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PSICOEDUCAÇÃO SOBRE TRANSTORNOS OBSESSIVO-COMPULSIVO

A principal característica do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é a presença


de obsessões e/ou compulsões (rituais) (APA, 2014).
As obsessões são pensamentos intrusivos e persistentes que atuam de maneira
repetitiva na mente do indivíduo com TOC. Podem aparecer como frases, imagens, cenas
ou palavras, e normalmente são percebidos como impróprios ou irreais. Estes
pensamentos obsessivos podem ser de diferentes tipos: dúvidas e necessidades de ter
certeza, preocupações excessivas com sujeiras ou contaminações, preocupação excessiva
com alinhamento de objetos, sequência, ordem e simetria, pensamentos ou imagens
violentas, pensamentos impróprios e indesejáveis relacionados a sexo, religião,
superstições, entre outros.
Dessa forma, o indivíduo que tem TOC tenta reprimir, afastar e/ou controlar esses
pensamentos, realizando rituais, compulsões, evitações ou simplesmente tentando não
pensar neles, o que, na maioria das vezes, não é eficaz, e desta forma a pessoa acaba
sentindo-se ainda mais incomodada.
As compulsões são comportamentos realizados pelos indivíduos com TOC na
tentativa de se livrar das obsessões ou do desconforto provocado por elas. Esses
comportamentos podem ser diversos, como: constantemente verificar fechaduras das
portas; confirmar de forma repetida o fechamento de objetos como botijão de gás, janelas,
chuveiro ou torneira; lavar as mãos frequentemente; se limpar excessivamente ao chegar
da rua; perfeccionismo extremo nas atividades realizadas; simetria e organização de
objetos; ações repetidas (sentar e levantar do assento, abrir e fechar objetos, entrar e sair
de lugares); entre outros. As compulsões ou rituais também podem aparecer como atos
mentais, como por exemplo tentar substituir o conteúdo das obsessões por pensamentos
e/ou imagens mais agradáveis, repetir mentalmente determinadas palavras ou números
com o objetivo de neutralização, repetir silenciosamente alguma reza, fazer contagens,
verificações ou rememorar fatos mentalmente, entre outras.
Por mais que, para pessoas que não possuem o diagnóstico, as preocupações
pareçam improváveis ou exageradas, para o individuo com o diagnóstico esse são
pensamentos reais, já que há uma distorção cognitiva que resulta em uma interpretação
exagerada dos riscos, uma hipervalorização dos pensamentos, preocupação excessiva e
por fim uma responsabilidade pessoal exacerbada.
Se você foi diagnosticado com TOC, ou se identificou com o que foi descrito,
provavelmente percebe que algumas situações cotidianas acabam ativando as obsessões
e você acaba sofrendo com elas, ou tentando evitá-las. Por exemplo: passar em locais
como igrejas, cemitérios e hospitais, debaixo de uma escada, entrar em contato com
algum objeto sujo, entre outras. Desta forma, note que as obsessões e compulsões acabam
por interferir em sua rotina. A tendência é que, a partir dessa relação entre as obsessões e
as compulsões, o indivíduo acabe restringindo várias áreas de sua vida: ocupacional,
social, familiar, entre outras. Além dos prejuízos no bem-estar e na qualidade de vida.

Curiosidade sobre neuroanatomia do TOC: Uma série de circuitos paralelos


envolvendo regiões corticais e subcorticais seriam as responsáveis pela modulação desses
comportamentos repetitivos. Estudos de neuroimagem morfológicos e funcionais
sugerem que pacientes com TOC apresentam atividade metabólica anormal no córtex
órbito-frontal, na porção anterior do giro do cíngulo e no núcleo caudado. No TOC, o
modelo utilizado para o entendimento da fisiopatologia preconiza que gânglios da base
não filtrariam adequadamente os impulsos corticais, acarretando uma certa liberação na
atividade talâmica. Assim, os impulsos excitatórios originados no tálamo atingiriam o
córtex órbito-frontal, criando um “reforço” que impediria o sujeito de retirar do foco de
sua atenção de certas preocupações que normalmente seriam consideradas irrelevantes.
Uma maneira simplificada de entender o papel dos gânglios da base no TOC é considerar
o circuito fronto-córtico-estriato-tálamo-cortical como um sistema elétrico fechado.
Nessa ideia, o núcleo caudado deveria funcionar como um disjuntor elétrico e interromper
o circuito toda vez que este apresentasse uma sobrecarga. Na paciente com TOC, contudo,
teríamos uma falha desse disjuntor, que, não interrompendo o circuito, deixaria o
comportamento acontecendo sem parar.
Tratamento
Medicamentos
Os medicamentos usados para tratar o TOC são chamados de antidepressivos.
Antidepressivos como os inibidores seletivos da recaptura da serotonina (ISRS) atuam na
correção da comunicação disfuncional entre o córtex orbitofrontal, núcleo caudado, giro
cingulado e gânglios basais. Eles fazem isso aumentando a quantidade de um mensageiro
químico chamado serotonina nessas partes do cérebro, o que melhora o processamento
das informações. Geralmente os antidepressivos produzem uma redução de 40-60% nos
sintomas do TOC.
Psicoterapia
Uma das psicoterapias mais efetivas para o TOC é a terapia cognitiva
comportamental (TCC). A TCC foca em identificar e desafiar pensamentos, emoções,
crenças e comportamentos mal-adaptativos, e então substituí-los por adaptativos. A TCC
também expõe os pacientes a situações que eles temem e os ajuda a mudar seu
comportamento. Assim, a TCC auxilia os pacientes a lidar com suas obsessões e a resistir
a compulsões e, geralmente reduz os sintomas de TOC em 60-80%. Na terapia, o
tratamento consiste em 3 etapas: psicoeducação sobre o transtorno, distorção de
pensamentos obsessivos e exposição e prevenção de respostas.

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