado a lado com a Lei e os Profetas: “Não cessará o
ensino da lei pelo sacerdote nem o conselho do sábio nem a mensagem do
profeta”.
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Os livros de Provérbios, Eclesiastes, Jó, Cânticos dos Cânticos e alguns
dos salmos, tais como os salmos 1 e 119, são tradicionalmente considerados
literatura sapiencial.

✓ Jó é sabedoria porque trata da questão central da fé e do sofrimento.


✓ Eclesiastes é sabedoria porque adverte contra o cinismo e dirige o leitor
à fé singela em Deus.
✓ Cânticos dos Cânticos é sabedoria porque descreve a intimidade do
amor conjugal humano.

No NT, a epístola de Tiago lembra a literatura sapiencial do AT.

Tipos de declarações sapienciais

Alguns dos tipos mais relevantes de declarações sapiências são:


▪ Aforismos. Trata-se daquilo que geralmente consideramos um
“provérbio”; um dito breve e cheio de significado que tem validade geral,
como o nosso ditado popular “prevenir é melhor que remediar”. Boa parte
do livro de Provérbios, a partir do capítulo 10, consiste em aforismos.
▪ Instrução. Trata-se de considerações mais longas e estilizadas a respeito
da sabedoria, tais como Provérbios 1.8 a 9.18.
▪ Ditados do tipo “é melhor”. Melhor é A com B que C com D. Exemplo:
“É melhor ter pouco com retidão do que muito com injustiça” (Pv 16.8).
▪ Disputa (controvérsia verbal). O melhor exemplo é o Livro de Jó.

3. JÓ

O livro de Jó conta a história de um homem reto, a quem Deus, por


insistência de Satanás, afligiu para lhe testar a fidelidade e a integridade. Três
amigos (Elifaz, Bildade e Zofar) chegam para consola-lo, mas ficam horrorizados
com sua ira diante de Deus. Eles tentam, sem sucesso, convence-lo a se
arrepender de algum pecado. Jó conclui esse diálogo com um monologo em que
lamenta seu destino, mas continua a declarar sua inocência.
Um quinto interlocutor, Eliú, tenta dar sentido a situação e apontar o erro
de Jó, Por fim, Deus confronta Jó, que só então consegue prostrar-se e
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arrepender-se. Deus restaura a sorte de Jó e o declara mais justo que seus
amigos.
Que pode significar tudo isso? Muitos dizem que Jó responde à questão
do motivo do sofrimento dos justos. Mas para compreender o significado do livro,
precisamos primeiro examinar o ambiente que o cerca.

O Cenário do Livro

Pensa-se que a “terra de Uz”, 1:1, ficava ao longo dos limites da Palestina
com a Arábia, estendendo-se de Edom, pelo Norte e Leste, ao rio Eufrates, e
ladeando a rota de caravanas entre a Babilônia e o Egito. O distrito da terra de
Uz que a tradição tem dado como pátria de Jó era Haurã, região ao leste do mar
da Galileia, conhecida pela fertilidade do solo e seus cereais, que já foi
densamente povoada, hoje pontilhada de ruínas de 300 cidades. Há nessa
região um lugar chamado Deir Eyoub, que se diz ter sido residência de Jó.

Data e Autoria

Ninguém sabe quando ou quem escreveu Jó. Alguns consideram que ele
foi escrito no exílio babilônico, mas o livro não faz alusão a esse fato ou a algum
fato da história de Israel. Com frequência, ele faz alusão a outras passagens
bíblicas, especialmente Genesis 1— 3 e a certos salmos de Davi (cf. Jo 7.17-21
com Sl 8). Isso implica ter sido escrito depois de Davi. Uma boa possibilidade e
que o livro tenha surgido no reinado de Salomão ou Ezequias, pois ambos
incentivaram o estudo da literatura de sabedoria.

Tema

O sofrimento do justo é o tema central do livro. O livro de Jó confunde os


leitores de hoje. Muitas vezes considerado uma obra sobre o porquê do
sofrimento dos justos, ele jamais resolve de fato o problema. Decerto, alguns
leitores creem que o prologo resolve o problema: o sofrimento e um teste da
humanidade em um julgamento cósmico diante de Deus e Satanás. Esse
conceito está presente em Jó e tem sua validade.

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Ao lermos o livro de Jó do começo a fim, devemos nos lembrar de que Jó
nunca soube por que sofria – nem qual seria o desfecho. Os dois primeiros
capítulos de Jó nos explicam por que isso aconteceu e deixam claro que a causa
de seus sofrimentos não era algum castigo por pecados, mas, sim, a provação
de sua fé – Deus tinha plena confiança de que Jó seria aprovado. Entretanto,
embora nós, leitores do livro de Jó, saibamos desse desfecho, o próprio Jó nada
sabia.

A Natureza do Livro

Podia chamar-se um poema histórico, isto é, baseado num evento real.


Parece tratar-se de um debate público sobre o significado da aflição de Jó.
Parece ter havido opiniões escritas (13:26). Quando se diz que os amigos de Jó
foram declaradamente “consolá-lo” (2:11), ficamos a imaginar se isso não foi
uma espécie de tribunal público, onde os homens de maior evidência da época
manifestaram suas ideias. A aflição de Jó durou meses (7.3). Não é necessário
pensar que os discursos foram improvisados. A linguagem é muito elevada para
que isto se desse. O debate podia ter-se prolongado por uma série de dias, com
várias sessões, dando-se a cada pessoa que falava, algum tempo para preparar
sua resposta.

Tema

O livro é uma discussão filosófica, em linguagem altamente poética,


acerca do problema do sofrimento humano. Desde os tempos mais remotos, as
pessoas têm se preocupado com as terríveis desigualdades e injustiças da vida:
Como um Deus bom pôde fazer um mundo como este, onde existe tantos
sofrimentos? Não compreendemos esse problema hoje mais do que os homens
da época de Jó. Entramos nesta vida sem nada decidir sobre nossa vinda.
Abrimos os olhos, olhamos ao redor, e não passamos de um enorme ponto de
interrogação: “De que se trata?” E quanto mais velhos ficamos e vamos vendo
as desigualdades e injustiças do mundo, tanto mais se agiganta o ponto de
interrogação: Como podia um Deus de bondade fazer o mundo como ele é?
A verdade é que Deus fez um mundo bom e perfeito (Gn 1.31). Por causa
do pecado, todas as pessoas agora nascem em um mundo de sofrimento.
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Mas, embora não nos avantajemos aos da época de Jó na compreensão
deste problema, temos, mais do que eles, razão para nos conformarmos com o
mesmo. Porquanto, nesse meio tempo, o próprio Deus desceu a nós, na Pessoa
de Jesus Cristo, e participou de nossos sofrimentos. Não se trata de ter Ele feito
um mundo onde haveria o que sofrer e depois ficasse de longe e dissesse: Deixa
que sofram. A história de Jesus, que foi a um só tempo o homem mais justo e o
maior sofredor deste mundo é uma ilustração de como Deus sofre com a Sua
criação; e não devemos ter qualquer dificuldade em crer que tudo isso tem um
propósito bom, embora não possamos compreendê-lo agora. Demais disto,
Jesus ressurgiu dos mortos, dando certeza de uma vida futura, onde todos os
mistérios serão desvendados e todas as injustiças serão ajustadas.

A estrutura do livro

À parte a introdução (Caps. 1 e 2) e a conclusão ou epílogo (42. 7-17), o


livro de Jó consiste em discursos feitos por Jó, pelos amigos deste e, por último,
pelo próprio Deus.
Os três amigos de Jó – Elifaz, Bildade e Zofar – revezam-se na tentativa
de explicar a Jó por que ele está sofrendo, e Jó por sua vez responde a cada um
deles. Continuam assim durante três ciclos (4 – 14; 15 – 21; 22 – 26). Nos dois
primeiros ciclos, todos os três amigos tomam a palavra; no terceiro ciclo,
somente Elifaz e Bildade falam, ao passo que Zofar guarda silêncio – já
considera Jó um caso perdido!
Depois disso, Jó faz um discurso prolongado, no qual clama por
vindicação, pois está convicto de que não há justa causa para o seu sofrimento
(29 – 31). Em seguida, um quarto amigo, Eliú, toma a palavra e adverte Jó de
que não deve pôr a culpa em Deus (32 – 37). Por fim, o próprio Deus se dirige a
Jó – discurso que forma alguns dos capítulos mais majestosos da Bíblia (38.1 –
42.6). Jó se arrepende, e Deus o abençoa ainda mais que antes.
• Prólogo – a provação de Jó (1 e 2)
• O queixume de Jó (3)
• O primeiro ciclo de discursos (4 – 14)
• O segundo ciclo de discursos (15 – 21)
• O terceiro ciclo de discursos (22 – 26)
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• Interlúdio sobre a sabedoria (28)
• Jó pede vindicação (29 – 31)
• O discurso de Eliú (32 – 37)
• Deus fala (38 – 41)
• Epílogo – Jó é restaurado (42.7-17)

4. SALMOS

Data e Autoria

Nos títulos ou no cabeçalho de Salmos, 73 Salmos são atribuídos a Davi;


12 a Asafe; 11 aos filhos de Corá; 2 a Salomão (72 e 127); 1 a Moisés (90); 1 a
Etã (89); e 50 são anônimos. É possível que alguns destes anônimos tenham
sido escritos pelo autor do Salmo precedente. Davi, por certo, deve ter sido o
autor de alguns deles.
Os títulos não são indicação segura de autoria, porque “de”, “a” e “para”
são uma só preposição no hebraico. Um Salmo “de” Davi pode ser de sua
autoria, ou pode ter sido escrito “para” Davi, ou “a” ele dedicado.
Entretanto, os títulos são muito antigos e o que mais naturalmente se
presume é que indicam a autoria. A velha, universal e ininterrupta tradição é que
Davi foi o principal autor deles. Alguns críticos modernos têm feito esforço
desesperado para eliminar dos Salmos a ideia da autoria de Davi. Existe, porém,
muita razão para se aceitar, e nenhuma para se pôr em dúvida, que este livro é
em grande parte obra sua. O Novo Testamento assim reconhece.
Falamos, pois, em Salmos de Davi porque foi ele o principal escritor ou
compilador dos mesmos (Da mesma forma, referimo-nos ao livro de Provérbios
como de Salomão, embora nem todos tenham sido escritos por ele). Admite-se
geralmente que uns poucos já existiam antes da época de Davi, constituindo o
núcleo de um hinário destinado ao culto divino. Esse hinário foi muito aumentado
por ele e foi se expandindo, através de gerações, até que Esdras (segundo diz
a tradição), o completou.
Davi foi um guerreiro de bravura sem precedente, gênio militar e estadista,
que levou sua nação ao pináculo do poder. Foi também poeta e musicista, que
de todo o seu coração amava a Deus. Seus Salmos são, na realidade, um
empreendimento de mais vasta importância do que o próprio reino por ele
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fundado. É um dos mais nobres monumentos dos séculos. Nestes Salmos está
retratado o seu próprio caráter; neles o povo de Deus em geral também se vê
razoavelmente retratado, palpitando aí suas lutas, pecados, dores, aspirações,
alegrias e vitórias. Por séculos sem fim, milhões de redimidos do SENHOR se
sentirão gratos a Davi pelos seus Salmos.
É difícil estimar uma data para a composição dos salmos, visto que foram
escritos em diferentes épocas. É provável que o salmo 90, que foi composto por
Moisés, seja o mais antigo, enquanto que os mais recentes datam dos séculos
VI e V a.C.

Tema

A oração e o louvor são os temas predominantes no livro de Salmos, que


também aborda questões da existência humana e de nosso relacionamento com
Deus.
Foram compostos para que os ouvintes meditassem em suas palavras e
para serem cantados individualmente ou em grupo, no culto ou até mesmo nas
marchas para o combate. Com o tempo passou a ser de grande auxílio na
oração, na adoração e na compreensão das verdades divinas.

A estrutura do livro

Desde os tempos mais remotos, o livro de Salmos tem sido dividido em


cinco livros. Essa divisão já se acha na Bíblia hebraica e na Septuaginta, talvez
seguindo o modelo dos cinco livros do Pentateuco.
Primeiro Livro: 1 – 41.
Segundo livro: 42 – 72.
Terceiro livro: 73 – 89.
Quarto livro: 90 – 106.
Quinto livro: 107 – 150.

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Salmos messiânicos

Muitos salmos, escritos mil anos antes de Cristo, contêm declarações que
são totalmente inaplicáveis a qualquer pessoa da história universal, senão a
Jesus Cristo. Esses são chamados salmos messiânicos. (A palavra grega Cristo
tem o mesmo significado da palavra hebraica Messias). Algumas referências a
Davi parecem prenunciar o grande Rei vindouro, da família de Davi. Além das
passagens que são claramente messiânicas, existem muitas expressões que
parecem ser prefigurações veladas do Messias. Os salmos claramente
messiânicos são:
• Salmo 2: A divindade e o reino universal do Messias.
• Salmo 8: Por intermédio do Messias, a raça humana deve governar a
criação.
• Salmo 16: A ressurreição do Messias dentre os mortos.
• Salmo 22: Seus sofrimentos.
• Salmo 45: Sua noiva real e seu trono eterno.
• Salmo 69: Seu sofrimento.
• Salmo 72: A glória e a eternidade de seu Reino.
• Salmo 89: Deus jura que o trono do Messias será eterno.
• Salmo 110: O Rei e Sacerdote eterno.
• Salmo 118: Será rejeitado pelos líderes de sua nação.
• Salmo 132: Herdeiro eterno do trono de Davi.

5. PROVÉRBIOS

Data e autoria

A maior parte dos Provérbios atribui-se a Salomão, que manteve para com
eles quase a mesma relação de Davi para com os Salmos. Um e outro foram os
principais autores. Salmos é livro de devoção. Provérbios é livro de moral prática.
Salomão, quando moço, teve uma paixão absorvente pela ciência e pela
sabedoria (1Rs 3.9-12). Veio a ser o prodígio literário do mundo. Suas
realizações intelectuais foram a maravilha da época. Dos confins do mundo, reis
foram ouvi-lo. Fazia preleções sobre botânica e zoologia. Além de cientista,

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governador político e homem de negócios, à frente de vastas empresas (1Rs 9),
era também poeta, moralista e pregador. (1Rs 4 e 9).
Os provérbios compostos e compilados por Salomão obviamente datam
do período desse monarca (985-945 a.C.). Deve ter sido concluído por volta de
727-698 a.C.

O que é um provérbio?

O provérbio é um ditado breve e popular que expressa uma verdade geral


(“É melhor prevenir do que remediar”). A maior parte do livro de Provérbios
consiste em provérbios sem conexão entre si. Mas a palavra hebraica traduzida
por “provérbio” também pode incluir exortações mais longas e com mútua
conexão, como se lê no capítulo 2. A maioria dos provérbios nesse livro expressa
um contraste (“Muitos são os planos no coração do homem, mas o que prevalece
é o propósito do SENHOR”, 19.21) ou uma declaração acompanhada de
pormenores ou consequências (“Ouça conselhos e aceite instruções, e acabará
sendo sábio”, 19.20). Muitos provérbios empregam linguagem figurada (“As
palavras agradáveis são como um favo de mel, são doces para a alma e trazem
cura para os ossos”, 16.24).

Propósito

O propósito primário dos provérbios é didático, sobretudo paras os


jovens, com declarações compactas e práticas que se fixam facilmente na
memória. O método oriental de ensino consistia em constante repetição de
pensamentos sábios ou práticos, de modo a fixarem-se na mente. Abrangem
uma vasta gama de assuntos: sabedoria, retidão, temor a Deus, entendimento,
moralidade, castidade, diligência, domínio próprio, confiança em Deus, dízimos,
o uso próprio das riquezas, considerações aos pobres, o domínio da língua, a
generosidade com inimigos, a escolha de companheiros, a abstenção de
mulheres más, o louvor das boas mulheres, a educação dos filhos, o trabalho, a
honestidade, a abstenção da ociosidade, o pecado da preguiça, a justiça, o
contentamento, a jovialidade, o respeito, o bom senso e outros.
Esse livro visa inculcar virtudes sobre as quais a Bíblia insiste do início ao
fim. Repetidamente, nas Escrituras, de maneiras multiformes e métodos
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diversos, Deus forneceu ao homem instrução abundantíssima, quanto ao modo
de vida que Ele deseja para nós, de sorte que não haja desculpa se errarmos o
alvo.
Os ensinos deste livro de Provérbios não são expressos com as palavras
“Assim diz o SENHOR”, como na Lei de Moisés, onde as mesmas verdades são
ensinadas por meio de ordens diretas de Deus; antes são ministrados com base
na experiência de um homem que experimentou e provou plenamente quase
tudo aquilo a que a humanidade se possa entregar. Moisés dizia: “São estes os
mandamentos de Deus”. Salomão diz: “A experiência demonstra que Deus nos
tem mandado fazer as coisas que são melhores para nós – a essência da
sabedoria humana é o temor de Deus e a observância dos Seus mandamentos”.
O livro de Provérbios é como um manual do fabricante, com instruções para a
vida humana. O manual do fabricante explica o que precisa ser feito para evitar
problemas graves, mas não é garantia que nada nunca apresentará defeito.
Deus, no longo registro da revelação de Si mesmo e de Sua Vontade ao
homem, parece que recorreu a todo método possível, não só por mandamento
e preceito, mas igualmente pelo exemplo, a fim de convencê-lo de que os
mandamentos divinos são verdadeiros e dignos de se viver por eles.
A fama de Salomão servia de caixa acústica que fazia sua voz ressoar até
os confins da terra e fez dele um exemplo, diante do mundo inteiro, de como são
sábias as ideias de Deus.
O livro dos Provérbios tem sido chamado o melhor guia para o sucesso
que um jovem poderá seguir.

A estrutura do livro

Assim como o livro dos Salmos e o Pentateuco, Provérbios está dividido


em cinco partes:
✓ Primeiro livro. Os provérbios de Salomão (1 – 9)
✓ Segundo livro. Os provérbios de Salomão (10 – 24)
✓ Terceiro livro. Os provérbios de Salomão (25 – 29)
✓ Quarto livro. Ditados de Agur (30)
✓ Quinto livro. Ditados do rei Lemuel (31)

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6. ECLESIASTES

A palavra hebraica traduzida por “pregador” ou “mestre” tem relação com


“assembleia”, indicando alguém que reúne um grupo de pessoas para lhes falar.
A mesma palavra, no grego, é ekklesiastes, de onde vem o nome do livro. O livro
de Eclesiastes é filosofia pura. Apresenta aos seus leitores um estilo de vida,
especificando o papel que Deus representa nela.

Data e autoria

Salomão, autor deste livro, foi o mais famoso e mais poderoso rei do
mundo, em sua época; notável por sua sabedoria, riquezas e conhecimentos
literários. Foi escrito durante o período do seu reinado (985-945 a.C.).

Tema

“Vaidade de Vaidades; Tudo é Vaidade” é o tema deste livro. Encerra


também uma tentativa de resposta filosófica à pergunta: Como viver do melhor
modo possível num mundo onde tudo é vaidade? O livro contém muita coisa de
majestosa beleza e de transcendente sabedoria, mas o seu tom predominante é
indizivelmente melancólico, muito diferente da alegria vivaz dos Salmos.
Davi, pai de Salomão, em sua luta, longa e árdua, por edificar o treino,
sempre estava a exclamar: regozijai-vos, dai brados de júbilo, cantai, louvai a
Deus. Salomão, sentado segura e pacificamente no trono que o pai erigira, tendo
riquezas, honra, esplendor e poder jamais sonhado, luxo fabuloso, era o único
homem no mundo a quem os outros poderiam considerar feliz. Contudo,
emprega o incessante estribilho “Tudo é Vaidade”; e o livro, produto que era da
velhice de Salomão, deixa-nos a impressão clara de que ele não era um homem
feliz. A palavra “vaidade” ocorre 37 vezes.
A Eternidade, 3:11, pode sugerir o pensamento chave do livro. A palavra,
no hebraico, ocorre sete vezes: 1:4,10; 2:16; 3:11,14; 9:6; 12:5, traduzida de
modo vário: “para sempre”, “séculos passados”, “durará eternamente”, “eterna
casa”. “Deus pôs a ETERNIDADE no coração deles.” No mais profundo de sua
natureza, o homem anseia pelo que é eterno, e a esta ansiedade nada da terra

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pode satisfazer. Mas, naquela época, Deus ainda não revelara muito a respeito
de coisas eternas.
Em vários lugares do AT há ideias e vislumbres da vida futura, e Salomão
parece ter tido ideias vagas sobre ela. Todavia, foi CRISTO quem “trouxe à luz
a vida e a imortalidade mediante o Evangelho” (2Tm 1:10). Cristo, por sua
ressurreição dentre os mortos, deu ao mundo uma demonstração matemática da
certeza da vida além-túmulo. Salomão, que viveu mil anos antes de Cristo, não
podia ter sobre a vida futura a mesma certeza que Cristo deu mais tarde ao
mundo.
Contudo, viu a vida terrena no que tinha de melhor. Não havia um capricho
a que ele não pudesse satisfazer e quando entendesse, parecendo que a
principal preocupação de sua vida foi satisfazer tais caprichos, descobrir o
melhor partido que podia tirar das coisas. E este livro, que contém te Salomão
sua filosofia a respeito da vida, tem a percorrê-lo inexprimível acento patético,
como se dissesse: “A vida que vivi foi nada, uma coisa oca. Tudo é vaidade e
vexação de espírito.”

Como um livro assim pode ser Palavra de Deus?

É Palavra Divina no sentido de Deus fazer que fosse escrito. Não que
todas as ideias de Salomão fossem ideias de Deus. Mas de um modo geral as
lições do livro são evidentemente de procedência divina. Deus deu sabedoria a
Salomão e inigualável oportunidade de observar e explorar todas as
modalidades da vida terrena. E, depois de muito rebuscar e experimentar,
Salomão concluiu que, geralmente falando, a humanidade não encontrava na
vida uma felicidade muito estável; e no seu próprio coração sentia um desejo
ardente de algo além de si mesmo. Assim, este livro é como que uma expressão
do brado da humanidade por um SALVADOR.
Com a vinda de Cristo, a “vaidade” da vida desapareceu. O brado foi
respondido. Já não era “vaidade”, senão “gozo”, “paz” e “alegria”. Jesus nunca
pronunciou a palavra “vaidade”, mas falou muito de seu “gozo”, mesmo sob a
sombra da cruz. “Gozo” é uma das palavras chaves do NT. Em Cristo, a
humanidade encontrou o desejo dos séculos: Vida plena, abundante, alegre,
gloriosa e eterna.

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Estrutura do livro

Podemos dividir o livro de Eclesiastes da seguinte maneira:


▪ Introdução (1.1-3)
▪ A tese demonstrada (1.4 – 2.26)
▪ O desígnio de Deus para a vida (3)
▪ A futilidade das circunstâncias da vida (4 e 5)
▪ A futilidade das riquezas (6)
▪ Conselhos (7.1 – 12.8)
▪ Conclusão (12.9-14)

8. CÂNTICOS DOS CÂNTICOS

Data e autoria

No primeiro versículo do livro, somos informados de que o Cânticos dos


Cânticos foi escrito por Salomão. Dos 1005 cânticos que ele compôs (1Rs 4.32),
apenas esse faz parte do cânon das Escrituras. Assim como Eclesiastes data do
reinado de Salomão (985-945 a.C.).

Tema

É um cântico de amor, produzido em florida primavera, com fartura de


metáforas e profusão de figuras orientais de linguagem, a exibir o gosto de
Salomão pela natureza, jardins, prados, vinhas, pomares e rebanhos (1Rs 4:33).
É chamado “Cântico dos Cânticos”, indicando possivelmente que
Salomão o considerava superior a todos os 1.005 cânticos de sua autoria, 1 Rs
4:32. Pensa-se que o escreveu para celebrar seu casamento com a esposa
favorita.

Um poema

Os eruditos, familiarizados com a estrutura da poesia hebraica,


consideram-no soberbo na composição. Mas a transição brusca de um
interlocutor para outro, e de um para outro lugar, sem explicação sobre a
mudança de cenas e de atores, torna difícil compreendê-lo. No hebraico a
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mudança de interlocutor indica-se pelo gênero, o que, na Versão Revista e
Atualizada de Almeida, se dá a conhecer pelos títulos em negrito.

Os interlocutores

Parece que são:


• A noiva, chamada “Sulamita” 6:13;
• O rei
• Um coro de damas do paço, denominadas “filhas de Jerusalém”.
O harém de Salomão ainda era pequeno, apenas 60 esposas, 80
concubinas e um sem número de virgens na lista de espera, 6:8. Mais adiante
cresceu para 700 esposas e 300 concubinas (1Rs 11:3).

A noiva

Uma opinião vulgarizada, e provavelmente a melhor, é que a “Sulamita”


era Abisague, sunamita, “a moça mais formosa de toda a região”, que servira a
Davi em seus últimos dias (1Rs 1:1-4), e que, sem dúvida, veio a ser esposa de
Salomão, porquanto seu casamento com outro seria uma ameaça contra o trono
(1Rs 2:17, 22). Pensam uns que a noiva podia ser a filha de Faraó (1Rs 3:1).

Interpretações

Evidentemente, o poema é um elogio das alegrias do amor conjugal; deve-


se ver sua essência nas expressões de ternura e devotamento relacionadas com
as intimidades e delícias desse amor. Mesmo que não fosse além daí, bem
merece um lugar na Palavra de Deus, embora o nome de Deus não seja
mencionado; visto como o casamento é de ordenação divina, e que das atitudes
mútuas e próprias nas familiaridades da vida conjugal dependem, em larga
escala, a felicidade e o bem da humanidade.
Entretanto, judeus e cristãos têm descoberto neste poema significados
mais profundos do que a simples referência ao casamento. Os judeus o liam na
Páscoa, como referência alegórica ao Êxodo, quando Deus desposou Israel,
sendo seu amor por esse povo exemplificado aqui no “amor espontâneo de um

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grande rei por uma donzela humilde”. No A.T. Israel é chamado esposa de Deus
(Jr 3:1; Ez 16 e 23) .

REFERÊNCIAS

1. ALMEIDA, João Ferreira de. A Bíblia Sagrada: Revista e atualizada. 2ed. São
Paulo: SBB, 1999.
2. HALLEY, Henry Hampton. Manual Bíblico de Halley. Trad. Gordon Chown.
1ed. São Paulo: Editora Vida, 2002.
3. DOCKERY, David S. Manual Bíblico vida nova. Trad. Lucy Yamakami, Hans
Udo Fuchs, Robinson N. Malkomes. São Paulo: Vida Nova, 2001.
4. OSBORNE, Grant R. A espiral hermenêutica: uma nova abordagem à
interpretação bíblica. Trad. Daniel de Oliveira, Robinson N. Malkomes, Sueli da
Silva Saraiva. São Paulo: Vida Nova, 2009.

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