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FACUDADE ESUDA

Pós graduação em Neuropsicologia clínica e: avaliação e reabilitação


Disciplina: Neuro 2 dos transtornos adquiridos
Professora: Carmem Régis
Aluna Patrícia Verônica Moura de Farias matrícula: PG210074
pg210074@esuda.edu.br

Avaliação da disciplina: o trabalho consiste em uma resenha crítica de um


ou dois capítulos do livro "O cérebro que se transforma" do autor Norman
Doidge.

Capítulo 6: Destravando o Cérebro Usando a plasticidade para acabar com


preocupações, obsessões, compulsões e maus hábitos

O autor do livro inicia o capítulo elucidando o cérebro essencialmente com


sua capacidade inteligível de fazer predições, assim ele menciona a possibilidade
de planejar, esperançar e teorizar prevendo assim resultados futuros. Sendo que essa
previsão pode ser feita de modo saudável ou patológico, quando se pressagia apenas
resultados negativos, ou seja, desconsiderando demais possibilidades. Ele evidencia
diferença do cérebro patológico, com relação ao sofrimento, especificando mais no
transtorno obsessivo-compulsivo, ou TOC. Ele Explica que o como tem agrava e
deforma cada vez mais a estrutura cerebral. Segundo ele: um paciente com TOC pode
tentar obter alívio concentrando-se em sua preocupação certificando-se de ter coberto
todas as bases e não ter deixado nada ao acaso mas quanto mais pensa em seu
medo, mais se preocupa com ele, porque, no TOC, preocupação gera preocupação,
ou seja o sofrimento é intenso e inescapável.

Ele ressalta ainda detalhando mais o transtorno que as pessoas acometidas


com TOC travam na preocupação e aprisionam nela. O cérebro imagina cenários
desastrosos que causam pavor e elas têm muita dificuldade de evitar tais
pensamentos. As ameaças parecem tão reais que elas pensam que devem ficar
alertas. São as obsessões típicas: medos de contrair doenças, morte, contaminação,
envenenado por substâncias, ou até traído problemas genéticos. Pessoas obsessivas
são preocupadas com simetria; perfeccionistas com organização, ordem,
categorização, etc.

As preocupações são tão bizarras que no TOC sempre estão duvidando de si


mesmas: será que apagaram o fogão, trancaram a porta ou magoaram alguém
inadvertidamente? As preocupações podem ser bizarras e não fazer sentido nenhum
nem mesmo para quem se preocupa, mas isso não as torna menos torturantes.
Obsessivos temem o futuro em decorrência de erros do passado, são inseguros,
duvidam de si mesmos. Então com a intensidade das preocupações obsessivas
geralmente, os pacientes com TOC, fazem algo para diminuir a preocupação, um ato
compulsivo.

Elie Cheniaux, 2014 no livro Manual de Psicopatologia conceitua o pensamento


como uma construção de modelo de realidade relacionado à representação de idéias
que se relaciona e a antecipação de acontecimento. Os aspectos do pensamento são
curso (velocidade), forma (estrutura, relação entre idéias) e conteúdo (tema). De forma
que as atividades principais do pensamento são: elaboração de conceitos, formação
de juízos e raciocínio. O conceito identifica os atributos, exemplo o céu e azul. No juízo
esses conceitos são relacionados: o céu é azul ou não. E no raciocínio há uma
operação mental que relaciona juízos conduzindo a elaboração de novos juízos:
Sócrates é um homem, o homem é mortal, portanto Sócrates é mortal. E esse
raciocínio pode ser indutivo (do particular para o geral) ou dedutivo do geral para o
particular. De forma que quando o individuo apresenta alteração de pensamento
qualitativa, ele tem fuga de idéias, desagregação da realidade, prolixidade,
minuciosidade e perseveração, inclusive essas duas últimas alterações estão
presentes no TOC.

De forma que Norman Doidge afirma que o TOC é difícil de tratar: e as


terapias medicamentosa e comportamental são apenas parcialmente úteis, ele
menciona que Jeffrey M. Schwartz desenvolveu um tratamento eficaz baseado na
plasticidade cerebral nesses casos. Assim, tais pensamentos obsessivos promovem
hábitos desagradáveis e estéreis. Por isso Schwartz desenvolveu uma psicoterapia
percebendo seguintes aspectos: “sensação de erro”, aquela sensação persistente de
que alguma coisa está errada. Segunda, ficamos ansiosos, e esta ansiedade nos
impele a corrigir o erro. Terceira, correção do erro, um “câmbio automático” em nosso
cérebro nos permite prosseguir com o pensamento ou atividade seguinte. Assim, a
“sensação de erro” e a ansiedade desaparecem. Mas o cérebro de um obsessivo-
compulsivo não prossegue nem “vira a página”. Embora tenha corrigido seu erro de
ortografia, lavado os germes das mãos ou se desculpado por se esquecer do
aniversário do amigo, ele continua obcecado.

Segundo ele seu “câmbio automático” não funciona, enquanto a sensação de


erro e a ansiedade que a acompanha vão ganhando mais intensidade. Pela
neuroimagem, observa-se três partes do cérebro estão envolvidas nas obsessões: o
córtex orbital frontal, é ativado e deveria para giro cingulado, localizado na parte mais
profunda do córtex. O giro cingulado induz uma ansiedade pavorosa, sugerindo que
algo ruim está para acontecer a não ser que corrijamos o erro, e manda sinais para as
vísceras e o coração, provocando as sensações físicas que associamos com o medo.
O “câmbio automático”, o núcleo caudado, situa-se profundamente no centro do
cérebro e permite que nossos pensamentos fluam, a menos que, como acontece no
TOC, o núcleo caudado se torne extremamente “viscoso”. Os exames de
neuroimagem de pacientes com TOC mostram que essas três áreas cerebrais são
hiperativas. O córtex orbital frontal e o giro cingulado se ativam e assim permanecem,
como se presos na “posição ligado” — um motivo para Schwartz chamar o TOC de
“trava cerebral”.

Como o núcleo caudado não “troca de marcha” automaticamente, o córtex


orbital frontal e o giro cingulado continuam a mandar seus sinais, aumentando a
sensação de erro e a ansiedade. Como a pessoa já corrigiu o erro, tratam-se,
evidentemente, de alarmes falsos. O núcleo caudado disfuncional provavelmente está
hiperativo porque está bloqueado e continua sendo inundado de sinais do córtex
orbital frontal. De forma que Schwartz procurou desenvolver um tratamento que
mudaria o circuito do TOC ao destravar a ligação entre o córtex orbital e o giro
cingulado, normalizando o funcionamento do núcleo caudado. Schwartz se perguntou
se os pacientes podiam trocar a marcha do núcleo caudado “manualmente”, prestando
uma atenção constante e intensa, focalizando ativamente algo além da preocupação,
como uma atividade nova e prazerosa. Esta abordagem tem sentido plástico porque
“desenvolve” um novo circuito cerebral que dá prazer e incita a liberação de dopamina
que, como vimos, recompensa a nova atividade, desenvolve e consolida novas
conexões neuronais. Esse novo circuito pode finalmente competir com o mais antigo e,
segundo a regra do “use ou perca”, as redes patológicas enfraquecerão. Com esse
tratamento não “rompemos” exatamente com os maus hábitos, mas os substituímos
por hábitos melhores.

Ou seja a idéia é que eles não aprofundem o circuito obsessivo, mas se


desviam dele para assim desativá-lo porque nas obsessões e compulsões, quanto
mais você faz, mais quer fazer; quanto menos faz, menos quer fazer. Schwartz
descobriu ser essencial entender que o que conta não é o que você sente enquanto
aplica a técnica, é o que você faz. “A luta não é fazer a sensação desaparecer; a luta é
não ceder à sensação”.

No Capítulo 3, “Remodelando o Cérebro”, Doige afirma que tem duas leis


fundamentais da plasticidade que também subjazem a este tratamento. A primeira é
que os neurônios que disparam simultaneamente se ligam entre si. Ao fazerem
alguma coisa agradável em lugar da compulsão, os pacientes formam um novo circuito
que aos poucos é reforçado em vez da compulsão. A segunda lei é que neurônios que
não disparam simultaneamente não se ligam entre si. Quando não agem segundo
suas compulsões, os pacientes enfraquecem a ligação entre a compulsão e a idéia de
que esta aliviará sua ansiedade. Esse desligamento é crucial porque, como vimos,
embora atenue a ansiedade a curto prazo, obedecer a uma compulsão agrava o TOC
a longo prazo. Schwartz obteve bons resultados em casos graves. Oitenta por cento
de seus pacientes melhoraram quando usaram seu método em combinação com a
medicação — em geral um antidepressivo como Anafranil ou Prozac. A medicação
funciona como rodinhas numa bicicleta, atenuando a ansiedade ou baixando-a o
bastante para que os pacientes tenham benefícios com a terapia. Com o tempo,
muitos pacientes se livram dos remédios e outros nem precisam começar a usá-los.

Num artigo que fala a relação do Toc coma QV (Qualidade de vida)


menciona que QV trata-se de um construto multidimensional, que reflete o bem-estar
físico e psíquico subjetivo dos sujeitos em diferentes domínios da vida. E nesse artigo
Rapaport et al. (2005) descreveram que 26% dos pacientes com TOC apresentavam
grave comprometimento da QV, o que ocorreu em menor proporção em portadores de
transtorno de pânico e fobia social, e maior nos quadros depressivos, por ser uma
patologia que tem grande propensão a comorbidades. Eles tem prejuízos sócio-
ocupacional, na relação conjugal, na socialização, acadêmica, familiares, pensam em
suicídio. Ainda nesse artigo o TOC foi apontado pela Organização Mundial da Saúde
(OMS), no estudo de Sobrecarga Global das Doenças de 1999, como a décima causa
de anos vividos com incapacidade em todo mundo (responsável por 2,2% da
incapacitação por doenças em geral). Se mostrando tão ou mais incapacitante que
muitas doenças graves, inclusive mentais. De forma que impacto do TOC na QV pode
ser devastador, afetando negativamente vários domínios da vida do portador
(acadêmico, ocupacional, social e familiar).
Portanto, constata-se, destaca-se e sugere avaliação neuropsicológica desses
pacientes com TOC para melhor planejamento psicoterapêutico viabilizando a
plasticidade cerebral e a capacidade de reorganização para melhor
funcionamento. Dentro, obviamente, de uma proposta de reabilitação
neuropsicológica, concomitantemente associada à psicoterapia baseada no modelo
proposto pelo autor desse livro tratado nessa resenha.

REFERÊNCIAS

Doidge, N. (2016). O cérebro que se transforma. Brasil: Editora Record.

Cheniaux, Elie. 2008. Manual de Psicopatologia 3ª edição. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan.

Torresan, R. C., Smaira, S. I., Ramos-Cerqueira, A. T. D. A., & Torres, A. R.


(2008). Qualidade de vida no transtorno obsessivo-compulsivo: uma
revisão. Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo), 35, 13-19.
https://www.scielo.br/j/rpc/a/QTWCBC36F8G5GWrT9WW9c9R/?
format=pdf&lang=pt.

Setembro 2021.

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